domingo, maio 01, 2011

HÉLIO SCHWARTSMAN - O sexo frágil


O sexo frágil
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/11 

SÃO PAULO - O Censo 2010 mostra que existem 96 homens para cada 100 mulheres no Brasil. Em 2000, eram 96,9. O excesso de mulheres fica mais significativo quando se considera que, na espécie humana, nascem 105 meninos para cada 100 meninas.
A conclusão é que eles morrem mais do que elas. Por que isso acontece é um mistério. O fenômeno é intuitivo em algumas faixas etárias: são os rapazes, afinal, que gostam de exibir-se para elas acelerando seus carros, envolvendo-se em gangues e metendo-se com drogas.
Só que o excedente de óbitos masculinos começa antes mesmo do nascimento e se estende por toda a vida. Entre bebês prematuros, os do sexo feminino têm 1,7 vezes mais chance de sobreviver.
Fetos do sexo masculino parecem ser mais sensíveis até a poluição. Demógrafos descobriram que, a jusante de polos industriais, nascem menos meninos que meninas.
Um estudo seminal sobre resiliência que acompanhou por 20 anos 700 crianças pobres no Havaí revelou que mais da metade dos garotos morreu ainda na infância, contra menos de 1/5 das moças.
Por que a diferença? Não sabemos. Mas, como diz a psicóloga Susan Pinker em "The Sexual Paradox", podemos especular. Uma possibilidade é que mulheres, por terem duas cópias do cromossomo X, ficam mais protegidas contra algumas moléstias genéticas.
Os hormônios masculinos também têm um papel. De um lado, eles favorecem a agressividade e o apetite pelo risco, com as conhecidas consequências. De outro, a testosterona parece afetar o sistema imune. A prevalência masculina é maior para uma série de doenças, de câncer a infecções hospitalares.
Sejam quais forem os mecanismos, há uma razão evolutiva para a fragilidade masculina. Em nosso passado darwiniano, a morte precoce da mãe frequentemente implicava a morte da prole. Já a do pai, não. Elas é que foram selecionadas para ser o verdadeiro sexo forte.

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