sábado, março 23, 2013

FHC na ABL - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 23/03

O acadêmico Marcos Vilaça lidera um movimento que pretende lançar a candidatura de Fernando Henrique para a Academia Brasileira de Letras.

É para a cadeira vaga com a morte, ontem, do escritor João de Scantimburgo.

BNDES de exportação
Michael Froman, um dos principais assessores do presidente Barack Obama, esteve esta semana no BNDES.

Veio entender como funciona o nosso banco de desenvolvimento.

É que...
O governo Obama pretende lançar linhas de financiamento de longo prazo para investimentos em infraestrutura.

Caso médico
Wasmália Bivar, primeira mulher a comandar o IBGE, afastou-se ontem da presidência. Um comunicado interno avisou aos funcionários que ela sai por motivos de saúde. Assume no seu lugar o diretor executivo Nuno Bittencourt.

Cloro-soda
A Unipar negocia a compra da participação de 50% da americana Occidental na Carbocloro Indústrias Químicas, uma das maiores produtoras de cloro-soda do país, com receita anual próxima de R$1 bilhão. Valor do negócio: R$ 550 milhões.

Mais um...
A Multiplan quer comprar 70% do shopping paulista Anália Franco. Coisa de uns R$ 600 milhões.

Barra veste Prada
A Prada abre no Village Mall, no Rio, em meados de abril.

Fora, Feliciano
Quinta à noite, no Circo Voador, no Rio, quando Caetano Veloso cantou a música “Odeio você”, o público começou a gritar “Feliciano, Feliciano”, numa referência ao polêmico presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Show que segue...
Aliás, Maria Gadú levou um quadro imenso para o show de Caetano. Era um desenho dela com ele.

Mulher aos 90
Bibi Ferreira, a grande dama do teatro brasileiro, 92 anos, recebeu da revista “Trip” o convite para um ensaio, digamos, sensual.

Por conta da atribulada agenda de shows, ela ainda não deu o sinal verde. Mas gostou da ideia, pois acha que, aos 90 anos, a mulher pode ter vitalidade e ser sensual.

Aliás...
Bibi não para: vai acabar de gravar o seu próximo DVD, no fim de semana, em Belo Horizonte, e se prepara para estrear em Nova York, em abril, no Lincoln Center.

Peso pena
O Hospital estadual Carlos Chagas bateu recorde brasileiro em cirurgias bariátricas. Em dois anos, 500 pacientes foram operados pelo cirurgião Cid Pitombo, totalizando 3,5 toneladas de peso perdido.

Crime na ‘rave’
Lembra-se do assassinato do policial federal de Manaus Humberto Barrense, de férias no Rio, numa festa “rave” na Marina da Glória, em fevereiro de 2010?

No dia 1º de abril — não é mentira! — está marcada a audiência para ouvir testemunhas do processo em que o policial federal Leonardo Schmitt e o empresário Pedro Maia Schmitt são acusados da morte.

Última forma
O Fashion Rio deve ser na Marina da Glória.

Batman do mal
É segunda agora a audiência, por videoconferência, dos milicianos Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, e André Luiz da Silva Malvar, na 2ª Vara Criminal do Rio.

Eles estão no presídio federal de Mato Grosso do Sul, e a vinda ao Rio foi considerada arriscada para a segurança pública.

Calma, gente!
Ontem, por volta das 20h, na estação Botafogo do metrô, a disputa por uma vaga no banco terminou em agressão. Ao tentar garantir o lugar para um amigo, um rapaz homossexual levou uma bofetada de um passageiro. A confusão só acabou quando os seguranças do metrô retiraram o agressor do vagão.

Cena carioca
Um grupo de senhorezinhos, todos acima de 75 anos, reúne-se toda semana, no McDonald’s do Largo do Machado, para ler poesias. Não é fofo?

QUE BELEZA DE MORENA
Nanda Costa, a bela atriz de 27 anos que vive a sofrida protagonista Morena, em “Salve Jorge”, trama da querida Glória Perez, posa toda-toda nos bastidores da TV Globo. Sofre não, Nanda!

Templo de guerra - CLÁUDIA LAITANO

ZERO HORA - 23/03

Um dos últimos vídeos da rapaziada do Porta dos Fundos, grupo de comediantes que se tornou um fenômeno de público na internet, mostra uma moça chegando ao céu e descobrindo, para seu espanto, que o Deus verdadeiro não era o dos cristãos, muçulmanos ou judeus, mas uma divindade de pouquíssimo ibope adorada apenas numa remota ilha da Polinésia. Resignada a passar o resto dos seus dias no inferno por ter seguido a religião errada, a moça faz apenas um pedido à divindade que a recebeu no além:

– Será que eu podia dar essa notícia para o Malafaia quando ele chegar por aqui?

Fazer piada com religião dos outros ou mesmo falar sobre o assunto de forma excessivamente ostensiva já foi tabu no Brasil. Não mais. Nos últimos anos, temos assistido a um inédito acirramento de ânimos religiosos, o que dá origem não apenas a piadas e provocações mútuas, mas a uma certa dificuldade de manter a conversa num tom respeitoso.

Está ficando cada vez mais distante aquele tipo de arranjo social, tão à moda brasileira, em que católicos, evangélicos, espíritas, judeus e ateus esforçavam-se em acomodar seus credos e não credos em uma grande faixa intermediária distante dos extremos.

A presença de grupos religiosos articulados no Congresso Nacional parece ter precipitado esse clima de confronto. A fé instalou-se no centro de debates que envolvem não apenas convicções religiosas, mas uma determinada visão de Estado.

A chamada Frente Parlamentar Evangélica, que reúne 68 deputados, tem se articulado para votar em bloco segundo suas convicções. Para efeito de equilíbrio de forças, o ideal seria que membros de diferentes partidos conseguissem colocar em pé uma espécie de “Frente Laica”, com o mesmo tipo de organização e disposição para o debate. Infelizmente, é pouco provável que isso aconteça enquanto a sociedade civil não abraçar a ideia do Estado laico com a mesma determinação e diligência demonstrada pelo lobby religioso.

Manifestações recentes como a do Conselho Federal de Psicologia, que deixou claro que a “cura gay” não é apenas uma picaretagem, mas uma prática intolerável na profissão, e do Conselho Federal de Medicina, que esta semana pediu a alteração do Código Penal para que as mulheres tenham o direito de realizar o aborto até a 12ª semana de gestação, são fundamentais para enriquecer o debate com posições divergentes.

De um jeito talvez um pouco torto, a ruidosa bancada evangélica está obrigando o Brasil a sair da confortável, porém preguiçosa, posição de acomodação diante de alguns assuntos mais polêmicos. Quem está convencido de que a legislação sobre o aborto no país é arcaica ou que os casais homossexuais deveriam ter os mesmos direitos que os outros já não pode se dar ao luxo de ficar em silêncio. É preciso falar pública e enfaticamente sobre isso – e votar em políticos que se comprometam com essas causas.

Se Deus é polinésio, universal ou não existe é uma questão que cada um vai resolver intimamente da forma que puder. Quando entra no debate político, porém, a religião deixa de ser assunto privado, expondo-se àquele tipo de questionamento do qual se manteria resguardada se ficasse restrita ao plano da orientação espiritual.

O triunfo da Samsung - CORA RÓNAI

O GLOBO - 23/03
Só se falou do Galaxy S4 esta semana, e a Apple, que não nasceu para ser humilde, vem esperneando 

Não teve para ninguém: a semana foi da Samsung e de seu Galaxy S4. O lançamento deste novo topo de linha fez tanto sucesso que já existem analistas prevendo que a empresa coreana vai crescer ainda mais em 2013 do que cresceu em 2012 - o que não é pouca coisa, considerando-se que, ano passado, ela se firmou como a maior fabricante de celulares do mundo, atingindo uma fatia de mercado de 29% (em segundo e terceiro lugares estão Nokia, com 24%, e Apple, com 10%). 

O fato é que, de todos os fabricantes de celulares, a Samsung é a mais interessante de se observar atualmente. A Apple também pensa assim, e está numa posição defensiva escancarada: atacou o Android um dia antes do lançamento do S4 e, dois dias depois, pôs no seu site uma campanha chamada "Why iPhone" (apple.com/iphone/why-iphone/), explicando porque o iPhone 5 é o rei do bairro chinês. Há um ou dois anos, quando todo mundo concordava com isso, essa seria uma campanha desnecessária - e impensável. Mas a Apple não nasceu para ser humilde e, até aqui, suas jogadas não passaram de gol contra. Entre outras tiradas, Phil Schiller, seu vice-presidente, deu a entender que o novo aparelho da Samsung chegaria ao mercado com um sistema operacional defasado: errou feio, errou rude! O S4 chegou com uma versão do Jelly Bean tinindo de nova. A bravata pegou mal para a Apple. Muito mal. 

Enquanto isso, a Samsung nada de braçada no que é, sem dúvida, o seu melhor momento até aqui. A empresa sempre foi boa de celulares, mesmo nos tempos da telefonia a vapor: seu SPH-M100, o famoso UpRoar, lançado em 2000, foi o primeiro do mundo a lidar com MP3. Não cheguei a conhecê-lo em pessoa mas, pouco depois, tive, em sequência, dois Samsungs marcantes - o P400, de 2003, um flip com tela basculante, e o D500, de 2004, um dos aparelhos de que mais gostei até hoje sob todos os aspectos, do design ergonômico ao software simpático. O P400 se perdeu na poeira da estrada, mas o D500 está na minha coleção, e permanece bonito até hoje. 

Foi na Era Android, porém, que a Samsung se lançou ao estrelato. Seu crescente sucesso na área de smartphones coincidiu com o declínio da Nokia; na verdade, as posições que a coreana galgou no mercado foram perdidas pela finlandesa. A concorrência está longe: Nokia e Apple trabalham com sistemas operacionais diferentes, e a ZTE e a LG, que ocupam a quarta e a quinta posição mundial, e que também fabricam Androids, têm, respectivamente, 6% e 4% de market share. 

Enquanto isso, no lado extravagante do mundo, a Vertu - lembram dela? - lançou um smartphone ao precinho camarada de... US$ 10 mil! O aparelho de titânio tem tela com cristal de safira, acabamento em couro de jacaré, rubis incrustados e tudo o que um ser humano definitivamente não precisa num celular; por outro lado, o novíssimo modelo Ti vem com o já antigo Android ICS. Tem gente que confunde mesmo as prioridades... 

Até o ano passado a Vertu pertencia à Nokia; agora pertence a um conglomerado inglês. A ideia por trás dos seus cafoníssimos celulares é impressionar o mundo: ela já teve um modelo vendido a mais de US$ 300 mil, o Signature Cobra, todo em ouro e brilhantes. 

Para que seus clientes não passem por completos idiotas, porém, a Vertu alardeia o seu serviço de concierge, através do qual os usuários podem marcar viagens, pedir dicas de hotéis e restaurantes, reservar lugares em espetáculos e assim por diante. Muito útil para nós, pobres mortais, mas desnecessário para quem pode dar R$ 20 mil num celular defasado - e, provavelmente, tem uma quantidade de assistentes na retaguarda. 

Nunca foi fácil pra ninguém - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 23/03

As mulheres descobrem cedo que nós, homens, somos bobos. O que não sabem é que nossa bobeira atinge um pico entre 14 e 17 anos de idade, quando, devido a um desequilíbrio hormonal e certamente seguindo todos os versículos da teoria da evolução, ficamos assombrados por uma ideia fixa, antes secundária: desvendar as mulheres.

Antes dos 14 anos, nós as ignoramos. A não ser aquela que joga um bolão, bate com as suas pernas, cobra lateral, escanteio, desarma, dá o sangue pelo time e carrinho sem ser expulsa. Depois, observamos o arredondamento das formas e o desenvolvimento da forma labiríntica do pensamento feminino, raciocínio peculiar dominado por tramas, ritos e códigos secretos.

Passamos então a sentir algo muito diferente. Quer dizer, não nós, mas nosso corpo indomável, tomado por um desejo que muda a rotina e todo um projeto de vida. Nos transformamos num ser indescritível repleto de acne que cobiça todas, a professora de religião, de violão, particular ou não, a tia do amigo, a irmã do inimigo, a maluca da rua, a chapeira da lanchonete, a balconista da padoca, a vizinha, a motorista da van, a babá do priminho, uma amiga, a amiga da amiga, a rival da amiga, as invejadas pela amiga, enquanto secretam pelo hipotalo, cada vez mais, fatores que liberam hormônios que induzem a hipófise a liberar folículo estimulante, ativando a produção de testosterona pelas células intersticiais dos testiculosas, droga poderosa que intoxica os pensamentos, a fé, os princípios religiosos, explicação química para o popular "tesão", que Freud definiu como a libido que se desenvolve por fases desde a infância, etapas características do desenvolvimento, começando pela oral, anal, fálica, edipiana, até, ufa!, a genital.

Como as garotas de 14 anos, assim como as de 15 e 16, não dão a menor bola para os garotos da mesma idade e preferem aqueles caras que jogam rugby enquanto decidem qual faculdade cursar, nos dividimos em castas de fracassados, extravasamos a energia acumulada em outras experiências: xadrez, fliperama, álbuns de figurinha, aeromodelismo, coleção de super-heróis, pensamentos impuros, vandalismos em vasos sanitários ou poemas sujos, difamações e ilustrações eróticas em portas de banheiro, sem contar aqueles que não saíam do banheiro.

No meu caso, me juntei a um grupo conhecido como "comunistas". Aqueles desenganados que ficavam numa sala entulhada chamada Centro Acadêmico, ou "centrinho", que imprimia o jornal da escola que quase ninguém lia, atordoados em crise que encontram no existencialismo explicação e consolo para a falta de explicação para nossa existência e, vingança, as delas.

Dos 14 aos 17 anos, lemos Dostoievski, Kafka, Sartre e Camus, vimos filmes da nouvelle vague. Usávamos gola rolê, cabelos desalinhados, não sabíamos o funcionamento de lâminas de barbear, a não ser quando nos imaginávamos cometendo o suicídio iminente. As mulheres eram tão incompreensíveis quanto alguns diálogos de Godard e letras de Luiz Melodia.

Maconha nos deixava confusos e atrapalhava os infindáveis debates sobre o processo de Josef K, a náusea de Sartre, a dúvida de Ivan Fiodorovitch Karamazov, o crime de Raskólnikov, os efeitos da Revolução Cultural e os rumos da América Latina. Preferíamos a lucidez para desejar a tia do amigo, a irmã do inimigo, a maluca da rua, a amiga da amiga, a rival da amiga, a invejada pelas amigas, Léna Skerla, Yvonne Clech, Mona Dol, Jeanne Moreau, todas em Le Feu Follet (de Louis Malle), Brigitte Bardot e Jane Birkin, lógico, cantar no chuveiro "je vais, je vais et je viens, entre tes reins, je vais et je viens, entre tes reins, et je me retiens....", e invejar Gainsbourg. Sem desprezar as musas da Bota, Monica Vitti, Silvana Mangano, Claudia Cardinale e a patrícia Sônia Braga.

Claro, começamos a fumar. Uma defesa contra os laços da infantilidade que tentavam nos içar de volta à impuberdade. Cigarro = Rompimento. Buscar aliança e conforto na nicotina. Adquirir o fedor e a brutalidade do universo masculino.

Até a mãe de um amigo rico voltar da França com uma cartela de Gitanes. Que foi afanada e distribuída. Fumamos e guardamos os maços flip-top boxes azuis como um bem precioso. O refil era outro: um estoura-peito nacional. Para, nas festas, suarmos de cashmere e cachecol pelos cantos, encostados nas paredes com nossos falsos Gitanes, ignorando as garotas, já que nos ignoravam mesmo. Elas eram estúpidas, fúteis, vazias como pedras, e nos davam náuseas. Não nos mereciam. Sem contar que a vida não fazia sentido.

Então, surpresa. Aos 17 anos, umas menininhas mais jovens passaram a nos xavecar. Passaram a nos convidar para fumarmos nossos cigarros falsos no sofá, e não mais servirmos de escora de pilastras, paredes e muros. Nos puxavam para um ritual de acasalamento primitivo e curioso chamado dança. Filavam nossos cigarros fedorentos, nos perguntavam coisas. Disputavam nossa atenção. E nos víamos vítimas dos olhares invejosos dos seus amiguinhos. Nos víamos deixar o navio condenado à deriva dos "losers" para entrar no iate "onássico" em busca de prazeres e praias paradisíacas, experimentar perfumes e peles inacreditavelmente suaves e bem tratadas.

Coladinhos, um pra lá e dois pra cá, sentíamos seus peitinhos esmagados nos nossos, suas coxas se enroscando nas nossas, suas bundinhas duras esbarrando, provocando reações. Elas sentiam volumes que surgiam e desapareciam graças a seus esforços. Dependia da posição, da pressão de seus corpos, do suingue. Elas se deslumbravam pelo poder que tinham sobre um membro que era nosso! Sentíamos suas mãos acariciando nossas nucas, costas, coxas. E enfim lábios delicados, desesperados, inexperientes, línguas insanas, gemidos. Descobríamos juntos o complexo jogo do querer e não poder, ter que esperar, controlar. E de algo mais familiar nas mulheres, a culpa!

Porém, tinha muito rancor acumulado. Anos de desprezo não seriam reparados numa festinha de luz apagada com Je T’Aime – Moi Non Plu na vitrola. No mais, éramos a fim mesmo das suas irmãs mais velhas, que a essa altura rompiam barreiras e navegavam mares mais turbulentos do sexo sem culpa, fecundo e consentido. Vingança boba. Bobeira masculina. O darwinismo deve explicar tudo isso. Pois dependendo dos existencialistas...

Herói em surdina - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 23/03

RIO DE JANEIRO - Em 1930, se a ideia tivesse ocorrido a alguém, seria possível reunir na mesma sala no Rio, e ao redor do mesmo piano, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Freire Junior, Eduardo Souto, Augusto Vasseur, Henrique Vogeler, Joubert de Carvalho, Sinhô, Ary Barroso, Nonô, Radamés Gnattali, Custodio Mesquita, Gadé, Vadico e Carolina Cardoso de Menezes. E se Zequinha de Abreu, que morava em São Paulo, estivesse no Rio, de visita, melhor ainda. Teríamos, ali, o estado-maior do piano brasileiro.

Todos eram grandes pianistas e estavam vivos e ativos. Mas não por muito tempo: Sinhô morreria em agosto, aos 41 anos; Nazareth, em 1934, aos 70; e Chiquinha, em 1935, aos 87. A maioria já prestara grandes serviços à música popular.

Outros começavam bem -Ary, Radamés, Custodio, Gadé, Vadico- e mesmo Carolina, aos 15 anos, já tinha o que mostrar: em "Na Pavuna", por Almirante, primeiro disco brasileiro a conter percussão de samba, gravado em dezembro de 1929, o piano era ela.

O que teria resultado daquele conclave? Só se pode especular, mas, se a reunião fosse para eleger um deles como o papa do piano e da composição, o carioca Nazareth levaria por unanimidade -o que incluiria o próprio voto. Ele sabia o que valia.

Até hoje, seus mais de 200 "tangos", polcas, valsas e quadrilhas, como "Odeon", "Fon-Fon", "Brejeiro", "Ouro Sobre Azul" e "Apanhei-te Cavaquinho", ficam tão bem numa sala de concerto quanto num pianinho de parede. Nazareth não queria ser dançado, mas ouvido -e como devia doer-lhe ter sido chamado por Mario de Andrade de "anunciador do maxixe".

Os 150 anos de seu nascimento estão sendo lembrados, mas bem ao nosso jeito: intramuros, em surdina. Se o Brasil fosse mais grato a seus heróis, Nazareth já seria biografia, filme, selo, estátua, nome de teatro e cadeira na universidade.

A vida na ponta da faca - SÉGIO AUGUSTO

O ESTADÃO - 23/03

Norman perdeu o pai ainda menino. Encontrou-o morto no chão da garagem. Para superar o trauma e buscar uma nova vida, Norma, mãe de Norman, carregou o filho até uma cidade costeira e lá comprou um motel, que batizou com o nome da família: Bates Motel.

Assim tem início a homônima minissérie que o canal a cabo CW começou a exibir no início desta semana, contando a vida pregressa de Norman Bates e sua macabra Jocasta, agora de carne e osso e interpretada por Vera Farmiga. Do que ocorreu depois que Norman, já adulto, matou a mãe e seu amante, o mundo inteiro tomou conhecimento no filme Psicose. Dos seus antecedentes, só agora saberemos, com detalhes não revelados pela terceira reencarnação da série, também na TV, 23 anos atrás.

Psicose virou uma psicose coletiva, um manjar da crítica, um poço sem fundo de interpretações psicanalíticas, uma mina de incidentes pitorescos. Da instalação conceitual de Douglas Gordon, 24 Hour Psycho, com todo o filme exibido a dois quadros por segundo, sem som, no MoMa, com a qual Don Lillo abre seu último romance aqui traduzido, Ponto Ômega, ao filme (Hitchcock) que Sacha Gervasi extraiu do livro de Stephen Rebello sobre as filmagens de Psicose, publicado pela Intrínseca, nenhuma outra obra do cineasta o supera em popularidade e influência pervasiva sobre o cinema, conforme demonstrado pelo crítico David Thomson nas 183 páginas de The Moment of Psycho, editado há quatro anos pela Basic Books.

A minissérie Bates Motel, em dez capítulos, é o que no jargão do show business americano chamam de prequel. A palavra é tão medonha quanto o seu antônimo, sequel, e não tem tradução em português, embora muitos insistam em traduzi-las por prequela e sequela.

As sequels - e Psicose teve duas e meia - continuam mais numerosas, nos filmes e nos livros, não necessariamente com um "De volta a..." ou alguma indicação numérica no título, mas a incidência de prequels, que só eram novidade quando Wagner compôs O Anel do Nibelungo e Siegfried e C.S. Lewis escreveu As Crônicas de Nárnia, cresceu um bocado nos últimos tempos, sobretudo ao embalo de franquias como Guerra nas Estrelas e pretéritas fantasias em torno de heróis, como Indiana Jones, Super-homem, Sherlock Holmes, sem exclusão de vilões do naipe de Hannibal Lecter, de cuja juventude na Europa nos deu conta o mais recente filme da série.

Paródias, pastiches e recriações correlatas pertencem a outro departamento. Nessa categoria eu poria a saga de ...E o Vento Levou recontada pela meia-irmã de Scarlett O’Hara no romance The Wind Gone Done, de Alice Randall, a história de Lolita por ela própria (Diário de Lo, de Pia Pera), e a aventura de Robinson Crusoe revivida do ponto de vista de Sexta-Feira por Michael Tournier, em Sexta-Feira ou a Vida Selvagem. Há quem os qualifique de "romances paralelos", rótulo satisfatório e igualmente aplicável ao que Jean Rhys fez com Jane Eyre, de Charlotte Brontë, John Updike com Hamlet, Valerie Martin com O Médico e o Monstro e Sena Jeter Naslund com Moby Dick.

Em Vasto Mar de Sargaços, Rhys retoma não a vida de Jane Eyre, mas de seu marido, Rochester, e sua primeira mulher, Antoinette, "a louca do sótão". Em Gertrudes e Cláudio, Updike se fixa no casal traidor e assassino da tragédia shakespeariana. Em Mary Reilly, Martin refaz o drama de Stevenson pelos olhos da criada do dr. Jekyll. Já no título de Ahab’s Wife (A Esposa de Ahab), Naslund revela quem comanda a narrativa de sua "parallel novel" sobre o messiânico comandante da baleeira Pequod.

O mágico e as bruxas de Oz e a "galinha" yuppie Carrie Bradshaw, de Sex and the City, foram as últimas adesões à voga das, vá lá, prequelas. Enquanto Oz, Mágico e Poderoso, dirigido por Sam Raimi, em exibição nestas bandas, investe no passado do prestidigitador vigarista, o musical Wicked, sucesso na Broadway, concentra-se nas bruxas de Oz, antes e depois de Dorothy ser arrastada para além do arco-íris por aquele tornado. Na telessérie The Carrie Diaries, também do canal a cabo CW, somos apresentados à adolescente Carrie Bradshaw, que, para surpresa de ninguém, já era fissurada em sexo quando ainda usava meia soquete.

Voltemos ao passado de Norman, "o anti-Édipo avant la lettre", segundo o lacaniano Slavoj Zizek. Pequenas surpresas alteram os rumos de sua vida e vão lhe deformando o caráter fragilizado pelo tratamento opressivo que lhe dispensa a mãe, sempre com as melhores intenções. Tímido, arredio e emasculado por seu (alter ego? superego? id?) materno, Norman não tinha mesmo escapatória. Um crítico considerou Bates Motel menos um espetáculo de horror do que um Bildungsroman (romance de formação) de um psicopata à beira do matricídio.

Ali pela metade do primeiro episódio, uma cena tão capital quanto a do esfaqueamento de Marion (Janet Leigh) no filme de Hitchcock. Estuprada pelo antigo dono do motel, um beberrão inconformado com a perda do imóvel, Norma só não morre porque Norman chega a tempo de derrubar o brutamontes com um golpe na cabeça. Entre chamar a polícia e despejar no intruso suas acumuladas frustrações (sexuais, inclusive), Norma escolhe enfiar uma faca na barriga do estuprador e dar sumiço no corpo.

"Por que você não chamou a polícia?", pergunta o filho. "Quem iria se hospedar num motel onde houve um estupro e um assassinato?", argumenta a mãe. Estava criado um padrão: o padrão Bates de psicopatia. De mãe para filho há não sei quantos anos.

Quantos anos a minissérie não nos ajuda a calcular, pois toda a ação se passa, estranhamente, nos dias correntes. Ou seja, num pretérito tão imperfeito que virou futuro do pretérito.

Combate às drogas - DRAUZIO VARELLA

FOLHA DE SP - 23/03

Entre o universitário branco de boas posses e o mulato do Capão Redondo, quem irá preso como traficante?


NO COMBATE às drogas ilícitas vamos de mal a bem pior. Até quando insistiremos nesse autoengano policialesco-repressivo-ridículo que corrompe a sociedade e abarrota as cadeias do país?

Faço essa observação, leitor, porque será votado na Câmara um projeto de lei que endurece ainda mais as penas impostas a usuários e traficantes.

Em primeiro lugar, não sejamos ingênuos, a linha que separa essas duas categorias é para lá de nebulosa: quem usa, trafica. O universitário de família privilegiada compra droga só para ele? O menino da periferia resiste à tentação de vender uma parcela da encomenda, para diminuir o custo de sua parte? Como amealha recursos o craqueiro da sarjeta que tem por princípio não roubar nem pedir esmola?

Nas ruas, quem decide como enquadrar o portador de droga apanhado em flagrante é o policial. Entre o universitário branco de boas posses e o mulato do Capão Redondo você consegue adivinhar quem irá preso como traficante?

Embora considerada tolerante, a legislação vigente desde 2006 agravou a situação das cadeias. Naquele ano, foram presos por tráfico 47 mil pessoas, que correspondiam a 14% do total de presos no país. Em 2010, esse número saltou para 106 mil, ou 21% do total.

O projeto a ser votado propõe várias ações controversas, para dizer o mínimo.

Entre elas, a ênfase descabida na internação compulsória, enquanto os estudos mostram que o acompanhamento ambulatorial é a estratégia mais importante para a reinserção familiar e social dos dependentes. Isolá-los só se justifica nos casos extremos em que existe risco de morte.

O projeto propõe uma classificação surrealista das drogas de acordo com sua capacidade de causar dependência, segundo a qual alguém surpreendido com crack seria condenado a pena mais longa do que se carregasse maconha.

No passado, os americanos adotaram lei semelhante, que condenava o vendedor de crack a passar mais tempo na cadeia do que o traficante de cocaína em pó. As contestações judiciais e os problemas práticos foram de tal ordem que a lei foi revogada, há mais de dez anos.

O projeto reserva atenção especial à criação de um incrível "cadastro nacional de usuários". No artigo 16, afirma que "instituições de ensino deverão preencher ficha de notificação, suspeita ou confirmação de uso e dependência de drogas e substâncias entorpecentes para fins de registro, estudo de caso e adoção de medidas legais".

Nossos professores serão recrutados como delatores dos alunos para os quais deveriam servir de exemplo? Os colégios mais caros entregarão os meninos que fumam maconha para inclusão no cadastro nacional e "adoção de medidas legais"?

O mais grave, entretanto, é o endurecimento das penas. Segundo a lei atual, a pena mínima para o fornecedor clássico é de cinco anos; o novo projeto propõe oito anos. Os que forem apanhados com equipamento utilizado no preparo de drogas, apenados com três a dez anos na legislação de hoje, passariam a cumprir de oito a 20 anos. As penas atuais de dois a seis anos dos informantes que trabalham para grupos de traficantes, seriam ampliadas para seis a dez anos. E por aí vai.

Enquanto um assassino covarde responde ao processo em liberdade, quem é preso com droga o faz em regime fechado.

Não quero entrar na discussão de quanto tempo um traficante merece passar na cadeia, estou interessado em saber quanto vamos gastar para enjaulá-los.

Vejam o exemplo do Estado de São Paulo, que conta com 150 penitenciárias e 171 cadeias públicas. Apenas para reduzir a absurda superlotação atual deveríamos construir mais 93 penitenciárias.

Se levarmos em conta que são efetuadas cerca de 120 prisões por dia, enquanto o número de libertações diárias é de apenas cem, concluímos que é necessário construir dois presídios novos a cada três meses.

E a conta vai para as prefeituras - EDUARDO TADEU PEREIRA

O GLOBO - 23/03

Os municípios enfrentam uma série de desafios no âmbito da gestão local que exigem o apoio dos governos federal e estadual para serem solucionados. A saúde é uma das áreas que apresentam os problemas mais complexos nesse aspecto. O tema foi pauta central da última campanha eleitoral, levando os novos gestores a se debruçarem sobre a elaboração de propostas para as necessidades apresentadas pelos eleitores.

A falta de médicos é um dos principais problemas da Saúde que afetam diretamente os municípios e que dependem da atuação de outras esferas de governo para sua resolução. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, há no Brasil 2 médicos para cada mil habitantes, colocando o País em desvantagem em relação a países europeus e latino-americanos, como Cuba (6,39), Grécia (6,04), Uruguai (3,73), França (3,28), Argentina (3,16), Estados Unidos (2,67), entre outros.

A dificuldade dos governos municipais em contratar médicos é crescente e as medidas adotadas no âmbito municipal têm sido em vão. As prefeituras estão recorrendo ao aumento dos salários e concessão de benefícios maiores do que sua capacidade financeira e, mesmo assim, as seleções são encerradas sem o preenchimento das vagas.

Essa realidade mostra a necessidade da criação de políticas nacionais. A Associação Brasileira de Municípios protocolou uma carta à presidente Dilma reivindicando a criação de políticas nacionais como: novas vagas nos cursos de medicina; auxílio da União na fixação de médicos no SUS e autorização para que profissionais formados em universidades de fora do Brasil possam exercer a profissão no País.

O governo federal já articulou algumas delas, como a criação de novas vagas; concessão de bolsas de estudo; e incentivos aos hospitais que criarem novos postos de residência. Porém elas garantirão resultados a longo prazo, e os municípios precisam de uma solução imediata. Por isso, a ABM tem insistido na realização de chamadas internacionais. No Canadá, 22% dos médicos são formados no exterior; e na Austrália, 17%. Isso mostra que a proposta não destoa da conduta adotada pelos países desenvolvidos que tiveram que aumentar a força de trabalho no setor.

A questão da falta de médicos é hoje a pauta central da saúde nacional, porém há outras questões que afetam os municípios, como a escassez de recursos. A União e os estados devem participar de maneira mais efetiva do SUS, aumentando o volume de verba repassado para as prefeituras, que vêm assumindo gradativamente mais obrigações, nessa e em outras áreas, a partir da Constituição de 1988.

O aprimoramento do pacto federativo é fundamental para que os municípios brasileiros superem problemas graves como a falta de médicos e, consequentemente, para o desenvolvimento do Brasil. Por isso, os prefeitos e as prefeitas esperam uma atuação mais efetiva do governo federal na resolução de dilemas que, apesar de estarem fora da governabilidade das administrações municipais, a população cobra das prefeituras.

Uma agenda para a aviação civil - JOSEF BARAT

O ESTADÃO - 23/03

É difícil entender as razões e a persistência dos sucessivos "apagões" na aviação civil. Numa visão mais abrangente, ocorreram no Brasil duas grandes mudanças na regulação do setor. A primeira, nos anos 70, ampliou o intervencionismo e a regulação estrita - a chamada "competição controlada" - associados a mecanismos de integração territorial. Asegunda,formuladanos anos 90, instituiu políticas mais flexíveis, com vistas a um ambiente de maior liberdade na fixação de tarifas, frequências e operação de rotas, entrada de novas empresas e exploração de novos nichos de mercado.

A globalização impôs à aviação mundial mudanças nos padrões de competitividade. No Brasil, a estabilização monetária e o aumento do poder aquisitivo favoreceram um crescimento sem precedentes da demanda, num ambiente mais competitivo. Adireção foi oposta à antiga tradição intervencionista, baseada em rígidos controles de oferta e de preços. A criação de malhas integradas propiciouoperações centradas em aeroportos aglutinadores, racionalizando a oferta, dando melhorutilização às aeronaves, reduzindo custos operacionais e, pois, elevando a produtividade. Houve, ainda, o declínio sistemático das tarifas no longo prazo e facilidades de aquisição das passagens aéreas, pela ampliação do crédito e uso dos meios eletrônicos. Saíram de cena as empresas protegidas pelas reservas de mercado, cedendo lugar a um novo modelo de gestão empresarial, de alta produtividade.

Os sucessivos "apagões" mostraram, no entanto, que tais mudanças não foram acompanhadas de políticas públicas consistentes e planejamento para a aviação civil como um todo. Tomaram-se evidentes as graves deficiências, físicas e operacionais, nas infraestruturas aeroportuária e aeronáutica; os problemas de gestão aeroportuária; e a fragilidade institucional, especialmente na regulação. Assim, o crescimento persistente da demanda por voos domésticos e internacionais em porcentuais acima de 2 dígitos esbarrou nesses gargalos. Tratando-se de um sistema complexo e altamente integrado, a limitação de capacidade em cada um dos segmentos interferiu no desempenho dos demais, tomando as responsabilidades difusas.

Na aviação civil as infraestruturas são, hoje, limitadoras do crescimento. Por não terem acompanhado as novas formas de operação, o sistema como um todo corre o risco contínuo de colapso. O fato é que os aeroportos mais importantes do País não tiveram ampliações significativas em suas instalações, e muitos operam no limite das suas capacidades. Se, de um lado, a disponibilidade financeira da Infraero foi insuficiente para fazer frente aos investimentos necessários, de outro, a empresa foi alvo de fortes pressões político-partidrias para definir suas prioridades. O resultado foi a excessiva dispersão de recursos, ou seja, as decisões de investir acabaram por não corresponder às reais necessidades da demanda. Por isso, são preocupantes as condições operacionais dos principais aeroportos, nos quais o nível de útilização das instalações suplanta sistematicamente a margem dos 80% da capacidade, além dos casos críticos, em que os níveis chegam a superar a capacidade instalada.

Em suma, estes são os fatores que restringirão a expansão da aviação civil: os gargalos nas infraestruturas aeroportuária e aeronáutica; a grave escassez de recursos humanos qualificados nos diversos segmentos; e a elevada carga tributária imposta à cadeia produtiva do transporte aéreo. Para o govemo,o grande desafio é o de dotar o País de planos e políticas para a aviação civil, num horizonte de30 anos, sobretudo uma regulação econômica que balize a evolução dos mercados internacional, doméstico e regional. O Código Brasileiro de Aeronáutica é obsoleto e não atende às necessidades da regulação. A Infraero precisa orientar melhor suas prioridades, sem dispersar recursos. E, evidentemente, deverá ser ampliado - de forma mais competente - o escopo das concessões para a infraestrutura aeroportuária. Uma boa agenda para mudanças.


O PESO DA ALIANÇA - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 23/03

É de se estranhar a estranheza com que “a imprensa do Sul” — assim chamados pelos nordestinos os jornais do Rio e São Paulo — está tratando o rega-bofe de hoje entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o senador Jarbas Vasconcelos.

Primeiro, desde que fizeram as pazes, no ano passado, em outro grande furo desta coluna, o que Dudu e Jarbas mais têm feito juntos é se reunirem em torno de um prato de comida. Portanto, o cozido de hoje é mais um, entre as 15 feijoadas e 20 churrascos consumidos pelos dois ao longo de quase um ano.

Aliás, se a união das duas maiores lideranças políticas de Pernambuco dependesse desse cozido de hoje, Dilma já estaria reeleita. Em descrição precisa, o repórter Daniel Carvalho informou que a iguaria do Jarbas é toda tradicional, feita com “carnes de segunda”, tão diferente do que conhecemos hoje.

Ou seja, não seria com pé de porco, toucinho, músculos e rabadas que o jovem governador de hábitos sofisticados oficializaria sua aliança com Jarbas.

Raposa dada
Hoje é dia de Eduardo Campos. E a presidente Dilma deu ontem uma mãozinha à candidatura do governador. Bateu martelo: o PR vai continuar mesmo com o Ministério dos Transportes.

Já não é nem mais o caso de dar o galinheiro à raposa. Mas o de dar a raposa ao galinheiro. 

Tempo precioso
Campos mandou intermediário dizer à Dilma que não citou o nome dela quando disse a empresários paulistas que “dá para fazer mais”. Explicou que a crítica era geral, para todos os governantes, inclusive ele.

Dilma ao mensageiro: “Oh, querido, você acha que tenho tempo para perder?”

Palpite
Se fosse repórter de especulação, diria que o representante do PR no Transportes seria César Borges, ex- governador e ex- senador. Ou alguém da sua grei. 

Euforia garantida 

“Pode apostar”, assegura-me assessor da intimidade presidencial. Dilma, na entrega de obras, na segunda, em Serra Talhada, vai tratar Eduardo Campos com a mesma euforia com que recebe Tarso Genro. Se tiver tempo, até leva flores para sua querida amiga “Dona Renata”!

Até setembro
Dilma não fará qualquer gesto contra Campos e determinou que seus ministros também sigam a mesma estratégia, para que o governador não saia da base como vítima.

Até quando? Até setembro, que é o prazo com que todo o palácio trabalha. Acham que esse é o limite do governador.

PT do Pezão
Se eu também não guardasse segredo, diria que o prefeito de Niterói, o vice-prefeito do Rio, Luiz Sérgio e Benedita da Silva são petistas que migrarão para Pezão.

Imparável
Ministros que têm cruzado o Nordeste estão surpresos com o poder de mobilização de Campos. Um deles assistiu, em Natal, à reunião de Campos, ontem, com todos os secretários estaduais envolvidos com o problema da seca, com apoio da CNBB e de sindicalistas.

Sem cuspir no prato
Jarbas Vasconcelos confirma: — Não é só no Nordeste. Em Brasília, a quantidade de senadores e deputados que querem conversar com o governador é imensa.

E considera o mote dado no encontro com empresários um achado: “dá para fazer mais”. — Diz tudo, sem cuspir no prato.

30 dedos
Tem mais dedos do que se imagina na composição dessa reforma ministerial da Dilma. Para ser exato, 30 ao todo. Os dela e os dos ministros Mercadante e Pimentel 

Justiça esguia
Cardozão está numa das suas melhores fases. Fez brilhante discurso no Innovare há dias; perdeu uns 10cm de barriga; reformou o guarda-roupa. Enfim, está um gato! Tudo por uma colega.

Baque duplo
Perder dois personagens exclusivos numa semana só é um baque danado. Eduardo Cunha e Paulo Bernardo, por diferentes razões, é bom que se diga em benefício dos dois, eram, até hoje, figuras recorrentes da coluna.

Sempre sonhei com esta frase: — Eduardo Cunha não é mais problema meu. É da Suprema Corte! Já PB me criou um problema. Se eu critico, estou fazendo o jogo do PT. Elogiar, nem pensar. Não sou oposição. O jeito é calar-me! Como está fazendo a Dilma.

CORPO E ALMA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 23/03

A Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, vai lançar ofensiva publicitária em rádios, jornais, revistas, outdoors e emissoras de TV para "apresentar" a comunidade "à sociedade". Nas peças não serão mostrados bispos nem templos, mas pessoas "comuns" que seguem seus preceitos.

CORPO 2
A publicidade vai mostrar empresários, atletas, jornalistas e advogados, por exemplo, contando suas histórias de vida. No final, todos encerram com a frase: "Eu sou a Universal". A campanha começa na segunda.

QUESTÃO DE ESTADO
E o papa Francisco confirmou viagem a Brasília em julho. Vai se encontrar com a presidente Dilma Rousseff, o que transformará sua vinda ao país, para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio, em visita oficial.

EM OBRA
Dilma Rousseff continuará com o pé na estrada nas próximas semanas. Depois da Páscoa, ela visita Salvador para inaugurar o estádio Fonte Nova, vai ao Ceará para visitar barragens e ao Rio Grande do Norte para ver as obras do projeto Minha Casa, Minha Vida.

EM OBRA 2
Encerrado o roteiro no Nordeste, Dilma segue em outra direção. Vai visitar os três Estados do Sul do país.

CORPINHO DE 50
"É mentira que completei 70 anos", brinca Milton Nascimento. Depois de uma bateria de exames, os médicos do cantor informaram que ele tem a saúde de uma pessoa de 50 anos.

NA SALA DE JANTAR
A israelense Michal Rovner, que participará da SP-Arte, fará uma instalação especial para a casa de Kim Esteve, na Chácara Flora, em São Paulo. É que será na residência do colecionador o jantar oferecido pela galeria Pace, que tem espaços em Nova York, Londres e Pequim, no dia 4, a convidados da feira de arte.

VARELA REEDITADO
Marcelo Tas foi autorizado pelo Ministério da Cultura a captar R$ 600 mil para recuperar os vídeos do repórter Ernesto Varela, seu personagem que fez sucesso nos anos 1980, na TV Gazeta, em parceria com Fernando Meirelles. O material será disponibilizado gratuitamente para consulta na internet. Vai virar livro, DVD e fará parte do acervo da Cinemateca Brasileira.

VARELA REEDITADO 2
Entre o material que será recuperado estão séries de entrevistas na antiga União Soviética, em Cuba e com políticos brasileiros como Lula, Fernando Henrique Cardoso, Marta Suplicy e, claro, Paulo Maluf. "O Malufão é um dos mais presentes", diz Tas.

UMA VERDADE
Os músicos José Miguel Wisnik, Juçara Marçal e Celso Sim participarão amanhã, às 11h, de ato do Dia Internacional do Direito à Verdade, na rua Maria Antônia, em São Paulo.

A Companhia do Latão fará um coro com "As Cinco Dificuldades para Escrever a Verdade", de Brecht. A psicanalista Maria Rita Kehl, da Comissão da Verdade, falará sobre a importância da data.

MULTIPLICARTE
Ana Serra e Renata Castro e Silva, nora da galerista Nara Roesler, resolveram investir no mercado de arte. Elas inauguram na terça a Carbono, em Pinheiros. A galeria terá como foco os trabalhos múltiplos (peças feitas para serem reproduzidas) de 16 artistas, como Waltercio Caldas, Antonio Dias e Paulo Pasta. "O múltiplo democratiza e facilita o acesso às obras de arte", diz Ana.

HOLLYWOOD É AQUI
O ator americano Paul Walker e as modelos Erin Heatherton e Izabel Goulart desfilaram pela Colcci, anteontem, no penúltimo dia da São Paulo Fashion Week. Os atores Tiago Abravanel e Nívea Stelmann e a cantora Alinne Rosa conferiram a coleção.

MÚSICA DO BEM
O jornalista Salomão Schvartzman, Denise Feder e Vera Len estiveram, anteontem, no Theatro Municipal, em concerto beneficente do pianista Arnaldo Cohen e da Orquestra Sinfônica Municipal de SP.

À FRANCESA
O evento Le Brésil Rive Gauche, do Le Bon Marché, em Paris, teve coquetel de lançamento no hotel Fasano. A consulesa francesa Alexandra Loras, a estilista Gilda Midani e a apresentadora Paola de Orleans e Bragança estavam presentes.

CURTO-CIRCUITO
Regina Duarte inicia hoje temporada da peça "Raimunda, Raimunda" no Sesc Ipiranga. 14 anos.

Reinaldo Lourenço e Daslu lançam coleção masculina, a partir das 11h, na loja do Cidade Jardim.

Lígia Cortez recebe o diretor inglês Jonathan Martin para workshop na escola de artes Célia Helena.

Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, recebe prêmio hoje no Fórum Nacional do Varejo, no Guarujá.

Fause Haten faz show do CD "Vício", às 20h, no Itaú Cultural, na Paulista. Livre.

O DJ Renato Ratier, do D-Edge, toca amanhã em duas festas em Miami.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 23/03

RIO QUER EVITAR FIM DAS INDÚSTRIAS PESQUEIRAS
Construção da Cidade da Pesca surge como alternativa para trazer de volta empresas que migraram para outros estados

Para evitar o fim das indústrias de processamento de pescado no Rio, a Secretaria estadual de Pesca (Sedrap) apresentou à Camil Alimentos, última grande do setor em atividade no território fluminense, a criação da Cidade da Pesca. Também tenta atrair investimentos de outras 23 empresas. Se sair do papel, o empreendimento prevê a construção do Terminal Pesqueiro Público e de um condomínio industrial, em área de 800 mil metros quadrados em São Gonçalo. Criaria cerca de cinco mil empregos diretos e indiretos. Dona da marca Coqueiro, a Camil quase trocou o Rio por Itajaí (SC), em 2012. Apesar de o estado ser um dos grandes produtores de pescado do país, Santa Catarina ganhou espaço nos anos 1990, após conceder incentivos e reduzir o ICMS a 1,9%. Hoje, é o principal polo pesqueiro do Brasil. A Ca-mil só ficou porque, em setembro, o Rio reduziu, por cinco anos, o ICMS de 7% para 2,5%. A medida viabilizou a compra de seis equipamentos. Terça passada, o secretário Felipe Peixoto foi a Brasília e conseguiu com o ministro Marcelo Crivella, da Pesca, o compromisso de liberar recursos para estudo socioambiental e de viabilidade econômica dos complexos.

R$ 216 MILHÕES
É o valor que a produção do pescado marinho gerou para a economia do Estado do Rio em 2012.O levantamento Estatística Pesqueira é parceria de Sedrap e Fiperj. Houve alta de 15% sobre 2011.

MAESTRO
“Falando de amor”, canção de Tom Jobim, será a trilha da da ação institucional Nivea Viva deste ano. Vanessa da Mata, que fará uma série de apresentações em seis capitais cantando a obra do maestro, estrela também a campanha. Quem assina é Giovanni+ Draftfcb, com produção da Del icatessen. Estreia em abril. O1º show é no Rio, dia 9 do mês que vem.

BARROCO
A Agilità estreia campanha de inverno hoje. A arte barroca inspirou a coleção, fotografada por Vicente de Paulo na sede da Fiocruz, em Manguinhos. A modelo Luana Teifke está nas imagens, que vão circular em mídia impressa e na web. Dona de seis lojas no Rio e vendida em mais de 250 pontos, a marca espera faturar 20% mais no varejo e 15% mais no atacado.

Em dia
Caiu a taxa de inadimplência dos aluguéis na capital fluminense em 2012, diz o Secovi Rio. O índice de atraso superior a 30 dias fechou o ano em 2,1%. Caiu 1,1 ponto em relação a 2011. O balanço do mercado imobiliário sai na terça.

Aquecido
A taxa de escritórios de alto padrão disponíveis no Rio bateu 8,5% em 2012. A consultoria Colliers atribui o crescimento de 3,1% sobre 2011 à entrega de espaços na Barra. Em bairros como Copacabana e Flamengo a oferta beira zero.

Vezes dois 1
A GoHouse, de locação de imóveis mobiliados, fechou R$ 2 milhões em aluguel nos últimos seis meses. Espera mais que dobrar o resultado até fim de setembro. É efeito de Copa das Confederações, Jornada Mundial da Juventude e Rock in Rio.

Vezes dois 2
A Rubi Engenharia vai lançar oito empreendimentos, todos na Freguesia, este ano. Residenciais e comerciais somarão 1.200 unidades e R$ 350 milhões em vendas. É mais que o dobro dos R$ 130 milhões de 2012.

Bilhão
A Coelho da Fonseca, de imóveis de luxo, abre filial em Ipanema em abril. Investiu R$ 2,5 milhões. No mesmo mês, estreia site com consultores on-line. Prevê vender R$1 bi este ano.

Concorrência
Mais de 30 mil universitários se inscreveram na edição 2013 do programa de estágios da TIM. Estão disputando cem vagas em nove cidades do país. Já a Concremat, do setor de construção, recebeu seis mil inscrições em um mês. Vinte estagiários começam a trabalhar em abril.

Alto-mar
A Yacht Center Group lançará o Prestige 45, do estaleiro francês Jeanneau/Beneteau, na Rio Boat Show, mês que vem. O iate não sai por menos de R$ 2,4 milhões. O grupo investiu R$ 1 milhão em dois estandes no evento. Quer faturar R$ 50 milhões este ano, alta de 25% sobre 2012.

EXPANSAO
A FYI, do grupo Animale, põe na rua campanha de inverno hoje. A top Bruna Pellenz está nas fotos de Demian Jacob. Circularão em impressos e web. A grife quer abrir sete lojas em 2013. Tem seis. Deve faturar R$ 60 milhões, alta de 54% sobre 2012.

ABRACADABRA
A Oi estreia hoje em 17 estados e no Distrito Federal campanha da oferta convergente, que une TV paga, internet banda larga e wi-fi. O pacote é novo no Rio. O filme, na linha do humor, traz uma esposa cansada de só ter as mágicas do marido como diversão. NBS assina.

TABLÓIDE
A Richards lança, na 2ª, o catálogo da coleção de inverno, “Library”. É o primeiro em formato tablóide. Terá textos sobre moda feminina, masculina e infantil, além de fotos de Daniel Mattar. Bebel Moraes produziu.

Os 50 mil exemplares serão distribuídos nas 91 lojas da grife e no endereço de clientes. A expectativa da rede é elevar em 15% o faturamento.

Da fruta
A do bem lança, em abril, sucos nos sabores mate natural e laranja com gominhos. A marca será vendida na rede Le Bon Marché, em Paris.

LuXo só
A VLNY, de óculos, prevê faturar R$ 6 milhões este ano. Está em 70 lojas de dez estados do país.

Livre Mercado
A mostra Morar Mais Por Menos passa a dez licenciados no país. São Luís e Fortaleza terão edições em 2013.O total de visitantes chegará a 132 mil, alta de 20% sobre 2012.

É hoje a Hora do Planeta, do WWF. Às 20h30, luzes apagadas por uma hora, para reflexão sobre mudanças climáticas. Cinco mil cidades de 152 países participam. Rio no time.

A loja-conceito da Leader ficará na Village Rock in Rio, área do festival, não no shopping Village Mall.

Tremores na ilha - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 23/03

Depois de uma semana de bancos fechados e o país em confusão, o governo do Chipre baixou ontem à noite várias medidas para tentar desesperadamente evitar a bancarrota. O Parlamento aprovou projetos que permitem fechamento de banco, criação de fundo com ativos estatais, controle de capitais e estatização de fundos de pensão. Tudo para dar uma contrapartida e receber o resgate de ¬ 10 bilhões.

No caso do Chipre, os europeus usaram o manual do que não fazer numa crise, e a situação pode piorar porque a negativa do Parlamento do país ao projeto europeu fortalece a resistência aos remédios amargos. Hoje, há uma possibilidade concreta de que o país saia do euro, mas se acontecer isso os poupadores poderão perder ainda mais na desvalorização da moeda que for recriada no lugar do euro.

A CNN Money definiu o Chipre como uma pequena ilha, de bancos gigantes e governo endividado. O país, de um milhão de habitantes, conseguiu trazer de volta para a Europa o ambiente de crise. E ela mesma se debatia ontem atrás de medidas radicais para evitar o pior.

A ideia de fechar os bancos e avisar que os correntistas perderiam parte do valor do dinheiro era tão estúpida que só poderia dar errado. Se o Parlamento do Chipre aprovasse a taxação, na terça-feira, outros países da Europa, como Grécia, Portugal e Espanha, poderiam sofrer corrida bancária. Já a recusa pelo Parlamento, segundo o economista-chefe da Acrefi, Nicola Tingas, que é filho de gregos e tem parentes no país, serviu de motivação a outros países para que resistam às imposições da Troica (FMI, BCE e Comissão Europeia).

- Conversei esta semana com primos gregos e eles estão todos satisfeitos com o resultado no Parlamento do Chipre. Se o país, que é ainda menor que a Grécia, está recusando essa imposição, significa que a Grécia também pode fazer isso - disse.

Tingas acredita que as eleições da Alemanha este ano pressionaram a chanceler Angela Merkel a endurecer o jogo. A ilha é considerada paraíso fiscal, com fortes relações com a Rússia. Há suspeitas de lavagem de dinheiro russo com a venda de armas para países da Ásia e do Norte da África.

O problema é que as medidas que começaram a ser tomadas ontem à noite vão encurralando o aplicador, principalmente os que têm mais de ¬ 100 mil. Uma das medidas aprovadas dá poderes ao ministro das Finanças de restringir movimentação de capital, limitar os saques quando os bancos abrirem, não resgatar todos os cheques apresentados. Estão tentando ao mesmo tempo evitar o pânico e encontrar uma fórmula de negociar um resgate com a União Europeia.

A S&P rebaixou para "lixo" a qualidade dos títulos públicos do Chipre. Quer dizer que o governo não tem capacidade, sozinho, de honrar os empréstimos que tomou. Ou recebe ajuda ou dá o calote. Disse que os dois principais bancos cipriotas precisam de ¬ 10 bilhões em financiamento para tapar buracos. Uma montanha de dinheiro, porque o PIB do país é ¬ 17 bi.

José Júlio Senna, da MCM Consultores, acha que esse valor pode ser só o começo. O sistema bancário do Chipre tem um nível de alavancagem muito alto, cerca de oito vezes o PIB. Ao mesmo tempo, o governo tem dívida de 90%, e o país não possui ativos e indústrias para serem tributados. Só sobraram os depósitos.

Senna avalia que há um risco real de saída do Chipre da zona do euro porque há poucas opções na mesa. Mas explica que os mercados ficaram relativamente tranquilos durante a semana porque acreditam que o BCE não vai deixar a crise se alastrar.

O problema é que a semana termina com a crise em aberto e os cipriotas se debatendo atrás de medidas para tentar evitar o que já está se tornando inevitável: um calote. Uma parte dos depósitos será destruída: ou por um confisco, ou pela volta a uma moeda que perca rapidamente o valor diante do euro.

Apesar de você - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 23/03

Dentro de mais duas semanas começa mais uma safra da cana de açúcar no Centro-Sul. A expectativa é de crescimento da produção tanto de matéria-prima como de produtos acabados. Mas o principal problema continua sem solução, porque o achatamento dos preços dos combustíveis derivados de petróleo continua desestimulando o setor.

(Apenas para refrescar a memória: o álcool tem 70% do poder energético da gasolina. Cada vez que os preços do álcool ultrapassam o nível de 70% do preço da gasolina, o consumidor tende a substituir o álcool pela gasolina.)

Hoje, cerca de 40% da frota nacional de veículos leves dispõe de motores flex, que podem funcionar com qualquer proporção de álcool ou gasolina. Na semana passada, os levantamentos da Agência Nacional do Petróleo mostraram que os preços do álcool nos postos de combustível estavam algo acima de 71% dos preços da gasolina. Os subsídios à gasolina são um dos fatores responsáveis pelo forte aumento do consumo de 19%, em 2011, e de 12%, em 2012, em relação ao consumo do respectivo ano anterior.

A produção brasileira de álcool na temporada passada foi somente 3% maior do que na anterior. Os 21 bilhões de litros gerados ficaram muito aquém do recorde obtido dois anos antes, de 27 bilhões de litros (veja o gráfico).

A consultoria Datagro prevê para esta safra produção de 26 bilhões de litros de álcool, um aumento de 13% sobre a do ano anterior. No Centro-Sul, de onde provêm 90% do álcool do País, deverão ser moídos 587 milhões de toneladas de cana, 10% a mais do que na safra 2012/2013. Desse total, 51% serão destinados à produção de álcool.

Não dá para seguir afirmando que o setor continua tão desestimulado como antes. Conta agora com melhores condições em pelo menos três áreas:

(1)Revisão de preços - desde junho, o governo concedeu dois reajustes nos preços da gasolina que reduziram a diferença entre os preços internos e externos. Os cálculos sobre essa diferença variam de instituição para instituição. O Deutsche Bank, por exemplo, avalia que ainda falta reajustar a gasolina em 7%.

(2) Mais álcool na mistura - a partir de maio, quando se espera que a produção do ano já tenha tomado ritmo, a proporção de álcool anidro na gasolina comum deverá aumentar de 20% para 25%, o que garantirá mais demanda para o produto.

(3) Desoneração - o governo já prometeu reduzir, ou até eliminar, as contribuições do PIS-Cofins sobre os preços do álcool nas usinas. Se e quando sair, essa decisão deverá baixar sensivelmente os custos de produção.

São providências na direção correta, mas insatisfatórias se o objetivo é transformar o Brasil em grande produtor mundial de combustíveis renováveis e ecologicamente corretos. O governo não tem uma política clara para o setor. Às vezes parece dar prioridade à produção e ao refino de petróleo, como se o álcool lhe fizesse concorrência desleal; outras, dá a entender que teme acusações de que esteja prejudicando a produção de alimentos para favorecer a produção de combustíveis. É uma política ou falta de política cujas distorções começam no canavial e acabam no bolso do proprietário do veículo.

Irrigação eleitoral - VERA MAGALHÃES -

FOLHA DE SP - 23/03

Em sua agora encurtada visita a Pernambuco, na segunda-feira, Dilma Rousseff deve anunciar pacote de socorro financeiro às vítimas da seca. Será um contraponto a medidas adotadas por Eduardo Campos (PSB), seu potencial adversário em 2014, que liberou recursos para 186 cidades. O Planalto teme ser responsabilizado pelos prejuízos da estiagem. A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi escalada para tranquilizar prefeitos sobre a celeridade dos repasses.

Plantão Ideli, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Fernando Bezerra (Integração) se reunirão na quarta-feira com os deputados para tratar da pauta para Estados do Nordeste.

Da missa... Apesar da justificativa oficial de que irá a Petrópolis para prestar homenagem às vítimas das enchentes, Dilma alterou a agenda da visita a Pernambuco para evitar claque pró-Eduardo Campos em Recife.

... a metade O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) obteve informações de que poderia haver ainda protestos contra a presidente na capital pernambucana.

Motivacional Aliados de Campos reagiram com otimismo pós-Datafolha. Lembram que, em 2005, um ano antes de ser eleito governador, ele tinha 4% nas pesquisas.

Túnel... O Datafolha de março de 2009 dava a liderança da corrida presidencial para José Serra (PSDB), com 41%. Dilma tinha 11%. Na simulação em que aparecia, Aécio obteve 17% das indicações naquela ocasião.

... do tempo Pré-candidatos bem posicionados morreram na praia antes de 2010. Ciro Gomes (PSB) despontava em segundo lugar, com 16%. Heloísa Helena (PSOL) empatava com Dilma, com 11%.

Como assim? O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), diz "estranhar" o elogio de Campos a Serra. "No ano passado o aliado dele, Geraldo Júlio, atacava nosso candidato no Recife dizendo que ele escondia Serra e FHC."

Origens Marina Silva leva o mutirão para fundar a Rede à região Norte, sua base eleitoral. Hoje, percorre Manaus. Amanhã, fará balanço do primeiro mês de coleta de assinaturas em Rio Branco (AC).

Única forma Embora hesite em ceder o Ministério dos Transportes ao PR, Dilma sinaliza que, se o nome for César Borges (BA), o cargo pode entrar em negociação.

Balão de ensaio Outra saída discutida no governo é acomodar a sigla de Valdemar Costa Neto no Ministério do Turismo, movendo Gastão Vieira (PMDB) para a pasta da Ciência e Tecnologia.

Quem abriu? O discurso em que Aloizio Mercadante se gabou ontem por ter "fechado o balcão para os cursos de medicina e de direito" repercutiu mal no QG de Fernando Haddad, titular do MEC entre 2005 e 2012.

Plano B Diante da polêmica que cerca a eleição do pastor Marco Feliciano (SP), o PSC quer emplacar a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Antônia Lúcia (PSC-AC), no comando da colegiado na Câmara.

Oremos Após o efêmero favoritismo no conclave, dom Odilo Scherer retornou ontem a São Paulo seguindo a pregação franciscana do escolhido, Jorge Bergoglio. Sem assessores, voou de classe econômica e enfrentou fila no embarque em Roma.

Visita à Folha Andrea Martini, presidente da Souza Cruz, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Fernando Bomfiglio, gerente de Comunicação e Planejamento Estratégico, e Juliana Barreto, gerente de Relações com a Imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"A crítica econômica tucana, Eduardo já está plagiando. Espero que não faça plágio à visão fundamentalista sobre fé e comportamento."
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre o encontro secreto entre o governador de Pernambuco e José Serra.

contraponto


Até que o voto nos separe


Integrantes do PT se divertiam na quarta-feira no plenário da Câmara dos Deputados com a briga entre membros do PSD e o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), em razão dos cargos para o novo partido na Casa. De tanto protestar, o parlamentar goiano conseguiu adiar a votação de criação de postos para a sigla do Gilberto Kassab.

Em meio ao bate-boca na tribuna dos dois lados, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) disse, numa rodinha de petistas, para gargalhada geral:

-Toda separação litigiosa causa trauma. É sempre assim, um quer o fogão o outro a geladeira

O eleitor decisivo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 23/03

Apesar do convite para concorrer a vice ou ao Senado na chapa do PT para o governo paulista, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, está decidido a concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. O partido, em São Paulo, não tem muitas ilusões sobre as chances de Kassab ir para o segundo turno. Mas o PSD está convencido de que o apoio de Kassab vai definir o resultado da eleição.

De olho no Nordeste
Um grupo de ministros se reuniu ontem com a presidente Dilma no Palácio do Planalto para discutir um pacote de medidas de combate à seca. Não conseguiram chegar a uma proposta satisfatória. Entre as medidas analisadas está a criação de sistema mais moderno de perfuração de poços com uso de máquinas mais potentes. Há ideia de fazer um convênio com a Petrobras, que tem tecnologia de ponta. Pensa-se em criar um observatório para atuar na prevenção, e atuar na desburocratização das ações do governo no combate à seca. As prefeituras terão o dinheiro liberado por cartão de pagamento, como já ocorre em situações consideradas emergenciais.

"O PSD como um todo está muito mais próximo de Dilma. A vinculação do Kassab com Eduardo Campos é pessoal"
Saulo Queiroz Secretário-geral do PSD

RaioX
Para atenuar a imagem no povão que o PSDB é contra políticas sociais, Aécio Neves vai usar a pré-campanha para mostrar suas ações quando era governador no Vale do Jequitinhonha, região mais pobre de Minas Gerais.

Com a mão na taça
No dia 15 de abril, Ideli Salvatti passa a ser a ministra com mais tempo no comando da Secretaria de Relações Institucionais na era petista (governos Lula e Dilma). Ela ultrapassa em um dia o detentor do recorde anterior, o atual ministro do TCU, José Múcio, que ficou no cargo 672 dias. A cautelosa ministra, até lá, está de dedos cruzados.

Briga de egos
Os ministros mais influentes junto a presidente Dilma, Fernando Pimentel e Aloizio Mercadante, estão em lados opostos. Mercadante quer Paulo Passos no Transportes. De olho na campanha, Pimentel quer um mineiro do PR na pasta.

Abridor de latas
A passagem do ex-presidente Lula pela Nigéria rendeu. Ele fez palestra para a nata do empresariado. A Cotia já teve negócios lá, onde atualmente só atua a Petrobras. Agora, a Andrade Gutierrez firmou parceria com o Grupo Dangote, o maior daquele país, com enormes carências de infraestrutura, notadamente energia.

Chuvas, socorro e corrupção
Desde a década de 80 que Teresópolis e Nova Friburgo convivem com mortes e deslizamentos pelas chuvas. Há dois anos, seus prefeitos foram afastados por desvios de recursos federais e estaduais para reconstrução e socorro a vítimas.

Força Nacional
Para evitar desvio do dinheiro nas calamidades, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) defende que seja declarado Estado de Defesa (artigo 136 da Constituição). Daria foco nacional à reconstrução e o uso adequado do dinheiro repassado.

Desprestígio. No aniversário de dez anos da Secretaria da Igualdade Racial, dia 21, nenhum ministro do governo Dilma compareceu.

A Dilma crescente - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 23/03
A presidente Dilma está com tudo: 63% de aprovação em todo o país, sendo que 85% no Nordeste. Nem Fernando Henrique, nem Lula chegaram a seus pés. Nem ela mesma antes. É recordista de si própria. E, se não bastasse, foi aprovada também no Vaticano. Foi lá, conversou com o Santo Padre, riram juntos, fez piada tirando sarro com os hermanos ("o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro"), ouviu a promessa de que ele vem ao Rio, enfim, ficaram íntimos (gostaria de saber em que língua). Só não se pode dizer que ela teve 100% de aprovação porque não ganhou beijinho no rosto, como a rival Cristina ganhara na antevéspera. Em compensação, recebeu um conselho muito especial: que "seja forte, mas com ternura". Intencionalmente ou não, o Papa acabou fazendo uma homenagem àquele seu famoso conterrâneo, o Che revolucionário que recomendava ser preciso "endurecer, mas sem perder a ternura jamais".

Mais impressionante do que os números é o crescimento da aprovação, que era de 62% em dezembro, data da última pesquisa, da mesma maneira que o estilo de governar passou de 78% para 79%, e o índice de confiança, de 73% para 75%. Como explicar essa consagração em alta num período tão pouco favorável ao governo? O PIB caiu, a inflação ameaça, as filas dos hospitais aumentam, a faxina ética na administração ficou na promessa e até a natureza conspira contra, expondo a reedição de tragédias como as da Região Serrana fluminense, para as quais a presidente propôs "medidas drásticas", não contra as áreas de risco, mas "contra os que insistem em ficar nas áreas de risco", como se houvesse outra opção.

Em vez de tentar entender essas contradições, a oposição prefere ou minimizar a avaliação positiva, atribuindo-a aos pronunciamentos em que a presidente anunciou medidas populares, ou desqualificá-la, alegando que é uma ascensão momentânea. Leitores que escrevem para o jornal parecem mais preocupados em entender o que se passa. Há quem ponha em dúvida o universo da pesquisa - 2.202 eleitores consultados. "Será que ouviram os que mofam nas filas dos hospitais?" Há quem chame a atenção para o fato de que esse apoio não é apenas da população carente, mas também de uma classe média satisfeita, viajando mais e comprando como nunca. São hipóteses. A realidade é que Dilma está em fase crescente e a oposição, em fase minguante. E sem saber dizer por quê.

Diante do reconhecimento de seus pares, classificando Emilio Santiago como um dos melhores cantores do Brasil, senão o melhor, é que vi como sou ignorante em matéria de música. Nunca lhe dei a merecida importância.