quarta-feira, novembro 05, 2014

Economia brasileira se debilita com déficits gêmeos - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 05/11

O crescente desequilíbrio nas finanças públicas obriga o país a se financiar mais no exterior. Não é por acaso que a balança comercial apresenta fracos resultados


A teoria dos déficits gêmeos não é uma unanimidade entre os economistas, mas em países com o grau de desenvolvimento do Brasil o fenômeno tem se comprovado, na prática. Segundo essa teoria, o desequilíbrio das finanças públicas, dada a magnitude do Estado como agente econômico, provoca um déficit gêmeo nas contas externas.

Coincidência ou não, à medida que o superávit primário nas finanças governamentais foi minguando nos últimos anos, o déficit nas transações correntes (mercadorias e serviços) do balanço de pagamentos se ampliou, ultrapassando recentemente a casa de US$ 80 bilhões, o equivalente a 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). A ligação entre finanças públicas e contas externas se daria pela absorção de poupança doméstica para cobrir o rombo causado pelos gastos governamentais. A insuficiência de poupança interna forçaria a economia a se financiar mais no exterior. O tamanho do déficit nas transações correntes retrataria assim a dependência da economia brasileira à absorção de poupança externa.

Fatores específicos podem ter contribuído para alguns dos resultados negativos mensais da balança comercial. O crescimento da China está desacelerando, o que tem se refletido nos preços de produtos básicos que o Brasil exporta para lá, como o minério de ferro e a soja. A crise na Argentina, nosso principal parceiro comercial no Mercosul, causou uma considerável retração na exportação de produtos manufaturados brasileiros, especialmente automóveis. A longa estiagem que baixou o nível dos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Nordeste fez com que as usinas térmicas operassem ininterruptamente a pleno vapor, aumentando as importações de gás e outros combustíveis. E etc.

Explicações não faltam para os fracos resultados da balança comercial — o pior outubro em 16 anos, com um déficit de US$ 1,1 bilhão. Porém, o denominador comum de todos os problemas que a economia brasileira atualmente enfrenta é mesmo o desequilíbrio das finanças públicas. Dessa maneira, é no plano macroeconômico que o governo precisa agir mais, embora medidas pontuais também sejam necessárias — dependência excessiva do Mercosul, infraestrutura precária etc. O item número um da agenda econômica do futuro mandato da presidente Dilma (se é que se deseja de fato derrubar a inflação e diminuir o grau de dependência na absorção de poupança externa) deveria ser o ajuste fiscal. Sem que as finanças públicas voltem a ficar em ordem, não se conseguirá resolver os demais problemas que hoje afligem a economia do país. Daí a ansiedade com que o mundo dos negócios e os diferentes mercados aguarda a revelação dos nomes que vão compor a nova equipe econômica do governo. Por esses nomes, teremos uma ideia do empenho e da importância que a presidente Dilma dará à busca de soluções de fato para as dificuldades econômicas do país.

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