Sururu no réveillon
RUY CASTRO
FOLH DE SÃO PAULO - 01/01/11
RIO DE JANEIRO - 1º. de janeiro de 1981. Esmagado pela paisagem, o Réveillon segue morno no morro da Urca, e um amigo (vamos chamá-lo de João Luiz, embora este seja o seu nome verdadeiro), fantasiado de papa João Paulo 2º., resolve animar o baile. Quando passamos por um grupo de rapazes e moças argentinos, ele diz, num volume que lhe permite ser escutado: "Todo argentino é f. da p.".
Os argentinos se ofendem e vêm tomar satisfações. João Luiz diz que não foi bem isso, eles entenderam errado. Os rapazes o perdoam, talvez por ele ser o papa, e saímos de perto. Então, à distância, como que casualmente, João Luiz repete: "Todo argentino é f. da p.". Eles o interpelam de novo. João Luiz se justifica e, incrível, os gringos deixam passar. Mas, incontinente, João Luiz diz a frase pela terceira vez.
Aí não tem jeito. O pau quebra junto ao Pão de Açúcar. Os argentinos vêm para cima de João Luiz e ele acerta um ou dois na cabeça com o cetro do papa (um cabo de vassoura enrolado com uma fita). Não briguei, preferi ficar de longe, narrando a contenda com os bordões do Waldir Amaral.
A turma do deixa-disso (perdão, leitores) entra na história e acalma o sururu. Ninguém se machucou, e João Luiz apenas perdeu o chapéu do papa (comprado na Casa Turuna), que rolou morro abaixo. Todo mundo se abraça, os argentinos se reúnem a nós e acho até que brotou um romance entre um rapaz e uma moça das duas bandeiras.
Horas depois, sol já quente, descemos todos juntos no bondinho, cantando o tango "Cambalache", do Discépolo ("Que el mundo fue y será/ Una porqueria, ya lo sé..."), e com João Luiz recitando a escalação de uma antiga seleção argentina -Vacca, Salomón e Sobrero; Sosa, Strembel e Battagliero; De La Mata, Méndez, Pedernera, Labruna e Lostau- que dava uma ou duas surras por ano no Brasil, e da qual ele agora se sentia vingado.
Os argentinos se ofendem e vêm tomar satisfações. João Luiz diz que não foi bem isso, eles entenderam errado. Os rapazes o perdoam, talvez por ele ser o papa, e saímos de perto. Então, à distância, como que casualmente, João Luiz repete: "Todo argentino é f. da p.". Eles o interpelam de novo. João Luiz se justifica e, incrível, os gringos deixam passar. Mas, incontinente, João Luiz diz a frase pela terceira vez.
Aí não tem jeito. O pau quebra junto ao Pão de Açúcar. Os argentinos vêm para cima de João Luiz e ele acerta um ou dois na cabeça com o cetro do papa (um cabo de vassoura enrolado com uma fita). Não briguei, preferi ficar de longe, narrando a contenda com os bordões do Waldir Amaral.
A turma do deixa-disso (perdão, leitores) entra na história e acalma o sururu. Ninguém se machucou, e João Luiz apenas perdeu o chapéu do papa (comprado na Casa Turuna), que rolou morro abaixo. Todo mundo se abraça, os argentinos se reúnem a nós e acho até que brotou um romance entre um rapaz e uma moça das duas bandeiras.
Horas depois, sol já quente, descemos todos juntos no bondinho, cantando o tango "Cambalache", do Discépolo ("Que el mundo fue y será/ Una porqueria, ya lo sé..."), e com João Luiz recitando a escalação de uma antiga seleção argentina -Vacca, Salomón e Sobrero; Sosa, Strembel e Battagliero; De La Mata, Méndez, Pedernera, Labruna e Lostau- que dava uma ou duas surras por ano no Brasil, e da qual ele agora se sentia vingado.
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