quinta-feira, novembro 22, 2012

Nota de esclarecimento da revista VEJA - EDITORIAL REVISTA VEJA


REVISTA VEJA 22/11


Ao pedir o indiciamento do jornalista de VEJA Policarpo Júnior, o relator Odair Cunha, do PT de Minas Gerais, não conseguiu esconder sua submissão às pressões da ala radical de seu partido que, desde a concepção da CPI, objetivava atingir a credibilidade da imprensa livre por seus profissionais terem tido um papel crucial na revelação do escândalo do “Mensalão” – o maior e mais ousado arranjo de corrupção da história oficial brasileira.

Com a punição exemplar pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dos réus petistas integrantes do esquema do Mensalão, sobrou a seus sequazes instrumentalizar o relator da CPI e usá-lo para tentar desqualificar o exemplar e meritório trabalho jornalístico de Policarpo Júnior, diretor da sucursal de Brasília e um dos redatores-chefes da revista VEJA, profissional dono de uma história invejável de serviços prestados aos brasileiros.

Em seu afã de servir de instrumento de revanche contra o jornalista que mais destacadamente ajudou a desnudar os crimes dos petistas no Mensalão, o relator recorreu a expedientes condenáveis. O mais grave deles foi suprimir do relatório a mais límpida evidência da conduta absolutamente correta do jornalista de VEJA. Odair Cunha desprezou o exaustivo trabalho dos integrantes do Ministério Público e da Polícia Federal encarregados das investigações e das escutas legais feitas no contexto das operações em que o jornalista de VEJA é citado.

O relatório de Odair Cunha omitiu os depoimentos à CPI dos delegados da Polícia Federal Matheus Mella Rodrigues e Raul de Souza e dos procuradores da República Daniel Rezende e Léa Batista Salgado, encarregados das investigações. Todos eles, sem exceção, foram enfáticos em descrever as conversas do jornalista de VEJA com Carlos Cachoeira como relação entre repórter e fonte.

Ouvido pela comissão no dia 8 de maio, o delegado federal Raul Souza afirmou: “Não há indícios de que o relacionamento tenha ultrapassado a relação entre jornalista e fonte”. Integrantes da CPI perguntaram repetidamente e sem rodeios ao delegado Mella Rodrigues se Policarpo Júnior praticou ou participou de algum crime. A resposta do policial foi sempre a mesma: “Não”. Os procuradores também reafirmaram que nas investigações ficou evidente que os contatos entre o jornalista e o contraventor nunca ultrapassaram “os limites do trabalho de um repórter em busca de informações”. As razões pelas quais Odair Cunha suprimiu essa prova irrefutável de inocência de seu relatório ainda precisam ser devidamente esclarecidas.

Choro para Joaquim - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 22/11

Hamilton de Holanda, o talentoso bandolinista de choro que vive em Brasília, foi escolhido pelo ministro Joaquim Barbosa para tocar o Hino Nacional em sua posse, hoje.
O músico também vai interpretar obras selecionadas pelo novo presidente do STF — uma delas, “Carinhoso”, de Pixinguinha e Braguinha.

Para quem não sabe...
O pai do choro também era negro e se chamava Joaquim.
Joaquim Callado (1848-1880), o grande flautista e compositor brasileiro, autor do clássico “Flor amorosa”, contemporâneo e amigo de Chiquinha Gonzaga (1847-1935).

Por que será?
Do deputado Jair Bolsonaro, provocador como sempre, sobre o Dia da Consciência Negra:
— Vários deputados do PT foram ao microfone saudar a data. Mas nenhum citou Joaquim Barbosa, primeiro negro a presidir o Supremo Tribunal Federal.

Natal do Leão
O Leão da Receita Federal ganhou um presente de Natal antecipado do empresário Edson Bueno.
Bueno preencheu um Darf, boleto para pagamento de tributos federais, de uns R$ 900 milhões na venda da Amil para a americana UnitedHealth.

Troca de óleo
O sindicalista Diego Hernandes está deixando a gerência de Recursos Humanos da Petrobras.
Para seu lugar vai Antônio Sérgio.

No mais
O novo presidente da China, Xi Jinping, diz que a corrupção pode levar seu país à ruína.
Deve ser terrível... você sabe. 

Irineu Marinho
A historiadora e socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho lançará dia 29 agora o livro “Irineu Marinho — Imprensa e cidade”, da Globo Livros/Memória Globo.
Narra a trajetória do jornalista que fundou os jornais “A Noite” e O GLOBO, e que participou ativamente da vida política e cultural carioca na virada do século XX.

Boletim médico
O deputado verde Alfredo Sirkis, 61 anos, sofreu dois enfartes em dez horas. O primeiro em pleno voo entre China e Bogotá. Já na capital da Colômbia, voltou a enfartar.
O coração de Sirkis ganhou dois stents na Clínica de Marly, em Bogotá. Passa bem. Já saiu do CTI.

Aliás...
Por causa de problemas com o plano de saúde, sua acompanhante, Aspásia Camargo, foi quem se comprometeu a pagar a conta de US$ 10 mil.
Imprensa
O coleguinha Wellington Geraldo Silva será o novo secretário de Comunicação do STF.

O RIO NA COPA DE 14
Desde 2006, a Fifa permite que cada cidade-sede da Copa do Mundo adote seu próprio símbolo oficial. No Brasil, as 12 sedes estão em processo de escolha. Eduardo Paes, num concurso nacional, já escolheu este pôster — que, desde já, passa a ser a imagem oficial do Rio na Copa de 14. Bola pra frente 

Bolsa Lula
Marcelo Neri, presidente do Ipea, lança hoje o livro “Superação da pobreza e a nova classe média do campo”.
A obra, que faz referências a Lula, Dilma e José Graziano, mostra crescimento de 64% da renda rural, entre 2001 e 2011.

Turistas no Alemão
O teleférico do Complexo do Alemão, no Rio, tem batido todos os recordes de turistas aos sábados e domingos.
Nesses dias, visitam o teleférico de 18 mil a 20 mil pessoas. A média é de 9 mil a 10 mil turistas em cada dia.

Segue...
Acredite: o número é superior ao de visitantes do Pão de Açúcar, que recebe cerca de 6 mil turistas por dia nos fins de semana.

Paes do Cavaco
Eduardo Paes foi ao Cachambeer, o bar no Cachambi, no Rio, domingo.
Tomou uns chopes e, lá pelas tantas, começou a cantar uns sambas-enredos.

Desafinou
Uns bambas do Império Serrano trocaram de mal com o presidente Mestre Átila. É que, depois da reforma da quadra, parentes de ilustres imperianos como Roberto Ribeiro, Silas de Oliveira e Tia Eulália perderam o direito de usar os camarotes cativos.
Agora, só alugando.

Grande hotel
O grupo Intercontinental, anunciado como nova bandeira do antigo Hotel Nacional, em São Conrado, no Rio, pulou fora do barco.

Adriano na F1
É dura a vida de ex-vip. Adriano, o Imperador, tenta com a Shell ingressos para o camarote da empresa no GP de Fórmula 1, domingo, em Interlagos.
Até ontem, não tinha conseguido.

O ser e a bola - LUÍS ANTÔNIO GIRON

REVISTA ÉPOCA

Como o futebol pode se apoderar da alma do torcedor – e constituir sua personalidade



Um amigo tenta me consolar do rebaixamento do Palmeiras à segunda divisão: “Ainda bem que você tem outros times para compensar!” É verdade. Como muitos meninos criados no interior do Brasil, adotei um time para cada Estado da federação. Assim, já que minha cidade não contava com possíveis campeões (havia um revezamento de troféus entre os dois times de Porto Alegre), eu mantinha meu interesse à distância pelo futebol.

Em São Paulo, calhou de meu time ser somente o Palmeiras, um dos símbolos da imigração italiana no Brasil. Mas tenho times espalhados pelo Brasil e pelo mundo, não vou citar todos aqui. Fico apenas com o Rio de Janeiro. Houve um tempo em que adotei quase todas as equipes cariocas, já que eu promovia campeonatos de botão com os amigos na condição de “treinador” dos times cariocas disponíveis. Em relação ao campeonato do Rio, portanto, tornei-me ecumênico, pois gosto de todos. Consigo ser Vasco, Fluminense e Flamengo ao mesmo tempo, bem como Botafogo, Bangu e América.

O que eu quero dizer é que possuo uma espécie de defeito de personalidade porque não me prendo visceralmente a nenhum clube, embora torça por alguns. Em futebol, meu coração é leviano. Eu colecionava figurinhas de todos os times. Sou de um tempo em que amigos e suas famílias iam aos estádios com camisas de times diferentes, torcendo no mesmo espaço por times rivais. E ninguém se matava ou matava os outros por isso. Com o tempo, os torcedores foram forçados a se transformar em fanáticos. Enquanto isso, cresci e me interessei por outros assuntos além do futebol. Mas ele permaneceu, como o menino permanece no homem.

A razão, no entanto, veio me socorrer. Em vez de sair para berrar ofensa ou me mortificar, passei a refletir sobre como o futebol no Brasil não apenas faz parte da vida das pessoas, como sobretudo constitui o sujeito, para roubar um termo de psicanálise. Assim como Jean-Paul Sartre diria que o ser precede a essência, eu me arrisco a dizer que no Brasil e em outros países a bola precede o homem. O futebol, em especial o time, fornece as características do que constrói o sujeito. E, numa tosca paráfrase a Thomas Hobbes, o homem é o time do homem. Hoje, torcer consiste em uma ação bem diferente daquela de minha infância. Torcer é “ser”. Assim, “ser” palmeirense em São Paulo, sobretudo nos últimos meses, significa apreciar as grandes tragédias, purgar os pecados nas chamas da derrota, rastejar em tempos difíceis e sair purificado ao final. No domingo passado, a assistir pela televisão a mais uma derrocada palmeirense, preferi ouvir uma ópera completa, O crepúsculo dos Deuses, de Richard Wagner, na versão “mozartiana” de Karl Böhm. Ao mesmo tempo que terminavam os últimos acordes - que marcam o fim dos deuses e o nascimento da humanidade – ouvi ao longe os fogos da torcida adversária, locupletando-se com a derrota alheia. Não atendi ao telefonema de meu cunhado santista, para não ouvir zombarias. Depois, no Twitter, algum gaiato postou: “Palmeirenses, tranquem as portas e fiquem em casa porque vamos festejar e arrebentar quem usar camisa verde”. Quase fui obrigado a me sentir humilhado, ofendido e acuado.

A tradição de glórias e derrotas de uma equipe e futebol deve necessariamente pesar sobre os ombros do torcedor. Ser palmeirense é assumir a pungência da tragédia. O palmeirense é o novo sofredor diante da força do destino (é um título de ópera aliás). Ocupa o lugar deixado há muito tempo pelos coritintianos. Da mesma forma, ser corintiano hoje impõe ao ser do torcedor uma certa dose de grandiosa insanidade. Quando a Fiel grita que é um bando de loucos, não é só força de expressão. Trata-se da manifestação de uma crença arraigada na essência de cada um dos integrantes do grupo. Pertencer a uma torcida implica compartilhar cores, valores, origens, amizades, amores e idiossincrasias. É odiar os mesmos inimigos. É matar e morrer por esses “ideais”. Daí o surgimento das agressivas torcidas organizadas, que também podem reencarnar no Carnaval, com suas facções fantasiadas de escolas de samba.

Os reflexos da ontologia da bola acontecem até na vida amorosa. A comédia O casamento de Romeu e Julieta, de 2004, transforma a rivalidade entre as famílias Capuleto e Montecchio, de Verona, para as torcidas corintiana e palmeirense. Um corintiano pede uma palmeirense em casamento, mas precisa se disfarçar de verde para agradar ao sogro, dirigente do Palestra Itália. Conheço uma situação parecida: um casal de namorados, ela palmeirense, ele corintiano, que muitas vezes têm problemas de relacionamento por causa do fanatismo de um e outra. Uma coisa será impossível, infelizmente: vê-los em um setor de qualquer estádio, juntos, namorando, cada um com sua camisa, como teria sido comum em meados do século passado. Torcidas e amor, torcidas e diversidade são termos incompatíveis. As torcidas organizadas – e mesmo as não - se transformam em falanges de uma guerra perpétua e inexplicável. Pertencer a um time significa satanizar aqueles que não pertencem à falange.

A que se deve tal situação? Talvez à degeneração dos valores humanos e culturais, fenômeno que se repete e se torna mais dramático nos estádios de futebol. Assim, o fanatismo clubístico é tanto um fator de união como de cizânia social. Sigmud Freud e Elias Canetti ensinaram que a psicologia das massas é irracional e causadora de tremendos conflitos. O fanatismo não tem outro sentido que estimular o ódio e o ressentimento ao “outro”. Esse tipo de mobilização em torno de uma ideia, ainda que clubística, já mostrou ser deletério. É algo próximo ao fascismo, e as torcidas organizadas são as atacantes do processo. Como ensinou o Filósofo das Quatro Linhas: “Futebol é futebol – e vice-versa”. Ou, pelo menos, deveria ser assim. O problema é que ele pode deixar de ser só futebol para transbordar para outras áreas. Feito um regime totalitário, por exemplo, o futebol se apodera do sujeito. O esporte atua como um invasor de almas. Sob a capa de cultura, ele vampiriza a vontade e anula a iniciativa do torcedor.

Você, palmeirense, já pensou em não ser palmeirense por um dia, por uma semana? (neste momento, seria aconselhável). E você, são—paulino, santista, gremista e outros, que tal passar umas horas sem encarnar o time, sem pensar nele? Eu, que me cultivei na admiração ecumênica por vários times, acho isso natural e saudável. Não consigo entender a mentalidade de “onda” com que alguns indivíduos cultivam a própria personalidade. Afinal, futebol não é tão importante assim para compor a maneira de viver, pensar e se comportar de qualquer indivíduo. O ser precede a bola - e é maior que ela.

O mar de banalidade - IVAN MARTINS

REVISTA ÉPOCA



Por que falamos tanto, se temos tão pouco a dizer?



A cena aconteceu dentro de um ônibus, durante um congestionamento daqueles que são frequentes em São Paulo. O rapaz ao meu lado sacou o celular e se pôs a conversar com a namorada. Era inevitável que eu ouvisse. Ele falou longamente sobre o trabalho, comentou sem pressa que era aniversário de um amigo dele, declarou repetidas vezes que ela – “amooorrr” – era a pessoa mais importante da vida dele.

Quando eu achei que a ligação iria acabar, ele se pôs a discutir, em detalhes minuciosos, tudo que os dois iriam fazer dali a poucas horas, ou talvez minutos, quando se encontrassem. Falou que queria comer pipoca, mas disse que preferia frango frito. Falou da mãe dela, da casa dela, da família dela. Previu o que ela iria dizer para ele e o que ele responderia para ela. Disse que a coisa que mais queria, depois do frango, era casar com ela. Juro! Falou, falou, falou até que eu me levantei, depois de mais de 45 minutos daquilo, e desci do ônibus lotado. Caminhei para casa por quase uma hora, feliz com o silêncio. Quando entrei em casa, segurei a minha mulher pelos ombros e disse, convicto até a medula: “Você agradeça todos os dias por estar comigo, e não com um chato carente que não consegue calar a boca.”

Podem me chamar de chato, insensível e ranheta, mas a conversa do rapaz no ônibus deixou claro, para mim, algo que anda pululando ao nosso redor de um modo exasperante: a banalidade do bem. Do “meu bem”. Talvez por influência das companhias telefônicas e de seus planos que permitem conversas ilimitadas, as pessoas perderam a noção. Falam superficialidades umas às outras o tempo inteiro. Têm os melhores sentimentos, mas nenhum limite e nenhum conteúdo. Sobretudo os casais.

Aquilo que os ingleses patentearam mundialmente como “small talk” – a conversinha boba sobre o tempo, que se tem com o vizinho no elevador ou com o estranho no trem de metrô – foi ampliada, turbinada e agigantada. Penetrou as relações mais íntimas. Os temas de conversa entre pessoas que se relacionam (amigos, namorados, colegas), passaram do cotidiano ao trivial e daí, rapidamente, despencaram para o banal mais rasteiro. As pessoas se viciaram na partilha incessante de irrelevâncias. Passam o tempo trocando bobagens que antes não se diziam. Há uma inflação de palavras e temo que por baixo dela haja escassez de compreensão.

Em vez de ficar quieto no ônibus, pensando, o rapaz puxa o telefone e chama a namorada – ainda que não tenha nada remotamente importante a dizer. Talvez ele pudesse ler, talvez pudesse escutar música, quem sabe descobrisse algo novo sobre a cidade e seus moradores observando a rua pela janela ou a diversidade humana no interior do ônibus. Mas não. Ele prefere falar, como todo mundo parece estar preferindo. Jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres. Somos uma sociedade de faladores compulsivos que – misteriosamente, mas nem tanto – não se entendem. Estou sendo muito chato? Talvez, mas me parece que as pessoas perderam o sentido do silêncio. Ele deveria dominar a nossa vida. Devido à nossa natureza física, do cérebro unitário e impartilhável que cada um de nós carrega, estamos fadados a ficar em nossa companhia o tempo inteiro. Isso é bom, estávamos acostumados, mas, de alguma forma, parece que perdemos o jeito. Agora temos de falar o tempo todo para espantar o convívio com o silêncio interior.

Como eu já disse, acho que parte importante da culpa por isso tudo é da tecnologia. O telefone celular e a internet – as redes sociais, que a gente agora carrega no bolso – parecem ter despertado uma monstruosa fraqueza humana. Somos socializadores compulsivos. Diante da possibilidade de falar, espiar a vida do outro, se exibir ou fofocar, não resistimos. Deve estar em nosso DNA, escrito nos genes da nossa constituição mais essencial. Há um vazio dentro de nós que só assim conseguimos preencher. É o medo de estar sós, isolados, longe do calor do grupo. Nós nos sentimos assim nas grandes cidades, e por isso falamos tanto, telefonamos tanto, twitamos tanto, lemos e atualizamos o Facebook o tempo todo: é a nossa forma de esticar a mão e tentar alcançar o outro. Pela palavra, tentamos acalmar o bicho assustado dentro de nós.

Apesar disso – ou por causa disso – o silêncio faz falta. Precisamos dele para ouvir os nossos pensamentos. Precisamos dele para pesar o valor das palavras, ou das músicas, ou dos filmes, ou da internet: cada uma dessas coisas vale mais ou menos que o silêncio precioso? Vale a pena rompê-lo neste momento para dizer o pouco que eu tenho a dizer? Essa pergunta, que parece esdrúxula, é fundamental ao convívio. Antes de passar uma hora ao telefone tentando suprir nossa insaciável carência, seria preciso se perguntar: vale a pena? Sim, por que há coisas a ganhar ficando quieto.

A introspecção precede a compreensão, o entendimento das coisas. O fluxo incoerente de pensamento que nos habita ganha uma forma quando falamos, mas falar significa suprimir as outras formas de manifestação da mente. Enquanto o fluxo de pensamento está lá, em estado bruto, agitado e disforme, mas em silêncio, muita coisa se processa, de forma mais ou menos inconsciente. No silêncio encontramos respostas, soluções, inspirações, ideias. Mesmo sem perceber. Na troca incessante de palavras achamos apenas redundância.

Isso não é diferente para os casais. No interior dos relacionamentos tecemos um ninho aconchegante de palavras e hábitos. As mesmas conversas, os mesmos temas, as mesmas brincadeiras e carinhos. Isso tudo é bom, mas tem limites. Dentro de um casal ainda precisamos de espaço, tempo e silêncio. As conversas, além de indicarem aconchego emocional e cumplicidade, deveriam ter significado. Eu sei, eu pensei, eu descobri – então eu divido. Eu sinto, eu percebo, eu temo – então eu falo. Nos intervalos entre essas coisas, o silêncio. Cheio de amor, cheio de desejo, cheio de carinho. Partilhado e curtido. Silêncio oposto da palavra inútil e vazia, da palavra banal.

Ou então nós todos pegamos os celulares e falamos até explodir, que nem cigarras.


O mau-caráter - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 22/11


O indivíduo de má índole é inofensivo enquanto não puser em ação a sua má índole.

Quando o indivíduo de má índole passa a agir, esse é o mau-caráter.

O mau-caráter passa o dia matutando e arquitetando maldades. O mais impressionante é que ele não sabe o que são maldades.

Se a gente acusa o mau-caráter de ser mau-caráter, ele entende que isso é uma injustiça. Ele não tem noção diferencial sobre mal e bem.

O mau-caráter é como a serpente venenosa. Ele injeta simplesmente o veneno porque é da sua natureza injetar o veneno, seja lá qual for a extensão de seu ato agressivo.

O mau-caráter age pelo que entende ser sua legítima defesa. Ele sempre se sente inseguro, imagina que sendo mau-caráter poderá vir a sentir-se menos inseguro.

Vez por outra, o mau-caráter camufla seu mau caráter com uma ação benemérita, é a dissimulação que lhe permite não ser considerado mau-caráter pelos ingênuos.

O mau-caráter se regozija de suas más-caratices. De novo, igual às serpentes venenosas, o mau-caráter pica seus alvos por instinto, ele não tem exatamente consciência do dano que vai causar a inoculação de seu veneno. A picada que ele desfere é intrínseca à sua natureza, se ela produz danos, ele se sente gratificado, imagina que definitivamente ou talvez por algum tempo a vítima sofra os efeitos do seu ataque.

O mau-caráter se irrita com um período da vida: é o fim de semana, quando ele perde de vista o seu campo de ação.

Em compensação, no fim de semana ele fica elucubrando as más-caratices que vai produzir a partir de segunda-feira.

A origem fulcral do mau-caratismo é a inveja, a consciência que o mau-caráter tem de que é superado por alguém.

Então, o mau-caráter pensa assim: “Ele é superior a mim, mas vai sentir que sou capaz de perturbar e inquietar a sua superioridade. Se o golpe que eu desferir nele for suficientemente danoso, isso poderá até fazer com que tenha dúvidas sobre sua inegável superioridade”.

Uma característica da má-caratice é que os alvos do mau-caráter são coletivos, ele espalha durante a semana várias setas da sua maldade sobre a comunidade que o cerca.

Não existe ninguém mais solitário que o mau-caráter, embora ele finja ser gregário para manter agredidas as pessoas de quem se acerca.

O mau-caráter só emerge da escura solidão a que está condenado para poder produzir más ações, quase sempre traduzidas em golpes verbais ou gestos que ele desfere com abastança nociva.

O pior mau-caráter é o que age por prevenção, agride porque acredita que se não o fizer será agredido antes.

O mau-caráter é fruto ambiental das relações humanas. Se por acaso o mau-caráter fosse encarcerado solitariamente numa masmorra durante 30 anos, ele não teria como agredir os outros, seu péssimo caráter se constituiria num glorioso desperdício.

Para Isadora Faber - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 22/11


Não é fácil encontrar canais efetivos para expressar um descontentamento quanto a serviços públicos ruins


Em 2007, comecei a cursar a graduação em filosofia na UFRJ. A experiência tem sido um sofrido teste para minhas crenças políticas e econômicas.

São diversos os problemas do curso, dos quais três merecem mais destaque. O primeiro é que em cerca de metade das disciplinas que fiz os professores não cumpriram com a carga horária mínima. Há professores que seguem rigorosamente com o seu dever, mas trabalhar é facultativo na faculdade de filosofia.

Por exemplo, em razão de uma greve, o segundo semestre de 2012 começou em 15 de outubro passado e deveria se estender até fevereiro de 2013. Mas há professores que já avisaram que não vão dar aulas até essa data, ao menos um decidiu que sua disciplina acaba em dezembro.

O segundo problema é que o curso não tem estrutura curricular. As disciplinas, mesmo as obrigatórias, não têm um conteúdo necessário. Há alguns semestres, uma matéria compulsória de história da filosofia medieval abordou autores renascentistas, pois o professor não gostava dos filósofos medievais.

A maioria das disciplinas tem conteúdo muito específico, em geral em algum assunto de interesse da pesquisa do professor. Quer dizer, o aluno, ao terminar a graduação, não apenas cumpriu um percurso curricular aleatório como seu conteúdo é recortado e mal amarrado.

Terceiro, a leitura obrigatória para fazer as avaliações é reduzida. É comum que não passe de 30 páginas por disciplina ao longo de um semestre. Certa vez uma professora argumentou ter feito um curso de doutorado versando apenas sobre um parágrafo. Num curso de pós-graduação, em que os alunos trazem uma ampla leitura prévia, isso talvez faça sentido. Mas como ter um entendimento minimamente bem fundamento sobre a filosofia e sua história se ao longo da graduação se a carga de leitura é tão baixa?

A conclusão é que, mesmo tendo um rendimento elevado nas disciplinas, sairei do curso sem minimamente ter aprendido o que um bacharel em filosofia precisa saber.

Não é fácil encontrar canais efetivos para expressar um descontentamento quanto a serviços públicos ruins, prestados sem compromisso com a população que os financia. Na UFRJ, fui bem recebido por professoras que à época ocupavam a Ouvidoria e a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Contudo, elas se mostraram impotentes para resolver a situação.

A filosofia é um caso extremo na UFRJ e na universidade pública brasileira. Mas é um sinal de que ela precisa ser repensada. Por exemplo, com estabilidade praticamente absoluta no emprego e escolha interna de dirigentes, é difícil estabelecer uma hierarquia que vise a corrigir falhas e promover melhoras.

Estudando economia em outra universidade pública, a Unicamp, aprendi que foi a criação do Estado de Bem-Estar Social -caracterizado pela atuação pública em atividades como educação, saúde e infraestrutura- que permitiu converter o dinamismo produtivo do capitalismo em ganhos para toda a sociedade. No entanto, é difícil negar que a experiência na faculdade de filosofia leva água para o moinho de quem quer a redução do papel do Estado.

A verdade é que não há motivos para ter um compromisso apriorístico com a ideia do Estado de Bem-Estar Social. Ao contrário, a motivação de sua existência é pragmática. Há bons motivos para defender a universidade pública, mas isso precisa ser demonstrado por ações concretas, que combatam seus problemas, em especial o corporativismo. Isso não é fácil. Por exemplo, talvez eu receba umas bordoadas apenas por ter publicado este texto, que relutei a escrever.

Mas não pude deixar de fazê-lo ao ler a comovente atualização que a Folha fez em 11/11/2012 das notícias sobre a estudante Isadora Faber, uma menina de 13 anos que, em agosto passado, começou a publicar um blog com as mazelas de sua escola pública em Florianópolis. Suas reclamações são triviais: falta de professores efetivos, infraestrutura precária, ensino de baixa qualidade etc. Isadora quer aprender, e não apenas "passar de ano".

Desde então, sua casa foi apedrejada. Ela foi recriminada por colegas e professores, entre outros dissabores. Ainda assim, consegue manter a tranquilidade e a firmeza para continuar o blog. A coluna de hoje, em sua homenagem, tenta fazer com que ela não se sinta sozinha.

Foodism, fudistas e o peru - LUCAS MENDES


De Nova York para a BBC Brasil - 22/11


Brevíssimo dicionário: Food é comida. Foodism - ou fudismo, numa adaptação para o português - é a obsessão por comida que assola os Estados Unidos.


Foodie ou foodist - fudista, em português adaptado - são os comilões, uns mais refinados, outros menos, mas não vale a pena entrar neste preciosismo.

Ficamos com o fudismo e os fudistas.

A mania da comida está na nossa frente: Há mais de oitenta programas de televisão sobre culinária.

Só com o título Top Chef temos Top Chef Canadá, Top Chef Oriente Médio, Top japonês, chinês, etc..

Quase todas cozinhas do mundo têm seu Top Chef show, até o Canadá.

Além do salmão e do bacon, quais são as especialidades canadenses?

Se o Canadá tem Top Chef, porque o Brasil não tem?

Quando cheguei a este país no fim dos sessenta só havia um programa de culinária na televisão, o da adorável Julia Child. Não havia nenhum restaurante japonês em Nova York e os poucos mexicanos eram suspeitos e marginais.

Hoje, em alguns bairros de Nova York, há um restaurante mexicano ou japonês em cada quarteirão do Village, Downtown e Upper West Side.

Pizza e espagueti eram as comidas internacionais, fartas em Little Italy. Comida chinesa era rara fora de Chinatown.

Hoje os mercados americanos oferecem 92 tipos de massas e o país consome um quarto da produção mundial.

Eataly, é um templo da comida italiana com mercados, café e cinco restaurantes onde as esperas são de 45 minutos.

A maior especialidade americana era o hambúrger, desprezado pelos franceses, ditadores da mesa, pela falta de sabor e finesse, como o taco dos vizinhos mexicanos era desprezado pelos americanos.

Hoje, duas das maiores cadeias de comida do país são McDonald´s e Taco Bell, e tiveram o mesmo berço, San Bernardino, a uma hora de Los Angeles. Têm quase a mesma idade.

Glen Bell tinha uma hamburgueria, mas copiou a fórmula dos tacos do pioneiro café Mitla que ficava em frente, automatizou o sistema, abriu o Tia Taco que evoluiu para a rede Taco Bell.

Ele se tornou o "Titã do Taco", título (em tradução livre) da sua biografia. São mais de seis mil restaurantes nos Estados Unidos.

A maior rede, em volume de dólares, ainda eh McDonald´s. A que mais cresce é Five Guys Burgers and Fries. O hambúrger é invencível.

Graças aos chefs, o sanduíche de carne moída se refinou, multiplicou e os foodists, ou fudistas, acompanharam. Há o hambúrger dos 99% do McDonald´s e variantes e o do 1%.

Daniel Bouloud foi líder do 1% com seu hambúrger de trufas e foie gras por US$ 175.

Las Vegas achou barato e lançou um de US$ 5 mil acompanhado com uma garrafa de Petrus. Pegou.

Londres lançou uma versão de hambúrger com bife Wagyu, por US$ 200. O desprezado hambúrger do McDonald´s invadiu o mundo e foi mais bem recebido entre franceses.

Fora dos Estados Unidos a maior rede dos McDonald´s ainda está na França onde uma americana de Los Angeles lançou o próprio hambúrger no "Camion qui Fume".

Na rua de um dos bairros mais caros de Paris, o "Caminhão de Fumaça" (em tradução livre para oportuguês) da Krister Frederick vende um hambúrger com fritas e sobremesa por 10 euros.

Uma hora e meia na fila do almoço de cada dia.

Há um ano não havia nenhum caminhão de comida na minha praça, a Union Square. Hoje há uma fila. A licença custa US$ 200, mas a cidade não emite novas há vários anos.

São negociadas ilegalmente no mercado paralelo a US$ 60 mil por ano. As comidas são brutais nas calorias, mas não há queixas de saúde ou higiene.

Os tacos não acompanharam o sucesso do hambúrger, mas é uma questão de tempo. Depende da adesão dos chefs.

Alex Stupack, classicamente educado no fogão, serve taco com steak tartar no Village.

A rigor, o prato mais caro dos restaurantes chineses, o pato assado com molho de ameixa, é servido numa tortilha, e é um taco.

Noutra versão oriental, os tacos do chef coreano Roy Choi conquistam vegetarianos e carnívoros.

Estes também nasceram em Orange County, o mesmo condado que gerou McDonald´s e Taco Bell.

Onde o chef vai, o povo vai atrás.

Há quase vinte anos dois irmãos começaram a servir molhos com tutano no restaurante que ficava aberto depois das três da manhã e atraía outros chefs.

Há dois anos os ricos compravam ossos com tutano para seus cachorros. Hoje os bichos ficam só com os ossos. Tutano é delicioso, barato e politicamente correto, mas ainda está confinado aos restaurantes do 1%.

Substituem as bolas de carne de vitela que já chegaram aos 99%.

Hoje é dia de Ação de Graças e, infelizmente, para o peru, é o dia dele no cardápio. Dos 300 milhões criados por ano, 45 milhões serão devorados hoje na mais americana de todas refeições.

Nenhuma outra tem tanta história, intenções mais nobres ou tantas calorias.

Uma reunião na mesa de família, amigos, desconhecidos e gratitude, inspirada na paz entre índios e colonos mas eles não fazem parte da conversa na mesa.

Em geral é servida no começo da tarde. Política, esporte e relações familiares dominam as conversas e no fim do dia vários parentes estão felizes, bêbados, apagados, estuporados e desunidos.

Aqui voltamos aos fudismos, fudistas e chefs. Fora do thanksgiving, o peru entra nos sanduíches, mas ainda não inspirou chefs, nem saliva os fudistas.

Os franceses ainda não aprenderam a comer peru. Nem os italianos. O consumo de outros países, por cabeça, não chega perto dos americanos.

O Canadá é distante segundão. O Brasil é bronze.

A taturana e a parede - FERNANDO REINACH


O Estado de S.Paulo - 22/11


Foi logo no primeiro dia que a taturana entrou no terraço. Espalhado em uma poltrona, tentando ler a coletânea completa dos contos de Ann Beattie, viu a futura borboleta se deslocar pelo piso de pedra mineira. Dois contos mais tarde, lá estava ela subindo pela parede de tijolo. Mais um conto e ela chegou aos caibros do telhado. Contos depois, estava perto do piso. Depois subiu novamente, desceu e subiu.

Com a vista cansada, as pernas duras e as costas doendo, foi caminhar pelo jardim, pensando não nos contos de Beattie, mas no sobe e desce da taturana. Como seria a mente de uma taturana? Por que esse constante subir e descer pela parede? Provavelmente ela imaginou que a parede era uma árvore, subiu para procurar alimento.

Melancólico, concluiu que a casa estava interferindo no ciclo natural das taturanas. Durante milhões de anos, os ancestrais daquela taturana viveram em um mundo em que todos os planos verticais eram caules e troncos de árvores. E no topo de cada uma dessas superfícies verticais estavam as folhas de que necessitava. Pobre taturana, imaginar que uma parede de tijolo possui folhas no seu topo. Morreria de fome.

Voltou para o terraço. Os contos de Beattie estavam lá, mas a taturana havia desaparecido.

Foi na segunda noite, enquanto lia Greenwich Time na mesma poltrona, que um enorme besouro entrou voando no terraço. Bateu na lâmpada e caiu de barriga para cima no piso de pedra mineira. Talvez o fato tivesse passado despercebido se seu filho não tivesse corrido para observar o inseto, que recolhia as asas e agitava as pernas, tentando se colocar de pé. Bastou alguns segundos de observação para o menino concluir que os besouros são incapazes de se virar quando caem de costas e vir comunicar a grande descoberta. Largou o livro e explicou que o besouro só fica imobilizado se cai em uma superfície lisa e plana como o piso do terraço.

Para convencer o filho incrédulo, nada como um experimento. Capturado, o besouro foi levado para o gramado e colocado de ponta-cabeça. Rapidamente, agarrou uma folha e se virou. Enquanto o filho e um amigo repetiam o experimento, levando o besouro da grama ao terraço, testando diferentes superfícies, voltou à poltrona. O terraço no qual gostava tanto de ler não só matava taturanas, mas podia enlouquecer besouros. Selecionados durante milênios para se virar em qualquer ambiente natural, estavam condenados à morte se caíssem de costas nos pisos construídos pelo homem. Não bastavam as paredes, os pisos também eram culpados.

Foi no quinto e último dia que as superfícies verticais voltaram a interromper a leitura dos contos. Logo de manhã, os meninos chegaram ao terraço com as mãos em concha, abrigando um passarinho desacordado. "Ele veio voando e bateu na janela de vidro." Com o pássaro sobre a mesa, ponderaram se ele sobreviveria. Ainda respirava, mas os olhos estavam fechados.

Conformado, explicou para os meninos que no mundo em que os pássaros surgiram não existiam grandes painéis de vidro transparentes, invenção recente do Homo sapiens. Suspirou. Era demais: o vidro que permitia que olhasse as jabuticabeiras estava matando passarinhos. Protegido dos cachorros por uma tela de cobrir bolos e sob a observação dos meninos, alguns contos depois, o pássaro acordou do trauma, ficou de pé, e saiu voando.

No final da tarde, quando achava que terminaria o livro, um grande lagarto, perseguido pelos cachorros, pulou na piscina. Pobre lagarto, sempre soube que para escapar de carnívoros basta correr para a represa ou para um buraco. Mas esta represa de azulejos é cercada de paredes verticais e o lagarto andava pelo fundo, buscando um plano inclinado que o levasse para o raso e finalmente para fora da água.

Inútil, o lagarto nunca havia aprendido a sair de represas com paredes verticais e azulejos lisos. Quase com tédio, explicou aos meninos por que seria necessário resgatar o lagarto com uma peneira de coletar folhas. Resgate feito, sem dúvida o ponto alto dos feriados, voltou aos contos por algumas horas.

O Sol se punha e as malas estavam sendo colocadas no carro. Largou o livro com olhos cansados e foi dar um último passeio. Comeu algumas jabuticabas e pitangas, procurou os micos no topo das árvores e alguma capivara nos arredores da represa. Enquanto refletia como algo tão simples como as superfícies verticais e horizontais de uma casa são suficientes para atrapalhar a vida dos animais, consolou-se com o fato de pelo menos achar que compreendia o que estava acontecendo.

Foi quando se lembrou de que seus ancestrais também não se sentavam em cadeiras, quase imóveis, lendo livros. Talvez isso explicasse a dor nas costas e a vista cansada. Lembrou que seus ancestrais foram selecionados durante centenas de milhares de anos para viver em pequenos grupos, caminhando pela floresta, comendo frutas, caçando e observando a natureza. Talvez isso explicasse por que se sentia alegre naquele final de tarde.

Resignado, concluiu que os seres humanos não foram selecionados ao longo do tempo para passar horas dirigindo de volta para São Paulo em uma estrada congestionada.

Entraram no carro e, quando ligou o motor, percebeu que a crônica que teria de escrever na manhã seguinte já estava pronta. Feliz, encarou a estrada de volta.

A menina que se achava 007 - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 22/11


Por que uma menina de 13 anos entende um filme de James Bond, mas não a tragédia de uma família?


ASSISTI, NESSES dias, a um documentário bonito e tocante, "Diário de uma Busca", de 2011.

A autora, Flavia Castro, investiga a morte misteriosa de seu pai, Celso Afonso Gay de Castro. Junto com um amigo, também militante de esquerda durante a ditadura, Celso morreu ou foi morto, em 1984, em Porto Alegre, no apartamento de um alemão que teria sido oficial nazista.

Na tentativa de entender o que aconteceu, Flavia reconstrói sua própria infância durante a clandestinidade e o exílio dos pais, nos anos 1960 e 1970, por Argentina, Chile, França e Venezuela.

Achei que uma menina como S., 13 anos, gostaria do filme, e a deixei em frente à TV, aparentemente interessada. Meia hora mais tarde, S. estava no meio da reprise de "007 - Cassino Royale", o James Bond de 2006, que ela já vira duas ou três vezes. Ela me disse que tinha parado o documentário porque "não entendia o que acontecia na história".

Ou seja, uma menina inteligente de 13 anos "entende" sem problema que Bond mate um tal Mollaka, explodindo, no Madagascar, a embaixada do país de Nambuto (?), e logo ele reapareça na casa de M. na Grã-Bretanha -ou talvez ele reapareça (não me lembro mais) nas Bahamas- para seduzir a mulher de Dimitrios. A mesma menina não entende a fuga de um militante de 40 anos atrás -aliás, nem estou certo que ela entenda o que era um militante de 40 anos atrás.

Tudo bem, lamento a mediocridade do ensino e, em geral, a futilidade da conversa dos adultos. Mas há uma outra razão, talvez mais importante, que faz que, para S., seja mais fácil entender as aventuras fantásticas de Bond do que a tragédia real da família Castro.

É aqui que a leitura de "O Homem que se Achava Napoleão - Por uma História Política da Loucura", de Laure Murat (Três Estrelas), torna-se indispensável.

Murat mostra exaustivamente como, da Revolução Francesa até a Comuna de Paris, os acontecimentos políticos e sociais modelaram a loucura e os delírios. Claro, no meio do Terror, com suas incessantes execuções públicas, era mais fácil do que hoje que alguém acreditasse ter sido decapitado e andar pelo mundo com a cabeça de outro, erroneamente instalada no seu pescoço.

Mas as implicações do livro de Murat são mais gerais e radicais. Como mostra Jurandir Freire Costa no breve mas importante prefácio, a questão é: "Em que medida a loucura pode ser dissociada da atmosfera cultural que a cerca?".

Como Murat (e como Freire Costa), tendo a pensar que cada cultura (e cada época de cada cultura) dá forma a sofrimentos psíquicos que lhe são próprios.

As revoluções do fim do século 18 produzem um homem novo, de quem ainda somos os herdeiros.

Esse homem novo é levado a "apreender a ordem do mundo através de sua subjetividade": ele "se identifica com os personagens do romance psicológico", "funda a introspeção como meio de conhecimento" e, sobretudo, ele é obrigado a reconhecer que a autoridade não é mais um atributo dos padres, dos nobres ou dos anciões. Ele mesmo, esse homem novo, deve decidir no que acreditar, seguindo seu foro íntimo e suas convicções.

Uma parte dos transtornos modernos derivam da incerteza de quem abandonou sua confiança tranquila nas tradições laicas ou divinas. Mas talvez esses não sejam os transtornos mais graves.

Bem na aurora da modernidade, Philippe Pinel, o inventor da psiquiatria, observa que, de todas as formas de mania, duas são incuráveis: "os inchaços do orgulho e o fanatismo religioso".

Laure Murat entende que Pinel, aqui, está sendo "político", transformando em doenças incuráveis as paixões dos grandes inimigos da Revolução Francesa (os aristocratas são "orgulhosos", e o clero é "fanático").

Mas eu acho que Pinel, nessa observação, está também descrevendo com propriedade os transtornos mais graves da modernidade, que são reativos. É contra a angústia de ter que inventar e sustentar nossas próprias crenças que adotamos fanatismos religiosos nostálgicos ou fantasias grandiosas e heroicas nas quais imaginamos que somos as pedras angulares do mundo, invencíveis, imortais, extraordinários e únicos. Esse "inchaço do orgulho", aliás, é o que mais gostamos de transmitir a nossas crianças, para que continuem tão grandiosas e heroicas quanto nós somos, em nossas delirantes fantasias.

Entende-se por que S., 13 anos, acha que uma história de James Bond é mais compreensível do que a incerteza e a dureza do destino da família Castro.

Impostos na nota fiscal - ilusão e custos - MAÍLSON DA NÓBREGA


O Estado de S. Paulo - 22/11


É difícil criticar uma ideia que goza de ampla aceitação da sociedade, mas vamos lá. Refiro-me ao projeto de lei que determina explicitar os impostos na nota fiscal. Tal regra não existe em lugar algum, pois seus custos superam os supostos benefícios.

O projeto teria por objetivo conscientizar os cidadãos. A percepção do peso dos impostos geraria demanda de redução da enorme carga tributária e de serviços públicos compatíveis com o que se paga. Uma experiência recente não prova a premissa. O ICMS está nas contas de energia e de telefone, mas não estimulou qualquer movimento para diminuir esse imposto.

Os defensores da ideia asseguram que a regra funciona nos EUA e na Europa. Não é verdade. Nos EUA, os Estados cobram um imposto nas vendas finais, o sale tax. O imposto aparece na nota porque é preciso calculá-lo a cada transação, e não para conscientizar o contribuinte. O consumidor não é informado dos outros tributos, tais como os relativos a combustíveis e ao Imposto de Renda (IR). Na Europa, vigora o imposto sobre o valor agregado (IVA). Nos casos do meu conhecimento, como o da Inglaterra, o imposto não consta da nota. Mesmo que outros países obriguem a explicitação do IVA na nota, o consumidor não ficará sabendo do custo de outros tributos.

Pelo projeto de lei, nas vendas ao consumidor a empresa será obrigada a explicitar nove incidências tributárias: IPI, ICMS, ISS, IOF, IR, CSLL, Cofins, PIS/Pasep e Cide. Os bancos terão de informar o IOF nas operações de empréstimo. Se o bem contiver componentes importados, as empresas terão de explicitar os tributos incidentes na importação, o que é quase impossível.

Na selva do sistema tributário, é impossível saber os valores pagos ao longo da cadeia de produção e comercialização. Alguns deles não deixam pistas. Mesmo que fosse possível, as normas mudam habitualmente. São 26 Estados e o Distrito Federal, todos com poder de ditar regras. Em agosto deste ano, em todo o País, o ICMS mudou em média cinco vezes ao dia. Os mais de 5 mil municípios podem alterar o ISS. O governo federal altera, onera e desonera com frequência estonteante.

A Associação Comercial de São Paulo desenvolveu um programa de computador para explicitar os tributos nos caixas dos supermercados. Impressiona vê-lo funcionar, mas é mera estimativa, sem a precisão que normas neste campo exigem (ainda que o projeto admita a estimativa). Não faltará quem recorra ao Judiciário para contestar o valor, ou seja, mais incertezas e custos para as empresas.

Como fazer para explicitar o Imposto de Renda? Bem lembrou o ministro da Fazenda, não é possível saber o valor a ser pago no futuro, que depende do lucro. Mais incrível ainda é exigir que seja explicitado o IR pago pelos fornecedores da mercadoria. Por tudo isso, todas as empresas serão obrigadas a rever seus sistemas eletrônicos, para adaptá-los às novas exigências. A nota fiscal eletrônica terá de ser reformulada. As micro e pequenas empresas terão dificuldade de cumprir a norma.

No momento em que ocorre uma queda preocupante da produtividade, que nos lega uma economia de baixo crescimento, custa crer que empresários e políticos apoiem uma ideia que agravará as ineficiências e poderá também aumentar custos para o consumidor. Muitas belas intenções como esta não conseguem superar a demonstração de sua inconveniência. Deve-se, assim, estudar adequadamente as propostas de mudanças institucionais submetidas ao governo e ao Congresso. Parece que esta se baseou apenas na indignação com o tamanho da carga tributária e a má qualidade dos serviços públicos. Não está claro se seus autores ou o Congresso avaliaram custos e consequências do projeto.

Existem muitas outras formas de mobilizar a sociedade em prol de um sistema tributário mais racional e da melhoria dos serviços públicos. A proposta de fazê-lo mediante a explicitação dos impostos na nota fiscal não é das melhores. A presidente Dilma tem muitas razões para vetar o projeto.

Segurar para não cair - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 22/11

COM ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO


Mesmo com todos os estímulos, o Brasil crescerá pouco este ano. É isso que mais chama atenção na nossa economia. O Banco Central reduziu os juros em 5,25 pontos desde setembro do ano passado. O governo anunciou esta semana que não cumprirá a meta de superávit primário, e a tradução disso é que, ao invés de economizar para pagar dívidas, o Tesouro gastará mais.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve estar preocupado. Suas últimas previsões de crescimento passaram longe do alvo. No final de 2010, disse que o país, em 2011, cresceria 5%. Deu 2,7%. No fim daquele ano, afirmou que o crescimento de 2012 seria entre 4% e 5%. Não passará de 2%. Desta vez, Mantega diz que 2013 será acima de 4%, podendo chegar a 5%.

O problema de não ajustar a mira é que o Orçamento vira uma peça de ficção. As receitas do governo este ano estão menores do que o projetado. Mas os gastos foram feitos contando com o dinheiro que não entrou. Enquanto a receita real do Governo Central (Tesouro, Previdência e Banco Central), descontada a inflação, subiu 1,5% de janeiro a setembro, os gastos reais foram 6,2% maiores.

As contas, então, vão para o vermelho. O déficit nominal no ano, até setembro, é de 2,6%, o que significa R$ 85 bilhões no negativo. De janeiro a setembro, a dívida bruta do Governo Central subiu 4,3 pontos. Chegou a 58,5% do PIB. O superávit primário, que desconta gastos com juros, ficou menor.

A lista de desonerações para aquecer a economia é enorme: houve redução de imposto para compra de carro, de eletrodomésticos, móveis, materiais de construção, equipamentos industriais, para empresas exportadoras, mudança na forma de tributação da folha de pagamento. Não adiantou.

Além disso, várias empresas públicas receberam injeção de recursos. Há poucas semanas, bateu nas estatísticas a capitalização da Caixa e do Banco do Brasil. O BNDES recebeu mais R$ 20 bi. Tudo isso é feito em forma de dívida, porque o Tesouro precisa emitir títulos públicos. Pior, há um gasto implícito não contabilizado no Orçamento porque os juros são subsidiados a essas empresas.

O medo de que o PIB fique ainda mais fraco explica os estímulos do Banco Central e da Fazenda, mesmo que isso signifique inflação acima do centro da meta, crescimento excessivo do crédito e aumento do endividamento público.

Mais vagas no varejo
Levantamento feito pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), antecipado com exclusividade para a coluna, mostra que 28% dos varejistas consultados devem fazer contratações temporárias para o Natal. A taxa pode parecer baixa, mas reflete um dado positivo: o comércio já contratou muita gente com carteira assinada e, por isso, 78% das empresas estão satisfeitas com a própria equipe. A expectativa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) é de que cerca de 300 mil pessoas sejam contratadas neste fim de ano e 200 mil acabem efetivadas. A busca maior é por pessoas entre 18 e 34 anos. Outra boa notícia: a maioria dos varejistas acredita que as vendas de fim de ano em 2012 serão melhores do que as de 2011. O SPC falou com 609 empresas de todas as capitais do país.

Pressão sobre a Eletrobras continua
Ontem, as ações da Eletrobras caíram mais 20%. No ano, a queda chega a 68%, com uma redução de valor de mercado de R$ 26 bi para R$ 9,4 bi. Com a fuga de capital privado da empresa, aumenta a necessidade de aportes do Tesouro na companhia. O economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos, diz que a visão do investidor estrangeiro tem ficado mais turva em relação ao Brasil. "O risco é regulatório. As mudanças de regras e as pressões sobre vários setores foram muito fortes. Aconteceu com petróleo, setor automobilístico, bancário, e agora, na área da energia. Mineração já esteve em foco na questão dos royalties e, depois, saiu", explicou.

ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO

Bagurança Pública! O Pinto caiu! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 22/11


Um amigo disse que o Cachoeira acaba de pedir pra voltar pra prisão. Aqui fora o celular não dá sinal!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Novidades na Bagurança Pública! O Pinto caiu! Secretário da Segurança Ferreira Pinto pede demissão e entra Fernando Grella! Ou seja, sai o Pinto e entra o Grella! Rarará! A sacanagem continua!

A violência tá tão brava que nem o Pinto se salvou! E o Grella devia se chamar Grelha! Ônibus na Grelha! Grelhado!

E as últimas da Faixa de Gaza: dez mortos em oito horas na grande São Paulo!

E esta piada pronta? Manchete da Folha: "Justiça condena, mas decide soltar Cachoeira". Entendi, o Cachoeira foi condenado a ficar solto! Rarará!

E já imaginou se o Cachoeira provoca um efeito cascata? Todos os condenados serão soltos. E todos os absolvidos serão presos! E adorei porque a mesma juíza assinou a condenação e o alvará de soltura! Ou seja, bate escanteio e corre pra fazer gol contra! Rarará!

Mas um amigo no Twiter disse que o Cachoeira acaba de pedir pra voltar pra prisão. Aqui fora o celular não dá sinal! Rarará!

E como disse uma amiga: "Condenação seria ficar solto vivendo com um salário mínimo por mês!". E pegando metrô às seis da tarde na Estação Sé! E voltar pra casa e dar de cara com a sogra de chinelo e calcanhar rachado!

E o julgamento do goleiro Bruno? Foi adiado! Réu ioiô! É tanto vai e vem que ele vai acabar cumprindo pena no trânsito! Preso no engarrafamento!

E mais foto dele entrando e saindo do camburão. Vai ganhar milhagem camburão. Goleiro Bruno ganha Milhagem Camburão!

E os advogados do goleiro Bruno que quase saíram nos tapas? É o Data Vênia MMA! E o chargista Sinfronio revela que o goleiro Bruno demitiu os advogados. Ele mesmo quer fazer a defesa! Saudades do Flamengo! Rarará! E o Macarrão vai virar Miojo!

É mole? É mole, mas sobe!

E o chargista Marco Aurélio diz que PCC é Poder de Comunicação na Cadeia! Rarará! E em Coromandel, Minas, tem uma placa assim: "Desazanga espingarda azangada". Rarará! E esta placa no supermercado: "Parcelamos o seu bacalhau em 10 vezes". Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Senado sacramenta mamata - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 22/11


Brasília é o hábitat natural da elite da classe política, representada pelos nobres parlamentares federais. Vivem ali muitos desses ilustres representantes do povo - pelo jeito, a maioria - numa espécie de mundo da fantasia que construíram para seu deleite, apartado da realidade cotidiana e frequentemente conflitante com o senso comum. Vivem indiferentes ao fato de, do outro lado da Praça dos Três Poderes, o Judiciário dar inequívocas demonstrações de que o País está perdendo - se já não perdeu - a paciência com o comportamento ominoso e ultrajante dos maus homens públicos que se julgam no direito de inventar uma nova "ética" no trato da coisa pública. E cometem, sem o menor pudor, nova e escandalosa afronta à probidade, jogando a conta do abuso no colo do contribuinte.

O leitor atento certamente se dará conta de que já leu o texto acima. É verdade. Foi o que escrevemos neste espaço há menos de dois meses, no dia 30 de setembro, sob o título Enquanto isso, no Senado..., quando a Mesa Diretora da Casa, à frente o notório José Sarney, anunciou a intenção de pagar ela mesma - ou seja, transferindo o prejuízo para o contribuinte - o calote de R$ 11 milhões aplicado pelos senadores no Imposto de Renda (IR). Na terça-feira passada os caloteiros sacramentaram a mamata. Confirmaram a escandalosa notícia de setembro.

É inacreditável, para dizer o mínimo, a insensibilidade com que os 84 senadores jogam um balde de água fria no entusiasmo e no sentimento de alívio com que o cidadão brasileiro comemora uma decisão histórica do Poder Judiciário que parece sinalizar o fim da ancestral impunidade dos poderosos. Impecável e impassivelmente envergando seus colarinhos brancos, os 84 senadores, alguns por habitual esperteza, outros por covarde omissão, não precisaram mais do que um minuto, 60 segundos, para se calarem, olharem para o outro lado, fingirem que nada estava acontecendo e permitirem a ratificação do abominável Ato n.º 14 da Comissão Diretora da Casa. Dispõe a medida, em seu artigo 1.º: "O Senado Federal, na condição de responsável tributário, procederá ao pagamento do Imposto de Renda incidente sobre os valores percebidos pelos senadores a título de ajuda de custo, referentes aos exercícios financeiros anteriores à edição do presente Ato, respeitada a prescrição quinquenal".

Chama a atenção a maneira, digamos, sutil, como o texto do Projeto de Resolução ora aprovado expõe a matéria. Não há nenhuma referência explícita, direta, ao fato de que o Senado vai pagar o IR que deveria ter saído do bolso dos senadores. A referência é indireta, ao Ato n.º 14, de setembro último, que decidiu pelo pagamento e que "regula o entendimento sobre a natureza jurídica da parcela prevista no art. 3.º do Decreto Legislativo n.º 7, de 1995". Foi esse decreto que criou os salários extras extintos em setembro.

Para lançar o prejuízo na conta da viúva, a Mesa do Senado recorre a uma série de argumentos, inclusive uma decisão da Segunda Turma do STJ, prolatada em fevereiro do ano passado, que dá apoio à tese de que os chamados 14.º e 15.º salários que até recentemente eram pagos aos parlamentares (sobre os quais não foi recolhido IR) têm caráter indenizatório e por este motivo sobre eles não incide Imposto de Renda. A matéria talvez seja discutível do ponto de vista legal. Mas isso não elide a responsabilidade eminentemente política do Senado Federal, a quem a Constituição atribui funções legiferantes e fiscalizadoras. E ter responsabilidade política significa, entre outras coisas, dar o bom exemplo.

Não é, portanto, sensato, nem justo, e muito menos democrático - para não falar em decente -, que aqueles sobre cujos ombros recai a responsabilidade de legislar o façam em benefício próprio, especialmente quando se trata do pagamento de impostos. E justo num país cuja máquina arrecadadora é implacável com os cidadãos comuns e tem uma das mais pesadas cargas tributárias do planeta. A manifestação dessa ignominiosa esperteza - a de legislar em causa própria para transferir para o contribuinte o ônus da sonegação fiscal -, esse cínico dar de ombros à probidade por parte de quem deveria zelar por ela, isso é tudo o que a cidadania precisa para se desencantar de vez com as instituições republicanas.

FAGUNDINHO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 22/11


Kiko Bertholini, 35, vive o filho de Antonio Fagundes no longa "Quando Eu Era Vivo", baseado em livro de Lourenço Mutarelli. "Ele foi um 'gentleman', só aumentou minha admiração", diz sobre o pai postiço.

Kiko também contracena com a cantora Sandy no longa, que deve estrear em junho de 2013. "Cinema, para mim, foi a cerejinha no bolo", diz ele, que se formou na USP em artes cênicas. "E agora volto a fazer teatro."

Em 2013, ele pretende montar uma peça em que a atriz Rosi Campos interpretará a mãe de sua namorada. "É legal ser 'da família' de gente tão boa."

CAIXA PRÓPRIO

Restaurantes não podem mais ratear os 10% de gorjeta que seus clientes dão aos garçons. A decisão é do TST (Tribunal Superior do Trabalho). A corte deu razão a um empregado que cobrava diferenças salariais relativas à caixinha que recebia e que era dividida com outros funcionários e até com o sindicato da categoria.

CAIXA 2
O funcionário trabalhava no hotel Convento do Carmo, um dos mais luxuosos de Salvador. Perdeu a ação na Justiça baiana, que reconheceu que um acordo coletivo de trabalho permitia o rateio dos 10% de taxa de serviço. O TST, no entanto, disse que tais acordos "encontram limites" na Constituição e não podem violar direitos "não sujeitos à negociação coletiva".

CAIXA 3
Um dos argumentos usados na decisão é de que a gorjeta é forma de reconhecimento pelo bom serviço prestado.

AGENDA
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, vai pedir em breve encontro com o novo secretário de Segurança de SP, Fernando Grella. Os dois são amigos.

EM CASA
Descendentes de libaneses, o prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP) e seu sucessor, Fernando Haddad (PT-SP), se encontraram em Paris com o primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati. Falaram sobre a possibilidade de reativação de uma linha aérea direta entre São Paulo e Beirute, suspensa há mais de uma década.

EM CASA 2
Os dois prefeitos falaram também sobre a criação de um centro cultural Brasil-Líbano na Vila Mariana.

CIRCULANDO
Na lista de candidatos ao secretariado de Haddad que circula no PT está o nome de Emídio de Souza, prefeito de Osasco. Ele poderia ser contemplado com pasta ligada a infraestrutura.

RITMO BRASILEIRO
A ex-ginasta Camila Comin, que defendeu o Brasil em duas Olimpíadas, integra o elenco de "Corteo", do Cirque du Soleil. A turnê brasileira começa em março.

MAMÃE NOEL
Fernanda Montenegro é a estrela de "Doce de Leite", especial de final de ano da Globo, que vai ao ar em 27 de dezembro. Ela encarna os dilemas da terceira idade de dona Picucha.

Marco Ricca, Matheus Nachtergaele, Mariana Lima e Louise Cardoso vivem os filhos da personagem.

MISSY ILUSIONISTA
O show da cantora americana Missy Elliott, que se apresenta no festival Back2Black no Rio, no sábado, contará com 16 bailarinos, um dançarino de break, um ilusionista e dois DJs.

ZECA PAULISTANO
Zeca Pagodinho passará parte do Carnaval em SP. O sambista toca no Camarote Brahma, do sambódromo paulistano, em 8 de fevereiro, primeiro dia da folia.

TRAÇO FINO

Arquitetos de todo o mundo vieram a SP para encontro na Galeria Idea!Zarvos, anteontem. Os holandeses Allard Meine Jansen e Van Dongen-Koschuch, o francês Gui Sibaud e a italiana Giulia Foscari foram à Vila Madalena para o evento.

ROLÊ ARTÍSTICO

A exposição "Portais Dimensionais Visíveis a Olho Nu", de Rafael Silveira, teve abertura na Choque Cultural, em Pinheiros. Baixo Ribeiro, dono da galeria, a advogada Mariana Jungstedt e a DJ Mari Lemos estiveram presentes.

CURTO-CIRCUITO

O cantor Otto faz show de seu novo álbum, "The Moon 1111", hoje, às 21h, no Sesc Vila Mariana.
Classificação: 12 anos.

Nilde Franch assume a presidência da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo nos próximos dois anos.

O restaurante Spazio Gastronômico Itaim arrecada brinquedos para entidades como a Liga Solidária.

O arquiteto Dreison Santini lança livro sobre seu trabalho hoje, a partir das 18h30, na Livraria da Vila de Campinas (SP).

Uma potência que cai - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO


O Estado de S.Paulo - 22/11


Fluminense campeão por antecipação, Palmeiras na segunda divisão. O que pior se espera de um campeonato de pontos corridos e com bloco de rebaixados aconteceu: um líder disparado que torna as últimas rodadas supérfluas, a não ser para quem ainda busca consolo na classificação para uma das competições satélites, e uma potência que cai.

Defendo, solitariamente, a tese de que deveria haver uma espécie de liga de intocáveis, clubes que por sua tradição e pelo tamanho e poder econômico da sua torcida estariam imunes ao vexame do rebaixamento. Isto não eliminaria o ascenso e o descenso, ainda haveria lugar para os times que vêm de baixo subirem na vida. Apenas os grandes clubes, por pior que fossem nos campeonatos, e por pior administrados, não correriam o risco de cair. Estariam, por assim dizer, protegidos da sua própria incompetência.

Minha tese não é elitista nem sentimental. Se baseia em frio raciocínio capitalista. Qual é a lógica de um negócio que de uma hora para outra mutila o seu próprio mercado, tirando de cena uma das suas maiores atrações e dispensando o seu público? Eu sei, eu sei. As estatísticas mostram que as grandes torcidas não abandonam o time rebaixado, antes reforçam a sua devoção para ajudar a tirá-lo do buraco. O que é muito bonito, mas não esconde o fato de que grandes organizações profissionais como o Palmeiras são obrigadas a se submeter a regras amadorísticas.

Shakespeare sabia que a morte de um comum pode ser trágica mas só a morte de reis dava boas peças. Uma potência que cai tem ressonâncias e implicações que fazem pensar, como a queda dos reis shakespearianos, na transitoriedade da glória fugaz, e nunca é um espetáculo menos que impressionante - mesmo que a imagem que perdure seja apenas a de uma torcedora enxugando as lágrimas com a camiseta do clube.

Mas eu não deveria estar escrevendo tudo isto. Ultimamente minha única alegria como torcedor tem sido a de poder dizer que, falem o que falarem dele, o Internacional jamais caiu para a segunda divisão.

A segurança e a força - DEMÉTRIO MAGNOLI


O ESTADÃO - 22/11


"Em todos os tempos os reis, e as pessoas dotadas de autoridade soberana, por causa de sua independência, vivem em constante rivalidade, e na situação e atitude dos gladiadores, com as armas assestadas, cada um de olhos fixos no outro." O intercâmbio assimétrico de projéteis entre Israel e o Hamas evidencia que a definição clássica das relações internacionais, exposta por Thomas Hobbes em 1651, não perdeu sua validade. A insegurança é o motor das operações militares israelenses na Faixa de Gaza. O Estado judeu, contudo, esqueceu-se há mais de uma década daquilo que, antes, sabia: a maximização do uso da força não conduz, necessariamente, à maximização da segurança.

Israel é filho dos pogroms, dos campos de extermínio, de Auschwitz. Desde o início, o Estado judeu confiou na força: a "nação em armas" da guerra de 1948 construiu as Forças Armadas letais da guerra de 1967 e, em seguida, um poderoso dispositivo de dissuasão nuclear. Entretanto, os dirigentes israelenses não perderam de vista o objetivo principal de inserir seu Estado na ordem regional. A cooperação estratégica com a Turquia, os tratados de paz com o Egito e a Jordânia, concluídos à custa de uma concessão territorial, e os Acordos de Oslo, de 1993, representaram a busca da segurança por meio da política. Isso, porém, ficou no passado. Desde a falência do processo de paz, intoxicados pela eficácia aparente das ações militares, os israelenses debilitam as fundações de segurança de seu próprio Estado.

O "assassinato seletivo" de Ahmed Jabari, o chefe militar do Hamas, evento deflagrador da crise em curso, reflete a incapacidade israelense de diagnosticar o fracasso de sua estratégia de desengajamento unilateral, que tomou o lugar da busca pela paz, e de eliminação do Hamas do tabuleiro diplomático. O cenário atual no Oriente Médio não se parece com o de 2008, quando Israel promoveu uma massiva operação de invasão de Gaza, mas não alcançou o objetivo de destruir politicamente o Hamas. Sob intensa pressão da opinião pública doméstica, a Turquia considera a hipótese extrema de ruptura de relações com o Estado judeu. Uma exibição exagerada de força no território palestino poderia desestabilizar a monarquia jordaniana, já abalada pelas ondas de choque da Primavera Árabe, e dissolver o tecido esgarçado do tratado de paz com o Egito.

"Israel testa o pulso de nossa nação, testa o Egito, testa os árabes e os muçulmanos" para saber "se é capaz de ditar ordens, como no passado, ou se os líderes de hoje têm uma visão diferente". Na frase de Khaled Mashaal, o líder do Hamas, a palavra crucial é Egito. O Hamas nasceu de uma costela da Irmandade Muçulmana egípcia, mas alinhou-se à Síria e ao Irã. No início do ano, sob o impacto da sublevação na Síria, Mashaal transferiu-se de Damasco para o Cairo. O gesto representou um brusco realinhamento do partido islâmico palestino na direção do novo Egito, governado pela Irmandade Muçulmana. No segundo dia de bombardeios israelenses, o primeiro-ministro egípcio visitou Gaza, enquanto o presidente Mohamed Morsi tentava articular um cessar-fogo. Afrontar o Egito e a Turquia, aliados regionais dos EUA, é algo bastante diferente de confrontar iranianos e sírios. À primeira vista, Israel agiu sem examinar o dia seguinte à operação militar. Contudo as coisas são menos simples do que parecem.

Na hora do "assassinato seletivo" de Jabari, o ministro do Exterior israelense, Avigdor Lieberman, acenou com a hipótese de "derrubar" o governo da Autoridade Palestina na Cisjordânia caso Mahmoud Abbas obtenha na ONU o estatuto de Estado observador. Lieberman é um extremista, mesmo para os padrões do atual Gabinete de Israel, mas sua ameaça sinaliza uma inflexão estrutural do Estado judeu. O "desengajamento unilateral" de Gaza, promovido por Ariel Sharon em 2005, veiculava a ideia de que a paz poderia ser imposta por Israel, prescindindo de interlocutores e negociações. De lá para cá os israelenses radicalizaram ainda mais o pressuposto de Sharon, tratando de desmoralizar a liderança moderada de Abbas. Mashaal venceu: como produto das opções do Estado judeu, o Hamas converte-se no eixo principal da política palestina.

O carro em que se deslocava Jabari foi transformado numa bola de fogo dias depois da conclusão de uma trégua informal entre o Hamas e Israel, mediada pelo Egito e negociada pelo próprio Jabari. Três semanas antes, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciara a fusão do grupo parlamentar de seu partido, o Likud, com o do Yisrael Beytenu, o partido ultranacionalista de Lieberman, que apresentarão uma lista única de candidatos às eleições de janeiro. "Não mais lascas de partidos, caprichos que se coligam para um único mandato e depois se dissipam. Oferecemos uma verdadeira alternativa e uma oportunidade para os cidadão estabilizarem a liderança e o governo", explicou Lieberman, no tom celebratório de quem obteve um triunfo histórico.

De seu ponto de vista, o ministro do Exterior tem razão. A fusão da direita tradicional com a direita ultranacionalista representa, na prática, a ruptura do Likud com a visão de uma paz negociada e baseada em dois Estados. O projeto da nova direita unificada é traçar, unilateralmente, as fronteiras definitivas em Israel/Palestina e promover intercâmbios compulsórios de populações destinados a conferir "homogeneidade étnica" ao Estado judeu. A eliminação de Jabari, no momento em que se realizou, constituiu o passo inicial na estratégia comum de Netanyahu e Lieberman.

A utopia regressiva da "paz pela força" tem como pressuposto a negação da existência de interlocutores políticos, tanto entre os palestinos como no entorno árabe mais amplo. O isolamento regional de Israel e a maximização da insegurança em Israel/Palestina são os meios coerentemente selecionados para esse fim.

CPI: base racha - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 22/11

A base do governo vai rachar na votação do relatório da CPI do Cachoeira. O PMDB é contra indiciar Policarpo Júnior, diretor de "Veja" em Brasília. "O PMDB vai votar contra. Não há fundamentação", diz o líder Henrique Alves (RN). O relator Odair Cunha (PT-MG), que levou um bafo de José Dirceu e da bancada petista, diz que "há elementos" para incluir o jornalista no relatório final.

A CPI está desandando
Integrantes da CPI do Cachoeira, inclusive petistas, ficaram pasmos com o relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG). Avaliam que a lista ampla dos que devem ser investigados, que inclui o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, produzirá o efeito de unir os adversários do relatório. A estes devem se somar aqueles que sempre criticaram a ausência de investigação sobre o governador Sérgio Cabral. Membros da CPI dizem que o relator fez a opção por agradar determinadas plateias petistas e produziu "um relatório para ser derrotado". Entre os críticos, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) ironiza: "A pizza não cabe no forno. Ela é muito grande".

“Há uma inversão dos papéis e dos fatos. O investigador (o procurador-geral da República, Roberto Gurgel) vira investigado”
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP)
Senador, protestando contra o relatório da CPI do Cachoeira

Escolha antecipada
A bancada do PMDB fez um abaixo-assinado para que o líder Henrique Alves (PMDB-RN) antecipe a escolha de seu substituto. Em vez de fevereiro, 60 deputados que assinaram o pedido, querem que a eleição ocorra em 19 de dezembro.

Novo líder
Depois de reuniões no Planalto com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o vice Michel Temer, e os líderes Renan Calheiros (PMDB-AL) e Eduardo Braga (PMDB-AM), a presidente Dilma bateu o martelo: Braga segue líder no Senado em 2013 e o senador Walter Pinheiro (PT-BA), na foto, será o líder no Congresso.

Produzir e saber mais
São duas as obsessões da presidente Dilma. Em todas as suas conversas privadas e entrevistas ela martela nas ideias fixas: aumentar a produção industrial e melhorar a Educação, principalmente a fundamental e a técnica.

Com a corda toda
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), está impossível nas últimas semanas de reinado. Deputados pressionavam pela votação de um projeto que libera o PIS para deficientes. O líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), pediu a Maia para consultar o Planalto. "O senhor tem cinco minutos para consultar o governo", disse o presidente da Câmara para um Chinaglia atônito.

Candidato alternativo
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG), candidato a presidente da Câmara, encomendou uma pesquisa de intenções de voto. Foram ouvidos 350 deputados. O resultado foi animador: Henrique Alves (PMDB-RN) 36%, contra 32% dele.

Ponto de vista
O ministro Aloizio Mercadante (Educação) levou uma bronca da presidente Dilma. Ela ficou irritada por este ter exaltado como "a cara do Brasil" a adolescente Pâmela Lescano, que deu à luz no banheiro da escola em que fazia o Enem.

O PLANALTO está na expectativa que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, deflagre uma campanha nas ruas pela aprovação da MP da Energia.

Pacificador - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 22/11


Ao escalar Fernando Grella para a Segurança Pública, Geraldo Alckmin optou por secretário de perfil conciliador na sucessão de Antonio Ferreira Pinto, tido como austero e inflexível. O ex-procurador-geral de Justiça vinha manifestando, em privado, desconforto com o que chamava de "excessos" cometidos no policiamento, sobretudo na Rota. Com a troca, o Bandeirantes tenta aproximar a cúpula da pasta da tropa, reduzindo dano político para o governador em 2014.

Dominó O novo secretário deverá trocar o delegado-geral, Marcos Carneiro, que já manifestara intenção de deixar o posto. Discutirá ainda a permanência de Roberval França à frente da PM.

Currículo Foi decisiva no convite a Grella sua experiência em parcerias com núcleos de inteligência da Polícia Federal no combate ao crime organizado. Alckmin quer evitar a todo custo novos atritos com o Ministério da Justiça.

Inimigos... A bancada do PSDB na Câmara paulistana assinou carta elaborada pelo PT que defende a proporcionalidade na eleição da Mesa e comissões em 2013. Os tucanos apoiarão o petista José Américo à presidência.

...íntimos O documento é uma resposta à articulação de Gilberto Kassab, que tenta formar bloco para reeleger José Police Neto (PSD).

Apetite Insatisfeita com o espaço no secretariado de Fernando Haddad, a CNB, corrente nacionalmente majoritária do PT, quer instalar o vereador Francisco Chagas no novo governo, o que atenderia a ala sindical da sigla.

Aladim Durante reunião com centrais sindicais, ontem, Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) se disse preocupado com a votação do projeto do fator previdenciário e perguntou, referindo-se a Paulinho da Força (PDT), que protestava naquele instante na Câmara: "Como colocaremos o geniozinho na garrafa de novo?".

Revanche O PT lançará campanha pela reforma do Judiciário no encontro do diretório nacional, em dezembro. Petistas empenhados na defesa dos condenados no mensalão pregam a fixação de mandato para ministros de tribunais superiores.

Dois em um Defensor do tucano Eduardo Azeredo no processo do mensalão mineiro, José Gerardo Grossi esteve ontem no STF como preposto de Alberto Toron, advogado de João Paulo Cunha.

Desagravo No convescote previsto para a sequência da cerimônia de posse de Joaquim Barbosa, Ricardo Lewandowski receberá manifestação de apoio referendada por 15 mil internautas pela atuação no julgamento.

Meia volta O pedido de investigação contra Roberto Gurgel no relatório de Odair Cunha (PT-MG) representou um recuo ao que pretendia o PT. A intenção era indiciá-lo na CPI do Cachoeira.

Cálculo O petista admitiu a colegas que tinha convicção de que seu texto jamais seria aprovado nas condições em que foi redigido.

Camisa de força De um parlamentar da base governista, perplexo com o alcance do documento: "Temos que internar o Odair!".

Soneca Técnicos da CPI, que esperaram até o fim da noite de anteontem a remessa do relatório, telefonaram às 23h para o presidente, Vital do Rêgo (PMDB-PB). A mulher do senador explicou que ele já estava dormindo.

Malha fina Senadora licenciada, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) pagou o IR sobre o auxílio-mudança, o chamado 14º salário, quando notificada pela Receita Federal. A ministra não recebeu o 15º.

com FÁBIO ZAMBELI e BRENO COSTA

tiroteio

"Gilberto Carvalho desconhece as realidades de São Paulo e da faixa de Gaza, mas confirma o interesse do PT na onda de violência paulista."

DE FLORIANO PESARO, líder do PSDB na Câmara paulistana, sobre o ministro ter comparado as mortes violentas no Estado ao conflito no Oriente Médio.

contraponto

O que vem primeiro?

O ministro Guido Mantega (Fazenda) concedeu uma entrevista na semana passada para tratar da medida provisória que antecipa a renovação das concessões no setor elétrico. Ao comentar a polêmica em torno da MP, o ministro disse:

-As empresas querem ficar com o ovo e com a galinha.

Como os jornalistas não entenderam de cara a comparação, Mantega emendou:

-As empresas querem remuneração alta e prorrogar as licenças. Vão ter de escolher: ou ficam com o ovo ou com a galinha.