sexta-feira, março 08, 2013

O empreendedor é o cara - JOSÉ PIO MARTINS

GAZETA DO POVO - PR - 08/03

Entre os muitos “ários” que estão por aí – o operário, o funcionário, o missionário –, o mais importante é o empresário. Operário todos podemos ser. Funcionário (público) todos queremos ser, pois o emprego é estável e a aposentadoria, generosa. Missionário é fácil ser, pois a mercadoria (a salvação da alma) só pode ser entregue na outra vida. Empresário, esse é difícil ser, pois é o que tem a missão de descobrir oportunidades, investir, correr riscos, dar emprego, gerar produto e sustentar os outros três.

O produto resulta de recursos naturais, capital, trabalho e progresso tecnológico – os fatores de produção. O imenso conjunto de bens e serviços que consumimos é produzido por um sistema complexo de bilhões de operações diárias e depende da solução dada a duas questões: como se faz a acumulação de capital (prédios, máquinas e equipamentos); e a quem compete reunir e comandar os fatores de produção.

O mundo testou dois formatos para resolver essas questões. Em um, a acumulação de capital é feita pelos indivíduos, por meio do direito de propriedade privada. Nesse sistema – que Marx chamou de capitalismo – as pessoas são livres para escolher o que fazer de sua vida e para apropriar-se dos frutos de seu trabalho. Aqueles que se disponham a montar um negócio, fazer investimentos, enfrentar o mundo e disputar mercados se tornam os proprietários dos meios de produção. São os empreendedores, os empresários, a quem cabe acumular o capital e zelar por sua conservação e expansão.

No outro formato, às pessoas é negado o direito de propriedade privada e o direito de acumular capital. Aqueles que, por seus talentos, sejam capazes de produzir mais que o necessário à sua sobrevivência – um gênio da ciência, um astro da música ou o inventor de uma vacina, por exemplo – não podem apropriar-se da renda excedente. Devem entregá-la ao governo, pois, nesse formato, somente o Estado pode acumular capital, reunir os fatores e comandar a produção. É o comunismo.

A economia enfrenta, entre outros, três problemas: o que produzir? Quanto produzir? Para quem produzir? No primeiro formato – o capitalismo – o empresário não decide a seu critério como responder a tais problemas. Ele tem de ajustar suas ações aos interesses dos consumidores, enfrentar o risco de ser superado pela concorrência e ser eficiente para que as receitas superem os custos. O lucro é o prêmio pela competência; o prejuízo é o castigo pela ineficiência. No comunismo, quem decide tudo isso é o governo – ou melhor, os burocratas, que não correm riscos nem arcam com o resultado de seus erros.

No capitalismo, a ambição e o desejo de lucro se exacerbam; por isso, o empreendedor tem de ser limitado pelas leis ambientais, comerciais e de defesa do consumidor. Se for bem-sucedido, não é preciso cobrar-lhe bondade; cobram-se impostos, pelos quais todos são levados a fazer o bem. Se o governo gastar mal os recursos, o problema não é do sistema produtivo, mas da incompetência dos governantes.

Acho engraçado quando, em função do Bolsa Família, as autoridades dizem “o governo está tirando o povo da miséria”. Quem está tirando o povo da miséria são os que pagam impostos. O mérito dos governantes está na escolha dos programas sociais. Um governo inteligente busca promover o melhor ambiente possível para o empreendedorismo e para os negócios, pois quanto mais o sistema produzir, maiores serão os impostos e maiores as possibilidades de combater a pobreza.

Portanto, o empreendedor é o cara, não o burocrata.

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