domingo, fevereiro 07, 2010

ELIO GASPARI

A CPI do PT do Rio perdeu o ônibus

FOLHA DE SÃO PAULO - 07/02/10


O deputado Molon quer investigar a caixa-preta da agência que regulamenta metrô, trens e barcas, mas é só?

O DEPUTADO Alessandro Molon (PT-RJ) está coletando assinaturas para instalar uma CPI destinada a abrir a caixa-preta da Agetransp, a agência reguladora dos serviços do Metrô, dos trens da SuperVia e das barcas do Rio de Janeiro. Grande ideia, mas ficou faltando interesse pela mãe de todas as caixas, a das companhias de ônibus municipais. Em geral, as CPIs dão em nada, quando não resultam em coisa pior, mas nem isso a bancada do governador Sérgio Cabral aceita. Seu anjo de guarda, o deputado Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa, anuncia que vetará a iniciativa.
O Metrô do Rio tem transportecas arrogantes que mexem nos ramais sem se preocupar com o suplício que impõem aos clientes. A SuperVia tem trem que sai por aí sem maquinista e seguranças que chicoteiam os passageiros. As companhias de ônibus têm mais: cultivam um política extorsiva de tarifas e, com a cumplicidade dos prefeitos, bloqueiam a implantação do Bilhete Único, prometido por Cabral em 2007 e pelo seu prefeito, Eduardo Paes, em 2008, quando pedia votos.
Governadores, prefeitos, amigo$ e caixa$ de campanhas colocaram o Rio numa situação socialmente humilhante. Até 2004, quando a prefeita Marta Suplicy instituiu o Bilhete Único em São Paulo, as duas cidades estavam num mesmo patamar de desgraça no transporte público. Hoje, 50% dos paulistanos avaliam que os serviços de ônibus e de trens estão entre bom e ótimo. O Metrô vai a 82%. No Rio, esse índice de satisfação talvez não seja atingido nem entre os diretores das concessionárias.
O vexame não é consequência da herança escravocrata, do patrimonialismo ibérico ou da mudança da capital para Brasília. É obra de governos demófobos. Quem fez a diferença em São Paulo foram administradores petistas e tucanos que decidiram tirar o transporte público da vala.
Basta comparar a situação nas duas cidades.
O paulistano paga R$ 2,70 pelo seu Bilhete Único, tem direito a quatro viagens de ônibus num intervalo de três horas. O novo bilhete intermunicipal do Rio custa R$ 4,40, com direito a duas viagens de ônibus, trem ou metrô, por duas horas.
O Bilhete Único de São Paulo atende a todo o município e é usado em 12 milhões de viagens/dia. No Rio essa tarifa só existe para percursos intermunicipais. Estima-se que venha a atender 1,5 milhão de viagens/dia.
Desde ontem, com a nova tarifa municipal de R$ 2,35, um trabalhador que toma dois ônibus para chegar ao trabalho, mais outros dois na volta para casa (ao longo de 25 dias), gasta R$ 235. O de São Paulo gasta R$ 135. Com a diferença de R$ 100, tem direito a sete refeições de R$ 13,75 no carro-chefe do Mc Donald's (BigMac, batatas fritas na porção média, e um refrigerante médio). Para ele, almoço grátis existe.
(Na comparação com o bilhete intermunicipal do Rio, a diferença cai para seis refeições.)
O sistema de transportes públicos do Rio fez uma opção preferencial pela tunga dos passageiros dos ônibus. Antes da criação do bilhete intermunicipal de R$ 4,40, o cidadão que fazia duas viagens sobre trilhos pagava, e continuará pagando, R$ 3,80. Noutra modalidade de integração, passageiros de quatro cidades da Baixada Fluminense pagam R$ 4,00 pelo percurso ônibus-metrô. Os dois sistemas, privados e lucrativos, atendem cerca de 20 mil passageiros/dia.
A política de tarifas dos ônibus, do Metrô e dos trens do Rio é paleolítica. Nenhum concessionário dá desconto de fidelidade aos usuários. Em São Paulo a passagem de Metrô custa R$ 2,65. Se o cliente compra 50, fica por R$ 2,33. (Sobram R$ 16 para o McDonald's.) O Metrô do Rio prometeu esse tipo de desconto e quem acreditou fez papel de paspalho (inclusive o signatário). A Fetranspor carioca, que administra os altos interesses das empresas de ônibus, criou um RioCard, prometeu o programa de descontos e bobo foi quem acreditou (inclusive, de novo, o signatário).

A 4ª FROTA VEM AÍ
O companheiro Obama anunciou que virá ao Brasil no segundo semestre. Se desembarcar antes da eleição, não deverá reclamar caso o acusem de vir dar uma mãozinha ao "Cara". Para os brasileiros, o sonho de festa seria a conjugação de uma vitória na Copa do Mundo, seguida pela visita do companheiro no fim do ano.

EMPULHAÇÃO TUCANA
São Paulo atravessou um dilúvio, redes de esgoto invadiram galerias pluviais, centenas de pessoas perderam o que tinham, e o governador José Serra descobriu que parte do problema está na imprensa:
"Outro dia inaugurei um piscinão com 500 metros cúbicos, o segundo maior piscinão do Brasil. A imprensa não deu a menor bola. Porque dá-se bola para o problema, mas para a solução, não". Que solução? Em 2006, o tucanato paulista anunciou que reduzira de 50% para 1% o risco de enchente nas margens do rio Tietê. Os meios de comunicação, felizes, registraram a proeza e caíram na maldição atribuída ao general Orlando Geisel (1905-1979): "A imprensa desinforma, deseduca e ofende o vernáculo".
Diante de um repique na taxa de homicídios no Estado (4.771 mortos em 2009 contra 4.426 em 2008), Serra atribuiu os números, "basicamente" à "crise econômica e ao desemprego".
É a velha lenda: crise provoca crime. Se fosse assim, como explicar que a taxa de homicídios caiu 10,4% na Grande São Paulo? Mais: o epicentro do terremoto financeiro ficou em Nova York. Lá o desemprego chegou a 10,3%, o maior em 16 anos, mas os homicídios foram 466, com uma queda de 10% em relação ao ano anterior, o melhor resultado desde 1963.

MADAME NATASHA
Madame Natasha acredita que o ministro Tarso Genro fala num código que só ela entende. Por isso concedeu-lhe uma de suas bolsas de estudo com o bônus de um passagem a Cuba (só de ida) pela seguinte afirmação, ao repórter Valdo Cruz:
"Eu acho que o PT vai diminuir bastante a taxa de tradicionalização da política, em função da experiência pelo próprio mensalão". Natasha entendeu o seguinte: "Por causa do mensalão, o PT vai tomar menos dinheiro dos outros".

PÔQUER IBOPE
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro está jogando 67 anos de prestígio da marca de seu instituto no pano verde das incertezas eleitorais.
Há alguns meses ele garante que o PT perderá a eleição presidencial. Faz isso baseado nas pesquisas de seu instituto e da capacidade analítica que acumulou em mais de 30 anos de serviço. Astrólogo não precisa fazer pesquisa e pesquisador não deve cravar previsões.
Com o crescimento da candidatura da comissária Rousseff, registrado pela CNT/Sensus, Montenegro acrescenta que Lula chegou ao teto de sua capacidade de transferir votos. (Isso oito meses antes da eleição e do início formal da campanha.) Se acontecer sabe-se lá o que, e o PT vencer, sempre se poderá dizer que Montenegro avançou o sinal. Mas o que se dirá do Ibope?

ERRO
Estava errado o nome do autor do livro "Desventuras das Nações Favorecidas" ("Misadventures of the Most Favored Nations" (...) no título original, inédito em português.) Ele se chama Paul Blustein e não Paul Blumfeld.

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