quarta-feira, maio 01, 2013

20 anos em três - EMERSON ANDRADE

GAZETA DO POVO - PR

Ao mergulhar no mundo das startups, aprendi muito nos últimos três anos. No dia em que o Julio, meu ex-colega de MBA e cofundador do Peixe Urbano, me chamou para embarcar nessa jornada, coloquei um pé atrás e decidi estudar cautelosamente a oportunidade. Naquela época, eu morava em Seattle com a minha família, trabalhava para a Microsoft, havia acabado de comprar a sonhada casa e não tinha planos de voltar ao Brasil. Mas a ideia de empreender me chamou a atenção e quis saber mais sobre a proposta antes de tomar uma decisão. Acabei me envolvendo e me apaixonando rapidamente. Logo percebi que me arrependeria muito mais de não apostar no projeto e de não fazer parte dessa história. No mínimo eu aprenderia muito, e o maior risco era continuar na posição estável e previsível da minha zona de conforto.

Aconteceu exatamente assim. A experiência de construir o Peixe Urbano tem sido como 20 anos de instrução prática comprimidos em apenas três. Gostaria de compartilhar algumas dessas lições na esperança de incentivar outros empreendedores a perseguirem seus sonhos, além de promover algumas práticas que, na minha opinião, deveriam ser aplicadas até mesmo em empresas já estabelecidas.

A primeira lição é agir com velocidade. Aprendi que, diferentemente do que acontece em algumas megacorporações e também do que se aprende em aulas de Administração, nem sempre é preciso ou mesmo ideal montar um plano de negócios extremamente detalhado antes de tirar a ideia do papel. Num cenário de concorrência acirrada e inovação constante, muitas vezes sai mais barato testar o MVP (minimum viable product, ou o conjunto mínimo de funcionalidades que permite um aprendizado sobre o comportamento de clientes reais) que investir muito tempo tentando criar um plano perfeito, baseado em premissas não tão perfeitas.

É preciso construir uma excelente equipe com profissionais altamente qualificados, de perfil empreendedor e características complementares. Tenho certeza de que o fato de eu, o Julio e o Alex (nosso outro cofundador) termos experiências profissionais e habilidades diversas contribuiu muito para o sucesso da empresa. No decorrer do tempo, vimos também a necessidade de adaptar constantemente as táticas da operação do dia a dia. Porém, não há uma receita de bolo para abrir novos mercados e conseguir manter o direcionamento ideal, com foco na visão de longo prazo, diante de marés altas e baixas e diferentes ventos. Assim, a motivação, a atitude e a flexibilidade de cada integrante da equipe, além da dinâmica entre todos, se tornam ainda mais importantes que qualquer qualificação técnica.

E, por fim, manter o foco. É natural que empreendedores e empresários de grandes empresas que sonham em fazer a diferença tenham várias boas ideias e a ambição de implementá-las todas ao mesmo tempo. No Peixe Urbano vivemos muito esse dilema, pois, seguindo a primeira lição, queríamos executar todas as ideias com a máxima velocidade possível. Foi com o tempo que entendemos as trocas que precisam ser feitas entre implementar com qualidade um projeto de cada vez ou vários simultaneamente sem o mesmo nível de cuidado. Existem diferentes pontos de equilíbrio em diferentes fases de uma empresa, mas é essencial saber mensurar essas trocas e ser realista diante dos recursos disponíveis para que sejam alocados da forma mais estratégica possível.

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