terça-feira, agosto 14, 2012

O tempo de Debussy - VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE S.PAULO - 14/08


"O tempo de Debussy é também o tempo de Cézanne e de Mallarmé: tripla conjunção que se encontra, talvez, na raiz de toda modernidade." Descontando a provocação de afirmar que a modernidade estética teria sido uma invenção de três franceses, essa frase de Pierre Boulez tem, ao menos, o mérito de insistir na centralidade da força de ruptura do pensamento musical de Debussy.
Insistência necessária, já que tendemos a esquecer como Debussy forma, juntamente com Schoenberg, Stravinsky e Bartók, a quadratura fundamental da experiência musical do século 20.
No dia 22 de agosto, comemoram-se 150 anos do nascimento de Claude Debussy.
Essa efeméride seria um bom momento para pensarmos a permanência deste "tempo de Debussy", assim como as questões que sua música nos deixou.
Pois se é possível afirmar que Debussy está na raiz de toda modernidade é porque ele nos fornece um modelo de ruptura capaz de liberar a forma musical dos "limites impessoais do esquema", como dirá Boulez. Mas se trata de uma liberação engenhosa, pois capaz de conservar a referência aos esquemas harmônicos tonais que ela, ao mesmo tempo, nega.
Se é verdade que a ruptura de Debussy não passa pela "emancipação da dissonância" de Schoenberg nem pelo uso paródico dos materiais do sistema tonal, como em Stravinsky, é porque sua via própria consiste em uma maneira de conservar elementos retirando-os de sua função original.
Assim, por exemplo, a progressão harmônica já não estruturará polaridades e tensões, o que pode levar à sensação de "ausência de melodia", como a crítica de então identificava em "Pélleas et Mélisande".
Mas, por ser baseado em harmonias não funcionais, o modelo de construção próprio à escrita de Debussy será, ao mesmo tempo, livre e inteligível ao ouvinte mediano de hoje (que ainda terá dificuldades em acompanhar, por exemplo, uma peça como "Erwartung", de Schoenberg).
No entanto, se há um aspecto da música de Debussy que merece uma reflexão mais aprofundada é a sua maneira de trazer à música uma nova concepção do tempo.
Por modificar nossa sensibilidade para noções como desenvolvimento, narratividade e direcionalidade, a música de Debussy foi a aurora estética de um tempo que sabia que, a partir de então, entraríamos em uma longa reconstrução da experiência da temporalidade.
Um tempo cujo principal tema era o próprio tempo, o seu escoar. O tempo dos "Prelúdios" de Debussy. Talvez, e de uma forma inusitada, ainda o nosso tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

que textinho vagabundo, de quem quer encher pauta.
vaidoso, esnobe e vazio.