quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Início de jogo - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 13/02

Passado o carnaval, é hora de o Brasil “se agarrar no serviço”. E quanto antes melhor. Em especial, o governo e o parlamento. Vamos tratar aqui do Poder Executivo. Aos poucos, começam a aparecer as impressões de empresários e banqueiros em relação aos encontros com a presidente Dilma Rousseff ao longo do mês de janeiro. E essas impressões, que eles relatam apenas aos amigos mais chegados, são bem diferentes daquelas declarações feitas na saída do Planalto em frente às câmeras de tevê. Parte desses interlocutores convidados a se reunir com Dilma não saiu muito confiante e por vários motivos.

Uma das razões foi a de que, em meio à primeira fase desse diálogo, aberto por iniciativa de Dilma, veio a notícia da maquiagem das contas públicas para cumprimento do superavit primário. Isso somado ao fato de os empresários acreditarem que os projetos de infraestrutura continuam travados já seria um problema. Mas tem mais: eles não crêem nas previsões otimistas do ministro da Fazenda, Guido Mantega — que, aliás, estava de férias quando essas conversas ocorreram.

Mantega, na avaliação de muitos, demorou muito no ano passado a admitir que o crescimento econômico não atingiria sequer dois pontos. O ministro fazia previsões de crescimento acima de 3%, quando o mercado já sabia que a economia nacional não chegaria a dois terços desse cálculo. O “pibinho”, como definiram muitos, terminou por solapar a confiança nas palavras de Mantega e fez surgir as especulações de que ele deixaria o governo em 2013.

Substituir Mantega, entretanto, não é tão fácil quanto se pensa. E não se trata apenas de um ministro ligado ao ex-presidente Lula. Dilma substituiu muitos antigos colaboradores de Lula. Mantega, na verdade, é apenas executor das ordens que recebe da presidente, a verdadeira condutora da economia, dada a poucos conselheiros. Quem conhece a forma como a presidente se relaciona com seus ministros garante que poucos teriam a fleuma que Mantega apresenta em tensas reuniões palacianas. Este ano, então, com a obrigação de fazer a economia deslanchar, esses encontros prometem ser ainda piores.

Se as previsões de Mantega fossem o único problema para tirar o ânimo do empresariado, estava fácil. Mas há outros piores. A principal deles é a trava nos projetos governamentais. Os empresários se recordam, por exemplo, das notícias publicadas no primeiro semestre de 2011 apresentando o trem de alta velocidade (TAV) entre São Paulo e Rio como uma obra para deslanchar a partir do segundo semestre de 2012. O ano virou e o projeto continua fora dos trilhos. O projeto foi anunciado várias vezes e agora é que se percebeu a ausência de integração de um trem caro e desse porte com os trens regionais. Haverá alterações, por exemplo, na estação em São Paulo, cujo local ainda não foi definido. Ou seja, anunciou-se uma obra, fez aquela propaganda toda e até agora nada.

O mesmo vale para o pré-sal. O anúncio de tanto petróleo foi um carnaval danado. Mais apoteótico que o desfile das escolas de samba do grupo especial de domingo e de segunda-feira. Cadê? É a Petrobras no prejuízo, a gasolina subindo, o petróleo liderando o ranking das importações brasileiras, com US$ 13 bilhões em 2012.

Quanto às concessões, o empresariado também não sentiu muita firmeza. As empresas querem ter a garantia de um lucro que lhe torne o negócio atrativo. O governo, obviamente, quer a garantia da prestação do serviço. Ocorre que os empresários consideram haver interferência governamental demais nos serviços a serem oferecidos e demora na publicação de editais.

Técnicos do governo têm dito que é melhor o edital demorar e sair direito, do que fazer a coisa de qualquer jeito e lá na frente dar problema. O Brasil tem vários exemplos de projetos liberados de qualquer maneira que, logo ali, apresentaram falhas. O alambrado da Arena do Grêmio, que sucumbiu à avalanche da torcida é um exemplo. Isso para não citar a liberação da boate Kiss, sem saída de emergência, em Santa Maria(RS).

Ninguém tem dúvidas de que o governo age certo em querer rever os projetos para evitar surpresas desagradáveis lá na frente, mas não pode e nem deve fazer uma propaganda danada com as propostas se ainda não tem segurança de que estão prontas para sair do papel. O trem-bala e o pré-sal, citados acima, são os maiores exemplos. Espera-se que, este ano, quando todos estarão correndo para em 2014 mostrar o serviço feito, as coisas saiam do papel de modo correto e seguro — o oposto do que fazia Lula, ao prometer muito e inaugurar pouco.

Talvez, por isso, Dilma esteja direcionando o discurso ao combate à miséria. Nesse ponto, o governo tem resultados bons a apresentar. O problema é que esse aspecto merece todos os aplausos, as honras, mas ainda é insuficiente para animar o empresariado. O que fará a turma do dinheiro sair da toca é o resultado da gestão das contas públicas, dos projetos estruturantes e de energia. Se o dever de casa não for feito, não terá conversa no Planalto que dê jeito.

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