Pedalando para o sonho
JORNAL DO BRASIL - 05/07/09
De repente você abre ao acaso um site de notícias e dá de cara com uma informação que precisa ler duas vezes para acreditar: a carioca Daniela Giovanesi venceu a Race Across America, prova de ciclismo através de 4.800 quilômetros, de uma costa a outra dos Estados Unidos. Se você ficou surpreso espera só para saber que Daniela tem 41 anos, três filhos e foi a primeira mulher – em dois anos de competição – a concluir o percurso dentro do tempo exigido na prova feminina. Vamos ficar de pé para aplaudir Daniela!
Uma conquista dessas deixa qualquer brasileiro orgulhoso, muito mais do que com o título da Copa das Confederações. Ela derrotou as americanas no mesmo dia em que vencemos os americanos na África do Sul. Vitórias no futebol já não nos surpreendem (surpreendem as derrotas!), mas no ciclismo e na terra de Lance Armstrong, sete vezes seguidas campeão do Tour de France, é um feito que merecia quase tanto espaço na mídia quanto recebe o Sarney que nunca subiu numa bicicleta.
Sempre me impressionou a vocação do brasileiro para os esportes (o mesmo não posso dizer quanto à política). Tivéssemos uma estrutura semelhante à de Cuba – nos bons tempos – e estaríamos no topo do mundo olímpico junto com a China e os Estados Unidos. Você já se deu conta dos títulos mundiais que vamos recolhendo nos mais diferentes esportes? Do futebol ao skate (street ou vertical); do vôlei ao surfe; do futsal à natação; da ginástica olímpica a Maurren Maggi? Sem falar do judô, vela, taekwondo, futebol de areia, vôlei de praia e de glórias recentes no tênis, boxe, hipismo, automobilismo. Somos uma potência esportiva deitada em berço esplêndido. Com mais dois dedinhos de seriedade e planejamento chegaremos a campeões de beisebol com nossos "japoneses".
Daniela não é uma recém-chegada aos esportes. Praticou corrida de rua, bodyboarding, foi campeã mundial no jiu-jítsu e só em 1999 sentou-se profissionalmente no selim de uma bike (reparou que ninguém mais fala "bicicleta"?). Para vencer a Race pedalou um pouco mais do que o Robinho: foram nove dias, 11 horas e 50 minutos. Sabe quem foi seu companheiro de "viagem"? O riso! Mais do que o canto foi o riso que espantou seus males e seu cansaço. Ela declarou, depois de cruzar a chegada, que "encarei a prova sempre me divertindo, dando gargalhadas com o grupo". Nunca suspeitei dos benefícios do riso à saúde, mas confesso que ignorava que rir também fosse o melhor remédio para as competições esportivas. Um humorista americano disse que "uma boa gargalhada é o segundo maior prazer do homem". Não podendo usufruir do primeiro – fica difícil pedalando o tempo todo – Daniela entregou-se ao segundo e com ele chegou em primeiro.
A carioca pedalou 20 horas por dia (cerca de 400 kms), dormindo quatro, um esforço brutal para ganhar um prêmio – pasme – de US$ 2 mil. Mas o dinheiro não estava na conta da sua felicidade. Como diria a propaganda do cartão de crédito, um sonho não tem preço.
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