terça-feira, fevereiro 12, 2013

FH: muso do carnaval - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 12/02

A ida de Fernando Henrique à Marquês de Sapucaí no domingo não foi surpresa para os amigos cariocas. Natural do Rio, embora radicado desde cedo em São Paulo, o ex-presidente, aos 81 anos, comprou um apartamento em São Conrado para ficar mais perto de filhos e netos. Viúvo, FH tem dois filhos que moram no Rio (Paulo e Beatriz) e uma que mora em Brasília (Luciana).

Segue...
No sábado, Fernando Henrique foi ao cinema sozinho, a pé, no Fashion Mall. No meio do caminho, um grupo de curiosos ficou em dúvida se ele era mesmo o ex-presidente.
Até que um deles deduziu:
— Deve ser um turista americano.

Não topou
Lula, no último encontro com Dilma, chegou a sugerir uma reforma ministerial abrangente. Dilma não topou.

Cabo eleitoral
De um vaticanólogo brasileiro:
— Embora o renunciante não participe do conclave, ninguém na cúpula da Igreja Católica duvida de que o Papa Bento XVI será o grande cabo eleitoral do seu sucessor.

Afinal...
Não é todo o dia que um Papa pode cuidar de sua sucessão. A última tem uns 600 anos.

Do mesmo vaticanólogo...
Enquanto o Papa renuncia a um poder vitalício, aqui, no Brasil, certos políticos insistem em se manter vitaliciamente no poder. É o exemplo de... deixa pra lá. Falta negro no poder Gerou polêmica a crítica do cineasta Spike Lee de que a Bahia, mesmo com maioria negra, sempre foi governada pela elite branca. É gente que lembra que o negro Edvaldo Brito, hoje vereador, foi prefeito de Salvador, entre agosto de 1978 e março de 1979. Mas é pouco, muito pouco.

Calma, gente!
Não convidem para o mesmo desfile Paulo Barros e a cantora Teresa Cristina. Em sua página no Facebook, o carnavalesco postou, ontem, que Teresa Cristina o cobriu de elogios na cabine da TV Globo. Porém, quando chegou em casa e viu as imagens que a emissora fez do desfile, foi “pego com o comentário da própria Teresa Cristina declarando que o desfile da Unidos da Tijuca era para esquecer”.

Segue...
Indignado, Paulo Barros declarou sobre o fato:
— Não vou esquecer de suas palavras!!!

Carnaval 2014
Rosa Magalhães renovou o seu contrato com a Vila Isabel.

As mucamas
Um grupo de sete amigas desfilou no Cordão do Boitatá, na manhã de domingo, na Praça Quinze, no Rio, com a fantasia “Babás do Caiçaras”. Nos “uniformes” das meninas estava escrito com paetês: “Barradas no clube.”

Imagina na Copa
Várias escolas cogitam enredos sobre futebol para o ano que vem por causa, claro, da Copa do Mundo no Brasil.

Dieta de candidato
O vice Pezão, que já perdeu 15 quilos, passou incólume na Sapucaí, sem álcool e à base de frutas.

No mais...
Sobre os desfiles no Sambódromo, Ruth Cardoso, a saudosa antropóloga casada com FH, disse certa vez:
— Um povo que tem esta criatividade e esta organização tem tudo para dar certo.

‘COISA ACESA’ NO RECIFE
Elba Ramalho e Thais Gulin levantaram a multidão no Marco Zero, o palco principal do carnaval do Recife que reúne cerca de 200 mil pessoas por dia. Cantaram juntas “Coisa Acesa”, de Moraes Moreira

POLÍTICOS LONGE DA FOLIA
O carnaval dos presidentes da Câmara e do Senado foi longe da folia. Henrique Eduardo Alves (ao lado) esteve em um parque da Disney, em Orlando. Já Renan Calheiros passou no SPA Kurotel, em Gramado, onde a hospedagem nesse período de carnaval chega a R$ 9 mil por pessoa

Ponto Final
O Brasil é o país onde o problema é sempre o outro. Todo professor, vale também para médico, claro, que falta ao serviço úblico sem motivo de força maior, carrega um pouco de Renan em seu íntimo. Com todo o respeito.

Lama na toga - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 12/02


Juízes devem ser imparciais. Quando aceitam presentes de cidadãos interessados em conquistar a sua boa vontade, a imparcialidade é ameaçada. Essa é uma afirmação aparentemente tão óbvia que deve espantar o leitor a necessidade de fazê-la. No entanto, é preciso registrar, com esperado aplauso da plateia, o fato de que só agora o Conselho Nacional de Justiça está agindo para impedir ações e situações que criem benefícios de qualquer natureza para magistrados, em óbvias tentativas de conquistar a sua boa vontade.

Há poucos dias, o ministro Francisco Falcão, corregedor do CNJ, propôs ao plenário que proíba o patrocínio, por empresas privadas, de congressos e quaisquer outros eventos de magistrados. É lamentável que essa medida seja necessária, já que a Constituição já proíbe aos juízes aceitar presentes de quem quer que seja. E isso tem acontecido. No fim do ano passado, a Associação Paulista de Magistrados, numa festinha de confraternização, sorteou brindes aos juízes.

E não eram presentinhos: incluíam passagens para cruzeiros e um automóvel. O leitor pode decidir se os generosos doadores gastaram seu dinheiro por singela e desinteressada admiração pela toga, ou se estavam simplesmente fazendo um investimento na boa vontade dos tribunais.

É saudável e meritório que a indignação com esse, digamos assim, investimento dos doadores tenha partido do próprio Judiciário. A proibição proposta pelo ministro Falcão, no entanto, não foi ainda aprovada: um pedido de vista do ministro Carlos Alberto Reis de Paula interrompeu a votação.

Além disso, três entidades que representam juízes reclamaram por não terem sido consultadas: defendem o patrocínio e pediram que o assunto seja aberto a nova discussão. Pode-se desconfiar que seja uma tentativa de atenuar a iniciativa moralizadora de Falcão — ou de colocá- la em banho-maria indefinidamente.

Há um precedente negativo: há pouco tempo, a então corregedora do CNJ, Eliana Calmon, tentou proibir os patrocínios provados de eventos e festinhas de juízes, mas seus companheiros no conselho derrubaram a sua proposta. A opinião pública gostaria muito de conhecer os argumentos usados para isso. Falcão pode ter certeza de que a turma da arquibancada torce por ele e por Eliana.

O contrato coletivo nacional - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 12/02


Em 1975, mais de 85% da produção automobilística brasileira saía do ABC. Duas décadas e meia depois, de cada 100 veículos produzidos no Brasil, apenas 25 são fabricados no ABC. A redução decorreu da decisão das montadoras de cortar custos, transferindo linhas de produção para o Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Bahia - Estados onde a média salarial dos metalúrgicos é mais baixa do que em São Bernardo e São Caetano.

Propiciada pelo avanço da tecnologia, que tornou as fábricas menores e mais flexíveis, essa mudança é chamada de "processo de relocalização industrial" pelos economistas. Com folhas de pagamento menores, as empresas podem reduzir o preço final de seus produtos, o que as torna mais competitivas na disputa pelo mercado. Na Europa, por exemplo, empresas inglesas e francesas transferiram fábricas para o Leste Europeu. Na França o salário mínimo é de 1,3 mil euros, enquanto na Eslováquia não passa de 120 euros.

No Brasil, o exemplo mais recente da "relocalização industrial" está ocorrendo no Vale do Paraíba, onde a General Motors (GM) fechou algumas linhas de produção em São José dos Campos, por causa do radicalismo dos sindicalistas da região. Além de construir uma fábrica de motores em Santa Catarina, a empresa voltou a investir no ABC. Dos 7,5 mil funcionários da GM no Vale do Paraíba, 1,5 mil pode perder o emprego.

Controlado pelo PSTU, um pequeno partido de esquerda radical, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José faz reivindicações salariais irrealistas e rejeita a flexibilização da jornada de trabalho proposta pela GM, com a criação do banco de horas. Esse mecanismo é amplamente utilizado por outros setores da economia. Por meio dele, a jornada diminui nos períodos em que as vendas caem e as horas não trabalhadas são repostas nos períodos em que o mercado está aquecido, sem necessidade de contratação de mais operários. O banco de horas permite às empresas ajustar o quadro de pessoal à demanda do mercado.

Para evitar que as montadoras continuem transferindo fábricas para outras regiões do País, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) reivindica um Contrato Coletivo Nacional, com base em cinco cláusulas sociais - auxílio para creche, acesso dos sindicatos ao local de trabalho, formação de comissões de prevenção de acidentes, acompanhamento das demissões por dirigentes sindicais e controle da jornada de trabalho. Elas beneficiariam todas as bases da CUT, independentemente das especificidades regionais. Em Manaus, o piso salarial dos metalúrgicos é 131% menor do que o do ABC. Nesta região, um montador começa ganhando R$ 1.560 ante R$ 716, em Manaus. O salário médio dos metalúrgicos do ABC é de R$ 4,1 mil, enquanto a média nacional é de R$ 3,5 mil.

A CUT representa 30% da categoria, que tem 2,3 milhões de trabalhadores. Sua proposta já será apoiada pela Força Sindical, que representa 1,4 milhão de metalúrgicos. As duas entidades alegam que as cinco cláusulas sociais do contrato coletivo nacional são corriqueiras nas regiões industrializadas, mas não costumam ser consagradas nos dissídios das regiões mais atrasadas.

O principal ponto de resistência das empresas à adoção desse tipo de contrato é salarial. Para as montadoras, não faz sentido adotar entre os metalúrgicos do Nordeste e do Norte os salários pagos no ABC. Por seu lado, a CUT alega que os metalúrgicos do Norte e do Nordeste têm uma jornada de 44 horas - ante a jornada de 40 horas a que estão submetidos 80% dos metalúrgicos do ABC. Também acusam as montadoras de vender carros pelo mesmo preço em todo o País, sem respeitar as diferenças regionais.

Para vencer a resistência patronal, a CUT e a Força Sindical propuseram colocar as cláusulas sociais na frente das cláusulas econômicas, nos próximos dissídios dos metalúrgicos. Mas, como as empresas deixaram claro que veem poucas vantagens no contrato coletivo nacional, as negociações entre as montadoras e os metalúrgicos devem ser difíceis e morosas, mesmo com a CUT atuando em parceria com a Força Sindical.

A fé verdadeira - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 12/02


SÃO PAULO - Bento 16 vai se aposentar. Embora eu não partilhe de praticamente nenhuma de suas posições conservadoras, admiro seus dotes intelectuais. Joseph Ratzinger pode ser descrito como um pensador fino que não teme ir aonde suas ideias o levam, como o atestam as polêmicas em que se envolveu.

O tom de seu pontificado começou a ser dado antes mesmo de ele ser sagrado papa, quando, na condição de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (o novo nome da velha Inquisição), participou ativamente da elaboração da epístola "Dominus Iesus" (2000). Ali, o Vaticano diz que os que não acatam a "verdade" como interpretada pela Igreja Católica estão em apuros teológicos. "Dominus Iesus" coloca a questão de forma até diplomática, pois admite a possibilidade de graça para os não católicos, ainda que "objetivamente" menor do que para o católico.

Se quisermos, essa carta é a versão "light" do "Extra Ecclesiam nulla salus" (fora da Igreja não há salvação), do papa Bonifácio 8º (1294-1303).

É difícil comprar essa tese. Ela bate de frente contra o que considero um dos mais convincentes argumentos antirreligiosos, que é o do pluralismo. Para onde quer que olhemos no mapa, encontraremos uma "verdade religiosa" diferente. Qual o critério para decidir qual é, de fato, a verdadeira? Por que o catolicismo seria melhor que o calvinismo? No que eles superariam o judaísmo e o islamismo? E o que haveria de errado com Zeus e o panteão olímpico ou com os deuses nórdicos, que já foram providencialmente enterrados por todos? Nós, ateus, estamos apenas um deus à frente dos demais.

Parece mais razoável compreender os diversos sistemas de crença religiosa como manifestações diferentes da mesma predisposição humana, que pode ter base biológica (como acredito) ou divina (como pensa a maioria). Mesmo que Deus exista, é difícil conceber que ele tenha criado só uma fé certa e dezenas de erradas.

Revolução no comércio internacional - RUBENS BARBOSA


O ESTADÃO - 12/02

Fonte de crescimento e de emprego, o comércio internacional está em meio a significativas mudanças, lideradas por EUAe China,que procuram ajustar suas políticas externas e comerciais à nova ordem internacional multipolar. Observa-se hoje a proliferação de acordos regionais e bilaterais e a multiplicação de medidas restritivas e protecionistas, em grande parte devidas ao fracasso das negociações multilaterais da Rodada Doha e ao enfraquecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC).

As limitações políticas e técnicas da OMC refletem as dificuldades para responder aos desafios surgidos com as novas formas de organização da produção e de serviços e com a crescente integração dos países às cadeias produtivas globais. Para voltar a ter um papel central no sistema de comércio internacional a OMC deveria passar por uma ampla reforma a fim de ajustá-la às mudanças globais dos novos tempos. O processo decisório de uma instituição de 158 membros tornou-se muito mais complexo, embora os procedimentos tenham continuado com poucas mudanças em relação a 1995, quando, no momento de sua criação, havia apenas 76 membros. A questão da cláusula de nação mais favorecida, um dos principais pilares da OMC e do antigo Gatt, o tratamento preferencial e diferenciado e o princípio do "single undertaking" (ou compromisso único) nas negociações multilaterais (nada está aprovado enquanto todos os acordos não estiverem aprovados) estão sendo contestados e provavelmente terão de sofrer ajustes para responder aos desafios emergentes. Novos conceitos como cadeia de fornecimento global e manipulação das taxas de câmbio terão impacto sobre as negociações internacionais.

Em reação a essas mudanças, os EUA, a Europa e a Ásia estão avançando entendimentos para a negociação de acordos de livre-comércio de grande porte. A Parceria Trans-Pacífica, liderada pelos EUA, concentra 40% do PIB global e inclui Austrália, Malásia, Vietnã, Cingapura, Nova Zelândia, Chile, Peru, Brunei, Canadá, México e talvez Japão e Coréia do Sul. Os EUA já haviam firmado acordos com o Canadá e o México (Nafta) e mais recentemente com Panamá, Colômbia, Peru, Chile e Coréia do Sul. A União Européia, apesar da pesada burocracia de Bruxelas, finalizou acordo de livre-comércio com a Coréia do Sul e está negociando com Cingapura e Canadá. E iniciou conversação com o Japão e o Mercosul. Bruxelas e Washington conversam para avançar os entendimentos de um mega-acordo de comércio e investimento, chamado de Acordo de Livre Comércio Transatlântico (Tafta, na sigla em inglês). A Ásia, numa completa mudança de posição, embarcou numa série de acordos de livre-comércio regionais, sob a liderança da China e do Japão, inclusive com países sul- americanos.

Sendo os EUA e a Europa dois dos principais parceiros do Brasil, é importante entender o significado do Tafta e suas implicações para os países que ficarem de fora.

A eventual formação de uma área de livre-comércio entre essas duas regiões englobará três quartos do mercado financeiro, metade do PIB global e quase um terço do comércio internacional. Grupo de Trabalho de Alto Nível criado pela União Europeia e por Washington deverá apresentar ainda neste mês as suas recomendações. Serão sugeridas, entre outras regras, a inclusão de serviços e investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual e outras regras gerais de comércio, além da eliminação das tarifas e barreiras não tarifárias. Haverá um período de transição durante o qual seriam excluídas as reduções tarifárias de "produtos sensíveis"e a desregulamentação de "certos setores" em serviços. Espera-se que as negociações possam começar em meados do corrente ano.

Evidentemente, essa ambiciosa agenda apresentará dificuldades para conciliar história, cultura e práticas locais, como padronização, Buy American Act, patentes farmacêuticas (genéricos), meio ambiente e leis trabalhistas, sem falar de problemas políticos de outra magnitude, como a eventual saída do Reino Unido da União Européia.

Os países em desenvolvimento poderão ficar muito afetados pelos mencionados mega-acordos de livre-comércio, pela exclusão dos benefícios, por obrigá-los a aceitar compromissos de difícil cumprimento e pelo fortalecimento do poder internacional dos setores financeiros, talvez os principais beneficiários desses processos de integração econômica e comercial.

Nesse contexto de grandes movimentos de transformação no comércio internacional, o Brasil está sem estratégia de negociação comercial.

Caso os acordos EUA-União Européia (Tafta) e dos EUA com países asiáticos (Trans-Pacifíc Partnership) sejam concluídos, o Brasil ficará alijado dos dois maiores fluxos de comércio internacional. A eliminação de tarifas entre os países- membros desses dois blocos afetará ainda mais a competitividade dos produtos brasileiros, que praticamente ficarão excluídos desses mercados.

A política Sul-Sul dos últimos dez anos, no tocante à África e ao Oriente Médio, pouco resultou do ângulo comercial. A Aliança do Pacífico (Chile, México, Peru e Colômbia) representou uma ação geoeconômica importante pela aproximação dos EUA e da Asia. O Mercosul, que pediu para ser observador da Aliança, encontra-se em situação de quase total isolamento. Nos últimos dez anos firmou três acordos de livre-comércio com Israel, Egito e Autoridade Palestina, além de acordo de preferência tarifária com a índia e a África do Sul. A negociação do grupo com a União Européia torna-se crucial para podermos estar sintonizados com essas transformações globais.

Se as negociações com a Comissão Européia não avançarem, não restará alternativa ao Brasil, no âmbito do Mercosul, senão fazer um acordo em separado com a União Européia, para resguardar nossos interesses.

MEGAN FOX, A INTOCÁVEL - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 12/02

"Eu nunca vi nenhum filme dessa Megan Fox", diz Susana Vieira ao chegar ao Sambódromo do Rio, anteontem. A atriz critica a colega americana, estrela do filme "Transformers" e contratada por estimado R$ 1,7 milhão para fazer presença VIP no camarote da Brahma no Carnaval.

"Esse camarote já recebeu os maiores atores do Brasil, os maiores cantores e jogadores do mundo, não precisa de Megan Fox. Mas deve interessar ao patrocinador." A única celebridade que ela tentou conhecer no camarote foi Madonna, em 2010. "E os seguranças me expulsaram. Então vai se f..."

Megan só aparece às 23h55. Grades e seguranças, estes na base de empurrões, bloqueiam todas as escadas. Só depois que a americana completa seu trajeto é que Susana Vieira consegue passar, nervosa. "Foi todo mundo barrado, porque a Megan não pode ser tocada. Vai se f...! Ronaldo Fenômeno está no camarote! Ele é muito mais importante!"

O ex-jogador, carregando a nova namorada, a DJ Paula Morais, e uma camisa da seleção para Megan, é autorizado a entrar no cercadinho VIP da atriz. Rodrigo Santoro e Luan Santana também. A americana passa a maior parte do tempo de costas para o desfile, conversando com o marido, Brian Austin Green. Bebe duas garrafinhas de água mineral. E é pontual: sai à 1h55, quando vencem as duas horas que precisa cumprir para receber o cachê.

Astros internacionais no camarote de outra cervejaria, a Devassa, se irritavam com a imprensa. O designer francês Christian Louboutin, de calça vermelha justa e sapato preto cravejado de metais, gingava a cada batuque.

Os sapatos de Louboutin viraram símbolo de um dos grandes escândalos brasileiros de 2012, quando Adriana Ancelmo, mulher do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB-RJ), fez fotos levantando os pés para mostrar o solado vermelho dos calçados num passeio do casal com empreiteiros em Paris.

"Não e o único país em que isso acontece. Não quero estar envolvido nisso, não preciso", diz ele à coluna. Com um gesto de mão, indica que a entrevista "já deu".

O ator francês Vincent Cassel espera na longa fila para a comida, a alguns passos do ex-BBB Alemão. "Você é jornalista? Então não tenho nada a falar. Bom Carnaval." E dá uma piscadinha. "Foto tudo bem."

Adam Clayton, o baixista do U2, cochicha com uma amiga. Ele está no Brasil para uma exposição de Martin Creed na casa de Frances Reynolds, ex-mulher de José Roberto Marinho, da Globo.

MC Naldo sai escoltado por uma equipe, empurrando todos no caminho. O cantor não deveria estar ali: é contratado da Brahma. Segura na mão um saco com a camisa-abadá da cervejaria concorrente. "Ele só queria ver o Will", diz um dos guarda-costas, referindo-se ao ator americano Will Smith -que não estava lá. O encontro dos dois aconteceria no dia seguinte, em um hotel. Tudo registrado por Naldo no Instagram.

Na Brahma, Susana Vieira diz que, caso sua escola, a Grande Rio, vença o Carnaval, vai cancelar a apresentação de "A Partilha", peça que está estrelando em São Paulo, para participar do desfile das campeãs, no sábado. "Eu pago os R$ 8.000 mínimos de diária que devemos ao dono do teatro e venho."

Ela comenta a polêmica gerada por Zeca Pagodinho, que afirmou à Folha que "não tem mais" Carnaval nas ruas do Rio. "Marchinha, baile... é coisa de cem anos atrás. Já fui muito. Mas agora tem os blocos de rua." E anuncia: "Vou sair num bloco no ano que vem. Eu vi a Carolina Dieckmann no da Preta Gil e pensei: 'Minha filha tá lá e eu não tô?' A vovó vai também!".

Jorge Ben Jor endossa: "Não tem mais marchinha tocando em rádio, mas esta semana levei cinco horas para ir da Barra ao Santos Dumont. Tinha 400 blocos na rua."

Dunga também foi à Sapucaí, com a mulher e dois filhos. "Acho que o Ricardo Teixeira deve ter mais saudade de mim do que eu dele", diz, sorrindo, o ex-técnico da seleção, demitido em 2010 pelo então poderoso chefão da CBF. "Nos quatro anos em que eu fiquei lá, ele não teve problemas."

O treinador não teme vexame do Brasil na Copa de 2014. "Tô gostando", diz, sobre a seleção de Luiz Felipe Scolari. "Antes era um barco em alto-mar à deriva. Agora, tem direção. Goste-se ou não do Felipão, ele fala branco, é branco. Fala azul, é azul."

"Esquece estrutura, estádio, aeroporto, telefonia", diz ainda Dunga. "Quem vai fazer a diferença na Copa é o povo brasileiro. Se ele abraçar o evento, com essa animação toda [aponta para as arquibancadas do sambódromo], essa alegria, vai fazer toda a diferença. Senão, estamos perdidos."

O novo carnaval das ruas - ARNALDO JABOR


O ESTADO DE S. PAULO - 12/02

Todo ano minha coluna sai na terça-feira de carnaval. Não há outro assunto que possa suplantar a espantosa festa popular e acabo me repetindo. Eu andava irritado com a folia anual. Cheguei a dizer que o chamado "tríduo momesco" - como falavam os cronistas d"antanho - tinha virado uma calamidade pública. Mas, nos últimos dias, vendo as massas pulando nas ruas de Salvador, Recife e Rio, fiquei pensando: como é que pode? O que faz milhares de foliões se jogarem nas ruas como estouros de boiadas, o que será que provoca tanta fome de samba, de riso, de porres, de sexo em flor? Este ano, há blocos que congregam mais de 400 mil participantes, 400 mil dançando na orla do Rio, em um delirante comício de felicidade.

Olhei de perto um infinito rio de gente pulando na beira-mar, até sem ouvir mais a música que guiava os foliões, como uma locomotiva sonora. Houve uma mudança, sem dúvida.

Lembro-me do tempo recente em que todos reclamavam do "fim do carnaval", reduzido as alegorias luxuosas das escolas sob um elegante desprezo das elites. Lembro das primeiras damas da ditadura rebolando no camarote, d. Yolanda Costa e Silva ou d. Dulce Figueiredo, enquanto o carnaval de rua no Rio minguava, com mascarados solitários e escassos bloquinhos na avenida, restando apenas os "Clovis" de Santa Cruz com a tradição do passado. O carnaval oficial tinha virado um produto de mercado, um merchandising de bicheiros, uma festa para voyeurs, para turistas, inclusive para brasileiros - turistas de si mesmos.

Mesmo depois da ditadura, seria impossível ver esses imensos rios que passam em nossas vidas. Era impossível a alegria popular com 2 mil por cento de inflação ao ano, no fim da década de 80. Creio mesmo que essa enchente de povo se forma a partir da estabilização da economia em 94 e da maré em nossa direção, com o capital internacional dirigido aos países emergentes. Aos poucos, o País retomou sua autoestima e, especialmente no Rio, ela cresce nos últimos tempos, com o melhor controle da criminalidade e com o fim dos governos sórdidos que jogaram a cidade no buraco.

Subitamente, como as multidões árabes que tomaram as praças da África do Noite, nossas massas encheram a cidade. Sente- se o renascimento de um desejo gregário, até de contato físico entre as pessoas, uma explosão de liberdade e um irresistível desejo de existir em comunidade, de viver e morrer numa fervente multidão, onde todos virem um grande "um". Creio também que isso reflete o movimento atual da vida social que se organiza cada vez mais em redes, pois os métodos de comunicação pela internet não apontam mais para um futuro, para um ponto de chegada. Não. Agora a vida social tem uma dinâmica interna, intramuros, congregadora. Não mais utopias nem mesmo distopias, que são "finalismos" ao avesso. Não. Agora o movimento é no presente, é centrípeto, cerrando contatos e intimidades.

Não me esqueço do desfile premonitório que o genial Joãozinho Trinta fez com urubus, ratos e mendigos em 1988, anunciando que o luxo que ele tinha criado com sua frase luminosa ("o povo quer é luxo; quem gosta de miséria é intelectual...") poderia virar um lixo crítico, uma denúncia ao êxtase fácil e alienante. Ali estava um premindo do carnaval que agora se derrama, fluvial, pelo País.

Somos um povo esquisito, todo nu, pulando como malucos para espanto riso- nlio do mundo "civilizado".

Muito bem. Pois, acho o carnaval nossa marca e nossa grandeza. Como pode o mundo achar o carnaval uma loucura, este mundo irracional de homens-bomba e drones? É melhor entender o Brasil através do carnaval, do que ver o carnaval como um desvio da razão. O carnaval nos vê. Sua razão sacana nos ensina mais que estas "moralidades críticas".

Assim como o Círio de Nazaré congrega milhares pela esperança e fé, como um martírio triunfal, assim como o futebol congrega torcidas pela vitória de uma camisa, o carnaval de hoje me parece a consequência da democracia e do crescimento econômico do País. Enquanto as elites deprimem em casa, vão a um camarote de cervejaria ou fogem para a serra, milhares de bailarinos tomam a cidade como numa revolução.

O carnaval mostra que o Brasil tem outra forma de "seriedade", mais alta que a gravidade do mundo anglo-saxão. O carnaval mostra a matéria de que somos feitos, por baixo dessa mímica de "ocidente" que o Brasil tenta há quatro séculos. Mas, para descobrir um carnaval ainda mais puro, temos de ir aos blocos de "sujos", esses sim, com uma alegria selvagem e sem frescuras. Podemos ver nas ruas a preciosa origem do carnaval profundo. Lá, estão os desesperados, os famintos de amor, os malucos, os excluídos da festa oficial; é o carnaval dos miseráveis, a dança do escracho na melhor tradição da arte grotesca, dessacralizando as obrigações da virtude e da obediência. Na razão do carnaval existe algo mais além da imoralidade; há uma santidade nesta explosão de carne que não se explica. Onde existem estas montanhas de corpos se atirando uns aos outros, com sexo e música? A sacanagem das matas profundas é diferente das surubas calvinistas de Nova York, que inventaram o sexo torturado nas boates doentias e acabaram na aids. A "razão perversa" é a razão do carnaval. Não a perversão como "pecado", mas como mímica de uma liberdade, como a busca de uma civilização "não civilizada", de um retorno a uma animalidade perdida e, no entanto, pulsante.

A África e os índios nos salvaram, assim como salvaram os USA Que seria da América sem o jazz? Um país branco azedo, cheio de wasps tristes.

Nosso carnaval mostra que o Inconsciente brasileiro está à flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo o recalque. Já imaginaram um carnaval na Suíça? Talvez o carnaval seja uma doença salvadora, uma epidemia de "desbunde" de que o mundo precisa, por só conhecer a guerra, a velocidade e o mercado cruel.

Tempo de renovar - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 12/02

Impossível não transportar os problemas da Igreja nos últimos anos às agruras da política brasileira, em que as mudanças, a grosso modo, praticamente não ocorreram, o que afasta as pessoas



“Meu Deus, isso é um sinal do fim dos tempos”, reagiu um senhor assim que foi informado da renúncia do Papa Bento XVI, uma atitude tão inusitada que não acontecia desde a Idade Média e, ainda assim, por circunstâncias políticas, conforme você poderá ler nas páginas do Correio de hoje. Mas a retomada de uma medida tão extrema indica que o recurso não caiu em desuso e serve para encerrar um período complicado para o Vaticano, com denúncias de pedofilia, apropriação indevida de documentos da Igreja por parte do mordomo do Papa, ameaça de cisma, crescimento de outras religiões. Agora, se os cardeais forem devidamente iluminados na escolha do sucessor do Santo Padre, a Igreja Católica terá a chance de ganhar energia e, assim, tentar recuperar o terreno perdido.

Ao renunciar, o Papa Bento XVI abre novamente as portas da Igreja para mudanças, necessárias e urgentes no sentido de aproximação das pessoas e resolução dos problemas internos. Há quase um ano, jornalistas dedicados à cobertura do Vaticano mencionavam o clima de fim de pontificado reinante nos bastidores e o desencanto dos fiéis. Daqui até a escolha do novo papa, nem que seja por curiosidade, muitos vão procurar conhecer mais a Santa Igreja, suas qualidades e seus defeitos. E um novo papa, na Jornada Mundial da Juventude, pode ser tudo o que o Vaticano precisa para animar a moçada no caminho da fé e buscar resolver problemas internos.

Impossível ainda não transportar os problemas da Igreja nos últimos tempos (e essa porta aberta à renovação) às agruras da política brasileira, em que as mudanças, a grosso modo, praticamente não ocorreram. Para se ter uma ideia, nos funerais do Papa João Paulo II, em 2005, o então presidente Lula foi acompanhado de uma grande comitiva. Nela, estavam os então presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Lula fez um gesto de levar os ex-presidentes da República José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Itamar Franco, que faleceu no ano passado, era embaixador do Brasil na Itália. Faltou apenas o ex-presidente Fernando Collor, que à época ainda era visto pelo PT como um adversário.

Desde a posse de Bento XVI até hoje, muita água rolou sob a ponte da política brasileira, mas as renovações a grosso modo foram restritas e forçadas. No PT, por exemplo, a renovação só ocorreu por força da denúncia do mensalão, que tirou de cena uma grande parcela do primeiro time, com destaque para José Dirceu, que não ocupou mais nenhum cargo de evidência e está prestes a ir para a cadeia. José Genoino voltou ao Congresso, mas todos os dias alguém cobra seu afastamento.

No PMDB, essa renovação não veio. Os cargos principais do partido, salvo raríssimas exceções, continuam com o mesmo grupo. No PSDB, 2010 teve novamente José Serra como candidato. Isso sem contar a cansativa disputa entre mineiros e paulistas dentro do partido, que, sinceramente, ninguém aguenta mais. No PP, colocar um novo líder foi uma guerra. No PR, Valdemar Costa Neto, embora discretíssimo, ainda tem a força. No PDT, Carlos Lupi é quem dá as cartas.

Em termos de presidentes da República, Dilma só existe enquanto mandatária da Nação — uma novidade — porque Dirceu e Antonio Palocci, cotados para suceder Lula, sucumbiram. E os outros que poderiam ocupar o posto naquelas circunstâncias teriam problemas internos. Agora, dentro do partido, já tem um grupo sonhando com o retorno do ex-presidente. Mais um sinal de que renovar não é tão fácil quanto parece. Esperamos que a Igreja consiga.

Por falar em Lula…
De todos os políticos mais antigos que continuam em evidência, são poucos os que se mostram solidários com as pessoas de um modo geral, que acolhem o povo como parceiro e não alguém inferior. Talvez seja esse o segredo da popularidade de Dilma, que passa essa imagem de solidariedade e de proteção. Ou o de Lula, que fala de igual para igual com os cidadãos nos palanques. Muitos podem discordar dele, mas há de se admitir seus méritos. Lula parece ter sido, até o momento, o único a captar a mensagem de mudança vinda das pessoas. A Câmara e o Senado não captaram. A Casa Alta está mais em evidência e começa essa Legislatura com o constrangimento de abaixo-assinados.

As pressões externas, entretanto, não surtirão efeito a curto prazo. O momento dos presidentes das duas Casas, reforçados pelos votos que obtiveram, é o de tentarem se reinventar nos cargos. Henrique Eduardo Alves deu a partida nesse sentido. Renan Calheiros está mais contido. Se eles conseguirem ultrapassar essa fase, talvez ainda tenham alguma condição de reaproximar o parlamento das pessoas. Afinal, embora o estado seja laico, a Igreja e Congresso Nacional nunca estiveram tão juntos em termos de objetivos. O tempo dirá quem cumprirá primeiro a sua meta.

Suco em Túnis - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 12/02


Tudo estava preparado para que nada mais acontecesse. Desde que os islamistas do Al Nahda ganharam a primeira eleição pós-revolução tunisiana, o jogo parecia armado.

Bastaria que eles controlassem por alguns anos suas demandas de islamização da sociedade, enquanto construíam paulatinamente políticas sociais capazes de minorar a extrema pobreza de grande parte da população. O impacto da melhoria econômica seria um capital valioso para o partido consolidar-se no poder, tendo então mãos mais livres. Mas a astúcia da história conta com o fato de o bom-senso político não ser a coisa mais bem partilhada do mundo.

Sem o esperado combate direto à pobreza e deixando os salafistas atuarem de maneira cada vez mais brutal, o Al Nahda permitiu que a oposição laica se unificasse, despertando um sentimento de desconfiança em relação à religião que se confunde com a formação da Tunísia moderna.

Os debates sobre laicidade atravessam a história tunisiana como em nenhum outro país árabe e têm raízes em sua própria tradição. Dificilmente encontraremos outro país onde poderíamos ver, na TV, o artífice da independência (no caso, Habib Bourguiba) bebendo suco de laranja em pleno dia, no Ramadã, mostrando ostensivamente não respeitar o preceito do jejum. A metáfora era clara: "Precisamos de menos religião e de mais desenvolvimento econômico".

Agora, com o assassinato do líder esquerdista Chokri Belaid, a Tunísia esta às portas da crise institucional. Diante da primeira greve geral desde 1978, o primeiro-ministro, Hamadi Jebali, afirmou que dissolverá seu governo para formar outro, composto basicamente por "tecnocratas apolíticos". No que foi pronta-mente desautorizado por seu próprio partido.

É difícil saber o que ocorrerá. O Al Nahda governava com uma coalizão de dois partidos laicos (Ettakatol e Congresso pela República). O primeiro já abandonou o governo. Sozinho, será impossível aos islamistas fazerem frente a uma oposição unida e mobilizada.

Uma revolução é um processo em que vários sistemas de freios são testados. Primeiro, quando o governo Ben Ali caiu, seus asseclas procuraram se conservar no poder, no que acabaram por ser todos rechaçados. Depois, como eram o grupo político mais organizado, os islamistas souberam se aproveitar da baixa participação popular na primeira eleição livre, assim como da dispersão da oposição, para subirem à cena.

Mas eles não esperavam que, pouco mais de um ano depois, fossem obrigados a ouvir a população gritando: "O povo quer uma nova revolução". No fundo, os islamistas esqueceram que muita gente quis tomar suco de laranja com Bourguiba naquele dia.

Me leva que eu vou - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 12/02

COM SIMONE IGLESIAS

Os tucanos estão preocupados com a demora de Aécio Neves (MG) em assumir a candidatura à Presidência. Dizem que, se isso não acontecer até a convenção de maio, o partido corre o risco de enfrentar muitas deserções. O PSB tem assediado tucanos de São Paulo e Pernambuco, que pensam em sair por espírito de sobrevivência e pela falta de perspectiva de poder do PSDB.

Sacode a poeira
Para conseguir pensar em 2014, o PSDB precisa esgotar sua agenda interna. Tucanos responsabilizam o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-prefeito José Serra por paralisarem o partido num momento crucial para demarcar posição. A combinação explosiva formada por demora para se articular, insatisfações crescentes e falta de perspectiva de poder pode resultar em um PSDB desunido e menor para enfrentar as eleições do ano que vem. Não há, segundo os tucanos, nem articulação básica entre as bancadas da Câmara e do Senado, que estão atuando sem uma estratégia comum.

“Deram ao Papa Bento XVI três missões: fazer Serra apoiar Aécio, o Palmeiras campeão da Libertadores, e Barrichello voltar à F-1. Renunciou”
Ricardo Berzoini
Deputado federal (PT-SP)

Na berlinda
Em conversas com ministros, é recorrente a insatisfação de empresários com a atuação de Guido Mantega (Fazenda). Dizem que perderam a confiança, que ele não passa segurança e que o governo tem visão muito intervencionista.

Shhhhh!
O grupo de trabalho da eleição do embaixador Roberto Azevêdo a presidente da OMC foi desalojado da sala que ocupava no Itamaraty. O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) se incomodou com o barulho, pois a sala cedida, o comitê de imprensa, fica embaixo do seu gabinete. O grupo foi realojado numa sala no subsolo.

Todos são iguais
O PSOL apresenta projeto de resolução que acaba com privilégios a ex-presidentes da Câmara. Acha que a isonomia está sendo desrespeitada e critica o deputado Marco Maia (PT-RS) por ter desalojado servidores para fazer amplo gabinete.

Jeitinho
Marcelo Déda (PT-SE) é o único dos 17 governadores que não conseguiu aprovar o Proinvest, ajuda financeira da União para obras de infraestrutura, na Assembleia de seu estado. Os deputados rejeitaram o aporte de R$ 727 milhões em dezembro. Mas, para socorrer o aliado, a presidente Dilma prorrogou o prazo de adesão ao programa até o fim deste mês.

Tudo se resolve
Para evitar que o PR vá à Justiça exigindo a proporcionalidade nos cargos da Mesa, pois ficou atrás do PP, com bancada menor, o presidente do Senado, Renan Calheiros, deu ao partido a Ouvidoria e uma vaga na Procuradoria da Casa.

Ossos do ofício
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) não tem mais dedos para furar neste carnaval. Em cada posto avançado de Saúde que visita, entre o Rio e o Nordeste, é recrutado para a testagem rápida de HIV, sífilis e hepatites B e C.

DE OLHO NOS VIZINHOS. O ex-ministro e coordenador do Instituto Lula, Luiz Dulci, será observador nas eleições presidenciais do Equador, dia 17.

Fé e política - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 12/02


A renúncia de Bento 16 é vista no Planalto como uma janela para a reaproximação do governo brasileiro com o Vaticano. As relações vêm se desgastando desde 2007, quando a Igreja Católica e Lula travaram debate acerca do ensino religioso na rede pública. A tensão se agravou na campanha presidencial de 2010. Dilma Rousseff não digeriu a mensagem do pontífice às vésperas do segundo turno exortando bispos brasileiros a abraçar a "luta política" contra o aborto.

Ato... Para aliados da então candidata à Presidência, a intervenção do pontífice a dois dias da eleição foi interpretada como um ataque. Na época, contudo, Dilma reagiu protocolarmente à fala de Bento 16 a religiosos do Nordeste que o visitavam.

... de contrição O aborto havia sido deslocado para o centro da disputa eleitoral com José Serra. Bispos da ala mais conservadora da Igreja pregavam boicote deliberado à petista, a quem se vinculava defesa da descriminalização da prática no país -conduta sempre negada por ela.

Oremos Interlocutores da presidente, que recebeu a informação da renúncia ontem, por volta das 9h, entendem que a substituição redimensionará a Jornada da Juventude. Previsto para julho, no Rio de Janeiro, o evento tinha público estimado em dois milhões de fiéis. Esse número deve ser revisado agora.

Teste Como o ato para jovens deve se transformar na estreia do novo papa em megaeventos, o país será centro das atenções antes mesmo da Copa-2014, exigindo, assim, ações complementares na área de infraestrutura.

Timing Na semana passada, representantes do Ministério da Justiça e do governo fluminense haviam tomado as medidas derradeiras sobre o plano de segurança para recepcionar Bento 16. O aparato que seria mobilizado foi definido com o secretário José Mariano Beltrame.

Sinais Quem convive com dom Odilo Scherer diz que o arcebispo de São Paulo viajou a Roma ciente de que o consistório ordinário iniciado ontem não teria em pauta apenas a canonização de três novos santos. "Ele já sentia que havia indícios de mudança", afirma um interlocutor.

Corrida... Dois nomes lideram patrocínios no meio jurídico para ocupar cadeira de Carlos Ayres Britto no Supremo Tribunal Federal, a ser definida em março. O advogado Heleno Torres conta com apoio de Ricardo Lewandowski, enquanto Humberto Ávila tem a bênção do ex-ministro da corte Eros Grau.

... suprema Por fora, corre Sílvio Rocha, do Conselho Nacional de Justiça, apadrinhado por Celso Bandeira de Mello. Petistas, contudo, veem com reserva apoio do jurista, já que ele foi um dos responsáveis pela indicação de Ayres Britto, cuja atuação no julgamento do mensalão decepcionou o partido.

Fome de votos Em seu giro carnavalesco pelo interior de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) repetiu indigesto menu de almoço no domingo, em Pesqueira, e ontem, em Olinda: buchada de cabrito. Um correligionário do governador sentenciou: "É cardápio de candidato".

Ensaio... Flávio Dino (PC do B-MA) acusa a família Sarney de promover campanha no Carnaval contra o prefeito de São Luís. Segundo Dino, funcionários de Roseana Sarney (PMDB) alardeiam que Edivaldo Holanda (PTC), que é evangélico, seria contrário à festa popular.

... geral O presidente da Embratur diz que as críticas são uma prévia da estratégia dos adversários para a eleição estadual. "Querem promover uma guerra santa".

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Mais que uma lei, a Ficha Limpa é um novo degrau da consciência da cidadania. Pena que o parlamento não tenha sintonia com ela."
DO JUIZ ELEITORAL MARLON REIS, analisando o fato de 9 das 27 Assembleias Legislativas do país serem presididas por deputados com pendências judiciais.

contraponto


Jornada complementar


Fernando Haddad acompanhava a primeira noite de desfiles no sambódromo paulistano, sexta-feira, quando foi cercado por secretários no camarote da prefeitura. O verador Orlando Silva (PC do B) perguntou, brincando:

-Todos vieram receber a liberação para a folia?

Um assessor completou, sem que Haddad ouvisse:

-Está esgotada a cota de trabalho da semana. Isso se não vier uma convocação de emergência até quarta-feira.

João Antonio, titular da pasta de Relações Governamentais, contemporizou:

-Na verdade, estamos todos em plantão permanente.

Antes e depois do Carnaval - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 12/02

BRASÍLIA - A inflação de janeiro foi a maior desde abril de 2005 e a pior dos últimos dez anos. Como admite Alexandre Tombini (BC) e nega Guido Mantega (Fazenda), é preocupante. O mercado já prevê aumento de juros, algo indigesto para o governo sob todos os aspectos.

Mas... depois do Carnaval, a presidente Dilma Rousseff vai se reunir alegremente com líderes camponesas no Parque da Cidade, em Brasília, e ficará tudo ótimo.

Os baixos níveis de desemprego são uma das mais reluzentes vitrines do governo e, apesar disso, o emprego na indústria caiu 1,4% em 2012, como reflexo do pibinho de 1% -se é que vai chegar a tanto.

Mas... depois do Carnaval, no dia 20, Dilma e Lula estarão com petistas e aliados comemorando o legado do PT. Isso é o que importa.

A Petrobras, coitada, está detonada. Seu lucro líquido caiu 36% no ano passado e suas ações não param de esfarelar nas Bolsas.

Mas... depois do Carnaval, Lula será a estrela do seminário inaugural dos dez anos do PT no poder, em Fortaleza. O resto é detalhe.

O governo maquiou contas para ter um superavit primário digerível.

Mas... depois do Carnaval, Dilma vai fazer uma reforma ministerial bacana, reequilibrando os partidos já aliados e absorvendo o PSD.

E o Tesouro Nacional deu o cano no FGTS, retendo a contribuição das empresas pelas demissões por justa causa, para fechar artificialmente as contas do ano passado. Se ilegal não é, bonito também não chega a ser.

Mas... depois do Carnaval, Lula reavivará sua eficiente Caravana da Cidadania, distribuindo carisma e lábia país afora. Tudo é uma festa.

Assim, o Brasil segue na contramão do Chile. No simpático e aplicado país sul-americano, a economia vai bem, mas a reeleição do presidente Sebastián Piñera vai mal. No melhor país do mundo, que é o nosso, a economia não está lá essas coisas, mas a reeleição de Dilma Rousseff em 2014 vai de vento em popa.

Uma coisa leva a outra - CRISTOVÃO TEZZA

GAZETA DO POVO - PR - 12/02

Como sempre vivi preguiçosamente na província, sou um apaixonado por correio. Passei muito tempo na vida escrevendo cartas. Uma boa “História universal dos correios”, se existe, certamente seria uma leitura fascinante. Não estacionei nas cartas, é claro. No meu exílio em Gaivotas, onde não passa carteiro, recorro ao milagre da tabuleta digital. Com o chipezinho que contratei (mesmo lento e caro, à brasileira), consigo comprar livros e revistas do mundo inteiro, sem intermediários. Semana passada, a revista The New Yorker trouxe uma matéria sobre Galileu, considerado o pai da ciência moderna (“Moon man”, por Adam Gopnik), que frisa a importância do correio já há 450 anos.

“O correio era o milagre da época. Pelo correio, a nova ciência cruzava a Europa de modo quase tão fluido como no tempo do e-mail. É assombroso seguir a tríplice correspondência entre Tycho Brahe, Kepler e Galileu.” E desde aqueles tempos heréticos o correio era monopólio do Estado, para quem o controle da informação é crucial. Mas hoje, pela revolução digital, os correios perderam sua função de origem – transportam, basicamente, encomendas. Alguém ainda se lembra dos telegramas?

Dia seguinte, eureca! Descobri que Praia de Leste também tem uma agência! No outro dia fui lá, cheio de entusiasmo. Só cinco pessoas na fila. Enquanto esperava, conferi na publicidade sorridente que os Correios agora fazem de tudo: são até banco, e sobre os guichês balançava-se um rosário de raspadinhas à venda. E ainda aceitam cartão! Incrível! Mas, na hora de pagar, não houve jeito: o tal do “sistema” não funcionava. A funcionária gentilmente sugeriu que eu fosse ao caixa eletrônico da esquina para pegar dinheiro e pagar os R$ 42.Pois bem, mesmo aqui chega um hora em que você precisa de correio físico. Eu tinha de enviar à editora as provas revisadas de um livro e, portanto, teria de ir “à cidade”. Coloquei minha melhor bermuda, um boné discreto, tênis e meia, me despedi da família e fui para Matinhos, a 15 km daqui. Cheguei à agência amarelinha e esbarrei com uma fila de – contadas – 23 pessoas. Dois abnegados funcionários tocavam o barco, que entretanto não se movia. Quinze minutos depois, resolvi sair, tomar sorvete, passear na orla, andar de triciclo, e, perto das 5 da tarde, voltar lá para ver se a espera seria menor. Contei 17 pessoas, fazendo aquelas dobras respeitosas de fila indicadas por setas desenhadas no chão. Desisti: estou em férias.

Em outras palavras, nada parece funcionar nos Correios: são uma instituição obsoleta, que cobra muito caro, atende mal e, cada vez mais, entrega com atraso. E vem se tornando um balcão político. Quando sugeri que talvez fosse o momento de acabar com o monopólio, que hoje não faz nenhum sentido, a funcionária brincou: “Assim vou perder o emprego”. É o contrário: haveria mais emprego. E mais eficiência, como nos tempos de Galileu.

O risco de colapso das Santas Casas - EDSON ROGATTI

FOLHA DE SP - 12/02

A cada R$ 100 gastos na assistência pública, apenas R$ 65 são ressarcidos pelo governo. O SUS deixou de cumprir sua obrigação


As Santas Casas e hospitais beneficentes iniciam 2013 com dívidas de R$ 12 bilhões. Até o final do ano, o valor será de cerca de R$ 17 bilhões, considerando o deficit anual de mais R$ 5 bilhões nos contratos e convênios com o SUS (Sistema Único de Saúde).

Em 2011 -e a situação em 2012 foi semelhante, embora o rombo ainda não tenha sido totalmente contabilizado-, o custo nessas modalidades de atendimento foi de R$ 14,7 bilhões e a remuneração para as entidades, de R$ 9,6 bilhões.

Esse cenário se arrasta há anos e não existem indicações de que uma solução esteja a caminho. Nessas condições, muitas instituições não sobreviverão até 2014. Fecharão as portas ou diminuirão sensivelmente o volume de atendimento ao SUS.

Atualmente, a cada R$ 100 gastos na assistência pública, apenas R$ 65 são ressarcidos pelo governo. Essa diferença é ainda maior nos atendimentos de média e baixa complexidade, tanto ambulatorial como hospitalar.

Do total da dívida, 44%, ou R$ 5 bilhões, é devido ao setor financeiro, com a incidência permanente de juros. Ou seja, amanhã o valor já será maior. Esse passivo crescente, é importante lembrar, existe porque o SUS deixou de cumprir sua obrigação no acordo que celebrou com as instituições filantrópicas para viabilizar sua criação. Naquela ocasião, o Estado não tinha -e ainda não tem- estrutura suficiente para oferecer o atendimento público e universal ao qual se propôs e é obrigado pela Constituição.

As entidades beneficentes são responsáveis por mais da metade do atendimento público no país. Embora tenham a obrigação de oferecer 60% da sua capacidade ao SUS, a grande maioria põe à disposição mais de 90%. Em várias, a assistência é integral. E 56% delas estão localizadas em municípios com até 30 mil habitantes, onde normalmente é a única alternativa gratuita para a população.

O colapso -ou mesmo a diminuição no atendimento para o limite da lei- vai provocar um grave problema assistencial. E essa possibilidade é iminente.

O prejuízo é maior ao se analisar que os hospitais filantrópicos são eficientes. Operam com menos custos do que os federais e estaduais (que são cerca de cinco vezes mais caros) e recebem apenas um terço da remuneração paga às Organizações Sociais (OS).

Diante disso, as Santas Casas e hospitais beneficentes estão organizados em torno de reivindicações básicas, que consideram indispensáveis para o início de um processo de recuperação financeira.

No documento "Carta de Votuporanga", assinado por mais de 200 instituições que atendem a 31 milhões de usuários do SUS, solicitam 100% de reajuste sobre os cem procedimentos de média e baixa complexidade com maior incidência nos valores pagos pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS em 2011, os quais corresponderam a 84% do total das internações realizadas, devendo ser incluídas as diárias na área da psiquiatria.

O impacto será de R$ 6,8 bilhões, se alcançarem todos os prestadores, ou cerca de R$ 4 bilhões somente com o setor das Santas Casas e hospitais filantrópicos. Isso poderá ser efetivado por meio da contratualização ampliada a todas as instituições (possibilidade de aumento de receita por meio do estabelecimento de metas qualitativas e quantitativas).

Também pedem anistia das dívidas relacionadas a tributos e/ou contribuições, a partir de lei específica, bem como a possibilidade de reestruturação do endividamento bancário.

Sem essas medidas, 2013 pode ser o ano do colapso do atendimento público realizado pela rede filantrópica de saúde.

O enterro da responsabilidade fiscal - FELIPE SALTO

O ESTADO DE S. PAULO - 12/02

Desde 2006 o governo federal vem estabelecendo novos padrões para o desenho das políticas macroeconômicas no Brasil, o que foi intensificado no governo Dilma Rousseff. Os objetivos são: câmbio desvalorizado, juro real baixo e crescimento de 4,5% ao ano. O instrumento: expansão fiscal. A economia já está colhendo os frutos dessa "nova matriz" de política econômica: crescimento baixo e inflação alta. Adicionalmente, tal conjunto de políticas lega à economia e à sociedade um Estado obeso, menos transparente e que regride no âmbito das instituições de finanças públicas.

A expansão serve tanto ao controle da inflação (via desonerações pontuais) como à metade produzir crescimento a todo custo, seja pelo avanço das despesas, seja por meio de pacotes de estímulos e crédito público subsidiado pelo restante da sociedade, não escolhida para participar do banquete. A coroar todo o processo está a contabilidade criativa, que serve como maquiagem para o lado feio expansão.

A política fiscal no País tomou um rumo incompatível com a sustentação de um regime de metas para o superávit primário. Não apenas os descontos do PAC são utilizados para reduzir a meta anual de superávit, como um volume importante de gastos vem sendo realizado sem a devida contabilização na despesa primária. É o caso dos subsídios implícitos nas operações de concessão de crédito ao BNDES, que oneram as contas públicas em R$ 15 bilhões ao ano, pelo menos, mas que aparecem apenas parcialmente na desagregação das despesas. Além disso, um fluxo elevado de receitas tem sido fabricado pelo governo por meio dessa relação espúria entre os bancos públicos e o Tesouro Nacional. Trata-se das receitas de dividendos pagos à União.

O problema resume-se no fato de que as receitas de dividendos - que foram gerados na própria atividade realizada pelos bancos públicos - entram na conta do superávit, mas as despesas com os subsídios, não. A diferença, simplesmente, acaba por produzir um resultado

primário maior do que aquele que efetivamente vem sendo realizado pelo governo. O total em créditos do Tesouro junto ao BNDES já superou a marca dos R$ 350 bilhões, conforme abertura da dívida líquida do setor público consolidado, divulgada pelo Banco Central.

Como se não bastassem tais artifícios, essa contabilidade criativa, o governo decidiu sacar novos instrumentos do estojo de maquiagem. No último dia de 2012 o Tesouro resgatou R$ 12,4 bilhões do Fundo Soberano do Brasil (FSB), registrou receita de R$ 2,3 bilhões em títulos pagos pelo BNDES à guisa de antecipação de dividendos e de R$ 4,7 bilhões, por meio do mesmo mecanismo, usando a Caixa Econômica. Agora, em fevereiro, anunciou-se a cereja do bolo: os R$ 20 bilhões previstos pelo governo em renúncias fiscais com as medidas de desoneração tributária poderão, da mesma forma que os gastos do PAC, compor o montante a ser abatido da meta de superávit primário, como se o gasto não tivesse sido realizado.

Em verdade, tais medidas representam o abandono definitivo do regime de metas de superávit primário. E evidenciam que o governo não medirá esforços para buscar subterfúgios capazes de ampliar a intensidade da política fiscal mal-acabada instituída em 2009. Pisará fundo no acelerador do gasto público, reduzindo o potencial de crescimento do produto interno bruto (PIB).

Quanto ao FSB, é preciso lembrar que os recursos sacados para produzir resultado, às pressas, foram originados no próprio orçamento fiscal, em 2008, quando a arrecadação apresentava recorde atrás de recorde. Isto é, reservou-se 0,5% do PIB, num fundo criado pela Fazenda, que poderia simplesmente servir para fazer política efetivamente "anticíclica". No entanto, como se sabe, os objetivos do fundo eram outros: intervir no mercado de câmbio a fim de produzir a taxa cambial depreciada almejada pelo governo.

Agora, passados quatro anos, e após o fundo amargar prejuízos vultosos, por causa de sua política equivocada de investimento em ações da Petrobrás, o governo age de maneira a fazer crer que nunca imaginara o FSB como um instrumento da Fazenda para ampliar seu potencial de atuação no mercado cambial. Atuou, de forma pouco transparente e tomando a medida aos 45 minutos do segundo tempo, para apagar o incêndio produzido pela sua própria ingerência, motivada pelo desprezo ao papel exercido pela responsabilidade fiscal, nos últimos 15 anos, na sustentação do processo de crescimento e de controle inflacionário.

Há diversas maneiras de construir um arcabouço de instrumentos e de políticas com o fim de garantir a austeridade fiscal. A fixação de metas para o superávit primário, como é sabido, pode ser questionada em vários pontos, mas seu abandono apenas deveria ocorrer na hipótese de o governo ter construído uma alternativa melhor para substituir esse mecanismo de geração de esforço fiscal e redução da dívida/PIB.

O Brasil já passou por momentos de crise da dívida interna, quando a credibilidade do País era baixa, a confiança do restante do mundo na economia doméstica era mínima e o governo não dispunha de nenhum mecanismo institucional para controlar a evolução de suas despesas. Mas conseguiu conquistar uma situação positiva nessa seara, que teve efeitos extremamente benéficos sobre a dinâmica de crescimento, o controle inflacionário e a sustentação de poupança externa razoavelmente elevada para alicerçar a aceleração do consumo observada nos últimos anos.

Hoje em dia, com a marcha à ré engatada pelo governo, no campo fiscal conseguiremos um feito quase impossível de ser empreendido, mesmo com tanto empenho: enterrar o sistema de metas fiscais e, em seu lugar, deixar um enorme ponto de interrogação.

Peso dos derivados - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/02

A principal mudança recente na balança comercial brasileira aconteceu no setor energético. É isso que explica o déficit de US$ 4 bi da balança em janeiro. Quatro dos 10 principais produtos importados em 2012 são matérias-primas energéticas. Petróleo lidera. Em pelo menos cinco itens a produção interna é menor que o consumo: óleo diesel, gasolina, gás natural, nafta, querosene de aviação.

Embora a balança comercial do petróleo - sem os derivados - seja positiva, ele é o item que lidera a lista, com US$ 13 bilhões importados em 2012. O óleo extraído no país, em sua maioria, é pesado. Isso obriga a Petrobras a comprar lá fora o produto leve, do qual se extrai mais gasolina.

O país passa por uma explosão do consumo de combustíveis fósseis. Para atender a essa demanda, o Brasil é grande importador de gasolina, diesel, querosene de aviação, nafta petroquímico e até mesmo etanol - disse Adriano Pires, diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

Dos 10 principais produtos importados em 2012, quatro são insumos energéticos. Depois do petróleo, vem o óleo combustível, em quarto lugar, com US$ 6,7 bilhões importados. Nafta petroquímico aparece em sétimo, com US$ 4,1 bi, e o gás natural surge em décimo, com US$ 3,3 bilhões. A gasolina vem galgando posições e já representa US$ 3 bilhões de importação.

Segundo levantamento do CBIE, feito com exclusividade para a coluna, de janeiro a novembro de 2012, último dado disponível pela ANP, a produção de óleo diesel foi de 41,5 milhões de metros cúbicos. Mas o consumo chegou a 50,9 milhões. Houve um gargalo de 9,4 milhões de m3 de diesel. Com o nafta petroquímico, usado na fabricação de plástico, aconteceu a mesma coisa: produção de 5,9 milhões contra consumo de 11,2 milhões. A produção de querosene de aviação foi 1,6 milhão de metros cúbicos menor que o consumo, de janeiro a novembro de 2012.

Desde janeiro de 2011, a produção de gasolina do país não consegue suprir a demanda. O gargalo ficou maior em 2012. A produção subiu 11%, mas o consumo cresceu 20%. Pela medida em metros cúbicos, a diferença entre a produção e o consumo subiu de 2,2 milhões, de janeiro a novembro de 2011, para 4,2 milhões, no mesmo período de 2012.

O baixo nível dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas, que fecharam janeiro com o menor volume desde 2001, vai exigir maior importação de gás natural. Para poupar água, será preciso deixar ligadas as usinas termelétricas. Um exemplo está acontecendo com a usina de Uruguaiana, no Sul do país. O gás natural liquefeito (GNL) foi importado de Trininad e Tobago, transportado até a Argentina, e levado pelo gasoduto até a usina brasileira. No ano passado, o consumo de gás exigiu que fossem importados 1,2 milhão de metros cúbicos. A demanda por gás dessas usinas subiu 102% no quarto trimestre, segundo a Petrobras.

O governo fez grande uso político do fato de ter se atingido uma produção de petróleo suficiente para o consumo brasileiro. O país terá atingido então, garantiu o presidente Lula com as mãos sujas de petróleo e o macacão laranja da Petrobras, a mítica autossuficiência. A economia não respeita as simplificações do populismo político. Hoje, os derivados de petróleo são o grande peso nas importações, a insuficiência energética é uma realidade diária que bate no bolso do consumidor e do acionista da Petrobras.

A estatal tem inúmeras virtudes e ao longo do seu mais de meio século fez enormes contribuições à vida brasileira, desenvolvendo uma tecnologia de ponta, mas ela não pode ser apropriada por um governo como foi durante o período Lula. E as simplificações grosseiras, como a de que o governo de então teria feito a Petrobras mais forte e por isso ela teria atingido a autossuficiência, é desmentida pela realidade.

A empresa colhe hoje o preço da excessiva interferência política dos últimos 10 anos. Teve que fazer investimentos como o da Refinaria Abreu Lima, cujo custo deu um salto ornamental em relação ao preço previsto inicialmente, e tudo isso para refinar o petróleo da Venezuela. E esse não foi o único investimento caro e equivocado feito pela empresa. A balança comercial está mostrando a realidade: um país que depende, e muito, de vários insumos energéticos derivados do petróleo.

O gargalo do agro - CELSO MING

O ESTADO DE S. PAULO - 12/02

Enquanto a indústria brasileira amargou, em 2012, queda de 2,7% em sua produção e, há anos, sofre forte esvaziamento (desindustrialização), o agronegócio, com algumas avarias em alguns dos seus subsetores, exibe pujança.

A nova projeção para o ano, divulgada quinta-feira pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta para a produção de 183 milhões de toneladas de grãos, 13,1% maior do que a anterior. Os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), levantados com metodologia diferente, são igualmente otimistas: colheita de 185 milhões de toneladas de grãos, neste período 2012/2013 - 11,3% a mais do que na safra 2011/2012.

Condições climáticas e preço bom são os dois principais fatores que mais colaboram para esse sucesso praticamente assegurado. Mas também tem a ver com ele a maior disponibilidade de crédito a juros mais baixos. A carteira total destinada a essa área até junho é de R$ 133 bilhões, 26% acima das disponibilidades na safra anterior.

O problema é a infraestrutura. Faltam condições de armazenamento e de transporte. O analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado, vê grande descompasso entre os ritmos de produção e o de investimento nas últimas décadas: "Produzimos como uma China e investimos como um Paraguai". Para ele, a disparada dos custos para o produtor come boa parte do retorno proporcionado pelo aumento de produção e pelos bons preços.

Para acolher toda a safra estimada, faltam R$ 10 bilhões em investimentos em aumento de capacidade de armazenamento. O ideal é que o setor possa estocar até 120% da produção. No entanto, neste ano, conta com só 75%. Perto de 45 milhões de toneladas de grãos não têm onde ser guardadas. Ou ficará dias e mais dias sob a lona dos caminhões, o que implica custos adicionais, ou ficará em abrigos improvisados, sujeitos a perdas de todo tipo.

A falta de armazéns nas zonas de produção criou novos gargalos, desta vez nos portos. Molinari calcula que, hoje, mais de 60 navios graneleiros estão parados apenas no Porto de Paranaguá (PR), dada a falta dos chamados "pulmões" para estocagem. Cada navio parado custa mais de US$ 40 mil por dia, ou seja, somente aí as perdas diárias sobem a US$ 2,5 milhões.

Daniel Latorraca, gestor do Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária está otimista: "A redução dos juros básicos para 7,25% ao ano e o maior acesso ao crédito devem levar o produtor a construir mais armazéns". E André Debastiani, sócio da Agroconsult, concorda: "O faturamento dos últimos anos, enfim, pode garantir esse salto de qualidade".

Mas há um pedaço enorme do problema que não pode ser resolvido pelo agricultor. Faltam estradas em boas condições e ferrovias para escoar a safra. Os custos com transporte não param de subir. A saca de milho de 60 quilos, por exemplo, só tem comprador por R$ 14 no Mato Grosso. Mas apenas o frete por caminhão ao Porto de Santos sai por R$ 17. Ou seja, cabe ao governo prover melhores condições de transporte.

O segmento mais próspero da economia brasileira não pesa mais do que 5% no PIB. Por isso, seus recordes terão pouco impacto na renda total.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 12/02


Cresce importância de emergentes no PIB global
A participação das economias emergentes no crescimento global irá superar, pela primeira vez, a dos países desenvolvidos, de acordo com projeções da PwC (PricewaterhouseCoopers).

A análise da empresa considera o PIB dos países em termos de paridade de poder de compra.

Historicamente, China, Índia e Brasil são responsáveis por 26% da expansão econômica do mundo. Neste ano, a estimativa prevê que o número chegue a 48%.

Enquanto isso, os Estados Unidos e a zona do euro devem ver sua importância ser reduzida de 26% para 11%, segundo o estudo.

"É um divisor de águas, considerando que, nos 25 anos que antecederam a crise financeira, os três países representavam cerca de um quarto do crescimento global", afirma Henrique Luz, sócio da PwC.

"Em termos absolutos, o crescimento do Brasil é menor, mas, mesmo assim, a contribuição do país no cenário global é relevante."

A mudança na composição do crescimento econômico mundial deve impactar o mundo dos negócios.

"As empresas terão de reavaliar suas estratégias de negócio considerando essa nova ordem, mas esse é um movimento que já começou e continuará a acontecer gradativamente", diz Luz.

A PwC projeta também um aumento de 3,6% no PIB brasileiro e uma inflação de 5,5% neste ano. Para 2014, as projeções são de 4,1% e 5,2%, respectivamente.

CERVEJA GAÚCHA
Cinco anos após fechar a microcervejaria e casa noturna que tinha no cruzamento da avenida Faria Lima com a Juscelino Kubitschek, em São Paulo, a gaúcha Dado Bier se prepara para voltar à capital paulista.

A empresa inaugurou na semana passada, em Porto Alegre, o modelo que pretende exportar para outras cidades: restaurante dentro de shopping center.

"Não tem como pensar em um modelo de replicação sem pensar em São Paulo", afirma Daniel Santoro, sócio da companhia. Data e local para esse retorno, porém, ainda não foram definidos.

Contratos para mais duas unidades como essa já foram fechados, além de um para um restaurante menor, em formato de pub. Juntos, os empreendimentos demandarão cerca de R$ 16,5 milhões.

"Também estamos conversando com grupos da China e dos EUA", diz o sócio Eduardo Bier.

ARTE TIPO EXPORTAÇÃO
Dez galerias brasileiras irão participar da feira de arte contemporânea ARCOmadrid, que acontece nesta semana na Espanha.

Dessas, três receberam um apoio maior, como auxílio para pagamento de estande, da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e da Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea).

Elas haviam se inscrito, ao lado de outras nove, para um programa das duas entidades de apoio às galerias menores, que nunca participaram de eventos no exterior, e foram selecionadas pela curadoria da feira espanhola.

"É uma ajuda para as três galerias [Emma Thomas, Sim e Jaqueline Martins] entrarem no mercado internacional", afirma Mônica Novaes Esmanhotto, gerente do projeto.


Mal na fotografia - JOSÉ PAULO KUPFER

O ESTADÃO - 12/02

São bem conhecidas as distorções e disfunções do sistema tributário brasileiro. A carga tributária é excessiva, rivaliza com a de países ricos, quando não a supera, e se situa muito acima da presente nas economias de porte semelhante. Além disso, os tributos que a compõem são de má qualidade, acentuam as desigualdades de renda, afetam negativamente a competitividade da economia e são difíceis tanto de cobrar quanto de pagar. Em resumo, se os maiores especialistas fossem reunidos para elaborar o pior sistema tributário que conseguissem este não seria tão ruim quanto o brasileiro.

Esse péssimo conceito, que acompanha o sistema brasileiro há pelo menos quatro décadas, acaba de ser mais uma vez confirmado. A confirmação pode ser encontrada num excelente levantamento publicado nos primeiros dias de fevereiro pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O estudo, de autoria do economista José Roberto Afonso, uma referência entre os especialistas em questões tributárias no Brasil, em conjunto com os economistas Kleber Pacheco de Castro e Julia Morais Soares, com o título "Avaliação da estrutura e do desempenho do sistema tributário brasileiro:livro branco da tributação brasileira", em sua versão de janeiro de 2013, com dados atualizados até junho do ano passado, (http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=37434330), conclui que enfrentar "a má qualidade dos tributos é um desafio maior do que a quantidade arrecadada".

As bases do sistema tributário vigente, lembra o estudo, foram lançadas na década de 60,comas reformas promovidas pelos governos militares. Até então, a carga tributária era baixa, tendo avançado de 13,84% do PIB, em 1947, para 15,76%, em 1962. Com as reformas, o crescimento da carga tributária explodiu, escalando gradual, mas com aceleração e firmeza, para 26,01%, em 1972, num fenômeno parcialmente explicado pelos efeitos do "milagre econômico".

Um novo surto de alta na carga tributária ocorreria a partir do Plano Real, como contrapartida, também em parte, do bem sucedido programa de estabilização monetária, do equacionamento de dívidas estaduais e do saneamento de vários esqueletos acumulados ao longo da "década perdida", de fins dos anos 70 a início dos anos 90. No período de 1994 aos dias atuais, a carga galgou de 26% do PIB para perto de 30%, em 1999, superou 32%, em 2003, e alcançou um pico de 35,6%, em 2008.

Nesse período, as transformações na economia brasileira foram, em diferentes aspectos, especialmente significativas. Da estabilização da moeda aos ganhos na redução da pobreza e das desigualdades, o País passou por mudanças estruturais,ancoradas em reformas institucionais. Mas o sistema tributário permaneceu imune a tudo isso e, apesar do discurso recorrente em prol de reformas na área, nenhuma tentativa mais abrangente, capaz de corrigir distorções e adaptar a legislação aos novos cenários econômicos, teve sucesso.Como destacam os autores do estudo publicado pelo BID, se "não há a menor dúvida de que o sistema precisa ser reformado, não existe também um consenso, nem mínimo, sobre como empreender tal mudança".

Do detalhamento da carga tributária pela origem dos tributos que a compõem e seu peso na arrecadação total, o estudo de Afonso e seus colegas reafirma, com informações atualizadas, um diagnóstico, infelizmente, conhecido. Além do forte incremento no volume de arrecadação, nas seis décadas que vão do Pós-Guerra aos dias atuais, equivalente a impressionantes um quarto do PIB, o sistema tributário brasileiro reforçou, ao longo desse período, distorções de todos os gêneros.

Essas distorções, segundo o levantamento, vão "desde a complexidade, o pesado ônus para gerir os impostos, a iniquidade, a cumulatividade latente e a oneração indireta de exportações e investimentos produtivos,até uma guerra fiscal entre membros federados sem precedentes em outras federações".

É possível imaginar o sistema tributário como uma espécie de impressão digital das características sociais e comportamentais de uma sociedade. Assim, não errará quem derivar do velho e conhecido provérbio uma versão tributária: diz-me como tributas e te direi quem és. Se essa relação fizer sentido, com o sistema tributário que temos, estamos muito mal na fotografia.

Uma boa e outra ruim - BENJAMIN STEINBRUCH

FOLHA DE SP - 12/02


A totalidade da expansão do mercado interno está sendo atendida por importações, visto que cai a produção


Comento duas notícias, uma boa e outra ruim. Em plena terça-feira gorda de Carnaval, nem é preciso perguntar qual delas devo abordar primeiro. É a boa, naturalmente.

O país vive um momento de pleno emprego. A última estatística nessa área mostra que o índice de desemprego era de 4,6% em dezembro, um mês em que as ofertas de trabalho são naturalmente elevadas em razão das vendas de fim de ano. Na média de 2012, a taxa ficou em 5,5%, a menor da economia brasileira desde 2003.

Talvez esse desempenho não tenha precedente na história econômica do país, mas isso é impossível saber porque o sistema de cálculo mudou em 2003 -por isso, costuma-se dizer que é o menor desde que começou a atual série histórica.

Para ter uma ideia da importância desse resultado, basta observar que os países da União Europeia terminaram 2012 com uma taxa de 11,7%, sendo a Espanha um dos países mais atingidos, com 26%. Nos Estados Unidos, a taxa subiu para 7,9% em janeiro.

O pleno emprego tem um efeito imediato na economia: aumento da renda. Entre os assalariados brasileiros, a renda média era de R$ 1.805 por mês em dezembro. Na média de 2012, a renda das pessoas empregadas aumentou 4,1% na comparação com 2011. Além do baixo desemprego, a elevação da renda foi consequência do reajuste generoso do salário mínimo em 2012, de 14%.

Há várias razões que explicam por que o emprego continua crescendo ao mesmo tempo em que a produção esfria, principalmente no setor industrial, que registrou em 2012 um de seus piores desempenhos desde 1992, com uma retração de 2,7%. A principal razão, porém, na minha avaliação, é que os empregadores acreditam na breve recuperação da atividade e não se arriscam a dispensar sua mão de obra qualificada, mesmo que ela não esteja 100% ocupada.

Passemos então à notícia ruim. Mais do que ruim, ela é preocupante e certamente a ela não foi dada a atenção necessária. A balança comercial brasileira fechou janeiro com um deficit de US$ 4,04 bilhões, o maior da série histórica de 20 anos. Há uma justificativa para esse número tão negativo. Dentro dessa conta está US$ 1,6 bilhão correspondente a importações de combustíveis do ano passado que só agora foram contabilizadas. Ou seja, se isso não tivesse ocorrido, o deficit seria de US$ 2,4 bilhões, ainda assim um valor altamente preocupante.

Esse número, mesmo com as ressalvas do efeito Petrobras, é o reflexo da perda de fatias do mercado interno para produtos importados em quase todos os setores manufatureiros. A totalidade da expansão do mercado interno está sendo atendida por importações, visto que cai a produção manufatureira e crescem as vendas do comércio.

Além do estrago que isso faz na indústria brasileira, é preciso colocar atenção no efeito que poderá ter, no médio prazo, nas contas externas. Em 2011, o superavit comercial brasileiro atingiu US$ 29,8 bilhões. Em 2012, US$ 19,4 bilhões. Nos 12 meses até janeiro, esse valor já caiu para US$ 16 bilhões. Para 2013, os otimistas esperam no máximo

US$ 10 bilhões. Ou seja, há uma clara tendência de redução do superavit e a hipótese de deficit neste ano não está mais descartada.

Pela confortável situação das contas externas, com reservas de US$ 370 bilhões, não há por que temer convulsões cambiais no curto prazo. Além das reservas, o país conta com alta credibilidade internacional, o que mantém um fluxo importante de investimento estrangeiro direto e de aplicações financeiras. Mas nunca é demais lembrar a velha frase de Mario Henrique Simonsen: "A inflação aleija, mas o câmbio mata".

Preocupa o fato de que a taxa de câmbio voltou a ser usada, ainda que de forma discreta, para ajudar no controle da inflação. O real valorizado retira competitividade da indústria local e reduz o preço dos produtos importados. Com isso, avança o processo de desindustrialização, que já é um fato.

Há muita margem de manobra para o câmbio, para controlar a inflação e para estimular a produção interna sem a necessidade de medidas heroicas. Até porque o país opera com pleno emprego e renda em alta, como vimos acima. Mas é preciso ter cuidado com manobras bruscas, que possam levar aqueles que acreditam na breve recuperação da economia e mantêm empregos a desconfiar da própria crença.