Folha de São Paulo - 27/02/09
SÃO PAULO - Volto a uma história contada pelo velho sábio que habitava esta Folha. Uma vez, ele perguntou a um governador biônico, seu amigo, porque gostava tanto de ser governador.
Resposta: "Ah, meu caro, você não sabe como é bom passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta da porta" (não havia reeleição naquela época; imagine a delícia agora que o cidadão passa oito anos tendo sempre um "aspone" para cuidar da delicada tarefa de abrir portas).
Na verdade, não são apenas governadores (ou prefeitos ou presidentes) que gozam das benesses de ter casa, comida e roupa lavada enquanto exercem o cargo. Deputados e senadores também, embora em menor escala. É natural, por isso, que políticos em geral tenham uma ideia apenas virtual de como é abrir uma porta, para não mencionar verdadeiras dificuldades.
Essa distância só é quebrada, infelizmente, em caso de tragédia, como a que acaba de ocorrer com David Cameron, líder do Partido Conservador britânico, que, se a eleição fosse hoje, seria o substituto de Gordon Brown como primeiro-ministro, dizem as pesquisas. Cameron perdeu o filho Ivan, de seis anos, vítima de um tipo raro de epilepsia. Humanizou-se em consequência, tanto no trato que lhe dedicou a mídia local como o mundo político.
A questão é saber se a humanização irá adiante ou, como escreve o jornal "The Times", se "seu partido, informado pela experiência do que é depender tão pesadamente do Serviço Nacional de Saúde [público], mudará a Grã-Bretanha?".
Posto de outra forma: os políticos, de direita ou de esquerda, entenderão que a grande maioria da população, no Reino Unido como no Brasil, é obrigada a pôr a mão na maçaneta da saúde pública e que, por isso, ela deveria abrir a porta para a dignidade?
Resposta: "Ah, meu caro, você não sabe como é bom passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta da porta" (não havia reeleição naquela época; imagine a delícia agora que o cidadão passa oito anos tendo sempre um "aspone" para cuidar da delicada tarefa de abrir portas).
Na verdade, não são apenas governadores (ou prefeitos ou presidentes) que gozam das benesses de ter casa, comida e roupa lavada enquanto exercem o cargo. Deputados e senadores também, embora em menor escala. É natural, por isso, que políticos em geral tenham uma ideia apenas virtual de como é abrir uma porta, para não mencionar verdadeiras dificuldades.
Essa distância só é quebrada, infelizmente, em caso de tragédia, como a que acaba de ocorrer com David Cameron, líder do Partido Conservador britânico, que, se a eleição fosse hoje, seria o substituto de Gordon Brown como primeiro-ministro, dizem as pesquisas. Cameron perdeu o filho Ivan, de seis anos, vítima de um tipo raro de epilepsia. Humanizou-se em consequência, tanto no trato que lhe dedicou a mídia local como o mundo político.
A questão é saber se a humanização irá adiante ou, como escreve o jornal "The Times", se "seu partido, informado pela experiência do que é depender tão pesadamente do Serviço Nacional de Saúde [público], mudará a Grã-Bretanha?".
Posto de outra forma: os políticos, de direita ou de esquerda, entenderão que a grande maioria da população, no Reino Unido como no Brasil, é obrigada a pôr a mão na maçaneta da saúde pública e que, por isso, ela deveria abrir a porta para a dignidade?
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