domingo, dezembro 23, 2012

O que emperra a economia - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 23/12


Nada parece justificar o otimismo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que prevê que a economia brasileira poderá crescer 4% em 2013, se a crise internacional não se agravar. Na mesma edição especial de seu boletim Informe Conjuntural, em que faz essa previsão, a CNI aponta vários obstáculos que prejudicam o desempenho do setor produtivo, já fazem o Brasil ficar atrás de outras economias emergentes em vários aspectos e poderão comprometer o futuro do País. Por isso, mais do que um estudo de conjuntura, o documento deve ser entendido como um alerta que precisa ser levado em conta pelos governantes e também pelos dirigentes de empresas. Há muito o que fazer para assegurar o crescimento futuro do País.

Ao considerar insustentável o modelo de crescimento baseado no consumo - que resultou no frustrante desempenho da economia em 2012, quando, em sua avaliação, deverá crescer apenas 0,9%, um terço da projeção que fazia no início do ano -, a CNI chama a atenção para a necessidade de buscar o equilíbrio entre o aumento dos investimentos e o do consumo das famílias. "Não se sustenta crescimento só com consumo", afirmou o presidente da entidade Robson Braga de Andrade.

O mau desempenho da economia brasileira em 2012 não se deve apenas - talvez nem se deva principalmente - à crise mundial. "Países emergentes, inclusive da América Latina, irão crescer mais do que o Brasil", diz o Informe da CNI. São países que investem mais do que o Brasil, o que explica parte da diferença de desempenho.

Pelo menos nos discursos, o tema parece preocupar também o governo federal. "Os investimentos públicos e privados são a chave para nosso crescimento sustentável, pois essa parceria entre público e privado amplia nossa capacidade de produzir, escoar, exportar, importar, traz inovação, eficiência, gera emprego, gera renda", disse a presidente Dilma Rousseff, há dias, ao participar de uma solenidade no Porto de Itaqui.

De fato, esses são alguns dos resultados positivos dos investimentos. Sem investimentos, acrescenta a CNI, são escassos os ganhos de produtividade. A produtividade, de sua parte, é essencial para assegurar maior competitividade, e, se não se tornar mais competitivo, o setor produtivo brasileiro, sobretudo o industrial, perderá espaços para a concorrência internacional, inclusive no mercado interno.

Por isso, a CNI considera a competitividade essencial para o crescimento vigoroso da economia brasileira. Além do aumento dos investimentos, a recuperação da produtividade e da competitividade da economia requer ambiente regulatório adequado, mais atenção à inovação, infraestrutura que atenda às necessidades do setor produtivo, redução da burocracia, reforma do sistema tributário e melhora do ensino, entre outros fatores.

Há problemas cujas soluções dependem exclusivamente do governo, outros que podem ser resolvidos apenas pelo setor privado, outros, ainda, cujas soluções dependem dos dois setores da economia. Cada vez mais determinante para a conquista e a preservação de mercados, a inovação, por exemplo, depende da decisão da empresa em investir. Mas essa decisão está condicionada à existência de ambiente adequado, de políticas públicas que estimulem e apoiem os investimentos privados e de disponibilidade de mão de obra qualificada, o que envolve a ação do governo.

A escassez de mão de obra preparada já é sentida em vários setores e resulta da ineficiência do sistema educacional. Para a CNI, a baixa qualidade do ensino - resultante de políticas do governo - dificulta a preparação da mão de obra e afeta a produtividade de dois modos. Com a contratação de profissionais não adequadamente qualificados, a produtividade cai imediatamente, pois os novos trabalhadores terão de aprender o ofício. Mas a baixa qualidade da educação dificulta o aprendizado, o que retarda ou impede a recuperação da produtividade perdida.

A criação de ambiente adequado para investimentos, sobretudo em inovação, requer mais do que discursos. Necessita de políticas públicas eficientes, algumas de longa maturação e que exigem, além de competência, perseverança do governo.

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