domingo, maio 19, 2013

Razão do novo tom - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 19/05

A elevação do tom do Banco Central sobre o combate à inflação não foi descuido. O BC está convencido de que é preciso enfrentar as pressões inflacionárias através da política monetária. A previsão que fazem é de que em maio e junho a inflação mensal estará em queda, mas o acumulado de 12 meses ficará acima do teto da meta. Só em julho voltará a ficar abaixo de 6,5%.

A análise feita dentro do BC é que de todos os países que estão com inflação alta, ou acima da meta, apenas o Brasil está enfrentando o problema, subindo juros. Citam o caso da Rússia, com inflação de 7,2%; Índia, 9,3%; África do Sul, 5,9%; Turquia 6,1%; e México, 4,6%. Alguns estão reduzindo os juros.

O México está com 4,6% - que seria considerado excelente no Brasil - mas lá a meta é 3% com margem de tolerância de apenas 1%. O que mais pesou foram aumentos de gasolina, ônibus e táxi, mas a previsão de bancos é que ela terminará o ano em torno da meta.

Neste momento em que o Banco Central decidiu começar o ciclo de aperto monetário está havendo uma luta dentro da cadeia produtiva que está retardando a chegada ao varejo de reduções de preços no atacado. Os preços dos produtos agrícolas no atacado, medido pelo IPA da FGV, estão com deflação de quase 6% no ano. Mesmo assim, a inflação ainda não caiu no varejo. Só que a reação já começou a aparecer, com queda nas vendas.

Na visão do Banco Central, se não houvesse reação agora se poderia convalidar uma taxa alta demais no varejo. O aperto da política monetária é para induzir essa passagem da redução dos preços no atacado para o varejo. A inflação continuará algum tempo ainda, em torno de 6%, mas vai reduzir ao longo do ano. O país, portanto, começará no segundo semestre a sentir o alívio. Ainda por essas previsões, no último trimestre, a inflação cai mais ainda e permanece baixa no começo do 2014.

Esse cenário favorável ocorrerá pela redução dos preços dos alimentos nos próximos meses, que está em quase 15%, e a lenta diminuição da inflação de serviços, que ainda está em 8%.

O problema é que o Banco Central trabalha sozinho no combate à inflação porque - ao contrário do México, por exemplo, que está buscando déficit zero - a política fiscal tem sido expansionista. Oficialmente, o superávit primário do Brasil é de 3,1% e isso é que o BC escreve nos comunicados. Na verdade, sem os descontos, o superávit é de 1,5%.

A avaliação em relação à economia internacional é que os Estados Unidos estão se recuperando mais fortemente e com melhoras na maioria dos indicadores, como os dados de desemprego e mercado imobiliário. O país está mais competitivo, com uma indústria mais dinâmica, principalmente pela maior oferta de energia a custo mais baixo. Tanto que eles podem começar a reduzir o expansionismo monetário mais cedo do que o marcado no calendário. Hoje, os Estados Unidos estimulam o país com juros negativos e compras de ativos para injeção de dinheiro na economia.

O Japão está iniciando um ciclo de expansão monetária, e na Europa há sinais de que até a Alemanha está ficando mais flexível. Da perspectiva brasileira, o bom é que não haverá uma ação coordenada dos bancos centrais para tirar liquidez ou injetar liquidez ao mesmo tempo. Os Estados Unidos podem iniciar um recuo, enquanto o Japão expande.

A Europa só se recupera no ano que vem, apesar de estar colhendo o resultado de dolorosos ajustes. A demora na recuperação da Europa seria consequência do fim do interbancário. Os bancos não emprestam mais uns aos outros, tudo é direto com o Banco Central Europeu. Essa falta de mercado interbancário acabou reduzindo a oferta de empréstimos para a pequena e média empresa e são elas as responsáveis por 60% do emprego nesses países. Ao mesmo tempo, está ocorrendo por necessidade de um ajuste nos gastos sociais (Estado de bem-estar social).

Da nossa perspectiva, é preciso olhar a economia internacional se preocupando com o cenário de que o excesso de emissão monetária pode criar bolhas e pressão inflacionária no mundo; e com o cenário de que os países, hoje em crise, saiam dela mais fortes e com mais competitividade. Por isso, é preciso se preparar aqui para os dois cenários, lutando por uma inflação mais baixa possível e para elevar a competitividade da economia brasileira.

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