quarta-feira, agosto 01, 2012

Fora do contexto - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 01/08


A grande maioria de jornais e revistas traz hoje uma sessão que é das mais populares: são as frases destacadas de políticos, artistas, empresários e demais notáveis. A pessoa deu uma longa entrevista e dela é pinçada uma pequena declaração que vai para o hall das “frases da semana”. Quem não lê? Todo mundo lê e adora.

Algumas frases são fortes, outras divertidas, há as ridículas, as burras, as geniais. Mas todas, absolutamente todas correm o risco de estar descaracterizadas. Porque aquilo que é subtraído do contexto ganha projeção, para o bem ou para o mal. E isso, por si só, é uma forma sutil de manipular o leitor.

Em tudo há um contexto. No seu pedido de demissão, na sua defesa dos animais, na sua confissão para o padre, no seu desabafo para o analista, na sua briga de casal, na sua campanha política, até na escolha da roupa que você vai vestir pela manhã. Cada atitude, cada escolha, cada argumentação, cada lamúria está vinculada a uma série de outras coisas que orbitam em volta do assunto principal. Não existe “não vem ao caso”. Tudo vem ao caso.

A namorada, depois de aprontar muito, diz que você é o homem da vida dela. Essa frase, sozinha, reconstitui relações, mas e o contexto todo, onde fica? Seu chefe considera você um ingrato por desligar-se da empresa de uma hora para a outra, mas e a quantidade de sapos que você engoliu por meses, não explica?

Você é considerado um sequelado por descer pelo elevador do prédio de calça laranja, blusão pink e óculos de lentes verdes, mas alguém levará em consideração que você é um artista performático? Você diz para o analista que seu pai a ignora, e o analista precisa acreditar em você, mas jamais lhe dará alta até que descubra o contexto. O contexto é soberano, o contexto é revelador, o contexto não pode ser ignorado, assim na vida, assim na imprensa.

Como destacar uma ironia sem contextualizá-la? A ironia soará grosseira. E aquele que ao ser entrevistado para a TV estava visivelmente brincando, mas que por escrito pareceu estar falando sério? E o comentário dito no entusiasmo do momento, sem compromisso, que ganha ares de profetização? Falou, imprimiu, já era.

Explicar o contexto exige tempo, exige dedicação, exige compromisso, e está tudo em falta: tempo, dedicação, compromisso. Quer-se o bombástico de deglutição fácil. Quer-se o vexame público, o mico, a constatação constrangedora, a genialidade de pronta-entrega, quer-se o impacto imediato, sem olhar para os lados. O contexto são os lados ignorados.

Eu leio essas “frases da semana”, você também lê. Mas, na falta da contextualização, não percamos o critério. Acreditemos com um olho fechado e outro bem arregalado.

O lado conservador - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 01/08

O Arquivo Nacional lança dia 8 agora "Subversivos e pornográficos: censura de livros e diversões públicas nos anos 1970" do historiador Douglas Attila Marcelino.
Baseado em documentos agora de domínio público, o livro mostra um lado pouco estudado da ditadura: a pressão de setores conservadores da sociedade que pediam endurecimento ainda maior do regime.

Literatura ou pornô?...
Uma das cartas analisadas pelo autor era endereçada ao então ministro da Justiça Armando Falcão (1919-2010), enviada por uma moradora de São José dos Campos, SP, que se apresentava "apenas como uma mãe de família’! Escreveu ela:
— E os nossos colégios, senhor ministro? Com o pretexto de dar literatura, obrigam nossos filhos a ler "Dona Flor e seus dois maridos” (Jorge Amado), "Menino do engenho” (José Lins do Rego) etc. Aquilo é literatura ou pornografia?

Lista da censura...
No fim, o autor lista as publicações apresentadas à Divisão de Censura e Diversões Públicas entre 1970 e 1982, relacionadas por título, autoria e o parecer dos censores.

A 24h do mensalão
Zé Dirceu circulou ontem pelo Rio.

Vidas secas
O clima seco em Brasília tem incomodado Dilma.

O que mudou?
Guido Mantega, lembra?, pediu a cabeça de Roger Agnelli da Vale por ter demitido trabalhadores na crise de 2008.
Agora, o ministro defende a GM, que, apesar de beneficiada com redução de IPI, ameaça demitir 1.500 operários em São José dos Campos.

‘DEBAIXO DO TAMARINDO’

A coluna volta ao tema, abordado em julho do ano passado. O desejo de Augusto dos Anjos (1884-1914), expresso no poema “Debaixo do tamarindo”, era ser enterrado ao pé da tamarineira de sua antiga casa, no Engenho Pau dArco, na Paraíba. Como foi sepultado em Leopoldina, MG, os produtores culturais Fernando Portela e Rogério Carnascialli, há dez anos, importaram mudas da Paraíba e plantaram no túmulo do poeta na cidade mineira. Mas, há duas semanas, um raio atingiu e matou, coitadinha, a árvore (veja acima). Agora, por iniciativa do poeta Alexei Bueno, que editou pela Nova Aguilar, em 1994, a “Obra completa” de Augusto dos Anjos, um novo pé da fruta (à direita) será plantado dia 27 de setembro, quando os Correios vão lançar um selo em homenagem aos cem anos de “Eu”, único livro de poemas do mestre paraibano. Além disso, a casa em que o poeta viveu, fechada há anos, será reaberta como um museu. •

Novela do refino
Hugo Chávez disse em Brasília que continua interessado na refinaria de Pernambuco, em construção.

Aliás...
Veja como os orçamentos de grandes obras nem sempre são sérios.
Esta refinaria de Pernambuco foi orçada em US$ 4,5 bi, em 2004. Agora, a Petrobras reviu a conta para.... US$ 20 bi!

Gasolina na bomba
A conta é do consultor Adriano Pires. Este ano, a Petrobras vem importando 67 mil barris por dia de gasolina:
— O pior é que importa a gasolina por R$ 1,68 o litro e vende aqui por R$ 1,25, ou seja, perde R$ 0,43 por litro vendido. Até quando vão continuar usando e abusando da Petrobras?

Preta quer Stefhany
Preta Gil entrou na campanha pela participação da cantora Stefhany Absoluta na novela "Cheias de charme’!
Stefhany é aquela piauiense que estourou na internet com o clipe "Eu sou Stefhany” (assista no site da coluna), que teria inspirado as Empreguetes da trama da TV Globo. "Acho que houve muita inspiração em cima dela’? diz Preta.

Alô, Machado?
A partir de amanhã, quando o cidadão ligar para o Ministério da Cultura, vai ouvir, em vez de músicas de espera, trechos de textos de escritores brasileiros como Machado de Assis, Augusto dos Anjos, Guimarães Rosa e Gonçalves Dias.

Leilão à vista
Renata Almeida Sena e Adriana Ferreira Almeida, filha e viúva de René Sena, aquele ganhador da Mega-Sena, de Rio Bonito, RJ, querem se desfazer da fazenda e do gado que integram o espólio do finado milionário. Alegam que geram muita despesa.
As duas, que disputam os bens, confirmaram a intenção ao juiz Marcelo Espíndola. O dinheiro da venda ficará numa conta judicial até o fim da disputa.

Segue...Adriana foi acusada de planejar, em 2007, a morte de René.

Cárcere e tortura
Foi marcado para dia 19 de setembro o julgamento de Verônica Costa, conta o advogado Michel Assef Filho. Ela é acusada de ter torturado e mantido em cárcere privado o ex-marido Márcio Giovani Costa, em 2011.
Verônica, como se sabe, é noiva do vereador Jorge Pereira.

Lei seca
O ex-chefe de Polícia Civil do Rio, delegado Allan Turnowski, recusou-se a passar pelo teste do bafômetro e teve a habilitação apreendida, domingo, numa blitz na Avenida Afonso Reidy, na Barra.
Foi multado em R$ 957,70 e perdeu sete pontos na carteira.

Calma, gente
Domingo, no Cinesystem Curitiba, na exibição de "Batman” entrou na sala um sujeito de cabelos vermelhos, parecidos com os do assassino do cinema do Colorado, EUA. Algumas pessoas, na plateia, ficaram aflitas.
Mas... era só coincidência, claro.

Muito além dos palanques - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 01/08

Dificilmente, a presidente Dilma Rousseff conseguirá evitar por mais tempo nomeações de técnicos indicados pelos partidos para compor a diretoria de estatais. Se quiser parceria eleitoral, seja agora, seja em 2014, terá que mostrar já sua capacidade de governar em conjunto com os aliados
Com os partidos voltados às campanhas por todo o país e o PT entretido com o julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff queria aproveitar o período de pressão baixa sobre o Planalto para tentar resolver logo as indicações para cargos vagos nas estatais. Embora pareça mais lógico deixar esse assunto para depois das eleições municipais, a ideia do governo era evitar que novas pressões se somassem àquelas que já estão sobre a mesa de Dilma. 
Ela sabe que, findo o período eleitoral, os políticos retornarão a Brasília ávidos por compensações, seja por terem sido derrotados ou vitoriosos. Muitos cobrarão do governo por terem atendido aos pedidos de apoio feitos pela presidente ou por Lula. O problema é que a presidente acabou refém de decisões capazes de embalar os palanques petistas pelo Brasil afora. 
Os preparativos para a próxima reunião do Conselho de Administração da Petrobras, por exemplo, fizeram tremer o palanque do ex-ministro do Desenvolvimento e Combate à Fome Patrus Ananias, candidato a prefeito de Belo Horizonte. Ontem, a presidente da companhia, Graça Foster, passou mais de uma hora reunida com o chefe da seção corporativa da diretoria internacional, Alexandre Penna Rodrigues, com quem já trabalhou no passado. Penna é ligado ao PTB, partido que, na capital de Minas Gerais, apoia a reeleição de Marcio Lacerda. Trataram de assuntos da área, que Forster comanda desde 23 deste mês, quando o diretor Jorge Zelada renunciou ao cargo. Até então, estava tudo certo, inclusive com o aval do PMDB, para nomeação de José Carlos Vilar Amigo, no lugar de Zelada. Os peemedebistas esperam a nomeação na reunião do conselho desta sexta-feira. 
A conversa entre Foster e Alexandre Penna foi suficiente para fazer chegar aos peemedebistas mineiros a notícia de que a comandante da Petrobras havia desistido de nomear Amigo no cargo de diretor internacional e o indicado seria Alexandre Penna O PMDB não gostou e por pouco não sai da aliança com o PT de Belo Horizonte. O dia foi agitado e os peemedebistas só se acalmaram no início da noite. Antônio Andrade, presidente do PMDB de Minas, inclusive cancelou a reunião da bancada que havia convocado para hoje, na volta dos trabalhos do Congresso. 

Por falar em Congresso...O estresse de ontem mostra que a decisão de Dilma, de nomear sempre técnicos, sem dar a menor satisfação aos partidos aliados parece estar perdendo força. Dificilmente, ela conseguirá evitar por mais tempo a nomeação de técnicos indicados pelos partidos para compor diretorias de empresas estatais. Se quiser parceria eleitoral, seja agora, seja em 2014, terá que mostrar já a sua capacidade de governar em conjunto com os aliados. 
Em termos de votações, ela ainda não tem do que reclamar. Um levantamento da Arko Advice sobre relacionamento Executivo-Legislativo indica que o apoio médio da presidente Dilma na Câmara desde a posse é de 54,47%. No Senado, é de 58,49%. As únicas derrotas registradas foram a indicação de Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), e o Código Florestal na Câmara dos Deputados. O estudo mostra ainda que o governo Dilma não perdeu sequer uma votação nominal aberta no Senado. A rejeição do nome de Bernardo Figueiredo ocorreu em votação secreta. 
Resta saber se frustrações eleitorais e o cansaço dos aliados com o que consideram desatenção do Planalto vão se refletir no painel de votações. Essa semana, entretanto, não há o que temer. As atenções estarão no Supremo Tribunal Federal (STF) e o julgamento do mensalão. Ontem, enquanto a turma do Planalto se entretia com Hugo Chávez, na reunião que marcou a entrada da Venezuela no Mercosul, advogados e ministros começavam a dar o ar da graça em Brasília. Quanto aos congressistas, bem… poucos apareceram. 

Por falar em advogados...A impressão que se tem é a de que o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos esperava apenas um motivo para largar a defesa do contraventor Carlinhos Cachoeira. Era visível o constrangimento de Thomaz Bastos quando perguntado como receberia os honorários. A bela Andressa, ao ser acusada de ameaçar um juiz, forneceu a porta de saída. 

Samba da cotista doida - MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

FOLHA DE SP - 01/08


SÃO PAULO – Morena ruiva, morena jambo, branca melada, branca morena, alva escura, clarinha, pálida, branquiça, agalegada, averme lhada, bugrezinha escura, quase-negra, mista… Essas são algumas das mais de 130 cores de pele autodeclaradas pela população em 1976, em pesquisa organizada pelo IBGE. Diante de tanta variedade, o instituto acabou por consolidar o uso do feioso termo "pardo" para rotular -e empobrecer- a festa de semitons da miscigenação brasileira.

Desconhecia o levantamento, que me foi revelado pela artista Adriana Varejão, com quem conversei para uma reportagem da revista "Serafina". Ela prepara um trabalho baseado nessa variedade cromática e poética que emergiu da pesquisa.

Percorrer a curiosa lista de tonalidades faz pensar sobre a opção política de setores da esquerda e do governo petista de usar a polarização branco x negro como espelho da divisão social no país. Como muitos já bem argumentaram, as cotas raciais são uma contrafação fora de lugar das duvidosas políticas conservadoras norte-americanas, que trouxeram algum benefício para a classe média negra e nada fizeram para promover os mais pobres.

No Brasil, parece mais adequado compensar o desfavorecimento socioeconômico -e não "racial". A institucionalização do racismo não é a melhor ideia se a ideia é justamente eliminá-lo. Ou será que não é?

Agora, o Congresso nos ameaça com o bizarro projeto da deputada Nice Lobão (PSD-MA). Prevê que metade das vagas das universidades federais seja repartida entre negros, pardos e indígenas na mesma proporção demográfica constatada pelo IBGE. E tal contingente, para se beneficiar, terá de ter feito seus estudos em escolas públicas.

É o samba da cotista doida. Grosseira falta de compreensão sobre o papel da universidade e das políticas compensatórias. Melhor criar logo uma loteria federal de diplomas. A megassena universitária!

Os limites da onipotência - ALEXANDRE SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 01/08


Às vezes é interessante imaginar o que faria um gestor onipotente para resolver a crise europeia, não porque seja desejável alguém com tamanho poder, mas sim para avaliar a distância entre o que seria tecnicamente requerido para por fim à turbulência na Zona do Euro (ZE) e o que o sistema político, felizmente democrático, é capaz de produzir. Obviamente um ser onipotente poderia tão somente desejar que a crise se acabasse por força da sua vontade sobrenatural, mas não é disso que falo aqui. Refiro-me à solução dentro da ordem humana, que obedeça às restrições impostas pelo funcionamento dos mercados.

Feita a advertência, o consenso que emerge das análises mais sérias e (paradoxalmente, no contexto deste artigo) menos religiosas do problema, aponta para três elementos complementares.

Em primeiro lugar, dada a distorção gerada por anos de inflação mais alta na periferia europeia com relação ao centro, seria necessário agora que este permitisse que sua taxa de inflação fosse superior à periférica. Por exemplo, entre 1999 e 2008 a inflação espanhola superou a alemã em 15 pontos percentuais (cerca de 1,5% por ano), diferença que agora precisaria de correção a ritmo bem mais rápido. Para evitar, porém, que tal correção obrigasse a um devastador processo deflacionário na Espanha, a inflação na Alemanha teria que ser bem mais alta que a meta para a ZE como um todo, e, crucialmente, mais elevada que os 2,5-3% ao ano que as autoridades germânicas consideram aceitável.

Adicionalmente a solução passa também por alguma forma de mutualização dos passivos, isto é, a assunção das dívidas nacionais por parte de uma autoridade supranacional, medida que gera duas ordens de preocupação.

A primeira é se isto não acabaria tendo o efeito inverso ao desejado, qual seja, ameaçar a sustentabilidade de todos os países da ZE, ao invés de ajudar aqueles em dificuldade. No entanto, como sempre é lembrado, caso a ZE já fosse uma federação, seus números fiscais seriam melhores que os americanos, sugerindo não haver razão para crer que o custo de sua dívida deveria ser maior que os baixíssimos níveis a que Tesouro dos EUA hoje se financia.

O fato, porém, é que a ZE ainda não tem uma autoridade federal, o que nos leva diretamente à segundo preocupação. Se apenas a dívida fosse supranacional, nenhum país teria incentivos para manter a disciplina e, portanto, cedo ou tarde o desempenho fiscal da ZE se deterioraria. Portanto, a contrapartida da mutualização da dívida deve ser a centralização fiscal a cargo de um Tesouro supranacional, com poderes para impor suas decisões aos países membros da união monetária.

O terceiro elemento da solução diz respeito aos bancos e é analiticamente similar à questão fiscal. Hoje bancos e países estão presos num “abraço de afogados”. A má forma dos bancos onera o custo dos tesouros, vistos como a garantia do sistema, derrubando os preços dos títulos governamentais; por outro lado, a perda de valor dos títulos públicos piora o balanço bancário.

Assim, para quebrar o “abraço” é necessário também mutualizar as garantias bancárias o que, como no caso fiscal, requer a centralização do poder financeiro em alguma instituição supranacional, sem o que os incentivos à gestão temerária dos bancos seriam intoleráveis.

Trata-se de uma lista formidável de requerimentos e não é preciso nenhum senso sobrenatural para concluir que, do ponto de vista político, ela é simplesmente inviável.

Todavia, se isto é verdade, o que resta para salvar a Europa? Apenas soluções tortas, que, de uma forma ou de outra, passarão pelo Banco Central Europeu (BCE). O exame das alternativas fica para as próximas colunas, mas desde já é bom deixar claro que hoje, em face do impasse político, não há outra instituição que possa endereçar, ainda que de forma imperfeita, a armadilha em que a Europa se enfiou.

Façam suas apostas - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 01/08


Apartir de amanhã, eles disputarão com nossos atletas olímpicos o destaque na mídia e a atenção do país. São onze e poderiam formar um time de futebol; só que não são jogadores, são juízes. Como ministros do Supremo Tribunal Federal, caberá a eles julgar um dos mais volumosos e rumorosos processos que já passaram por nossa Justiça. São 50 mil páginas, 38 réus, sete anos de tramitação e uma enorme expectativa em relação ao resultado. Condenação ou absolvição? Faça sua aposta. É difícil encontrar alguém que não tenha um palpite sobre o desfecho. A turma da defesa acredita que, se a Corte usar critérios técnicos, não haverá condenação, como não houve em 1994, quando Fernando collor foi absolvido por insuficiência de provas. Alega-se que o pouco delas que foi produzido agora serviu para o oferecimento de denúncia, não para basear uma condenação. Mas seria possível hoje uma avaliação exclusivamente jurídica, sem consideração de ordem política ou social? Afinal, os juízes não vivem no mundo da Lua, mas numa sociedade que clama por punição.
Que tendência prevalecerá - a técnica ou a política? Já li e ouvi várias previsões de votos feitas por analistas. Diz-se, por exemplo, que pertencem à primeira corrente os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello, capazes de decisões polêmicas que contrariam a voz do povo. Da segunda corrente, participariam o presidente Ayres Britto, a ministra Cármen Lúcia e Cézar Peluso, que acompanhariam o voto de Joaquim Barbosa, relator do processo e declaradamente pela condenação. Por ter divergido do relator em 2007, quando a denúncia da Procuradoria da República foi convertida em ação penal, há quem suponha que Ricardo Lewandowski vote pela absolvição, e já teria dito que "falta materialidade ao mensalão". Tenderiam para essa posição Marco Aurélio, Celso de Mello, Luis Fux, Rosa Weber e Dias Tóffoli (se não se julgar impedido por suas ligações com José Dirceu e por sua mulher ser advogada de um dos réus). Já Gilmar, depois da briga com Lula, tenderia à condenação.
Mas, atenção! Essa bolsa de apostas vale tanto quanto adivinhar as medalhas que o Brasil vai ganhar nas Olimpíadas, quer dizer, nada. Quando submeti o resultado a um advogado que conhece bem o funcionamento do STF, ele me aconselhou: "Não faça isso, é imprevisível." Portanto, leitor, esqueça as minhas dicas e faça a sua própria aposta.

Piada de salão - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 01/08


RIO DE JANEIRO - Num processo que já arrolou mais de 600 testemunhas e soma mais de 50 mil páginas, o do mensalão, a única frase de humor até agora foi dita no começo do caso e por um dos principais envolvidos: o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, acusado de orientar a distribuição do dinheiro para comprar parlamentares e garantir apoio ao presidente Lula no Congresso. Indiferente ao volume de denúncias, Delúbio declarou que elas logo seriam "esclarecidas, esquecidas" e acabariam virando "piada de salão".
Piadas de salão eram aquelas que se podia contar em sociedade, na presença de idosos, senhoras e menores. Eram ingênuas, meio sem graça e, por isso, pareciam intermináveis-seus personagens costumavam ser portugueses, judeus, sogras, gagos. O mensalão também não tem graça e ameaça ser interminável, mas não tem nada de ingênuo -está mais para as piadas de papagaio, anões, freiras, gays e as do Joãozinho, típicas dos botequins.
Nos salões do passado, não ficaria bem alguém imiscuir-se numa roda em que estivessem crianças de peito e mães de família para contar piadas envolvendo formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva (epa!), peculato, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituições financeiras. Muito menos se um dos canais por onde circulasse esse dinheiro fosse a cueca de um ou mais acusados.
Mas depende dos salões que Delúbio frequenta e das piadas que se contam neles. Veja bem, nada contra tais salões e piadas. Eu próprio frequentei alguns em que, de tão pesados, a piada da freirinha que fazia tricô no jardim do convento já ficara inocente. Mas nem nesses se faria piada com o desvio de recursos públicos para convencer deputados a votar a favor do governo.
Delúbio não deveria frequentar salões que o aceitassem como convidado.

Questão de imagem - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 01/08


Os momentos que antecedem o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do mensalão, que seriam normalmente tensos pelos significados que ele tem para a História política do país, estão sendo exacerbados por questões que rondam o tema, políticas ou não.
É o caso, por exemplo, da saída do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos do caso Cachoeira, que carrega consigo uma série de significados que ainda não estão compreendidos na sua inteireza. Muito se especulou sobre a aceitação, por Thomaz Bastos, desse caso, em que sua imagem profissional ficou maculada para a opinião pública.
A boataria em torno do pagamento - seriam R$ 15 milhões - só fez aumentar a visão leiga negativa, embora existam os argumentos técnicos e até mesmo éticos para justificar a aceitação de qualquer causa por parte do advogado.
A lição de Santo Agostinho, de amar o pecador e odiar o pecado, passou a ser justificativa aceitável para o que, aos olhos da opinião pública, transformava o ex-ministro, considerado o mais importante criminalista do país, em um reles interesseiro.
A relação entre o caso do bicheiro e o mensalão, no qual Thomaz Bastos atua como advogado de defesa de um dos réus, foi feita imediatamente.
Além disso, o criminalista é o grande formulador da tese de que o que aconteceu foi "apenas" o uso de caixa dois na campanha eleitoral, um crime menor. Mentor de vários dos advogados que atuam no processo, Thomaz Bastos é visto como o coordenador da defesa dos réus do mensalão, e a proximidade com Cachoeira fazia mal à sua imagem.
Mesmo que já estivesse incomodado com essa situação, a tentativa de chantagem contra um juiz, pela mulher do bicheiro, foi a gota d"água, ou o pretexto perfeito, para Thomaz Bastos recuperar a credibilidade de sua ação como advogado diante da opinião pública na véspera do início do julgamento do mensalão. A sua saída do caso Cachoeira deixa claro que ele não participou, nem aprova, a tentativa de chantagem promovida por Andressa Mendonça contra o juiz Alderico da Rocha Santos.
A ameaça de publicar dossiê contra o juiz na revista "Veja" não passou de golpe que não deu certo, pois o juiz não a levou em consideração e mandou prender Andressa em casa, confiscando seus computadores. Quanto ao repórter da "Veja" Policarpo Junior, que seria o autor do suposto dossiê, nada fizeram, nem o juiz nem o Ministério Público, o que demonstra que também eles não acreditaram na veracidade da ameaça.
A saída do caso de Thomaz Bastos e sua equipe demonstra que a manobra foi feita em desespero de causa pela própria Andressa, instruída ou não por Cachoeira.
Ela, convocada pela CPI que investiga as atividades ilícitas de seu marido, deixa de ser apenas uma cara bonitinha que apimentava o caso e passa agora a ser parte do processo, como cúmplice e coautora dos crimes praticados.
O presidente do STF, ministro Ayres Britto, está discutindo com seus colegas ministros a ponderação das penas em caso de condenação dos réus do mensalão, o que se chama "dosimetria penal".
É mais um detalhe para um caso todo especial que terá 38 réus que em teoria podem ser condenados a diversas penas (veja artigo nesta página).
Como em todo o processo, tanto o relator Joaquim Barbosa quanto agora o atual presidente, Ayres Britto, têm o cuidado de levar ao plenário as decisões, para que não haja desencontros de ordem técnica entre os 11 membros da Corte durante o julgamento.
É injusto atribuir ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a intenção de ajudar os acusados do mensalão quando, como deputado federal, propôs a lei que passou a considerar o "bônus de produtividade" como parte da remuneração das agências de publicidade. A lei foi criada a pedido do mercado publicitário para regularizar a situação.
O uso dela para justificar a apropriação por parte da agência DNA, de Marcos Valério, do dinheiro que por contrato deveria ter sido devolvido ao Banco do Brasil e foi usado, segundo a Procuradoria Geral da República, para irrigar o valerioduto com dinheiro público, é outra história.

Nascimento: FAQ - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 01/08


Como faço para voltar pro útero? Infelizmente, não existe essa possibilidade. Não existe mesmo? Não



1. Por que me tiraram do útero?
Você nasceu! O útero era só um breve estágio em que seu corpo estava sendo formado. A vida mesmo é aqui fora, na luz: seja bem-vindo e aproveite!
2. Como faço para voltar pro útero?
Infelizmente, não existe essa possibilidade.
3. Não existe mesmo?
Não.
4. O que eu estou fazendo aqui?
Essa pergunta é passível de muitas respostas. Religiosos acreditam que a vida é um presente de Deus. Ateus afirmam que não há exatamente uma razão para existirmos e que tudo é fruto do acaso e da seleção natural. Ao longo do seu percurso você descobrirá para que lado pende seu coração e poderá até mesmo criar uma explicação própria para a incrível jornada que se inicia agora!
5. O que é aquela coisa redonda, quente e macia que vira e mexe põem na minha boca e contém um líquido delicioso?
Chama-se seio. O seio é parte do corpo de uma mulher. A mulher chama-se mãe. Mãe é a principal encarregada por você nos primeiros anos de vida. (Mais info. nos formulários Mãe: FAQ I, II, III, IV e V).
6. Como faço para que a mãe venha e ponha o seio na minha boca quando eu estiver com vontade?
Chore. Esgoele-se o mais alto que puder que a mãe costuma aparecer.
7. Posso ter o seio quantas vezes quiser, a qualquer hora do dia ou da noite?
Teoricamente, sim, mas isso varia de mãe para mãe.
8. Quem é aquele cara que geralmente aparece ao lado da mãe e fica ali sem fazer nada, com um sorriso abobalhado?
Chama-se pai. Ele é responsável por metade de sua carga genética. Realmente, é meio inútil neste começo, porém mais tarde ajudará bastante em sua criação. (Ver Pai: FAQ I e II).
9. Ele tem seio?
Não. Embora tenha mamilos, fato que até hoje intriga os evolucionistas, mas isso absolutamente não vem ao caso.
10. Além do seio, tem algo mais que preste do lado de cá do útero?
Ah, impossível enumerar todas as delícias desta grande aventura! Em breve você conhecerá a manga e o cafuné, o mar e a bicicleta, os livros, os esportes, o amor, a música, o sexo... Prepare-se, você vai se divertir a valer!
11. Vou ter mais alguma experiência traumática ou a saída do útero foi o fundo do poço?
Bem, em algum lugar adiante está a morte.
12. O que é a morte?
O fim da vida.
13. E, depois da morte, não tem nada?
Eis mais uma pergunta passível de muitas respostas. Religiosos acreditam que a vida continua, incessantemente, seja em outro plano ou neste aqui, através de reencarnações. Ateus dizem que não: a morte é mesmo o limite.
14. Não tem mesmo como voltar pro útero?
Não.

Ueba! Tem Concurso de Suelens! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 01/08

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Primeiro predestinado do mensalão: tesoureiro do PL, Jacinto Lamas! E tem tanto acusado nesse mensalão que não é mais banco de réu, é arquibancada! E diz que o único que não acredita no mensalão é o Tufão! Rarará!

E a preguiça? Rever a cara do Dilúvio Soares e do Marcos Velório!? E o Roberto Jefferson vai aparecer de olho roxo e cantando ópera? Não dava pra reprisar o escândalo do Calheiros? Que pelo menos a mulher era gostosa? Rarará! Mensalão tem que passar no Canal Viva, da Globo. Ou então, julgamento sumário: 48 horas! Pronto! Tamo livre! Tamo livre e Teje Preso!

E essa: "Taça Libertadores quebra no Corinthians". Como disse um cara no meu Twitter: "O bonequinho da taça não quebrou, tentou o suicídio". A taça tentou o suicídio! Rarará! E com a greve dos caminhoneiros, o ministro dos Transportes vai mudar de nome! De Passos para Marcapassos! Rarará!

E a Olimpíada? Londres Urgente! A China vai derreter o ouro pra fazer rolex. Ops, lolex! Rarará! E o Brasil ontem ganhou três medalhas: de Santo Antônio, Santa Inês e Santo Expedito.

Uma dúvida: encolher a barriga na hora de transar é uma modalidade olímpica? É! E o Brasil tá indo bem em esporte de praia. A gente vive na praia. Ouro em praia! E a equipe feminina de hóquei da Holanda é patrocinada pelo Rabobank! Rarará!

Atenção! Tá tendo Concurso de Suelens. Olha o outdoor em Taboão da Serra: "MISS PIRIGUETI. Showpana Bar. Indeixável de ir". Adorei o "indeixável". E a mulher do Cachoeira tentou subornar um juiz. Em cascata ou chuveirinho? Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

Ereções 2012! A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! É que em Cotia tem um candidato imbatível: Linguiça Sem Preguiça! Sensacional. A pior coisa do mundo é uma linguiça com preguiça!

E em Santa Maria no Rio Grande do Sul tem um candidato que eu acho que é tetraneto do Sarney: Estátua Viva! Rarará! Sim, o candidato se chama Estátua Viva e aparece no santinho pintado de dourado ! Rarará!

Agora eu não sei se voto no Furúnculo Maligno, no Cição Bandido ou no Aurestinho Boka Kuente! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Falsa dicotomia - DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 01/08


Demandas em favor de um julgamento no qual o Supremo Tribunal Federal leve em conta a opinião do público sobre o caso do mensalão têm tanta validade factual quanto cobranças por um exame exclusivamente "técnico" do processo.

As duas alegações se igualam em impropriedade e implicam juízo prévio de valor: os advogados da oitiva social querem a condenação dos réus e os defensores da tecnicalidade reivindicam a absolvição.

Nada contra juízos e valores, mas no que tange ao julgamento com início marcado para amanhã ambas as posições são inócuas. Expressam correntes de pensamento, mas disso não passam porque na ação penal não estão em jogo costumes, vontades, avanços ou retrocessos sociais, mas a realidade tal como a veem o Código Penal e a Constituição.

Em falta de substância podem ser comparadas às recentes petições de advogados ao Tribunal Superior Eleitoral para tentar adiar o julgamento para data distante de período eleitoral ou para instar o TSE a examinar "com atenção" o uso do assunto nas propagandas obrigatórias no rádio e na televisão.

Por essa ótica a Justiça teria obrigação de olhar o quadro da perspectiva dos eventuais prejudicados ou beneficiados e tratar o mensalão como um tabu, pautando-se pelas conveniências e inconveniências eleitorais das forças políticas envolvidas em disputas de poder.

A se aceitar essa argumentação não se poderia deixar de aplicar a ela o princípio da isonomia que levaria a Justiça à absurda situação de estabelecer a seguinte regra: questões polêmicas relacionadas a partidos e a políticos não podem ser julgadas em anos eleitorais, só na entressafra.

Ano sim, ano não a agenda judicial estaria interditada a fim de que não houvesse "judicialização da política" nem "politização da Justiça". Ainda que o resultado impusesse retardamentos e tornasse o Judiciário mais lento do que já é.

Sem contar que afastar julgamentos das eleições implica a adoção de conceito semelhante a marcá-los propositadamente em épocas de campanha. Aí troca-se apenas o sinal, mas não se tem uma solução. Pelo simples fato de que não há nada a solucionar nem condicionantes a discutir.

Do mesmo modo não há dicotomia entre julgamento "técnico" e julgamento "político" a não ser na cabeça de uma animada arquibancada que, seja qual for o resultado, sairá decepcionada porque as coisas são como são e não como os torcedores gostariam que fosse.

A diferenciação correta a ser feita diz respeito à maneira como cada ministro verá os fatos: se a partir da ação isolada de cada réu ou se examinará o contexto de um esquema articulado de corrupção em que cada um deles cumpriu um papel na execução de um projeto comum, mediante práticas criminosas.

Meia volta. Réus distantes do palco, governo sob a imposição do toque de silêncio, ex-presidente Lula calado, sindicatos e movimentos sociais recolhidos, PT acuado.

Na véspera do julgamento do mensalão, o cenário em nada lembra as anunciadas batalhas em prol do "desmonte da farsa" e em tudo remete ao temor reverencial do exame público, diário e prolongado do conteúdo dos autos.

No caso dos réus, os advogados alegam que a presença não é praxe. Mas há uma justificativa mais objetiva para as ausências: nenhum deles, notadamente os políticos, quer aparecer na televisão durante as sessões em que será repetida uma narrativa de acusações que por si desmontam a versão de que há sete anos nada houve no Brasil além de uma ardilosa conspiração contra o governo baseada em invencionices da oposição.

Assim é. Por enquanto ninguém se habilitou, mas daqui a pouco aparece alguém para dizer que julgamentos, assim como CPIs, sabe-se como começam, mas nunca como terminam.

Como se não fosse tudo na vida assim. Ou o leitor e a leitora sabem como terminará hoje seu dia?

Promessa vai sair do papel - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 01/08

O presidente Hugo Chávez vai voltar em breve ao Brasil. Ele virá, segundo o governo, para anunciar, finalmente, um aporte de recursos da PDVSA na Refinaria Abreu e Lima (PE). Orçada em US$ 17,1 bi, a obra é bancada pela Petrobras. O investimento foi acertado entre os presidentes, os comandos das empresas, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e a comitiva de Chávez.

Os tucanos querem Cabral
Os partidos de oposição, liderados pelo PSDB, vão iniciar uma ofensiva política pela convocação do governador Sérgio Cabral (RJ) na CPI do Caso Cachoeira. Um relatório produzido pela assessoria do líder tucano no Senado, Álvaro Dias (PR), com os dados bancários que já chegaram, sobre os principais agentes públicos e privados que depositaram recursos no caixa da empreiteira Delta, afirma: "As informações a seguir apresentadas acerca dos principais agentes públicos e privados que aportam recursos na empresa Delta Construções S/A demonstram claramente a importância do Estado do Rio de Janeiro no contexto das investigações."

“Como? Mensalão? Não sei o que é isso!”
Luís Inácio Adams Advogado-geral da União

Construção civil
O governo brasileiro está animado com os investimentos de empresas brasileiras na área de construção civil no país e o acesso facilitado ao mercado do Caribe. Nas reuniões com a presidente brasileira, o presidente Hugo Chávez revelou que há déficit habitacional de três milhões de casas e espera propostas de empresários brasileiros.

Virou anedota
Eventual revanche do Brasil sobre a Inglaterra nas Olimpíadas de 2016 virou galhofa no Planalto. Por conta da presença de Marina Silva na abertura, em Londres, o Brasil faria homenagem à princesa Diana, desafeto da rainha Elizabeth.

Na mesma sintonia
O ministro Fernando Pimentel Desenvolvimento) nega que exista a possibilidade de ele não apoiar a candidatura de Patrus Ananias. Conta que passou suas férias em Belo Horizonte envolvido na campanha petista.

Dedicados às eleições municipais
A despeito dos telefonemas, a liderança do governo na Câmara não conseguiu mobilizar a base aliada para votar esta semana as três MPs pendentes, entre as quais, a do Brasil Carinhoso. O governo precisa de 257 votos, mas hoje terá em plenário 216 deputados e amanhã 227. Para conseguir votar, o Planalto terá de negociar a boa vontade dos independentes (PTB, PR e PV).

Lula fala, e Dilma paga a conta
As gravações de Lula para candidatos petistas irritaram aliados. Os deputados Fernando Jordão (Angra dos Reis), Nelson Bornier ( Nova Iguaçu), Washington Reis ( Duque de Caxias), candidatos do PMDB, vão à forra contra o governo Dilma.

Um duro aprendizado
O presidente da Autoridade Pública Olímpica do Brasil, Márcio Fortes, foi assaltado na rua em Londres. Fortes acompanhou a abertura dos Jogos e permanece na Inglaterra para avaliar os erros e evitar que se repitam no Rio em 2016.

OBA-OBA. O governador Eduardo Campos recebe hoje a medalha Pedro Ernesto (RJ) e convidou para o jantar Sérgio Cabral e Eduardo Paes.

Reduzir as tarifas sem populismo - ABEL HOLTZ e ADRIANO PIRES

O ESTADÃO - 01/08


Nos últimos meses as cobranças quanto à adequação do preço da energia elétrica ao consumidor brasileiro têm se intensificado, e parece que agora o governo vai apresentar uma solução. As opiniões e reivindicações sobre o tema são férteis e antagônicas muitas vezes. Agentes, associações, consumidores e políticos, além de membros do governo, têm externado suas percepções. O tema é complexo e politicamente árduo. Em busca de um consenso que deverá envolver nas negociações o Legislativo, o mercado, o governo federal e os governos estaduais, parlamentares defendem a necessidade de mobilização imediata a favor da redução tarifária em se tratando de um ano eleitoral.

O peso da energia no orçamento familiar dos consumidores domiciliares vai muito além do gasto com a conta paga todo mês pelas famílias. A energia elétrica está presente em tudo o que uma família consome e usa, desde alimentos até eletrodomésticos e cabeleireiro. Daí a necessidade de corrigir esse impacto nas famílias em geral. A própria presidente está sendo instada a interferir e tem cobrado ações para efetivar a desoneração da energia elétrica quer pela extinção ou redução de encargos setoriais componentes no preço final, quer pela alteração das alíquotas do PIS e da Cofins e, ainda, da alíquota do ICMS. A expectativa dos consumidores industriais aponta para a necessidade de uma queda de cerca de 20% no preço final da energia para esse setor.

O preço da energia, além do preço de produção nas usinas, embute custos de transmissão e de distribuição. Estes são custos do produto energia. Agora, por cima desses custos há a incidência de encargos, nomeadamente, RGR, CCC, TFSEE, CDE, ESS, Proinfa e P&D, que o governo promete extinguir, e ainda restam as contribuições para o ONS e Aneel e os tributos PIS-Cofins, CSLL, IRPJ, PIS-Pasep. E, no seu somatório, incide o ICMS.

A eliminação dos encargos setoriais é muito bem-vinda. Também é bem-vindo transferir os que continuarem existindo para a conta do Tesouro Nacional. Dessa forma, será o contribuinte e não o consumidor a pagar esses subsídios. Isso dará maior transparência para a sociedade sobre o que ela está subsidiando no segmento de energia elétrica, com a parcela que paga de tributos. Ninguém pode ser contra subsídios, desde que sejam discutidos pela sociedade, por meio do Legislativo, e que constem de forma clara no orçamento da União.

Cabe relembrar que, de 1999 a 2008, três dos seis tributos federais na tarifa de energia, como a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), o PIS-Cofins e o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), praticamente dobraram. Quanto ao ICMS, ele abastece o orçamento dos Estados onde as despesas têm crescido nos últimos anos. O ICMS varia de 12% no Amapá a 35% em Minas Gerais. Com o crescimento de gastos vinculados e sem receita nova, o ICMS sobre a energia elétrica e sobre telecomunicações são os dois itens com maior peso na arrecadação dos Estados e quando somados aos tributos sobre combustíveis representam mais de 50% da receita das unidades federativas. Outra providência anunciada pelo governo para reduzir as tarifas é por meio do processo de renovações das concessões. Nesse ponto é preciso tomar bastante cuidado para que não se promova o malfadado populismo tarifário. O segmento de geração de energia elétrica, ao contrário do de transmissão e distribuição, se caracteriza pelo fato de ser um mercado competitivo, o que faz com que não necessite de tarifas reguladas pelo governo. Portanto, na renovação das concessões não se pode e não se deve transformar um mercado competitivo em um mercado regulado. A meta de reduzir as tarifas é válida e deve ser perseguida no processo de renovação das concessões. Porém, sem promover a desvalorização das empresas geradoras, sem comprometer os seus investimentos futuros, bem como não prejudicar o funcionamento e o crescimento do mercado livre.

Miopia burocrática e afronta à lei - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 01/08


São características fundamentais de qualquer sociedade em que impera o estado de direito democrático a liberdade de ir e vir e, num sentido mais amplo, a obrigatoriedade de o poder público zelar pelo cumprimento da lei. Nenhum destes imperativos foi respeitado no movimento de locaute deflagrado por entidades representativas de caminhoneiros autônomos, contra alterações feitas na regulação da atividade pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Por fecharem várias estradas, entre elas a principal do país, a Dutra (Rio-São Paulo), os grevistas causaram problemas a um número expressivo de pessoas, presas em engarrafamentos quilométricos, sem poder seguir viagem. Crianças, idosos, ninguém escapou do ato de selvageria sindical, cometido a partir do último fim de semana. Sem considerar os problemas no abastecimento do Rio e outras cidades.
A situação se tornou mais complicada porque, em outra agressão ao estado de direito, a Polícia Rodoviária Federal não agiu como devia. Os primeiros protestos na Dutra ocorreram na tarde de domingo. Havia todas as condições de a PRF atuar de maneira preventiva, diretamente e pedindo ajuda a outras forças de segurança pública. Mas como se encontra também num movimento reivindicatório - quer aumento de efetivo -, pouco ou nada fez. Cabe ao Ministério Público estudar a hipótese de responsabilizá-la.
O primeiro elo desta cadeia de absurdos é a nova regulamentação baixada pela ANTT. Para um leigo, tudo muito razoável: descanso ininterrupto de 24 horas para cada turno de 11 trabalhadas, por exemplo. Num momento em que os autônomos, devido a uma série de mudanças no setor, sofrem uma redução de receita, eles garantem não ter como se enquadrar nas regras, sem acumular prejuízos.
A grande adesão às manifestações nas estradas pelo menos aconselha a que se ouça a argumentação dos caminhoneiros, sem que isso justifique o inadmissível bloqueio de estradas, nem os livre de sanções. Na origem da crise, portanto, está mais um caso típico do que acontece quando um burocrata, em Brasília, resolve normatizar alguma atividade sem conhecê-la na vida real.
Numa perspectiva mais ampla, chama a atenção o estado de letargia em que se encontram áreas do Estado cuja missão é defender direitos da população. Na atual onda de greves no setor público, a leniência fica evidente.
Talvez porque o governo tenha uma vertente sindical, parece haver pruridos em defender a sociedade diante de paralisações em atividades-chave - e decretadas na tentativa de se obter ajustes salariais inexequíveis e sem sentido. É como se o STF já não houvesse estendido ao funcionalismo público a lei de greve, em que há regras de paralisação em atividades essenciais. Mas ninguém aciona a Justiça. É assim, neste vale-tudo, que caminhoneiros decidem parar a Dutra e outras estradas. Como nada também lhes acontece, deve-se esperar casos ainda mais graves.

A FILHA DE GLAUBER - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 01/08

A cantora Ava Rocha, 32, filha do cineasta Glauber Rocha e da artista Paula Gaitán, está grávida de quatro meses de seu primeiro filho. Ela espera uma menina e já escolheu o nome: Uma. Amanhã, ela e os músicos Daniel Castanheira, Emiliano Sette e Nana Love, que formam a banda AVA, apresentam o show de lançamento do álbum "Diurno" no teatro do Sesc Pompeia.

Em breve, Ava finalizará com o grupo o videoclipe da música "Filha da Ira". O trabalho é uma parceria com seus dois irmãos. O artista e cineasta Pedro Paulo Rocha é coautor da canção, e Eryk Rocha dirige o clipe.

PAPEL DE MÁRTIR
Carlinhos Cachoeira exige que seus advogados o apresentem como preso político nos tribunais do país. Esse foi um dos motivos de divergência entre ele e a equipe coordenada pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, que ontem deixou a defesa do bicheiro.

DIGITAL
Em explosões com os advogados em reuniões no presídio da Papuda, em Brasília, Cachoeira culpou o PT por todas as suas agruras. Disse acreditar que o partido é o responsável por seu longo período atrás das grades. A legenda estaria se vingando por ter sido ele o pivô do escândalo Waldomiro Diniz, o primeiro da era Lula. Na época, fita gravada por Cachoeira mostrava o assessor pedindo propina a ele.

CORDA ESTICADA
A equipe de advogados preconizava o oposto: que Cachoeira se defendesse das acusações objetivas dos processos em que é réu.

Mas ele se recusou até mesmo a responder a perguntas em audiência na semana passada. Numa das brigas, o bicheiro chegou a chamar um de seus defensores de "moleque".

DOAÇÃO
O Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) liberará 220 mil dólares para que a Unesco dê continuidade aos trabalhos de seu departamento de museus. Há alguns dias, em encontro de especialistas da área no Rio, a organização informou que não terá mais verba para o setor.

PASSA O CHAPÉU
O presidente do Ibram, José do Nascimento Jr., afirma que se dispôs a fazer uma reunião com outras entidades para criar um fundo de arrecadação. "Os trabalhos de preservação da Unesco precisam continuar", diz.

CINEMA FRANCÊS
O ator francês Louis Garrel, que dirigiu "A Regra de Três", terá seu filme exibido no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, de 23 a 31 de agosto. O evento negocia a vinda do ator para o Brasil.

RESUMO DA ÓPERA
O maestro Júlio Medaglia apresentou à Record um projeto sobre Carlos Gomes, o maior compositor de ópera brasileiro, morto em 1896. A minissérie abordaria fatos reais "que [as novelistas] Janete Clair e Glória Magadan não ousariam escrever". Como o fato de, quando criança, Gomes ter tido a mãe assassinada pelo pai e fugido para São Paulo.

SEGUNDA MÃE
O ator Pedro Neschling, que está no elenco de "O Diário de Tati", afirma que atuar ao lado de Louise Cardoso foi uma das melhores coisas das filmagens. "Ela é muito amiga da minha mãe [a atriz Lucélia Santos] e é quase como uma mãe para mim também", diz. O longa-metragem estrelado por Heloísa Perissé tem estreia prevista para o dia 24 de agosto.

VENCER NA VIDA
Gregório Duvivier protagonizará, ao lado de Luiz Fernando Guimarães, um novo musical de Charles Möeller e Claudio Botelho.

Em "Como Vencer na Vida sem Fazer Força", ele será o lavador de janelas Finch, papel que já foi de Daniel Radcliffe (o Harry Potter) e Moacyr Franco, na primeira versão brasileira do espetáculo, dos anos 60.

A FILA ANDA
Duvivier ("Z.É. - Zenas Emprovisadas") entra no lugar de Bruno Gagliasso -que saiu do projeto para cuidar da "vida pessoal". Recentemente, o ator se separou da mulher, Giovanna Ewbank, ao ser cotado como um possível pai para o bebê da modelo Carol Francischini.

NOVA DOROTÉIA
A peça "Dorotéia", com Alinne Moraes, teve apresentação para convidados anteontem, no teatro Raul Cortez. João Fonseca dirige o texto de Nelson Rodrigues sobre uma mulher que larga a prostituição após a morte do filho. O cineasta Mauro Lima, namorado de Alinne, o ator Rony Koren e a empresária Camila Espinosa foram conferir.

MULHERES NA PISTA
A empresária Tatiana Monteiro de Barros comemorou aniversário no clube Black Calavados, no Itaim Bibi. Estiveram na festa a empresária Jeniffer Bresser e a modelo Gabriela Jummes.

CURTO-CIRCUITO

A missa de 30 dias de Ivone Kassu em SP será na sexta, às 9h, na igreja São José, no Jardim Europa.

O artista Znort inaugura hoje a exposição "Monolito" na Choque Cultural, em Pinheiros, às 10h.

A artista Iole de Freitas grava hoje, em SP, depoimento sobre sua passagem pela Olivetti de Milão, para o filme "Plano B".

Eduarda Derani, Natália Nucci, Pilar Guillon e Sílvio Passarelli apresentam a loja on-line Umimo amanhã, no hotel Fasano.

A banda norte-americana Pepper toca no Cine Joia amanhã, às 21h. 18 anos.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

A outra face da 'musa' - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 01/08


Se a história do bicheiro Carlinhos Cachoeira fosse o enredo de um romance policial, o desavisado leitor teria motivos para se sentir logrado pelo autor ao chegar à página que narra a tentativa da parceira do protagonista, Andressa Mendonça - chamada com ligeireza pela imprensa de "musa" da CPI que leva o nome de guerra do contraventor Carlos Augusto Ramos -, de chantagear um juiz federal. Porque, mesmo na literatura do gênero, as tramas concebidas pelo novelista, conquanto trepidantes, têm de guardar um mínimo de nexo com os fatos da vida. E, nesse caso, o hipotético ficcionista teria ultrapassado a fronteira do verossímil.

Para prender a atenção do seu público, criminosos saídos da cabeça de um escritor que se preze têm de se distinguir, entre outros atributos, pela esperteza: quanto mais astutos, cerebrais, imaginosos, mais capazes também de encobrir os seus malfeitos e de ameaçar com o ridículo a reputação dos detetives no seu encalço. Bandalhos apatetados, apenas se a ideia é fazer rir pelo absurdo das situações em que se envolvem - como a do assaltante trapalhão que aponta uma arma para o caixa de uma casa de penhores e vê o funcionário tirá-la de suas mãos e, com um muxoxo, dizer-lhe que só vale uma ninharia.

A isso parece se equiparar, no mundo real, o espantoso misto de primitivismo e soberba que levou lady Cachoeira a tentar corromper, pela intimidação, o juiz Alderico Rocha Santos, responsável pelo processo que corre na 11.ª Vara da Justiça Federal em Goiás contra o seu noivo, namorado, companheiro ou como se queira designar o empresário de mil e uma estripulias nos negócios e na vida pública do Estado (e arredores). Santos é o terceiro juiz a assumir a ação penal resultante da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que mantém na cadeia desde 29 de fevereiro o caudaloso contraventor.

O primeiro, que autorizou a sua prisão, deixou o caso, dizendo-se ameaçado. O seu substituto natural declarou-se impedido. Sobrou para Santos, cujas decisões incluem a de ordenar a prisão do então senador Jader Barbalho, em 2002, por envolvimento no escândalo da Sudam. Achando que ele era "meio capiau", como teria dito, ou, talvez, "se achando", Andressa apareceu na última quinta-feira no gabinete do juiz. Conforme Santos contaria ao Ministério Público, ela exigiu que mandasse soltar o bicheiro e o absolvesse da penca de acusações de que é alvo. Se acedesse, ela evitaria a publicação de um dossiê contra ele, que teria feito chegar ao redator-chefe da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior.

Em dado momento, para mostrar que falava sério, escreveu num papel os nomes de três amigos de Rocha Santos mencionados no suposto dossiê. Não pegou. Tão logo ela se retirou, deixando a anotação, o juiz denunciou a investida. Anteontem, Andressa foi detida, levada a depor, liberada sob fiança de R$ 100 mil, proibida de se comunicar com Cachoeira e demais réus do processo e acusada de corrupção ativa. Outro inquérito a investiga por lavagem de dinheiro. Os promotores federais consideram Andressa "mensageira" da organização criminosa do bicheiro, que, ressaltam, "continua a desenvolver ações de enfrentamento do próprio Estado".

Antes de aprontar com o juiz, a "musa" tinha depoimento marcado para a próxima terça-feira na CPI, como testemunha. (No dia seguinte, será a vez da ex-mulher de Cachoeira, Andreia.) Membros da comissão acreditam que ela é mais do que mera "laranja" nas traficâncias do grupo do parceiro, como se supunha: "uma operadora da organização", aponta o relator da investigação, deputado Odair Cunha, do PT mineiro. Ele defende a quebra dos sigilos de Andressa e o seu indiciamento. Nessa hipótese, ela será ouvida como investigada. Decerto portará um mandado que lhe permitirá calar-se. O importante, de toda forma, é a advertência feita pelo Ministério Público Federal em Goiás.

Tosca e truculenta, a investida da beldade, que se fazia notar também pela prontidão para verter lágrimas, deixa claro que, apesar do cerco policial, das decisões judiciais adversas aos seus interesses e da própria CPI, a quadrilha de Cachoeira segue ativa - e desafiadora.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 01/08

BNDES corta taxa de juros de cartão do banco

O BNDES reduz de 0,97% para 0,91% ao mês a taxa de juros do cartão do banco a partir de amanhã.

O novo percentual é a menor taxa de juros dessa linha de financiamento desde que foi aberta em 2003.

O primeiro corte da taxa do banco estatal desde outubro de 2011 ocorre três meses depois da pressão do governo federal pela redução de juros no financiamento bancário.

A queda da taxa do cartão BNDES ocorreu devido à diminuição de 0,5% da TJLP (6% para 5,5% ao ano), ocorrida em junho, que é uma das variáveis utilizadas para o cálculo da taxa de juros do cartão do banco de fomento, de acordo com Vitor Hugo Ribeiro, do departamento de operações de internet do BNDES.

"A taxa já estava no piso. Ela é calculada todo dia 21 e passa a valer no mês seguinte", diz Ribeiro.

A previsão de desembolsos para este ano é de R$ 11 bilhões. No primeiro semestre deste ano, o cartão cresceu 49%, em volume de recursos desembolsados, ante igual período de 2011.

O cartão BNDES é usado por micro, pequenas e médias empresas para financiamento de produtos de fornecedores previamente credenciados no site da instituição.

O prazo de pagamento varia de três a 48 meses.

O ticket médio das operações é de aproximadamente R$ 15 mil.

números

0,97% era a taxa de juros do cartão BNDES até ontem

0,91% é a nova taxa, em vigor a partir de hoje

R$ 11 bilhões devem ser desembolsados em financiamentos em 2012

R$ 4,5 bilhões em financiamentos foram aprovados entre janeiro e julho deste ano

49% foi o crescimento no volume de recursos desembolsados no primeiro semestre deste ano, ante mesmo período de 2011

DIAMANTE E GRINALDA
Pela primeira vez, a Cartier vai criar no Brasil um espaço exclusivo para noivas, dentro de sua nova loja, em São Paulo, onde serão vendidos solitários e alianças.

As peças variam entre R$ 10 mil e R$ 400 mil, de acordo com a quantidade de quilates, a clareza e a cor.

A grife, que sempre teve forte ligação com joias para matrimônios da realeza, não tinha um espaço especializado no país para esse tipo de oferta na loja antiga.

"A produção de diamantes no mundo é cada vez mais limitada. Como não é possível fornecer para todas as lojas no mundo, a Cartier escolhe algumas. Agora será adequado", diz Maxime Tarneaud, gerente-geral da marca no Brasil.

A operação brasileira, que recebia apenas dez solitários por ano, terá mais de 50 já na inauguração de sua nova unidade em SP.

"O preço no Brasil é competitivo com o mercado fora. Nosso posicionamento é 15% acima dos EUA. Muitas pessoas pensam que é dobro, mas não é."

50 é a quantidade de solitários que a loja recebeu para a abertura

10 era o número de unidades recebidas ao ano

COMBUSTÍVEL SUSTENTÁVEL

Apesar de o governo não confirmar, produtores de biodiesel esperam que o novo marco regulatório do setor saia nos próximos dias, com metas graduais do produto na mistura com diesel.

A Ubrabio (União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene) diz ter condições de atingir 10% de biodiesel misturados ao diesel em 2013 e 20% em 2020.

Em reuniões do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, porém, representantes do governo sinalizaram que a meta de 20% está "fora de cogitação" neste momento, "em razão da impossibilidade de produção de matéria-prima em quantidade suficiente".

"A tendência é que a meta seja de 7% no segundo trimestre de 2013 e 10% em 2014", diz Irineu Boff, presidente da Biodiesel Oleoplan.

O índice atual, de 5%, estava previsto para 2013 mas foi antecipado e atingido em 2010, de acordo com Juan Diego Ferrés, presidente do conselho da Ubrabio.

O documento do novo marco regulatório está no Ministério da Casa Civil, que não comentou o caso.

voo particular

A frota brasileira de jatos executivos cresceu 15,35% no ano passado, ante 2010, segundo a Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral).

O crescimento foi puxado pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, que apresentaram altas de 19%, 13% e 11%, respectivamente.

Ao final de 2011, os jatos representavam 4,8% da frota brasileira de aviação geral.

Para os próximos anos, representantes do setor esperam mais crescimento.

No primeiro semestre deste ano, a Sertrading importou e comercializou mais aeronaves do que no ano passado inteiro.

A procura é grande principalmente por modelos com capacidade para quatro a oito pessoas, segundo Luciano Sapata, vice-presidente da companhia.

Já a Cirrus espera que, até 2015, aumente a procura por modelos de até sete lugares, diz o representante da multinacional, Sérgio Beneditti.

A Embraer tem mais de 110 aviões executivos em operação no país. Desses, 70 foram vendidos em 2010 e 2011.

HUMOR INGLÊS

O ânimo do inglês com a economia do seu país não melhora há mais de um ano.

Em julho, a confiança do consumidor ficou em -29 pontos (em escala de -100 a 100), de acordo com índice da empresa de pesquisas GfK.

Desde julho do ano passado, o indicador varia entre -29 e -33.

Segundo a empresa, o fato de o índice não mudar por um período prolongado significa que as políticas implementadas pelo governo inglês não estão sendo suficientes para mudar as impressões do consumidor.

A retração do PIB do país também afetou o ânimo das pessoas, ainda de acordo com a GfK. A economia inglesa contraiu 0,7% em junho, na comparação com abril.

A pesquisa foi feita a pedido da Comissão Europeia e tem margem de erro de 2%. Ao todo, 2.002 pessoas foram entrevistadas.

Emprego... Na temporada 2012/2013 de cruzeiros marítimos, com início em novembro, 3.307 tripulantes brasileiros deverão ser contratados, segundo a Abremar.

...no mar O trabalho a bordo de 15 navios na costa terá como foco, em sua maioria, jovens entre 18 e 35 anos com inglês fluente, de acordo com a entidade.

Concurso... Universitários desenvolverão e apresentarão projetos de inovação com galvanização, tecnologia que protege o aço contra corrosão a partir da utilização de zinco, para executivos da Votorantim Metais.

...empregatício Os autores das melhores iniciativas poderão ser contratados para estágio. O consumo de aço galvanizado no Brasil é de 1,6 quilo por habitante, número inferior ao de países europeus, que consomem 20 quilos.

Falácias e enganos acerca do mensalão - JOSÉ NÊUMANNE


O Estado de S.Paulo - 01/08


O levantamento de peritos oficiais da Polícia Federal (PF), do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU), após ouvirem 600 testemunhas e produzirem um relatório de 50 mil páginas, calcula em R$ 101,6 milhões o desvio de dinheiro, público ou privado, de que serão acusados os 38 réus do escândalo chamado de "mensalão". Terá sido o maior episódio de corrupção de políticos e agentes públicos de todos os tempos? Vai saber! Por mais altos que sejam os números que dizem respeito aos "propinodutos" em todos os escalões da burocracia estatal, eles sempre podem parecer modestos após surgir o próximo à luz do noticiário. Mas é provável que tenha sido realmente o mais "atrevido" de todos, definição dada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Atrevimento incomum foi o do presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, ao delatar a existência de um esquema de compra de votos em legendas governistas, que chamou indevidamente de "mensalão", referindo-se ao que de menos relevante havia nele, a periodicidade. Mas atrevimento por atrevimento, truco! Os antigos aliados que ele delatou o superaram nesse quesito. Principalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o delator tentou poupar, mas agora, se é que se pode confiar em escaramuças retóricas de advogados em véspera de júri, pretende transferir de José Dirceu para ele o papel de mandante do delito, se delito houve. Ou, como preferiu o procurador que antecedeu o atual, Antonio Fernando de Souza, e o denunciou, de chefe de uma rede de peculato e corrupção ativa e passiva.

Na Presidência, Lula foi a mais ambulante das metamorfoses citadas no sucesso de Raul Seixas, que ele adotou como lema. Nunca antes na História deste país um governante se mostrou tão pouco biruta ao se comportar como uma biruta ao sabor do vento que soprava na ocasião para dar a resposta que considerava mais conveniente para evitar que algum oposicionista ousasse tirar-lhe o escalpo.

Quando o escândalo eclodiu, Sua Excelência pôs a carapuça habitual do macaquinho da piada que nada sabe porque nada viu, nada ouviu e nada falou a respeito. Não faltaram testemunhas de que ele foi informado, entre elas o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), que terminou caindo na malha fina da PF em outro episódio de nossa grotesca República, a "rede criminosa" do bicheiro Carlinhos Cachoeira e da Delta. Em Paris, comodamente sentado, o então presidente deu um depoimento disfarçado de entrevista ao Fantástico e disse que seu Partido dos Trabalhadores (PT) recorreu ao estratagema comum do caixa 2 eleitoral. Eliane Tranchesi não podia fazê-lo, mas petista em campanha pode, é?

Lula também se disse traído e pediu perdão, como se isso fosse suficiente para extinguir delito e pena. E, depois, adotou a estratégia de assumir o crime menor para livrar os acusados da pena maior. Se o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar a tese, criará a jurisprudência que punirá o assaltante que matar o assaltado apenas pelo roubo. Sem contar o cinismo de imaginar que, numa adaptação corporativista do velho axioma de Artur Bernardes - "aos amigos, tudo; aos inimigos, o rigor da lei" -, a carteirinha de um partido político da base governista basta para liberar o cidadão do incômodo de cumprir as leis.

A desfaçatez do argumento, contudo, não sobreviveu ao tempo e ao exercício do poder. Reeleito por soberana decisão popular, tendo governado mais quatro anos no topo de uma popularidade crescente e contra uma oposição indigente, o ex-sindicalista deu-se ao luxo de trocar de falácia. Para que admitir o crime menor se a caradura, associada à boa-fé do povo, lhe permite a permanente presunção da inocência? Que caixa 2, que nada! O "mensalão" é fictício, mera intriga da oposição. Pois é notório que a PF, o MPF e o TCU são instituições comandadas por inimigos do PT e do governo. E não são mesmo?

Partindo do princípio público e notório de que o STF é um reduto de ferozes opositores, não convém confiar que esses sabotadores da República socialista, que só admitiram manter Cesare Battisti no País para disfarçar, aceitem a tese. Foi aí que Lula, em pessoa, saiu a campo para pregar a inconveniência do julgamento de um crime em ano de eleições municipais, cuja relevância é capital para a sobrevivência de nosso frágil Estado Democrático de Direito...

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgou vídeo à militância negando a existência dos fatos descritos no relatório dos peritos da PF, do MPF e do TCU. Enquanto isso, os advogados do partido anunciaram que pedirão ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a proibição de eventuais alusões ao julgamento do STF nas campanhas municipais de seus filiados. Ou seja, a volta da Lei Falcão, da ditadura, com a qual o poder da época substituiu o debate político pelas fotografias e biografias dos candidatos a eleições, tentando impedir quaisquer exposições de ideias. Caso aceite a tese, a Justiça Eleitoral não precisará nem trocar a denominação, pois a interferência do falcão Armando, ministro da Justiça dos militares, virará a intervenção do falcão Rui, defensor perpétuo das causas dos militantes.

A corregedora do Conselho Nacional da Justiça, Eliana Calmon, em que pesem suas boas intenções, engana-se ao alertar que de amanhã em diante o STF se submeterá a julgamento da opinião pública. Não há como julgar a instância máxima do Judiciário: essa é uma característica pétrea da democracia, como esta tem de ser. Mas o STF contribuirá, sim, e muito, para aprimorar nossa democracia, fragilizada pelo atrevimento permanente de seus mais amados rebentos, se não contribuir para a impunidade ampla, geral e irrestrita, pela qual militam os que pregam o adiamento sine die do julgamento ou o perdão incondicional para os companheiros acusados. Afinal, nem pedir desculpas dispensa cumprimento de pena nem plena defesa é sinônimo de acusação nula. Ou não?

Os riscos do crédito - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 01/08


O sistema bancário brasileiro tem uma pontuação melhor do que o de países como Estados Unidos, Alemanha, China. O FMI avaliou os bancos pelos princípios de Basileia, que têm regras para o sistema bancário. Mesmo assim, o Fundo alertou para o risco de endividamento excessivo das famílias brasileiras. Uma parte grande da renda das famílias está comprometida com o pagamento de juros .

O Fundo acha que o Brasil tem um "vigoroso" sistema financeiro, mas alertou que ele precisará de medidas ousadas e reformas, porque houve um rápido crescimento do mercado doméstico de crédito num quadro de juros altos e empréstimos de curto prazo. Muita gente está se endividando, os juros ainda são altos e o prazo do crédito é pequeno, o que faz com que uma parte grande da renda doméstica esteja comprometida. Por isso, a inadimplência aumentou. O FMI teme que o setor bancário seja vítima do seu próprio sucesso .

A equipe do FMI veio ao Brasil em novembro de 2011 e março de 2012 para avaliar se o sistema bancário está preparado para crises. E a conclusão é que os bancos são saudáveis; a supervisão bancária, boa; a regulação prudencial, sólida; o total de crédito ainda é baixo perto do de outros países e os bancos têm pouca exposição aos riscos externos .

Os bancos estrangeiros que operam no Brasil só podem remeter lucros. A maior parte do financiamento é local, o funding em moeda estrangeira é pequeno e coberto por garantias. Aliás, os bancos estrangeiros perderam, desde 2002, 10 pontos percentuais no total de ativos bancários no Brasil .

O país tem 137 bancos, quatro de desenvolvimento e um de poupança, mas os cinco maiores têm dois terços dos depósitos. Os bancos públicos têm 45% dos depósitos e os privados, nacionais e estrangeiros, juntos, têm 54% .

Os bancos brasileiros têm um grau de capitalização (17%) acima do exigido pela norma brasileira (11%), que é maior do que o requerido pelo acordo de Basileia (8%). Segundo o FMI, as orientações dadas pelos técnicos em visitas anteriores foram seguidas, menos a de dar a autonomia formal ao Banco Central .

O FMI alertou sobre fiscalização de bancos pequenos e médios. Esse segmento teve problemas durante a crise de 2008, e o BC criou os Depósitos Garantidos, liberou parte dos compulsórios para que os grandes comprassem carteiras dos menores para dar liquidez a essas instituições.

A despeito disso, houve, pelo menos, cinco grandes problemas. Quebraram ou foram resgatados os bancos Schahin, Matone, Morada, Cruzeiro do Sul e Panamericano. O pior caso é o do Panamericano, que precisou de mais de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Crédito, além do dinheiro da Caixa, para continuar funcionando, na mais esquisita operação de resgate que ocorreu no Brasil. O Cruzeiro do Sul teve intervenção direta do Banco Central e as informações preliminares são de um desequilíbrio maior do que originalmente calculado .

No relatório, há mais elogios do que advertências. Dos 30 princípios fundamentais de Basileia, 28 foram considerados atendidos. Os outros dois foram "atendidos em grande parte". Mesmo assim, é preciso olhar os fatos recentes e aprimorar a supervisão e regulação. A ideia no BC, confirmada no relatório do FMI, de delegar ao Fundo Garantidor de Crédito a solução de buracos nos bancos é um risco. O FGC agiu até hoje de forma opaca, com critérios discutíveis, principalmente, no caso do Panamericano. O próprio FMI sugere aperfeiçoar o FGC. Além disso, os alertas sobre endividamento excessivo e aumento da inadimplência precisam ser ouvidos. Afinal, foi por descuido nesses itens que outros países estão encrencados .

Anomalias eleitorais - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 01/08


BRASÍLIA - Daqui a alguns dias, começa a propaganda eleitoral em rádio e TV. Enquanto isso, repete-se a novela antiga de partidos reclama rem da pouca exposição que têm na mídia eletrônica.

Ocorre que são os políticos que fizeram a lei eleitoral na qual sobrevive todo tipo de anomalia -inclusive a forma como deve ser a cobertura jornalística quando há disputa de cargos públicos.

Só para lembrar, o Brasil deve ser o único país na galáxia no qual os políticos precisam fingir que não são candidatos até o fim de junho do ano eleitoral, época em que podem rasgar a fantasia e dizer o que realmente pretendem.

Por outro lado, como a multa para quem desrespeita a regra tem sido de R$ 5.000, muitos assumem o risco. Sem medo de ser feliz, Lula e Fernando Haddad, o candidato petista a prefeito de São Paulo, estiveram no programa do Ratinho fora do prazo legal. E daí? Daí, nada.

Quem criou esses prazos rígidos e esdrúxulos para a campanha eleitoral no Brasil foram os generais ditadores. Veio a democracia e as coisas pioraram. Até meados da década de 90, a campanha em rádio e TV era de 60 dias. Hoje, dura 45 dias.

É compreensível que os políticos queiram aparecer nos telejornais, sobretudo nos da TV Globo, líder de audiência. A lei estabelece que as emissoras não podem "dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação". A rigor, Levy "aerotrem" Fidelix, o candidato nanico do PRTB a prefeito de São Paulo, teria de aparecer o mesmo número de segundos oferecidos aos que lideram as pesquisas. Não dá.

Todas as emissoras vão desrespeitar a lei e não darão muito tempo para o homem do aerotrem. As TVs estão certíssimas. Os partidos maiores não vão reclamar. Mas quem faria melhor ainda seriam os deputados e os senadores se atualizassem a lei eleitoral para eliminar de uma vez esses despautérios.

Falta cumprir - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 01/08


Ajoelhou, tem de rezar. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi (foto), avisou na quinta-feira que "faria de tudo para salvar o euro". Logo em seguida, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, apoiaram Draghi e pareceram avalizar tudo o que ele fizesse para impedir que a área do euro despencasse abismo abaixo. Ontem, o primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, juntamente com Hollande, reafirmaram o apoio ao BCE.

Os mercados festejaram na semana passada ou porque acreditaram ou porque lhes convinha acreditar. Falta começar a reza. Falta saber quais serão as medidas heroicas em gestação no BCE para tirar o euro da encalacrada em que está.

O problema imediato vinha sendo a iminência do colapso da capacidade de financiamento das dívidas da Espanha e da Itália. Se a quebra ou de um ou de outro acontecesse, seria desastre de vastas proporções. Os tomadores de títulos estavam tão desinteressados que as novas emissões de bônus da Espanha e da Itália precisaram pagar juros já acima de 7,0% ao ano para encontrar compradores. Acima desse nível, começa a contagem regressiva para a quebra.

Para amanhã, está agendada nova reunião do BCE para definir pelo nível dos juros básicos. É para quando se esperam ou novas atitudes ou alguma indicação do que fará Draghi para cumprir o prometido. Mas, afinal, o que o BCE pode fazer e quais seriam os riscos dessas providências?

Uma ideia é reduzir ainda mais os juros básicos que, hoje nos 0,75% ao ano, estão no menor nível histórico. Em princípio, não seria recomendável porque a inflação do bloco está em torno de 2,5%, além dos 2,0% que constituem a meta de inflação. O problema é que somente juros um quarto de ponto porcentual mais baixos parecem pouco para o pretendido.

Recomendação insistente de analistas de várias tendências é de que o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), e, futuramente, a instituição que suceder-lhe, o Mecanismo Europeu de Estabilização (ESM), seja autorizado a operar como banco. Assim, poderia levantar recursos ilimitados no BCE (o que um tesouro não pode fazer)e, portanto, recomprar os títulos de dívida que não encontrassem mercado.

Variação do mesmo movimento, mas sem intermediários, seria o BCE voltar às compras de títulos no mercado financeiro, prática da qual se ausentou nas últimas 20 semanas.

Essas duas opções esbarram com obstáculos sérios. Essas recompras de títulos teriam por objetivo criar mercado para eles e, em consequência disso, derrubar seu rendimento (yield), para que os lançamentos de dívida nova pudessem ser realizados com juros bem mais baixos. À medida que o BCE fizesse essas intervenções, derrubaria artificialmente os juros, impedindo que se estabelecesse a percepção do que fosse título bom e título ruim. Em outras palavras, o BCE estaria agindo para que os títulos de países encrencados parecessem tão bons (ou quase) quanto os da Alemanha. E, se os títulos de pior qualidade fossem equiparáveis aos de boa qualidade, ficaria também prejudicado o nível adequado de capital exigido dos bancos que carregassem essas dívidas em seus balanços.

É por isso que certos analistas avisam que se o EFSF (ou o ESM) ou o BCE se pusessem a recomprar títulos de dívida da área do euro, teriam de formar com uma "cesta neutra", que não gerasse deformações. Ou seja, teriam de recomprar títulos de toda a área do euro (não só de Espanha e Itália), na proporção de suas economias ou de sua participação no capital do BCE. Se a exigência da "cesta neutra" fosse cumprida, a grande beneficiária seria a Alemanha, que já paga juros baixíssimos.

Outra opção do BCE seria uma nova Operação de Refinanciamento de Longo Prazo (LTRO, na sigla em inglês). É um empréstimo de volume ilimitado aos bancos da área, por três anos, para que usem os recursos assim obtidos na recompra de títulos no mercado financeiro. Dois problemas: (1) o BCE já lançou duas LTRO, uma em dezembro e a outra em fevereiro, no valor total de 1 trilhão de euros, e, aparentemente, não conseguiu mudar o quadro geral da área; e (2) corresponde a gigantesca emissão de moeda que poderá contribuir para empurrar a inflação.

O risco é que, ajoelhado ou não, o BCE não puxe nenhuma reza. Se não fizer nada, como não vem fazendo hoje, a esperança tem tudo para se transformar em gigantesca decepção.