quarta-feira, junho 23, 2010

MÍRIAM LEITÃO

Soluções de Marina 
Miriam Leitão 

O Globo - 23/06/2010

“Eu sou uma grande solução para o agronegócio brasileiro.” A frase espanta por ser de Marina Silva.

Em entrevista que fiz com ela na GloboNews, a candidata do Partido Verde criticou a forma como o BNDES está atuando: dando R$ 10 bilhões de subsídios aos “escolhidos” sem transparência. Marina disse que a política econômica está com boca torta porque só o Banco Central combate a inflação.

— Não me conformava em ver o governo fazer propaganda, por oito anos, do etanol brasileiro sem fazer o que deve anteceder a propaganda, que é a certificação.

Se tivéssemos certificado o etanol, vários países teriam mais facilidade de convencer seus congressos e a opinião pública de que o etanol não estava sendo produzido em detrimento da segurança alimentar, nem do meio ambiente ou do social. Aí não precisaríamos de propaganda.

Marina define como atrasada a visão de opor desenvolvimento e meio ambiente e diz que o relatório de Aldo Rebelo de mudanças no Código Florestal é “o maior retrocesso na história da legislação ambiental brasileira.” Completa: “isso sim é um desserviço ao agronegócio.” Marina cresce nas questões ambientais, mas tem mostrado cada vez mais desenvoltura na questão econômica e tem resposta na ponta da língua para a pergunta sobre se ela está preparada para os outros temas do país além da questão ambiental. Ela repete que a questão ambiental hoje está em todos os outros assuntos, e não é uma questão separada, mas diz também que não é preciso ser economista para governar um país, nem jurista para fazer leis. Ela não faz críticas diretas ao presidente Lula, mas dá estocadas nos dois candidatos quando defende a sua própria proposta de ser sucessora em vez de opositora ou continuadora de Lula: — Não me coloco no lugar de Serra de opositor porque a oposição tem a tendência de ser contra tudo e contra todos. O sucessor tem autonomia para reconhecer os ganhos e apresentar um delta a mais.

O continuador será tutelado por quem o indicou e tem que fazer a unção divina de tudo o que foi feito antes, sendo complacente com os erros. O que se coloca numa linha sucessória afirma os avanços sem medo e sem vaidade, e é capaz de corrigir os erros e apontar os novos desafios.

Entre os desafios, a educação e a infraestrutura. Ela diz que sem isso o país pode perder as oportunidades desse século. Marina afirmou que em seu governo haverá hidrelétricas na Amazônia, mas não como Belo Monte.

Disse que não se arrepende de ter dado a licença para a BR-163, mas admite que fracassou seu projeto de proteger a área com criação de unidades de conservação. O desmatamento está aumentando na região: — Fracassou por essa visão atrasada dos outros ministérios de opor desenvolvimento ao meio ambiente.

Na área econômica, Marina disse que não acha que Henrique Meirelles seja a única pessoa capaz de manter a estabilidade econômica. Reconhece seus méritos em ter garantido os avanços do Plano Real e ter acumulado reservas, admite que o “perfil desejável” de um presidente do Banco Central seria o de “dar continuidade”. Ela criticou os juros altos, mas não culpa o Banco Central por isso. Diz que o Brasil tem perseguido a inflação baixa apenas com juros: — Hoje, o Banco Central eleva a taxa de juros porque é a única ferramenta para manter a inflação, e o governo ficou com a boca torta.

Se tivermos uma combinação de juros e de corte de gastos públicos poderemos ter taxas mais comedidas e o BC não será o único a ter o encargo de controlar a inflação.

Eu perguntei sobre a afirmação do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos seus consultores, de que o governo dá a “Bolsa BNDES” aos grandes grupos empresariais. Ela disse que a preocupação do Giannetti também é a dela, e a do candidato a vice em sua chapa, Guilherme Leal, que falou disso numa entrevista ao “Valor”, em março. Ela disse que não tem dúvidas da importância do BNDES para o desenvolvimento brasileiro, mas propõe mais transparência na concessão dos empréstimos subsidiados porque eles envolvem impostos pagos pelos cidadãos e cidadãs: — O governo capitaliza o BNDES a juros Selic e o banco empresta a juros subsidiados que custam de R$ 10 bilhões a R$ 12 bilhões.

Isso não está no orçamento, não tem transparência e o cidadão ou a cidadã brasileira precisa saber que uso está sendo feito do seu tributo, quem são os escolhidos (para receber esses recursos) e de que forma eles estão sendo escolhidos.

Isso está criando sim uma preocupação.

Na entrevista de 25 minutos, ela criticou quem fala contra aumento de gastos e diante de um problema, como o da segurança, propõe criar mais um ministério. A indireta era para o candidato José Serra. Disse que vários outros países, até a China, estão investindo em energias como a eólica. Era indireta à Dilma. Negou que seja frágil fisicamente. Diz que a única sequela que tem da contaminação por mercúrio foi uma forte alergia. Na semana que vem, entrevisto José Serra.

Dilma Rousseff não aceitou ser entrevistada

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