quinta-feira, novembro 08, 2012

Da reeleição ao abismo, sem pausa - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 08/11


O que o mundo espera do presidente Obama 2.0 é como vai evitar o abismo fiscal dos Estados Unidos


Barack Hussein Obama sai diretamente da vertigem da campanha eleitoral e da noite de apurações para o abismo. Ou, mais precisamente, para o "fiscal cliff", como se deu em chamar o abismo fiscal em que os Estados Unidos se precipitarão no dia 1º de janeiro.

Trata-se da obrigatoriedade de cortar gastos e eliminar benefícios fiscais que redundarão na retirada de US$ 600 bilhões da economia, asfixia mais que suficiente para devolvê-la à recessão, como opinam 11 de cada dez analistas.

Essa é a grande preocupação mundial imediata em relação aos Estados Unidos, de que dá prova a reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20, realizada no México no fim de semana. O comunicado final reza para que "os Estados Unidos calibrem cuidadosamente o ritmo de aperto fiscal para assegurar que as finanças públicas sejam levadas a um ritmo sustentável no longo prazo, enquanto evita uma forte contração fiscal em 2013".

É essa, de resto, a posição que Obama vem defendendo no G20 desde que assumiu, assim traduzida: equilíbrio fiscal, ok, desde que no médio prazo, já que a curto prazo o essencial é estimular a economia para que não volte a recair na recessão.

Se, pelo desacordo entre um Executivo democrata e uma Câmara de Representantes republicana, Obama for obrigado a adotar internamente o que desaconselha aos outros será uma desmoralização.

Tornará no mínimo pálida a liderança incontestável dos EUA no G20.

Sempre é possível evitar o abismo fiscal, desde que haja uma negociação séria que estabeleça regras mais razoáveis para calibrar dívida e deficit norte-americanos.

O problema é que a negociação se dará entre o mesmo presidente e a mesma maioria republicana que levaram a um tremendo impasse e ao vexame de Washington perder o triplo A de uma das agências de classificação de risco. Mesmos negociadores, resultado diferente? Improvável, mas não impossível. Vai depender, acima de tudo, do estado de espírito dos republicanos.

Aceitarão Obama como presidente, depois de sua segunda vitória, ou continuarão a tratá-lo como socialista, muçulmano e queniano?

E o presidente continuará a ser o conciliador às vezes excessivo que se mostrou no primeiro mandato?

A grande maioria dos analistas acha que sim, mas há um que contraria a sabedoria convencional: "A Casa Branca, castigada por uma vitória apertada e se beneficiando da liberdade de operar que historicamente caracteriza administrações democratas em segundo mandato, tende a mover-se na próxima semana e no próximo ano com uma mensagem muito mais combativa do que o tímido e inteiramente esquivo enfoque bipartidário do primeiro mandato do presidente", escreve Daniel Alpert, pesquisador da "The Century Foundation".

A maneira como lidarão com o abismo fiscal dirá muito sobre como serão os EUA pelos próximos quatro anos. E depois ainda virão o Irã, a Síria, a eterna crise da Palestina, a ascensão da China e uma vasta lista de etc.

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