segunda-feira, março 28, 2011

GEORGE VIDOR

Gol contra
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 28/03/11
Qualquer que seja o novo comando escolhido pela assembleia de acionistas da Vale, o mercado já avalia como gol contra (o primeiro, aliás da administração Dilma) a interferência do governo na cúpula da companhia. Não chega a ser uma intromissão indevida, pois o governo, direta ou indiretamente, é grande sócio da Vale e tem direito de opinar sobre a formação da diretoria da empresa. Mas dentro de critérios.

Há uma série de empreendimentos importantes no Brasil hoje sob responsabilidade de consórcios entre grupos privados, empresas estatais, BNDES etc. Toda essa história envolvendo a substituição de Roger Agnelli na presidência da Vale abriu um precedente perigoso que sem dúvida vai gerar desconfianças que prejudicarão parcerias futuras.

No início de carreira, como estagiário de engenharia, Roberto Senna penou para comprar seu primeiro apartamento, em Salvador, financiado por 25 anos, e com uma área útil 43 metros quadrados. Passados mais de 30 anos, Senna dirige hoje uma grande empresa de engenharia de capital aberto (Direcional) que lidera o mercado de construções de imóveis residenciais para a faixa de um a três salários mínimos dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. Geralmente são casas e apartamentos com área de 42 metros quadrados, a mesma dimensão de um imóvel que adquiriu com dificuldade como jovem profissional oriundo da classe média urbana.

A comparação dos dois exemplos mostra a mudança significativa no mercado imobiliário brasileiro. Na primeira fase do programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida, de um milhão de unidades previstas, cerca de 400 mil se destinam à faixa de até três salários mínimos. Na segunda fase, de dois milhões de unidades, 1,2 milhão irá para essa faixa de renda. Alguns construtores perceberam a oportunidade, como a própria Direcional, que já tem um terço dos seus negócios nesse segmento. Roberto Senna explica que para se construir para a baixa renda, com lucro, a chave está na produção em série (a Direcional tem contratos para construir 65 mil unidades, distribuídos em grandes projetos). Sua empresa consegue concluir, em média, dois imóveis por dia, com uma equipe de 22 montadores, no lugar de armadores, pedreiros, carpinteiros etc. Em vez de acompanhar de 120 a 150 diferentes itens e materiais usados em uma obra convencional, nesse tipo de projeto são monitorados somente 19, o que barateia os custos.

A Direcional, empresa de origem familiar, de Belo Horizonte, é no momento líder em mercados como Manaus, mas constrói também no Rio, Brasília e outros cinco estados. Por suprir seu ritmo acelerado de obras, contrata 400 novos empregados por mês, totalizando nove mil. As metas de produção são diárias e uma parte da remuneração de cada empregado fica atrelada a esses objetivos. Os imóveis são montados usando-se uma sequência de cores nas peças, o que agiliza a tarefa, pois são identificadas até por operários sem instrução. Até agora o processo tem dado certo, possibilitando à construtora dobrar seu lucro a cada exercício, com uma margem de ganho entre 20% e 25% sobre as vendas.

Depois da entrega dos imóveis, o desafio é que os condomínios de habitação popular se espelhem na experiência já bem conhecida pela classe média. A solução da Direcional foi assumir a administração do condomínio por um tempo, até que uma diretoria da associação de moradores seja gradativamente composta por representantes dos proprietários e assuma a tarefa.

A venda de imóveis para famílias de baixa renda muitas vezes esbarra na falta de comprovação de capacidade financeira dos potenciais compradores. Em capitais do Norte do país, onde a informalidade ainda é grande, essa comprovação, para efeito de financiamento da Caixa Econômica Federal, é feita na prática. Se, durante a obra, quem se candidatar ao financiamento bancário conseguir pagar em dia doze prestações consecutivas terá provado que poderá receber o empréstimo de longo prazo na entrega das chaves.

Para agilizar o treinamento de oficiais destinados a embarcações de apoio às atividades da indústria do petróleo na costa brasileira, a Rolls-Royce está estudando trazer para o Brasil um simulador que reproduza o funcionamento desses navios. A Rolls-Royce é uma das principais fornecedoras de motores para tais embarcações, compressões e turbinas usados em plataformas de petróleo e está expandindo suas atividades no Brasil, de olho nas emendas que virão com o pré-sal. O treinamento convencional pode durar muitos meses. O simulador abrevia o tempo necessário para a capacitação desses oficiais.

A primeira fase da ampliação do Porto de Pecém (com a construção de um novo píer) ficará pronta no início do segundo semestre. Com essa expansão, estava previsto que o porto teria condições de atender à demanda prevista até 2015, mas os cálculos foram refeitos e a segunda fase da ampliação terá de ser antecipada para este ano. A obra é conduzida pela construtura do grupo Marquise, uma das maiores empreiteiras do Ceará, que teve como desafio fazer a ampliação sem interferir na atividade cotidiana do porto. Para isso, precisou usar balsas e uma draga. Na construção do novo píer tem sido usado material de aterro que havia sido retirado na obra original do porto, reduzindo-se agora o passivo ambiental.

O Porto de Pecém tem uma localização excepcional. Está a quatro dias de navegação da Costa Leste americana e a cinco dias dos principais portos europeus. E tem um calado de 18 metros.

Quando o novo traçado da ferrovia Transnordestina estiver concluído, Pecém poderá ser um dos principais portos de escoamento da produção das regiões Centro-Oeste e do próprio Nordeste.

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