domingo, outubro 09, 2011

MONICA BAUMGARTEM DE BOLLE - Câmbio, commodities e inflação


Câmbio, commodities e inflação
MONICA BAUMGARTEM DE BOLLE 
O ESTADÃO - 09/10/11

As centrífugas são aparelhos cujo propósito é separar substâncias com densidades diferentes. Se a inflação brasileira fosse hoje colocada dentro de uma centrífuga, será que constataríamos que o câmbio e os preços das commodities, dois de seus componentes, têm densidades diferentes?

Há quem acredite que a trajetória dos preços das commodities é vaporosa, sucumbindo aos sustos que a economia mundial tem causado desde a crise de 2008. Essas mesmas pessoas são da opinião de que o câmbio é "denso", isto é, está sujeito à volatilidade que acompanha os fortes movimentos de reprecificação de risco, mas é capaz de retornar a um nível que não prejudique os preços. Por essa visão, a piora dos cenários prospectivos para a economia global, sobretudo para os países maduros, é um bom agouro.

Mas é também possível cogitar a situação inversa. Sustentadas pelo crescimento das economias emergentes, cujo PIB é intensivo em matérias- primas, e pela perspectiva de que os países avançados voltem a inundar o mundo de liquidez, a trajetória dos preços das commodities é "densa". As ações que o BCE terá de tomar para sustentar os bancos, o reinício do afrouxamento quantitativo pelo Banco da Inglaterra e as sinalizações de Ben Bernanke de que está pronto para agir agressivamente indicam uma postura que pode beneficiar as cotações das matérias-primas no médio prazo. Embora a atividade nas economias emergentes esteja arrefecendo, poucos se arriscam a prever uma queda substancial.

Para compensar os efeitos inflacionários, o câmbio não pode ser "denso". Ou melhor, tem de ter uma densidade assimétrica. Precisa ser resistente aos movimentos que induziriam uma desvalorização, porém maleável quando as circunstâncias exigirem uma valorização para abortar os efeitos nefastos sobre a inflação de uma alta das commodities.

A política cambial brasileira hoje produz uma trajetória para a cotação do real que não é nem uma coisa, nem outra. Com as incertezas regulatórias introduzidas nos mercados de derivativos, penalizando aqueles que "apostam" no fortalecimento do real, impede-se o movimento benéfico para a inflação. Ao mesmo tempo, a falta de liquidez produz surtos de volatilidade que podem ser prejudiciais para os objetivos de médio prazo do Banco Central.

Infelizmente, não dispomos de um aparelho para medir as densidades relativas dos preços das commodities e do câmbio. Na dúvida, e diante de uma inflação que já alcança 7,3% em doze meses, seria melhor errar pelo excesso de cautela. O custo de fazer o contrário é acabar solidificando uma trajetória para os preços no Brasil que será bastante difícil de reverter.

 Análise: Monica Baumgarten de Bolle

É ECONOMISTA, PROFESSORA DA PUC-RJ E DIRETORA DO IEPE/CASA DAS GRAÇAS

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