domingo, novembro 27, 2011

Emprego pior - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 27/11/11


Dados relativos ao mercado de trabalho indicam que desaceleração da economia já afeta oferta de vagas e rendimento do trabalhador

A perda de ritmo da economia começa a afetar o mercado de trabalho. Se o crédito, o consumo e a indústria vinham desacelerando desde o primeiro semestre, observam-se agora sinais de queda do dinamismo nas contratações.

A pesquisa mensal do emprego do IBGE mostra que a taxa de desocupação permanece em 6% há vários meses, valor próximo do mínimo histórico. Mas por trás dessa aparente estabilidade esconde-se uma realidade menos favorável. A criação de novas vagas vem desacelerando. Caiu de 4% ao ano, no fim de 2010, para apenas 1,5% em outubro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Por sua vez, o crescimento da renda real dos trabalhadores (já descontada a inflação) também perde força. De 4%, em média, no primeiro semestre, chegou a quase zero em outubro. Parte da desaceleração decorre da inflação mais alta no início do ano, que corrói os salários, mas não deixa de ser surpreendente que se verifique com tanta intensidade num contexto de desemprego ainda baixo.

Os dados relativos à criação de vagas formais, divulgados pelo Ministério do Trabalho, mostram padrão similar. Em outubro, gerou-se menos da metade das vagas da média do primeiro semestre, num patamar comparável ao do período 2004-2006, que precedeu a aceleração do crescimento da economia durante o segundo mandato do presidente Lula.

O emprego é um dos últimos indicadores a reagir ao processo de perda de força da economia. Custos de contratação e demissão levam as empresas, em geral, a esperar sinais de confirmação de uma tendência antes de decidir alterar o quadro de pessoal. Por isso, mudanças de padrão no comportamento do mercado de trabalho tendem a ser duradouras.

É digno de nota que a criação de emprego volte ao padrão anterior ao da euforia do período 2007-2010. E não parece ser coincidência que o crescimento do PIB se encaminhe para 3% ao ano, se não menos, nível que, no Brasil, vinha sendo a regra há mais de duas décadas.

Será apenas uma desaceleração temporária, fruto do aperto nos juros no fim do ano passado e da piora do cenário global? Ou se trata de uma evidência de esgotamento de algumas forças que impulsionaram a economia nos últimos anos, como o boom do crédito e dos preços em alta das commodities?

O tempo dirá. Por ora, o governo se move, cortando juros, afrouxando o crédito e liberando novas dívidas nos Estados para investimentos. Se a crise externa se agravar, possivelmente novas medidas virão. Fica, no entanto, a dúvida se o país conseguirá, com novos estímulos, gerar crescimento alto e sustentável, com aumento dos investimentos, ou se colherá apenas um pouco mais de inflação.

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