quarta-feira, janeiro 12, 2011

CELSO MING

Medo de mergulhar
Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 12/01/2011



Durante muito tempo, os economistas do PT imaginaram que a simples criação de um mercado interno de massa resolveria quase todos os problemas do crescimento econômico e do emprego.
Pois agora temos uma razoável economia de massa e, no entanto, as soluções não vieram tão mecânica e espontaneamente. O investimento é um desses problemas.
Uma das apostas era a de que o baixo nível do investimento no País, equivalente a cerca de 18% do PIB, seria rapidamente corrigido quando o consumo entrasse em velocidade cruzeiro. "É aumentar o consumo que o investimento vai atrás", diziam. Quem acreditava em que as coisas funcionam assim deve estar abalado em suas convicções.
O investimento é baixo no Brasil por um grande número de razões. Porque a poupança é insuficiente; os juros são altos demais; a infraestrutura ainda não tomou jeito; a carga tributária ficou insuportável; o câmbio não ajuda; persiste grande instabilidade por falta de firmeza nas regras do jogo; as agências reguladoras foram desvirtuadas; o PT no poder vê com desconfiança as iniciativas destinadas a aumentar o índice de privatização da economia; as reformas estruturais estão emperradas; e, também, porque não foi superada a vacilação permanente a respeito da função do capital estrangeiro no Brasil.
No momento, o governo Dilma lida com duas contradições básicas ligadas ao investimento. A primeira delas está relacionada ao tratamento a dar ao capital estrangeiro. O Brasil precisa atrair recursos destinados a complementar o capital nacional nos investimentos de centenas de bilhões de dólares no pré-sal, nas obras do PAC, nos projetos destinados à Copa do Mundo e à Olimpíada; na ampliação e na construção de portos, aeroportos e estradas e por aí vai. No entanto, teme-se que a entrada maciça de capitais concorrerá para a excessiva valorização do real, cujo principal efeito é tirar competitividade do setor produtivo brasileiro.
Ao coibir a entrada de capitais especulativos, por exemplo, o governo também tira previsibilidade dos capitais de longo prazo, na medida em que deixará o investidor estrangeiro exposto ao risco de rápida desvalorização do real cuja principal consequência é tirar competitividade ao setor produtivo.
Há algumas semanas, por exemplo, o governo federal criou incentivos tributários às aplicações estrangeiras de longo prazo. Mas, a todo o momento, também sugere que qualquer entrada de capitais tem o lado ruim de trabalhar no sentido de valorizar a moeda brasileira.
Incompreensível é o ranço antiprivatizante. Qualquer convocação do setor privado para participação de atividades hoje atribuídas ao Estado é vista como reles privataria. E, no entanto, é impossível continuar a ordenha do Tesouro na proporção a que foi submetido nos últimos quatro anos. O governo acaba de desistir de criar uma estatal de seguros. Agora, para escândalo dos mais conservadores do PT, além de estudar a privatização de aeroportos, anuncia estudos destinados a abrir o capital da Infraero. Para isso, é claro, terá de manter azeitado o mercado de ações e mantê-lo atraente ao capital estrangeiro, mas isso pode trazer dólares demais...
O governo Dilma não pode mais vacilar. Terá de perder definitivamente o medo de mergulhar nas águas do desenvolvimento e isso exige a quebra dos padrões que mantiveram as esquerdas atreladas a valores do passado.

CONFIRA
Reservas internacionais brasileiras
Aí está a evolução das reservas externas nos últimos sete anos.
Correção
O geólogo e professor da Unicamp Alfonso Schrank flagrou um erro no texto publicado dia 4. Ao contrário do que saiu, terras raras não são minerais. Minerais são combinações de elementos. Terras raras são elementos. Exemplos: gadolínio e térbio são terras raras. A monazita é um fosfato de tório e terras raras leves. Para formar esse mineral, é preciso combinar oxigênio, fósforo, tório e terras raras em proporções rigorosamente equilibradas.

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