quinta-feira, outubro 20, 2011

EDITORIAL O ESTADÃO - Alerta contra a censura


Alerta contra a censura
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 20/10/11

Os relatórios apresentados e os debates a respeito da liberdade de imprensa no continente americano realizados durante a 67.ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), encerrada terça-feira em Lima, Peru, colocaram em evidência que as ameaças ao direito da livre informação ainda existem no Brasil, mas a situação é muito mais grave, pela existência de uma censura praticamente sistêmica, em outros países como Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina. Nesses países, os veículos de informação que não apoiam os respectivos governos são vítimas permanentes das mais variadas formas de perseguição política: censura judicial, pressão econômica, cassação de concessões, leis casuísticas que estabelecem restrições à livre divulgação de notícias e informações, etc. Esse quadro sombrio, se por um lado revela que o Brasil vive, comparativamente, um período de relativa tranquilidade em relação à liberdade de imprensa, por outro lado é um sinal de alerta sobre a necessidade de se preservar esse status diante da permanente ameaça representada por medidas de "democratização dos meios de comunicação", ou do "controle social da mídia", que os dirigentes do PT insistem em preconizar.
O relatório sobre o Brasil foi apresentado por Paulo de Tarso Nogueira, vice-presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da entidade e consultor do Estado, que deu ênfase ao fato de mais quatro jornalistas brasileiros terem sido assassinados nos últimos seis meses, todos eles envolvidos na investigação de denúncias de corrupção contra autoridades locais. Além disso, Nogueira relatou outros 21 episódios: 2 prisões, 8 agressões físicas, 2 atentados, 3 casos de abuso de poder e 6 outros de censura judicial. Dentre os últimos, destacou a censura judicial que durante meses impediu que o Estado divulgasse informações sobre a Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que envolveu a família e os interesses do senador José Sarney. De acordo com o relatório do representante brasileiro, "é crescente a ampliação do poder discricionário de magistrados, especialmente os de 1.º grau, no julgamento de ações de antecipação de tutela e direito de resposta", o que acaba resultando em flagrante violação da liberdade da imprensa.
Os casos mais graves de censura à imprensa relatados à SIP ocorreram em países dominados por regimes populistas, todos eles praticantes sistemáticos de violações aos direitos humanos levadas a cabo em nome de ideias "libertárias". Sem mencionar Cuba, onde nem sequer existem veículos de comunicação independentes do partido único e do governo, os exemplos mais flagrante de violação do direito à informação - um dos direitos humanos fundamentais - vêm de países dominados por caudilhos adeptos do "socialismo bolivariano" - Venezuela, Bolívia, Equador - ou de populistas, como é o caso da presidente argentina, Cristina Kirchner, cuja ação política é movida por um remoto ideal peronista recondicionado por seu finado antecessor e marido, Néstor Kirchner. 
O novo presidente da SIP, o norte-americano Milton Coleman, cidadão de um país onde a liberdade de imprensa é amplamente praticada e respeitada, sob a garantia da Primeira Emenda constitucional, tem muito claras as dificuldades que enfrentará com o tema, por conta da fragilidade das instituições democráticas em muitos países latino-americanos: "Em muitos lugares da América Latina estamos sendo desafiados por governos que querem reduzir os direitos da sociedade de se informar". Para enfrentar esse desafio, aponta alguns caminhos: "Temos de operar mais com as mídias sociais. Achar meios para enfrentar os governos autoritários, que tentam esconder do povo o fato de que, sem imprensa livre, a democracia não pode existir". E concluiu, em entrevista ao repórter Gabriel Manzano, do Estado: "Temos de estabelecer os direitos humanos como parte dos direitos civis. Depois de estabelecê-los, defendê-los. Lembro uma frase de Thomas Jefferson. Ele disse que, se tivesse de escolher entre um governo sem jornais ou jornais sem governo, ficava com a segunda opção". 

RIBAMAR OLIVEIRA - Toda a confusão decorre do ICMS na origem



Toda a confusão decorre do ICMS na origem
RIBAMAR OLIVEIRA
VALOR ECONÕMICO - 20/10/10

Em 1988 houve uma grande discussão na Constituinte para decidir se a receita do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) deveria ser apropriada pelo Estado de origem ou de destino do produto. Os constituintes preferiram o local de origem da produção. Essa decisão mostrou-se, ao longo dos últimos 20 anos, um erro grave, pois ela piorou as desigualdades regionais do país, uma vez que os Estados mais industrializados passaram a ter a maior fatia do bolo do ICMS.
Um consumidor do Piauí que comprar um carro zero quilômetro talvez não saiba que uma parte do ICMS que pagará, no ato de aquisição, irá para o Estado de origem do veículo. A receita do tributo deveria ser apropriada pelo governo do Estado onde mora a pessoa que comprou a mercadoria, pois é ele que irá prestar os serviços públicos que o consumidor demandará.
A decisão dos constituintes desencadeou uma "guerra fiscal" entre os Estados, pois todos os governadores perceberam a lógica do sistema adotado. Eles passaram a conceder incentivos fiscais de todos os tipos para atrair indústrias e, dessa forma, ampliar sua participação no ICMS.
Ao decidir que o ICMS seria apropriado na origem da mercadoria, os constituintes tiveram que enfrentar um problema sério, pois o ICMS incidente sobre petróleo e seus derivados e sobre energia elétrica seria apropriado por poucos Estados onde esses bens essenciais são extraídos e/ou produzidos. Isso beneficiaria, principalmente, o Rio de Janeiro, no caso do petróleo, e o Paraná (por Itaipu), no caso da energia elétrica.
Os constituintes decidiram tirar da origem a apropriação da receita do ICMS sobre petróleo e seus derivados e energia elétrica, com o argumento principal de que foi a poupança de toda a nação que permitiu os investimentos da Petrobras e a construção das hidrelétricas. Os constituintes deram uma compensação aos Estados que perderiam receita com essa decisão.
A compensação veio na forma de participação desses Estados e municípios nos royalties do petróleo e da energia elétrica, segundo relato feito pelo ex-ministro Nelson Jobim, durante julgamento de um mandado de segurança pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2003. Jobim, que foi ministro da Justiça, ministro da Defesa e ministro do STF, também foi relator-adjunto da Comissão de Sistematização da Constituinte.
Ocorre que os valores pagos a título de royalties do petróleo eram, no início, irrisórios, de maneira que não despertavam a cobiça dos demais governadores. Para se ter uma ideia, o Estado do Rio de Janeiro recebeu apenas R$ 55,9 milhões em royalties em 1998, de um total de R$ 283,7 milhões arrecadados naquele ano, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
O forte aumento da produção do petróleo no Brasil, ocorrido após o fim do monopólio da Petrobras e a abertura de capital da empresa, mudou esse quadro. No ano passado, o Estado do Rio ficou com R$ 6,4 bilhões de royalties e participações especiais e os municípios fluminenses, com R$ 3,3 bilhões. No total, o Rio de Janeiro ficou com cerca de 75% de todos os recursos a título de royalties e participações especiais repassados aos Estados e municípios brasileiros.
Com a descoberta das imensas reservas de petróleo do pré-sal, que ficam na plataforma continental brasileira, a perspectiva é de que a receita com royalties cresça de forma exponencial. É natural, portanto, que os Estados e municípios não confrontantes com as áreas da plataforma onde estão os campos do pré-sal também queiram participar do bolo.
A decisão sobre o ICMS provocou também outra medida polêmica. Quando os parlamentares definiram os critérios de rateio dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE), por meio da lei complementar 62/89, a participação do Norte, Nordeste e Centro-Oeste foi elevada de 78% para 85% sem uma argumentação técnica. Segundo o relator da lei, o então deputado Firmo de Castro, procurou-se, com esse aumento, "distribuir melhor os ganhos da reforma tributária, vez que a ampliação da base de incidência do ICMS beneficiará mais fortemente os Estados mais desenvolvidos do país".
O percentual de cada Estado no bolo do FPE também foi fixado sem critério, tendo em vista apenas circunstâncias históricas. A lei 62/89 foi considerada inconstitucional pelo Supremo e o Congresso terá que aprovar, até dezembro de 2012, nova lei, com critérios que garantam o equilíbrio socioeconômico entre os Estados.
Por causa da confusão provocada pelo ICMS na origem, os Estados e municípios estão, neste momento, em confronto aberto pelos royalties do petróleo, como se eles fossem apenas mais uma fonte de recursos para financiar gastos. O petróleo é um recurso que deverá acabar em algumas dezenas de anos. Por isso, os recursos decorrentes de sua exploração deveriam alimentar um fundo público de poupança, destinado a financiar o desenvolvimento do país, com aplicações prioritárias na educação e em ciência e tecnologia. Além disso, é necessário pensar nas futuras gerações, quando as receitas do petróleo já não existirão.

A JUÍZA BANDIDA E O JOGADOR LADRÃO


CAROLINA BAHIA - A fila anda



A fila anda
CAROLINA BAHIA
ZERO HORA - 20/10/11

Enquanto Orlando Silva oferecia ao Congresso mais uma rodada de explicações, líderes governistas já especulavam quem será o novo ministro do Esporte. Se o cargo permanecer com o PC do B, Aldo Rebelo (SP) desponta como favorito. Mas há a possibilidade de a presidente Dilma tirá-lo do partido, tese defendida por petistas de alta patente. Não são poucos os dirigentes do PT a reclamar do espaço que os comunistas ocupam na Esplanada, considerando que a bancada na Câmara não passa de 16 deputados. Depois que a pasta ganhou ares de superministério, graças à Copa e à Olimpíada, a disputa ficou mais evidente. Para completar o desconforto entre PT e PC do B, Dilma frita o comunista. Se oficialmente ele ainda não foi totalmente afastado das negociações da Copa, na prática, aos poucos, é a Casa Civil que assume o comando.

Corrente
Às 3h20min de ontem, Manuela d"Ávila recebeu um telefonema de uma liderança do PSOL. Era a primeira de uma série de manifestações de apoio que seguiriam ao longo dia, em razão da carta apreendida na Operação Cartola.

Minirreforma
O governo está disposto a rever a carga tributária do setor de energia. Encorajado pelo líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), em almoço na casa de José Otávio Germano (PP-RS), em Brasília, o empresário Jorge Gerdau garantiu que vai levar a proposta à presidente Dilma.

Showman
Alceu Moreira (PMDB, ao microfone) é cantor nas horas vagas. A faceta do deputado foi revelada no jantar com o setor vitivinícola, na residência oficial da presidência da Câmara. Ao lado de Jerônimo Goergen (PP, ao violão), ele entoou músicas de Cartola e Lupicínio e até arriscou um sambinha no pé. Entre uma canção e outra, o peemedebista contava piadas.

RECORTE E COBRE
Na taça - O plano para promover o vinho e os espumantes gaúchos durante a Copa já está pronto, mas falta o mais complicado: convencer a Fifa. O presidente da União Brasileira de Vitivinicultura, Henrique Benedetti, conta com a mobilização das bancadas gaúcha e catarinense para começar a briga, convencendo o governo.

LUIZ CARLOS AZEDO - Só resta rezar



Só resta rezar
LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 20/10/11

Flechado como São Sebastião, que deu nome à cidade, o Rio de Janeiro amarga sua maior derrota política no Senado desde a transferência da capital do país para Brasília. Com apoio do Palácio do Planalto, a maioria dos senadores quer mudar o regime de partilha dos royalties de petróleo não só da camada pré-sal, como também das áreas já concedidas. 
Para completar o arresto, o relator do substitutivo da nova partilha do pré-sal, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), chegou a propor a mudança das fronteiras marítimas dos estados confrontantes para beneficiar Paraná e Santa Catarina, respectivos estados das ministras da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. 
Senadoras licenciadas, ambas defendiam essa proposta na Casa, mas não endossaram a mudança sugerida pelo relator, que suprimiu esses artigos diante da revolta das bancadas de Rio e do Espírito santo, que perderiam grandes áreas do pré-sal. 
O governador do Rio, Sérgio Cabral, não teve a solidariedade da maioria da bancada do PMDB, seu partido. Contou, porém, com o apoio de lideranças da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que chegou a ser chamado de quarto senador fluminense durante aparte de um dos colegas do Senado. A derrota anunciada de Cabral ficou clara durante a votação de requerimento do senador Francisco Dornelles (PP-RJ) para inverter a pauta: 45 a 20 a favor da preferência pelo substitutivo de Vital do Rêgo. 

Apostas/ O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles liderava ontem a bolsa de apostas na Câmara para a eventual substituição do ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), desgastado devido às denúncias envolvendo a pasta. Meirelles recentemente se filiou ao PSD, partido que hoje conta com 55 deputados e dois senadores. 

Chame o LulaVai longe o tempo em que a elite política do Rio de Janeiro dava as cartas no Senado. A vetusta Casa, como a chamava Machado de Assis, hoje é comandada por políticos do Norte e do Nordeste, liderados pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); e os líderes do governo, Romero Jucá (PMDB-RR); do PMDB, Renan Calheiros (AL); e do PT, Humberto Costa (PT-PE). O governador Sérgio Cabral teve uma breve e discreta passagem pela Casa e apostou todas as fichas no bom relacionamento com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para evitar a perda de parcela significativa dos royalties do petróleo. 

BarrigaEm reunião com as bancadas do Rio de Janeiro e do Espírito Santo ontem, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), garantiu aos colegas que não haverá atropelo na votação do relatório do senador Vital do Rêgo na Casa. As duas bancadas decidiram obstruir todas as matérias da Câmara, inclusive a DRU (proposta de Desvinculação das Receitas da União), caso o novo regime de partilha dos royalties entre na pauta de votação sem um prévio acordo. 

RepaginadoO deputado Tiririca, do PR-SP, apareceu ontem na Câmara de cabeça raspada. O novo visual fez colegas, jornalistas e até fãs do artista passarem batidos por ele na Casa. Um parlamentar brincou que agora sai o palhaço Tiririca e fica o deputado Francisco Everardo da Silva. 

PrejuízoA bancada dos estados produtores de petróleo rebate os números de Vital do Rêgo. O relator aponta que a redistribuição não implicará em prejuízo para os confrontantes no ano que vem. Segundo o deputado Alessandro Molon (PT-RJ), dados da Petrobras mostram que o projeto em tramitação pode gerar perdas de até R$ 89 bilhões 

VerdadeO projeto da Comissão da Verdade foi aprovado por unanimidade na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Relator do projeto, o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) manteve a proposta de formação de um colegiado de notáveis ligado à defesa dos direitos humanos e apartidária, sem qualquer caráter punitivo, para investigar, entre outras ocorrências, os casos dos "desaparecidos" do regime militar. 

Greve/ Os deputados anteciparam para ontem o retorno a seus respectivos estados. Devido à ameaça de greve dos aeroviários nos aeroportos de São Paulo e Brasília, o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), avisou aos partidos que hoje não haveria sessão para evitar que os parlamentares ficassem sem ter como voltar para casa. 

Copa/ O impasse sobre o projeto de redistribuição dos royalties do petróleo respingou até na discussão sobre o projeto da Lei Geral da Copa. Ontem, a bancada carioca se retirou da sessão e esvaziou a discussão. 

Mídia/ O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), recebeu uma saraivada de queixas de deputados contrários ao cancelamento do contrato de clipping da Casa. O serviço, que fornece diariamente um resumo das notícias veiculadas pela imprensa, faz parte do dia a dia dos deputados. 

DENISE ROTHENBURG - Ritual de queda



Ritual de queda
DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 20/10/11

À exceção do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, todos os outros que sucumbiram por denúncias de irregularidades seguiram o mesmo roteiro no qual se encaixa hoje o ministro do Esporte, Orlando Silva. Os seus ex-colegas de governo Alfredo Nascimento, dos Transportes; Wagner Rossi, da Agricultura; e, ainda Pedro Novais, do Turismo, foram ao Congresso, prestaram esclarecimentos ora na Câmara, ora no Senado, na esperança de permanecer no cargo. Nenhum deles, entretanto, conseguiu fazer a roda da fortuna parar de girar. 
O PCdoB, entretanto, considera que é possível. Diz que até agora não houve prova cabal contra o seu ministro. "Se os outros cederam pelo caminho, problema deles. Não vamos ceder. Somos osso duro de roer." Foi o que ouvi ontem do presidente do partido, Renato Rebelo, defendendo Orlando de forma enérgica. 
Até mesmo a declaração dele está dentro de um script que nenhum partido fugiu. Todos os demais " com bancadas bem maiores do que os 13 deputados e 2 senadores do PCdoB " viveram o mesmo processo. Mas, como um castelo de cartas, foram tombando. Até o momento, Orlando tem alguns trunfos que o diferem dos demais: as famosas provas do denunciante, João Dias, ainda não vieram à luz do sol, nem surgiu uma reportagem avassaladora ao ponto de fazer o ministro dizer "cansei". E foi Orlando quem chamou a Polícia Federal em busca de averiguações. Coisa que os outros não fizeram. E, para completar, seu partido tem militantes aguerridos em sua defesa. 
Ocorre que investigações da PF não são feitas no curto prazo que o ministro precisa para sair do redemoinho ainda este mês. Existe um calendário oficial da Copa do Mundo de 2014, que será anunciado hoje. Há uma Lei Geral em negociação no Congresso, onde o papel do ministro é fundamental para fazer a ponte entre o governo e o parlamento, e ainda com a Fifa, a senhora da Copa. A Casa Civil tem inúmeras atribuições e não pode ficar 24 horas cuidando disso. É tarefa do ministro. E ele só conseguirá se dedicar a isso com a precisão que o momento requer se estiver fora do tiroteio e da máquina de moer carne da política que hoje está funcionando a todo vapor. 
A presidente Dilma Rousseff chega hoje de viagem ciente dessas necessidades. E, por mais que ela goste de Orlando Silva e acredite em sua inocência, há quem lembre que o governo deve seguir mesmo que alguns fiquem pelo caminho. Foi assim também no governo Lula, onde ele prescindiu de peças que considerava importantes. No governo Fernando Henrique Cardoso houve o caso do então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, peça-chave no projeto tucano na virada do século. 
O problema é que, no governo Dilma, a concentração de crises e denúncias de corrupção no primeiro ano é recorde. Dentro do Congresso, há quem diga que ela já criou atritos demais com os partidos da base. Nos últimos meses, cada queda de ministro deixou feridas abertas na base que, de vez em quando, sangram. No PR, no PMDB e no PP " onde o ministro, dia sim, dia não, é chacoalhado ", as insatisfações vão num crescente. Dilma, entretanto, se mantém impávida, com bons índices de popularidade, conquistando inclusive a avaliação positiva perante eleitores do Sul e Sudeste que não votaram nela. 
Os parlamentares não conseguem saber quanto tempo esse descolamento de Dilma com a política é capaz de funcionar. E há também o receio de que, mais à frente, envolvido algum ministro do PT nesse mesmo ritual de queda que atinge e atingiu os aliados, os petistas não façam a "cara de paisagem" que fazem hoje nem deixem que a presidente resolva como achar melhor. Esses aliados consideram que, em caso de crise no PT, o partido de Lula cobrará solidariedade e terá a mesma que dá hoje aos aliados: aquela do tipo, "passa lá em casa", mas não dá o endereço. 
Diante das análises dos políticos, por mais que se tenha consciência de que Orlando não consiga resolver a política a curto prazo " e a avaliação geral é a de que dificilmente conseguirá ", muitos sabem que Dilma tem que fazer essa cirurgia sem criar mais atritos na base. Afinal, o governo não terminou nem o seriado de denúncias, capítulos que todos os antecessores de Dilma viveram. Por isso, reza a lenda, é bom cumprir essas etapas preservando as relações políticas. É um ritual do qual ninguém escapa. 

MARIA CLARA R. M. DO PRADO - Público e privado, condenável simbiose



Público e privado, condenável simbiose
MARIA CLARA R. M. DO PRADO
VALOR ECONÔMICO - 20/10/11

Do alto, no palco do Rock in Rio, o vocalista Dinho da banda Capital Inicial empolgou a imensa multidão que tinha diante de si. Dedicou a música de Renato Russo "Que país é esse?" às "oligarquias que ainda parecem governar o Brasil", falou da censura ao jornal "O Estado de São Paulo" e, explicitamente, mencionou "em especial" o nome de José Sarney. Quem ainda não assistiu, pode procurar o vídeo no YouTube.
Se fosse hoje, Dinho poderia incluir como exemplo do poder das oligarquias a decisão tomada pela Assembléia do Maranhão de transferir para a Secretaria de Educação do Estado a Fundação José Sarney, em claro exemplo de interesse privado que passa a ser absorvido pelo setor público.
Renato Russo escreveu a célebre música em 1978. De lá para cá, o que se vê é o acúmulo de descalabros no governo, em todas as três esferas de administração.
O poder executivo federal conta hoje com 37 ministérios, um exagero desnecessário que é justificado pela necessidade de sustentar o processo democrático em governo de coalizão. Cada partido político da base governista demanda postos e poder e os cargos do chamado primeiro escalão vão proliferando. Quanto mais ministérios houver, maior é a possibilidade de desvio do dinheiro público pela dificuldade de controle e de fiscalização. Não é à toa que têm crescido as suspeitas de atos de corrupção na máquina pública. E isso parece geral porque a "boa-vontade" dos governantes com os representantes dos partidos aliados se reproduz nos governos estaduais e municipais.
O "apadrinhamento" se estende aos postos de destaque nas agências reguladoras e nas empresas estatais, tornando-as ineficientes, com larga possibilidade de estarem a serviço dos interesses pessoais e não públicos.
As pessoas se escandalizam, mas a questão não tem sido devidamente estudada, com a profundidade que merece. Fernando de Holanda Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), além dos temas mais em evidência, como os da política cambial e da política monetária, tem chamado a atenção para a necessidade de manter o setor público sob controle. "O aumento da taxa de crescimento do produto potencial brasileiro depende de uma reforma que torne o estado eficiente na provisão de educação, saúde, segurança pública e justiça, e libere recursos para aumentar os investimentos públicos", diz ele, sugerindo uma reforma que comece pela extinção de cargos de ministros do governo federal e de secretários nos estados e municípios.
Os gastos com a Fundação José Sarney serão, claro, cobertos com taxas e impostos pagos pelo povo maranhense. Não se tem ideia a quanto isso montará. Cabe à população local levantar a causa para descobrir o valor que vai afetar o bolso dos contribuintes. Será preciso dinheiro não apenas para manter a Fundação, mas também para a construção do túmulo do homenageado, algo que está incluído na decisão da Assembleia do estado. Apenas se desconhece se será uma simples sepultura ou um panteão.
O governo federal tem conseguido manter dentro do previsto os resultados de suas contas graças à crescente e altíssima carga da receita fiscal. Mesmo assim, não se pode despregar as vistas dos números oficiais, divulgados todo o mês. Vale destacar o aumento significativo que vem afetando o estoque da dívida pública federal. Os últimos dados mostram que a dívida interna alcançou o valor de R$ 2,4 trilhões na posição de final de agosto deste ano, bem acima dos R$ 1,7 trilhão apurado em dezembro de 2008 e dos R$ 838 milhões contabilizados em dezembro de 2002. Isso significa que toda a grandiosa carga tributária não tem sido suficiente para cobrir as despesas que, obviamente, só crescem. O governo precisa ir ao mercado para captar dinheiro, na forma de endividamento, para enfrentar as despesas que excedem a arrecadação.
Casos como o da Fundação José Sarney são, espera-se, contabilizados no rol dos gastos públicos. Ocorre que outros tipos de despesas não formais, nem oficiais, como os desvios de recursos públicos, passam ao largo da contabilidade. Ninguém tem ideia do montante. Recentemente, a Fiesp realizou um estudo onde estima entre R$ 41,5 bilhões e R$ 69,1 bilhões o valor da corrupção no país. A margem entre os números do estudo é muito larga e não por acaso. Em verdade, é difícil descobrir a quanto isso chega. Nem adiantaria sair com lápis e papel na mão a perguntar a todos os funcionários do governo se desviam dinheiro público e quanto seria isso. As respostas, obviamente, não seriam confiáveis!

Maria Clara R. M. do Prado, jornalista, é sócia diretora da Cin - Comunicação Inteligente e autora do livro "A Real História do Real".

GOSTOSA


ANCELMO GOIS - Ó, Minas Gerais


Ó, Minas Gerais
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 20/10/11

Frei Betto doou, ontem, à Biblioteca Nacional 66 edições estrangeiras diferentes de seus livros em 23 idiomas.
O mais traduzido é Fidel e a religião. A ideia inicial era doar à Biblioteca da Universidade Federal de Minas, mas os mineiros desdenharam.

POUCO INTERESSE 
Talvez pela ausência das estrelas, a procura de ingressos para o futebol no Pan de Guadalajara tem sido pequena.
Ainda há bilhetes para o jogo entre nossa seleção masculina sub-20 e a de Cuba, amanhã.

GREVE DE SEXO 
Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, comprou os direitos de publicação no Brasil do livro da liberiana que ganhou o Nobel da Paz, Leymah Gbowee. 
Chama-se Mighty be our powers – How sisterhood, prayer and sex changed a nation at war.
Leymah, em 2002, liderou uma greve de sexo das liberianas até conseguir acabar com uma guerra civil no país.

SOCIALISMO MORENO 
Lula, com a vida que pediu a Deus, faz o maior sucesso esta semana num evento do Partido Socialista Espanhol.
O carisma do ex-presidente encanta os espanhóis.

A VOLTA DO TURBOÉLICE 
Pousou ontem, em Recife, trazido de Toulouse, na França, o primeiro ATR72-600 da Azul, considerado o mais novo turboélice do mundo.
A voadora brasileira adquiriu 30. Vai receber um por mês, com opção de mais dez.

SOL DA LIBERDADE 
A escritora Ana Maria Machado embarca semana que vem para um giro literário pela Europa e pelos EUA.
Lança edições em sérvio e inglês, em Belgrado e Nova York, de Tropical sol da liberdade, sobre o Brasil de 1968 e 1969.

RETRATOS DA VIDA 
Acredite. A Conferência Mundial de Determinantes Sociais da Saúde, evento da OMS no Forte de Copacabana, no Rio, não pôs rampa para cadeirantes.
A deputada Rosinha da Adefal (PTB-AL), que usa cadeira de rodas, só venceu os 20 degraus carregada por um amigo.

VIVA ZÉ MENEZES! 
Zé Menezes, o mestre cearense das cordas que tocou com Radamés Gnattali, Roberto Carlos e outros, e foi descoberto criança por Padre Cícero, vai festejar 80 anos de carreira e 90 de idade com show gratuito, em novembro, no Jardim Botânico do Rio.
Depois, fará turnê pelo Brasil.

BESAME, VANESSA 
Vanessa da Mata foi convidada pela cantora cubana Omara Portuondo para participar do show do Buena Vista Social Clube, hoje, em São Paulo.
Cantarão Besame mucho.

MÃO BOBA 
O desodorante Gillete, numa ação promocional, pôs nos banheiros da academia A!BodyTech do Leblon, reduto de malhação de bacanas, uns frascos do produto para a turma usar.
Mas teve de prendê-los com corrente para evitar que grã-finos os levassem.

A GRANDE CAGADA


ILIMAR FRANCO - O governo levou


O governo levou 
ILIMAR FRANCO 
O Globo - 20/10/2011

O governo Dilma fez valer sua força ontem na votação da redistribuição dos royalties do petróleo. Nada foi aprovado sem seu aval. O ministro Guido Mantega (Fazenda), que também é presidente do Conselho de Administração da Petrobras, pediu e levou a derrubada do artigo primeiro do relatório do senador Vital do Rego (PMDB-PB), que mudava regras que interferem na rentabilidade das empresas petrolíferas, o que contrariava a Petrobras.

Jucá: "É o avanço que se pode fazer"
A posição do governo foi definida durante almoço da equipe econômica. Em seguida, Mantega por telefone pediu para o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para derrubar os artigos primeiro (rentabilidade das petroleiras/joint venture) e quinto (demarcação das linhas de fronteira dos estados no mar territorial). O que foi feito. Na conversa, Mantega também reclamou da destinação das receitas do petróleo por estados e municípios. Esta visão, compartilhada por Cristovam Buarque (PDT-DF) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), foi contestada pelo líder do PT, Humberto Costa (PE): "O Brasil tem necessidades diversas. Isso tem que ser visto de forma dinâmica".

Ao deixar a disciplina da destinação desses recursos aberta como está, ampla como se propõe, nós jogaremos dinheiro pela janela!" - Aloysio Nunes Ferreira, senador (PSDB-SP), criticando o uso das receitas de royalties do petróleo pelos estados e municípios

ADVOGADO DE DEFESA. O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), na foto, foi à tribuna defender o relatório do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Explicou que o relator usava dados cuja fonte é a Empresa de Pesquisa Energética, do Ministério de Minas e Energia. Pimentel criticou os que defendem o uso de outra fonte de receita, para ampliar os repasses para os estados não produtores do petróleo, dizendo que eles apostam no aumento da carga tributária.

Mistério: Dias e Vital em defesa de Ideli
Os senadores Wellington Dias (PT-PI) e Vital do Rêgo (PMDB-PB) disseram ontem, no Senado, que a adoção de proposta da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), sobre os limites no mar territorial, não teve a participação dela. "Eu devo aqui registrar que, em nenhum momento, a ministra solicitou a apresentação da proposta", disse Dias. O relator Vital completou: "Nós apenas recolhemos da ministra a ideia que estava posta. Ela não tinha absolutamente nenhum conhecimento".

Pressão
A obstrução que os deputados do Rio, da base aliada, pretendem fazer na votação da prorrogação da DRU valerá só para o plenário. Eles argumentam que, na comissão especial, se tentarem obstruir, serão substituídos pelos líderes.

Gol contra
O deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) queria fazer um acampamento em frente ao STF, para pressioná-lo no julgamento da constitucionalidade da redistribuição dos royalties. A bancada não topou. O ato poderia irritar os ministros.

Pra Cristo
Mesmo com a retirada da proposta de alteração das linhas divisórias dos estados no mar territorial, a bancada do Rio vai bater na ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Por causa do veto, não podem atacar a presidente Dilma.

Ciranda
Enquanto o governador Sérgio Cabral (RJ) cobra da presidente Dilma a defesa do Rio no debate dos royalties do petróleo, a oposição a Cabral na bancada do Rio reivindica uma ação política mais arrojada por parte do governador.

O PSDB E O DEM tentaram transformar o debate dos royalties em um embate entre governo e oposição, ao votar a favor da preferência para o relatório do senador Francisco Dornelles (PP-RJ). O argumento era que se alguém tem que perder é a União.

O ESPÍRITO DA VOTAÇÃO. Ao anunciar seu voto, o senador João Ribeiro (PR-TO) afirmou: "Chegou a vez dos estados pobres terem uma fatia do petróleo".

NO GOVERNO começa a ganhar terreno a avaliação de que a situação do ministro Orlando Silva (Esporte) está ficando insustentável. O tema é tratado com cautela, os petistas não querem briga com o PCdoB.

REGINA ALVAREZ - Pior dos mundos

Pior dos mundos
 REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 20/10/11

A decisão do Banco Central de cortar a taxa básica em meio ponto percentual não surpreendeu o mercado porque era a expectativa dos agentes. Ao contrário da reunião de agosto, que pegou todo mundo no contrapé e gerou todo tipo de especulação, agora o BC deu sinais mais claros de que vai mesmo manter a curva dos juros apontada para baixo. O que não convence é a promessa de atingir o centro da meta de inflação em 2012.

O mercado não acredita que isso seja possível e alguns analistas estão convencidos de que, a despeito do discurso, a própria autoridade monetária abandonou essa meta. Está claro para todo mundo que trazer a inflação para a meta em 2012 exigiria uma retração muito grande da economia e não é isso que o governo Dilma deseja.

- Valeria a pena buscar os 4,5% no ano que vem com PIB de 2%? Acho que não - opina Luiz Otávio Leal, do banco ABC Brasil. Pelos seus cálculos, esse seria o tamanho do sacrifício.

São muitas as interrogações sobre as variáveis que influenciarão a inflação em 2012. A principal é o cenário externo, no qual o BC se baseia para alardear que o retorno ao centro da meta acontecerá em dezembro.

- O cenário internacional com crescimento baixo joga a favor, mas não o suficiente para trazer a inflação para a meta em 2012 - afirma o economista Elson Teles.

O jogo das variáveis está indefinido. A retração da economia global conta a favor, assim como alguns preços internos. Os preços administrados podem trazer a inflação para baixo, prevê Teles. Em ano eleitoral não se aumenta tarifa de ônibus, deve haver revisão para baixo dos preços da energia e o etanol não ficará nas alturas.

Do outro lado, puxando a inflação para cima, temos os preços dos serviços, que estão crescendo a uma taxa de 9% ao ano; o impacto do reajuste de 14% no salário mínimo; o mercado de trabalho aquecido; o imposto sobre os carros importados, que vai tirar os chineses baratinhos do mercado. Ou seja, é um jogo que ninguém arrisca o placar com um razoável grau de segurança.

Fechando as contas

A temporada de balanços das empresas brasileiras com resultados do terceiro trimestre começa na semana que vem. A expectativa é que os setores ligados ao mercado interno continuem apresentando bons desempenhos, como varejo, financeiro, telefonia e energia.

Já os setores que dependem de demanda externa, como siderurgia e papel e celulose, devem seguir decepcionando.

Crise de confiança

A crise fiscal na Europa está fazendo com que os bancos europeus optem por deixar mais dinheiro parado no Banco Central Europeu, com baixíssima rentabilidade, reduzindo operações entre si. O volume depositado no BCE disparou de 38 bi, em julho, para 142 bi, em setembro. Em tempos de tormenta mais vale um porto seguro.

FAVAS CONTADAS: O Bank of America ouviu 286 investidores do mundo todo e 85% apostam que a Grécia dará o calote na dívida.

ESPERANÇA: A construção de casas novas nos EUA deu um salto de 15% entre agosto e setembro.

O problema é que para o controle da inflação o pior dos mundos é a incerteza. Quando os agentes desconfiam, a tendência é ajustar previsões para cima. Isso acontece com as empresas quando fecham planos de negócios e até com pequenos comerciantes. É assim que se alimenta o dragão.

A redução dos juros no meio de tanta incerteza é sinal claro de que o BC não quer seguir o manual de instruções do regime de metas. Mas o que preocupa mais os agentes é a perda de parâmetros. Na visão do mercado, seria mais crível o BC perseguir uma meta de 5,5% em 2012, convergindo para 4,5% em 2013. Como ninguém sabe exatamente o que se passa na cabeça da autoridade monetária, a insegurança aumenta e pioram as expectativas.

FERNANDO REINACH - A folha de lótus e o escorregador de mosquito



A folha de lótus e o escorregador de mosquito 

 FERNANDO REINACH
O ESTADÃO - 20/10/11

"Como uma folha de lótus que não pode ser molhada, aquele que se liberou de seus desejos não pode ser maculado pelo mal." A capacidade de repelir água e emergir limpa de águas turvas levou os indianos a eleger o lótus como um dos símbolos da pureza espiritual. A passagem acima, extraída do poema Bhagavad Gita, descreve o fenômeno.

As gotas de água escorrem muito facilmente pelas folhas de lótus. Sua superfície se apresenta sempre limpa e seca. Desde 1970, cientistas se perguntavam o que seria responsável por esse fenômeno. Superfícies capazes de repelir a água têm muitas aplicações tecnológicas, tanto na construção de tubos quanto de lentes e equipamentos ópticos. Em muitos instrumentos, a adesão de partículas e líquidos às superfícies é um problema constante.

Em 1990, examinando as folhas de lótus em um microscópio eletrônico, os cientistas descobriram seu segredo. A superfície das folhas é composta por micromontanhas e microcavidades. Quando uma gota de água cai sobre a folha, a água não consegue remover o ar das microcavidades. Portanto, toca a folha somente nos picos das micromontanhas.

Como a água interage com a folha em somente poucos pontos, a gota mantém sua forma esférica, não se espalha e corre sobre a folha livremente. Basta inclinar a folha levemente para que as gotas corram para a borda e caiam no chão, deixando a folha seca e limpa.

Nos anos seguintes, o princípio da folhas de lótus foi utilizado para construir materiais autolimpantes muito mais eficientes que o Teflon que reveste nossas panelas. Mas esses materiais, apesar de usados em muitas aplicações, têm seu uso limitado pela fragilidade. Basta um arranhão, um pouco de pressão ou um pouco de detergente na água e a microtextura perde a sua capacidade de repelir a água.

Agora, novamente inspirados pela folha de uma planta, um grupo de cientistas desenvolveu protótipos de superfícies que repelem água e óleos e ainda têm a capacidade de se regenerar.

Escorregador. A planta carnívora Nepenthes captura suas vítimas usando uma espécie de escorregador de inseto. Quando um inseto pousa na sua superfície, ela é tão lisa que o inseto escorrega e acaba caindo em uma cavidade no centro da folha (a folha tem o formato de funil). Nessa "boca", a planta acumula um líquido rico em enzimas capaz de matar e digerir o pobre mosquito.

Estudando a superfície das folhas de Nepenthes, os cientistas desvendaram o segredo desse escorregador hiperliso. A superfície da folha não é totalmente lisa, mas apresenta ranhuras e nanocavidades. Essas ranhuras e cavidades são preenchidas por um líquido não volátil (que não evapora) produzido pela planta. Esse líquido repele tanto a água quanto as gorduras. O resultado é que gotas de água e gordura não aderem à superfície. Como as patas dos insetos são recobertas por uma finíssima camada de gordura, eles derrapam e acabam virando o almoço da planta.

Inspirados por essa descoberta, físicos e químicos produziram diversos materiais com propriedades semelhantes às das folhas de Nepenthes. Superfícies feitas de nanofibras de Teflon foram recobertas com líquidos não voláteis (Fluorinert ou Krytox) que não se misturam com água ou com hidrocarbonetos. O resultado é uma superfície hiperlisa na qual gotas de óleo ou água não aderem e escorrem rapidamente.
O mais interessante é que, pelo fato de as gotas interagirem com uma camada muito fina de líquido, a superfície regenera facilmente. Se riscamos a superfície, o microfilme líquido se redistribui, regenerando a propriedade original. O mesmo ocorre quando se aplica pressão.

Essa descoberta abre a possibilidade de, no futuro, podermos utilizar materiais quase impossíveis de sujar. Se eles aparecerão no vidro dos celulares, nas lentes de câmeras fotográficas ou no fundo de nossas panelas, ainda é cedo para prever.

É interessante observar como a ciência pode partir de um poema indiano, passar por um escorregador de inseto e criar panelas impossíveis de sujar.

JUCA KFOURI - Ministro sem porte


 Ministro sem porte 
JUCA KFOURI 
FOLHA DE SP - 20/10/11

Sua conduta nada republicana é suficiente para demiti-lo e denunciá-lo à Justiça

CONTINUA INVEROSSÍMIL que Orlando Silva Jr. tenha recebido dinheiro na garagem de seu ministério. E é indiscutível que ele, além de ter aparelhado o órgão que dirige com seus camaradas do PC do B, tratou de fazer o mesmo com as ONGs parceiras no programa Segundo Tempo.

Silva Jr. não era para ser ministro, como se sabe, e nem sua pretendida nomeação para o cargo de APO foi aceita pela presidente.

De aliado incondicional do presidente da CBF, Silva Jr. entendeu o humor da presidente em relação a Ricardo Teixeira e dele se afastou. Mas manteve os métodos de seu antecessor, então também do PC do B, o não menos encalacrado Agnelo Queiroz.

Mas se o cauteloso afastamento do cartola trouxe alguma simpatia da chefe, seus convênios nada republicanos com as ONGs, que além de verossímeis estão mais que comprovados, são motivos suficientes não só para afastá-lo do governo como para denunciá-lo à Justiça.

E o pior é que nem se trata do nosso velho "rouba mas faz" porque os resultados, quando não são pífios, são simplesmente inexistentes.

E que não se fale que as denúncias contra Silva Jr. interessam à CBF ou à Fifa. Podem interessar até ao diabo porque, por verdadeiras, devem ter consequências radicais. CBF, por sinal, cujo presidente também está sendo objeto de novo inquérito na Polícia Federal, e Fifa, suficientemente desmoralizada nos últimos tempos para não poder ir além do roto falando do esfarrapado.

E que não se veja qualquer motivação ideológica ou partidária nas denúncias, simplificações rasteiras de quem tudo justifica pelos amigos, entre outras razões porque, por exemplo, foi aqui neste espaço que Rafael Greca, ex-ministro do Esporte e Turismo do governo FHC, começou a ir para o espaço ao ser denunciado por sua escandalosa promiscuidade com os bingueiros.

Ao Ministério do Esporte cabe conceber e promover programas como o Segundo Tempo para que, por meio de convênios com os Estados e destes com as prefeituras -em última instância as responsáveis pela execução desse tipo de ação-, venham à luz.

E venham sob a fiscalização dos instrumentos que existem no governo federal, nos estaduais e municipais. É assim que se faz republicanamente e quem não faz sabe por que não faz.
E o ministro sabe, por mais que sua claque seja barulhenta e imagine que possa ganhar no grito.

CLÓVIS ROSSI - Extremos se tocam, falta negociar



Extremos se tocam, falta negociar
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 20/10/11

A troca do soldado Gilad Shalit por palestinos não significa que se possa avançar em direção à paz

A TROCA do soldado israelense Gilad Shalit por 1.027 prisioneiros palestinos foi vista como vitória para os extremistas dos dois lados.

Que o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico) é extremista, não creio precisar demonstrar.
Que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu o é, basta lembrar que ele acabou ficando à direita de Ariel Sharon, o ex-primeiro-ministro ainda em estado de coma, que foi sempre considerado o símbolo maior do extremismo israelense.

Sharon deixou o Likud ("União") para Netanyahu e fundou o Kadima ("Avante") como partido supostamente centrista, o que talvez até seja se a comparação for com o Likud do atual premiê.
Que os extremos se enfrentem, mas acabem tendo algum ponto de contato em dado momento, não é um fenômeno novo na história. O problema é que muito dificilmente conseguem negociar algo mais do que aspectos puramente pontuais, como, no caso presente, a troca de prisioneiros.

Não parece razoável supor que possam negociar a paz. Escreve, por exemplo, para "El País" Luz Gómez García, professora de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Autônoma de Madri: "A história das negociações entre palestinos e israelenses está cheia de grandes gestos que conduzem a um nada gigantesco em termos de paz e justiça".

Tudo porque os extremismos atuais não estão desconectados do sentimento das respectivas sociedades. A dureza de Netanyahu reflete o sentimento de uma parcela majoritária dos israelenses, que desistiram da paz com os vizinhos palestinos.

Assim como a celebração do Hamas até na Cisjordânia, governada pelo rival Fatah, reflete o desencanto da rua palestina com a moderação do presidente Mahmoud Abbas, que não consegue arrancar a mais leve concessão israelense -ao contrário do Hamas, que arrancou 1.027 prisioneiros.

O fato de que a negociação levou cinco anos não importa para a rua palestina. Tomando-se só os acordos de Oslo (1993), foram 18 anos de diálogo infrutífero dos moderados com Israel. Importa pouco também o fato de que o Hamas tinha uma arma negociadora de que Abbas nunca dispôs, qual seja a vida de um judeu, Shalit -e o Estado judeu jamais abandona um dos seus.

De todo modo, a negociação entre os extremos levou Uri Dromi, porta-voz dos governos Yitzhak Rabin e Shimon Peres -os últimos moderados a governarem Israel- entre 1992 e 96, a propor uma outra troca capaz de desbloquear a paz: Israel amenizaria o bloqueio da faixa de Gaza e tornaria mais fácil a vida de seus habitantes, ao passo que o Hamas aceitaria uma "hudna" (trégua em árabe) de dez anos.

Dromi diz que a proposta é bem prática, na medida em que oferece um horizonte econômico para os habitantes de Gaza e segurança para os israelenses.

Ele próprio admite que pode ser "sonho de um dia". Mas acrescenta: "Pelo menos uma vez, quando as pessoas dos dois lados estão abraçando seus entes queridos, deixemo-nos guiar por nossas esperanças, e não só por nossos medos".

É triste quando o medo governa a terra em que estão os maiores símbolos das três religiões monoteístas, em tese portadoras da esperança.

PAULO SANT’ANA - Inversão da lógica


Inversão da lógica
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 20/10/11

Eu estava anteontem assistindo ao ministro do Esporte, Orlando Silva, desdobrar-se em sua defesa das acusações de corrupção desfechadas pela revista Veja.

Ele foi espontaneamente até a Câmara dos Deputados e, em reunião com os parlamentares, alinhou os seus argumentos defensivos, tendo tido a iniciativa inédita de ele próprio solicitar a instalação de uma CPI a respeito. Diga-se que ultimamente os acusados se conformam em se ver investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, mas fogem como diabo da cruz de CPIs.

Fiquei pensando que deve ser penoso para um homem público investido do cargo de ministro ter de se submeter a esse exercício dialético.

De um lado, uma testemunha acusando o ministro de receber propina relativa a seu cargo. De outro, o ministro se defendendo e atacando a credibilidade do denunciante.

Eu chego a pensar que se inverteu a equação do princípio de inocência presumida, absurdamente: nos tempos em que vivemos no país, todo homem público de início é considerado suspeito. A ele deverá ser dado o encargo de derrubar essa suspeição, agindo com lisura, mas além disso terá de ser eficiente e veemente em sua defesa, caso lhe sobrevenham acusações.

Imagino um artigo na Constituição que diga o seguinte: “Todo político será considerado corrupto, a menos que reúna comprovação de sua inocência absoluta”. Ou seja, o ônus da prova caberá ao político. Em vez da inocência presumida, a culpabilidade presumida, assim ficaram as coisas depois desse maremoto de corrupção que se abateu sobre o mundo político nacional.

Um grande autor escreveu uma vez uma frase que nunca mais saiu da minha cabeça: “Só existem duas forças invencíveis no mundo, a inteligência e a corrupção”.

É verdade quanto à corrupção. Nenhum regime por mais severo que seja conseguiu até hoje acabar com a corrupção. A gente de vez em quando topa com a notícia de que alguém foi executado com um tiro na nuca, na China, acusado de corrupção.

A corrupção parece ser inerente à condição humana.

Aqui no Brasil, a realidade faz crer que não se pode muitas vezes diferenciar determinados partidos políticos de organizações criminosas.

Alguns fazem recrutamento de filiados, convenções, depois das eleições indicam seus membros para assumir cargos no Executivo, mas toda a aparência é de que esse ritual visa a somente sugar recursos para os bolsos de seus afilhados, retirados do erário, fruto dos impostos recolhidos pelos contribuintes.

Evidentemente, nesses casos, em meio a essas pretensas organizações criminosas, existem pessoas de bem, honestas, idealistas, que pretendem com a prática política apenas o bem da sociedade, os incautos.

Mas o cerne dessas organizações espúrias, pelo que se nota, é dirigido para a locupletação de alguns mais espertos e ligeiros dos seus membros.

A impressão que se tem ultimamente é de que a única diferença entre o Fernandinho Beira-Mar e o Paulo Maluf é que nunca o Fernandinho Beira-Mar aparece de gravata.

ALBERTO TAMER - Brasil depende muito da China


Brasil depende muito da China
ALBERTO TAMER
O Estado de S. Paulo - 20/10/2011

A China vacila, mas não tropeça. Cresceu menos no terceiro trimestre, mas respeitáveis 9,1% sobre 2010. No segundo, cresceu 9,5%. É sinal de que está desacelerando gradualmente, o que afasta, por enquanto, o risco de uma aterrissagem brusca, como aconteceu em 2007, quando o PIB ficou abaixo de 7%. Pode fechar o ano em 9% ou talvez um pouco menos. Não é grave porque o governo manteve a política de estimular a demanda interna, que representa 40% do PIB e conter a inflação por meio de subsídios ao setor que mais pesa nos preços - alimentos. Ela se mantém em 6,2%, com sinais de leve recuo. Pode aumentar, mas a China tem ainda a arma do câmbio. O yuan valorizado pode ser usado para reduzir o custo dos produtos importados e, principalmente, dos alimentos. Com isso, evita tensões sociais mais graves. Ou importá-los absorvendo a diferença. Tem recursos para isso. O cenário atual não tranquiliza, mas alivia o clima de recessão na economia mundial com países importantes crescendo 1,5%.

Importa. Esse resultado da China é vital para a economia mundial, pois ela importa anualmente cerca de US$ 1,5 trilhão. Só se equipara com os Estados Unidos, que representam quase 50% do mercado mundial. Tem superávit comercial de US$ 172 bilhões nos últimos 12 meses, a maior parte com os Estados Unidos. No último trimestre, as exportações aumentaram 17,1% e as importações 20,9%.

Essa tendência deve se acentuar por causa do novo modelo chinês voltado para a expansão do mercado interno no qual há pelo menos 500 milhões de pessoas que consomem pouco. Esse modelo começa a dar resultado. As vendas no varejo em setembro cresceram 17% ante agosto e a produção industrial, que havia recuado, cresceu 13,5%. "Esses resultados são surpreendentes e reforçam a visão de que o crescimento da China é cada vez mais guiado pela demanda domestica", afirma Zhwei Zhang, economista do Nomura.

Bom para eles. E melhor para nós. Mesmo que a economia recue, a demanda interna deverá aumentar.

Os chineses vão continuar comprando e comendo mais. Aqui entra o Brasil. As exportações de soja triturada para a China aumentaram 38,4% até setembro; óleo de soja, 78%; carne de frango, 111%. A China lidera as exportações brasileiras e está no segundo lugar entre os importadores. É hoje o maior parceiro, com um comércio bilateral aumentando quase 40%.

O que não tem sido destacado é a crescente dependência da China. Uma "dependência passiva", de acordo com análise recente do banco Nomura, em Nova York: "Vemos a dependência se aprofundar. Para o melhor ou pior, o futuro econômico do Brasil será mais e mais em função das decisões tomadas em Pequim."

Mais e mais o Brasil está deixando de exportar para outros países para agarrar-se ao barco chinês que continua navegando, mas meio à deriva no que diz respeito ao comércio bilateral, com os produtos básicos dominando as exportações.

Estamos mudando para a China a dependência que antes tínhamos com os Estados Unidos, que chegou a ser de 26%. A nossa com a China se aproxima de 20%. Só que, nesse caso, é mais danosa pela primarização da pauta comercial. Para outros economistas, a dependência é "relativa" e existe só no setor de commodities, diz Welber Barral. Não é tão grave. No mais, estamos bem com eles. Só que quase todas as exportações para a China estão concentradas nesses produtos. Portanto, ela existe, sim. E vai agravar-se nos próximos meses, porque o comércio mundial se retrai.

Tudo bem, por enquanto. E ficamos à mercê do que acontecer na China. Felizmente, por enquanto, o que está acontecendo nos ajuda em parte. O governo chinês reafirmou esta semana que vai manter o crescimento interno, mesmo tendo adotado medidas de restrição de credito. Ele quer que a participação do mercado interno no PIB passe dos atuais 40% para 60%. Isso pode trazer mais inflação - o governo está conseguindo conter com subsídios oferecendo o consumo de alimentos

Esse cenário pode trazer mais tranquilidade ao Brasil, mas não reduz o delicado risco de dependência. Na verdade, não há apenas uma, mas uma dupla dependência: da China e dos preços das matérias-primas que, por sua vez, não devem aumentar - podem até recuar - tendo em vista que a economia mundial não vai crescer nos próximos meses.

E isso mesmo que se resolva a crise europeia no curto prazo. Eles podem até encontrar uma solução na reunião de domingo, mas isso não deverá tirar a União Europeia do caminho da recessão prevista por muitos economistas para este trimestre. Depois de 18 meses de discussão sobre como superar a crise financeira na Eurozona, eles iniciaram outra: o que vamos fazer para voltar a crescer. Mais 18 meses? Política fiscal ou monetária? Incentivar o consumo ou cortar o crédito e conter a demanda por causa da inflação? Mais um ano e meio de discussão?

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Presença de mulher cresce em 'área masculina'
MARIA CRISTINA FRIAS 
Folha de S.Paulo - 20/10/2011

Apesar da ainda baixa presença de mulheres em cadeiras de presidência, as companhias têm hoje maior participação feminina em cargos de diretoria e alta gerência.

A área de finanças, historicamente conhecida pela forte ocupação masculina, começa a mudar de perfil. A Michael Page, de recrutamento, contratou 61% de homens e 39% de mulheres em média e alta gerência em 2011 em todas as áreas. "O interesse por finanças surpreendeu com 40% de mulheres. Elas aparecem em controladoria, gestão de impostos e planejamento", diz Sergio Sabino, diretor do grupo na América Latina.

Cerca de 59% foram para a área jurídica. "Podemos citar aí societário e tributário. Contratamos mais advogadas mulheres", afirma. O departamento de RH permanece na liderança, com 67% de mulheres. Engenharia e manufatura ainda atraem 73% de homens. O Brasil tem lideranças femininas em quase 14% das maiores empresas atualmente, segundo a Hays Executive. Há dez anos, essa participação girava em torno de 6%.

"O Brasil caminha para um equilíbrio. Mas, em cargos de presidência ainda está longe", diz Cynthia Rejowski, da Hays Executive no Brasil.

Segundo dados da empresa especializada Fesa, a contratação de mulheres em todos os níveis neste ano registra até agora 45% de crescimento em relação ao mesmo período do ano passado. Quase 70% delas possuem MBA ou pós-graduação.

Cantando na chuva
Mesmo com a desaceleração da economia, o setor de construção civil continua em crescimento. A empresa Dicico prevê aumento de 18% neste ano, de acordo com o copresidente Jorge Letra. Enquanto isso, o segmento deve ter alta de 6% nas vendas.

A rede de lojas de material de construção abrirá cinco unidades no Estado de São Paulo em 2012. O investimento em cada uma delas varia de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões. Os tamanhos das filiais ficarão entre 1.500 m2 e 4.000 m2, segundo Letra. "Além das novas unidades próprias, também faremos grandes reformas em três lojas, que receberão investimento semelhante, e uma mudança de ponto."

A rede também implementará um plano de expansão por meio de franquias. Nos próximos quatro anos, serão abertas cem unidades. "O setor não se expande muito por franquias devido à dificuldade de ter todos os produtos em estoque. Nos preparamos por quatro anos para garantir a logística adequada a partir dos centros de distribuição", diz Letra. Os principais concorrentes da Dicico são Leroy Merlin, Telhanorte e C&C.

Queda Soberana
O otimismo dos europeus em relação à economia, observado em junho pela empresa GfK, perdeu espaço em setembro, segundo novo estudo da companhia. Há três meses, a pesquisa apontou uma melhora nas expectativas do consumidor pela primeira vez desde o início da crise. Agora, porém, as discussões sobre as dívidas soberanas trouxeram o pessimismo de volta. Os maiores declínios na expectativa econômica apareceram na Alemanha (queda de 50,3 pontos para 4,8) e na Áustria (de 19,6 para -26,2).

O indicador da GfK varia de -100 a +100. Valores negativos mostram que a avaliação dos consumidores está abaixo da média no longo prazo. Os consumidores da Polônia foram os únicos que melhoraram suas expectativas. A Grécia perdeu toda a confiança em uma possível recuperação, e o indicador atingiu -58,7 pontos. Hoje um em cada seis gregos está desempregado. No final de 2012, deverá ser um em cada quatro.

Faz... A FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo) passa a usar um laboratório de finanças a partir de 2012.

... de conta
Alunos de graduação poderão praticar gestão de investimento em ações e outros ativos financeiros por meio de um simulador de ações e ferramentas de análise e negociação de ativos.

Seguro
O setor de seguros, excluídos VGBLs, fechou o primeiro semestre com faturamento de R$ 40,5 bilhões (alta de 19,3% ante igual período de 2010), segundo o Sincor (sindicato dos corretores de SP).

Crédito
O volume de títulos protestados de pessoa jurídica subiu 7,6% neste ano até setembro, segundo a Boa Vista, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito. Para pessoa física, caiu. "É termômetro de inadimplência", diz Flávio Calife, da Boa Vista.

CELSO MING - O desafio fiscal


O desafio fiscal
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 20/10/2011

Uma das mais notáveis evoluções do pensamento econômico das esquerdas brasileiras é a importância que passou a dar ao equilíbrio das contas públicas.

Até recentemente, tudo o que cheirasse a austeridade fiscal e a controle do endividamento público era tido por seus defensores como receita neoliberal, propagada pelo Consenso de Washington e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O agravamento da crise global e a situação relativamente confortável com que o Brasil a vai enfrentando estão levando os economistas identificados com o chamado pensamento heterodoxo, que ainda prevalece nas esquerdas brasileiras, a resgatar as vantagens da ortodoxia fiscal.

Não foi sem surpresa que, em entrevista publicada terça-feira no jornal Valor Econômico, o representante do Brasil no FMI, Paulo Nogueira Batista Júnior, ergueu a bandeira que ele próprio, alinhado ao pensamento desenvolvimentista brasileiro, tantas vezes no passado pareceu repelir, por considerá-la inaceitável.

Afirmou que a redução gradual dos juros e a necessária depreciação da moeda (para dar mais competitividade ao setor produtivo) exigem "uma política fiscal muito disciplinada".

A presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já tinham anunciado maior rigor na administração das despesas públicas como condição imprescindível para uma redução maior dos juros. É a política fiscal mais apertada abrindo caminho para uma política monetária (política de juros) mais frouxa. O efeito imediato é um alívio nas contas públicas, à medida que a queda dos juros derrubaria os prejuízos com os juros da dívida.

Mas Nogueira Batista vai ainda mais fundo do que a presidente Dilma e o ministro Mantega. Lembra, na entrevista, que "a única forma de o Estado nacional ficar independente dos mercados é controlando seu déficit e sua dívida".

O pensamento das esquerdas nacionalistas do País havia digerido mal as lições do maior economista do século 20, John Maynard Keynes. Em outros tempos, pregou a forte expansão das despesas públicas como melhor forma de progredir economicamente. O economista Celso Furtado, por exemplo, entendia que o preço do desenvolvimento era a boa dose de inflação que sobreviesse a essa expansão das despesas públicas.

Essa receita quebrou o Brasil na década de 1980 e hoje está arruinando a Europa, embora, por lá, fosse colocada em prática não propriamente para fazer andar o setor produtivo e o emprego, mas para financiar o Estado do bem-estar social.

A crise está mostrando que os Estados europeus excessivamente endividados se transformaram em molambos fiscais. Perderam a independência em relação aos mercados e se tornaram reféns das agências de classificação de risco e dos bancos. E, mais que tudo, já não conseguem colocar em marcha nenhuma política social consistente, por não conseguirem se financiar.

Aperto fiscal apenas pelo aperto fiscal é idiotice. Mas, se é para dar competitividade ao produto nacional e, nessas condições, baixar o custo Brasil; derrubar os juros a níveis civilizados; e financiar o avanço econômico em condições sustentáveis; é preciso ter equilíbrio nas contas públicas. Esse reconhecimento por todas as correntes do pensamento econômico brasileiro é uma conquista.

CONFIRA

Desta vez, a decisão do Copom saiu sem surpresas. Como esperado, os juros básicos (Selic) foram cortados em meio ponto porcentual, para 11,5% ao ano. No comunicado, o Banco Central apenas reiterou que esse corte é compatível com a pretendida convergência para a meta em 2012.

A vez da inflação. Com esse anúncio, fica difícil prever que novidades o Banco Central poderá avançar na ata desta reunião do Copom, a ser divulgada na quinta-feira que vem. A próxima atração será o comportamento da inflação nos próximos dois meses.

LUCIANO PACHECO - Energia cara e de baixa qualidade


Energia cara e de baixa qualidade
LUCIANO PACHECO
O ESTADÃO - 20/10/11

Os frequentes apagões dos últimos anos trouxeram à tona a questão da baixa qualidade do fornecimento da energia elétrica no País. Além de pagarem uma das contas mais altas do mundo, os consumidores brasileiros enfrentam vários problemas na entrega do insumo. No caso da indústria, o problema é ainda mais grave e vai além dos blecautes: muitas vezes, interrupções de curta duração e variações na tensão de fornecimento geram impactos tão ou mais significativos na produção industrial do que apagões de várias horas.

Levantamento sobre o assunto feito com companhias ligadas à Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) revela que o número de ocorrências ultrapassa a esfera do aceitável. Das empresas consultadas, 64% estão insatisfeitas com o serviço de fornecimento de energia. O volume de incidentes justifica a insatisfação: uma única concessionária, no Estado do Rio, foi responsável por 48 eventos em apenas quatro meses. Outra companhia, atuante em São Paulo, esteve envolvida em 51 ocorrências nos últimos dois anos. Nas áreas de distribuidoras de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, a situação é ainda pior, com registro de, respectivamente, 72 e 112 ocorrências no período.

Quanto aos prejuízos causados pelas interrupções no fornecimento, apenas quatro indústrias consultadas declaram perdas de quase R$ 3 milhões. E esse número só diz respeito a impactos diretos na produção, não contabilizando gastos com consertos de equipamentos ou redução de sua vida útil. Além disso, nos casos de desligamentos não programados, a retomada pode demorar muito tempo. Uma unidade petroquímica do Nordeste, por exemplo, levou 45 dias para retomar integralmente a produção após o apagão que castigou oito Estados da região em fevereiro.

A falta de aderência entre os parâmetros regulatórios e as necessidades dos grandes consumidores pode explicar muitos desses problemas. Os atuais índices de qualidade regulatórios do setor só consideram que há problemas no fornecimento de energia quando as interrupções são superiores a 3 minutos. Isso não corresponde à realidade da indústria, já que, por causa da sensibilidade de seus equipamentos, falhas de milissegundos podem significar desligamentos e, consequentemente, prejuízos.

A sensibilidade dos equipamentos usados na indústria também não é considerada na definição dos limites de variações de tensão de fornecimento aceitos pelas atuais regras.

Outra questão é a possibilidade de os responsáveis pelos problemas arcarem com os prejuízos dos consumidores. Hoje a compensação por prejuízos só ocorre no caso dos consumidores que recebem a energia em tensões iguais ou inferiores a 2,3 kV. Mas, quando a situação se inverte e os consumidores são os responsáveis pelos danos nos equipamentos das distribuidoras, a regra muda e se aplica a todos. Ou seja, as distribuidoras sempre têm de ser ressarcidas por consumidores cujas cargas tenham provocado distúrbios em seus equipamentos elétricos, independentemente da tensão em que estejam ligados. Não há, pois, reciprocidade.

Outra questão grave: mesmo sem condições de operar por falhas no fornecimento de energia, o consumidor afetado tem de arcar com os encargos de uso, de acordo com o estabelecido em seu contrato de demanda. Ou seja, a indústria fica sem produzir e continua remunerando quem lhe causou o problema.

Neste cenário, a informação de que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pretende reduzir reajustes de tarifas de distribuidoras de energia com serviços ruins é uma boa notícia. Espera-se que isso contribua também para reverter a situação bastante desigual no que tange a direitos e deveres dos grandes consumidores de energia e das concessionárias, com clara desvantagem para os primeiros. É preciso adequar essa relação, de modo a melhorar a qualidade e reduzir injustiças no processo. Caso contrário, corremos o sério risco de nos tornarmos recordistas também entre os países com piores condições de fornecimento de energia.

CONTARDO GALLIGARIS - Fundamentos da moral


Fundamentos da moral
CONTARDO GALLIGARIS
FOLHA DE SP - 20/10/11

Você quer uma moral laica, inspirada pela razão? Pois bem, seus fundamentos serão frágeis (e engraçados)

Num belo dia de 1760 ou por aí, Denis Diderot recebe a notícia de que Jean-Jacques Rousseau desistiu de escrever o verbete "Moral" da grande Enciclopédia, da qual Diderot é um dos editores-chefes. A impressão do décimo volume da obra está parada na espera do texto. A solução é Diderot escrevê-lo, na hora, ao longo de uma tarde durante a qual várias circunstâncias colocam à prova, justamente, a moralidade do filósofo.

Essa é a situação apresentada na peça "O Libertino", de Eric-Emmanuel Schmitt, em cartaz até 27 de novembro no teatro Cultura Artística Itaim, em São Paulo. A peça foi adaptada e é dirigida por Jô Soares, com o brio alegre de uma farsa de Feydeau ou de uma comédia de Goldoni, e com um elenco particularmente feliz (a começar por Cassio Scapin, que é Diderot). Um provérbio latim diz que, rindo, a comédia critica os costumes. "O Libertino" nos leva não só a criticar nossos costumes, mas a examinar os frágeis fundamentos de nossas normas morais. Vamos com calma.

O evento apresentado na peça é uma ficção. O verbete "Moral", como quase um terço da Enciclopédia de Diderot e D'Alembert, foi escrito pelo cavalheiro Jaucourt, que redigiu sozinho mais de 17.000 verbetes, até merecer o apelido de "escravo da Enciclopédia". O cavalheiro era culto e sem brilho: o verbete "Moral" é um texto chato, com uma ou outra afirmação ousada -por exemplo, Jaucourt escreve que a moral é um investimento mais seguro do que a fé, porque um ateu virtuoso pode se salvar, enquanto não há salvação para um crente vicioso. Mas o que é virtuoso e o que é vicioso?

É fácil responder, se acreditarmos numa revelação divina. Mais complicado é fundar uma moral laica, inspirada pela razão. Jaucourt sugere apostar no número, notando que os povos civilizados concordam quanto aos pontos essenciais da moral, ao passo que podem discordar totalmente em matéria de fé religiosa. Talvez o aprimoramento mais recente do argumento de Jaucourt seja o de John Rawls. Em "Justiça como Equidade" (Martins Ed.), Rawls propõe que a gente aceite como normas sociais morais aquelas que aprovaríamos por unanimidade, caso todos nos esquecêssemos completamente de nossa etnia, de nosso status, de nosso gênero e de nossa concepção do bem. Essa amnésia fundaria nossa moral, pois, graças a ela, seriam aprovadas só as normas que servissem ao bem de todos. Laborioso, hein? Seja como for, as sugestões de Jaucourt e de Rawls valem sobretudo para a moral pública. Mas como se fundamenta a moral privada, que nos orienta na escolha do bem e do mal no dia a dia? Essa é a questão com a qual "O Libertino" nos faz rir e pensar. Na peça, Diderot está hospedado na casa do barão d'Holbach, por cuja filha (ótima Luiza Lemmertz) ele é seriamente tentado. D'Holbach era ele mesmo um contribuidor da Enciclopédia.

No seu "Sistema da Natureza", o barão avançava a ideia de que a virtude moral deveria estar ao serviço de nossa felicidade. Na peça, Diderot, escrevendo seu verbete, tenta adotar esse argumento, que d'Holbach desenvolvera até ao paradoxo: se um homem for feliz no vício (e não na virtude), de repente, o vício seria legitimamente sua moral. Problema.

O barão d'Holbach era ateu e materialista. Questão: se o homem é uma máquina sem alma, ele não tem liberdade de escolha, e, se ele não é livre, a própria ideia de moral perde seu sentido. Mais um problema.

Enfim, se você puder, assista à peça e se divirta. Se não puder, divirta-se imaginando como você escreveria o verbete "Moral" de sua enciclopédia pessoal -e lembre-se: você não tem o conforto de acreditar numa revelação divina e nem está convencido de que saibamos resistir livremente a nossos impulsos e desejos.

Lembre-se também de escrever seu verbete numa tarde em que, como Diderot, 1) você é tentado pelo adultério, embora ame sua mulher, 2) você gostaria de seduzir a filha de um amigo, a qual tem a idade de sua filha, 3) você professa opiniões "avançadas", mas não quer que elas valham no caso de sua filha, 4) você é seduzido pelo charme de uma criminosa, a ponto de se perguntar se, no fundo, os valores estéticos não deveriam ser mais importantes que os valores morais (não se escandalize: há românticos e modernos para pensar exatamente isso).

Mais uma coisa: se você for mulher ou tiver preferências diferentes das de Diderot, apenas mude o gênero no parágrafo acima.

WAGNER VILARON - Um cardápio 'made in Brazil'


Um cardápio 'made in Brazil'
WAGNER VILARON 
 O Estado de S.Paulo - 20/10/11

Sempre defendi a realização da Copa do Mundo no Brasil. E assim como tantos outros que pensam da mesma maneira, uma das argumentações que mais utilizei para justificar tal posição é o fato de o evento servir para expor o País para o mundo. Os holofotes do Mundial fariam, como farão, com que pessoas de lugares distantes, que sempre identificaram o Brasil apenas ao futebol e ao samba, conhecessem também outras peculiaridades de nosso dia a dia.

E não é que este fenômeno já começou! Graças à natural atenção que a Copa do Mundo provoca e toda vitrine internacional que ela representa, o mundo todo, e não mais apenas meia dúzia de especialistas em política ou economia internacional, já começa a conhecer em detalhes algumas facetas de nossa sociedade. Alguns exemplos:

- O planeta começa a perceber que os interesses individuais, partidários e corporativos que permeiam nossa sociedade são capazes de inviabilizar qualquer trabalho de integração coletiva, por mais nobre que esse possa ser. Ou seja, falar em trabalho pela imagem do Brasil e tão hipócrita quanto utópico.

- Também mostramos para o mundo a incrível facilidade com a qual escândalos de corrupção brotam em nossa sociedade. Não por acaso, ministérios diretamente ligados à organização e promoção da Copa do Mundo, casos das pastas de Transportes, Turismo e, agora, Esporte, tornaram-se centros de desmandos e constrangimento público. Talvez o mais interessante para o observador externo seja perceber que, junto com o problema, oferecemos também a solução, e com tempero à brasileira: nada melhor para superar um escândalo do que outro escândalo.

- E o que falar dos privilegiados gringos que, por causa de todo oba-oba em torno do Mundial, já tiveram a oportunidade de passar por aqui, seja a trabalho ou turismo. Estes puderam constatar que o simples ato de andar pelas ruas brasileiras não é algo tão simples. Se o sujeito está a pé, o sentimento é de intimidação. Mas se está de carro é de pena do pobre possante, que sofre com nosso incrível asfalto que enruga.

Ah, entenderá também os reflexos de uma das cargas tributárias mais altas do mundo, capaz de fazer com que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, frequentador de sofisticados ambientes, reclamasse de nosso custo de vida.

- Já os jornalistas e torcedores estrangeiros que, por causa da Copa do Mundo, começaram a acompanhar mais de perto o futebol pentacampeão do mundo viram que por aqui também é possível ocorrer uma greve de jogadores. Só que, ao contrário da NBA, cá abaixo a questão não é de grana. Os caras simplesmente cansaram de apanhar de torcedores e exigem segurança para trabalhar. "Exigir segurança para trabalhar" é uma frase difícil de explicar para um gringo do hemisfério norte.

Pois é, como vemos, há muita gente que trabalha incansavelmente para convencer a nós, que defendemos a vinda da Copa do Mundo para o Brasil, que cometemos um grave erro de julgamento. E pelo menos esta tarefa eles executam com competência, pois estão quase conseguindo.

Documentário. Por mais que o futebol seja maltratado, vira e mexe algumas obra artística faz com que lembremos o poder que essa modalidade tem de transcender o universo esportivo e colaborar como fator de integração. A mais nova produção que se encaixa neste perfil é o documentário "Sobre Futebol e Barreiras".

Nele, um desfile de personagens interessantes mostra como palestinos e israelenses comportam-se durante a Copa da África do Sul. Dirigido por Arturo Hartmann, João Carlos Assumpção, José Menezes e Lucas Justiniano, o documentário estreia na Mostra Internacional de São Paulo a partir de amanhã. Imperdível!