segunda-feira, março 19, 2012

Fermento do PIB - GEORGE VIDOR


O Globo - 19/03/12 


A grosso modo, para cada ponto percentual de aumento da taxa de investimento a economia brasileira pode crescer 0,4 ponto de forma sustentável (sem atiçar a inflação, por exemplo). Por esse cálculo — apresentado por Regis Bonelli, pesquisador do Ibre da Fundação Getúlio Vargas — o Brasil precisa que a taxa de investimento evolua para 24% ou 25% do Produto Interno Bruto (PIB), diante dos 19,3% de 2011.

Somente assim a economia brasileira teria condições de crescer ao ritmo desejável de 6% ao ano. Por enquanto, teremos que nos contentar com um máximo de 4%. Não é pouco, pois com uma expansão de 2,7% o país conseguiu gerar muitos empregos formais, com carteira assinada, no ano passado São empregos de mais qualidade, com salários capazes de atrair um número crescente de pessoas para o trabalho.

A população brasileira agora aumenta menos de 1% ao ano. E a população economicamente ativa, disposta ao trabalho, ainda vem se expandindo em torno de 1,5% (em face do maior crescimento demográfico de quinze, vinte anos atrás). Portanto, a renda média por habitante continuará em ascensão razoável mesmo que a economia não consiga crescer além de 4% ao ano.

No entanto, se mantido um ritmo abaixo de 4%, os brasileiros podem ter a sensação que "estacionaram".

Para alguns especialistas, embora a renda média por habitante do país esteja na faixa de US$ 10 mil (em geral são consideradas ricas as economias com renda per capita acima de US$ 20 mil), os brasileiros, ajudados pelo crédito, já se comportam de maneira semelhante aos que estão no patamar de US$ 15 mil a 16 mil. É um fenômeno, evidenciado pela antecipação de consumo e/ ou contratação de dívidas de mais longo prazo (para a compra da casa própria e bens duráveis, como automóveis, geladeiras, aparelhos eletroeletrônicos, mobília).

Tal sensação tem como impulso inicial o aquecimento do mercado de trabalho, de norte a sul, de leste a oeste, com ganhos reais de salários, mas tende a perder força. Não é garantido que, quando o Brasil chegar a ter uma renda média de US$ 15 mil a sensação de riqueza será de US$ 20 mil. Pode ser até que os padrões de consumo não se alterem em relação aos percebidos atualmente.

Mas esse quadro pode se alterar se o ritmo de crescimento da economia avançar para mais de 5% ao ano. Expandir a taxa de investimento gradualmente para 24% a 25% ao ano deveria ser um dos principais desafios — se não o principal — da política econômica nesta década.

As exportações criam o anteparo para esse crescimento, mas a base da expansão continuará sendo o mercado doméstico. Ou seja, o retorno dos investimentos se dará essencialmente em reais. Se o financiamento dos investimentos não for feito com poupança doméstica (que só é acumulado se deixarmos de "comer sementes", tema abordado na coluna da semana passada), o Brasil ficará mais dependente de capitais estrangeiros, mais suscetíveis a mudanças de humores dos mercados financeiros internacionais, que andam propensos à histeria.

O exemplo deveria vir do setor público, o maior agente econômico, porém o que ainda menos poupa e menos investe, relativamente.

A "despoupança" vem diminuindo, mas como o país paga o alto preço de uma elevada carga tributária, o setor público deveria aproveitar essa situação para zerar o déficit. Até 2015, no mais tardar.

No dia 20 de maio começa a funcionar o primeiro BRT (Bus Rapid Transit) do Rio, um ônibus articulado que circulará por vias expressas exclusivas, com o propósito de reduzir pela metade o tempo do percurso.

Este primeiro BRT, chamado de TransOeste, com 59 quilômetros de extensão, atenderá a uma região mal servida de transportes públicos.

Deve contribuir para uma mudança de hábitos da população, pois foi planejado para que as pessoas façam baldeações nas mais de 60 estações do percurso entre Santa Cruz e a Barra da Tijuca. Não haverá linhas de ônibus convencionais — a não ser nos 15 dias iniciais, para que os passageiros se habituem com a mudança — fazendo o mesmo trajeto. Esse período de adaptação é necessário para quem quiser comprovar a diferença dos dois sistemas, constatando na prática que o BRT é mais confortável e economiza tempo. A partir de 20 de maio linhas convencionais vão "alimentar" o BRT, fazendo circuitos menores.

Como serão monitorados por uma central de controle (que ficará no Terminal Alvorada, na Barra) pelo GPS, cada passageiro saberá exatamente, num painel de informações instalado nas estações, quando chegará o próximo ônibus articulado.

Para que não haja diferença de qualidade no transporte, os ônibus convencionais "alimentadores" serão modernos, com ar condicionado, o que será uma novidade nessa região da cidade, que desconhece o conforto nos transportes públicos.

As estações terão caixas eletrônicos semelhantes aos dos bancos para que os passageiros comprem os cartões que dão direito ao uso do BRT e dos ônibus alimentadores.

Não será possível usar a integração pagando em dinheiro ao motorista, por exemplo. Os cartões poderão ser recarregados nas estações no valor desejado pelo passageiro nas estações ou locais vizinhos.

Cerca de 200 mil pessoas deverão usar este primeiro BRT por dia. Estão programados outros três. O maior de todos será o último, da Avenida Brasil, com duas linhas exclusivas (uma direta, e outra parando em todas as estações), projetado para transportar 48 mil pessoas por hora, mais do que o metrô. Um centro de treinamento especial teve de ser criado para o BRT.

Oficialmente, será inaugurado no dia 29 de abril, com capacidade para treinar 1.200 profissionais, de mecânicos a motoristas. Fica em Sepetiba.

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