sexta-feira, setembro 16, 2011

ALON FEUERWERKER - A resposta é "nada"



A resposta é "nada"
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 16/09/11



O episódio lança de novo no turbilhão um nome do PMDB, e servirá portanto para a volta da ladainha da "despeemedebização". É o canto de sereia que periodicamente assoma para nos convencer da maravilha que seria o Brasil caso o multipartidarismo fosse reduzido a um bipartidarismo, restrito ao PT e ao PSDB.

A troca no Ministério do Turismo reacende pela enésima vez o debate sobre o presidencialismo de coalizão. Que voltará a receber todo tipo de crítica, ataque, desprezo. Haverá novamente a condenação unânime do "modelo fisiológico". 
Sem que se saiba exatamente o que seria um "modelo ideológico". 
É bastante provável que o episódio coloque mais uns pesinhos na balança, no prato da reforma política. A eterna panaceia, a pomada milagrosa. 
Aí o cidadão comum poderia parar um instante os afazeres e perguntar: 
"Afinal, o que o presidencialismo de coalizão tem a ver com o ministro comportar-se de maneira considerada inadequada pela opinião pública?" 
E o que tem a ver o sistema eleitoral com a circunstância de uma autoridade cometer atos que a lei proíbe? 
São perguntas simples, mas de vez em quando é preciso dar ao senso comum a oportunidade de ajudar a clarear o cenário. Neste caso, a resposta imediata para ambas as questões do parágrafo anterior é "nada". 
Problemas com ministros acontecem nos mais diversos sistemas. E, feliz ou infelizmente, não há como governar sem apoio político. 
Mas o que quer dizer "apoio político"? O que os jornalistas afirmam quando relatam que certo indivíduo, grupo ou partido está atrás de "espaço"? Não é, obviamente, a busca por instalações mais amplas, arejadas, iluminadas. 
É a ambição de poder nomear, demitir, executar o orçamento. Com o objetivo explícito de alavancar a reprodução do próprio poder. A partir da articulação entre interesses privados e políticas públicas. 
Pois políticos que detêm poder pensam antes de tudo em como reproduzi-lo e acumular mais. Essa também é uma regra geral. Vale sempre. Em qualquer lugar do mundo. 
Eis aí o virtuosismo dos sistemas permeáveis ao surgimento de novas opções políticas. É o estado saudável das coisas. Mas o Brasil teima em procurar no lugar errado a raiz das encrencas. 
O episódio lança de novo no turbilhão um nome do PMDB e servirá portanto para a volta da ladainha da "despeemedebização". É o canto de sereia que periodicamente assoma para nos convencer da maravilha que seria o Brasil caso o multipartidarismo fosse reduzido a um bipartidarismo, restrito ao PT e ao PSDB. 
Se bem que a sereia anda meio rouca, desde que petistas e peessedebistas se descobriram inimigos figadais, de uns anos para cá. 
E agora cada um trata de convencer a sociedade de que o outro sucumbiu ao pântano que, no nascedouro, ambos prometiam drenar. 
Sempre haverá quem caia nessa. 
A sociedade anda cada vez mais intolerante a malfeitos. Isso é muito bom. E a sociedade parece compreender crescentemente que não há ninguém imune, que nenhum partido carrega a pureza no DNA. O que é ótimo. 
E também que o sucesso no combate ao mau uso do dinheiro público será função principalmente do ativismo social e da presença de uma oposição firme e fiscalizadora. Que reduzam o grau de liberdade dos governos. 
O segundo quesito vai mais ou menos, mas o primeiro pode compensar. E esse ativismo poupará seu próprio tempo se sabiamente deixar de lado irrelevâncias como por exemplo o estado de origem do novo ministro do Turismo. 

Fazendo contasO deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG) fez as contas. O setor público no Brasil investe por ano na Saúde cerca de 430 dólares per capita. Uns 150 bilhões de reais no total. 
Para dobrar o investimento e chegar, por exemplo, aos mais de 800 dólares que a Argentina gasta por habitante, o Estado brasileiro precisaria achar o mesmo tanto, mais 150 bilhões de reais para a Saúde. 
Quando a CPMF morreu, arrecadava uns 40 bilhões de reais. A nova CSS (Contribuição Social para a Saúde) tem arrecadação prevista de no máximo R$ 15 bilhões. 
Ou seja, a CSS poderá servir para algumas coisas, menos para resolver o problema do financiamento à saúde.

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