quarta-feira, maio 30, 2012

Quem vai desenterra a verdade do presente? - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Dilma Rousseff chorou ao instalar a Comissão da Verdade. Entre os companheiros que se emocionaram com ela estava José Sarney, presidente do Senado. Citando Galileu Galilei, a presidente disse que “a verdade é filha do tempo, não da autoridade”. Sarney servia ao regime que Dilma quer investigar, mas isso não tem a menor importância. Ambos são sócios numa verdade que não é filha do tempo, nem da autoridade. A verdade de Dilma e Sarney é filha da mãe de todos os posseiros do Estado brasileiro.

É uma verdade tão generosa que pode admitir até censura. Não a dos anos de chumbo, que está fora de moda. Censura moderna, cirúrgica. A investigação da família Sarney por tráfico de influência vinha sendo exposta por O Estado de S. Paulo. Com apoio irrestrito de Lula e Dilma, Sarney ficou firme no cargo, e seu filho conseguiu submeter o jornal à censura prévia, que já completará três anos. Em nome da verdade.

Galileu entendia dos astros, mas não sabia nada de fisiologismo. Se soubesse, descobriria que a verdade é uma ação entre amigos.

Amordaçar a imprensa foi uma forma eficaz de proteger a ditadura, especialmente quando ela torturava. Dilma Rousseff deve saber disso. Portanto, censura nunca mais – a não ser para defender alguém como Sarney, que, como disse Lula, “não é uma pessoa qualquer”. E não é mesmo. Acima do José Ninguém que apoia o governo popular com sua crença, seu voto e outras miudezas, Sarney é um companheiro diferenciado: põe seus lotes privados na máquina pública a serviço de Dilma, se ela mantiver seu alvará de sucção. Uma troca verdadeira.

Uma amizade dessas vale gestos extremos. Segundo a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamou-a ao Palácio do Planalto para lhe dar ordens. A Casa Civil não manda na Receita, mas Dilma mandou Lina resolver pendências fiscais da família Sarney. Solidariedade é isso (só quem lutou contra a tirania da ditadura sabe). Dilma não aceitou uma acareação com Lina. Uma virou presidente, a outra sumiu. Se a verdade fosse filha do tempo, a esta altura já estaria num orfanato.

A presidente que quer passar a ditadura a limpo de mãos dadas com Sarney poderia, talvez, pedir uma hora extra à Comissão da Verdade para dar uma olhada no caso Agaciel. O Brasil inteiro ouviu (já esqueceu, mas ouviu) os telefonemas entre o então diretor e o presidente do Senado combinando nomeações secretas de parentes e amigos. Onde foi parar essa verdade? Ou ela é filha da autoridade, e foi retocada, ou Sarney não tem condições morais de presidir o Senado – enquanto não for devidamente investigado. Mas esses detalhes não incomodam Dilma Rousseff em sua cruzada humanista. A presidente dos famintos nem se importa que a filha de Sarney compre 68 toneladas anuais de comida (só para ela e seu vice) à custa do contribuinte, como ÉPOCA mostrou. A verdade varia conforme a fome do dono.

O Brasil precisa acertar contas com seu passado, buscando justiça para os desaparecidos. Mas engole junto a propaganda política dos aparecidos. Ao lado de Dilma, no altar do bem contra o mal, estão heróis como Fernando Pimentel, ex-guerrilheiro, atual ministro vegetativo do Desenvolvimento. A resistência aos militares forjou nele valores sólidos, como ser amigo da presidente e faturar alto com consultorias invisíveis. Somando o passado e o presente de Pimentel, a única verdade insofismável é que ele não perde o cargo de jeito nenhum – nem depois de voar de favor em avião de empresário. Rodoviária nunca mais.

A luta continua, como prova Ideli Salvatti, ex-militante de direitos humanos na ditadura. No Ministério da Pesca, ela operou o milagre da multiplicação das lanchas – cujo fabricante, por coincidência, bancou sua campanha eleitoral. Na posse, Ideli cantou Ivan Lins para celebrar o triunfo da esquerda: “No novo tempo, apesar dos perigos; da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta; pra sobreviver, pra sobreviver”. Ideli sobreviveu graças à Comissão de Ética da Presidência – devidamente enquadrada por Dilma depois de dinamitar o companheiro Lupi –, que arquivou o caso das lanchas.

Nada como desenterrar as verdades certas e enterrar as erradas. Pra frente, Brasil!

Laranjas, tchutchucas e tigrões - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Já temos o hino funk da CPI do Cachoeira e da Delta (alguém ainda se lembra do Demóstenes?).

Tchutchuca treme o bumbum/treme treme treme/treme o bumbum/dando uma reboladinha/e vai descendo/com o dedinho na boquinha/agora sobe com a mão na cinturinha/levante o pé dê uma rodadinha. Letra e música são do Bonde do Tigrão.

Foi o deputado tucano Fernando Francischini, do Paraná, que levou tchutchucas e tigrões ao palco do circo, na quinta-feira passada. Ele provocou o relator da CPI, Odair Cunha, do PT. Disse que os petistas são “tchutchucas” quando falam do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e se transformam em “tigrões” quando atacam a Delta e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Nenhum dos acusados na CPI treme a voz ou o olhar. Os réus estão todos com o dedo na boquinha. São múmias sem nada a declarar. Estão certos. Por que abdicar do direito constitucional de ficar calados, diante de congressistas que não brigam pela verdade mas se engalfinham por seus partidos? No máximo, os acusados dão um sorrisinho para as câmeras e botam a mão na cinturinha.

Ninguém quer pegar os seus ou os nossos. Só os adversários. A senadora Kátia Abreu (PSD), diante de um Cachoeira mudo após duas horas e meia de interrogatório, traduziu o sentimento da nação: “Senhores, estamos aqui fazendo papel de bobos”. O bicheiro, defendido pelo ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, só surpreendeu pelos cabelos grisalhos, que não podem ter embranquecido em apenas três meses de prisão. O resto foi previsível: “Ele pode não falar nunca”, disse Thomaz Bastos. Pode mesmo. Mas Cachoeira ameaça: “Tenho muito a dizer”.

Se somos bobos, o que dizer das faxineiras e do ajudante de caminhoneiro usados no Rio de Janeiro como laranjas da Delta Construções e de Cachoeira? Aparecem como sócios de firmas que sacaram meio milhão de reais de empresas fantasmas. Encontrados pelo jornal O Globo, os laranjas não acompanham escândalos nem funk, mas acham que tudo vai acabar em pizza. Uma das faxineiras está sem emprego há um ano e mora com mãe e quatro filhos num casebre alugado por R$ 150 mensais.

A quem apelar, se o presidente da CPI do Cachoeira, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), usa dinheiro público para comprar reportagens em rádios e sites de seu Estado? Rêgo repassou R$ 41 mil a três jornalistas (e os jornalistas, não se envergonham de defender políticos em reportagens pagas disfarçadas?). O presidente da CPI emprega uma funcionária fantasma em seu gabinete, Maria Eduarda Lucena dos Santos, que se diz coautora do hit “Ai se eu te pego”, cantado por Michel Teló. Rêgo prometeu “abrir uma sindicância” para saber se a moça está entre seus 54 funcionários (pagos por nós, eleitores). É o samba do Senado doido.

Quem deve estar certa é a Câmara, que, numa votação relâmpago e de surpresa – fora da pauta do dia –, aprovou, com apoio de todos os partidos, as candidaturas dos “contas sujas”. É um desafio ao Tribunal Superior Eleitoral: em março, o TSE definiu que só políticos com contas eleitorais aprovadas poderiam se candidatar neste ano. O ministro Marco Aurélio Mello, do TSE, reagiu: “É o faz de conta. Será que é razoável dar a quitação eleitoral mesmo diante da rejeição das contas?” A Câmara aproveitou o ruído da CPI do Cachoeira para decidir, em causa própria, que “não se pode mudar a regra no meio do jogo”.

Difícil moralizar se estamos sempre no meio do jogo. Em que momento será possível traçar uma linha de conduta que revogue as práticas anteriores nos Três Poderes? O bicheiro Cachoeira era, até outro dia, uma das figuras mais influentes de nossa República, a julgar por seus amigos. A Delta era a empreiteira favorita do PAC, com R$ 3,6 bilhões de contratos federais. O presidente da Delta, Fernando Cavendish, empregava 30 mil pessoas e era o preferido de vários governadores, entre eles o casal Garotinho e Sérgio Cabral. O senador Demóstenes Torres era o tigrão da ética.

Hoje sem partido, Demóstenes tenta não cair do bonde. Conta com o voto secreto dos colegas do Senado para não ser cassado. Estima-se que ele já tenha 30 votos a seu favor. A cassação de um mandato exige voto de 41 dos 81 senadores. Há quase dois meses, escrevi nesta coluna: “Demóstenes sabe que será perdoado”. Pode ser que não. Pode ser que ele seja mesmo cassado. Mas, sem voto aberto, sem o livre acesso do eleitor à consciência de cada senador, é menos provável. Demóstenes se escora no corporativismo e no rabo preso de tchutchucas e tigrões.

Vem tchutchuca linda/Vem, aqui com o seu Tigrão/Vou te jogar na cama/E te dar muita pressão/Sente a pressão.

Vamos decorar o refrão do hino funk da CPI. Cachoeira é pop.

A doença holandesa e a punição do sucesso - MAÍLSON DA NÓBREGA




REVISTA VEJA



Tem-se afirmado que o Brasil pegou a doença holandesa, ou seja, o efeito de descobertas ou aumento de preços de recursos naturais, que valorizam a taxa de câmbio e por isso acarretam desindustrialização. A ideia foi criada pela revista The Economist em 1977, inspirada no surgimento das reservas de gás da Holanda. Pesquisas acadêmicas comprovaram que ocorre a valorização cambial, mas não ficou claro se tal doença causa desindustrialização ou redução do crescimento econômico.

Na Holanda, o boom da exportação de gás valorizou a taxa de câmbio. Ao mesmo tempo, a indústria têxtil e de vestuário praticamente desapareceu e a produção de veículos e navios diminuiu. Foi daí que veio a doença holandesa. Mas, segundo José Alexandre Scheinkamn, “o desempenho da indústria holandesa nas décadas de 70 e 80 não foi muito diferente daquele da Alemanha ou da França, parceiros comerciais que compartilhavam muitas das outras características da Holanda, mas que não beneficiaram de descobertas de recursos naturais”.

No Brasil, diz-se que a valorização cambial decorrente da expansão das exportações de commodities evidenciaria a tese da doença holandesa e da desindustrialização. Nada disso tem comprovação. Em sua tese de doutoramento em economia pela USP (2009), Cristiano Ricardo Siqueira de Souza mostrou que a indústria cresceu 38,8% entre 1999 e 2008, apesar da valorização cambial. Na maior parte do período, o emprego industrial cresceu mais do que o de serviços. “A observação de diversas variáveis ligadas ao crescimento de produção, emprego, produtividade e salário não mostrou evidências claras de possíveis sintomas da doença holandesa no Brasil.”

Os ganhos no comércio exterior foram, de fato, uma das principais fontes de valorização cambial. Tais ganhos vieram da maior demanda da China e de outros mercados emergentes por commodities e da grande competitividade do Brasil, derivada dos avanços em tecnologia tropical e de extração e transporte de minérios, da estabilidade macroeconômica e da melhoria de gestão.

Hoje, produzir e exportar carne, frango, soja, celulose e outras commodities é atividade complexa, com elevado poder de irradiação para o restante da economia. Movimenta-se extensa cadeia de bens e serviços: máquinas e equipamentos, crédito, melhoramento genético, fertilizantes, rações, medicamentos, armazenagem, ferrovias, portos, rodovias e assim por diante.

Estudo recente do FMI indicou que booms de exportação que valorizam a taxa de câmbio não são necessariamente negativos. A valorização é uma consequência não intencional dos ganhos de comércio e da abundância de recursos externos, mas não se pode duvidar de seus resultados positivos. “O melhor seria aproveitar as vantagens do boom e simultaneamente lidar com suas indesejáveis consequências." Não há evidências, diz o FMI, de que a doença holandesa prejudique o crescimento. O estudo, que faz uma ampla resenha da literatura sobre o assunto, pode ser acessado na internet (http://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2010/wp10271.pdf).

O aumento das exportações de commodities reflete o sucesso do agronegócio e da mineração. A decorrente valorização cambial agrava a perda de competitividade da indústria, mas não é a causa principal dessa perda. Outros fatores relevantes são o péssimo sistema tributário, a deteriorada infraestrutura, o aumento dos custos trabalhistas da mão de obra e sua baixa qualificação, e os juros altos. Tudo isso neutraliza ou reduz os ganhos de competitividade derivados de avanços tecnológicas e de gestão nas empresas.

Seria necessário, assim, adotar medidas para aumentar a produtividade da economia, particularmente na indústria. A lista de reformas com tal objetivo é conhecida. O desequilíbrio provocado pelo êxito do agronegócio e da mineração seria revertido por ganhos de competitividade dos outros segmentos. O país galgaria um patamar mais alto de crescimento. A proposta dos que afirmam que pegamos a doença holandesa é tributar as exportações de commodities. O efeito da valorização cambial seria compensado pela punição do sucesso. O equilíbrio seria restabelecido pela redução do patamar. Pode?

Os bons companheiros - DEMÉTRIO MAGNOLI


REVISTA VEJA

De “caçador de marajás" Fernando Collor transfigurou-se em caçador de jornalistas, Na CPI do Cachoeira, seu alvo é Policarpo Jr., da revista VEJA, a quem acusa de associar-se ao contraventor "para obter informações e lhe prestar favores de toda ordem". Collor calunia, covardemente protegido pela cápsula da imunidade parlamentar. Os áudios das investigações policiais circulam entre políticos e jornalistas — e quase tudo se encontra na internet. Eles atestam que o jornalista não intercambiou favores com Cachoeira. A relação entre os dois era, exclusivamente, de jornalista e fonte — algo, aliás, registrado pelo delegado que conduziu as investigações.

Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações — verdadeiras ou falsas — com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos. Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações – verdadeiras ou falsas – com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos. O jornalismo não tem o direito de oferecer nada às fontes, exceto o sigilo, assegurado pela lei. Mas não tem também, o direito de sonegar ao público notícias relevantes, mesmo que sua divulgação seja do interesse circunstancial de uma facção criminosa.

Os áudios em circulação comprovam que Policarpo Jr. seguiu rigorosamente os critérios da ética jornalística. Informações vazadas por fontes diversas, até mesmo pela quadrilha de Cachoeira, expuseram escândalos reais de corrupção na esfera federal. Dilma Rousseff demitiu ministros com base nessas notícias, atendendo ao interesse público. A revista em que trabalha o jornalista foi a primeira a publicar as notícias sobre a associação criminosa entre Demóstenes Torres e a quadrilha de Cachoeira — uma prova suplementar de que não havia conluio com a fonte. Quando Collor calunia Policarpo Jr., age sob o impulso da mola da vingança: duas décadas depois da renúncia desonrosa, pretende ferir a imprensa que revelou à sociedade a podridão de seu governo.

A vingança, porém, não é tudo. O senador almeja concluir sua reinvenção política inscrevendo-se no sistema de poder do lulopetismo. Na CPI, opera como porta-voz de José Dirceu, cujo blog difunde a calúnia contra o jornalista. Às vésperas do julgamento do caso do mensalão, o réu principal, definido pelo procurador-geral da República como “chefe da quadrilha, engaja-se na tentativa de desqualificar a imprensa — e, com ela, as informações que o incriminam.

O mensalão, porém, não é tudo. A sujeição da imprensa ao poder político entrou no radar de Lula justamente após a crise que abalou seu primeiro mandato. Franklin Martins foi alçado à chefia do Ministério das Comunicações para articular a criação de uma imprensa chapa-branca e, paralelamente, erguer o edifício do “controle social da mídia”. A sucessão, contudo, representou uma descontinuidade parcial, que se traduziu pelo afastamento de Martins e pela renúncia ao ensaio de cerceamento da imprensa. Dirceu não admitiu a derrota, persistindo numa campanha que encontra eco em correntes do PT e mobiliza jornalistas financiados por empresas estatais. Policarpo Jr. ocupa, no momento, o lugar de alvo casual da artilharia dirigida contra a liberdade de informar.

No jogo da calúnia, um papel instrumental é desempenhado pela revista Carta Capital. A publicado noticiou falsamente que Policarpo Jr. teria feito “200 ligações" telefônicas para Cachoeira. Em princípio, nada haveria de errado nisso, pois a ética nas relações de jornalistas com fontes não pode ser medida pela quantidade de contatos. Entretanto, por si mesmo, o número cumpria a função de arar o terreno da suspeita, preparando a etapa do plantio da acusação, a ser realizado pela palavra sem freios de Collor. Os áudios, entretanto, evidenciaram a magnitude da mentira; o jornalista trocou duas, não 200, ligações com sua fonte.

A revista não se circunscreveu à mentira factual. Um editorial, assinado por Mino Carta, classificou a suposta “parceria Cachoeira-Policarpo Jr.” como "bandidagem em comum". Editoriais de Mino Carta formam um capítulo sombrio do jornalismo brasileiro. Nos anos seguintes ao AI-5, o atual diretor de redação de Carta Capital ocupava o cargo de editor de VEJA, a publicação em que hoje trabalha o alvo de suas falsas denúncias. Os editoriais com a sua assinatura eram peças de louvação da ditadura militar e da guerra suja conduzida nos calabouços. Um deles, de 4 de fevereiro de 1970, consagrava-se ao elogio da “eficiência" da Operação Bandeirante (Oban) braço paramilitar do aparelho de inteligência e tortura do regime, cuja atuação “tranquilizava o povo”. O material documental está disponível no blog do jornalista Fábio Pannunzio (www.pannunzio.com.br), sob a rubrica “Quem foi quem na ditadura".

Na VEJA de então, sob a orientação de Carta, trabalhava o editor de economia Paulo Henrique Amorim. A cooperação entre os cortesãos do regime militar renovou-se, décadas depois, pela adesão de ambos ao lulismo. Hoje, Amorim faz de seu blog uma caixa de ressonância da calúnia de Carta dirigida a Policarpo Jr. O fato teria apenas relevância jurídica se o blog não fosse financiado por empresas estatais: nos últimos três anos, tais fontes públicas transferiram bem mais de 1 milhão de reais para a página eletrônica, distribuídos entre a Caixa Econômica Federal (R$ 833000), o Banco do Brasil ( R$ 147 000), os Correios (R$ 120000) e a Petrobras (que, violando a Lei da Transparência se recusa a prestar a informação).

Dilma não deu curso à estratégia de ataque à liberdade de imprensa organizada no segundo mandato de Lula. Mas, como se evidencia pelo patrocínio estatal da calúnia contra Policarpo Jr., a presidente não controla as rédeas de seu governo ao menos no que concerne aos interesses vitais de Dirceu. A trama dos bons companheiros revela a existência de um governo paralelo, que ninguém elegeu.

Sobre ternos, enigmas e erotismo - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


Os ternos, primeiro. Ninguém os ostenta tão finos, em toda a República, como o advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. Numa terra em que a regra é o guarda-roupa mambembe, e para a maioria o valor da roupa não vai além da comezinha função de cobrir a nudez, o ex-ministro é uma destacada exceção. Imagine-se um salão de Brasília, de São Paulo ou do Rio, em que os presentes estivessem com o rosto coberto. Só pelo impecável corte do terno, e ainda pelo colarinho, ou pelo rigoroso nó da gravata, seria fácil adivinhar: — “Ah. esse só pode ser o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos!”. O apuro no vestir tem sua correspondência nos modos do ex-ministro: cordial, articulado, fleumático.

Pois todo esse acervo de cuidado e elegância no momento mobiliza-se em favor do bicheiro Carlos Cachoeira. Fica bem, para Márcio Thomaz Bastos, atender tal cliente? Fica mal? Fica bem, para o país, ter um antigo ministro da Justiça sentado ao lado da figura central do maior escândalo do ano, a zelar, na CPI, para que o pupilo se mantivesse calado? Ficaria bem, para um ex-ministro da Justiça na Itália, ter um chefe mafioso como cliente? A justificativa-padrão é que todo réu tem direito a um advogado. Sem dúvida, mas este advogado? Resta a suspeita de malversação de terno, de colarinho, de nós na gravata, de bons modos, de sabença jurídica e mesmo, quem sabe, da dignidade da República.

O enigma, agora. Já que deputados e senadores não se mostram dispostos a debruçar-se sobre as falcatruas atribuídas a Carlos Cachoeira, poderiam inquiri-lo sobre sua infância, os sonhos de adolescente, os amores. A essas questões talvez ele respondesse, e isso ajudaria na decifração do enorme, crucial enigma que nos põe esse personagem: afinal, o que queria ele? Aonde queria chegar? Carlos Cachoeira, segundo o apurado até agora, herdou um ponto do bicho do pai, que por sua vez o tinha recebido do campeão do jogo do bicho carioca, o falecido Castor de Andrade.

Pois bem. A ambição de um bicheiro, normalmente, não vai além de comandar uma escola de samba. Carlos Cachoeira mirou mais alto. Duplicou os negócios ilegais com os legais. Estabeleceu-se na indústria farmacêutica e, ao que tudo indica, na empreita de obras públicas. Ao longo do caminho, embrenhou-se entre os políticos. O bicheiro tradicional também recruta políticos, mas não mais do que para proteger suas atividades de contraventor. Cachoeira queria mais. A rede de políticos a seu serviço sugere um aparato de infiltração nas estruturas do estado. As vantagens econômicas daí decorrentes são evidentes. As portas se abrem para negócios em que o estado é o grande comprador, como a indústria farmacêutica e a empreita.

Mas isso ainda não é tudo. Talvez até seja o de menos. As gravações da Polícia Federal indicam um gosto extremado por essa substância menos palpável, que é o poder. Cachoeira vinha bem nesse quesito. O governador de Goiás, num telefonema, chama-o de “liderança". O senador Demóstenes Torres, em muitos, trata-o de “professor”. Nas conversas, os políticos soam como empregados, ou como reverentes vassalos. Mas Cachoeira ainda não estava satisfeito. Numa das gravações, trata com um assessor da compra de um partido político. Há muitos à venda no país, e ele só não fechou negócio porque considerou o preço alto. Sobra a questão: por que quereria um partido político? Essa questão se desdobra em outra: aonde pretendia chegar? E esta em outra ainda: aonde chegaria, caso seu caminho não fosse cortado pelas investigações? Uma aposta razoável é que acabaria imperador do Brasil.

O erotismo, por fim. A mensagem do “não se preocupe, você é nosso e nós somos teu” enviada pelo ex-líder do governo Cândido Vaccarezza ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB, foi muito comentada por dois motivos. Primeiro, por desnudar o toma lá dá cá pelo qual um partido não deixará o outro em apuros, na CPI do Cachoeira, desde que o outro não deixe o um. Segundo, pelo claudicante português com que o deputado acabou largando o pobre “teu” ao desamparo de um singular. Faltou chamar atenção para a carga erótica da mensagem. Não é senão num estado em que se adivinham a entrega e o desejo que alguém se joga ao outro dizendo-o “nosso”, e declarando-se “teu”. Presidencialismo dito de coalizão é isso. Os casamentos que lhe são inerentes, para ser casamentos de verdade, só se abandonando ao regaço da sensualidade.

LANDIM X EIKE - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 30/05

A desembargadora Helda Lima Meirelles, da 3ª Câmara Cível do Rio, dará hoje o voto decisivo numa das brigas que envolvem o executivo Rodolfo Landim e seu ex-patrão Eike Batista.

Trata-se de um recurso de Eike contra a decisão do juiz Luiz Roberto Ayoub, da 1ª Vara Empresarial do Rio, que autorizou Landim a vender 5.540.900 ações da OGX, avaliadas em uns US$ 50 milhões, recebidas como bônus de pagamento.

SEGUE...
O julgamento começou dia 2 de maio e foi suspenso por um pedido de vista de Helda.

O placar está um a um, pois são três desembargadores.

PARECE EXAGERO. E É
Ontem, por volta de 15h, Ronaldo Fenômeno foi visitar as obras de seu apartamento na Avenida Delfim Moreira, no Leblon.

Estava escoltado por três carros oficiais e oito batedores armados até os dentes. Tudo porque é do Comitê Local da Copa.

ALIÁS...
Ronaldo, ontem à tarde, foi visitar João Havelange, que está em casa, em Ipanema, desde que saiu do hospital.

ALÔ, É O MÁRCIO?
O ex-ministro Márcio Fortes, presidente da Autoridade Pública Olímpica, trocou seu celular para 7300-2016. É homenagem ao Rio, pelos Jogos de 2016.

– Confiança até no número do telefone – brinca Fortes.

CACHORRO VERDE
O governo Dilma, com a Rio+20, pretende estabelecer um novo paradigma de acessibilidade em grandes eventos.

No Riocentro, além de impressoras em braile, haverá, acredite, até assentos com lugar para... cães-guia.

CLUBE DOS 70
Gilberto Gil, que faz 70 anos dia 26, terá sua a trajetória registrada pelo projeto Depoimento Para a Posteridade, do MIS, dia 6.

Em julho, será a vez de Paulinho da Viola, que chegará a sete décadas de vida em novembro.

ROCINHA NA FLIP
O americano Richard Sennett não vai à Flip. Será substituído pelo indiano Suketu Mehta, autor de Bombaim: Cidade Máxima (Companhia das Letras).

Em 2011, Mehta ficou dias na Rocinha para escrever a apresentação do livro do canadense Robert Polidori sobre a favela. Sairá pelo Instituto Moreira Salles.

FAZ SENTIDO
Do nosso Zeca Pagodinho, às voltas com taxas altas no sangue, para Arlindo Cruz, ao responder se tem problemas com açúcar:

– Eu não! Adoro açúcar! Ele é que tem problema comigo...

QUARTEL DA DISCÓRDIA
Graça Foster acompanha o debate sobre a venda à Petrobras do quartel da PM do Rio na Rua Evaristo da Veiga:

– Para nós, é ótimo. Fica aqui ao lado. Temos gente trabalhando longe da sede. Mas a última coisa que quero é magoar a comunidade. Se contrariar a população, serei a primeira a desistir.

PONTE BETINHO
Wadih Damous, presidente da OAB-RJ, terá audiência hoje, às 15h, em Brasília, com o presidente da Câmara, Marco Maia. Pedirá apoio ao projeto que troca o nome da Ponte Rio-Niterói de Presidente Costa e Silva para Betinho.

CORREDOR DO FÓRUM
A 38ª Vara Cível do Rio condenou uma obstetra a indenizar em R$ 31 mil uma paciente que teria sido vítima de erro médico.

É que, numa cesariana, o abdômen da paciente, embebido em álcool, pegou fogo ao ter contato com o bisturi elétrico.

Um político em apuros - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 30/05


Suplente da CPI dos Bingos, da qual Cachoeira saiu com o pedido de indiciamento, Demóstenes não tinha como ficar alheio aos negócios do amigo. Se ficou, é sinal de que não fez o próprio serviço direito

Quem assistiu ao pronunciamento de mais de duas horas do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e não ficou ligado nas perguntas dos colegas dele pode ter ficado com a sensação de que ele é realmente um inocente perante seus pares. Isso porque, em várias oportunidades, o senador goiano disse desconhecer que Carlos Cachoeira era um contraventor. Mas bastou o contraditório muito bem posto pelo relator, Humberto Costa (PT-PE), e por outros colegas para que até mesmo o telespectador recém-chegado voltasse a ter dúvidas sobre o comportamento de Demóstenes.

A versão de que Demóstenes não sabia dos negócios de Cachoeira pode servir na Justiça comum, mas não num plenário político. Até porque, como suplente da CPI dos Bingos, da qual Cachoeira saiu com o pedido de indiciamento aprovado pelo plenário, Demóstenes não tinha como ficar alheio aos negócios do amigo. Se o senador só soube agora, quando as operações Vegas e Monte Carlo vieram a público, é sinal de que não fez o próprio serviço direito. E saber do que seria votado era parte do seu trabalho naquele momento. Ainda mais em se tratando de alguém tão zeloso como Demóstenes. Por isso, a pergunta tão bem colocada pelo senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) causou um certo desconforto ao senador goiano.

Fora isso, nada justifica o fato de um senador da República precisar de um Nextel habilitado nos Estados Unidos para conversar com um amigo. O Senado supre não só os gastos dos senadores com aparelhos celulares, como também outras despesas. Ou seja, um senador não precisa e não deve ter aparelho cedido por terceiros, ainda mais de quem saiu indiciado de uma CPI da qual ele era suplente, ou seja, investigador, que deveria estar tão bem preparado quanto os demais.

Por falar em investigador…
Chama a atenção ainda o comportamento do senador Fernando Collor (PTB-AL), especialmente a forma como ele aproveitou a presença de Demóstenes no Conselho de Ética do Senado para tentar colocar na roda o Ministério Público. A dobradinha que os dois fizeram ali foi o ponto alto das mensagens subliminares do depoimento. Ambos têm raiva do Ministério Público. No caso de Collor, vai mais além. Indica que ele, até hoje, passados 20 anos do impeachment, não perdoa quem o fez viver aquele momento tão degradante na vida de um político. E não é de agora. No ano passado, Collor, numa determinada ocasião, olhava com ódio para o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que integrou a CPI que deflagrou o processo de impeachment.

Talvez apenas um psicólogo, acompanhando os pronunciamentos do ex-presidente na CPI e revendo o vídeo da sessão do Senado em que ele destratou Simon, possa decifrar por que Collor não se dedica a se lembrar das coisas boas que seu governo fez — como chamar a atenção para a necessidade de modernização do parque industrial brasileiro. Collor vive para uma vingança que só faz com que as pessoas relembrem das coisas ruins que ele mesmo não consegue deixar no passado.

Por falar em passado…
Os jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros lançam hoje à noite, em Brasília, na livraria Dom Quixote, no Centro Cultural Banco do Brasil, o livro Memórias de uma guerra suja. A publicação traz o relato do ex-agente secreto do Dops Cláudio Guerra sobre a morte de desaparecidos políticos e cemitérios clandestinos espalhados pelo país. No livro, Guerra conta inclusive que levou vários corpos para serem incinerados no forno de uma usina de açúcar no Rio de Janeiro. Ele lembra como assassinou, por exemplo, o ex-líder do PCB Nestor Veras.

O livro já causou polêmica, em meio a versões que tentam desqualificar o matador e outras que dão total crédito, uma vez que se trata de um senhor de 72 anos que virou pastor evangélico. Guerra certamente será um dos depoentes da Comissão da Verdade. Ontem, ele prestou depoimento a promotores. Mas, como bem lembrou um leitor dia desses, à Comissão da Verdade cabe investigar também o assassinato de militares em atos cometidos por guerrilheiros. Afinal, o país tem o direito à verdade, seja do passado, seja do presente, entre Demóstenes, Cachoeira e quem mais chegar.

Complexo de imperador! - TUTTY VASQUES


O ESTADÃO - 30/05

Só se fala disso na vizinhança daquele condomínio da Aclimação que ficou famoso em todo o País por causa do Zeca, cão dócil e brincalhão com pedigree staffordshire bull terrier levado por bandidos na semana passada em arrastão na zona sul de São Paulo:
De volta ao lar após 6 dias desaparecido, o bichão teria dado sinais evidentes de que está sentindo saudades da favela onde foi resgatado quando passeava na companhia de crianças, pés e patas no chão de terra, pulando de laje em laje, sem coleira ou destino certo.
O suposto abatimento de Zeca se espalhou pelo bairro depois que alguém na padaria da esquina reparou que o cachorro do personal trainer assaltado não abana mais o rabo como antes.
A tese de que o animal poderia estar passando por um problema parecido com o de Adriano foi ganhando força no boca a boca dos porteiros.
"O Imperador ficou igualzinho ao Zeca quando voltou do Flamengo para a Itália!" - comenta-se nas calçadas.
Ninguém tem, evidentemente, nada a ver com isso, mas é bom o feliz proprietário do cachorro prestar atenção: se ele começar a engordar e a aprontar com as cachorras da área, já viu, né? Não tem volta: é da raça!

Trem AzulO mundo está mesmo mudado: nos anos 1960/70, esse negócio de fusão da Azul com a Trip soaria como viagem de ácido lisérgico!

EsclarecimentoEsse Lombardi que aparece no noticiário como porta-voz do papa na Santa Sé não é aquele do Silvio Santos, ok? E não se fala mais nisso!

Esplanada dos mistériosMal comparando, o encontro de Lula com Gilmar Mendes lembra um pouco a suposta conversa de Dilma Rousseff com a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira em fins de 2008, lembra? Jamais saberemos ao certo o que de fato aconteceu num e noutro episódios!

Ah, bom!O povo vai, aos poucos, entendendo o que está acontecendo em Brasília! O mais provável, como se sabe, é que todos estejam mentindo!

Mole, mole!Rubinho Barrichello descobriu na Fórmula Indy que não precisa vencer para ganhar: o 11.º lugar nas 500 Milhas de Indianápolis lhe rendeu o troféu de Melhor Novato na pista. Esse rapaz é mesmo abençoado!

Sem noçãoPosar de vítima do "maior massacre da história" no país de Carandiru e Eldorado dos Carajás, francamente, o Demóstenes perdeu inteiramente a noção das coisas.

Eu, hein!Que diabos o rei Juan Carlos vem caçar no Brasil na semana que vem?

AzaradoDemóstenes Torres disse no Conselho de Ética do Senado que "jogava verde" em conversas telefônicas com Carlos Cachoeira. Perdeu, ao que tudo indica, todas para o bicheiro!

Mal comparandoSe fosse explicar toda viagem que faz a Berlim, francamente, Gerald Thomas estaria muito mais enrolado do que o ministro Gilmar Mendes.

A união faz a força - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 30/05

A presidente Dilma articula reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na véspera da reunião do G-20 no México (18/6). O Brasil quer que os Brics adotem posição comum sobre a ajuda aos países europeus em crise. A ideia é condicionar a liberação de recursos para ajudar os europeus à implementação da reforma, já aprovada, do FMI. O Brasil quer adquirir mais cotas do Fundo e ter maior poder de decisão.

Em rota de colisão
O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), está irritado com a presidente Dilma. Ele pediu flexibilização no prazo do regime automotivo diferenciado porque duas montadoras estão negociando se instalarem no Ceará (a GM e uma fábrica chinesa de caminhões). Cid não aderiu ao sistema no ano passado, conforme prevê a lei, mas alega que na época não tinha conversas concretas com as montadoras. Mas o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) não quer abrir uma janela, alegando seguir orientação da presidente. Agora, Cid ameaça romper se não for encontrado um caminho para que o Ceará possa oferecer vantagens como fizeram recentemente a Bahia e Pernambuco.

"Imagina o que acontececeria nos Estados Unidos se um ministro da Suprema Corte fosse a um escritório de advocacia de Wall Street? O mundo caia” — Miro Teixeira, deputado federal (PDT-RJ)

TRANSPARÊNCIA. Com o objetivo de assegurar o direito de prestar contas de seus atos para os eleitores, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) entra hoje com mandado de segurança no STF, com pedido liminar, para que ele possa votar abertamente no eventual processo de cassação do senador Demóstenes Torres (GO), quando ele for submetido ao plenário do Senado. Na lei atual, o voto é aberto no Conselho de Ética e secreto no plenário.

Sinal vermelho
A proposta de descriminalização das drogas feita pela Comissão de Juristas ao novo Código Penal não tem a mínima chance de passar na Câmara. As bancadas católica, evangélica e da saúde estão articuladas para evitar a aprovação.

Tchuchucas e tigrões
O PT e o PSDB estão se armando para analisar os dados da quebra de sigilo bancário da Delta. Os tucanos vão fazer um pente fino nos contratos com o governo federal. Os petistas vão com lupa nos contratos com governos tucanos.

Eduardo Campos apresenta nova fatura
Numa conversa ontem, em São Paulo, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) apresentou nova condição para os socialistas apoiarem a candidatura de Fernando Haddad (PT) à prefeitura de São Paulo. Ele quer que os petistas retirem a candidatura do presidente do IPEA, Márcio Pochmann, à prefeitura de Campinas e passem a apoiar a do deputado Jonas Donizette (PSB). A candidatura Haddad a cada dia custa mais caro.

Quem é ele?
O senador Roger Pinto Molina, que pediu asilo ao Brasil, quer fugir de 20 processos que responde na Justiça da Bolívia. Ele também é suspeito de envolvimento no Massacre de El Provenir (2008), quando foram mortos 19 indígenas.

Super eleitores
O ex-presidente Lula se uniu ao governador Eduardo Campos (PSB-PE) para suspender as prévias do PT para escolher o candidato à prefeitura de Recife. Os dois elegeram como melhor candidato o senador Humberto Costa (PT-PE).

O SENADOR Luiz Henrique (PMDB-SC) é o preferido do Planalto para ocupar a relatoria da Medida Provisória que complementa o novo Código Florestal.

O GOVERNO está recuando da tentativa de dar crédito novo aos produtores rurais do Nordeste que são alvo de execução judicial pelo Banco do Nordeste. A dívida do setor, devido à seca, é de R$ 1 bilhão. A anistia pegou mal junto aos bons pagadores.

NUNCA ANTES na história deste país um funcionário do Palácio do Planalto foi demitido por assédio sexual. Aconteceu na gestão da presidente Dilma.

O importante é ter charme - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 30/05


Amanhã é o Dia Mundial sem Tabaco, data impensável nos anos 70, quando fumar ainda era uma atitude de classe. Não por acaso, uma das marcas mais vendidas chamava-se Charm, que contava com garotas-propaganda do quilate de Danuza Leão, Adalgisa Colombo e Ilka Soares, todas mulheres de personalidade, reconhecidas por sua beleza e sofisticação. Mesmo quem não fumava tinha vontade.

Em 20 anos, todo esse glamour virou fumaça. Acender um cigarro passou a ser uma atitude deselegante, que não agrega nada de positivo à imagem daquele que dá suas baforadas. Outro dia, estava dentro do meu carro, esperando o sinal abrir, quando uma senhora chique, com os cabelos brancos bem cortados, de porte monárquico, começou a atravessar pela faixa.

Minha admiração murchou quando reparei que a rainha estava dando suas últimas e aflitivas tragadas antes de entrar em um shopping. Fumar caminhando na rua já é feio, e pra completar, a madame jogou a bituca no chão. Muita gente já não joga lixo no chão (amém), mas parece que a regra não vale para o cigarro. Largam em qualquer lugar, pisam em cima e vão em frente.

A propaganda tabagista saiu do ar, e o charme também – não o cigarro, mas o atributo. Ninguém mais acha importante ter charme.

Não jogar lixo na rua é uma questão de educação, sei disso, mas ser educado também é uma atitude charmosa. Ainda mais nos dias atuais, em que a grosseria impera, as pessoas são folgadas, os gestos são espalhafatosos, o tom de voz é alto, a megalomania é indisfarçada, a falta de cerimônia é geral.

Não há mais espaço para a sutileza, para o pedido de licença, para as atitudes suaves, para a discrição. Adeus à vida em slow, a uma presença insinuada e sensual. Agora tudo acontece sob os holofotes, é escancarado, gritado, a atenção é requerida à força.

A distorção de valores chegou a tal ponto, que pessoas discretas são consideradas arrogantes, os modestos são vistos como dissimulados e os que não se rendem a modismos são tachados de esnobes. Ser autêntico – requisito número 1 para se ter charme – virou ofensa. Ou a criatura faz parte do rebanho, ou é um metido a besta.

A cena clássica da mulher fatal segurando uma piteira e a do homem viril com o toco de cigarro no canto da boca ainda povoam o imaginário dos nostálgicos, mas o importante é ter charme, hoje, sem precisar de acessórios.

O modo de mexer no cabelo, uma fala pausada, um olhar direto, um sorriso espontâneo, a segurança de não precisar se valer de estereótipos para agradar – charme. Bom gosto nas escolhas, saber a hora de sair de cena, fazer as coisas do seu jeito – charme.

Estar confortável no corpo que habita, ter as próprias opiniões, alimentar sua inteligência com livros e pessoas interessantes – charme. Não se mumificar, não ser tão inflexível, não virar uma caricatura de si mesmo – charme. Que o mantenhamos, sem precisar voltar a fumar.

De Maceió ao Cairo - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 30/05


Acabo de chegar de Maceió, onde falei sobre "rituais de passagem" na décima edição do Pajuçara Management. Discorri sobre um assunto anormal num encontro de empresários. Falei de coisas velhas para pessoas dedicadas ao novo. Rituais e símbolos, porém são os 2% dos tais 2% que nos distinguem dos macacos.

Fiz novos amigos e viajei no tempo, porque quando menino de 8 anos, em plenos anos 40, morei em Rio Largo e, depois, em Maceió numa casa que minha saudosa mãe chamava de "castelinho", localizada na Ponta da Terra. Com um mapa, Sergio Moreira, meu generoso anfitrião em Alagoas, mostrou como esse bairro hoje faz parte de uma ampla malha urbana. Um conjunto litorâneo que, graças à hospitalidade de Bruno Cavalcanti e Rachel Rocha Barros, nós vivenciamos visitando seus sítios mais interessantes e recebendo vastas doses de história e sociologia do Nordeste - esse berço de Brasil.

Acompanhava tudo isso um menino chamado Roberto que, de quando em vez, surgia para relembrar o sabor do sururu comido pela primeira vez em 1942 e confirmado nestes 2012 por um homem de espaçosas 75 primaveras. O mesmo ocorreu naqueles segundos que antecedem a formalidade da palestra. Pois foi num camarim muito confortável que me veio à memória a moeda reluzente de um cruzeiro, a nova unidade monetária nacional criada em 1942, a qual usei de imediato para comprar um "quebra-queixo" ou uma tapioca na praia sem calçadão e automóveis, localizada perto de nossa casa.

Os hospedeiros generosos falavam dos primeiros anos da República dominada pelo nepotismo alagoano então (?) normal dos Fonsecas - o marechal Hermes era sobrinho do igualmente marechal Deodoro -, ambos alagoanos; e, dentro de mim, surgia nítida, como as águas da Praia do Francês, a imagem de uma superfortaleza voadora americana B-25, sobrevoando a antiga Maceió, provavelmente indo de Caravelas para Natal, onde os americanos tinham bases navais e aéreas que foram instrumentais para a conquista do Norte da África e, em seguida, para a invasão da Sicília pelo seu 4.º Exército. Ao lado disso, surgiam figuras de marinheiros e soldados americanos risinhos, distribuindo chocolates para os meninos e cigarros Chesterfield para os adultos, que admiravam a sua qualidade e o azul inefável de sua fumaça. E seguia a caixa de Pandora das minhas recordações, trazendo intacto o momento em que esse mesmo pai, Renato, me deu uma primeira Coca-Cola, com as seguintes palavras: "Prove esta bebida inventada pelos americanos!" Provei e senti o gosto imprevisto na boca do menino habituado aos refrescos caseiros de graviola e cajá.

Essa Maceió de gostos imprevisíveis era bem diferente da cidade previsível que eu percorria. E novamente o menino se retornava lembrando os comentários de meu pai ao retornar de uma tarde dançante tocada a big band num clube de oficiais da Marinha americana: "É incrível - diz meu pai que foi um baiano ciumento mesclado do horror a ser traído pela mulher, esse terror aprendido numa Manaus, onde todos os homens andavam armados - como esses americanos deixam suas mulheres dançar com outros homens..."

Durante anos, essa frase rondou minha vida, tendo sido decisiva na construção de minha masculinidade. Mas minha mãe Lulita, uma exímia pianista, proibida de dançar com outros homens, vingava-se tocando no seu piano uma bela música americana, cujo nome intrigava o casal. Era a canção Tangerine (de 1941), que falava de uma mulher pela qual todos se apaixonavam, mas ela somente flertava a si mesma. Meus pais achavam graça que uma música tivesse o nome de uma fruta. Coisas de americanos...

Tempos em que ainda havia ciúme. Tempos em que tudo era grande e o mundo imenso.

* * * *

Voltando ao hotel, li na Folha de S. Paulo uma crônica absolutamente clássica - a tal crônica que vale um jornal - do Cony, intitulada Omelete de Ovos de Camelo, na qual ele conta suas andanças pelo Cairo, Egito. No país das pirâmides, do generoso Nilo e do deserto inclemente lhe oferecem um exótico omelete de ovos de camelo. Eu também fui ao Cairo e testemunhei o efeito devastador do chá de menta num dos meus companheiros de conferência.

Não fiz, como o Cony, o exercício inútil de inutilmente entrar na barriga da pirâmide. Fui mais estupido: comprei uma pedra do túmulo faraônico feito de pedras! E num gesto de improfícuo, andei e fiz questão de ser fotografado montado num camelo. Não me ofereceram nenhum desconfiável omelete de ovos de camelo mas, diante dessa infame CPI do Cachoeira com seus mil e um laranjas, não tenho dúvida de que faz algum tempo que estamos todos comendo esses suspeitíssimos omeletes de ovos de camelo aqui, no Brasil.

Viva voz - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 30/05


Sem alarde, a CPI do Cachoeira requisitou ontem à Polícia Federal as transcrições de todos os diálogos envolvendo personagens com foro privilegiado captados nas operações Vegas e Monte Carlo. A iniciativa, subscrita pelos deputados Cândido Vaccarezza e Paulo Teixeira, é interpretada por integrantes da comissão como uma investida do PT para constranger Gilmar Mendes.

Em resposta às declarações do ministro do STF, que revelou pedido de Lula para adiar o julgamento do mensalão, petistas o elegeram como novo alvo das investigações. Fazem circular que o aumento do tom de sua reação contra o ex-presidente seria uma "vacina".

Em vão Apesar da força-tarefa, informações preliminares que chegam à CPI indicam que, até agora, não há nada que implique Mendes.

Faca no pescoço Integrantes do governo sustentam que o voluntarismo de Lula com o ministro do Supremo acabou virando um tiro no pé. "Quem vai ter coragem de segurar o processo agora?'', questiona um interlocutor do Planalto.

Não, obrigado Ricardo Lewandowski recusou a proposta do presidente do STF, Carlos Ayres Britto, que havia oferecido mais quatro juízes auxiliares para que ele concluísse o quanto antes a revisão do voto do mensalão.

Nome... No material encaminhado pelo Coaf à CPI, foram identificados R$ 144,67 milhões em movimentações consideradas "atípicas" pelo órgão, realizadas por 26 pessoas físicas e sete jurídicas.

... aos bois Nas contas do ex-diretor da Delta Claudio Abreu foram detectados investimentos em seguros e previdência, desde 2008, que somam mais de R$ 4 milhões.

Boca do caixa André Teixeira Jorge, que foi motorista da construtora, aparece nos dados rastreados como um dos principais sacadores de Abreu, tendo retirado de contas bancárias cifra próxima de R$ 600 mil.

Técnico Pré-candidato em Campinas, Marcio Pochmann deve ser substituído no comando do Ipea por José Luis Oreiro, da Universidade de Brasília. Caso confirmada, a indicação será uma derrota do ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos).

Que fase! O QG de Fernando Haddad não se conforma com o timing do caso Lula-Gilmar. O encontro municipal do PT, sábado, foi concebido como marco do ingresso do ex-presidente na campanha paulistana. Agora, sabem que ele eclipsará o ex-ministro da Educação com suas explicações.

Esplanada Petistas também esperam atrair os ministros Guido Mantega (Fazenda), Alexandre Padilha (Saúde) e Miriam Belchior (Planejamento) ao evento.

Offline Haddad resiste ao uso regular do Twitter. Dono de perfil com 14 postagens, a última em 27 de março, é aconselhado por assessores a aumentar sua interação com seguidores. O pré-candidato diz que, por ora, prefere usar o celular só para acessar notícias e e-mails.

Vão indo... O ex-governador Paulo Hartung (PMDB-ES) divulgou carta anunciando sua desistência da disputa pela Prefeitura de Vitória. Com isso, o grupo que apoiou seu governo tende a se dividir em três pré-candidaturas.

... que eu não vou O tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas aparecia em segundo lugar em pesquisa divulgada em abril pelo Instituto Futura, com 14,2%. Os outros dois nomes no páreo são Luciano Rezende (PPS) e a ex-ministra Iriny Lopes (PT).

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"A conduta de Demóstenes é própria de quem já foi condenado e, quando estiver na cadeia, não precisará dar mais satisfações para a população."

DO LÍDER DO PT NA CÂMARA, JILMAR TATTO (SP), sobre as respostas do senador, ontem, ao Conselho de Ética da Casa, que chamaram atenção dos colegas pelo tom irônico ante as gravações que o ligam a Carlinhos Cachoeira.

contraponto

Agenda póstuma

Após receber visita do ministro Brizola Neto (Trabalho) em seu gabinete, anteontem, o presidente da OAB-RJ, Wadih Damous, foi parabenizado por um colega, que fez confusão com o sobrenome, achando se tratar do ex-governador Leonel, morto em 2004:

-Que prestígio! Soube que Brizola esteve na sua sala!

O dirigente da entidade respondeu:

-Quem esteve comigo foi o neto, não o avô. O Brizola eu só irei encontrar futuramente. E espero que esse encontro ainda demore bastante para acontecer.

Contradição em termos - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 30/05


Em seu depoimento ao Conselho de Ética do Senado, durante cinco horas o senador Demóstenes Torres transitou entre dois papéis.

Ora mostrava profundo conhecimento do mundo e suas circunstâncias, exibindo credenciais de larga experiência nas áreas jurídica, política e administrativa, ora se apresentava como um néscio enganado durante 13 anos por um amigo íntimo, incapaz de se aperceber da impropriedade do uso de telefone, despesas de festas e viagens em aviões pagos por terceiros.

Como a figura do simplório não se coaduna com a atuação de ex-procurador-geral de Goiás, ex-secretário de Segurança Pública do mesmo Estado e senador sempre alerta para assuntos de desvios éticos e corrupção, a versão que apresentou sobre suas relações com Carlos Augusto Ramos (Cachoeira) revelou-se inverossímil.

Demóstenes Torres disse ao conselho que conheceu o hoje presidiário em 1999, mas só veio saber de suas atividades ilegais em 29 de fevereiro de 2012 quando Carlos Cachoeira foi preso, acusado de chefiar uma organização criminosa envolvida em jogatina ilegal, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, espionagem e corrupção.

Buscou confundir a cena recorrendo a uma frase de efeito - "quero ser julgado pelo que fiz não pelo que falei", como se a fala não traduzisse no mínimo a intenção do gesto - e ao argumento de que é vítima de um conluio entre o Ministério Público e a Polícia Federal, "para pegar um parlamentar e instituir um estado policialesco no Brasil".

Além de surrada, a alegação conspiratória, de largo uso entre alvos da cruzada ética em que o senador sustentou sua carreira, soa delirante diante do fato essencial.

E este é a natureza de suas relações com Carlos Cachoeira. O senador saiu do Conselho de Ética com elas mais complicadas do que quando entrou.

A opção pela negativa de total desconhecimento sobre as atividades do acusado de chefiar uma organização criminosa acabou conferindo inverosimilhança à defesa do senador, justamente pela contradição existente entre a argúcia marcante em sua trajetória profissional e a ingenuidade extrema que buscou exibir ao se defender.

Com o quê, então, o rigoroso senador que no próprio dizer frequentava todas as rodas de poder, defendia os interesses "republicanos" (discernia-os, portanto) que fosse instado a defender, não percebeu que o amigo próximo ao ponto de pagar pelos fogos de artifício da festa de formatura da mulher era o mesmo flagrado pagando propina a Waldomiro Diniz e depois indiciado pela CPI dos Bingos?

Segundo ele, acreditou quando Cachoeira lhe assegurou ter-se afastado dos negócios ilegais. Então sabia das ilegalidades, mas o teve como redimido? Justiça seja feita ao senador Demóstenes, não foi o único alegadamente crédulo nessa questão.

O governador de Goiás, Marconi Perillo, bem como vários outros empresários e políticos compraram a palavra de Carlos Cachoeira pelo valor de face deixando ao encargo do passado os fatos que, como logo se viu, estiveram sempre presentes.

No trânsito entre os dois personagens incorporados no depoimento, o senador Demóstenes deixou ao mais sagaz deles o cuidado de não envolver colegas, embora tenha acentuado as relações do réu com "dezenas de parlamentares", numa evidente aposta na salvação pelo voto secreto do plenário.

Ilegal, e daí? Um trecho de telefonema entre Demóstenes Torres e Carlos Cachoeira publicado pelo Estado e citado no Conselho de Ética pelo relator Humberto Costa, diz bastante sobre doações legais e ilegais para campanhas eleitorais.

Demóstenes demonstra receio de que a construtora Delta tenha feito "doação oficial" para ele. Tranquiliza-se quando Cachoeira garante que não.

Ou seja, caixa 2 tudo bem. Recursos devidamente contabilizados já são complicados, pois podem vir a servir de prova ou indício em eventuais investigações sobre ilícitos envolvendo doador e receptor.

SALADA MISTA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 30/05

A produtora de Xuxa ganhou autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 8,3 milhões. O projeto, nomeado "Vida - Um Espetáculo Sustentável", consiste em quatro peças que vão ser também registradas como média-metragem, em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Porto Alegre. Na justificativa, a empresa diz que o pacote de espetáculos visa "uma maior contribuição para a formação da consciência ecológica de massa".

SALTO

E aumentou o número de pessoas que procuraram o hospital Pérola Byington, na Bela Vista, se dizendo vítimas de abuso sexual. Entre 20 e 27 de maio, 47 pessoas foram atendidas - 23% a mais do que na semana anterior. Do total, 28 casos envolviam menores de 12 anos.

VITRINE

Daniela Pedrosa, psicóloga do Núcleo de Violência Sexual do hospital, diz que é comum haver um aumento nas ocorrências após exposição midiática do tema -como o depoimento de Xuxa ao "Fantástico". Aconteceu em 2008, quando um pai de santo foi acusado de abuso contra garotos.

PAMPAS

O PC do B já jogou a toalha em relação à possibilidade de o PT gaúcho apoiar a candidatura da comunista Manuela D'Ávila à Prefeitura de Porto Alegre. Mas ainda pressiona os petistas para, em troca do apoio a Fernando Haddad em SP, se comprometerem a estar ao lado dela no segundo turno.

FUMAÇA

Sebastían Marroquín, filho do traficante Pablo Escobar e diretor do filme "Pecados do Meu Pai", participará de um debate com o cineasta Fernando Grostein Andrade ("Quebrando o Tabu") na Virada Sustentável, no Auditório Ibirapuera, no sábado.

MEU PEDIDO

Wagner Moura fez um único pedido à MTV para participar dos shows "Tributo a Legião Urbana": que o guitarrista Gabriel Carvalho, deSua Mãe, banda do ator, estivesse entre os músicos.

O MEU DESTINO É SER 'STAR'
Cláudia Abreu, a cantora Chayene da novela "Cheias de Charme" (Globo), é a capa de junho da revista "Glamour". A atriz posou como uma estrela de rock. "Acho um saco ter de comer bem. Adoraria ser 'veggie', mas não consigo, tenho paladar de criança", afirma.

CADÊ MINHA BOLSA?

Paula de Lima Azevedo, dona da loja de chocolates Sweet Brazil, teve sua bolsa Ferragamo furtada durante o coquetel de inauguração da Casa Cor, no domingo, no Jockey. Ela afirma que o acessório estava pendurado em sua cadeira. "Perdi chave e documento do carro, cartão de crédito, um relógio Boucheron, que deve custar uns R$ 8.000. A bolsa era nova, paguei R$ 3.500."

CADÊ MINHA BOLSA 2

"Aquilo lá parecia a [rua] 25 de março de tanta gente. Os eventos sociais em SP viraram 'watch your handbags' [cuidem das suas bolsas]. Eu que sempre boto o cartão de crédito no meio dos seios vou ter que começar a andar com cartucheira agora?", diz. A Casa Cor afirma, via assessoria, que lamenta o ocorrido e irá disponibiliza as imagens das câmeras de segurança para a polícia.

SILICONADAS

Alexandre Mendonça Munhoz, cirurgião plástico do hospital Sírio-Libanês, apresentará estudo da FDA (agência de vigilância sanitária dos EUA), sobre prótese mamária, na 32ª Jornada Paulista de Cirurgia Plástica, em SP, que começa hoje.

Munhoz aponta aumento na procura por implante de glúteos e, entre homens, de peitoral. "Mas ainda são cirurgias com resultados inusitados", afirma.

QUEM DÁ MAIS?

A joia da coroa no 5º leilão de vinhos que será realizado amanhã pela Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Paulo é uma garrafa do vinho Château Cheval Blanc Vintage, safra 1961, doada por um colecionador anônimo. Será o lance inicial mais alto da noite: R$ 8.000

NÃO É ÁGUA, NÃO

O sommelier Manoel Beato lançou anteontem o livro "Cachaça" no bar Baretto do Hotel Fasano, nos Jardins. O empresário Rogério Fasano e a mulher, Ana Joma, estavam na fila de autógrafos. O chef Alex Atala, que passou recentemente por uma cirurgia no ombro, também foi cumprimentar Beato.

PARABÉNS NA PISTA

O publicitário Celio Ashcar Jr. celebrou seu aniversário de 36 anos anteontem, na casa da banqueteira Maria Alice Solimene, na Vila Nova Conceição. A DJ Lara Gerin discotecou na festa, que teve a apresentadora Mariana Weickert entre os convidados.

CURTO-CIRCUITO

A banda Franz Ferdinand jantou no Paribar após o show no parque da Independência, no domingo.

Reinaldo Kherlakian faz show hoje, às 20h, no Palácio dos Bandeirantes.

Maíra Soares Ferreira lança hoje "A Rima na Escola, o Verso na História", às 19h, na Livraria Cortez.

A Tory Burch abre hoje loja no shopping Iguatemi.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

O papel da mídia - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 30/05


Nos últimos dias tive a oportunidade de falar sobre o papel da imprensa em situações diversas: ontem, na Academia Brasileira de Letras, encerrei o ciclo de palestras coordenado pelo acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco sob o tema geral de "Eleições e reflexões", falando sobre "os direitos e deveres" da mídia.
Na China, num debate promovido pela Academia da Latinidade com a Academia de Ciências Sociais de Xangai, analisei a relação da mídia com o Estado na América Latina.
Não há momento mais propício para discutir a imprensa, quando uma intensa luta política procura desacreditá-la no Brasil, como parte de um amplo movimento para tentar criar um ambiente favorável no Congresso à aprovação de uma legislação de controle social da mídia, como tentam radicais ligados ao governo petista desde que o partido chegou ao poder em 2002 com a eleição de Lula.
Lembrei que na América Latina enfrentamos um problema já superado na maioria dos países democráticos: a tentativa de restringir a liberdade de expressão. Espalha-se pela região um movimento de contenção da liberdade de imprensa em diversos países, como Venezuela, Argentina, Bolívia, Equador, onde televisões, rádios e jornais vão sendo fechados sob os mais variados pretextos, e muitos outros são ameaçados com diversas formas de pressão, sejam financeiras, sejam através de medidas judiciais.
Lembrei que no Brasil, uma democracia em processo de amadurecimento, somos uma exceção em um continente cada vez mais dominado por governos autoritários ou simples ditaduras.
Apesar disso, aqui também enfrentamos ameaças à liberdade de expressão. Depois de tentar criar diversos organismos, desde a Agência Nacional de Cinema e Audiovisual - que daria poderes ao governo de interferir na programação da televisão e direcionar o financiamento de filmes, e toda a produção cultural, para temas que estivessem em sintonia com as metas sociais do governo - até o Conselho Nacional de Jornalismo - com a finalidade de controlar o exercício da profissão e poderes para punir, até mesmo com a cassação do registro profissional, os jornalistas que infringissem normas de conduta que seriam definidas pelo próprio Conselho -, esse mesmo grupo político tenta viabilizar mecanismos de controle dos meios de comunicação.
Falei também na China sobre os problemas legais que cada vez mais surgem no caminho da livre expressão, com embargos de diversos feitios que tentam inviabilizar, até economicamente, os meios de comunicação, especialmente no interior do país, que enfrentam também a violência como arma de intimidação da liberdade de expressão, tendo sido registrados diversos casos de assassinatos e agressões a jornalistas.
Na Academia Brasileira de Letras, ontem, tratei de temas mais genéricos, de conceitos sobre a profissão de jornalista que são atemporais, valem para qualquer momento, mas especialmente para os tempos de eleição.
A imprensa enfrenta no mundo uma permanente batalha de credibilidade, que volta e meia é perdida. Embora aqui no Brasil ainda apareça entre as instituições mais respeitadas pela opinião pública, há um permanente desconforto na relação da imprensa com a sociedade.
Se de um lado ela ainda depende da imprensa para ter seus direitos respeitados e para que denúncias sejam investigadas pelos governos, de outro há questionamentos persistentes quanto à irresponsabilidade do noticiário, sobre as acusações veiculadas - o que muitos classificam de denuncismo - ou quanto ao superficialismo do noticiário.
No Brasil, há uma relação de amor e ódio típica de um país que ainda testa a solidez de suas instituições democráticas, e onde a Justiça não funciona plenamente.
A imprensa aqui, mais que em outras partes, transforma-se em Poder, por uma disfunção dos demais Poderes.
É disseminada pelos adeptos do governo uma tentativa de desacreditar os meios de comunicação na suposição de que a "opinião pública" representa apenas a elite da sociedade e não os cidadãos de maneira geral.
A "opinião pública" surgiu no fim do século XVIII, através principalmente da difusão da imprensa, como maneira de a sociedade civil nascente se contrapor à força do Estado absolutista e legitimar suas reivindicações no campo político.
Não é à toa, portanto, que o surgimento da "opinião pública" está ligado ao surgimento do Estado moderno. A gravidade do que aconteceu no "News of the World" na Inglaterra, com escutas ilegais e chantagens, liga perigosamente a prática de crimes comuns ao jornalismo, o que é inaceitável e põe em risco a própria essência da liberdade de expressão.
O jornalismo, instrumento da democracia, não pode se transformar em atividade criminosa.
Não obstante todos os novos recursos tecnológicos e as mudanças na sociedade que colocam o cidadão como protagonista, é o jornalismo, seja em que plataforma se apresente, que continua sendo o espaço público para a formação de um consenso em torno do projeto democrático.
A tese de que as novas tecnologias, como a internet, os blogs, o Twitter e as redes sociais de comunicação, como o Facebook, seriam elementos de neutralização da grande imprensa é contestada por pesquisas. Uma, recente, da Associação de Jornais dos Estados Unidos (NAA na sigla em inglês), mostrou mais uma vez que os jornais tradicionais são marcas confiáveis para as quais o leitor corre quando algo importante está acontecendo.
A pesquisa da NAA sobre o uso de multiplataformas mostra que três quartos de todos os usuários da internet têm os jornais como principal fonte de notícias e os leem em várias plataformas.
Não é à toa que os sites e blogs mais acessados tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil são aqueles que pertencem a companhias jornalísticas tradicionais, já testadas na árdua tarefa de selecionar e hierarquizar a informação.
O jornalismo profissional tem uma estrutura, uma forma profissional de colher e checar informações que a vasta maioria dos blogueiros não tem.
Não há dúvida de que, com o surgimento das novas tecnologias, os jornais perderam a hegemonia da informação, mas continuam sendo fatores fundamentais para cidadania.

Usos e abusos na língua portuguesa - ARNALDO NISKIER


FOLHA DE S.PAULO - 30/05


Na escrita, a norma culta tem de ser respeitada. A prova da OAB mostra o que acontece quando os alunos não sabem utilizá-la: 93% de reprovação

Na imprensa portuguesa, vez por outra, publica-se crítica à existência do acordo ortográfico de unificação da nossa língua.
Alguns jornais afirmam que os filólogos brasileiros encheram o documento de "bizarrices inúteis", enquanto outros reclamam que a Academia das Ciências de Lisboa, parceira do projeto, errou pelo excesso de "cedências" às hipotéticas pressões neocolonialistas do Brasil.
É evidente que nada disso faz sentido. Devemos ter mesmo só uma forma de expressão escrita, para que o nosso idioma passe a ser, estrategicamente, adotado como uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas. Falar é outra coisa. Cada um segue falando de acordo com a sua tradição.
Da mesma forma, não se pode defender a existência interna de uma separação linguística, dividindo o falar do rico e do pobre.
O Vocabulário Ortográfico, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem 370 mil verbetes, o que é uma amostra da sua força e da disponibilidade das palavras para todos. Machado de Assis fez toda a sua extraordinária obra de romancista com o emprego de somente 16 mil vocábulos.
Temos uma realidade plurilinguística, considerando-se basicamente que a norma padrão (culta) deve ser respeitada nos códigos escritos, pois são esses que, mais tarde, os estudantes terão que utilizar nos seus diversos concursos.
Veja-se o que aconteceu na seccional paulista da OAB. Dentre os 20.237 candidatos (bacharéis em direito), o índice de reprovação foi de 92,8%, o que levou o presidente Luiz Flávio Borges D'urso a afirmar que "há pessoas que chegam à prova e não sabem conjugar verbos ou colocar as palavras no plural".
Você já imaginou as petições que serão escritas por essa gente?
Para debater o assunto, que envolve também o uso exagerado do terrível internetês, as Academias Brasileira e Paulista de Letras realizaram seminários em defesa da língua portuguesa.
Na ocasião, comemorou-se o fato de a venda de jornais ter crescido significativamente nos dois últimos anos, desmentindo a tese catastrofista de que os impressos em geral serão desbancados em curto espaço de tempo pela mídia eletrônica.
Num estudo intitulado "Medium Matters" (em português, pode significar tanto "Questões de Meio" quanto "O Meio Importa"), da Universidade de Oregon (EUA), afirma-se que um leitor de jornal em papel retém o conteúdo mais que um leitor on-line. Isso parece ter sido percebido pelo povo brasileiro, inclusive os integrantes da sua ampliada classe média.
Antes de nos entregarmos totalmente ao emprego do tablete, convém que se prepare mais adequadamente os nossos professores e especialistas.
Encher as escolas, desordenadamente, de computadores de todos os tipos não será a forma de promover o que é essencial: o conhecimento mais profundo dos mistérios e da beleza do idioma de Fernando Pessoa e Manoel Bandeira.

O mensalão e a independência do STF - EDITORIAL O GLOBO


O GLOBO - 30/05

Uma inapropriada conversa entre um ex-presidente da República e dois ex-presidentes do Supremo, um deles ainda na ativa como ministro da mais alta Corte do Judiciário, expõe um grave caso de tentativa de influenciar um julgamento-chave no STF, o do mensalão. Ou, tão incrível quanto isso, prova não se poder confiar na palavra de nenhum deles, homens de alta responsabilidade pública. Há três versões para o encontro.
Revelada pela revista "Veja", a conversa no escritório de Nelson Jobim em Brasília, não desmentida por qualquer dos três, serviu, segundo o ministro Gilmar Mendes, para que Lula o pressionasse - inclusive com nuances de chantagem - a trabalhar na Corte pela postergação do julgamento do mensalão para depois das eleições. Lula nega, Jobim fica no meio do caminho e tenta não constranger o ex-presidente, Gilmar Mendes confirma tudo.
A reunião, de que nenhum dos três deveria ter participado, em nome dos tão mencionados e pouco seguidos "princípios republicanos", é preocupante do ponto de vista do equilíbrio institucional entre os Poderes.
A obsessão de Lula com o mensalão - compreensível, pois o escândalo manchou seu governo e biografia - e a segurança com que Gilmar Mendes confirma a impertinente abordagem reforçam a suposição de que algo grave de fato aconteceu. A ponto de o ministro do STF Celso de Mello, colega de Mendes, dizer que, se Lula ainda fosse presidente, estaria vulnerável a um processo de impeachment.
Há detalhes sórdidos no relato feito por Gilmar Mendes do que disse Lula: comentários desairosos sobre juízes ( o "complexado" Joaquim Barbosa), a revelação de pelo menos outra manobra de tráfico de influência (usar o ex-ministro Sepúlveda Pertence para influenciar a ministra Cármen Lúcia, com o mesmo objetivo), e a confirmação de que o grupo de José Dirceu, o principal réu do processo, pressiona o ministro Antônio Dias Toffoli a não se declarar impedido no julgamento. Mesmo que ele já tenha sido assessor de Dirceu, advogado do PT e que sua namorada, também advogada, haja trabalhado na defesa do ex-ministro no próprio processo do mensalão.
Lula teria até mesmo reclamado do ministro Ricardo Lewandovsky, cuja mãe tinha laços de amizade com Dona Marisa, ex-primeira dama, por não retardar a revisão do voto do relator, Joaquim Barbosa.
Adiado o julgamento, não apenas recrudescerá a questão da prescrição de alguns crimes cometidos por mensaleiros, como o atual e o ex-presidente do STF, Ayres Britto e Cezar Peluso, não estarão mais na Corte para apreciar o caso, pois se aposentarão. Abertas as duas vagas no STF, as suspeições cairão sobre a presidente Dilma Rousseff, porque, para esta operação fechar, ela teria de indicar dois nomes simpáticos a mensaleiros, uma excrescência.
O ministro Ayres Britto, ao comentar o escândalo, foi incisivo: "O processo está maduro para ser julgado. Chegou a hora de julgar." Esta é a melhor postura para a Corte, ou seja, manter o plano de apreciar o processo do mensalão o quanto antes. Será a única maneira contundente de o STF reafirmar a independência, inscrita na Constituição, uma das bases do regime democrático de direito, atingido pela manobra torpe de interferência no Judiciário.

Coerência penal - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 30/05


SÃO PAULO - Tenho gostado do trabalho da comissão de juristas encarregada de propor um novo Código Penal. Embora eu discorde de muitas das sugestões, é preciso reconhecer que os notáveis, à parte a tarefa hercúlea de resgatar um pouco da coerência interna dessa peça legislativa, têm conseguido introduzir inovações importantes, especialmente em temas que os parlamentares preferem não abordar.
Meu receio é justamente o de que o Congresso vete a maioria das propostas, ou, pior, distinga entre as boas e as ruins e só aprove as últimas. Deixemos, porém, os trâmites legislativos para uma outra ocasião.
Voltando à comissão, ela acaba de sugerir que compra, guarda, porte e plantio de qualquer tipo de droga para uso próprio deixem de ser crime. Em grandes linhas, apenas o tráfico continuaria sendo um delito.
A proposta faz sentido em termos táticos. Se já é improvável que até isso passe, pensar em legalização, com produção em fábricas e cobrança de impostos, torna-se uma utopia. Mas o interessante do projeto é que ele mostra os limites de uma política que visa apenas à descriminalização.
Se não é proibido comprar estupefacientes, como justificar que a venda o seja? O dono de uma fazenda que cobra entrada e permite que pessoas colham plantas nativas e fungos alucinógenos é um traficante?
Se o apreciador de Cannabis pode cultivar um pé de maconha para consumo próprio, o usuário de ecstasy pode, por analogia, reivindicar o direito de manter no fundo do quintal um laboratório para sintetizar pequenas quantidades da droga.
Admito que a ideia de que alguém possa lucrar explorando o vício e a ruína alheios é repulsiva. Mas, se queremos uma política de drogas que pare em pé, devemos abandonar nossos vieses mentais e hipocrisias e defender a legalização. Na verdade, convivemos bem com ela no caso do álcool e dos cigarros. A única coisa que muda é a substância.

Um novo manual do crime - FERNANDO RODRIGUES



FOLHA DE SP - 30/05


BRASÍLIA - "Fui investigado clandestinamente", disse ontem Demóstenes Torres ao depor no Conselho de Ética do Senado.

Trata-se de uma referência oblíqua à decisão a ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal sobre a validade das provas coletadas contra Demóstenes. Sob o aspecto institucional do país, essa decisão será talvez a mais relevante do atual escândalo.

Como senador, Demóstenes tem direito ao execrável foro privilegiado. Não pode ser investigado sem autorização do STF. Nos últimos cerca de dois anos, a Polícia Federal investigou Carlinhos Cachoeira. Com chancela da Justiça, telefones foram monitorados. A voz de Demóstenes surgiu em centenas de ligações.

O senador, agora encrencado, foi alvo indireto do trabalho da PF. Por causa do direito ao tal foro privilegiado, argumenta que as provas são ilegais. Tudo deveria ter sido interrompido quando sua voz foi captada nas conversas de Cachoeira.

A PF e o Ministério Público usam o argumento do encontro fortuito.

O investigado Cachoeira telefonou para Demóstenes. O senador, de fato, caiu no grampo, mas não era o alvo da investigação. Não haveria razão para interromper o inquérito.

Caberá ao STF julgar. Se vencer a tese de Demóstenes, o processo inteiro vai para o lixo. Por tabela, todos os réus saem livres. Um novo manual do crime será lançado.

Nesse novo contexto, o criminoso potencial deve antes de tudo comprar um celular. Depois, dá um jeito de ser atendido ao telefone com regularidade por um dos 513 deputados ou dos 81 senadores. Tarefa fácil. Muitos congressistas têm compulsão por tais contatos.

O criminoso então estará automaticamente blindado. Se for grampeado pela polícia, argumentará que tudo foi ilegal, pois um congressista estava no meio da conversa.

Ficará facílimo retardar e obstruir o trabalho da Justiça. O crime organizado, penhorado, agradecerá.