quinta-feira, dezembro 31, 2009

CLÓVIS ROSSI

Votos para 2010, talvez inúteis

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/12/09



SÃO PAULO - Os votos para 2010, obviamente pensando em um ano eleitoral, nem são meus mas de Delfim Netto, em recente artigo para esta Folha. Delfim leva a vantagem de ter sido um ícone da direita durante seus tempos de czar da economia na ditadura, agora transformado em conselheiro de um presidente originalmente de esquerda, embora adernado à direita desde que chegou ao poder.
Escreveu Delfim: "A eleição de 2010 não pode se fazer em torno das pobres alternativas de, ou voltar ao passado, ou dar continuidade a Lula. A discussão precisa incorporar os horizontes do século 21 e a superação dos problemas que certamente restarão do seu governo".
Um dos problemas, no varejo, foi capturado por João Carlos Magalhães, o enviado da Folha ao Suriname. Uma legítima filha do Brasil, ela também uma Silva, de nome Maria Raimunda, escapou do conflito com os locais e reclamou que, "no Brasil só querem saber de quem tem instrução (...) Aqui, tiro até R$ 2.000 [por mês]. Lá [no Brasil], não era nem metade".
Não é mais aceitável que muitos Silvas da oitava potência do mundo continuem preferindo todos os perigos da clandestinidade, em um ponto perdido do fim do mundo, ao seu próprio país.
No atacado, tampouco é aceitável que a oitava potência do mundo, mesmo após o mais longo ciclo de crescimento de sua história recente, continue no 75º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano.
Para não falar do 75º lugar também no índice de percepção de corrupção, o que não pode ser mera coincidência, ou nos vergonhosos resultados dos estudantes brasileiros em todas as medições comparativas internacionais.
Para os que não se conformam com tudo isso, votos de um 2010 que traga o Brasil ao século 21. Aos que se conformam -e parecem ser maioria-, votos de um pouco mais de ambição.

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