sexta-feira, abril 06, 2012

Eternamente vítimas - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 06/04/12

A chocante decisão da 3ª Seção do STJ (Superior Tribunal de Justiça), inocentando um homem que estuprou três crianças de 12 anos, virou um caso internacional. A Unesco já tinha condenado o voto. Ontem foi a vez do escritório da ONU para Direitos Humanos na América do Sul.


Em nota, o escritório "deplora" a posição do STJ, que não apenas surpreende como entristece e mata de vergonha todos nós, brasileiros, sobretudo nós, brasileiras. "Essa decisão marca um precedente perigoso e discrimina as vítimas tanto por sua idade como pelo seu gênero", disse Amerigo Incalcaterra, representante do órgão para a região.


O tribunal inocentou o réu e culpou as vítimas, sob o argumento de que as três meninas eram prostitutas. Logo, podem ser estupradas à vontade e sofrer ainda mais violência do que já sofrem? Já seria um absurdo no caso de prostitutas adultas, imagine-se quando se fala de crianças -e de crianças jogadas às ruas, ao desamparo e à infelicidade.


Essa posição do tribunal brasileiro reforça o que, vez ou outra, há muitos anos, sou obrigada a escrever neste espaço: no Brasil, uma vez vítima, serás sempre vítima. E tratada como culpada! A vida, os pais, a escola (ou a falta dela) e o Estado geram e eternizam a injustiça. A Justiça, como última instância, lava as mãos.


Do ponto de vista legal, o STJ está descumprindo tratados internacionais a que o Brasil se obriga a respeitar e a cumprir, como a Convenção dos Direitos das Crianças, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher.


Do ponto de vista humano, a decisão é de uma brutalidade tal que choca o mundo, mas deve, antes de mais nada, chocar todos(as) e cada um(a) de nós. Nações democráticas garantem o futuro de suas crianças, as protegem e as resgatam quando necessário. O resto é barbárie.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 06/04/12



Quota de trabalhador aprendiz é desrespeitada

Cerca de 80% das vagas destinadas, por lei, a trabalhadores na condição de aprendizes não foram preenchidas no último ano, segundo levantamento do Ministério Público do Trabalho.

O número equivale a quase 1 milhão de jovens de 14 a 24 anos que deixaram de ocupar vagas no mercado formal, de acordo com o órgão.

A legislação sobre jovens aprendizes prevê que ao menos 5% dos contratados por empregadores de maior porte sejam alunos de cursos profissionalizantes.

"Há potencial para aprendizagem no Brasil, mas o país não corresponde. Os empresários ainda não perceberam isso como um investimento. Eles veem como encargo", afirma o procurador Rafael Marques.

Para elevar a taxa de contratação de jovens neste ano, o Ministério Público do Trabalho pretende intensificar a fiscalização na área.

"Criamos um projeto nacional que dará suporte aos procuradores na proposição de termos de ajustamento de conduta para as companhias."

Empresas que não cumprem a lei podem ser multadas.

Para o Senac, uma das instituições do serviço de aprendizagem, seria possível oferecer mais cursos profissionalizantes se a demanda fosse maior. "É preciso que as empresas contratem mais. Mas está crescendo. Em 2011, atendemos 13 mil jovens em São Paulo. Para 2012, esperamos 17 mil no Estado", diz Erleni Andrade, do Senac SP.

NEGÓCIO QUENTE

A rede de lojas de cachorro-quente Black Dog, que começou em 1993 com um carrinho ambulante em São Paulo, volta a se expandir.

Após fechar quase dez unidades, tem hoje sete lojas em São Paulo. A partir da semana que vem, inicia 14 inaugurações neste ano.

"Vou abrir como próprias e só depois franquear. Apesar de ter uma em Salvador, não vamos sair do Estado por enquanto. Só Grande São Paulo, capital e municípios próximos, para manter o controle", diz Leandro Neves, fundador da marca.

A cautela se explica pela série de fechamentos de franquias pela qual a rede passou em quatro Estados, por ter gerenciado os parceiros de forma errada.

"A seleção de franqueados é importante. É preciso ter perfil para o negócio e estar disposto a investir."

O consultor da Vecchi Ancona Gustavo Vieira afirma que as franquias devem replicar o padrão da operação original. "O ideal é ter um bom plano de negócio e calcular como ele vai se comportar no futuro."

O negócio de Neves começou quando ele decidiu deixar o carrinho e abrir loja, na avenida Faria Lima, em São Paulo, porque estava cansado da pressão da fiscalização da prefeitura sobre camelôs.

LIÇÃO DE LIDERANÇA

"Liderança 360º - Abílio Diniz", curso de extensão universitária da Fundação Getúlio Vargas sobre a trajetória do grupo Pão de Açúcar e do presidente de seu conselho de administração, teve 77 alunos inscritos neste semestre.

Como o interesse foi maior neste ano, segundo a empresa, Abílio aumentou seu número de aulas, de três para quatro das 15 previstas.

Em classe, serão abordados temas como negociação, economia, equilíbrio, como lidar com o imprevisto e como superar e aprender com crises. O curso, que também tem Enéas Pestana, presidente do grupo, entre os palestrantes custa R$ 3.856.

COM QUE ROUPA
Do QUARTO À RUA

Dá para usar os "slippers", tão em voga, em um ambiente de trabalho?

Pela presença dos sapatinhos -outrora usados pela aristocracia inglesa em casa, com robe de chambre- em lojas bem conceituadas, a resposta é sim.

Para Constança Basto, tudo depende da roupa e de quem veste.

"Há executivas muito elegantes que trabalham com sapatos sem salto e os

"slippers" são uma alternativa bem confortável", diz a designer carioca.

Como usar?

"Pessoalmente prefiro com calça, em vez de saia. Fica bem com um modelo que mostre o calcanhar."

O que distingue "slippers" de sapatilhas são a construção, a modelagem e o corte. Eles agora têm sola como sapatos. O "slipper" original (como no desenho à direita) não tinha sola de couro, era flexível, forrado de matelassê e, na maioria dos casos, feito em veludo com debrum de gorgorão. Não dava para sair na rua.

Cotoveladas, empurrões, safanões, puxões - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


Como o âncora do telejornal anunciava, com estrondoso orgulho, que agora o sistema de ônibus de São Paulo terá horários e o usuário poderá saber o momento exato em que vai pegar a sua condução, Alzeni, que trabalha conosco há 18 anos, correu a ouvir. Era uma notícia interessante. O repórter mostrava entusiasmo fora do comum pela tecnologia de ponta. Um sistema da internet vai possibilitar que possamos, no ponto, acessar o site que vai mostrar onde está nosso ônibus e a que hora ele chegará.

Com um belo iPad na mão, o jovem acessava e descobria que o ônibus por ele desejado chegaria ao ponto em uma hora. Ficou meio desapontado e repetiu a operação com outra linha. Em 15 minutos um carro encostaria, só que em ponto a 30 quadras dali, para outro destino. De qualquer maneira, a notícia, dizia o jovem que deve viver conectado o tempo todo com tudo, era boa para quem anda de ônibus. Finalmente, poderemos chegar ao ponto na hora exata em que devemos embarcar.

No mesmo instante me vi nos anos curiosos em que vivi em Berlim e o meu ônibus 29 chegava ao ponto às 13h37, sem erro. Chegasse atrasado, veria o que é bom para a tosse. Claro, era Berlim, pouco trânsito, ruas pavimentadas como se fossem por blocos de mármore, lisos e limpos. A nostalgia se dissolveu na realidade paulistana.

Logo, um popular entrevistado pelo eufórico repórter respondeu com uma pergunta: "Tudo bem! E quem informa ao congestionamento que o meu ônibus tem horário para chegar àquele ponto e todos devem sair da frente?" Aliás, em jornalismo há algumas coisas inúteis, mas nenhum chefe de reportagem se dá conta. Já fiz muito isso. Para que entrevistar povo na rua? As respostas são: "Não sei. De que o senhor está falando? Anh? Ah! É? Vai ser bom, né!"

Ninguém sabe nada. Há alguns que tuitam rapidamente para se informar. Como se o twitter desse alguma informação. É tudo questão de encher linguiça, como se dizia na Pré-história. Outra categoria inútil para ser entrevistada: jogador de futebol após o jogo. Suados, cansados, esbaforidos, loucos para irem ao vestiário, nada dizem. Não têm o que dizer. A maioria também não joga, não tem cacife para jogar. Dia desses o Valdivia respondeu: "Perdemos porque entramos com sono". Gostei. O primeiro que disse uma coisa engraçada, curiosa, verdadeira.

Voltemos aos transportes. Alzeni olhou para mim e perguntou: "Então, vai ser resolvido o problema dos ônibus? Porque não entendi nada do que falaram aí". Nem eu, acrescentei. Pergunto: serão distribuídos computadores, iPhone, iPads e outros acessórios para toda a população acessar os horários? Depois virão os cursos para se saber manejar tudo? Depois, dirão aos concessionários das linhas para colocarem carros em número suficiente para atender às demandas? Depois virão os aumentos de tarifas?

Sábia, Alzeni arrematou, como se diz no interior: "Quando ônibus chegar no horário, quando eu entender de computador, quando político se preocupar com o povo, estarei velhinha, aposentada e sentada em casa na frente da televisão, não virei trabalhar, vou olhar netos e bisnetos. Ônibus no horário e transporte decente para pobre só na cabeça de quem vive enganando trouxa".

Sábia Alzeni que me conta que o ônibus, que a traz de manhã, para no ponto quando quer. Ou quando não está superlotado. O ônibus passa quando lhe dá na telha. Ela entra e jamais se sentou nestes 18 anos em que trabalha conosco. Vem sempre em pé, socada. Amassada, empurrada, recebendo cotoveladas, empurrões, safanões, puxões, repelões, palmadas, pancadas, piparotes, colisões. Como Cristo atravessando a Via-Sacra (Afinal, hoje é Sexta-Feira Santa).

Ela é jogada dentro do veículo por braços que a forçam a subir. Ela está num lugar e vai sendo levada para outro, até se ver amassada, com falta de ar, sufocada. Por que nossos "modernos" ônibus têm janelas que um abre, o outro fecha, um terceiro reclama, o quarto xinga do golpe de vento, o último diz que vai morrer sem poder respirar? Ar condicionado? Para pobre? Pobre fica gripado com ele.

Pisam nos pés, cutucam, dão beliscões, essas viagens são assim, mas quem comanda os transportes não sabe. Nunca um prefeito, vereador, secretário de transportes, seja quem for esperou num ponto, viajou num ônibus. Nem me falem em horários de pico, todos os horários são de pico. O transporte é uma calamidade, assim é que se trata o usuário, os que trabalham e chegam exaustos, exangues, moídos, prostrados, arfantes, extenuados, esgotados, esbaforidos. Sucumbidos. Pedir produção a essa gente? Prometer horários? Olhem aqui se tem guaraná nos meus olhos! (Só quem é caipira vai entender esta).

O etanol em crise - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


Há quatro anos, a produção nacional de etanol de cana-de-açúcar era considerada um sucesso - que não saiu de graça, considerados os custos dos subsídios ao Proálcool, lançado na década de 1970. Contudo, os investimentos feitos pelo setor sucroalcooleiro e a introdução de melhorias genéticas nas plantações permitiram a dispensa de subsídios e a preservação da paridade com o preço da gasolina. Com a introdução dos veículos flex ou bicombustíveis a partir de 2003, a produção de álcool avançou rapidamente, tendo alcançado 648,85 milhões de toneladas em 2008. Projeção feita na época pela Petrobrás era de que esse volume triplicaria até 2020, atendendo plenamente à demanda interna e transformando o Brasil em grande exportador mundial do produto.

Em vez desse quadro, temos hoje a virtual estagnação da produção de álcool no País, refletindo a crise que se abateu sobre o setor, com o elevado endividamento de muitas usinas, várias delas colocadas à venda. Somente em São Paulo, que é o maior produtor nacional de etanol, entre 30 e 40 usinas (20% do total instalado no Estado) encontram-se nas carteiras de venda de corretores ou negociam acordos para fusões, parcerias ou incorporações. No Paraná, as coisas não são melhores: das 30 usinas do Estado, 3 unidades deixarão de moer cana na safra 2012/2013.

Esse novo quadro surge justamente em uma fase em que o petróleo alcança elevadas cotações - o que deveria tornar os biocombustíveis mais atraentes. A crise do etanol no Brasil também coincide com a decisão do governo dos EUA, por motivos fiscais, de eliminar o subsídio ao etanol de milho e acabar com a sobretaxa sobre o etanol importado, uma abertura que os produtores nacionais há anos reivindicavam.

Na realidade, o País hoje não tem etanol nem mesmo para atender à demanda interna. Há muitas usinas que, além de quebra de safras, não podem contratar novos financiamentos na rede bancária e não têm recursos para renovação da lavoura ou aquisição de equipamentos. Estão em melhor situação as usinas que tiveram meios para optar pelo aumento da produção de açúcar, aproveitando as altas cotações internacionais, reduzindo a produção de álcool combustível. Outras, as chamadas refinarias, não tiveram essa alternativa, e não puderam reajustar os seus preços para absorver o aumento de custos, em vista do virtual congelamento do preço da gasolina, que já dura seis anos. Como resultado, o álcool hidratado, cujo preço, para atrair consumidores, deve corresponder a 70% do da gasolina, perdeu mercado.

Tem havido um volume significativo de investimentos externos em refinarias de etanol, mas a aquisição de novos equipamentos está em queda. Os quatro projetos que entraram em operação em 2011 resultaram de decisões tomadas antes de 2008, como informa José Luiz Oliveira, vice-presidente da Dedini, indústria de equipamentos para a produção de etanol. "O que houve de lá para cá, foram apenas projetos de diversificação de empresas, nenhum de ampliação da capacidade", diz Oliveira. Com a queda de 73% de seu faturamento em relação a 2008, a empresa reduziu seu quadro de pessoal de 6.500 funcionários para 3.500.

Seria simplista dizer que, se o preço da gasolina for reajustado pelo governo, os problemas dos produtores de etanol desapareceriam. Por um certo prazo, pode ser que sim. Mas o que claramente está faltando é definir o papel do etanol na matriz energética brasileira. Uma coisa é produzir o volume de álcool anidro necessário à adição à gasolina, hoje na proporção de 20%. Outra, bem mais complexa, é tornar o álcool hidratado competitivo no mercado, o que exige garantia de abastecimento, com crescimento da produção e formação de bons estoques reguladores. Sem isso, a participação no mercado interno continuará muito instável, e será virtualmente impossível a conquista de mercados externos.

Infelizmente, a solução do problema do álcool não depende do livre jogo das forças de mercado e, sim, de uma decisão da cúpula do governo.

Religião na escola - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/04/12


Estado deve impedir práticas confessionais em sala de aula na rede pública, não para reprimir a fé, mas para garantir liberdade religiosa



Há quase cem anos, um adolescente mineiro foi expulso do colégio de jesuítas onde estudava. Seu nome: Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

O motivo da expulsão também ganhou notoriedade: a "insubordinação mental" de que o acusavam tornou-se, com o passar dos anos, uma das muitas distinções da biografia do poeta.

Também mineiro, e com a mesma idade (17 anos) que tinha o escritor naquele episódio, o estudante Ciel Vieira "insubordinou-se", por assim dizer, diante de uma professora de geografia do seu colégio, na cidade de Miraí, a 355 km de Belo Horizonte.

A professora tinha por hábito iniciar as aulas rezando o Padre Nosso. Ateu, o estudante não acompanhou a classe na oração. A professora reagiu, dizendo ao jovem que ele não tinha Deus no coração e nunca seria nada na vida.

O caso ganhou repercussão, dando respaldo à atitude do estudante -que, com razão, não vê motivo para ser obrigado a rezar numa escola da rede pública.

Seria mais confortável, é claro, fingir uma adesão superficial ao rito. A atitude de independência do estudante se inscreve, todavia, num clima ideológico e cultural que se diferencia dos padrões de indiferença e acomodação típicos do Brasil de algumas décadas atrás.

Dos protestos contra a presença de crucifixos em repartições públicas ao questionamento judicial, por parte da União, dos critérios que devem reger o ensino religioso nas escolas, avolumam-se iniciativas para afirmar com mais nitidez o princípio da laicidade do Estado.

Ao mesmo tempo, vê-se em toda parte uma tendência, se não para o fundamentalismo religioso, pelo menos no rumo de um proselitismo militante. É uma manifestação legítima, desde que não resvale para a imposição ao público de valores e práticas cuja adoção constitui matéria de foro íntimo.

Denominações cristãs diversas fazem valer seu poder como mecanismos eleitorais. Bancadas parlamentares religiosas se organizaram em todos os níveis da Federação. A TV aberta promove intensamente este ou aquele credo.

Por demagogia ou convicção, surgem mesmo casos em que políticos quebram explicitamente o princípio da neutralidade do Estado em questões religiosas. Foi o que aconteceu em Ilhéus, onde vereadores e prefeito tornaram obrigatória a oração do Pai Nosso nas escolas municipais.

Casos assim podem parecer localizados e desimportantes. Todavia, a ideia de que o Estado não deve se imiscuir nas questões de fé tem uma relevância cada vez maior.

Não se trata de uma questão de militância ateísta -o que está em jogo é a liberdade de todas as religiões, indistintamente, para conviverem de forma pacífica, sem favor nem perseguição do poder público.

O erudito antissemita - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


O grande escritor alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura em 1989, é um especialista em provocações. O autor de O Tambor não tem medida. Seus romances são um amálgama de grosserias, poesia, imprecações, ódio, ternura, personagens grotescos, obscenos ou provocadores. Ele reúne como troféus uma infinidade de escândalos. Hoje, aos 85 anos, Grass mostra que não perdeu nada da sua violência, sua mordacidade, seu orgulho.

Na quarta-feira, ele publicou no jornal Süddeutsche Zeitung um poema de 69 versos intitulado "O que deve ser dito", no qual dirige seus ataques contra um único alvo: Israel, ao qual acusa de ameaçar a paz mundial.

Grass argumenta que Israel dispõe há anos de um arsenal nuclear que cresce a cada dia, embora secreto e sem controle, pois nenhuma inspeção é autorizada. Ora, Israel pode lançar "ataques nucleares preventivos" contra instalações atômicas do Irã. A consequência desses ataques será "a erradicação do povo iraniano e isso com base na suspeita de que os dirigentes iranianos estão fabricando uma bomba atômica".

De passagem, Günter Grass insurge-se também contra o governo alemão, que comete o grande erro, segundo ele, de apoiar Israel. Pior ainda. Para ele, a "Alemanha arma Israel". Por exemplo, Berlim acaba de vender para os israelenses seu sexto submarino de transporte de ogivas nucleares.

Para não ser acusado de mais uma vez agredir Israel, Grass propõe a criação de uma instância internacional encarregada de controlar as armas nucleares iranianas e israelenses. A Alemanha, em geral, é muito crítica e, por vezes, manifesta aversão pelo escritor. Mais uma vez, ele expressa seu antissemitismo radical.

Segundo o jornal Die Welt, "Grass sempre teve um problema com os judeus, mas jamais o expressou tão claramente como nesse poema". O jornal tenta analisar o ódio que ele tem dos judeus. "Grass é o arquétipo do erudito antissemita alemão. Como é perseguido pela vergonha e o remorso, só conseguirá encontrar a paz de sua alma com o desaparecimento do Estado de Israel", diz o jornal.

É necessário, sem dúvida, remontar à história do escritor para entender o repentino "espasmo" de fiel antissemita. Há alguns anos, em 2006, Günter Grass, um homem de esquerda, declarou que, em outubro de 1944, ainda jovem, ingressou na 10.ª Panzerdivision SS Frundsberg da Waffen-SS.

Quando fez a confissão, há seis anos, os alemães ficaram indignados. Alguns chegaram a propor que o Nobel lhe fosse retirado.

Grass ingressou no PSD (Partido Social-Democrata), mas considerou os socialistas alemães muito mornos e, com frequência, denunciou suas tendências "pequeno-burguesas". Não aprecia os EUA, talvez porque ali vivam muitos judeus poderosos, especialmente em Nova York.

Em 11 de setembro de 2001, deixou claro até que ponto vai sua insensibilidade ao afirmar que "os americanos fazem muita história por causa de 3 mil brancos mortos pelos soldados da Al-Qaeda".

Em toda a Alemanha, a indignação contra o escritor é enorme. A chanceler Angela Merkel, que está de férias, não fez nenhum comentário sobre a nova retórica do escritor. Mas todos sabem que Merkel jamais demonstrou muito afeto por ele. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Tolstoi às avessas? - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

O ESTADÃO - 06/04/12


O "Princípio de Anna Karenina", articulado numa das frases de abertura mais famosas da literatura universal, diz que "todas as famílias felizes são iguais, enquanto as infelizes o são ao seu próprio modo". Aplicado à indústria, esse princípio parece funcionar às avessas. Todas as indústrias felizes o são ao seu próprio modo, enquanto todas as indústrias infelizes são iguais...

Digamos que a "felicidade" da indústria seja medida pela sua participação no PIB do país de origem. A ideia reflete o raciocínio atual do governo brasileiro, a julgar pelas recentes declarações e medidas para proteger a indústria nacional da tal concorrência predatória alardeada pelo ministro Mantega. Indústria feliz, segundo o governo, é aquela que gera a maior parte dos empregos e da renda do País. É preciso, pois, cultivá-la, mesmo que para isso se introduzam impostos diferenciados para os produtos domésticos e os importados, uma prática no mínimo antipática. Também é necessário usar medidas emergenciais, como o alargamento das compras governamentais para priorizar a aquisição de bens e serviços nacionais, ainda que isso onere os cofres públicos e tenha efeitos indesejados sobre a inflação. Não faz mal. O que importa é ser feliz. Mas onde estão as indústrias mais felizes?

De acordo com a métrica proposta, a Coreia e a Alemanha são igualmente "felizes": ambas têm indústrias de mais de 30% do PIB. Já o Brasil e os EUA são menos felizes: suas indústrias correspondem a uns 20% do PIB (a participação da indústria de transformação no Brasil é ainda menor, uns 13%). Nesses dois países, a situação já foi muito diferente. Por aqui não faltam comparações com a década de 80, quando a indústria correspondia a pouco mais de 30% do PIB, como na Coreia e na Alemanha. Mas os saudosistas de plantão se esquecem de que esses foram anos de brutal desarranjo macroeconômico no País, além de a economia ser muito fechada, a indústria era pouco exposta à competição internacional.

Os EUA também tiveram lá o seu grau de felicidade industrial à Alemanha e Coreia no início do século 20. O vigoroso capitalismo industrial que impulsionou a economia, tornando-a uma das mais importantes do mundo, sobretudo depois das duas grandes guerras e da débâcle dos regimes comunistas, perdeu fôlego. Ao longo do tempo, foi cedendo um espaço cada vez maior à ascensão do capitalismo financeiro, o modelo de crescimento econômico baseado no crédito farto e desregulado que culminou na crise de 2008.

Há muito pouco em comum entre a redução da participação no PIB da indústria brasileira e da americana. Mas há uma semelhança importante entre os dois modelos de industrialização. Tanto lá quanto aqui se optou pela diversidade, pela ampla gama de produtos industriais, de aviões a calçados, de engenharia e mecânica a móveis e utensílios domésticos, da siderurgia a têxteis, de automóveis a tecnologia de informação. Evidentemente, não é possível ser competitivo em todos esses setores simultaneamente. Tome-se como exemplo a indústria automobilística americana, o grande símbolo da revolução industrial dos EUA, o país que inventou o Modelo T, carinhosamente conhecido como Tin Lizzie. Tin Lizzie não resistiu aos Hondas, Subarus, Daihatsus, Toyotas - mais baratos, mais econômicos, mais resistentes.

E a Alemanha e a Coreia? Bem, esses países concluíram não ser possível competir em pé de igualdade com o resto do mundo em todos os setores. Resolveram priorizar um modelo de industrialização baseado na capacidade de produzir um determinado bem a um custo unitário menor, o que os economistas chamam de vantagem comparativa. A Alemanha, e sua inigualável engenharia, concentrou-se na indústria de processamento. A Coreia direcionou seus esforços para a capacitação tecnológica, tornando-se um dos polos mais importantes de fabricação de eletrônicos no mundo. Foram igualmente felizes na especialização. Enquanto isso, continuamos aqui, a discutir a proteção à nossa indústria universal. Parece que continuaremos infelizes na nossa diversidade.

Danos colaterais - NELSON MOTTA


O GLOBO - 06/04/12


Em um mês, o senador Demóstenes Torres passou de acima de qualquer suspeita para abaixo de qualquer certeza, num episódio que desafia os romances policiais mais surpreendentes. Alem da atuação implacável contra a corrupção, ele tinha a cara, vestia o figurino e se comportava como um incorruptível homem de bem - e talvez seja mesmo sócio da holding criminosa de Cachoeira. Ou talvez seja até um bom homem, que cometeu erros imperdoáveis mais por vaidade pessoal do que por ambição material. Ou um provinciano deslumbrado e metido a cosmopolita, que gostava de ser paparicado e desfrutar das benesses do poder. Ou um megalomaníaco traído por excessiva confiança na sua blindagem - e na estupidez e boa fé alheias. Ou talvez tudo isso junto, que não o faz menos ou mais culpado dos fatos que o condenam.

Piores são os danos colaterais dessa cachoeira de lama. Todos que acreditaram na eloquência ética de Demóstenes - com todos os motivos para tanto - se sentiram traídos em suas últimas esperanças. Sua desmoralização reforça a crença nefasta de que os políticos são todos iguais e provoca irreparável desilusão no eleitorado. E júbilo entre mensaleiros e aloprados. Ao perderem seu melhor quadro, os demos - maldito nome, não poderia mesmo dar certo uma sigla que já nasceu para ser demonizada - estão com o pé na cova da irrelevância. Mas o PSD os receberá de braços abertos. No Conselho de Ética do Senado, paladinos da moralidade como Renan Calheiros, Humberto Costa, Romero Jucá, Lobão Filho e Gim Argelo julgarão as imoralidades de Demóstenes.

Mas ser honesto não basta. No Rio de Janeiro, em 1988, o prefeito Saturnino Braga, um engenheiro socialista de impecável trajetória política e probidade absoluta, fez uma administração tão desastrosa que encerrou seu mandato decretando a falência da cidade. A decepção foi tão grande que virou um clássico do humor carioca: do Leme ao Pontal se dizia que Saturnino desmoralizou a honestidade.

Como diria mestre Ancelmo Góis, deve ser terrível viver num país com tão poucos políticos competentes, mas desonestos - e tantos honestos, incompetentes.

Aumenta a temperatura, e não só nos termômetros - WASHINGTON NOVAES


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


Há meia dúzia de anos, quando o autor destas linhas preparava para a TV Cultura documentário sobre a biodiversidade no Município de São Paulo, especialistas em clima na Universidade de São Paulo (USP) e na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente chamaram a atenção para a diferença de temperatura observável simultaneamente entre as regiões mais altas (Serra do Mar, Cantareira) e as áreas mais industrializadas e com trânsito mais intenso (Mooca, Brás), que podia chegar a 6 graus Celsius. Isso levava a que se formassem ilhas de calor nas áreas mais quentes e para ali fossem atraídas as chuvas mais fortes (que seriam mais benéficas nas regiões de nascentes); também ocorria uma concentração das chuvas nos dias de mais movimento, durante a semana (quando eram mais problemáticas), e menos intensas nos fins de semana.

Passados seis anos, este jornal publicou (26/3) pesquisa da Unesp, do Laboratório Goddard (Nasa) e outras instituições mostrando que hoje essa diferença de temperatura entre áreas como Itaim Paulista e Penha, por exemplo, comparadas com áreas mais arborizadas, já pode chegar a 14 graus Celsius - por causa da escassez de árvores (que influem na temperatura e na umidade) e excesso de área construída (aumentando as ilhas de calor).

Não é problema só nosso. Cientistas reunidos em Londres mostraram (Reuters, 28/3) que, em 20 anos, a expansão urbana que vai ocorrer no mundo ocupará uma área equivalente à da França, Alemanha e Espanha juntas. Será 1,5 milhão de quilômetros quadrados (mil municípios como São Paulo). Para essa expansão contribui decisivamente o acelerado processo de expansão urbana no mundo, que a cada semana absorve a maior parte das pessoas que nascem e das que emigram. Por isso a população urbana de hoje (3,5 bilhões) atingirá 6,3 bilhões em 2050. E as cidades emitirão mais do que os atuais 70% do carbono lançado na atmosfera. Não surpreende, assim, que o ex-secretário-geral da Convenção do Clima Yvo de Boer diga que conter o aumento da temperatura em 2 graus Celsius até 2050 já não é possível - ainda mais que os países industrializados postergaram para 2015 um acordo sobre emissões que só entrará em vigor em 2020.

Esse panorama leva a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a alertar sobre a possibilidade de um "colapso ambiental", já que em quatro décadas virão de combustíveis fósseis 85% do aumento no consumo de energia (que será de 80%), transformando a poluição do ar no maior problema mundial de saúde pública. E outras instituições a advertir (O Globo, 23/3) que os impactos do clima nos oceanos atingirão US$ 2 trilhões até o fim do século. O consumo de recursos extraídos da superfície terrestre, que já se multiplicou por oito durante o século 20 e chega a 60 bilhões de toneladas anuais (Ricardo Abramovay em Eco 21, fevereiro), é insustentável. Como é insustentável o uso anual de 9 trilhões de metros cúbicos de água, segundo a Universidade de Twente, na Holanda (Estado, 16/3).

Os dados sobre a expansão urbana e o aumento da temperatura na capital paulista, mencionados no início deste texto, evidenciam, mais uma vez, a urgência de macropolíticas para as metrópoles brasileiras, que se enganam a si mesmas anunciando ações pontuais que não alteram o cerne dos problema; não enfrentam decididamente a questão apontada pelo professor Vinicius M. Netto, da Universidade Federal Fluminense, em entrevista ao caderno Aliás (5/12/2011) deste jornal, já comentada neste espaço: a exaustão das estruturas e infraestruturas urbanas, com todos os riscos que implica.

É penoso insistir e insistir nessa temática ao longo dos 15 anos que este escriba ocupa espaço neste jornal - e já desde o início da década de 1980 em outros espaços. Mas que se vai fazer diante do agravamento do quadro, ao ouvir dos respeitados cientistas ganhadores do Prêmio Nobel Alternativo de Meio Ambiente que "o atual sistema está falido"? Ouvir da OCDE que os atuais formatos são insustentáveis? E, apesar disso, testemunhar as administrações públicas anunciarem, em termos de triunfo, de conquista, que a frota de 37 milhões de veículos que se amontoam nas ruas das nossas cidades chegará a 70 milhões em 2020. Não basta o estudo da Escola Politécnica da USP advertindo que 25% da área construída na cidade de São Paulo já se destina a garagens? É preciso relembrar a análise da Associação Nacional de Transportes Públicos segundo a qual essas garagens, somadas ao espaço de ruas, praças, etc., chegam a mais de 50% do espaço urbano? Para equipamentos que, em média, permanecem ociosos mais de 80% do tempo? Ou recordar outro estudo, mencionado aqui, segundo o qual as duas horas médias perdidas a cada dia nos deslocamentos por 5 milhões de pessoas na cidade de São Paulo, multiplicadas pelo valor médio da hora de trabalho, gerariam - se fosse possível a conversão - uma soma superior a R$ 30 bilhões anuais? Suficiente para, em uma década, dotar toda a cidade de linhas de metrô?

Muitas vezes foram mencionadas aqui soluções adotadas em outras partes do mundo, sem necessidade de radicalismos - criação de pedágios urbanos em áreas de maior trânsito e de espaços exclusivos para o transporte coletivo motorizado (dobrando sua velocidade, como em Londres), necessidade de tirar de circulação um veículo antigo para licenciar um novo. Muitos caminhos já presentes em cidades europeias e asiáticas, de dimensões e com problemas menores que os paulistanos.

Aproxima-se a hora das eleições municipais. O tema central para elas não pode ser outro senão os megaproblemas municipais e da região metropolitana. Não se pode continua no ramerrão que a nada conduz fora do atendimento da pauta imposta por executores de grandes obras, financiadores de campanhas eleitorais. Não são eles que enfrentarão os diagnósticos assustadores que vêm de toda parte.

Ueba! Bacalhau Sheila Mello! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 06/04/12


E eu debocho, mas sou católico apostólico baiano. Acredito em tudo! Até que o Demóstenes é honesto!

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Páscoa! Flamengo leva chocolate! Pra honrar a Páscoa, o Flamengo levou um chocolate! Do Emelec! O time era uma emeleca!
E olha a placa no supermercado da Lapa: "Bacalhau Sheila Mello! R$ 65/kg". Que tal começar a Semana Santa comendo a Sheila Mello?!
E sabe o que o papa falou pros padres pedófilos nesta Sexta-Feira da Paixão? "Atenção, bispos: hoje só podem comer PEIXE." Rarará!
E a Dilma ganhou um ovo de PACoa! Rarará. Essa é bem infame! A Dilma botou um ovo de PACoa!
E oba! Hoje é dia de contar todas as piadas de Santa Ceia! Sabe o que Cristo falou pros apóstolos na Santa Ceia? "Fica, vai ter bolo!" Rarará! Aliás, o que Cristo falou pros apóstolos? "De sobremesa, vamos ter quindim." E os apóstolos: "MAS NÃO ERA BRIGADEIRO?". Rarará!
E diz que o garçom perguntou pra Cristo: "Cada um paga a sua ou o senhor vai pagar a conta toda?". E tinha garçom na Santa Ceia? Claro! Voce acha que era self-service? Por quilo? Quilão!
E sabe por que não tinha japonês na Santa Ceia? Porque ele estava tirando as fotos. As fotos dos apóstrofos, como disse o Lula!
E eu debocho, mas sou católico apostólico baiano. Acredito em tudo! Até que o Demóstenes é honesto! Sou ateu místico. E na Bahia teve o Dia do Orgulho Ateu. No morro do Cristo. Sabe quantas pessoas foram? 89! Rarará! Sendo que 80 deviam estar passando por acaso!
E um amigo disse que vai passar a Páscoa rezando: "Porque, se Deus fez isso com o filho dele, imagine comigo que ele nem conhece".
E hoje é dia de enfrentar o batatalhau da sogra: dez quilos de batata e uma lasquinha de bacalhau! Quem pega a lasquinha de bacalhau levanta e bate palma. E sabe qual o peixe que se atira do décimo andar? AAAAATUM!
E quando eu era menino não podia dar risada na Semana Santa. Se eu desse risada, minha mãe mandava calar a boca! Não podia apresentar sinais exteriores de felicidade. No rádio, só música clássica!
E não podia transar também. Por isso o ditado: mais duro do que quenga em Semana Santa!
E um pescador botou a placa na porta da casa dele: VEDE PEXE! E, numa barraca de feira em Salvador, a placa: Aqui até o peixe-espada é fresco! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

De braço dado com Cachoeira - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


No fecho de editorial sobre o envolvimento do senador Demóstenes Torres com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, publicado na quarta-feira (4/4), perguntávamos, a respeito das atividades do chefe da jogatina em Goiás: "Até onde terá chegado esse indivíduo, agindo com desenvoltura - e impunemente - há anos, graças a suas privilegiadas relações políticas?". Reportagem publicada no mesmo dia por O Globo levanta o que, aparentemente, é a ponta do véu que encobre as atividades criminosas do contraventor goiano e demonstra que a impunidade de que até agora ele tem desfrutado certamente se deve às relações políticas que mantém com agentes públicos importantes em todos os níveis de governo e da Polícia Federal (PF), além de empresários que o auxiliam na tarefa da lavagem de dinheiro. Revela a matéria que, além do dinheiro vivo, outra importante moeda de troca de Cachoeira com as autoridades que o beneficiam e protegem são informações policiais sigilosas que lhe são vazadas por uma ampla rede de agentes que certamente não trabalham para ele de graça.

Desde o dia 29 de fevereiro Carlinhos Cachoeira é prisioneiro da Polícia Federal, indiciado com mais 81 pessoas, acusado de crimes como corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, exploração de jogo de azar - tudo apurado pela Operação Monte Carlo, que desarticulou a quadrilha que explorava caça-níqueis em Goiás. Grande proprietário de terras e de empresas beneficiadas por vantagens indevidas, obtidas por meio de seus contatos na política, Cachoeira, como ficou demonstrado pelos grampos telefônicos da PF, exerceu influência importante nos negócios do governo do Distrito Federal e, mais importante, nos domínios do governador de Goiás, por intermédio da chefe de gabinete, Eliane Pinheiro, que se demitiu do cargo. Apesar de o governador Marconi Perillo (PSDB) negar que tivesse conhecimento da relação de sua funcionária de confiança com o contraventor, as investigações da PF indicam que Cachoeira influenciou a nomeação dos ocupantes de vários cargos públicos em Goiás.

O sucesso de Carlinhos Cachoeira nas tarefas de ampliar seu elenco de cúmplices e de prosperar em seus negócios escusos só foi possível pela associação inescrupulosa entre o que é público e o que é privado. Esse nefasto tipo de lassidão moral se expressa na desculpa hipócrita de que não é possível administrar a coisa pública com base em "moralismos rígidos e inócuos" e de que é plenamente justificável algum nível de tolerância com os malfeitos para manter a máquina do governo em bom funcionamento. Recentemente, matéria jornalística divulgada por uma emissora de televisão chocou a Nação com a exposição do comportamento cínico de empresários e seus prepostos que ofereciam propina a quem pensavam ser um agente público com o argumento de que se trata de uma "prática normal" e até mesmo de uma imposição da "ética do mercado".

Embora esta não seja uma postura, pelas razões óbvias, abertamente assumida, ela inspira o comportamento de governantes que se vangloriam de, com paciência e habilidade, em nome do mais elevado interesse público, terem descoberto a fórmula infalível da governabilidade. É óbvio que os exemplos que vêm de cima, mesmo quando apenas inconscientemente percebidos, têm grande poder de influenciar, para o bem ou para o mal, o comportamento de uma sociedade. Até para fornecer, no caso de contaminação, desculpas para desvios de conduta. E esta talvez seja uma das explicações para o fato de que, como nunca antes na história deste país, se tende hoje a acreditar que a corrupção é algo inevitavelmente inerente ao trato da coisa pública.

As revelações das ligações de Carlinhos Cachoeira com políticos e funcionários públicos ajudam a explicar como o banqueiro do bicho goiano conseguiu prosperar em suas atividades ilícitas e permanecer impune por tanto tempo. A seu modo, Cachoeira e todos os demais empresários sem escrúpulos que gravitam em torno dos poderes públicos em todo o País são parceiros do pacto de poder que domina boa parte da governança brasileira em todos os níveis. E a tendência natural de parceiros é protegerem-se mutuamente. Pelo menos até que a casa caia.

Baixar a bola - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 06/04/12

A presidente Dilma pediu aos ministros da Casa que se abstenham de inflar as divergências na base do governo. Sua avaliação é que elas não representam uma ameaça real à sustentação parlamentar, mas integram uma luta entre os aliados para se cacifarem junto ao Planalto. A orientação é baixar a bola, evitando alimentar um clima de crise. Com o governo aprovado e a popularidade em alta, a presidente não leva a sério as ameaças.

Dilma no palanque eleitoral

Os partidos governistas estão soltando foguete. A presidente Dilma vai usar o mês de abril para lançar vários programas voltados para os municípios. Será uma mão e tanto para os aliados, principalmente para os candidatos do PT e do PMDB, enfrentarem as eleições municipais de outubro. No dia 12, 2.600 prefeitos de municípios de até 50 mil habitantes estarão em Brasília, assinando contratos do Minha Casa Minha Vida. No dia 19, serão anunciados recursos para obras de mobilidade em grandes cidades. Por fim, no dia 24, será feito o anúncio da contratação de obras para a construção de creches e quadras esportivas.

Se o governo for dar ouvidos aos ambientalistas radicais, não saem as Usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, nem será votado o Código Florestal” — Henrique Alves, líder do PMDB na Câmara (RN)

COM AMIGOS ASSIM... As declarações do líder do PDT, André Figueiredo (CE), e do presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), 
retardaram o anúncio do novo ministro do Trabalho. A presidente Dilma não gosta de agir sob pressão e resolveu deixar os trabalhistas de molho. O deputado Brizola Neto (PDT-RJ), que acaba de reafirmar o controle do Diretório Municipal da cidade do Rio, está na muda.

Rachados
Os dois deputados do PSDB na Bahia não se entendem sobre as eleições de Salvador. Antonio Imbassahy, que já foi prefeito, quer ser candidato. Jutahy Magalhães Júnior quer apoiar o candidato do DEM, o deputado ACM Neto.

Namoro
Isolado na política nacional e estadual, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) decidiu sair das cordas. Ele está se aproximando do governador Eduardo Campos (PSB-PE). No Senado, ele vai se manter na oposição ao governo Dilma.

O líder do PT subiu num banquinho...
Na falta de oposição mais contundente, o líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (PT), decidiu bater no governo. Anteontem, criticou na tribuna os ministros da Integração, Fernando Bezerra, e do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, reclamando da demora na liberação de verbas para as cidades baianas atingidas pela seca. Ontem, no Twitter, voltou à carga: “Ministro Pepe, o site do MDA vai tratar da seca na Bahia?

Desequilíbrio
Preocupação no Planaltocom o desequilíbrio do poder na bancada do PT na Câmara. O grupo do ex-líder Cândido Vaccarezza (SP), do ex-presidente João Paulo Cunha (SP) e de José Guimarães (CE) foi totalmente alijado do comando.

Linha de colisão

O movimento dos aposentados está numa encruzilhada. Aliado do governo até agora, pode passar para a oposição. O governo Dilma disse “não” ao seu principal pleito: reajustar as aposentadorias pelo índice do salário mínimo.

NO PLANALTO, existe o temor de que a Operação Monte Carlo não vá para a frente, por causa de irregularidades no processo de investigação.

BINGO.
 Em dezembro de 2012, quando a Câmara derrotou projeto do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) que legalizava bingos e caça-níqueis, 15 deputados da bancada do Rio votaram a favor.

VOTARAM
 a favor: Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ministro do Esporte; Mendes Ribeiro (PMDB-RS), ministro da Agricultura; e Jilmar Tatto (SP), líder do PT.

Vício insanável - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


Nada, por enquanto nada mesmo, autoriza a crença na disposição da Câmara de seguir adiante na ideia de abrir uma CPI para apurar o envolvimento de deputados de vários partidos com o "esquema Cachoeira" ou mesmo de levar suas excelências a se explicar perante o Conselho de Ética.

É possível até arriscar um palpite sobre o real empenho do Senado na abertura de processo de cassação do mandato de Demóstenes Torres: pelo jeitão do corpo mole parece que a maioria ali prefere dar-se por satisfeita com a desmoralização do senador e tocar a vida sem correr o risco de reabrir antigas feridas.

Noves fora as exceções, o Legislativo anda bastante contente com a paz (de cemitério) reinante com a desmobilização dos instrumentos de fiscalização das instâncias internas de depuração.

Não faltam temas para CPIs nem candidatos a julgamentos sobre a observância ao decoro. No entanto, há tempos não se acionam nem um nem outro, assim como já não servem para coisa alguma os convites a autoridades para prestações de esclarecimentos ao Parlamento.

Reativar tais mecanismos não parece ser intenção da maioria. Dado o volume do passivo acumulado, do ponto de vista do instinto coletivo de autodefesa poderia significar a abertura de um precedente perigoso.

Demóstenes Torres não seria beneficiado pelo "vício insanável da amizade" - expressão usada pelo notório Edmar Moreira (o deputado do "castelo") para definir o principal obstáculo a punições -, pois os amigos que fez ali estão entre as exceções e os demais confirmam a regra.

Por terem sido alvos do senador na face clara de sua vida agora descoberta dupla, podem querer mostrar-se ao público em brios. O problema, porém, é a falta de credibilidade.

Só no Senado dois ex-presidentes - Renan Calheiros e Jader Barbalho - tiveram de renunciar ao posto, e um deles ao mandato por envolvimento em escândalos de corrupção e tráfico de influência.

A despeito de todas as avaliações sinalizarem a cassação e apesar da existência de motivos suficientes para que seja esse mesmo o desfecho, não se deve descartar a hipótese de Demóstenes Torres acabar tirando proveito da ausência de autoridade moral do Congresso para tratar do assunto quebra de decoro.

Um terço dos integrantes dos conselhos de ética das duas Casas tem contas a prestar ao Supremo Tribunal Federal, sendo o presidente do colegiado da Câmara ninguém menos que um réu do processo do mensalão.

Nesse ambiente, francamente, convém desconfiar antes de depositar alguma esperança no bem feito.

Liturgia. O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), tenha paciência, mas a um tipo como Carlos Augusto Ramos, vulgo Cachoeira, mal se deve atender ao telefone, muito menos conceder audiência.

Seja a pedido de quem for. Ele alega ter atendido solicitação do então prestigiado senador Demóstenes Torres e de "outras duas pessoas" e que recebeu o contraventor "como empresário" para tratar de "assuntos relativos à indústria de medicamentos".

Para essas coisas existem anteparos, assessores encarregados de, entre outras funções, fazer a triagem de quem pode ou não entrar no gabinete do governador.

Se Marconi Perillo usasse seu discernimento, não cedesse a condições outras e recusasse reunião com quem já protagonizara flagrante oferta de propina (a Waldomiro Diniz), hoje não teria de explicar o inexplicável.

Os tucanos reclamam do "vazamento seletivo de informações" por parte da Polícia Federal, mas deixam de lado o exame do fato de das possíveis implicações decorrentes.

Olho por olho. A formação de um bloco parlamentar com o PTB não apenas não significa que o PR tenha recuado da posição de confronto com Dilma, como indica que para o governo às vezes pode ser mais vantajoso ter uma base desunida que uma unidade construída com base na lei de Talião.

Energia solar em crise - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 06/04/12


A Q-Cells alemã, uma das maiores fabricantes mundiais de painéis solares, pediu concordata. É o fim de uma "história de sucesso". Criada em 1999, a Q-Cells navegava de vento em popa. No seu auge, em 2007, o valor da empresa chegou a atingir 10 bilhões. Sua ação chegou a valer 80. Hoje, ela vale 0,50. Em 2011, a Q-Cells faturou apenas 1 bilhão, registrando um prejuízo de 845 milhões.

No entanto, a Alemanha estava solidamente instalada na primeira fila dos países fotovoltaicos. Ela representava 26% das instalações de energia solar em nível mundial. O país tem uma potência solar instalada de 24.700 megawatts, 10 vezes mais que a França.

O colapso da Q-Cells é um sinal ainda mais sombrio porque outras três empresas alemãs enormes de energia solar já capotaram, a Solarhybrid, a Solar Millenium e a Solon. Na França, o setor não está nada bem, tampouco: a Photowatt esteve a ponto de desaparecer no ano passado e só foi salva pelas intervenções do poderoso grupo francês de eletricidade EDF.

Estamos em pleno paradoxo: no mundo inteiro, a crise energética se perfila e se aproxima. Particularmente na Alemanha. Aliás, esse grande país consumidor tomou a decisão de extinguir a produção de energia nuclear até 2022. Portanto, está condenado a desenvolver suas energias limpas - sobretudo a solar e a eólica.

Ora, a energia solar, como se percebe agora com a queda da Q-Cells, está à deriva. A outra grande forma de energia prevista pela Alemanha, a eólica, também enfrenta problemas.

É bem verdade que Berlim fez um belo esforço e prevê que, dentro de 10 anos, os parques eólicos do Mar Báltico gerarão 13 mil megawatts, o equivalente a 10 centrais nucleares. Hoje se percebe, porém, que a interligação dos parques eólicos do Mar Báltico com a malha elétrica é mais cara do que se previa, A holandesa Tennet, que está encarregada dessa conexão, avaliou o custo em 15 bilhões e está pedindo ajuda ao Estado alemão.

Como explicar, então, essas quebras em cadeia na energia solar? Duas razões: a primeira é que o Estado alemão decidiu, agora que a eletricidade solar é operacional, reduzir suas subvenções a esse tipo de energia. E a segunda é a que é brandida sempre que alguma coisa dá errado na economia ocidental. É culpa da China, vociferam os europeus.

É fato que a China criou gigantes de painéis fotovoltaicos que produzem painéis solares bem mais baratos que as empresas europeias e de qualidade igual. Mas alguns especialistas condimentam essa onda de pânico. Eles calculam que a China também se encontra em dificuldade.

"Caminhamos para uma debandada", clamou, em dezembro passado, o presidente das indústrias chinesas ligadas à energia solar.

Essas dificuldades nas energias solar e eólica ameaçam criar, a prazo, um bloqueio nos países industriais, ao menos se a crise do petróleo tão amiúde profetizada, se confirmar. Mas será que estamos indo realmente para o fim do petróleo, para o esgotamento das reservas mundiais? A questão é controversa.

O aprimoramento das tecnologias e a elevação do preço têm o efeito automático de aumentar as reservas de petróleo. Ao contrário das previsões pessimistas, as reservas mundiais de petróleo não estão se esgotando, estão aumentando. No início dos anos 1970, elas eram estimadas em trinta anos de consumo. Em 2010, esse valor subiu para 40 anos de consumo.

É bem verdade que, para obter esse resultado, os homens são obrigados a procurar o petróleo cada vez mais longe, explorar as jazidas de xisto betuminoso, às custas de massacrar o meio ambiente, e, por fim, de perfurar poços submarinos cada vez mais fundos, com o risco de provocar catástrofes terríveis.

O incêndio do gás numa plataforma da francesa Total, ao largo da Escócia (em Aberdeen) nos lembra há uma semana dessa lei cruel. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

A praga da corrupção - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 06/04/12

Enquanto no país prevalecer a postura de tratar a corrupção dos aliados e correligionários como uma questão política, e demonizar a corrupção dos adversários, não teremos condições de controlar essa verdadeira praga, que não é "coisa nossa", pois está espalhada pelo mundo globalizado, mas que tem encontrado entre nós um acolhimento incomum devido à legislação frouxa e à cultura da impunidade que por aqui impera.

Por isso, quando volta e meia relatórios do Departamento de Estado dos Estados Unidos ou de outro governo qualquer classificam nossa corrupção de endêmica, é preciso entender a palavra como uma metáfora, e não ficar com o nacionalismo à flor da pele.

Não se diz que a corrupção no Brasil é endêmica por se tratar de uma doença típica dos trópicos, por exemplo, mas para explicar que ela se espalhou pelo organismo social do país, e essa parece ser uma verdade irrefutável.

No índice da Transparência Internacional, o Brasil caiu da 45 para 73 posição entre 2002 e 2011, uma piora considerável durante os governos petistas.

Mas o partido que está no poder usava o combate à corrupção como sua marca antes de chegar à Presidência, e tentou manter as aparências nos primeiros tempos de poder central.

O ex-ministro José Dirceu cunhou o slogan, que repetia seguidamente, "este é um governo que não rouba nem deixa roubar", até que seu assessor político Waldomiro Diniz foi denunciado por um vídeo, que o mostrava recebendo propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira quando trabalhava nas Loterias do Rio de Janeiro no governo Garotinho.

O vídeo era antigo, mas revelava uma aptidão de seu principal assessor no Congresso nada adequada aos cargos que ocupava.

Com a revelação do mensalão, e de métodos nada ortodoxos de atuação política de petistas à frente de prefeituras pelo país, especialmente paulistas, ficou claro que a diferenciação do PT dos outros partidos que acusava existia apenas no marketing político.

Diferentemente dos outros partidos, no entanto, no PT ser corrupto não invalida a atuação política de um líder importante.

Ao contrário, o partido, mesmo que tenha no primeiro momento que fingir estar se livrando do filiado apanhado em flagrante, assume a proteção de seus políticos acusados até que o tempo ajude a nublar a memória do cidadão mediano.

E todos vão sendo acomodados novamente na burocracia partidária ou mesmo nos diversos escalões dos governos que o PT assume, como se não devessem nada.

O caso do senador Demóstenes Torres é emblemático. Seu ex-partido, o DEM, abriu um processo de expulsão que o obrigou a se desfiliar, o mesmo tratamento dado anteriormente ao ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda.

Quem o PT expulsou de suas fileiras nos últimos anos, quando escândalos de diversos quilates estouraram no seu colo?

Apenas seu tesoureiro à época do mensalão, Delubio Soares, que nunca perdeu sua situação de prestígio dentro do partido e foi finalmente reconduzido oficialmente de volta no ano passado, antes mesmo do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, numa tentativa de inocentá-lo publicamente antes do veredito oficial.

José Dirceu continuou com tanta importância dentro do PT que se tornou um consultor de empresas altamente requisitado justamente por seu prestígio pessoal junto aos presidentes petistas e demais autoridades governamentais.

Ele mesmo admitiu em entrevista que um telefonema seu tinha um peso diferenciado.

O PSDB teve o mesmo comportamento do PT em relação ao hoje deputado federal Eduardo Azeredo, acusado de ter dado origem ao esquema do mensalão na campanha em que se candidatou a governador de Minas com o mesmo Marcos Valério que mais tarde surgiria organizando o mensalão petista.

É verdade que Azeredo perdeu a presidência do partido e o prestígio interno quando o escândalo estourou, e não conseguiu legenda para tentar se candidatar a senador, tendo se contentado a disputar uma vaga de deputado federal.

Em sua defesa, ele alega que sua situação nesse esquema é idêntica à do ex-presidente Lula, que não foi envolvido em nenhuma investigação do mensalão do PT.

Essas situações evidenciam que a questão da corrupção continua sendo um tabu entre nossos políticos, e a tendência de absolver seus pares é quase uma questão de autopreservação.

Agora mesmo não se consegue quem queira presidir a Comissão de Ética do Senado para iniciar um processo contra o senador Demóstenes Torres.

É impensável que o Senado não encare esse problema, e o mais provável é que ele seja julgado e condenado por quebra do decoro, mas todos os constrangimentos da corporação estão expostos aos olhos da opinião pública.

Uma outra característica de casos como os do bicheiro Carlinhos Cachoeira é que eles são multipartidários, isto é, acabam envolvidos parlamentares de vários partidos, independente de ideologia ou tendência política.

Por isso, a CPI do Cachoeira dificilmente será aprovada, pois não interessa a nenhum dos principais partidos: o PT, além de ter alguns deputados envolvidos nas escutas, não quer remexer no caso Waldomiro Diniz às vésperas do julgamento do mensalão.

O PSDB tem o governador Marconi Perillo perigosamente colocado em zonas de suspeição, já tendo uma assessora pedido demissão depois de flagrada em conversas telefônicas com Cachoeira em um Nextel.

Os dois, aliás, deram desculpas esfarrapadas sobre seus casos. A assessora disse que foi confundida com outra pessoa, e o governador que recebera o bicheiro a pedido do senador Demóstenes, e que Cachoeira jurara que já abandonara a contravenção.

Os petistas que acusam a mídia de ter "inventado" Demóstenes, transformando-o em um ícone da oposição mesmo sendo ele quem era, esquecem-se do caso do ex-ministro duas vezes Antonio Palocci, que nos governos Lula e Dilma foi tratado pela mesma mídia como o grande garantidor do equilíbrio político e econômico das gestões petistas.

Os dois, o ex-ministro e o senador, realmente exerceram os papéis que a mídia lhes atribuía. Só que, por baixo dos panos, tinham outras atividades desconhecidas até serem denunciadas.

Horário nobre - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 06/04/12

O PT definiu uma agenda de aparições em programas de TV de apelo popular para driblar a falta de espaço na propaganda eleitoral para exibir o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, no primeiro semestre. O foco são atrações da Rede TV! e do SBT.

A estreia deverá ser no "Manhã Maior", comandado por Daniela Albuquerque, mulher do presidente da Rede TV!, Amilcare Dallevo Jr. -o executivo e a cúpula petista se encontraram na quarta-feira. Na emissora, Haddad fará aparições, ainda, no sofá de Hebe Camargo e no "Superpop", de Luciana Gimenez. No SBT, o petista deve participar do "Programa do Ratinho".

Pedágio Na pré-campanha presidencial de 2010, a então candidata Dilma Rousseff também passou pelo teste dos programas de auditório, com direito a preparação de omelete -que virou uma fritada de ovos- durante visita ao mesmo "Superpop".

Fechado Por ora, o QG haddadista enfrenta dificuldade em inserir o pré-candidato na Globo, que decidiu adiar ao máximo sua entrada na disputa eleitoral.

Cidade limpa Ontem, Haddad visitou a praça Margarita de Albuquerque Gimenes, em Santana, que estava cheia de entulho, para evento de pré-campanha. Minutos depois, chegaram ao local dois caminhões da prefeitura para recolher a sujeira.

Reviravolta 1 O lobby para que Geraldo Alckmin contrariasse a lista tríplice do Ministério Público e nomeasse o segundo colocado, Márcio Rosa, uniu o atual procurador-geral, Fernando Grella, e o ex-ocupante do cargo Luiz Antonio Marrey, rivais históricos na instituição.

Reviravolta 2 Marrey foi personagem fundamental para Alckmin, antes bastante dividido, tomar sua decisão. O pré-candidato tucano à prefeitura, José Serra, também se manifestou a favor de Márcio Rosa.

Fla x Flu Os lobbies a favor de um e outro postulante agiram também no secretariado de Alckmin. Silvio Torres (Habitação) e Heloisa Arruda (Justiça) atuaram em favor de Felipe Locke, primeiro colocado e preterido pelo tucano. Saulo de Castro (Transportes), que é da carreira, fez campanha a favor de Rosa.

Ofício O ministro Guido Mantega (Fazenda) pediu para o corregedor-geral da Receita, Antonio Carlos d'Avila Carvalho, investigar a acusação do relatório da Operação Monte Carlo de que servidores do órgão facilitavam a entrada de contrabando do grupo de Carlinhos Cachoeira no aeroporto de Brasília.

Aí, não O advogado do senador Demóstenes Torres (GO), Antonio de Almeida Castro, o Kakay, contesta a tese do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) de que os defensores do caso Cachoeira vazaram informações. "Ele está falando como chefe de polícia, não como professor de Direito", protestou.

Na fila O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), estima reservadamente que a chance de instalar a CPI para investigar o esquema de Cachoeira é 9, em uma escala de 0 a 10. O petista só aguarda informações da Procuradoria-Geral da República sobre o caso, que devem ser encaminhadas após a Páscoa.

Que trazes? Dilma Rousseff não se sensibilizou nem com o feriado de Páscoa. Convocou ministros e assessores que integrarão a comitiva para os EUA a embarcar no domingo às 10h, sem direito a participar do almoço de família e da entrega dos tradicionais ovos de chocolate.

Tiroteio

Enquanto o PT homenageia Delúbio e tem José Dirceu como o grande andarilho das eleições, botamos para fora a segunda das nossas estrelas flagradas em denúncias.

DO PRESIDENTE DO DEM, SENADOR JOSÉ AGRIPINO (RN), sobre a decisão de afastar o senador Demóstenes Torres (GO) dos quadros do partido por conta de seu envolvimento com o acusado de contravenção Carlinhos Cachoeira.

Contraponto

Entre 'brimos'

O deputado Espiridião Amin (PP-SC) encontrou Gabriel Chalita (PMDB-SP) na Câmara e sugeriu que ele convidasse Fernando Haddad (PT-SP) para uma chapa "puro-sangue", brincando com a ascendência árabe dos candidatos. Mais tarde, Chalita reencontrou Amin:

-Eu vou é trazer o Paulo Maluf (PP-SP) para a campanha, e o Delfim Netto vai me ajudar!

Parafraseando o ex-ministro, Amin respondeu:

-Chalita, o Delfim não é malufista! Ele é malufólogo: está estudando o Maluf há 30 anos!

E o vento levou - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 06/04/12


A presidente Dilma Rousseff falou de improviso na reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas sobre a Rio+20. Não acertou o tom. Quem a ouviu falando em Copenhague, na COP-15, notou que ela avançou no entendimento da questão ambiental e climática. Mas ainda tropeça. Foi derrubada pelos ventos, pelas florestas, pelos atos do seu governo, pelas análises datadas que ainda não abandonou.

Segundo a presidente, não há espaço para fantasia. Certo. Melhor ficar nos fatos. "Eu não posso falar: olha é possível só com eólica iluminar o planeta. Não é. Só com solar, de maneira alguma. Por isso que tem que ter base científica a nossa discussão", disse a presidente.

Os fatos: nunca alguém defendeu iluminar o planeta apenas com vento e sol, mas sim aumentar a presença de fontes renováveis não convencionais, como essas duas. Cientificamente falando, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) fez um levantamento do potencial eólico e chegou a números que até parecem fantasia de tão bons. O potencial de energia dos ventos seria, segundo a EPE, de 143 gigawatts, ou seja, dez usinas da dimensão de Itaipu. E não tem feito medição offshore.

O vento é melhor, mais constante e necessário no Nordeste, exatamente a região que já não tem potencial hidrelétrico remanescente. Sol também não falta na região, mas ele tem sido tratado com ainda mais desprezo nas políticas públicas da área de energia. Esse descuido com os não convencionais está fazendo com que o Brasil perca a corrida pela ponta do processo.

Segundo a Clean Edge, uma consultoria internacional especializada em tecnologias limpas, a receita global de fotovoltaica (solar), eólica e biocombustível subiu 31% de 2010 para 2011, de US$ 188 bilhões para US$ 250 bilhões. Isso foi puxado pelo crescimento de dois dígitos da energia proveniente do vento e do sol. No biocombustível o que subiu foi o preço. A China foi, em 2011, líder global em novas instalações de usinas de energia eólica pelo quarto ano consecutivo: 40% de todas as novas instalações no mundo. A União Europeia está em segundo, depois, Estados Unidos, Índia e Canadá. As novas instalações de fotovoltaica aumentaram 69% de 2010 para 2011. E, por isso mesmo, os preços dessas energias não convencionais, que sempre foram argumento no Brasil para o não investimento, estão despencando. Caíram mais de 40% entre 2010 e 2011. A previsão é que até 2021 vai declinar a um terço do nível atual. O preço global de fotovoltaica era, em 2007, US$ 7,20 por watt. Em 2012, foi a US$ 2,69.

No Brasil também tem vento a favor. O governo adiou o que pôde, mas os fatos se impõem. A capacidade instalada saiu de 22 MW em 2003 para 1.471 em 2011. Com os projetos já contratados a previsão é que chega a 8.088 MW em 2016. O preço médio caiu a um terço desde 2005. Ainda é 1,6% apenas da matriz. A Abeólica acha que chegará a 5,4% em 2014.

Dilma fez críticas ao carvão. Está correta. Mas este ano três termelétricas serão inauguradas para queimar carvão importado da Colômbia. E há outros projetos de térmicas a carvão.

A presidente disse que na questão da água fica difícil para a população entender o problema porque nós temos "água excedente". Ressalvou apenas os períodos de seca do Nordeste. A seca do Nordeste este ano está feroz, mas o Sul teve recentemente um cenário nordestino e a Amazônia tem tido períodos de estiagem que esvaziam até o caudaloso Rio Negro.

Dilma revisitou a tese de que o Brasil está na frente dos outros países na sustentabilidade. Fantasia. O país está aprovando uma mudança no Código Florestal para reduzir as exigências de preservação. Há duas versões: a da Câmara e a do Senado. Uma é melhor que a outra, mas ambas são piores que o Código atual.

Segundo a presidente, "nós temos a sorte de ter a Amazônia conosco, com a consciência e a nossa capacidade de lutar para preservá-la". É uma sorte mesmo ter a Amazônia. Mas a temos perdido um pouco a cada ano. O que o governo apresenta como avanço de preservação é apenas queda do ritmo de destruição.

A presidente também elogiou o Brasil pelo etanol, mas seu governo tem mantido a política que desequilibra a relação gasolina etanol e põe em risco a indústria do álcool, pela qual o Brasil já pagou tão caro.

O país tem a grande vantagem da matriz energética, que mesmo com os combustíveis dá em torno de 50% de energia Limpa. O grande problema é a aposta tão forte em megausinas hidrelétricas no meio da Amazônia, cujas construções provocam desmatamento. E mais: os conflitos trabalhistas nos canteiros são um problema das empresas privadas e seus empregados, mas são tratados como questão de segurança nacional. Mandam-se tropas federais.

A presidente, apesar de todos esses pressupostos, afirmou: "Eu não acredito que nós possamos construir um novo modelo de desenvolvimento sustentável para o mundo sem lidar com os impasses em relação ao clima." Boa frase. Pena que, na prática, o Brasil tem trabalhado nas reuniões preparatórias da Rio+20 para que a questão climática não entre na agenda. Se for assim, o debate do Rio periga virar uma fantasia.

A inflação gorda está mais magra - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 06/04/12


IPCA cai mais do que previa o mercado e menos do que o alardeado pelo governo. A "verdade está no meio"?



A INFLAÇÃO de março surpreendeu os rapazes do mercado. Foi bem menor do que a prevista. Assim como foi maior do que previsto o tombo que a economia levou no segundo semestre de 2011. Assim como ninguém esperava tamanha lerdeza na atividade econômica do primeiro trimestre deste 2012.

O marasmo econômico, que já dura nove meses, tem a ver com a queda da inflação de 7,31% (IPCA acumulado em 12 meses até setembro de 2011) para os 5,24% de março?

Decerto, embora a inflação ainda esteja alta, acima da meta. Ainda que alto, o IPCA caiu até rápido. A fim de baixar a inflação à meta teria sido necessária uma recessão? O remédio seria amargo, mas a cura seria firme? Quem se arrisca?

Os últimos acontecimentos indicam que a inflação vai "convergir para a meta" em 2012, como diz o BC? Sabe-se lá. Juntadas as projeções para o restante do ano com a inflação até março, para bancos e consultorias mais otimistas o IPCA chega a uns 4,7% em setembro e por aí fica até o final do ano.

Outros, mais ponderados, acham que o IPCA fica em torno de 5,2% da metade para o final de 2012.

E daí? Daí que os imponderáveis são tantos que a gente não deve se perder em discussões sobre decimais. Isto posto, ressalte-se que:

1) Já entrado o terceiro trimestre de 2011, povos do mercado falavam até em "descontrole inflacionário". Não acreditavam nem no desaquecimento forte da economia. Ficaram perdidos, pois o Banco Central inovou no uso de instrumentos para frear a atividade econômica (não usou apenas a alta de juros) e teve a colaboração do governo, que limitou o crescimento de seu gasto, fator que foi aliás desprezado por muita gente no "mercado";

2) O próprio pessoal do BC reconhece que a freada econômica foi mais forte que o previsto na casa;

3) A desinflação dos preços ao produtor e no atacado foi muito rápida, o que corroborou a interpretação de governo e BC que preços de commodities e fatores externos ajudariam a conter o IPCA 2012;

4) O uso de uma bateria de instrumentos para combater a inflação pode ser eficaz, embora sua calibragem seja talvez mais difícil. Talvez: o efeito da redução da taxa básica de juros (a Selic) sobre os juros para o tomador final de empréstimos tem também lá suas manhas.

Tal efeito variou nas campanhas de altas de juros de 2008, 2010 e 2011. O próprio pessoal do BC aponta para esse imponderável e diz que, a depender de outras políticas, o efeito da Selic no juro final pode ser variado mesmo. Logo, dizem, o importante é buscar a meta de inflação, com a variedade de instrumentos mais razoáveis à mão, fazendo ajustes no decorrer do processo;

5) O BC tolerou uma inflação mais alta, ainda não a levou à meta, talvez não a leve. Parece considerar que, por vezes, o custo de conter logo a alta de preços é alto demais (o BC não admite ser "tolerante").

Para alguns críticos, isso é brincar com fogo, com o risco de inflação crescente. Para outros, irresponsável é jogar na retranca e fazer a economia crescer muito menos para abater dois décimos do IPCA;

6) Tudo somado, o nível da "taxa de juros de equilíbrio" baixou no Brasil? Talvez a gente chegue a uma conclusão daqui a uma década. Quando o assunto talvez não tenha nem mesmo relevância acadêmica.

Inflação mais magra - CELSO MING

O ESTADÃO - 06/04/12


A inflação de março, de só 0,21%, é boa surpresa. Terá importantes consequências na expectativa dos formadores de preços, no comportamento dos juros e, possivelmente, no avanço de outras decisões de política econômica.

A tendência é de que, até agosto, a inflação medida em 12 meses decline.

Mas não dá para dizer que embica para os 4,45% em 2012, como conta o Banco Central, porque essa inflação mais baixa poderá, por si só, encorajar o governo a autorizar reajustes de preços há meses represados, como os dos combustíveis.

De todo modo, a aposta do Banco Central, embora de risco, está mais perto de ser concretizada do que a do resto do mercado, que na semana passada era de 5,40%.

Concorre pesadamente para uma inflação mais baixa a forte redução da contribuição da economia externa. A inflação dos países avançados se situa ao redor dos 2% ao ano, quadro que deverá ser mantido por muitos meses. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), por exemplo, avisou que não espera ataque da inflação nos próximos meses e que os juros básicos (Fedfunds) permanecerão ao redor de zero por cento ao ano "atémeadosde2014". Essa tendência provoca relativa estabilidade nos preços das matérias-primas e commodities, fato que se reflete no achatamento da inflação dos preços no atacado aqui no Brasil e no reajuste dos preços administrados pelo IGP-M (índice em que a evolução dos preços no atacado tem peso de 60%).

A grande incógnita para o comportamento da inflação nos próximos meses no Brasil será o comportamento do setor de serviços, de onde provêm as maiores pressões de alta. De todo modo, já se vê certa desaceleração no avanço dos preços também aí (veja o Confira).

Os comunicados oficiais do Banco Central apontam expansão dos salários acima dos índices de produtividade da mão de obra com o fator de aceleração dos preços, por elevar a demanda por bens e serviços além da capacidade de oferta da economia. Também se pode contar com reajuste do salário mínimo bem abaixo dos 14,13% de janeiro. A regra já consagrada é a de que esse reajuste corresponderá à evolução da inflação do período mais a média do crescimento do PIB dos dois anos anteriores. Sugere que o reajuste do salário mínimo em janeiro de 2013, a ser levado desde já em conta, não passará dos 10%.

Boa pergunta quer saber se o Banco Central reduzirá os juros básicos (Selic) para abaixo dos 9,00% ao ano apontados na última reunião do Copom o use os manterá estabilizados nesses patamares, como consta na última Ata do Copom.

O mercado financeiro deverá pressionar o governo para que mude rapidamente as regras da remuneração da caderneta de poupança, por temer o esvaziamento dos fundos de renda fixa. Mas o governo se empenha agora em baixar a margem dos bancos,como já fez na área do crédito (spread). Se a caderneta prometer rendimento acima do que o da maioria dos fundos,os bancos terão novo foco de pressão para reduzir as atuais taxas de administração cobradas nos fundos de renda fixa

Retificação

Ontem, ficou dito aqui que a manifestação contra a política industrial do governo organizada quarta-feira, em São Paulo, por sindicalistas e dirigentes da Fiesp, teve 80 mil pessoas. Cálculos mais precisos não contaram mais do que 10 mil

MADONNA NA TRAVE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 06/04/12



O São Paulo está abrindo negociação com a produção dos shows de Madonna no Brasil para tentar mudar a data das apresentações dela no estádio do Morumbi. A cantora reservou os dias 4 e 5 de dezembro. Só que a CBF marcou o clássico do Tricolor contra o Corinthians para o dia 2. Madonna teria só um dia para montar a parafernália de seus shows.

MADONNA 2

O clube nem sonha em mudar o jogo com o arquirrival de lugar. Como será a última rodada do Brasileirão, é possível que o time precise muito de uma vitória. Disputar a partida fora de casa revoltaria a torcida.

MADONNA 3

As outras datas previstas de shows de Madonna são dias 1º de dezembro no Rio e 9, em Porto Alegre.

LADY CÁ

E já começa a ser definida a data em que Lady Gaga desembarcará: ela deve se apresentar no Brasil na segunda semana de novembro.

SEM COUVERT

Quem almoçava no restaurante Nonno Ruggero do hotel Fasano, anteontem, teve uma surpresa. O roqueiro Roger Waters estava no terraço cantando músicas com o violão no colo.

BOAS NOVAS

A top Fernanda Tavares, 32, acaba de assinar um contrato com o canal pago GNT. Será apresentadora de uma nova atração sobre beleza. "O programa veio na hora certa", diz. Ela está grávida de três meses do segundo filho com o ator Murilo Rosa. Os dois já são pais de Lucas, 4. "Não quero saber o sexo do bebê, vai ser surpresa."

MELHORES MOMENTOS

Os atores Paulo José, Selton Mello, Daniel Alvim e Julia Lemmertz foram à cerimônia de abertura e premiação do festival Sesc Melhores Filmes. As diretoras Cecília Amado e Clarissa Campolina, entre outras personalidades, também circularam pelo evento, que aconteceu anteontem, no Cinesesc.

VALSA DO ADEUS

O presidente do Memorial da América Latina, Antonio Carlos Pannunzio, já manifestou informalmente ao Palácio dos Bandeirantes que pretende deixar em breve o cargo, que assumiu há pouco mais de sete meses. Ele deve ser o candidato tucano à Prefeitura de Sorocaba.

PROCURA-SE

A disputa entre o site Buscapé, de comparação de preços, e o Google foi parar na Justiça. O primeiro propôs ação para impedir que os produtos do Google Shopping apareçam logo em cima e até com fotos na página principal do site de buscas, em prejuízo dos concorrentes. Pediu liminar, que foi negada. O Buscapé recorrerá ao Tribunal de Justiça de SP.

FAZ DE MIM ESTRELA

A apresentadora Xuxa vai cantar "Lua de Cristal" com Alexandre Pires na gravação do DVD dele, "Eletro Samba", no dia 11, em São Paulo. E Sabrina Sato, do "Pânico na Band", dançará uma das músicas do show.

PERNOCAS

A cantora Roberta Miranda circulou com um shorts curtíssimo em evento nesta semana. "Perdi dez quilos. Agora, é só perna de fora. Se a Hebe pode, eu também posso", disse.

CURTO-CIRCUITO

A festa Killing the Dance acontece hoje no clube Glória. 18 anos.

A artista plástica Simone Grecco expõe seus desenhos no restaurante Ruaa a partir de terça.

Seu Jorge abrirá a 12ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (SP), que começa em 24 de maio.

Economia religiosa - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 06/04/12

SÃO PAULO - Concordo em gênero, número e caso com dom Tarcísio Scaramussa, da CNBB, quando ele afirma que não faz sentido nem obrigar uma pessoa a rezar nem proibi-la de fazê-l o.

A declaração do prelado vem como crítica à professora de uma escola pública de Minas Gerais que hostilizou um aluno ateu que se recusara a rezar o pai-nosso em sua aula.

É uma boa ocasião para discutir o ensino religioso na rede pública, do qual a CNBB é entusiasta. Como ateu, não abraço nenhuma religião, mas, como liberal, não pretendo que todos pensem do mesmo modo.

Admitamos, para efeitos de argumentação, que seja do interesse do Estado que os jovens sejam desde cedo expostos ao ensino religioso. Deve-se então perguntar se essa é uma tarefa que cabe à escola pública ou se as próprias organizações são capazes de supri-la, com seus programas de catequese, escolas dominicais etc.

A minha impressão é a de que não faltam oportunidades para conhecer as mais diversas mensagens religiosas, onipresentes em rádios, TVs e também nas ruas. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem mais templos (algo em torno de 4.000) do que escolas públicas (cerca de 1.700). Creio que vale aqui a regra econômica, segundo a qual o Estado deve ficar fora das atividades de que o setor privado já dá conta.

Outro ponto importante é o dos custos. Não me parece que faça muito sentido gastar recursos com professores de religião quando faltam os de matemática, português etc. Ao contrário do que se dá com a religião, é difícil aprender física na esquina.

Até 1997, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação acertadamente estabelecia que o ensino religioso nas escolas oficiais não poderia representar ônus para os cofres públicos. A bancada religiosa emendou a lei para empurrar essa conta para o Estado. Não deixa de ser um caso de esmola com o chapéu alheio.

CLAUDIO HUMBERTO

“O que ela fez foi pagar R$ 700 mil que o ministério me devia”
José Galizio Neto, dono de empresa de lanchas, isentando ministra Ideli de denúncias

RETORNO DO PR AJUDA RENAN A SUBSTITUIR SARNEY

Os senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Alfredo Nascimento (PR-AM) estão entre os principais articuladores da formação do bloco do PTB-PR, menos de um mês depois de o partido do ex-ministro dos Transportes anunciar rompimento com o governo. Além de aumentar o poder do PTB e do PR em comissões e relatorias, a iniciativa fortalece a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado.

VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

O líder do PTB, Gim Argello (PTB-DF), fez a costura final do novo bloco e levou a Dilma a notícia do retorno do PR à bancada governista.

BRIGA AMAZONENSE

A pretensão de Eduardo Braga (PMDB-AM) de presidir o Senado estimulou o inimigo Alfredo Nascimento a apoiar Renan Calheiros.

ÚLTIMOS A SABER

O líder do governo, Eduardo Braga, e a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foram os últimos a saber da formação do bloco PTB-PR.

NÃO QUER QUERENDO

Renan não admite que deseja presidir o Senado, até porque Dilma o prefere governador de Alagoas; mas a bancada do PMDB o pressiona.

PMDB MANDA SECRETÁRIOS DEIXAR CARGOS EM SP

A cúpula do PMDB deu um ultimato aos secretários municipais Bebetto Haddad (Esportes, Lazer e Recreação) e Uebe Rezeck (Participação e Parceria) para entregarem, até hoje, os cargos na Prefeitura de São Paulo. O partido avalia que a permanência dos dois na gestão de Gilberto Kassab só atrapalha a campanha de Gabriel Chalita a prefeito. O peemedebista tem feito ataques diretos a José Serra e Kassab.

NÃO LARGA O OSSO

Além dos apelos da direção estadual, o vice-presidente Michel Temer também pediu que eles saíssem da prefeitura. Não obteve resultado.

JOÃO SEM BRAÇO

Bebetto Haddad ignora as pressões do partido e chegou a declarar que pretende ficar na secretaria até dezembro.

OLHO NA ASSEMBLEIA

Já o suplente Uebe Rezeck nutre a esperança de assumir a cadeira do deputado Jorge Caruso (PMDB), cotado para conselheiro do TCE-SP.

OS ESPECIALISTAS

Ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) fala da “democratização das comunicações” na Universidade Federal do Ceará, na sexta (13). Com ele, o embaixador da Venezuela, Maximilien Arvelaizo.

LEI IVY-BEATRIZ

O senador Magno Malta (PR) sugere chamar de Ivy-Beatriz a lei que facilita aposentadoria a pessoas com deficiência, em homenagem às filhas de Romário e Lindberg Farias. As duas têm Síndrome de Down.

OLHA O NÍVEL

Diretor da Petrobras, ex-deputado federal e ex-presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra comemorou no Twitter os 77% de aprovação pessoal de Dilma: “Como se diz lá em Sergipe, enfia o dedo e rasga!”.

ESCRACHADO

Um tal “Levante Popular da Juventude”, que se diz apolítico, agradeceu o “apoio” do presidente nacional do PT, Rui Falcão, aos “escrachos”, dias atrás, pichando casa de supostos “torturadores” na ditadura.

DUELO DE NANICOS

O senador Randolfe Rodrigues (AP) faz galhofa com a nova crise envolvendo o DEM, após o escândalo José Roberto Arruda e a criação do PSD: “Em pouco, a bancada do PSOL estará maior que a do DEM”.

ERROU NO MILHAR

O governador Marconi Perillo (PSDB-GO) disse que em “boa fé” acreditou na “regeneração” do bicheiro Carlinhos Cachoeira, com quem se encontrou três vezes. Se antes tivesse feito uma “boa fezinha”...

DEM ESVAZIADO

O vice-governador do Distrito Federal, Tadeu Filippelli, aproveitou a crise no DEM para acertar de vez, em café da manhã, ontem, com o democrata Antônio Gomes, a ida de dez membros do partido ao PMDB.

BARCO À DERIVA

A Marinha está perdida na perícia do incêndio que destruiu a base na Antártida, matando dois militares, em 25 de fevereiro. Disse à coluna, há cinco dias, que “acha” que está no prazo, mas ainda não concluiu se foi o fogo nos motores a diesel ou a combustão do etanol, mais rápida.

PENSANDO BEM...

... Cachoeira que molha Chico também molha Francisco. 

PODER SEM PUDOR

LUGAR GARANTIDO

Era a nomeação mais óbvia da História. Após coordenar a campanha de Jânio Quadros para presidente, todos davam como certa a nomeação do coronel Virgílio Távora para o ministério. Mas os dias foram passando e convite, que era bom, nada. Távora foi direto ao assunto:

– E, então, presidente, qual é o meu lugar no governo?

Jânio o abraçou, como tamanduá, e liquidou sua esperança:

– Meu velho amigo, o teu lugar é no meu coração...