quinta-feira, agosto 01, 2013

Tempos difíceis - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 01/08

Às vésperas do julgamento dos recursos do mensalão, José Dirceu separou-se de Evanise Santos, com quem mantinha uma relação de oito anos.
Dirceu tirou uma semana de férias com os filhos e já voltou a São Paulo. Evanise está na Espanha.

Retratos da vida
Nem tudo está perdido. O porteiro Antônio Tony de Lima, de 53 anos, entregou terça na 9ª DP (Catete), no Rio, R$ 5 mil.
O dinheiro, que havia sido roubado de duas senhorinhas numa saidinha de banco, caiu da moto de dois ladrões.

Segue...
Antônio foi à delegacia com um amigo, o aluno da Academia de Polícia Luiz Renato Campos.

Somos parceiros
Aloizio Mercadante nega que tenha tramado a derrubada de Guido Mantega: “Eu e o Guido somos amigos e companheiros de 30 anos. Ele sempre teve e tem minha completa solidariedade.”

Como se sabe...
Saiu aqui que Guido Mantega tem dito que não acredita que o colega Mercadante seja “tão irresponsável a ponto de promover um complô para desestabilizar o governo ao, supostamente, defender mudança no comando do Ministério da Fazenda”.

Dia dos Pais
Pesquisa que a CNC divulga hoje mostra que as vendas do varejo para o Dia dos Pais devem subir 4,9% em relação ao ano passado.
Mas a taxa será bem menor que nos últimos anos. Em 2012, o aumento foi de 9,9% em relação ao ano anterior. A data deverá movimentar R$ 3,2 bilhões.

Um dia de ‘Nilo’
José de Abreu, o querido ator, passou o maior perrengue em Nova York, onde está comprando um apartamento.
Sem um tostão no bolso, ele viajou com três cartões de crédito do Itaú, um deles sem limite de gastos.

Só que...
Na hora de sacar US$ 200 para providenciar documentos para o corretor, os cartões foram recusados. O ator não conseguiu também pagar seu jantar em um restaurante chique da cidade.
— Foi uma humilhação. Fiquei um tempão no caixa do restaurante tentando revolver o problema por telefone.
Na volta ao Brasil, o ator vai cancelar os cartões e processar o banco.

Clube do milhão
O filme “O concurso”, com Fábio Porchat, alcançou, ontem, um milhão de espectadores.

Mais Elis
O produtor João Marcello Bôscoli, filho de Elis Regina, foi autorizado a captar, pela Lei Rouanet, R$ 2.834.640 para a exposição itinerante “Redescobrindo Elis”.
O projeto vai passar por cinco cidades.

Cadê o Amarildo?
No protesto na Rocinha contra o sumiço do pedreiro Amarildo Souza, hoje, um grupo reivindicará que o caso seja levado ao Ministério da Justiça.
Aliás, a turma prepara um abaixo-assinado na internet.

Luta contra o crack
O juiz Renato Lima Charnaux Serta, da 8ª Vara de Fazenda Pública do Rio, rejeitou a acusação de improbidade administrativa contra Eduardo Paes e o secretário Rodrigo Bethlem.
Foi motivada pela internação compulsória de usuários de crack.

Diário de Justiça
A 1ª Câmara Cível do Rio condenou o BarraShopping a indenizar um cliente em R$ 25 mil. O rapaz passeava com seu filho no shopping quando caiu em um bueiro destampado.
Ficou lá dentro, só com os braços para fora, aguardando socorro e rodeado por curiosos.

Muay thai
Diálogo entre dois PMs na Cinelândia, antes do início das manifestações de ontem:
— Hoje vai dar ruim — disse. — Se vai. E no estilo Muay thai!

Mata o velho
Elevadores e escadas rolantes de acesso às cadeiras cativas do Maracanã estão desligados. Os donos dos assentos — muitos deles, idosos — são obrigados a subir uns 300 metros de rampas.
Há quem ache que algum malvado quer desestimular a gratuidade.

Histórias de Wilson
No espetáculo “O samba carioca de Wilson Baptista”, que vai até dia 17, no Rio, o ator Rodrigo Alzuguir leva ao palco uma história pouco conhecida. Certa vez, um ladrão invadiu a casa de Wilson, que, brincando, falou ao bandido:
— Tá vendo aquela casa ali? É do Procópio Ferreira. Lá que está a grana.

Hedonistas? - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 01/08

De onde vem a ideia dominante, de que a renúncia ao prazer sempre ganha pontos?


O papa Francisco, quando era o cardeal Jorge Bergoglio, de Buenos Aires, conversava de religião com o amigo rabino Abraham Skorka. Os diálogos estão agora num livro, que, no Brasil, acaba de sair, "Sobre o Céu e a Terra" (editora Paralela).

Os dois religiosos tratam de matérias escabrosas --as quais não são apenas contracepção, células-tronco, divórcio, aborto e casamento gay, mas também as questões que desafiam a fé de qualquer um: por que a presença do mal no mundo? Deus é apenas uma resposta fantasiosa a nosso mal-estar psíquico? A religião foi inventada para servir de ópio dos povos?

Como ambos são decididos a parecerem simpáticos e razoáveis, o texto é agradável e um pouco previsível. Não que eu esperasse grandes viradas teológicas: de qualquer forma, um livro para o grande público não seria o lugar para isso. Mas esperava mais ousadia no pensamento.

Alguém dirá que ousadia não é coisa para papa --citação de Francisco na orelha do próprio livro: "A verdade religiosa não muda, mas se desenvolve e vai crescendo".

Sinto muito, a igreja tem uma história (muitas vezes sangrenta) de mudanças. Só para dar uma ideia, nos 2.000 anos desde que os apóstolos se reuniram em Jerusalém:

-- Faz só 1.700 anos que acreditamos que o Pai e o Filho teriam a mesma natureza;

-- Faz menos de 1.600 que acreditamos na maternidade divina de Maria, e por volta de 1.400 que acreditamos na perpétua virgindade da mesma;

-- Faz apenas um pouco mais de 800 anos que o celibato se tornou obrigatório para o clero, e menos ainda que confissão e comunhão se tornaram obrigatórias uma vez por ano, na Páscoa;

-- Faz por volta de 600 anos que a gente inventou o Purgatório;

-- E é só desde 1870 que o papa é dogmaticamente infalível.

À vista dessa história de reviravoltas, em que cada um pode se tornar herético (o que, hoje, no máximo, vale uma excomunhão sem grande interesse, mas, no passado, acarretou consequências fatais para muitos), ninguém sabe as surpresas que nos reserva a igreja de amanhã.

Quanto a mim, espero há tempos a reabilitação dos cátaros, que são minha seita preferida (exterminada no século 12). Eles tinham a melhor solução teológica ao problema do mal na Terra e da estupidez dos homens: basta pensar que o mundo seja criação do diabo, e não de Deus.

Enfim, entre os muitos assuntos ao redor dos quais papa Francisco e o rabino Skorka concordam, um capturou minha atenção. Francisco diz "nesta civilização consumista, hedonista, narcisista...", e o rabino Skorka, "...em uma concepção hedonista da vida, egocêntrica, ególatra".

Embora o papa e o rabino não desprezem todos os prazeres terrenos (isso significaria desprezar a criação --pecado gravíssimo), ambos parecem convergir com um clichê dos críticos culturais contemporâneos, considerando que "hedonismo" é palavrão: a procura do prazer como bem único ou supremo parece ser o que eles menos gostam na nossa época. No Rio, aliás, Francisco mencionou o prazer entre os "ídolos" que nossa época colocaria no lugar de Deus. Algumas notas.

1) A correlação entre hedonismo e egoísmo é, no mínimo, problemática. Exemplo. Quem é mais egoísta? Alguém que se priva de toucinho na sexta-feira para ganhar o Paraíso? Ou alguém que transa quanto mais puder, sempre achando que o que ele mais gosta é ver sua parceira ou seu parceiro gozar?

2) Uma cultura que, de maneira quase unânime, não para de lamentar seu "hedonismo", só pode ser radicalmente anti-hedonista, ou seja, oposta ao prazer como bem. É fácil constatar que inclusive os que acreditam na existência de uma alma imortal sentem a finitude da vida; agora, é espantoso que, mesmo assim, o prazer continue tendo, para nós, uma conotação moral negativa. E a renúncia ao prazer (seja ela para satisfazer a Deus ou ao médico higienista), uma conotação moral positiva.

3) Nos três grandes monoteísmos, o prazer é facilmente culpado ("não se cansem de pedir perdão", encorajou papa Francisco). Alguém dirá que isso acontece sobretudo no cristianismo porque Deus se manifestou pelo sofrimento e não pelo prazer de seu filho. Essa é uma visão teológica à qual não sei contribuir. Mas a questão cultural correspondente é: o que fez o sucesso de uma religião que se fundou na ideia da paixão necessária do filho de Deus e, por consequência, na ideia de que o sofrimento e a renúncia ao prazer, de alguma forma, ganham pontos?

4) Só para lembrar: não era assim entre os pagãos, nem entre os libertinos dos séculos 16, 17 e 18.

BRAZIL COM Z - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 01/08

Os alunos estrangeiros matriculados na USP são, na maioria, jovens entre 18 e 24 anos (73%) e do sexo masculino (59%), em cursos de graduação, pós e doutorado. Pesquisa da SPTuris que será divulgada hoje mostra que eles vêm principalmente da Europa e da América Latina. Os principais países de origem são França (15%), Colômbia (13%), Peru (10%), Alemanha e Itália (9% cada um).

BRASIL COM Z 2
O estudo, feito em 45 unidades da universidade, revela que os alunos gastam R$ 1.188 por mês, em média. Os cursos mais procurados são nas áreas de ciências humanas (36%) e engenharia (28%). Com o levantamento, a SPTuris pretende trabalhar para incentivar o segmento do turismo de estudos. A USP recebeu 2.320 estrangeiros no ano passado.

CARTEIRADA FASHION
O caso da blogueira de moda que tentou furar fila no Club Yacht, em SP, e virou motivo de piada na internet terminou com pedido de desculpas das duas partes. "Sei que não devo esperar qualquer tipo de privilégio só por ter um blog. Errei e já me arrependi", diz Giovanna Ferrarezi, 20. "Apenas me alterei com a postura hostil da hostess [recepcionista]."

CARTEIRADA 2
Facundo Guerra, sócio da boate, diz que "foi o encontro de dois pequenos poderes: o da hostess e o da pretensiosa blogueira" e "ambas estão erradas". No Facebook, Giovanna escreveu --e depois apagou-- mensagem contando que ficou triste por ver "o quão hostis as pessoas são quando têm algum tipo de poderzinho nas mãos".

O ingresso na sexta, dia da confusão, era R$ 60 para mulher. A blogueira quis "dar uma olhada na festa" antes de pagar. Com o bate-boca, não conseguiu entrar.

IDEIAS
Após São Paulo e Porto Alegre, as conferências Fronteiras do Pensamento chegam a Salvador e Florianópolis. A capital baiana receberá a liberiana Leymah Gbowee, Prêmio Nobel da Paz, em setembro. Enrique Peñalosa, urbanista e ex-prefeito de Bogotá, fará palestra para os catarinenses, em outubro.

BOLÃO
Neymar vai aparecer em painel gigante da Times Square, em Nova York, hoje, numa campanha contra o câncer de mama, parceria da agência VML, da PR Newswire e do Instituto Arte de Viver Bem (IAVB). A ação ressalta a importância da visita regular ao médico e da mamografia na prevenção da doença.

VETERANO
Frejat apresentará no Rock in Rio a música inédita "O Amor É Quente". A composição, em parceria com Maurício Barros e Fausto Fawcett, entra hoje no iTunes.

OBSERVAÇÃO
O ex-ministro Luiz Gushiken está internado na UTI do hospital Nove de Julho, em São Paulo. A família não autoriza divulgação de dados sobre o estado do paciente.

ESPUMA
O primeiro bar fora da Europa da Brewdog, cervejaria artesanal escocesa, será aberto em São Paulo, no bairro de Pinheiros. Os empresários Paulo Bitelman e Gilberto Tarantino se associaram aos criadores da marca, James Watt e Martin Dickie. O investimento é de R$ 1 milhão e a inauguração está prevista para novembro.

FILHO DE PEIXE
Adriane Galisteu criou um perfil no Instagram para o filho Vittorio, que faz 3 anos no domingo. A própria apresentadora posta as fotos e faz os comentários. "Tô aqui na festa do Gabriel com minha mãe", escreveu ela sobre o aniversário do herdeiro de Astrid Fontenelle. O garoto já tem mais de 6.000 seguidores na rede social.

ALINHADO À MISSÃO
Depois de dois EPs, o rapper Emicida lançará no dia 21 de agosto seu primeiro álbum de estúdio, intitulado "O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui".

Em algumas faixas do álbum, produzido por Felipe Vassão, o músico conta com as parcerias de Wilson das Neves, Pitty e Tulipa Ruiz.

Para as fotos que ilustram o encarte, ele voltou a Cachoeira, bairro da zona norte de São Paulo onde cresceu. No ensaio, o rapper usou um look assinado por João Pimenta.

PÉ DE MOÇA
A designer de calçados Paula Ferber recebeu convidados na inauguração de sua loja, anteontem, no shopping Iguatemi. A atriz Laura Neiva, a produtora de eventos Dayse Gasparian, a empresária Adriana Collino e a apresentadora de TV Didi Wagner estiveram lá.

ACABOU EM PIZZA
O promotor de Justiça Roberto Livianu, presidente do Movimento do Ministério Público Democrático, foi homenageado por colegas e autoridades na pizzaria Babbo Giovanni, em Perdizes. O corregedor-geral do Estado, Gustavo Ungaro, participou do jantar.

CURTO-CIRCUITO
O governo de SP, que aumentou em 50% desde 2011 o investimento no Circuito Cultural Paulista, destina R$ 6 milhões neste ano à circulação de espetáculos.

A dançarina Greice Arthuso apresenta hoje o espetáculo "Tronco no Véu", às 20h30, no teatro Sérgio Cardoso. 16 anos.

A Câmara Municipal de SP recebe hoje parlamentares latino-americanos em debate sobre o Legislativo.

O 1º Festival da Música Corinthiana será lançado hoje no parque São Jorge.

Julian Bedel, sócio da perfumaria Fueguia1833, faz palestra na Livraria da Vila do JK Iguatemi, às 18h30.

O Festival Jazz na Fábrica começa hoje, às 21h. Na choperia e no teatro do Sesc Pompeia. 18 anos.

Duas histórias e uma questão fumegante - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

Valor Econômico - 01/08

Em junho passado, pela primeira vez desde 2009, houve aumento da taxa de desemprego em relação ao mesmo mês do ano anterior. Embora o ministro da Fazenda, fiel ao seu estilo "deixa-que-eu-chuto", tenha tentado associar esse fenômeno a uma flutuação sazonal (sem se dar conta que a comparação se referia ao mesmo período de 2012, portanto livre de sazonalidade), a verdade é que o número não foi bom.

O crescimento do emprego no segundo trimestre deste ano atingiu apenas 0,5% na comparação interanual, não só uma taxa baixa, mas também o primeiro registro (desde 2009) de um trimestre em que o número de vagas criadas não acompanha o aumento da população em idade ativa (PIA), apesar do ritmo glacial (0,9%) desta última.

A questão a esta altura é entender as causas e implicações desse fenômeno, para as quais há aparentemente duas narrativas básicas. Uma aponta para o baixo crescimento econômico como o motivo central para o enfraquecimento do mercado de trabalho relativamente ao observado nos trimestres anteriores, quando o desemprego se manteve sempre próximo a 5,5% em termos dessazonalizados.

Se essa hipótese estiver correta, dadas as perspectivas de mais um ano de crescimento medíocre, as consequências seriam negativas: em que pese o baixo crescimento da PIA, a taxa de desemprego começaria a subir, lentamente, é verdade, nos levando no sentido de um mercado de trabalho menos apertado do que nos últimos anos.

Para ser sincero, é possível que essa hipótese esteja correta, mas o mero fato de eu tê-la apresentado antes da hipótese alternativa já indica certo desconforto com essa proposta. E, de fato, tenho dificuldade de comprá-la a valor de face.

O principal motivo dessa dificuldade pode ser ilustrado pelo gráfico. Nele mostro a relação entre o crescimento interanual do emprego e do PIB, este defasado em um trimestre.

Não é difícil perceber uma relação positiva entre estas variáveis, como expressa pela reta presente no gráfico. (Alerto, porém, que a reta foi colocada apenas para propósitos ilustrativos e não deve ser interpretada de forma alguma como uma relação estrutural entre crescimento do produto e do emprego).

É claro que a relação ali exibida não é matematicamente precisa; o que se vê é uma associação positiva entre as taxas de expansão do produto e da ocupação. Períodos de forte crescimento do PIB antecipam aumento vigoroso do emprego e vice-versa. Historicamente, o crescimento do PIB na casa de 2% vem acompanhado de aumento de emprego mais robusto que o observado no segundo trimestre deste ano.

Há, contudo, exceções importantes, como as marcadas no gráfico. De fato, tanto no segundo quanto no quarto trimestres de 2012 o emprego parece ter crescido muito mais do que seria normalmente associado à (baixa) expansão do PIB no período. Por outro lado o crescimento do emprego no segundo trimestre deste ano não foi muito distinto do observado em 2009 quando o PIB registrava taxas negativas na comparação com o ano anterior.

Tais observações podem ser explicadas pela hipótese levantada ainda no ano passado por analistas que tentavam entender como o emprego podia ter um bom desempenho à luz de taxas de crescimento ainda menores do que as observadas atualmente. No caso propôs-se que os altos custos de contratação (inclusive treinamento) e demissão de trabalhadores no contexto de um mercado de trabalho apertado levaram as empresas a "entesourarem" seus empregados.

Em outras palavras, em vez de incorrer nos custos de demissão e nos riscos de não conseguir recontratar trabalhadores devidamente treinados quando a economia se recuperasse, empresas teriam decidido mantê-los, o que terminou produzindo taxas de crescimento do emprego maiores do que as que normalmente acompanhariam a fraca expansão do PIB.

Em contrapartida, mesmo com a (modesta) recuperação da produção no começo do ano, estas empresas não precisaram recontratar trabalhadores, o que explicaria o desempenho aquém do esperado da ocupação no segundo trimestre.

A valer esta história, a fraqueza extrema do emprego seria um fenômeno passageiro. Mesmo o crescimento medíocre esperado para 2013 e 2014 parece, à primeira vista, consistente com expansão do emprego a um ritmo algo superior ao aumento da PIA, levando, portanto, à queda (lenta) da taxa de desemprego a partir de algum momento no segundo semestre de 2013.

Caso isto seja verdade, a tendência do mercado de trabalho seria de aperto adicional, ainda que moderado, aumentando as pressões inflacionárias hoje existentes. O desempenho no segundo semestre será crucial para saber qual das narrativas está correta.

Uma nova forma de monopólio - GUSTAVO ROMANO

FOLHA DE SP - 01/08

Não há como o usuário deixar o Facebook sem sofrer consequências. Ele não tem alternativas. Ou aceita as regras ou cai no ostracismo on-line


Um monopólio não é determinado pela essencialidade do produto monopolizado, mas pela ausência de alternativa viável.

A Microsoft, por exemplo, foi multada pela Comissão Europeia em meio bilhão de euros em 2004 por formação de monopólio não porque seus produtos eram essenciais, mas porque dominavam o mercado.

Tradicionalmente, monopólios surgem por imposição legal, restrição de acesso a matéria-prima, propriedade intelectual, ou processo de fabricação.

O Facebook não é essencial, mas é um novo modelo monopolístico, criado pelo somatório de nossas escolhas individuais.

Se a maior parte da comunicação social on-line de massa ocorre por meio de sua plataforma, não há opção exceto utilizá-la. Como um buraco negro, criada a massa crítica, torna-se impossível escapar.

Possíveis alternativas, como Google+, não são verdadeiras alternativas. Uma plataforma de comunicação só é útil se os interlocutores podem ser atingidos por ela. Daí o Facebook ter assumido condição análoga à de um monopólio. E daí surgirem problemas inerentes.

Primeiro, regras de economia de mercado não funcionam em monopólios. Não há como o usuário deixá-lo sem sofrer consequências simplesmente porque não há alternativas viáveis. O usuário não tem poder de barganha: ou aceita as regras ou cai no ostracismo social on-line.

Ademais, o usuário não é o cliente. O cliente são as empresas de marketing. Usuário e suas informações pessoais são o "produto" que o Facebook oferece aos anunciantes. É na capacidade de vender informação do usuário que reside o valor de mercado da empresa, o que gera conflito de interesses.

Terceiro, o grupo de jovens que controla a empresa é também legislador e juiz de padrões morais impostos ao usuário. Em 2011, a empresa excluiu imagens da pintura "Origem do Mundo", de Gustave Courbet, porque mostrava uma vagina. Neste ano, excluiu fotos do Jamurikumalu no Alto Xingu porque havia índias nuas. E nos últimos dias, excluiu fotos de manifestantes nus.

Não se trata aqui se tais jovens têm problemas em lidar com a própria sexualidade, mas que impõem seus padrões de moralidade a milhões de usuários. Proíbe-os de ler ou ver aquilo que não ofende o usuário, mas ofende quem comanda a empresa. Vale lembrar: quem viu tais fotos optou por seguir determinada página ou usuário.

Por fim, suas decisões não passam por um processo transparente. O usuário não tem chance de explicar-se, defender-se ou recorrer. Nem sequer sabe como ou por quem a decisão é tomada. Tampouco sabe que está sendo julgado. É apenas informado de sua condenação.

É como se, certo dia, você acordasse e descobrisse que alguém (sabe-se lá quem) decidiu que você não pode mais telefonar ou receber cartas.

Fosse um país, o Facebook não seria apenas o terceiro maior do planeta: sua conduta seria equiparável à da Coreia do Norte.

Não fosse um monopólio, o usuário se socorreria na competição. Mas, sendo-o, cabe ao legislador controlar e limitar a conduta da empresa em relação a seus usuários.

Compensações - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 01/08

Perguntaram ao escritor sulista americano William Faulkner como ele explicava o florescimento literário havido no Sul dos Estados Unidos depois da Guerra Civil e sua resposta foi sucinta: “Nós perdemos.” A humilhação da derrota e o fim de um tipo de vida explicavam a literatura, que misturava nostalgia, decadência, romantismo sombrio e um certo preciosismo “faisandé”. O estilo perdurou até autores modernos como Truman Capote, Carson McCullers, Flannery O´Connor, Tennesse Williams e o próprio Faulkner, e ganhou um nome: “gótico sulista”. O Sul perdeu a guerra, mas criou um gênero.

Quando Homero disse (se é que disse mesmo, nada que se sabe de Homero é cem por cento certo, nem a sua existência) que as guerras aconteciam para serem cantadas pelos poetas, não queria dizer que a arte compensava tudo. Ou queria? Contam que um grupo de oficiais nazistas foi visitar o atelier do Picasso durante a ocupação de Paris e, vendo uma reprodução do seu quadro “Guernica”, a dramática recriação da destruição daquela pequena cidade pelos alemães na Guerra Civil espanhola, um deles comentou: “Ah, foi você que fez isso, não foi?” Ao que Picasso teria respondido: “Não, foram VOCÊS que fizeram isso.” Por um tortuoso raciocínio homérico se poderia concluir que os alemães foram coautores da pintura. Pelo mesmo raciocínio, louve-se a perseguição fascista na Europa pelo exílio de tantas mentes superiores e tanto talento na América, louve-se a escravatura pela nossa rica cultura negra e louve-se as agruras do nosso agreste pelos bons escritores e artistas nordestinos.

Tudo isto foi sintetizado naquela celebre fala que deram para o Orson Welles (há quem diga que a fala foi escrita pelo próprio Welles) no filme “O terceiro homem”, adaptado de um romance do Graham Greene. Para justificar seu mau caráter, Welles compara a conturbada história da Itália antes da unificação com a milenar placidez da Suíça. Enquanto a Itália, junto com conspiradores, corruptos e canalhas tinha produzido alguns dos maiores gênio da humanidade, a bem comportada Suíça só produzira o relógio cuco.

Mas a ideia de que arte compensa qualquer barbaridade é perigosa. Melhor dizer que os eventuais benefícios de crimes históricos não os absolvem. São efeitos acidentais, como certos queijos que descendem do leite estragado. E você, prefere a paz que só produz o relógio cuco ou a confusão que produz dois, três, muitos Leonardo da Vinci?

Ueba! Dilma tá um PACderme! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 01/08

O Alckmin, num ataque de humildade, só vai andar de metrô superfaturado. E pagar pedágio pra todo mundo!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Volta, papa Francisco: "Maradona chuta fotógrafo como se estivesse batendo falta". Eu acho que o papa tem que dar uma volta pela Argentina.

E o novo partido político: Partido dos Humildes do Brasil, o PHB! O H de humilde pode trocar por H de hipócrita! Pra dar credibilidade na legenda. Presidente do PHB: Cabral. Vice-presidente: Alckmin! Os neo humildes! Rarará!

E a manchete do Piauí Herald: "Agora humilde, Cabral vai trabalhar de van". E vai se mudar pruma quitinete em Vila Mussum, Mesquita. E convidar os manifestantes da porta da casa dele pra um churrasco na laje.

E a manchete do Sensacionalista: "Cabral vai fazer voto de pobreza num mosteiro e trocar todos os carros importados por um da Fiat". E os helicópteros por uma asa delta! Rarará! E a charge do S. Salvador com a professora na sala de aula: "Joãozinho, o que o Cabral descobriu?". "A HUMILDADE!". Rarará! E um leitor mineiro gritou: Aqui em BH não, o Marcio Lacerda continua arrogante!".

E uma leitora: "Pede pro papa vir pra Roraima, o governador não entendeu a mensagem!".

E o cúmulo da humildade: "Eu me orgulho em ser humilde!". Rarará!

E ontem foi Dia do Orgasmo! Uma amiga comemorou o Dia do Orgasmo tendo orgasmos múltiplos com eco. Pro prédio inteiro ouvir!

E o orgasmo da desinformada: "Ai, meu Deus! O que é iiiiiisso! O que é iiisssso?!"

E o orgasmo da mulher casada há dez anos: "Xiiii, a empregada esqueceu de limpar o lustre". Rarará!

E duas notícias lindas: "Governo libera R$ 2 bi para conter motim de aliados no Congresso". E mais essa: "Reportagem flagra médicos que batem ponto sem trabalhar em hospital público estadual".

E o Alckmin, num ataque de humildade, só vai andar de metrô superfaturado. E pagar pedágio pra todo mundo. "A primeira rodada de pedágio é minha". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E a Dilma? A Dilma tá tão gorduchinha que tá parecendo um PACderme! Rarará! O PAC perdeu o Pic e fez Poc, diz o professor da PUC.

PAC é o barulho quando o meu saco estoura. PAC! É o saco do brasileiro estourando. Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Roberto Jefferson - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 01/08

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE) conversaram com o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson, sobre as eleições de 2014. Ouviram dele que seu partido tende a apoiar a presidente Dilma. As conversas ocorreram a pedido dos PTBs locais. Mas com José Serra não teve papo. O partido diz que ele não cumpriu os acordos de 2010.

As voltas que a política dá
O Rio tem garantido grandes votações ao PT nos pleitos presidenciais. Isso, segundo assessores do governo, tem como alicerce a aliança com o governador Sérgio Cabral. Essa ligação está na memória do eleitor. Por isso, dizem, à presidente Dilma interessa a recuperação de Cabral. O candidato do PT ao governo, Lindbergh Farias, quer ver Cabral na lona. A convicção no governo Dilma é que, na atual situação, Cabral puxa Dilma para baixo. Enquanto isso, o candidato do PSDB, Aécio Neves, que andou flertando com Cabral antes dos protestos deflagrados em junho, quer distância do governador do PMDB.

“A palavra de ordem do governo deve ser: diálogo, diálogo, diálogo. No dissenso se constrói o consenso” 

José Guimarães 
Líder do PT na Câmara dos Deputados (CE) 

Fora da linha
A despeito das pressões de uma ala do PMDB, Emília Ribeiro não será reconduzida à diretoria da Anatel. Ela deixou a agência em novembro, no final de seu mandato, e ainda não foi substituída. O governo já tem nomes para a vaga.

Marcando em cima
Ao instalar ontem grupo de trabalho para acompanhar a implementação do Código Florestal, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) declarou que “não haverá anistia para os desmatadores”. O grupo reúne também as pastas do Trabalho e Desenvolvimento Agrário, ambientalistas e setores do agronegócio. Estavam presentes: CNI, CNA, Fetraf, Contag e OCB.

Quem não chora não mama
A maioria do PMDB não quer romper com o governo. A cúpula constatou, em pesquisa interna, que só 15% dos deputados não querem apoiar Dilma em 2014. Os outros 85% querem manter a aliança e mais espaço no governo.

Resistência dentro de casa
A tentativa de criar o MD dividiu o PPS. O acordo previa entregar para o PMN o comando do MD em dez estados, entre os quais Rio e Pernambuco. As novas direções ficariam congeladas até 2018, período no qual estariam suspensas conferências e congressos. Irritados, vários integrantes do PPS ameaçaram sair, boicotando a fusão articulada por seu presidente, deputado Roberto Freire (SP).

Realismo socialista
O diretor de Futebol do Ministério do Esporte, Ricardo Gomide, a convite do governador Eduardo Campos, esteve com um pé no PSB. Para segurá-lo, a direção de seu partido interviu no Paraná e o escalou para presidir o PCdoB local.

Vergonha nacional
No lançamento do Fórum Mundial dos Direitos Humanos, ontem, a ministra Maria do Rosário disse que o Brasil se envergonha de ainda não ter feito justiça no caso do massacre do Carandiru, há 21 anos, quando foram mortos 111 presos.

O Planalto está tentando trocar a derrubada de vetos polêmicos, mas sem impacto financeiro imediato, pela manutenção dos 10% do FGTS.

Na geladeira - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 01/08

A relação de Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante (Educação) esfriou nos últimos dias. Iniciativas do ministro, como antecipar que o governo recuaria da decisão de ampliar em dois anos o curso de medicina, e críticas que teria feito ao colega Guido Mantega (Fazenda) incomodaram a petista. Ministros observam ainda que Mercadante, antes presença assídua nas comitivas presidenciais, ficou de fora das últimas viagens de Dilma, entre elas os dois encontros com o papa no Rio.

Bênção 1 O ex-presidente Lula recebeu Alexandre Padilha terça-feira em São Paulo e deu aval para que o ministro da Saúde mantenha o projeto de sua candidatura ao governo paulista, apesar dos contratempos com a implantação do Mais Médicos.

Bêncão 2 Lula repetiu que Padilha deve ser o candidato do PT no Estado e que deveria negociar com a presidente a data de saída do governo para a pré-campanha. A aliados, Padilha tem negado que pretenda disputar.

Decor Gleisi Hoffmann (Casa Civil) ganhou uma suíte em sua homenagem na Casa Cor do Paraná, tradicional mostra de decoração. A suíte "Gleisi" tem as cores amarelo e azul, e deve receber a visita da ministra no sábado.

Sem vacina De um auxiliar de Fernando Haddad (PT) sobre a gripe que acomete Dilma há uma semana: "É a gripe PMDB: vai demorar 20 anos para se livrar dela".

Fim de férias A presidente recebe na segunda-feira os líderes da base aliada no Congresso para discutir a agenda legislativa do segundo semestre. Até lá, a presidente quer ter em mãos o mapa de emendas empenhadas.

Na área Do suplente de deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) sobre a articulação para levá-lo de volta à Câmara: "Eu sempre estive em Brasília à disposição do PMDB. Trabalho com a missão de unir, nunca dividir".

Laços... Um entendimento do Conselho Nacional de Justiça sobre nepotismo, que está na pauta para o segundo semestre, pode atingir a secretária-geral do STF, Flávia Beatriz da Silva.

... de família Nomeada por Joaquim Barbosa para o cargo, ela é casada com um assessor do gabinete do ministro Ricardo Lewandowski.

Onde pega Voto de um conselheiro diz que a prática de nepotismo é reconhecida mesmo na ausência de subordinação hierárquica entre o servidor comissionado e o efetivo designado para o exercício de cargo de direção''.

Em cima A corregedoria-geral do governo de São Paulo vai ouvir hoje os depoimentos de diretores e funcionários citados nas denúncias de corrupção em licitações de metrô e trem do Estado. A administração de Geraldo Alckmin (PSDB) quer passar a imagem de que está colaborando com as investigações para punir eventuais desvios.

Mineirinho O governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), nega que o pacote de corte de gastos e cargos que anunciou ontem seja um contraponto à decisão de Dilma de não reduzir ministérios. "Existe na sociedade um sentimento, que não é de agora, de que a máquina estatal é pesada'', afirma.

Customizado O presidenciável Eduardo Campos gravou mensagens específicas para o eleitorado de cada Estado, que serão exibidas nas inserções regionais de TV do PSB. As de São Paulo vão ao ar a partir do dia 14.

Visita à Folha Ana Maria Machado, presidente da ABL (Academia Brasileira de Letras), visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebida em almoço.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Se o PAC de São Paulo empacar como o PAC nacional, Dilma vai precisar de fone de ouvido se não quiser ouvir vaias do povo."
DO DEPUTADO VANDERLEI MACRIS (PSDB-SP), sobre o protesto no aeroporto de Congonhas na chegada de Dilma a São Paulo para anunciar investimentos.

contraponto


No couro
Convidado para a Comissão de Infraestrutura do Senado, em junho, o diretor do DNIT, Jorge Fraxe, tentava explicar os entraves que o órgão enfrenta para cumprir planos ambientais previstos na construção de rodovias.

--Eu tenho que comprar 24 touros, 240 vacas, dois mil pintos, dar cursos de doce caseiro... Pelo amor de Deus!

Diante dos risos dos senadores, Fraxe prosseguiu:

-- Eu tenho que executar R$ 15 bilhões em obras, mas eu tenho que comprar 24 touros... E ai de mim se chegar um touro gay lá! Tem que ser touro bom, touro que vai dar conta das vacas -- brincou o diretor do DNIT.

‘La politica è troppo sporcata’ - ROBERTO MACEDO

ESTADÃO - 01/08

Ao visitar o Brasil, o papa Francisco falou sobre diversos temas. Dado o estado desalentador da política no País, interessei-me particularmente por suas palavras sobre o assunto. Foram polidas, à sua maneira e para não ser descortês com autoridades locais, algumas delas presentes no eventos, mas distantes dos objetivos e caminhos que ele pregava.

Mas Francisco não deixou de dar os seus recados sobre o tema, como no sábado, no Teatro Municipal do Rio, onde estavam alguns políticos. Lia um texto, mas improvisou para acrescentar: “O futuro exige hoje reabilitar a política, uma das formas mais altas de caridade. O sentido ético é um desafio sem precedentes”. E após a apresentação na Via-Crúcis no dia anterior, afirmou: “Jesus se une a tantos jovens que perderam a confiança nas instituições políticas”. Também atacou a corrupção na política, como ao visitar a comunidade de Varginha, na quinta-feira, quando pediu aos jovens que não se desiludissem “com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício”. É o figurino de muitos políticos brasileiros.

Sobre a política encontrei na internet uma recente fala papal mais explícita nas suas críticas, que também alcançaram os cristãos. Está em www.youtube.com/watch?v=-F5MwyYWKvQ. Foi em Roma, para uma plateia principalmente de jovens, no início do mês passado. Na ocasião deixou de lado um discurso de cinco páginas, que chamou de “aborrecidas”, segundo a tradução que consta nas legendas do vídeo. E logo se dispôs a responder a questões da audiência.

Um participante, de grupo ligado a escolas jesuítas, pediu-lhe algumas palavras sobre “(...) como nosso compromisso, nosso trabalho hoje na Itália e no mundo, pode ser jesuítico e evangélico”. A resposta: “Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos nos fazer de Pilatos e lavar as mãos. Temos que nos meter na política, porque a política é uma das formas mais altas de caridade, porque busca o bem comum. Os leigos cristãos devem trabalhar na política”.

Note-se que ele enfatizou a política como a busca do bem comum, o que repetiu aqui, na comunidade de Varginha, conforme assinalei acima. E não ficou apenas na crítica da política na sua prática, e de maneira mais forte, como mostrarei mais adiante. Recomendou que os cristãos participem dela dentro dessa visão centrada no bem comum.

Voltando à fala em Roma, veio a frase que intitula este artigo, traduzida na legenda como “a política está muito suja”. E continuou: “Mas, eu pergunto, está suja por quê? Por que os cristãos não se meteram nela com espírito evangélico? É a pergunta que eu faço. É fácil dizer que a culpa é dos outros. Mas eu, o que faço? Isto é um dever. Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão”.

Não domino o italiano. Mas ao ouvir “sporcata” pareceu-me que o termo tinha um quê de porcaria e consultei um dicionário italiano-português. Em face do que encontrei, parece-me que a tradução da legenda usou a versão mais suave do termo original. No dicionário consta “porcata”, um substantivo significando sacanagem, patifaria, safadeza, porcaria, porcalhada, obscenidade, bandalheira, coisa mal feita, droga. Há também o adjetivo “sporco”, que significa sujo, imundo, porco, porcalhão, imoral, obsceno e outros termos na mesma linha.

Uma tradução mais adequada ao Brasil seria imunda ou emporcalhada, ou outros termos mais contundentes, ou mesmo todos os citados. Sujo é pouco para o que se vê na política, e não só aqui, no Brasil. Sendo argentino e conhecedor da Itália, ele sabe o que falava.

Na Itália, aliás, na sexta-feira vi pela internet que foram presas aproximadamente cem pessoas em ação contra diferentes organizações da Máfia, numa operação que envolveu centenas de policiais. Entre os presos, a maioria na região da Calábria, havia um senador, Piero Aiello, membro do partido conservador do ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi, um “sporco” de destaque.

No contexto brasileiro, o que Francisco disse em Roma sobre a política reforça a crença na infalibilidade papal. Há as honrosas exceções, mas cada vez mais excepcionais. E vale também sua observação quanto à omissão dos cristãos, e que não é apenas deles. É dos cidadãos em geral.

Recentemente o País acordou dessa omissão e vieram as manifestações de junho, quando a reivindicação de menores ou nulas tarifas de ônibus levou a protestos de caráter político mais amplo, como contra a corrupção e a má gestão de recursos e serviços públicos em geral. Surpresos, políticos reagiram defensivamente, reduzindo essas tarifas e prometendo responder à voz das ruas. Mas a “porcata” também se evidenciou, como na cúpula do Congresso, com o mau exemplo de viagens dos presidentes de suas duas Casas em aviões públicos postos à disposição de interesses privados. E num jantar oferecido pelo presidente da Câmara, por conta da Casa, para companheiros de partido, a R$ 350 por cabeça.

Não sei se por causa das férias escolares, ou qual outro motivo, as manifestações de rua com conteúdo político refluíram bastante em julho, em número e densidade. Na sexta-feira em São Paulo, na Avenida Paulista, o destaque ficou para os vândalos. É preciso que sejam retomadas, e também reforçada a prevenção e a atuação contra o vandalismo. Ontem ele se repetiu em nova manifestação, mas desta vez a polícia foi mais atuante.

Sou economista e tendo a enfatizar questões econômicas, Mas os nós que prendem o Brasil ao atraso estão mais na política do que na economia. Vejo a expressão “política econômica” nesta ordem: a política em primeiro lugar, mas no Brasil ela prejudica muito a economia, pois é muito, muitíssimo “sporcata”.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 01/08

OIL STATES TERÁ FÁBRICA NA ZONA OESTE DO RIO

Americana de equipamentos submarinos para produção de óleo e gás investe R$ 70 milhões em unidade em Santa Cruz

A americana Oil States, de soluções para o setor de óleo e gás, vai instalar fábrica em Santa Cruz, Zona Oeste. Investimento de R$ 70 milhões, ocupará área de 126 mil metros quadrados no Distrito Industrial da Codin. A unidade terá como foco equipamentos para a produção offshore de petróleo e gás. O projeto dá impulso à política da Secretaria estadual de Desenvolvimento (Sedeis) de incentivo ao setor de subsea. A meta é atrair companhias com grande conteúdo tecnológico e inovação, explica Marcelo Ver-tis, subsecretário de Energia, Logística e Desenvolvimento Industrial. “Com o pré-sal, haverá cada vez mais exploração em águas profundas. Isso pede novas tecnologias para garantir produção e competitividade”, diz ele. A unidade da Oil States deverá gerar dois mil empregos, entre diretos e indiretos. O início das operações está previsto para 2016. A Sedeis fechou convênio com a Onip, que fará estudo sobre novas tecnologias submarinas no exterior. Mês que vem, Ver-tis participa de missão comercial à Escócia. Visita a SPE Offshore, feira do setor, e companhias com potencial para se instalarem no Rio.

Ônibus

A MAN Latin America, fabricante de ônibus Volkswagen  entregou 116 unidades de lote total de 576 chassis à Expresso São José, no Distrito Federal. A viação vai investir R$ 209,8 milhões em melhorias de março a dezembro deste ano. Fará aporte em frota, garagem e sistema de vigilância.
Franquias

A 7ª Rio Franchising

Business deve gerar R$ 180 milhões em negócios, de 26 a 28 de setembro, no Riocentro. É alta de 18% sobre a edição de 2012. A Fagga e a ABF-Rio realizam. Em 2012, o Brasil ocupou o 3º lugar no ranking mundial do setor, com faturamento de R$103 bilhões.

Capitalização

A Brasilcap distribuiu R$ 8,5 milhões em prêmios em junho. Manteve patamar do mesmo mês de 2012. Minas Gerais foi líder do ranking entre os estados, com R$ 1,4 milhão. O acumulado nos primeiros seis meses de 2013 ficou em R$ 65 milhões, aumento de 10% sobre igual período do ano passado.

Internações

As 29 afiliadas da FenaSaúde registraram 1,9 milhão de internações em 2012. É 22,8% a mais que 2011. Destas, 879 mil foram para cirurgias, alta de 32,1% em relação ao ano anterior. As despesas somaram R$ 15,8 bilhões. Os dados constam no 4º Boletim de Indicadores Assistenciais da federação, que será divulgado este mês.

Gás natural

A Coppe/UFRJ inaugura amanhã o Centro de Excelência em Gás Natural. Aporte de R$ 30 milhões da Petrobras, ocupará área de 2.200 metros quadrados no Parque Tecnológico.

Reconhecimento

Montreal, de TI, e PUC-Rio fecharam acordo de R$1 milhão para nova etapa de projeto de tecnologia para reconhecimento facial. A identificação poderá ser feita por imagens capturadas em vídeo. O aporte total será de R$ 5 milhões até 2015. Finep e Faperj apoiam.

Petróleo

A PUC-Rio também selou parceria com a Oracle, de tecnologia. Vão criar um centro de competência para desenvolvimento de soluções para o setor de petróleo e gás. Ficará na universidade.

Livre Mercado

A Dilady, de lingerie, lança, 2ª, a marca Banho de Mar, de moda praia. Produzirá 200 mil peças.

A Zipper Zipperaposta em novo modelo de e-commerce. A cliente reserva pela web, mas prova as peças nas lojas antes de comprar. Prevê vender 50% mais.

A Q Sabor, de alimentos integrais, está no site Levemcasa. Aporte de R$ 40 mil. Quervender20% mais.

Polika Teixeira, da DM9Rio, foi selecionada pela 1ª edição do Women to Watch no Brasil. A Advertising Age criou. “Meio & Mensagem” realiza.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 01/08

SP quer prazo maior para debate do novo marco regulatório da mineração
O secretário estadual de Energia José Aníbal enviou uma carta à ministra Gleisi Hoffman (Casa Civil) para pedir a retirada do regime de urgência do projeto de lei referente ao novo marco regulatório da mineração.

Para o secretário paulista, seriam necessários mais dois meses para que a proposta do governo federal pudesse ser melhor debatida "e não ter conflito desnecessário", diz.

"Sintomaticamente, somam-se até o momento mais de 370 emendas ao pleito, o que demonstra a imensa complexidade do tema."

Uma das principais novidades da proposta é a exigência de licitação para áreas de mineração com o objetivo de estimular a concorrência.

São Paulo discorda dessa posição, segundo Aníbal, que já se reuniu com a ministra.

"Não deveria haver licitação para os minerais que temos, areia, brita e argila. Bastaria uma solicitação ao departamento. São pequenas e médias empresas."

Outra mudança é a fixação de 40 anos para pesquisa e exploração de lavras. "No nosso caso, limitaram a dez anos, e acreditamos que devesse haver equivalência."

O governo propõe tributação de 0,5% a 5% do faturamento bruto. Em SP o imposto é de 2% do faturamento líquido para areia e brita.

"Não temos interesse nessa contribuição porque incide em produtos importantes para a construção."

O Rio também quer prazo maior de exploração. "Dez anos é pouco para o investimento necessário", diz Flávio Erthal, do Departamento de Recursos Minerais.

Em Minas, o Estado quer a liberação de outorgas enquanto o marco é debatido.

hotelaria
À MODA ITALIANA
A Lungarno Collection, rede de hotéis criada pela grife italiana de moda de luxo Salvatore Ferragamo, vai abrir mais um hotel na cidade de Florença.

O Portrait Firenze terá 36 suítes bem espaçosas e com decoração inspirada na Itália dos anos 50, nos moldes da unidade de Roma.

"O novo hotel deverá ser aberto em abril do ano que vem, afirma o italiano Valeriano Antonioli, CEO da rede de hotéis-butique da família Ferragamo.

"Como as outras unidades em Florença, o Portrait também estará localizado à beira do rio Arno", acrescenta.

"O número de brasileiros em nossos hotéis vem crescendo e com mais esta opção esperamos recebê-los ainda mais", afirma o executivo.

6
hotéis, além de quatro iates e uma loja de artigos para casa, formam a Lungarno Collection

210
são os funcionários da empresa

1995
foi o ano de fundação da empresa, que foi relançada em 2011 com o nome atual

PARCERIA COM COPPOLA
A rede hoteleira Bourbon, do Paraná, passou a ser sócia do cineasta Francis Ford Coppola no hotel Jardin Escondido, em Buenos Aires.

Com apenas sete quartos, o hotel-butique será o primeiro da companhia a re- ceber a bandeira Bourbon Exclusive.

"Temos outros projetos [que deverão ter a marca] em estudos no Brasil e no cone sul", diz Alceu Vezozzo Filho, sócio da empresa.

A unidade argentina será a segunda da companhia no exterior --a primeira fica no Paraguai, em Assunção.

O Jardin Escondido é um dos cinco pequenos hotéis de propriedade do cineasta americano. Os outros ficam na Itália, em Belize e na Guatemala.

O imóvel esteve fechado no último mês para reformulação e será reaberto hoje. Vezozzo Filho não divulga quanto foi investido na reforma, nem dá detalhes da sociedade por questões confidenciais de contrato.

R$ 320 milhões
foi o faturamento da rede em 2012

14
é o número de hotéis com a bandeira Bourbon, sendo dois fora do Brasil (um em Assunção, no Paraguai, e outro em Buenos Aires, na Argentina)

2.000
é o total de funcionários da empresa

R$ 600 milhões
serão investidos em dez novos hotéis até 2015

Compra logística
O Grupo Sequóia, que reúne empresas que atuam no setor logístico, fechou ontem uma nova aquisição.

A holding confirmou o negócio, mas não divulgou detalhes da transação.

A companhia, que tem aporte do banco BR Partners, já havia comprado a Linx Fast Fashion em junho do ano passado.

A empresa atua no segmento de varejo especializado em moda (vestuários, calçados e acessórios).

Demanda por químicos cresce, mas produção avança menos
A demanda por produtos químicos no país cresceu 8,8%, mas a produção do setor avançou apenas 1,81% no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2012.

O levantamento preliminar será divulgado hoje pela Abiquim (associação do setor).

O segmento sofre com a concorrência elevada de importados, diz Fátima Ferreira, diretora da entidade.

"Temos matérias-primas que não são competitivas com o que vem de fora. Também há problemas de logística e excesso de químicos no mercado internacional por causa da crise global."

No país, a venda de produtos de uso industrial cresceu 2,58%, impulsionada pelo corte de PIS/Cofins dos insumos usados na petroquímica.

"A desvalorização do real frente ao dólar e ao euro também deve conter o volume do importado e a sede pelos produtos excedentes no exterior", afirma Ferreira.

Folgando na sexta - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 01/08

Fazenda e Planejamento ficaram semanas discutindo o corte orçamentário. Quando o anunciaram, verifica-se uma coisa frouxa, sem combinação com o resto do governo, sem projetos



A Marinha chegou a comunicar a seus funcionários que não precisariam mais trabalhar às sextas-feiras. Culpa do superávit primário, explicava o comando em nota distribuída internamente na última segunda. A Esquadra, digamos assim, havia sido atingida pelo corte de gastos necessário para atingir a meta de economia do setor público, o tal superávit primário.

Nos Estados Unidos, os governos — federal, estaduais e municipais — também fecham repartições e mandam funcionários para casa nesses momentos de aperto. Faz sentido: gasta-se menos com luz, água, telefone, ar-condicionado, cafezinho, bandejão, essas coisas. Só que lá nos EUA funcionário em casa não recebe — e no Brasil é proibido cortar salário de servidor público. Logo, a economia seria menor. E a sexta-feira seria mesmo uma bela folga para os funcionários burocráticos e administrativos da Marinha. Fim de semana de três dias, remunerados!

Mas, para azar desses servidores, que já planejavam a folga, a coisa pegou mal. A Marinha distribuiu o comunicado, em e-mail interno, na segunda. Na terça, o documento caiu nas mãos da jornalista Denise Peyró, da CBN, que colocou a matéria no ar. Poucas horas depois, a Marinha distribuía nota à imprensa dizendo que chegara a cogitar de fechar às sextas, mas que desistira da ideia e estudava outras maneiras de economizar.

Ficou evidente a bronca não apenas da Marinha, mas também das outras forças, Exército e Aeronáutica. Essa área, a Defesa, sofreu os maiores cortes, e não é a primeira vez que isso acontece. Em outras tesouradas, outros governos cortaram mais verbas das forças. Ninguém nunca diz claramente, mas todo mundo sabe o pensamento que está por trás disso: o país não está em guerra, sequer tem inimigos...

Não apenas por isso, o fato é que a Defesa brasileira foi ficando para trás. Equipamentos atrasados, quartéis reduzindo expediente para não precisar dar almoço aos soldados, redução de efetivos e por aí foi. Pode parecer estranho, mas faz parte desse processo de deterioração o uso dos jatinhos da FAB por autoridades políticas.

Militares, reservadamente, criticam o sistema. Que a FAB cuide do avião presidencial, tudo bem, mas transformá-la em serviço de aluguel de jatinhos para políticos? — tal é a queixa.

Mas, sabem o que mais? A triste realidade é que oficiais da FAB têm nesse sistema uma oportunidade de acumular horas de voo, sempre limitadas por questões orçamentárias. Avião no chão, navio no porto e tanque no quartel gastam bem menos, não é verdade?

Todo esse episódio revela o atraso não apenas da Defesa, mas do Estado brasileiro. E a absoluta falta de um projeto, sequer a disposição, de reforma. Aqui, os próprios militares têm parcela da responsabilidade, no seu setor.

Há tempos especialistas nacionais e estrangeiros notam que nossas Forças Armadas precisam ter menos gente, menos quartéis (inclusive no Rio), menos repartições, menos soldados e oficiais. E mais equipamentos e muito mais tecnologia. Resumindo: uma Força menor, bem armada, com uma capacidade e movimentação adequada ao tamanho do país e, especialmente, de nossas fronteiras. Mais uma mudança de orientação para que a Força Armada, ao controlar de fato a fronteira e o mar territorial, seja parte essencial no combate ao tráfico de drogas.

Mas não se nota uma pressão da corporação por essas reformas. O pessoal parece acomodado e fica ali tocando a vida. Há, no momento, um programa de compra de armamentos, mas atrasado e de conclusão duvidosa. Há quanto tempo se fala da compra dos tais caças para a Aeronáutica?

Assim para o Estado, para o serviço público. O episódio da Marinha mostrou como foi tudo na base da improvisação. A Fazenda e o Planejamento ficaram semanas discutindo o corte orçamentário. Quando o anunciaram, verifica-se uma coisa frouxa, sem combinação com o resto do governo, sem projetos.

Se for mesmo para cortar, o que é duvidoso, vão ter que improvisar como a Marinha tentou.

Tem muita gente reclamando do serviço público em geral. A reação dos governos tem sido a pior possível. No caso dos médicos, por exemplo, o governo Dilma já está mudando a proposta tão contestada. Parece coisa tão improvisada como a ideia de fechar repartição na sexta-feira.

Obra anunciada

E, por falar nisso, não percam a série do “Valor Econômico”, do repórter André Borges, sobre a Ferrovia de Integração Leste-Oeste, iniciada ontem. Em 2010, Lula prometeu inaugurá-la em 30 de julho de 2013, anteontem. Pois a ferrovia não tem sequer um trilho instalado. A Valec, estatal que toca (?) a obra, não consegue comprar os trilhos.

Continua devagar - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 01/08

A economia tem dessas complexidades. Notícia potencialmente boa pode encerrar certas ambiguidades que o bom pode ter um lado inescapavelmente ruim. O contrário também pode ser verdadeiro.

A divulgação do razoável crescimento do PIB da maior economia do mundo é exemplo disso. Ontem, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos anunciou um avanço do PIB em bases anualizadas de 1,7%, bem maior do que esperavam os analistas (coisa aí de 1%).

Mas, para início de avaliação, trata-se de um crescimento não tão bom assim, porque os cálculos tiveram de reduzir de 1,8% para 1,1% o aumento do PIB do trimestre anterior. Isso significa que o piso de cálculo para as contas nacionais ficou rebaixado e o tanto que aparece a mais depois foi tirado do que veio antes.

Em todo o caso, reforça-se a percepção de que a atividade econômica nos Estados Unidos está mais forte agora do que estava no início do ano, situação que, espera-se, tende a continuar. Além disso, o bom avanço do consumo, o ritmo dos investimentos e, sobretudo, a excelente recuperação do mercado imobiliário ajudam a apostar na melhora.

Mas a ambiguidade acima mencionada tem a ver com outro problema. A partir do momento em que se confirmasse uma sólida recuperação dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central) teria de começar a desmontar a enorme operação de incentivos monetários (emissão de moeda para compra de títulos) que há alguns anos deixou os mercados inundados de dinheiro.

Como já comentado aqui outras vezes, a operação de desmonte é temida porque tende a provocar revoada de dólares de volta para os Estados Unidos. O risco é de que os títulos (e ações) dos demais países, especialmente dos emergentes, fiquem órfãos nos mercados. Essa foi a razão pela qual o anúncio do novo PIB ontem provocou forte repique nas cotações do dólar no Brasil, o que levou o Banco Central a fazer três leilões de moeda estrangeira para entrega futura.

Ainda ontem, foi dia de Fomc (o Copom dos Estados Unidos), ocasião em que o Fed, presidido por Ben Bernanke, poderia dar melhores indicações do que pretende fazer, supostamente, a partir de setembro. Mas o comunicado, mais uma vez, não deu indicações claras de quando a operação começará nem em que proporção. Ao contrário, o reconhecimento de que o crescimento da economia havia sido modesto no primeiro trimestre sugeriu que o tal desmonte monetário pode não estar tão perto.

Uma das razões para essas reservas é de que o Fed olha mais para a situação do mercado de trabalho do que para os indicadores da atividade econômica. Sobre isso, lamentou o nível de desemprego (de 7,6%) ainda elevado.

Também não há sinal de que o enorme despejo de dólares, de cerca de US$ 3,4 trilhões até agora, esteja provocando inflação. Ao contrário, o Fed menciona os riscos de que se mantenha persistentemente abaixo da meta. É um fator que poderia conter o início da reversão da expansão de moeda.

E, outra vez, as tais ambiguidades. Imaginemos que os Estados Unidos voltassem a encalhar na paradeira. Nesse caso, o desmonte previsto pelo Fed seria adiado por tempo indeterminado, mas, em contrapartida, o mercado global afundaria ainda mais na recessão.

Está difícil conceder - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 01/08

Fracasso de licitação no metrô paulista piora o clima para as concessões de obras federais, já enroladas


NÃO PEGOU NADA bem o fracasso da licitação de uma linha importante de metrô na cidade de São Paulo, a primeira que seria construída e administrada inteirinha por uma empresa privada. Não pegou bem, claro, para o governo de São Paulo, e pegou de jeito no ânimo do pessoal do governo federal, todo enrolado nas suas próprias privatizações ("concessões").

As empresas interessadas em concessões vêm jogando duro por trás do pano, reclamando de regras confusas, do formato das licitações e, claro, da taxa de lucro ("retorno") que vão ter com seus negócios.

No caso da linha do metrô paulistano, que fez água anteontem, as empresas simplesmente deram no pé; devem obrigar o governo paulista a renegociar os termos do projeto. Acham que a receita está superestimada, que os investimentos estão subestimados e que a taxa de retorno é insuficiente.

Reclamar é da vida, fazer mais dinheiro é o objetivo das empresas e sabe-se lá se, ao menos neste caso, as empresas podem ter razão. O que se trata aqui, porém, é que o tropeção da licitação paulista cria um clima ruim para as concessões federais, as quais poderiam dar ânimo a uma economia letárgica devido também ao pessimismo.

Neste segundo semestre, o governo deveria licitar o trem-bala fantasma entre Rio, São Paulo e Campinas. O governo já teve de adiar o negócio três vezes, pois a coisa não para em pé e as empresas (talvez) interessadas não querem risco nenhum nessa empreitada muito arriscada (além de muito subsídio, que já levaram, as empresas querem sócios oficiais e paraoficiais). Provavelmente, como noticiou esta Folha, o negócio do trem-bala permanece na prancheta, embora devesse ser mergulhado em formol, pelo bem das finanças públicas e da boa alocação de capital.

Em outubro, o governo pretendia iniciar também a concessão de ferrovias úteis, como a que vai de Açailândia (Maranhão) a Barcarena (Pará), um corredor de minérios. Mas tudo está enrolado no modelo de ferrovias, da forma de licitação ao modelo de operação.

O governo resistiu tanto à ideia de privatizar ("conceder") que ficou com pouco tempo para colocar de pé um conjunto de regras decente para um negócio de fato complexo (além de perder tempo e recursos administrativos com a fantasia megalômana do trem-bala). Há o risco de não sair licitação alguma de ferrovia neste ano.

O embate sobre os lucros ("taxa de retorno") atrasou as concessões, inclusive as de rodovias, que, no entanto, devem começar em setembro. Mas ainda não há acerto no caso da concessão de aeroportos (Galeão e Confins).

Pode ser que venham mais atrasos. As empresas, bidu, querem mais retorno. Aproveitam o clima (em tese) ruim para concessionárias (revogação de aumento de tarifas) e a alta da taxa de juros a fim de fazer mais pressão.

Além do mais, o governo não inspira confiança, pois é um gerentão fraquinho. Há parques eólicos (eletricidade gerara por moinhos de vento) sem uso no Nordeste (Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte) porque uma estatal não fez as linhas de transmissão; outra estatal não consegue fazer deitar os trilhos de uma estrada de ferro importante (do Centro-Oeste ao litoral da Bahia), hiperalardeada por Lula em 2010. Vexame.

A conta do setor elétrico ficou salgada - RIBAMAR OLIVEIRA

VALOR ECONÔMICO - 01/08

A decisão do governo de não antecipar mais os recebíveis de Itaipu para pagar as despesas com as mudanças no setor elétrico terá impacto considerável nas contas públicas neste ano. Em julho, o Tesouro foi obrigado a comparecer com R$ 518 milhões, o que fez por meio de emissão de títulos. Em agosto, está previsto um pagamento de R$ 1,2 bilhão. O governo ainda não sabe qual é o montante total dessa conta até o fim do ano. O mercado trabalha com uma estimativa de cerca de R$ 9 bilhões e fonte credenciada da área econômica projeta um valor "um pouco menor do que isso".

Até julho, o Tesouro já havia destinado R$ 2,2 bilhões para pagamentos no setor elétrico (R$ 0,5 bilhão em títulos e R$ 1,7 bilhão do fluxo anual de recebíveis de Itaipu). O que quer dizer que ainda falta uma quantia "relevante" a ser paga até dezembro, que impactará o resultado primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central). Essa despesa primária não foi considerada na programação orçamentária e financeira anunciada na semana passada pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior.

A razão é que o governo não sabe exatamente o valor total desse gasto, que depende de uma série de variáveis. Assim, essa despesa será incorporada à execução orçamentária ao longo deste ano, na medida em que for ocorrendo. É a mesma metodologia adotada para os créditos extraordinários - abertos pela presidente da República por meio de medida provisória e que passam a ser despesas do ano. Mesmo com esse novo gasto, a área econômica está convencida de que será possível atingir a nova meta de superávit primário do governo central ampliada para R$ 73 bilhões na semana passada.

Quando anunciou a renovação antecipada das concessões do setor elétrico e a redução média de 20% da tarifa de energia elétrica, o governo estimava que conseguiria bancar os custos dessas mudanças com a antecipação de recebíveis de Itaipu e os saldos existentes em três fundos do setor - a Reserva Global de Reversão (RGR), a Conta Consumo de Combustível (CCC) e a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).

Em janeiro, quando ocorreu a redução das tarifas de energia, o saldo financeiro dos três fundos era de R$ 19,7 bilhões, sem considerar os créditos da RGR que não são considerados líquidos, pois resultam de empréstimos concedidos a empresas do setor (geralmente companhias estaduais de energia). Desse total, R$ 15,3 bilhões eram da RGR, R$ 2,48 bilhões da CDE e R$ 1,95 bilhão da CCC. Os créditos a receber devido a empréstimos somam cerca de R$ 6 bilhões. O fluxo de recebíveis de Itaipu foi projetado em R$ 3,3 bilhões ao ano. "As receitas e despesas eram compatíveis", explicou uma fonte.

Duas coisas mudaram o cenário. Em primeiro lugar, a Cesp, a Cemig e a Copel não aceitaram os termos da renovação antecipada. Mesmo assim, o governo manteve o desconto da energia, pois considerava que ele era indispensável para reduzir o custo industrial e melhorar a competitividade do produto brasileiro. A energia vendida por essas três empresas às distribuidoras ficou mais cara e, para manter o desconto, os três fundos do setor e o Tesouro tiveram que assumir a diferença de preço.

O segundo problema, e muito mais grave, foi que o regime de chuvas no fim do ano passado e começo de 2013 foi muito ruim, semelhante àquele ocorrido em 2001, que provocou o apagão. Mas, agora, o racionamento foi evitado com a ligação das usinas térmicas. Ocorre que o custo da energia dessas usinas é muito mais alto do que a produzida pelas hidrelétricas. O governo decidiu que também não repassaria o custo das térmicas para o consumidor final e, desta forma, assumiu a despesa.

Ao mesmo tempo, começaram a surgir críticas sobre a decisão do governo de antecipar os recebíveis de Itaipu. Os críticos diziam que a presidente Dilma Rousseff estaria antecipando receitas futuras. O governo considera infundada essa observação, com o argumento de que, na verdade, está pagando despesas futuras. Mesmo assim, Dilma decidiu mudar esse encaminhamento e não fazer mais a antecipação dos recebíveis de Itaipu. Por isso, o Tesouro terá que arcar com uma despesa maior este ano e no próximo.

Até 30 de junho, já foram pagos R$ 10,4 bilhões em indenizações às empresas que aderiram ao pacote de renovação antecipada das concessões, de acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Este ano ainda falta pagar cerca de R$ 2,7 bilhões. Até julho, foram transferidos R$ 1,3 bilhão, a título de subsídios (o termo técnico é "exposição involuntária no mercado de curto prazo"), às distribuidoras que compraram energia mais cara por conta da Cesp, Cemig e Copel não terem aderido à renovação das concessões, segundo dados da Aneel. Até dezembro, projeta-se um gasto adicional inferior a R$ 850 milhões com essa conta.

O custo da ligação das térmicas de janeiro a julho foi de R$ 4,58 bilhões, de acordo com a Aneel. Não há projeção para novos pagamentos às térmicas até dezembro, pois ainda não é possível saber com exatidão o ritmo em que elas serão desligadas. Além disso, como o pagamento é feito com defasagem, há valores a pagar para parte daquelas que já foram desligadas.

Por conta de todos esses pagamentos e de outras despesas do setor, o saldo financeiro (não inclui os créditos a receber) da RGR, em 30 de junho, era de R$ 530 milhões. No mesmo mês, o saldo da CDE era de R$ 387,6 milhões e da CCC, de R$ 239,5 milhões.

É difícil precisar a despesa do Tesouro com o setor elétrico até o fim deste ano. Além de depender do ritmo de desligamento das térmicas, o governo está fazendo um grande esforço de negociação com os Estados para que as companhias estaduais de energia paguem o que devem e seja possível recuperar parte dos créditos da RGR.

Em 2014, ainda haverá algum impacto do setor elétrico no resultado do Tesouro, mas em muito menor grau, pois as térmicas estarão desligadas. Quanto maior for a despesa deste ano, menor será no próximo. Em 2015, acredita-se que o impacto será bem reduzido ou inexistente.