terça-feira, junho 18, 2013

Marchar faz bem - MARCELO RUBENS PAIVA

O ESTADÃO - 18/06


Cuidado agora com os oportunistas. Nada de culto à personalidade, herança da velha política.

Esqueça a musa, a menina da UNE, ou o menino do MPL.

A nova forma de se organizar tem por característica a negação de liderança.

Acorda: o movimento é político. Mas o discurso que permeia é o de um movimento não-partidário.

A grande novidade do movimento que parou o Brasil, surpreende o mundo, e que tem gerado espanto na também velha imprensa, é que não há uma clara liderança política, nem objetivos específicos e plausíveis.

A bandeira não é uma só.

A ideia do movimento é não haver uma liderança que direcione para uma rota só.

Está todo mundo descontente, e essa é a razão que trouxe todos às passeatas.

Mais do que sair com a conquista de uma pauta precisa, a grande vitória política do movimento é que cada um vai às ruas representar a si mesmo, com diferentes anseios e demandas.

Sem se sentir representado por um outro, como na atual e questionável democracia, o que o movimento está fazendo é o exercício do ideal da democracia deliberativa.

Cada um vai à praça pública colocar as suas demandas pessoais em público. E essa é a beleza do movimento.

É como se a gente tivesse vendo acontecer a tal razão comunicativa habermasiana.

É toda a ideia do OCCUPY, que só agora se populariza no Brasil.

O gigante acordou?

Depois de toda a promessa brasileira, sexta ou sétima maior economia do mundo, de ampla diminuição da desigualdade social, todo mundo percebeu que a vida não mudou tanto assim, que a riqueza escoa pelos ralos da corrupção e ineficácia, que o poder de compra está muito aquém do valor das coisas, e consequentemente a qualidade de vida não correspondeu às expectativas de um gigante adormecido.

É uma onda se formando, um novo formato de se ver/ter consciência como agente politico. Não sabemos ainda aonde isso vai dar, e nem se são possíveis conquistas políticas e sociais verdadeiras sem liderança.

O que não faz com que o movimento seja menos legítimo, ou que tenha seu mérito diminuído. O fato comum é que está ocorrendo em muitos países do mundo contemporâneo e deve assim ser apreciado.

Turquia e Brasil: movimentos diferentes, com muitas coisa em comum.

As demandas são outras, mas o formato de organização (e do protesto) é o mesmo.

Não tente entender pela (i)lógica do jogo político partidário.

Nem pelos manuais da velha esquerda.

Ninguém mais quer ser liderado.

Esqueça o pragmatismo. Marchar faz bem.

O fim de um lamentável presidente - LUIZ FELIPE LAMPREIA

O GLOBO - 18/06
A eleição presidencial iraniana produziu dois resultados importantes: a vitória do candidato menos radical, Hassan Rouhani, e o fim do lamentável Mahmud Ahmadinejad, presidente desde 2005. O presidente eleito fez campanha com o slogan "prudência e esperança", o que está longe de ser uma plataforma arrojada, mas acenou com um ambiente de maior liberdade pessoal. Muito relevante foi sua postura, como ex-negociador nuclear, favorável a uma redução das tensões nessa matéria entre o Irã e os principais países ocidentais para permitir o abrandamento das sanções do Conselho de Segurança da ONU que estão sufocando a economia iraniana.
Quanto a Ahmadinejad, ele teve um de seus poucos momentos de glória no dia 16 de maio de 2010, quando o presidente do Brasil ergueu seu braço e proclamou vitória no confronto com aqueles que queriam cercear o programa iraniano de "uso pacífico" da energia nuclear".

Deu no que deu: uma derrota esmagadora no Conselho de Segurança da ONU. Ao fim de seu mandato, restam para o povo iraniano uma das maiores taxas de inflação do mundo, elevados índices de desemprego, violenta queda das receitas de petróleo em resultado das sanções internacionais da ONU. Mestre da bazófia inflamada e das posições radicais, Ahmadinejad entra para a História como um pária internacional .

As eleições presidenciais do dia 14 de junho podem vir a reduzir a intransigência do regime. É óbvio que Rouhani, como aiatolá que é, não representa um opositor ainda que velado da teocracia. Alguns de seus predecessores no cargo também eram clérigos xiitas e também buscaram uma abertura política, com êxito muito relativo. Quem detém o poder, acima de todos, é sempre o aiatolá Khamenei, "líder supremo". Para usar a expressão de um estrategista político brasileiro do passado, o regime iraniano avança por sístoles e diástoles. Em todo caso, pelo que se pode ler na imprensa internacional, Hassan Rohani, que foi o negociador nuclear de seu país, é o mais moderado de todos os que disputaram a eleição.

É interessante sublinhar que, mesmo com ênfases teocráticas e militaristas, o regime de Teerã promove regularmente transições de poder, fenômeno raro no Próximo Oriente.

Contudo, como atesta a violenta supressão do Movimento Verde de protestos, com sua agenda reformista, em 2009, o Irã não é uma democracia nos moldes ocidentais.

Com a recentíssima eleição, o regime adquiriu indiscutivelmente mais legitimidade. A questão que se põe é se o Irã poderá desempenhar um papel internacional mais construtivo sob o próximo presidente. A busca de armas nucleares poderá abrandar, permitindo uma atenuação das sanções do Conselho de Segurança? Veremos.

Haverá modificação em outra coluna mestra da política regional de Teerã: o apoio ao regime sanguinário de Bashar Assad? Sabe-se que a ingerência direta do Irã nos assuntos da Síria e do próprio Líbano continua a atear mais fogo nos conflitos internos desses países. Em minha opinião, o propósito de aumentar e consolidar sua influência em toda a região é um cânone do política externa iraniana que será mantido, seja qual for o resultado das eleições, com os métodos que forem necessários.

Resta a conhecer quais métodos serão empregados doravante pelo Irã.

Se Rohani não tiver poder para alterar profundamente os rumos do Irã, enquanto durar o regime retrógrado dos aiatolás o país não poderá exercer na sua região uma influência positiva, no plano cultural e político, compatível com sua grande herança cultural, seu peso específico e a contribuição do segmento mais culto de sua população. O presidente eleito vai assumir suas funções com muitos desafios.

O primeiro deles será afirmar-se na política iraniana em meio às lutas entre ultraconservadores que sempre ameaçam o equilíbrio interno.

O segundo desafio estará em combater a crise econômica que deriva sobretudo do maior conjunto de sanções jamais impostas a um país e que cortaram mais de 50% das exportações de petróleo e gás do Irã. O terceiro teste de Rouhani será conseguir avanços nas negociações nucleares sem ser atacado internamente como um vende-pátria. Três enorme desafios.

A Pérsia foi a primeira superpotência da Antiguidade.

Na época em que atacou a Grécia, sob Dario, em 490 AC, e dez anos depois, sob seu filho Xerxes, o império chegava à Índia e poderia ter-se firmado na Europa, não fossem as vitórias gregas em Maratona e Salamina.

Com os hebreus, os persas são os únicos povos antigos cujos textos sobreviveram nos tempos modernos. "A ascensão dos aiatolás tem sido um rebaixamento do país no sentido da violência feita às grandes tradições do passado iraniano", como disse Robert Kaplan. Esperemos que Hassan Rouhani consiga reverter este curso.

Mexendo em vespeiro - JOSÉ PAULO KUPFER

O ESTADÃO - 18/06

As condições prospectivas da economia brasileira continuam a piorar, pelo menos na visão dos analistas de mercado. Os ajustes semanais nas projeções para os indicadores macroeconômicos, organizados e divulgados pelo Banco Central no boletim Focus, dão sustentação a essas percepções.

O que já estava difícil ficou ainda mais complicado com o agravante trazido pelas trepidações recentes no mercado de câmbio. Elas refletem, principalmente, os movimentos prévios das nuvens de gafanhoto financeiras globais ao previsto início da reversão da política de afrouxamento monetário, nos Estados Unidos.

No caso específico do Brasil, não só a liquidez e a profundidade do seu mercado cambial estão à frente de muitos dos emergentes, o que colabora para que picos e vales das cotações do dólar se acentuem. Além disso, a economia está sendo pega em momento de fragilidade interna, inclusive e especialmente, nas contas externas, o que reduz o interesse estrangeiro de inversão no mercado brasileiro e aumenta a coceira para cair fora.

Explica-se a ansiedade em torno da decisão sobre juros nos EUA, ao fim da reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), o correspondente ao nosso Copom, nesta quarta-feira, e mais do que tudo, do discurso do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, previsto para logo em seguida. A expectativa é de que as palavras de Bernanke contenham chaves para a decifração dos enigmas da data do início, da velocidade e das formas de execução do processo de enxugamento da liquidez promovido nos últimos anos.

Não importa que o cenário do momento apresente ambiguidades – o ímpeto da recuperação econômica americana é o principal deles –, cenas de “overshootings” explícitos, como as altas recentes além do razoável nas curvas dos juros futuros nos EUA, são típicas dos mercados financeiros. Uma certa correção dos exageros, na abertura dos mercados externos nesta semana e às vésperas do esperado evento desta quarta-feira, só confirma a regra – incluindo a regra de que, nessas ocasiões, o mercado brasileiro tende a ser um dos mais voláteis.

Ainda que não seja tão difícil desenhar as grandes linhas do que ocorrerá quando a retirada de liquidez tiver início, impossível antecipar seus movimentos mais abrangentes e efetivos. Em qualquer circunstância, a manobra é arriscada e exigirá grande perícia, para que não se volte contra o feiticeiro que a produziu. Reverter a liquidez extraordinária significa mexer num gigantesco vespeiro.

Calcula-se que, nos últimos cinco anos, os bancos centrais injetaram US$ 12 trilhões nos mercados financeiros e promoveram 500 cortes de taxas de juros. Essa montanha de liquidez, contudo, mal passa de 5% do estoque total de ativos financeiros em busca da melhor remuneração nos mercados globais.

Levantamentos sistemáticos do McKinsey Global Institute (MGI), braço de pesquisa da consultoria global McKinsey, indicam que esse estoque vem crescendo agora em ritmo mais lento – média de 1,9% ao ano desde o início da crise – do que o registrado no explosivo período que vai de 2000 a 2007. Mas já superou, em 2012, o recorde de 2007, alcançando estratosféricos US$ 230 trilhões. Mesmo que hoje represente “apenas” quatro vezes toda a produção mundial de bens e serviços, em um ano, ante quatro vezes e meia, em 2007, é um volume assustador de recursos.

É óbvio que deslocamentos descoordenados, ainda que somente de parte dessa imensa massa de recursos, têm potencial mais do que suficiente para produzir fortíssimas instabilidades na economia global. Por isso, embora já se comece a falar em outubro como data do início da reversão dos “quantitative easings” (QEs), é mais provável que o Fed espere um pouco mais – possivelmente até algum ponto de 2014 – por uma confirmação menos superficial e difusa da qualidade da retomada nos EUA. E que opere essa delicada “operação desmanche” com extremo cuidado, em pequenas e bem medidas doses.

Bola fora - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 18/06

Dilma, sem querer, imagino, quebrou uma tradição que vem, pelo menos, desde Juscelino Kubitschek.
Até ontem ela não tinha mandado uma mensagem para os jogadores e a comissão técnica da seleção brasileira desejando boa sorte na Copa das Confederações.

Aliás...
O Lula, que é boleiro e dá assessoria informal ao governo, podia ter lhe avisado. Com todo o respeito

Terra em transe
A pergunta de um milhão de dólares:
O que querem mesmo estas multidões que ocuparam várias cidades brasileiras ontem?
Nada contra, claro.

Aliás...
De alguém que acompanha Lula desde as greves do ABC nos anos 1970:
— É a primeira vez em décadas que grandes manifestações de rua ocorrem sem que Lula e o PT estejam na frente das massas.


Para que isto?
Esta Fifa é mais realista que o rei.
Veja só. Os próprios jogadores da seleção brasileira pediram à Fifa que retirasse dos vidros do ônibus que transporta a delegação a camada de insulfilme que impede os torcedores de ver os craques.

Calma, gente
A juíza Ivone Caetano, da Vara da Infância e da Juventude do Rio, a pedido do Ministério Público, cassou ontem o alvará que permitia a entrada de menores no Maracanã Alega que a Fifa não deixa que comissários de Justiça entrem para fiscalizar o estádio.

Protesta Brasil
A Player Um, que já havia criado a Batalha do Mensalão, lança hoje o jogo eletrônico Protesta Brasil, inspirado nestas manifestações de rua.
É assim. O jogador atira flores nos policiais para convertê-los em manifestantes, enquanto se protege das balas de borracha.

Jogo que segue...
A cada fase, a tropa de choque fica mais rápida. Ao final, uma imagem representa os vilões da história: surgem empresários e políticos loucos por dinheiro. É. Pode ser.

Sangue latino
Eduardo Campos pode entender de política. Mas de futebol, não.
Antes do jogo Espanha x Uruguai, o governador previu, numa roda em que estava o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, que os pernambucanos iam torcer pela Espanha:
— Os mais jovens acompanham com entusiasmo o campeonato espanhol e os mais velhos não esquecem a derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950.

Só que...
Quando a bola rolou, os torcedores pernambucanos ficaram com nossos vizinhos latinos.

Padrão Fifa
“Exigimos escolas, hospitais e segurança pública no padrão Fifa”, diz o manifesto que a ONG Rio de Paz lança hoje numa petição on-line.

Gruta da imprensa
A empresa Brazil Field Pesquisa de Mercado e Opinião realiza junto a jornalistas uma enquete para avaliar a imagem do Carrefour.
Em troca, o coleguinha recebe R$ 350. Pode? Cartas para a Redação.

Paes ajuda o Botafogo
O vascaíno Eduardo Paes resolveu ajudar financeiramente o Botafogo enquanto perdurarem as obras no Engenhão.
O clube, como se sabe, montou uma estrutura para administrar o estádio.

Leblon chique
O Rio vai ganhar a sua primeira loja da Dolce & Gabbana, a grife italiana.
Será no Shopping Leblon. A inauguração é até o final do ano.

A poderosa
A funkeira Anitta dobrou em um mês o valor do seu cachê. Agora cobra R$ 120 mil por um show.
Se for fora do Rio, o contratante ainda paga mais 43 passagens de avião para músicos e bailarinos.

Por quê, tio?
Durante o Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no Rio, o escritor Fábio Carpinejar estava com as unhas pintadas de amarelo. E uma criança:
— Tio, por que você pinta a unha?
E o autor gaúcho:
— Porque eu estava cansado de ouvir a minha mulher dizer que não podia lavar a louça senão ia estragar o esmalte dela.

Pedra no caminho
Maria Gadú, a cantora, deu um show, por volta das 17h de domingo, no Esplanada Grill, em Ipanema. É que achou uma pedrinha no prato. Segundo ela, um pedaço de vidro.
Chamou o maître e perguntou: “Você quer acabar com a minha vida?”

Os safadinhos
Na noite de sábado, dois gringos correram pelo píer próximo à Rua das Pedras, em Búzios, RJ, e pularam no mar só de cuecas.
Em seguida, chegaram uns seguranças de uma boate e, pouco depois, a PM. É que a dupla tinha saído da casa sem pagar.

Estudos pornográficos - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 18/06

Se escolas e editoras querem dar à pornografia estatuto intelectual, não passo de um lamentável dinossauro


A atriz Sylvia Kristel morreu em outubro passado. Senti a notícia como uma perda pessoal. E nostálgica.

Lembro-me bem: teria uns 12 ou 13 anos quando a conheci. Moça simpática. Foi na casa de um colega de turma que, por razões nunca suficientemente explicadas, conseguira cópias em VHS dos filmes "Emmanuelle".

Todas as sextas à tarde havia uma peregrinação à casa do cavalheiro. E ele, qual um Grande Gatsby pré-adolescente, recebia os convidados no portão e depois cobrava ingressos à pequenada. Com o dinheiro do lanche, era possível assistir ao filme e, por gentileza do anfitrião, beber ainda um copo (de limonada). No final, os cinéfilos abandonavam a sala e caminhavam rápido na mais profunda clandestinidade. Rumo a casa.

Assim foi durante semanas: enquanto os pais imaginavam as crianças em estudos demorados, as crianças dedicavam-se a outro tipo de aulas. Até o dia em que um delator resolveu contar o esquema à diretora da escola depois de ter sido barrado na entrada daquele clube privado. Os pais foram avisados. Houve castigos para todos os gostos e feitios --e eu, com as orelhas a arder, despedi-me de Sylvia Kristel com um beijo imaginário.

Claro que, olhando para trás, os filminhos de "Emmanuelle" eram quase exemplos líricos de castidade. Sobretudo quando comparados com a pornografia que abunda na internet e que tem provocado discussão séria na Grã-Bretanha.

Não será hora de ter uma profissional da indústria a ministrar aulas de educação sexual nas escolas? Aulas teóricas, entenda-se, não práticas. A sugestão foi feita por Mark Slater, 59, responsável por um colégio de elite em Cambridge.

Diz o prof. Slater ao "Sunday Telegraph" que as crianças estão cada vez mais expostas a cenas violentas e, pormenor fundamental, irreais. Uma professora de educação sexual com conhecimento de causa poderia explicar a natureza fantasiosa das cenas, preparando os jovens para vidas de maior respeito mútuo --e, acrescento eu, sem lesões físicas desnecessárias.

O prof. Slater não está sozinho nessa batalha. A editora Routledge, que em tempos mais bárbaros editava Karl Popper ou Friedrich Hayek, prepara-se também para lançar a primeira revista científica sobre estudos pornográficos. "Porn Studies", eis o título. Objetivo?

Estudar o fenômeno da pornografia "sob todos os ângulos", uma ambição que já rendeu polêmica entre a comunidade científica, e não necessariamente pelas razões mais literais. Conta o jornal "Observer" que vários estudiosos da matéria criticam a revista por adotar um tom neutro sobre o assunto.

Pornografia é coisa séria. Ela é responsável pela degradação das mulheres, pelo comportamento violento dos homens e, atendendo ao funcionamento hormonal da espécie, talvez pelo aquecimento global.

Aliás, por falar em aquecimento global, os críticos da revista comparam o conselho científico da dita aos "negacionistas climáticos" que não concordam com o sr. Al Gore sobre o destino dos glaciares. A polêmica promete continuar.

Não tenciono contribuir para ela. Se as melhores escolas e editoras entendem que é sua função conceder à pornografia estatuto intelectual respeitável, eu não passo de um lamentável dinossauro. Que, logicamente, nasceu no tempo errado.

No distante século 20, eu e os meus amigos éramos uns incorrigíveis devassos. Hoje, no século 21, teria sido possível evitar todos os castigos. E sustentar, com cara séria e erudita, que aquelas tardes passadas com a sra. Sylvia Kristel eram visitas de campo --ou, melhor ainda, deveres de casa.

Imagino mesmo os nossos pais, cobertos de orgulho, comentando uns com os outros o amor dos filhos pelo estudo e os dias inteiros passados no quarto.

P.S.: Leitores, eu amo vocês. Depois do artigo "O colunista apodrece", da semana passada, recebi centenas de e-mails com votos de melhoras e alguns conselhos sábios para não apodrecer precocemente. Prometo seguir alguns, embora confesse que a opção vegetariana ainda não está no meu cardápio. A situação não é tão desesperada. De resto, uma palavra em especial para os médicos que partiram de vários sintomas --pedra no rim, queda de dente, dores musculares etc.-- para chegarem a diagnósticos vários, alguns deles contraditórios. Na qualidade de hipocondríaco, o meu muito obrigado.

Construção e desconstrução - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 18/06

As melhores seleções (Espanha, Itália e Brasil) e os maiores destaques (Xavi, Iniesta, Pirlo, Neymar e outros) brilharam na primeira rodada da Copa das Confederações.

Xavi e Pirlo possuem várias semelhanças. Por causa da idade, deverão deixar as seleções após a Copa do Mundo. Os dois atuam de uma intermediária à outra. Não são volantes nem meias. São armadores, defensivos e ofensivos. Pirlo se destaca ainda pelos passes longos e pelas jogadas de bola parada. Já Xavi, por saber o momento exato de dar um passe difícil e decisivo. Raramente, dá a bola para o outro time.

O Brasil, desde Falcão e Cerezo, não tem um craque no meio-campo. Há muitos bons jogadores. Não tem porque não quis ter. Não é por entressafra. Durante muito tempo, os técnicos dividiram o meio- -campo entre os que marcam e atuam do meio para trás e os que atacam e atuam do meio para a frente.

Se um Pirlo e um Xavi chegassem às categorias de base de um clube brasileiro, seriam meias ofensivos ou alas.

Xavi e Iniesta se completam. Xavi é mais volante, organizador, passador, técnico, e Iniesta, mais meia, ofensivo, habilidoso, driblador, insinuante. Como nada é perfeito --Pelé foi a exceção--, Xavi e Iniesta não são ótimos finalizadores.

Por isso, por não querer perder a bola e, principalmente, por não ter um excelente atacante, a Espanha faz poucos gols. Soldado mostrou, mais uma vez, que é melhor que Fernando Torres e David Villa.

O Brasil não tem um Xavi, um Iniesta, um Pirlo, mas possui Neymar no ataque. Ele não está ainda pronto, mas tem grandes chances de se tornar, nos próximos anos, um fenômeno mundial.

Escrevi, após a vitória sobre o Japão, que o Brasil já tem um time. Isso não significa que seja um grande time, que jogue do jeito que gostaria --sonho com outro futebol--, que não tenha deficiências individuais e coletivas nem que esteja pronto.

Ninguém está, nem Alemanha e Espanha. Temos todos os dias algo a aprender. Estamos sempre em construção, reconstrução e desconstrução.

O Brasil não tem um grande time, mas já tem um time, com uma estratégia definida e com jogadores que cumprem o que foi estabelecido.

Felipão sabe o que quer e sabe como fazer, mesmo com alguns conceitos equivocados, ultrapassados ou que não aprecio. Pior é o técnico confuso, indeciso.

Os treinadores costumam achar que as vitórias são sempre decorrentes de suas estratégias. As derrotas são por outros motivos.

Não deixem o MP acabar! - CARLOS AGUIAR

O GLOBO - 18/06
A Constituição da República promulgada em 1988 conferiu ao Ministério Público atribuições que realçaram sua condição de importante ferramenta na defesa dos interesses da sociedade, o que permitiu, por exemplo, o aperfeiçoamento na defesa dos direitos das minorias, crianças, idosos, homossexuais, mulheres e negros, além do combate à criminalidade, fiscalização do uso de verbas públicas, dentre outros direitos coletivos.
Muitas vezes o exercício dessas funções acaba por contrariar interesses, sobretudo políticos, até porque, algumas vezes, o Ministério Público é o único instrumento de reação da sociedade para inibir abusos cometidos por quem possui poder político e econômico.

Não por acaso tem sido recorrente a tramitação de projetos de lei que invariavelmente procuram diminuir ou mesmo lhe retirar atribuições, numa clara tentativa de afastar os obstáculos eventualmente existentes para os desmandos e malversações da coisa pública.

A versão mais visível dessa estratégia está hoje concentrada no Projeto de Emenda Constitucional 37 ou PEC 37, de acordo com o qual as investigações criminais caberão exclusivamente às policias Civil e Federal. A iniciativa, que ganhou fôlego principalmente após o processo do mensalão, muito embora atinja outras instituições públicas, como Banco Central, Receita Federal, Ordem dos Advogados do Brasil, além do próprio particular, todos alijados do direito de investigar infrações penais, visa a alcançar diretamente o Ministério Público de forma a enfraquecê-lo sem o excluir do contexto jurídico. Assim, muito embora mantido o status constitucional de guardião da sociedade, retiram-se os instrumentos para o adequado cumprimento dessa função, como uma doença que preserva o corpo, mas debilita as funções vitais.

De forma a amesquinhar a discussão do tema e, ao mesmo tempo, ocultar as reais finalidades do projeto, opõe-se o Ministério Público às polícias como se o que estivesse em jogo fosse apenas uma luta de classes corporativas. Nada mais equivocado, sobretudo porque o Ministério Público deseja e luta por uma polícia eficiente.

O monopólio da investigação criminal é ineficaz e não contribui para a redução do número de inquéritos que terminam sem a solução dos ilícitos apurados. Portanto, retirar do Ministério Público o poder/dever de investigar não traz nenhuma vantagem para a preservação do Estado Democrático de Direito. Felizmente o Congresso Nacional, em sua franca maioria, tem consciência disso e saberá dizer não a esse movimento contrário à sociedade.

Quem não quer um Ministério Público atuante e eficiente são os marginais, venham eles das favelas cariocas ou dos altos escalões do poder. O enfraquecimento da instituição, antes de qualquer coisa, representa o enfraquecimento da grande maioria da população, brasileiros honestos aos quais se faz o apelo: não deixem acabar com o Ministério Público!


A Primavera do Vinagre - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 18/06

"Vamos dar o pontapé inicial na Copa das Confederações". E a PM: "Deixa que eu dou. POW!" POW!". Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Tô adorando essa ligação Turquia-Brasil! Tá dando um TURCOCIRCUITO no Brasil! A Primavera do Vinagre. Depois da Primavera Árabe, temos a Primavera do Vinagre!

E a PM liberou o vinagre. Balsâmico! Rarará!

E quem deu o pontapé inicial na Copa das Confederações foi a PM. "Agora vamos dar o pontapé inicial na Copa das Confederações". E a PM: "Deixa que eu dou. POW! POW!". Rarará!

E a Dilma? A Dilma foi ÚÚÚÚvacionada! E sabe o que ela gritou? "Maaaantega, me aplaude".

E agora ela mandou construir um estádio em Palmas. "O próximo estádio será em PALMAS!". Rarará!

E o mais hilario das vaias da Dilma não foram as vaias, foi o Blatter pedindo respeito! Rarará.

E a Dilma "Maaaantega, me aplaude".

E adorei as represálias da Dilma Bolada, a sátira da Dilma no Twitter: "Mandei aumentar o preço do cachorro quente para 500 reais e o refrigerante para 200". "Agora vocês vão ver o preço do PS4 no Brasil". Rarará.

E uma vez o Juscelino foi vaiado e disse: "Feliz do país que pode vaiar um presidente". E aí foi aplaudido. Rarará. Tem que ser esperto pra reverter a vaia!

E adorei a charge do Pelicano com a Dilma: "Não gostei nadica da acústica dessa arena". Rarará!

E a Copa das Confederações? O Felipão que se cuide porque o México tá vindo com um Guardado e um Torrado. Adorei esses nomes dos jogadores: Guardado e Torrado. E tem um jogador japonês chamado Kagawa!

E o Dunga tá comentando os jogos na TV japonesa, TV Fuji! Fuja da Fuji! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E adorei o Luciano do Valle chamando o estádio Mané Garrincha de Manoel Garrincha! Rarará.

E inauguração do estádio Mané Garrincha tinha que ter show da Elza Soares!

E os espanhóis? Como disse aquela pernambucana: "Todos têm topete!". Topete e nariz empinado!

E sabe o que está escrito no busão da seleção do Uruguai? "Gaúcho é a mãe, tchê!. Rarará. O Uruguai é o Rio Grande do Sul na Copa das Confederações! Rarara.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Arquibancada do Brasil - TUTTY VASQUES

ESTADÃO - 18/06

Tem tudo para virar o "caminhando e cantando" dessa geração que pegou carona no aumento dos
ônibus para protestar contra tudo-isso-que-aí-está. O jingle da Fiat para a campanha da Copa das Confederações - "Vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil" - ganhou na voz inflamada do cantor Falcão, do grupo Rappa, força mobilizadora comparável à do manifesto de Geraldo Vandré em Para Não Dizer Que Não Falei de Flores no final dos anos 1960.
Já circulam no YouTube vídeos montados com imagens da violência policial da semana passada na Avenida Paulista sobrepostas ao hino involuntário de resistência que o movimento civil pegou emprestado da propaganda na TV:"Vem vamos pra rua, pode vir que a festa é sua, que o Brasil vai estar gigante, grande como nunca se viu, ôôô!".
A musiquinha já estava no ar há algum tempo quando se deu o que nenhum publicitário poderia imaginar:a motivação ufanista do jingle virou trilha sonora da rebeldia. Vai entender o Brasil, né não?

Tapa no vinagre

Bastou a PM liberar o porte e o consumo do produto nas manifestações no centro de São Paulo, e
pronto: já tem gente fumando vinagre abertamente na USP.

Papagaio desertor

Onde estava Aloizio Mercadante na hora da vaia que Dilma Rousseff tomou na abertura da Copa das
Confederações, em Brasília. Quando a presidente mais precisou do ministro pousado em seu ombro direito...

Consolo

Apesar da nova promessa de campanha do prefeito Eduardo Paes - “Se o Brasil perder para a Argentina
na final daCopa do Mundo eu me mato” -, os cariocas não vão torcer por los hermanos em 2014, mas, se acontecer o pior, o Rio talvez encontre motivo para superar a tristeza com o futebol.

Maldição

Catarina Migliorini, a mocinha de Santa Catarina que teve a virgindade arrematada por um japonês em
leilão na internet, continua virgem.
Talvez até para sempre!

Sistema de cotas já!
De alguém que saiu do jogo Itália 2x1 México com uma ponta de saudade do bom e velho Maracanã: “O único torcedor negro com quem cruzei no estádio falava francês com o filho na fila do banheiro!”.


Mal comparando
Justiça seja feita à PM de São Paulo, a de Istambul é muito pior

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 18/06

MAIS DOIS INVESTIMENTOS INDUSTRIAIS PARA O RIO
Deca começa a operar em Queimados, na Baixada, e MAN instala centro de customização em Resende
A Deca, fabricantes de painéis de madeira industrializada, louças e metais sanitários, deu início às operações da primeira unidade no Estado do Rio. A fábrica fica no Distrito Industrial de Queimados, na Baixada Fluminense. A empresa investiu R$ 120 milhões na planta, que vai gerar 600 empregos, informa Conceição Ribeiro, presidente da Codin, companhia fluminense de desenvolvimento industrial. A nova fábrica está instalada em área ocupada anteriormente pela Ideal Standard, outra fabricante do setor de louças. É sinal de vitalidade no mercado fluminense de material de construção. Em Resende, no Sul fluminense, a Codin negociou com a MAN Latin America a implantação do centro de customização da montadora. Batizada de BMB Mode Center, a unidade vai desenvolver e implementar adaptações encomendadas pelo compradores dos caminhões Volkswagen fabricados no com plexo. A MAN, segundo a Codin investirá R$ 21 milhões na expansão da planta de Resende até 2019. A previsão é abrir, n período, mais 512 empregos d retos na região. Resende form com Porto Real e, mais recente mente, com a Nissan o polo automotivo do estado.

R$ 75 MILHÕES
É o investimento da rede Kinoplex no complexo de cinco salas digitais que serão inauguradas, nesta sexta-feira, no Madureira Shopping. É o sexto do tipo na Zona Norte da capital.

PROMOÇAO NO TWITTER
O Ponto Frio.com aproveitou a reestreia de “Sai de Baixo”, terça passada, no Canal Viva, para fazer ações promocionais no Twitter. Lançou ofertas de móveis e eletrodomésticos, usando o nome do humorístico. A varejista não é patrocinadora da atração. “A recepção foi positiva e gerou repercussão”, declarou à coluna. O Canal Viva não quis comentar.

CAMPANHA REFEITA
A rede de restaurantes Zacks refez a promoção de sanduíches temáticos, após ser notificada pela Fifa por referência à Copa das Confederações. Trouxe de volta a ação “Burgers do Mundo”, inspirados na culinária de Japão, México, Taiti e Itália, além do Brasil. As ofertas vão até dia 15 julho. A rede prevê faturar 30% a mais do que o festivaldo ano passado.

Fora do ar
O site do empresário Eike Batista foi invadido pelo grupo Anonymous ontem. Saiu do ar no fim da tarde.

Tá morno
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) cresceu 1,9% de maio para junho, informa pesquisa que a CNC divulga hoje. O resultado põe fim a três quedas seguidas. Mas o índice (130,1 pontos) é o 3º menor desde 2010. Inflação e endividamento em alta explicam desânimo dos consumidores.

Em tempo
A CNC prevê alta de 4,3% para as vendas do varejo este ano. Até abril, segundo o IBGE, subiram 3%.

Parceria
José Junior, do AfroReggae, já se reuniu com o novo presidente do Santander Brasil, Jesús Zabalza. Ouviu do executivo que a parceria com a ONG está mantida.

Débito
O Santander estendeu o cartão débito Visa Eletron às compras pela internet.

Domésticas
A agência La Maison Belle, de serviços domésticos, intermediou a contratação de 105 profissionais em cinco meses de atuação no Rio. De janeiro a maio, foram 45 empregadas domésticas, 13 babás e 11 diaristas. Até 2014, quer sair de dois mil para oito mil profissionais cadastrados.

Parque Lage 1
A Secretaria estadual de Cultura lançou edital para escolher a organização social que vai gerir a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) nos próximos cinco anos. A Casa França-Brasil também terá novo gestor. Hoje, é a própria secretaria que administra as duas casas. A chamada pública vai até dia 28.

Parque Lage 2
Saiu do forno a coleção inverno 2013 de camisetas que rendem recursos à EAV. É parceria com a Secretaria de Cultura e o Cantão. A ação existe desde 2011. Este ano, pela 1ª vez, alunos da escola assinam as peças, vendidas na rede de lojas da grife. A EAV fica com 20% da renda.

Hospedagem
A ocupação dos albergues está em 65% para a Copa das Confederações e já bateu 100% para a JMJ, informa o SindRio. A tarifa média para junho e julho é de R$ 85.

Capacitação
A Hyatt, rede de hotéis, vai investir R$ 1,4 milhão em capacitação de cerca de 600 jovens de baixa renda na área da Barra. É contrapartida à construção do Grand Hyatt Rio, no bairro.

Turismo junino
A Embratur traz, este mês, 11 jornalistas estrangeiros para conhecerem as festas juninas no Brasil. Vêm de Alemanha e França, entre outros países.

ON-LINE
Agrife Maria Mariah lança e-commerce para o atacado, dia 24. Investiu R$ 60 mil na plataforma e prevê alta de 20% no faturamento. Com o site, chega também o catálogo de inverno da marca. Markos Fortes fotografou Eduarda Nanci.

Sucata
Aço, madeira e fibra de vidro de embarcações deixadas na Baía de Guanabara vão a leilão, amanhã, no Rio.
A venda foi autorizada pelo Inea. Só de aço, são 1.700 toneladas, diz o leiloeiro João Emílio. A remoção do material vai facilitar a dragagem do Canal de São Lourenço, em São Gonçalo.

Reciclagem
A Fundação Banco do Brasil destinou 37 toneladas de metais pesados à reciclagem, de janeiro a maio deste ano. É mais que o dobro das 18 toneladas de 2012 inteiro.

O material saiu de aparelhos sem uso, como impressoras, telefones e computadores.

Limpeza
O Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação (Seac-RJ) prevê crescimento de 13% para o setor em 2013. E nova expansão de 13% no ano que vem. Em 2012, as empresas do segmento movimentaram R$ 5,6 bilhões. O total de empregos formais passa de 210 mil.

Livre Mercado
A Prefeitura de São Gonçalo investe R$ 300 mil em ações para a JMJ. Em 19 de julho, haverá show para fiéis no estacionamento do São Gonçalo Shopping. O mall espera vender 14% mais no dia.

Foram trocados 15 mil cupons na promoção de Dia dos Namorados do Riosul. Em 15 dias, o shopping somou R$ 7 milhões em vendas.

No Madureira Shopping, foram R$2 milhões em notas. As vendas cresceram 12%. A ação juntou Dia das Mães e dos Namorados.

A Zinzane abre uma loja em Copacabana e outra na Tijuca, em julho. Aporte de cerca de R$1 milhão. Prevê faturar 20%mais.

A Vig abre hoje ateliê na Barra. Investiu R$150 mil. Espera alta de 30% no faturamento.
BID e Secretaria de Fazenda do Rio fazem seminário sobre PPP hoje e amanhã. Tae Sung-Lee, ministro sul-coreano, participa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP -18/06

Empresa investe R$ 550 milhões com foco em hotéis quatro estrelas
A GJP Hotels & Resorts anuncia hoje a expansão da bandeira Prodigy, com o projeto de chegar a 20 unidades no país até 2016.

Comandada por Guilherme Paulus, a empresa investirá R$ 550 milhões para atender o crescimento da classe média e a procura por turismo de lazer e negócios.

Cerca de R$ 480 milhões dos recursos serão próprios. Para Paulus, demanda não falta: "As pessoas sempre vão precisar de cama para dormir", afirma o fundador da operadora de turismo CVC, vendida em 2011.

A aposta da bandeira é em estruturas da categoria quatro estrelas que, segundo o presidente, ainda não recebeu muita atenção no Brasil.

"Queremos vislumbrar uma nova fatia de mercado, com apartamentos mais amplos e confortáveis, um café da manhã melhor e um fitness center' de cortesia, por exemplo", descreve.

A Prodigy, uma das três marcas da GJP, está presente em São Paulo, Aracaju (SE) e Barra do Piraí (RJ).

Já estão em construção hotéis próximos aos aeroportos Santos Dumont, no Rio, e Tancredo Neves, em Confins (MG), por exemplo.

Também estão no plano de investimento unidades em Gramado (RS), Porto de Galinhas (PE) e Brasília (DF).

A empresa ainda estuda outras áreas, como no interior de São Paulo, onde visualiza um crescimento originado pela expansão do aeroporto de Viracopos, em Campinas.

O Prodigy de São Paulo, localizado na região da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, passará por obras de modernização, orçadas em R$ 5 milhões.

A GJP ainda planeja investir em suas outras duas bandeiras, Wish e Linx.

O grupo hoteleiro, que registrou faturamento de R$ 120 milhões no ano passado, tem a meta de chegar aos R$ 150 milhões em 2013.

Compras aos domingos
Uma pesquisa do Sincovaga (do comércio varejista paulista de gêneros alimentícios) indica que 88% dos empresários do setor apoiam a abertura de supermercados aos domingos e aos feriados.

O domingo é apontado como o terceiro dia de maior movimento, atrás do sábado e da sexta-feira.

Foram ouvidos donos de 100 empresas varejistas em São Paulo e na região metropolitana entre 6 e 15 de maio.

"É uma exigência do consumidor e do mercado. Se não tivesse venda, não abriria", diz Álvaro Furtado, presidente da entidade.

A pesquisa indica que 58% dos empresários não oferecem benefícios, como plano de saúde e cesta básica.

"Tentamos orientar as empresas, mas a resistência é grande. Com as menores, é ainda mais difícil de negociar, pois elas têm menos recursos", diz Furtado.

"Os empresários querem abrir de domingo e feriado, mas não oferecem moeda de troca", diz o diretor do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Josimar Andrade.

Em busca de negócios
Representantes da Prefeitura de São Paulo e da Brain (associação de empresas e entidades, como a BM&FBOVESPA) reúnem-se hoje na sede do Banco Mundial, com o coordenador do ranking Doing Business, Jean Lobet.

O objetivo é discutir critérios da pesquisa. Atualmente, o país é o 130º, entre 185 economias avaliadas.

"O Brasil piorou quatro posições na última medição, mas não está tão mal", diz Paulo Oliveira, diretor-presidente da entidade, que participará da reunião com Marcos Cruz, o secretário municipal de Finanças.

"O país avançou em áreas não detectadas pela pesquisa, como proteção a investidores, acesso ao crédito e à eletricidade", acrescenta.

Um dos itens em que o país é mal avaliado é na abertura de empresas, afirma Oliveira.

"Leva cerca de quatro meses para fazer o registro de uma empresa e o principal gargalo, responsável por atraso de aproximadamente 90 dias, está na prefeitura, que vai promover mudanças."

O ranking não favorece indicadores em que o Brasil vai bem. "Um exemplo é o crédito: temos a alienação fiduciária, mas valorizam o aval."

ZONA DE EQUILÍBRIO
A maioria das empresas brasileiras ainda não dá suporte para funcionários equilibrarem a vida pessoal e o trabalho, segundo levantamento da consultoria Hays.

A pesquisa ouviu 700 companhias e 7.500 funcionários. Para cerca de 60% da amostra, esse cenário ainda não é uma realidade.

Dos entrevistados, 71% entendem que isso seria possível com horas de trabalho flexíveis, enquanto 29% afirmam que o equilíbrio seria atingido com trabalho remoto ou a distância.

Os dados estão na terceira edição do Guia Salarial da Hays, realizada com o Insper, que será divulgada hoje.

"Foi a primeira vez que perguntamos na pesquisa sobre horas flexíveis, mas sentimos que essa opção está crescendo no Brasil", diz Mark Bowden, diretor-geral da consultoria no sul da Europa e na América Latina.

Enquete... A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) iniciou ontem uma pesquisa para saber a opinião dos consumidores sobre o faturamento da energia elétrica. O objetivo é atrair quem não costuma participar das audiências públicas do setor.

...elétrica A consulta aborda novas formas de cobrança e se há preocupação com a geração por fontes renováveis, entre outros temas. As respostas, que podem ser dadas no site da agência, devem subsidiar as revisões tarifárias das distribuidoras em 2015.

Discussão... O presidente da Desenvolve SP vai se reunir hoje com representantes do setor de sucata de ferro e aço para discutir o programa de incentivo à renovação de frotas de caminhões do Estado de São Paulo.

...de aço Desde o início do projeto, só uma companhia preencheu os requisitos ambientais para reciclar os veículos. "Queremos mais empresas, mas quem define as exigências é a Cetesb", diz Milton Luiz, diretor-presidente da agência de desenvolvimento.

Desenvolvimentismo sem consistência - JOSÉ LUIZ OREIRO

Valor Econômico - 18/06

A performance macroeconômica durante os dois primeiros anos da presidente Dilma tem sido decepcionante. O crescimento econômico foi medíocre, ficando abaixo de 1,5% ao ano na média 2011-2012. A inflação permanece elevada e ameaça acionar os velhos mecanismos de indexação, abandonados desde o Plano Real como por exemplo o "gatilho salarial". Por fim, a situação externa, tão confortável durante os dois mandatos do presidente Lula, já mostra sinais de visível deterioração com a elevação do déficit em conta corrente para mais de 3% do PIB, com viés de alta. Em suma, trata-se de um quadro de "estagflação" com sérios riscos de crise de balanço de pagamentos a médio prazo.

A equipe econômica tem insistido em culpar o cenário externo pela pífia performance macroeconômica. Não resta dúvida que o quadro recessivo nos países desenvolvidos contribuiu para a desaceleração do crescimento da economia brasileira ao derrubar em quase 20% as nossas exportações de manufaturados, o que explica, em parte, a situação de estagnação da produção industrial prevalecente na economia brasileira.

Mas também não podemos esquecer que esse mesmo cenário permitiu que o Banco Central iniciasse um ciclo de redução da taxa de juros em meados de 2011, levando a Selic ao seu mais baixo patamar nos últimos 20 anos. Esse enorme estímulo monetário deveria ter induzido um crescimento robusto da economia brasileira, se a razão fundamental da sua estagnação fosse a escassez de demanda agregada.

O problema da economia brasileira não está no lado da demanda, mas do lado da oferta. A razão de nossa estagflação encontra-se na brutal perda de competitividade sofrida pela indústria brasileira nos últimos seis anos em decorrência dos efeitos combinados da apreciação da taxa real de câmbio, do crescimento dos salários acima da produtividade do trabalho e das deficiências notórias e crescentes em nossa infraestrutura. A apreciação cambial em conjunto com o aumento dos salários tem levado a um aumento extremamente rápido do custo unitário do trabalho, fazendo com que, em poucos anos, a indústria brasileira se tornasse incapaz de concorrer, tanto nos mercados externos como no mercado interno, com a indústria de outros países, notadamente a China. As deficiências de infraestrutura completam o quadro, acrescentando externalidades negativas à produção industrial doméstica.

Esses problemas são resultado da inconsistência do modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil no final do governo Lula e aprofundado nos dois primeiros anos da presidente Dilma.

Esse modelo de desenvolvimento baseia-se na ideia do "desarollo hacia dentro". Trata-se de um modelo no qual as políticas de redistribuição de renda e de aumento real do salário mínimo, em conjunto com uma forte expansão do crédito bancário, deveriam estimular um vigoroso crescimento dos gastos de consumo, o que levaria os empresários a aumentar os gastos de investimento, permitindo assim um aumento simultâneo da capacidade produtiva e da produtividade do trabalho. Nesse caso, seria possível obter um elevado crescimento do PIB e dos salários reais, ao mesmo tempo em que a inflação seria mantida sob controle.

Esse modelo de desenvolvimento, no entanto, se mostrou inconsistente no caso brasileiro. O forte crescimento da demanda doméstica no período (2007-2012) levou o desemprego a níveis historicamente baixos, fazendo com que os salários reais crescessem acima da produtividade do trabalho, exacerbando a perda de competitividade decorrente da apreciação cambial acumulada desde 2005. Para reverter a perda de competitividade seria necessário uma forte desvalorização cambial, o que causaria uma forte elevação da taxa de inflação, a não ser que seu efeito fosse contrabalançado por uma política fiscal mais apertada. O problema é que desde 2008 a política fiscal brasileira tem sido expansionista - além de ter um viés em consumo e custeio, em vez de investimento- tornando impossível um ajuste não inflacionário da taxa real de câmbio.

Em suma, o modelo de desenvolvimento brasileiro não pode alcançar simultaneamente dois objetivos, a saber: inflação baixa e estável e câmbio competitivo. Faz-se necessário sacrificar um objetivo para (tentar) alcançar o outro. Aparentemente, o apelo eleitoral fez a presidente Dilma escolher o controle da inflação, sacrificando no altar do poder as perspectivas de crescimento da economia brasileira.

A opção pelo mais fácil - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 18/06

Surpreendido pelas derrapadas seguidas na área econômica, o governo Dilma foi chamado a optar entre uma vigorosa correção de rumos e a manutenção, com um ou outro ajuste, do mesmo arranjo de políticas que prevaleceram até aqui.

Pelas indicações que chegam de Brasília, a decisão parece ter sido a mais fácil: manter e, até mesmo, aprofundar a combinação de políticas que provocaram as distorções já conhecidas: crescimento teimosamente baixo, inflação alta e renitente, desequilíbrio nas contas externas e uma indústria enfraquecida.

Duas parecem ter sido as razões que levaram o governo a decidir-se por deixar tudo como está. A primeira foi evitar passar mais um recibo público pelo fracasso de sua política econômica. A outra foi o entendimento de que uma terapia com base no aumento da responsabilidade fiscal (controle mais rígido das despesas públicas) e no reforço do investimento podia não produzir os efeitos desejados a tempo de lhe dar proveito nas próximas eleições.

Daí o lançamento na semana passada de um programa ("Minha Casa Melhor"), com R$ 18,7 bilhões em recursos públicos destinados a financiar, a juros subsidiados, aparelhos domésticos e móveis. Trata-se de um novo pacote designado a reforçar o consumo, a despeito das juras feitas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que coisas assim não se repetiriam.

Sobra o Banco Central para enfrentar sozinho a disparada dos preços e tentar recuperar a capacidade de conduzir as expectativas. Na edição de ontem do jornal Valor Econômico, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avisou que não há limites para a alta dos juros, dando a entender que está disposto a fazer o que tem de ser feito, mesmo sem contar com a colaboração das políticas a cargo de outras áreas do governo. Como os efeitos da política monetária levam entre seis e nove meses para aparecer, é provável que até as vésperas das eleições toda a alta dos juros promovida pelo Banco Central também não terá produzido o efeito desejado de debelar a inflação.

Essa determinação de Tombini, que apareceu um pouco tarde, mas ainda a tempo, não combina com o discurso da presidente Dilma de que os velhos do Restelo semeiam um pessimismo mórbido e que a inflação, que está "hoje sob total controle do governo", logo mais refluirá.

Não é bem assim. Há meses, o Banco Central vem advertindo que a inflação está alta demais (e não propriamente sob controle) e que o governo está gastando demasiadamente. Se este é o discurso dos ranhetas da hora, então o Banco Central também é um deles.

Ao decidir por não corrigir radicalmente seu rumo, o governo Dilma está apostando que conseguirá administrar com sucesso suas atuais vantagens eleitorais. No entanto, a inflação em doze meses está no teto da meta (6,5%). É alta a probabilidade de que nos próximos três meses salte para acima desse nível. É uma situação que, por si só, tende a aprofundar a falta de confiança que hoje atinge a atividade econômica e a colocar em marcha forças ainda mais desestabilizadoras do que as que vêm surpreendendo a presidente Dilma. A disparada do dólar é um aviso.

Tapete vermelho para a indústria chinesa entrar - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 18/06

Aspiradores de pó, liquidificadores, espremedores e batedeiras, aquecedores e secadores de cabelo consumidos no Brasil já não são produzidos pela indústria local, e, sim, importados, em especial, do Sudeste Asiático e da China, segundo a Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee). Mas é ocioso lamentar a perda de mercado ou pleitear medidas protecionistas para a indústria local, como fazem seus representantes nos gabinetes de Brasília, pois o principal problema é o custo de produzir aqui, mais oneroso do que na maioria dos países concorrentes, deixando o produto local fora do mercado internacional.

Na China, além de mão de obra barata, tributação módica, infraestrutura adequada, uma logística de alto nível permite o embarque e o desembarque de mercadorias em portos modernos com custos razoáveis e muito mais eficiência do que no Brasil. O mesmo acontece em outros países voltados para a exportação. Isso faz toda a diferença.

Em 2010, foram produzidos no País 448 mil aspiradores de pó e importados 2,4 milhões; a produção local de liquidificadores e espremedores de frutas foi de 13,8 milhões e a importação de 73 milhões; só 25 mil aquecedores foram feitos aqui, enquanto 1 milhão foi adquirido no exterior; 3,7 milhões de secadores de cabelo foram produzidos internamente e 9 milhões foram importados, mostrou reportagem do Globo ontem.

O governo parece mais uma vez inclinado a remediar o problema, sem lhe dar solução. Máquinas de lavar, fogões e geladeiras, além de aparelhos de áudio e vídeo já foram beneficiados por incentivos e agora poderão ser adquiridos pelos mutuários do programa de habitação Minha Casa, Minha Vida com juros subsidiados e a longo prazo. Em 2014, segundo o diretor de Setores Intensivos em Capital e Tecnologia do Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento (Mdic), Alexandre Cabral, os eletroportáteis serão prioritários para o governo federal. Uma nova despesa fiscal se prenuncia.

Mais desafiador, mas muito mais correto, seria enfrentar as deficiências de infraestrutura e o custo Brasil. Os governos do PT perderam uma década sem provar que são capazes de remover os gargalos logísticos que roubam competitividade do produto brasileiro. Estenderam, assim, um tapete vermelho para que os exportadores chineses caminhassem maciamente, a baixo custo.

Ruim também de propaganda - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 18/06

Governo reclama com maus modos e desconversa de "catastrofismo" dos críticos da economia


O GOVERNO de Dilma Rousseff poderia ter encontrado um modo mais elegante e inteligente de mudar de assunto. Isto é, de dar adeusinho ao grosso de sua política econômica, que não deu em nada.

A presidente deu o tom da desconversa, dourando a pílula com citação de Camões e reclamando do comentarismo econômico. Vozes anônimas de seu governo se queixam do "terrorismo informativo" e do "catastrofismo" de jornalistas e economistas do setor privado.

Para fazer uma sugestão sarcástica, mas nem tanto, talvez fosse mais inteligente culpar o governo de Geraldo Alckmin por criar um clima de mal-estar no Brasil, o que vai respingar na presidente, por ora "au-dessus de la mêlée", longe da confusão.

A pancadaria da polícia alckmista transformou um movimento diminuto em estrela da TV e das "redes sociais", criou movimentos replicantes e convocou passantes e desatentos a protestar contra a repressão bárbara e outras insatisfações de cada um nesta São Paulo tensa de trânsito ruim, latrocidas, trens quebrados e gente entuchada como gado nos metrôs e ônibus.

Mas passemos. O caso aqui é a saída pelos fundos do governo Dilma. Um bom fabricante de discursos presidenciais poderia ter induzido a presidente a dizer que o governo procurou proteger a economia dos efeitos piores ou ainda incertos da "crise internacional" nos primeiros dois anos e preparava as condições para uma "nova rodada" de investimentos privados. Ao mesmo tempo, a presidente poderia ter ideias novas e boas e tentar reconstruir as pontes com o setor privado, muitas delas queimadas.

Mas não. O governo falsifica até o metro que propôs para medir seu sucesso ou metas. Tomou posse prevendo crescimento médio de 5,9% ao ano no primeiro mandato. Baixou a bola para 4,5% para o primeiro ano, 2011. Depois a meta passou a ser 4%. Em 2013, cresceríamos pelo menos 3,5%. Na média dos anos Dilma, vai ser enfim difícil passar de 2,5% ao ano.

Uns 2,5% ao ano não é lá uma catástrofe, mas um vexame, dadas as ambições iniciais. Mais importante, é difícil achar "terroristas informativos" por aí.

As principais equipes de analistas econômicos privados nem espinafraram a política econômica do governo Dilma (em público, em documentos oficiais, quero dizer).

Tentaram entender os métodos iniciais declarados (que em 2011 até faziam sentido), apontaram incoerências elementares e, depois, como qualquer observador de bom-senso, notaram até discretamente que o gato despencava do telhado.

Em 2011, de resto, empresários e financistas tinham até grande boa vontade com Dilma, muitos deles felizes por se verem livre de Lula. Foi a presidente que queimou pontes a troco de nada, de nenhum objetivo maior. O investimento minguou, os bancos privados foram para a retranca e o país passou a se arrastar, não apenas, claro, por falta de "confiança". Mas os chutes na canela contribuíram para a retirada empresarial.

De resto, se queres um monumento, olha em torno; o rei está peladão. A realidade, e não os terroristas, informa que a inflação da comida chegou a subir quase o dobro dos salários, o crescimento do país vai ficar engasgado pelo menos até 2015, a infraestrutura é a ruína habitual etc.

Ainda há tempo - GUSTAVO LOYOLA

Valor Econômico - 18/06


Os fortes realinhamentos nos preços dos ativos financeiros nas últimas semanas não deveriam ser vistos sob uma ótica negativa. Afinal de contas, por trás desse movimento está a perspectiva de mudança de sinal da política monetária americana como consequência dos indicadores de recuperação da maior economia do mundo. Sendo assim, absorvidos os efeitos da volatilidade de mercado nessa fase de transição, seria de se esperar que a normalização da economia dos EUA trouxesse benefícios em escala global, impactando positivamente países como o Brasil.

Assim, o movimento de depreciação do real frente ao dólar americano observado nas últimas semanas é parte do realinhamento de preços iniciado diante das expectativas de reversão da política expansionista do Fed. Tipicamente, trata-se de reação a mudanças de fundamentos que não deveria, a princípio, constituir-se em obstáculo para a gestão macroeconômica no Brasil, desde que esta estivesse fundada na responsabilidade fiscal e na observância estrita do regime de metas para inflação.

Ocorre que a política macroeconômica no Brasil sofreu acelerada deterioração nos últimos dois anos, desde a adoção pelo Ministério da Fazenda da chamada "nova matriz econômica" que substituiu o tripé virtuoso - regime de metas, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal - por uma política que engloba juros baixos, expansão fiscal e moeda depreciada, combinados com incentivos creditícios generalizados com recursos do Tesouro. Centrada em estímulos à demanda, essa política trouxe fortes desequilíbrios à economia, o mais perverso deles sendo a manutenção da inflação em patamar excessivamente elevado em todo o período. Além disso, a "nova matriz" mostrou-se impotente para reativar a economia, pois não ataca os verdadeiros gargalos ao crescimento.

Dessa maneira, um realinhamento que deveria ter características benignas para o Brasil ameaça trazer dificuldades maiores para o país, já que coincide com uma percepção crescente de risco com a gestão macroeconômica do governo Dilma, como indica a mudança recente de perspectiva para o "rating" soberano pela agência Standard & Poor"s. Assim, a recuperação da economia dos EUA - que é uma oportunidade para o Brasil - acaba sendo vista como um risco, por conta dos equívocos da nossa própria política macroeconômica.

Contudo, a batalha não está perdida. Ao contrário, o Brasil ainda tem suficiente margem de manobra para enfrentar com sucesso o atual período de volatilidade nos mercados e de se beneficiar da nova realidade do pós-crise nos EUA. Basta abandonar as veleidades da "nova matriz econômica" e voltar ao porto seguro do tripé das políticas que asseguraram a estabilização da economia e a superação de suas principais vulnerabilidades -- fiscal e externa - nos quinze anos que se seguiram ao Plano Real.

Nesse sentido, as decisões mais recentes do Copom são alentadoras. Mostram uma autoridade monetária preocupada com a inflação, aliás, em sintonia com a sociedade brasileira cuja insatisfação com o processo inflacionário restou demonstrada em pesquisas de opinião divulgadas na semana passada. Porém, é necessário que o BC siga nos próximos meses reconstruindo sua credibilidade que ficou abalada pela piora das expectativas de inflação e pelas sucessivas e indevidas interferências de outras esferas de governo em seu campo de atividade. A convergência das expectativas futuras de inflação para o centro da meta será, a meu ver, o termômetro da recuperação da credibilidade do BC, essencial na conduta da política monetária.

Igualmente no sentido positivo deve ser mencionado o abandono das medidas administrativas restritivas no mercado de câmbio. Com isso, espera-se que o regime volte a ser o de câmbio flutuante, o que me parece fundamental para ajudar o país a absorver sem maiores traumas as ondas de choque geradas pelas mudanças na política monetária nos EUA. As intervenções do BC nesse mercado devem ter por objetivo diminuir a volatilidade excessiva, mas não o de se contrapor à tendência de apreciação do dólar americano, que tem por base uma mudança nos fundamentos.

Se nos campos da política monetária e cambial os sinais são positivos, o mesmo não pode ser dito no caso da política fiscal. Ao contrário, o governo continua insistindo em malabarismos contábeis e no afrouxamento da austeridade nas contas públicas, seja na esfera federal, seja nas esferas estadual e municipal. A recentíssima Medida Provisória nº 618 é prova disso. Numa mesma MP, o governo adotou um casuísmo para beneficiar a prefeitura paulistana, realizou novo aporte ao BNDES e adquiriu créditos realizados com recursos do FGTS, numa verdadeira salada mista de prodigalidade fiscal.

Contudo, ainda há tempo para retorno às políticas macroeconômicas responsáveis. O nó górdio está na gestão fiscal, onde continua predominando uma visão expansionista e de pouca transparência. Se não houver o abandono dessa política, não apenas o Brasil continuará perdendo sua credibilidade perante os investidores internacionais, como principalmente estaremos presos numa armadilha de baixo crescimento, notadamente em razão dos sinais opostos das políticas monetária e fiscal e pela ausência de políticas estruturadas para o enfrentamento das restrições de oferta há muito presentes em nossa economia.

Retrato argentino - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/06

ÁLVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIEIRO - INTERINOS

Quem olha para os números da Argentina se pergunta como o país pôde crescer tanto na última década. Foi a uma média de 8,5%, entre 2002 e 2008, e de 9%, entre 2010 e 2011. Só foi mal em 2009. Há várias respostas: o crescimento do Brasil beneficiou os argentinos; o calote dado por eles reduziu a dívida pública e permitiu novos gastos; houve reposição de capacidade ociosa. Tudo tinha prazo para acabar. E acabou.

Gustavo Loyola, sócioda Tendências Consultoria e ex-presidente do Banco Central, e o economista uruguaio Arturo Porzecanski, professor da American University, participaram de mesa-redonda para discutir as relações comerciais entre o Brasil e o país vizinho. Fizeram um raio -x da economia argentina e a piora macroeconômica de nosso terceiro principal parceiro comercial saltou aos olhos.

Depois de crescer 1,9% em 2012, as projeções são de um PIB de 1,5% na Argentina este ano e de 2% em 2014. A inflação oficial está em torno de 10%, mas a que é calculada por economistas privados passa de 20%. O governo tem déficit fiscal primário, ou seja, fecha no vermelho mesmo excluindo gastos com juros. A conta corrente, depois de ter superávit de mais de 5% do PIB em 2010, foi para o negativo no ano passado. Voltou para o positivo, mas continua abaixo de 1%.

Os desajustes não param por aí. A indústria argentina chegou a crescer 10% em um ritmo de 12 meses, em 2010. Agora, está em recessão, na mesma base de comparação. As reservas internacionais superaram US$ 50 bilhões, em 2010, mas caíram para US$ 38 bi este ano. Cerca de US$ 8 bi poderão ser usados pelo governo para financiar as contas públicas este ano. A diferença entre o dólar oficial e o paralelo chegou a 80% e o medo de ficar sem moeda impôs restrição às importações.

Loyola e Porzecanski avaliam que todo esse desajuste macro afeta diretamente o Brasil.

— A Argentina é um dos poucos países do mundo que compram manufaturados do Brasil, principalmente automóveis. A crise cambial tem restringido importações e afetado a nossa indústria — disse Loyola.
Porzecanski enxerga uma piora institucional: restrição à imprensa e pressão sobre o Judiciário. Acha que é hora de o Brasil buscar outros parceiros:
— O Brasil está com a reputação prejudicada internacionalmente por causa das companhias, especialmente, Argentina e Venezuela. Chegou a hora de se distanciar desses dois.

Mercosul sem estratégia externa
O economista Mauricio Claverí, coordenador de Comércio Exterior da consultoria argentina Abeceb, avalia que o Mercosul precisa definir uma estratégia de relacionamento externo, para fazer frente aos novos acordos feitos pelo mundo. A dificuldade, segundo ele, é que Brasil e Argentina são países industrializados, mais sensíveis a uma abertura comercial. É o contrário do que acontece, segundo Claverí, com os países da Aliança do Pacífico, formada por Peru, Colômbia, Chile e México, que são, em sua maioria, exportadores de matéria-prima.

Vários índices para uma inflação
Na avaliação do economista Mariano Lamothe, gerente de análise econômica da consultoria argentina Abeceb, a inflação do país fechará o ano na faixa de 25%, muito acima da taxa oficial do governo, que está em torno de 10%. Ele explica que além do índice criado recentemente em Buenos Aires, várias outras províncias, como Santa Fé e San Luís, também fazem seus cálculos. A dificuldade de comparar os indicadores é que o Indec — o IBGE de lá — não divulga a abertura dos números. Há 500 produtos com preços congelados no país.

Novo calote agravaria o quadro
O governo argentino pode dar um novo calote em sua dívida, caso a Justiça americana decida a favor de credores que não aceitaram a reestruturação feita em 2001. “A presidente Cristina Kirchner já avisou que não vai aceitar a decisão, se for desfavorável. Isso significaria menos entrada de capitais na Argentina, maior restrição a importações. Afetaria indiretamente o Brasil", disse Porzecanski.

Não é o que parece - ANTONIO DELFIM NETTO

Valor Econômico - 18/06

Como tem feito nos últimos anos, o Pew Research Center divulgou, em 23 de maio, os resultados de sua pesquisa sobre como os cidadãos de 39 países "sentem" as suas vidas e explicitam suas esperanças sobre o futuro próximo. O levantamento ouviu nada menos do que 37.653 pessoas no período de 2 de março a 1º de maio de 2013.

No Brasil, uma amostra estratificada pelas cinco regiões, e pelo tamanho dos municípios, pôs em contato físico com os pesquisadores, entre 4 de março e 21 de abril, 900 pessoas adultas. A estimativa do erro amostral é de mais ou menos 4,1%. Em todos os países o levantamento tem erro amostral relativamente próximo, de forma que as porcentagens das respostas podem ser diretamente comparadas.

O Brasil sai bem na fotografia. O fato mais interessante é que os resultados da pesquisa contrariam as expectativas pessimistas que hoje parecem prevalecer em amplos setores da sociedade brasileira. Qual seria um indicador das expectativas mais profundas de qualquer cidadão? É difícil dizer. Provavelmente, entretanto, ninguém recusaria que a resposta à questão: "Quais suas esperanças para o nível de bem estar dos seus filhos: será ele melhor ou pior do que o seu?" contém uma informação importante sobre aquelas expectativas. A resposta no caso brasileiro deixa pouca dúvida, como se vê abaixo.

Das 900 pessoas adultas consultadas em todo o Brasil, 684 diante da sua situação atual e das perspectivas que enxergam para o futuro manifestaram a esperança que o bem-estar dos seus filhos seria melhor do que o seu. É difícil conciliar essa resposta com as manifestações de pessimismo que emanam de alguns setores da sociedade, principalmente o financeiro.

O levantamento da Pew contém outras informações que confirmam aquela esperança. É o caso, por exemplo, das respostas à questão: "Nos próximos 12 meses (de maio de 2013 a abril de 2014), a situação da economia nacional vai melhorar ou piorar?" (veja tabela "Resultados da pesquisa")

Existe uma certa correlação entre as duas respostas, mas a distância do Brasil e da China da mediana dos países emergentes (48, 25 e 17, respectivamente) revela claramente as expectativas mais otimistas dos seus cidadãos. Fato importante é que, quando a pesquisa pergunta se a situação pessoal do entrevistado é boa ou ruim, os aspectos positivos da situação brasileira se destacam, como se observa no quadro abaixo.

Uma questão fundamental revelada pela pesquisa é a sensação generalizada que a organização social em que vivemos, uma economia de mercado controlada pelas finanças (cujo codinome é "capitalismo financeiro"), é portadora de graves problemas de desigualdade, que favorecem os mais ricos. Em 31 dos 39 países participantes da amostra, mais de metade da população considera a desigualdade um grave problema (no Brasil, 75%).

Com algumas exceções, na maioria dos países há a sensação de que o funcionamento do sistema beneficia os mais ricos (no Brasil, 80%). O curioso é que em nenhum deles, com exceção da Alemanha (onde o nível de desigualdade cresceu enormemente), a redistribuição das riquezas é colocada como uma prioridade nacional.

Nessa perspectiva mundial, é difícil dizer que a economia brasileira vai tão mal quanto insistem alguns de nossos analistas financeiros. Temos sim problemas graves que precisam ser enfrentados, o mais importante dos quais é devolver à indústria nacional o vigor que lhe foi tirado por uma política econômica que, descuidadamente, roubou-lhe as condições isonômicas de competição.

A análise histórica dos levantamentos feitos pelo mesmo Pew Research, feitos de 2010 a 2013, deixam, entretanto, uma pequena preocupação. Aos olhos das pessoas consultadas no Brasil, a administração geral do país parece ter sofrido uma ligeira deterioração, ainda que a variação do indicador não seja significativa (tendo em vista os erros de amostragem). A resposta à mesma pergunta feita em todos os anos - "Em geral, você está satisfeito ou não, como as coisas estão indo hoje?" mostra isso (veja tabela "Grau de satisfação").

Falso problema - BENJAMIN STEINBRUCH

FOLHA DE SP - 18/06

Virou moda criticar a opção pelo Mercosul, bloco que nos rende tanta exportação de produtos manufaturados


Está na moda criticar a opção brasileira pelo Mercosul.

Sem dúvida, esse bloco comercial enfrenta problemas, embora não esteja "em coma", como chegou a dizer um articulista.

Há uma crise de confiança entre os países-membros, muitas divergências comerciais envolvem os dois líderes --Brasil e Argentina-- e falta consenso para o ingresso efetivo da Venezuela no grupo, fato que levou à suspensão temporária da participação do Paraguai na organização.

Tudo isso é verdade, mas alguns críticos que sugerem ao Brasil abandonar de vez a união comercial do Sul do continente deveriam primeiro observar alguns números.

Nos últimos dez anos, as exportações do Brasil para os países do Mercosul somaram US$ 169 bilhões. Já as importações totalizaram US$ 123 bilhões, apurando-se, portanto, um superavit nada desprezível de US$ 46 bilhões. Esse saldo é muito maior do que o obtido com os Estados Unidos, de apenas US$ 17,8 bilhões no período. Com a União Europeia, o superavit foi maior, de US$ 71,6 bilhões.

Observe-se, porém, que 91% do total das exportações brasileiras para o Mercosul nesses dez anos, ou US$ 154 bilhões, foram de produtos manufaturados, aqueles que incluem maior valor agregado. Os países do bloco, portanto, são grandes absorvedores de produtos industriais brasileiros.

Para avaliar se esse valor é expressivo, pode-se tomar como referência, novamente, a pauta de exportações para a União Europeia e os EUA. Nenhum dos dois blocos, apesar de seu porte econômico, consegue superar o Mercosul quando se olha para o comércio de manufaturados. A UE importou do Brasil, nos últimos dez anos, US$ 137,9 bilhões em manufaturas. Os EUA, US$ 138,7 bilhões.

Os dois blocos desenvolvidos são grandes importadores de matérias-primas brasileiras, sejam commodities agrícolas ou industriais. Mas não colaboram tanto quanto o Mercosul no resultado comercial na área de manufaturas, a mais cobiçada por qualquer grande país exportador.

O relacionamento comercial brasileiro tem sido, portanto, muito vantajoso com o Mercosul.

Críticos certamente argumentarão que os resultados desfavoráveis na venda de manufaturas à UE e aos EUA decorrem justamente da escolha equivocada feita pelo Brasil ao dar prioridade ao bloco regional. Em razão disso e pelas próprias limitações impostas por normas do Mercosul, o país teria deixado de lado as articulações comerciais com os dois outros blocos.

Essa observação é em parte verdadeira. Mas isso não quer dizer que seja sensato para o Brasil pensar em abandonar um mercado do tamanho do Mercosul.

É difícil encontrar alguém bem informado que apoie incondicionalmente o sistema político atual de Argentina e Venezuela. Mas não quero --e também acho que não devo-- avançar em juízos de valor sobre os governos dos dois países.

É lamentável, porém, que opiniões favoráveis ao abandono do Mercosul se apoiem em razões ideológicas que levem em conta o comportamento conjuntural das atuais administrações desses países. Governos passam e os países ficam e, nessas condições, não faz sentido para o Brasil abandonar posições comerciais estabelecidas em duas grandes economias da América do Sul por problemas passageiros.

É fato que esses países vizinhos são dois grandes mercados naturais para os produtos industriais brasileiros e representam uma oportunidade de negócios que não pode ser subestimada.

Na semana passada, a Fiesp concluiu o documento "Agenda para a Integração Externa", que aborda esse tema com a necessária sensatez.

Em um relatório de 19 páginas, sustenta que o Mercosul é um "falso problema", porque a participação do Brasil nessa entidade regional não impede o país de realizar acordos preferenciais de comércio.

A ideia é que o Brasil lidere uma ação, dentro do bloco, para a negociação desses acordos. Para isso, seria necessário reformar o Mercosul e flexibilizar algumas de suas regras e não desmontar o bloco.

O documento da Fiesp não se restringe ao Mercosul. Propõe um novo caminho para promover a competitividade do Brasil por meio da integração econômica com o mundo. Tudo isso sem radicalismos, com aprofundamento das parcerias já existentes e construção de novas.