quarta-feira, março 25, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Só o IBGE resolve

FOLHA DE SÃO PAULO 25/03/09

Em uma semana, o Senado da República já anunciou pelo menos meia dúzia de números para tentar quantificar o inquantificável e o injustificável: o número de diretores pagos pela instituição.

Primeiro, disse que eram 137, o que já configurava um baita escândalo. Depois, para espanto geral, aumentou ainda mais, para 181. Perplexos, os próprios senadores passaram a alardear que cortariam algumas dezenas, restando "só" mais de uma centena. E assim, de número em número, chega-se agora a 38 diretores, explicando que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Ou seja: contabilizando diretor como diretor e diretor como diretor. Não entendeu? Nem eu. Mas vamos em frente: com a promessa de acabar com umas tantas vagas e fechar a conta em 20.

Se nem o Senado sabe, se nem os senadores sabem, se nem o site da Casa sabe, se nem o Google sabe, se nem a imprensa sabe quantos são, só resta um jeito: chamar o IBGE para fazer o recenseamento dos diretores do Senado. O que poderia servir como fio da meada. Depois, o recenseamento dos vice-diretores, dos subdiretores, dos chefes, dos vice-chefes, dos sub-chefes, dos coordenadores e, enfim, de todos os funcionários, discriminando quem tem concurso, quem tem mérito e quem produz dos que não têm nada disso --e que, em geral, são justamente os que mais vantagens e mais salários têm.

Ato contínuo, o IBGE deveria estender o trabalho para a Câmara, que parece mais organizada, e depois para todos os legislativos do país. Já imaginou as cobras e lagartos que podem aparecer? Se no Senado, com tamanho holofote em cima, já é assim, pode-se deduzir que as assembleias e câmara por aí afora não são nada diferentes. Pior, impossível. Mas no mínimo tudo igual.

A coisa, porém, não é só feia assim no Legislativo. Em sua passagem por São Paulo, para participar da sabatina da Folha, na terça, 24, o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, contou coisas do arco-da-velha no sistema judiciário do país. Citou, por exemplo, o do Piauí. Só que a questão ali não é de sobrar gente, mas de faltar tudo.

Quem paga o pato é o cidadão. Aliás, o cidadão mais pobre, que não tem advogado, não tem recurso e, aliás, muito mais comumente do que a gente pensa, nem nome tem. Segundo Gilmar Mendes, há milhões de presos que não têm registro de nascimento nem de coisa nenhuma. Não existem. São fantasmas, mas de carne, osso e prisão.

Então, IBGE, mãos à obra: além dos fantasmas do Congresso, vamos aos fantasmas das prisões e dos rincões.

O país avança, e avança bem, mas ainda há muito o que fazer no Legislativo, no Judiciário e no Executivo. Mas não só neles. No setor privado também. As prisões de hoje, quarta, 25, na construtora Camargo Corrêa comprovam claramente isso. Se for fazer um recenseamento nessa área, a coisa vai longe. Não tem IBGE que dê conta!

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