sexta-feira, abril 17, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Quando um não quer...

FOLHA DE SÃO PAULO - 17/04/09

BRASÍLIA - O ideal seria o fim do embargo, mas o possível é Barack Obama anunciar na Cúpula das Américas, de hoje a domingo, em Trinidad e Tobago, o início do diálogo aberto, público, oficial com Cuba, nomeando um conselheiro e/ou um mediador para a ilha, como fez para o Oriente Médio.
Obama não tem condições de simplesmente acabar com o embargo neste momento, pois a decisão não está madura, sua prioridade é a crise e não teria como abrir nova frente e gastar cartuchos com Cuba no Congresso, por exemplo.
Mas ele já deu passos concretos em direção à ilha ao liberar viagens e remessas e autorizar licenciamentos de telecomunicações. A nomeação de interlocutores, ou algo assim, seria o "passo adiante" que os países da região sugerem e esperam para este fim de semana.
Quando um não quer, dois não brigam. Nesse caso, nenhum dos dois acha que é hora de brigar. Pelo contrário. Obama pediu garantias a quem de direito -a Lula, por exemplo- de que não ficaria isolado, contra a parede. Raúl Castro concordou, por achar que a melhor estratégia não é o confronto, é a abertura. Mas se espera que Obama dê alguma resposta às dezenas de discursos que intercederão pelo fim do embargo. Crie perspectivas.
Quem poderia romper essa espécie de pacto prévio seriam os dois de sempre, Hugo Chávez e Evo Morales, que não perdem uma oportunidade para sapecar os EUA. Mas duvida-se de que eles façam isso. Até porque Chávez andou por Havana para assuntar e sabe que, para os Castro, pedir o reatamento é importante, mas encurralar Obama não vai ajudar em nada.
Primeiro presidente negro dos EUA, nascido no Havaí, criado na Indonésia e cheio de boas intenções nesse início de governo, ele não é um bom alvo de pancadaria. Nem por isso, porém, está isento de novos gestos e acenos para finalmente acabar com o embargo, último resquício da Guerra Fria.

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