quinta-feira, maio 10, 2012

Zona do euro cede, afinal - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 10/05/12


A vitória de François Hollande, na França, e a decisão dos governos da zona do euro de socorrer novamente a Grécia, mesmo sem ter cumprido o compromisso de austeridade, representam um novo sinal para que a Europa retome o crescimento e saia da recessão. Mas a economia mundial, e muito menos o Brasil, devem esperar resultados a curto e médio prazos. O que se prevê, agora, é o retorno de um longo e desalentador debate entre François Hollande e Angela Merkel em torno do dilema, investir para crescer e sair da recessão ou continuar mantendo um severo plano de austeridade e "reformas estruturais". Martin Wolf, economista do Financial Times, assinala que "em pouco mais de um ano essas reformas levaram à queda de governos na zona do euro, sem qualquer resultado positivo".

Para ele, a Alemanha deveria aprender com a própria historia. O país saiu do caos da 2.ª Guerra e reconstruiu sua economia exclusivamente pelos investimentos maciços do Plano Marshall oferecido pelos vencedores.

E não é só Grécia, Espanha, Portugal, Itália, é a França, a segunda economia do bloco europeu, US$ 2,7 trilhões, com uma dívida de 90% do PIB e desemprego de mais de 10%.

Vai conseguir? A resposta se Hollande vai conseguir não é mais importante do que sua decisão de enfrentar a intransigência alemã, que predominou sobre Nicolas Sarkozy e lhe rendeu a derrota. Afinal, ele recebe uma economia deprimida e tem poucos recursos para reanimá-la. No fim da tarde de ontem, o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira previa liberar 5.2 bilhões, mas vai dar menos 1 bilhão para o frágil e cambaleante governo grego. Ou a Grécia era socorrida novamente, ou não conseguiria pagar os 3,3 bilhões que vencem na próxima semana. Vai receber mesmo sem ter cumprido a promessa de cortar 11 bilhões no orçamento.

Vitória de Hollande? Outro fato de grande importância que reflete a nova posição da França. Logo após a reafirmação de Hollande contra a austeridade fiscal isolada, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, convocou uma reunião extraordinária para o dia 23. Motivo: acelerar um acordo entre a Alemanha e a França para uma política de crescimento no Pacto de Estabilidade Financeira. Um fato curioso: Van Rompuy fez a convocação pelo Twitter. Ele e seu colega, José Manuel Barroso, nunca esconderam a posição favorável ao crescimento para evitar recessão.

Tudo bem, mas.... Tudo indica que há uma nova conscientização na Europa de que a crise não é só fiscal ou endividamento. No entanto, mesmo que a tese de Hollande vença, nada se pode esperar para este ano e talvez até o próximo. Medidas para maior crescimento, além de demorarem para ser implementadas tardam para refletir na economia. Essas medidas dependem de investimentos maciços em obras, infraestrutura, criação de empregos. É preciso convencer o setor privado a investir. Falava-se na necessidade de 200 bilhões.

1 trilhão. É pouco, afirma o ex-presidente do Banco de Reconstrução Europeu, Jacques Attali e o diretor da OMC, Pascal Lamy. Para eles, a Europa só se salva se investir essa quantia nos próximos anos. Mas de onde viria esse dinheiro? Da criação de títulos voltados exclusivamente para projetos já existentes em infraestrutura e não ligados aos próprios governos. Essa é a nova proposta de Hollande que certamente terá a oposição da Alemanha. Assim, tudo pode mudar a longo prazo, o que importa é o presente, Como dizia Keynes, "a longo prazo estaremos todos mortos... ou se as circunstâncias mudam, eu mudo também.. Só que na Europa o único que quer mudar é o pobre Hollande sem mais recursos a oferecer além da sua boa vontade.

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