quinta-feira, março 15, 2012

US$ 6 tri adiam o pior - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 15/03/12


Houve um grande alívio esta semana no mercado financeiro e isso porque, acreditem, foi oficializado o "calote voluntário" da dívida grega, que vinha sendo negociado há mais de dois anos. Lá fora, tudo bem por enquanto, mas as tensões cambiais aumentaram.

Os detentores de títulos gregos, principalmente bancos, perderam 107 bilhões - 95% do total da dívida -, mas preferiram perder a não receber nada e ainda provocar uma nova crise financeira, talvez maior do que a de 2008. Vão comprar agora novos títulos com juros mais baixos e prazos mais longos. Mesmo assim, isso só foi possível porque o Banco Central Europeu está oferecendo desde dezembro, empréstimos, que já chegam a 1 trilhão.

Os bancos e os investidores estão capitalizados, e podem não só comprar os novos títulos gregos, mas também financiar novamente a atividade econômica na Europa atenuando a recessão anunciada no primeiro semestre do ano.

Nos Estados Unidos,15 dos 19 principais bancos passaram esta semana por severíssimo teste de estresse, o Fed reafirma que intensificará a vigilância e há sinais cada vez mais consistentes de crescimento, o desemprego recua há seis meses e agora até o consumo aumentou. O Fed vai manter juros negativos. Só o mercado imobiliário ainda não reage.

Um preço caro. Tudo isso teve um custo alto, com os bancos centrais dos países mais atingidos pela crise financeira emitindo cerca de US$ 6 trilhões desde 2008 em grande parte aplicado a juros reais negativos até menos nos EUA e na Europa. Paul Krugman lembrou que há investidores até pagando para comprar títulos do Tesouro americano.

Brasil em duas frentes. A equipe econômica está abrindo duas frentes para combater essa onda de liquidez que desvaloriza o dólar, valoriza o real, ajuda a conter a inflação, que não sobe, mas prejudica seriamente a indústria brasileira.

A primeira, é impor restrições ao capital financeiro que entra, mesmo sabendo que isso tem efeito limitado. Outra é desonerar a indústria e reduzir o juro interno que estimulariam a produção e tornariam menos rentáveis as aplicações financeiras atraídas pela relativamente elevada taxa de juros interna. Nos dois casos, há riscos e benefícios. Leva empresas a adiarem investimentos diretos em produção, no Brasil, que hoje cobre em grande parte o déficit em transações correntes. A Sobeet, que acompanha dia a dia esse mercado, fez um alerta, os investimentos diretos no Brasil vêm caindo nos últimos meses. Para a entidade, não se sabe ainda se por conta das últimas restrições cambiais.

Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus Klotlze, a insistência do governo no tema cambial pode já ter, sim, efeitos nocivos. Na visão dele, houve uma prévia desse movimento na semana passada, quando o real caiu da primeira para a quinta posição no quesito valorização. "Se eu não sei qual a regra de IED amanhã, por que investir no Brasil e não na Austrália, no México, no Canadá ou mesmo na África do Sul?", diz o economista, acrescentando que esse cenário pode prejudicar os interesses do País em atrair capitais para infraestrutura.

É preciso clareza. O que todos recomendam é mais clareza sobre quais as medidas que ainda estariam no "arsenal"do governo sobre o tratamento do capital externo. Enquanto isso, vão ficar esperando.

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