sábado, setembro 26, 2009

FLÁVIO GOMES

Decisão na Brawn

BOM DIA - 26/09/09

Que tal falar um pouco de corrida, para variar? Afinal, há um campeonato em curso. E a corrida de Cingapura vai dizer se Barrichello continua na luta pelo título, ou se Button conseguirá fazer valer a vantagem que abriu nas primeiras corridas do ano. É tudo que importa nesta prova noturna, que será para sempre lembrada pelo escândalo do ano passado.

Por isso mesmo é difícil fazer qualquer prognóstico. Tudo que aconteceu em 2008 foi fruto de uma manipulação. As paradas de quase todos nos boxes durante o safety-car produzido por Nelsinho foram feitas fora da hora, embaralhando o roteiro. E pode chover, o que deixa as coisas ainda mais indefinidas — no molhado, de noite, esse GP se transforma numa loteria danada.

Em tese, a Brawn deve andar bem em Cingapura. Afinal, ganhou em Mônaco e Valência, as outras duas pistas urbanas do calendário. Olho na Williams de Rosberguinho, também, que pode se meter entre os favoritos. A Force India, atração das últimas duas provas, em Spa e Monza, tende a despencar para o bloco de trás por conta das características de seu carro. Liuzzi não conhece o traçado e certamente vai andar atrás. Sutil tem chances um pouco melhores, mas não deve fazer nada parecido com o que se viu nas pistas de alta.

A Renault, com Alonso, andou muito bem em Marina Bay no ano passado. Falcatruas à parte, é bom lembrar que o espanhol dominou os treinos livres e era favorito à pole quando a bomba de gasolina de seu carro pifou, fazendo com que largasse em 15º — detonando as ideias de jerico de Briatore & Cia. Ele não se conformou, porque sabia que se largasse lá na frente teria chances enormes de ganhar pela primeira vez na temporada.

Button corre para marcar Barrichello. Será sua sombra o fim de semana todo, já que o brasileiro está numa fase melhor e atua, nesta reta final do campeonato, como franco-atirador.

Para o inglês, o importante é não correr o risco de não pontuar. Vai precisar de alguma cautela. Chegar atrás de Rubens, uma ou duas posições, estará de bom tamanho. O companheiro não tem opção. Precisa partir para o ataque. E torcer para Jenson se atrapalhar numa corrida propícia a confusões.

Os primeiros treinos livres deram algumas pistas daquilo que pode acontecer em Marina Bay. A pista continua muito ondulada, mais do que no ano passado, e foi modificada na curva 10, que se tornou mais lenta. A Red Bull foi a surpresa do primeiro dia, porque Vettel, o mais rápido, meio que tinha desistido de andar demais nos treinos livres, por conta da escassez de motores até o fim da temporada.

A McLaren teve bom desempenho com Kovalainen, e foi discreta com Hamilton. Quem não andou nada foi a Ferrari. O chefe da equipe, Stefano Domenicali, confirmou que o time “congelou” o desenvolvimento do carro há dois meses. Assim, os vermelhos vão até o fim do campeonato sem nenhuma perspectiva de melhora. Nesse cenário, Raikkonen tem feito milagre. Em Maranello, os engenheiros só pensam no carro do ano que vem.

O fato tragicômico do dia foi a batida de Grosjean, substituto de Nelsinho Piquet, no mesmo lugar em que o brasileiro se estatelou de propósito no ano passado. E o francês ainda repetiu o famoso “sorry, guys”, pelo rádio. Parecia mentira... A Renault, para quem não percebeu, está correndo sem as logomarcas de dois de seus maiores patrocinadores. O banco holandês ING e a seguradora Mutua Madrileña rescindiram seus contratos. Não querem mais seus nomes associados a um time que fez o que fez.

Fala, Fernandinho
Alonso ficou irritado em Cingapura e não quis emitir nenhum juízo de valor sobre o escândalo que lhe deu a vitória na corrida noturna do ano passado. Preferiu dizer que é tudo passado e que ele não teve nada a ver com aquilo. Pode até ser. Mas continuo achando que deveria entregar a taça a Rosberg. Seria um ato simbólico, sem efeito prático algum. Poderia até ser encarado como demagogo, mas seria uma forma de dizer, pelo menos, que não concorda com nada do que foi feito.

Raikkonen ameaçado
Kimi Raikkonen, apesar das últimas ótimas atuações (é o piloto que mais fez pontos nas últimas quatro corridas), continua com o emprego em risco. Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari, deu indicações, pela primeira vez, de que o finlandês será descartado em favor de Alonso. A McLaren pode ser seu destino.

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