terça-feira, maio 21, 2013

Coragem e risco - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 21/05
Um velho ditado que acabei de inventar afirma que alianças políticas podem ser sólidas durante muito tempo - mas costumam enfrentar sérios riscos quando se aproximam temporadas eleitorais. Faz sentido: alianças baseadas em parentesco ideológico podem ser sólidas na defesa de projetos e programas de governo em que as ideias e os projetos são comuns, mas correm sérios riscos quando o aliado de ontem ameaça apossar-se dos votos de amanhã.

Por exemplo, no ano que vem teremos eleições - inclusive para presidente da República - o que inevitavelmente produzirá motivos de atrito entre o Palácio do Planalto e seus aliados no Congresso. Isto é, entre o PT e o seu mais forte aliado no Congresso, o PMDB. Segundo o pessoal que entende de coisas políticas, os peemedebistas começam a sentir um processo de desgaste, sinônimo de uma perda de influência que pode influir bastante - talvez, até decisivamente - nas urnas de 2014.

Em circunstâncias normais, se é que isso existe em Brasília - a mais que provável reeleição da presidente seria motivo suficiente para garantir a fidelidade dos peemedebistas. Mas nada é tão simples assim.

Mas no principal partido da base aliada cresce a desconfiança de que o PT começa a se afastar do PMDB. Outro dia, deputados petistas afirmaram que o presidente da Câmara, o peemedebista Henrique Eduardo Alves, estaria ajudando - não se especificou de que maneira - a oposição.

Isso obviamente ameaçaria a reeleição de um número não especificado de representantes do seu próprio partido; a acusação é, portanto, bastante séria - mesmo que ninguém tenha explicado, nem mesmo como palpite, qual seria o motivo da traição.

Os queixosos têm duas acusações sérias: uma seria de que o governo não tem liberado emendas parlamentares incluídas no Orçamento da União. Como a grande maioria delas é destinada a fortalecer as bases eleitorais de deputados e senadores, entende-se a indignação. O leitor pode tomar nota desse fato para usá-lo na próxima escolha de seu candidato a uma cadeira no Congresso. A segunda denúncia é a de que Dilma decidiu estabelecer relações diretas com os municípios, dispensando a intermediação de deputados e senadores. Exceto os do PT. São queixas sérias - e é uma pena que nenhuma delas tenha relação direta com o interesse público.

A rebelião dos aliados é mais forte na Câmara do que no Senado. Uma das razões para isso é o fato de que só um terço da Casa terá de se reeleger no ano que vem. A presidente tem uma decisão a tomar. Ou continua a dar razões de queixa aos deputados, ou recua para garantir apoio parlamentar nas próximas eleições. É possível, ou quase certo, que a turma que traça estratégias políticas no Palácio do Planalto tenha decidido que é mais importante ir diretamente ao eleitorado para garantir uma vitória no ano que vem. É bastante provável que, discretamente, tenha realizado pesquisas que assegurem um êxito eleitoral suficiente para não dar ouvidos às queixas e lamentos do Congresso. Se não tomou essa providência, sua coragem merece elogios - mesmo que a estratégia seja bastante perigosa.

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