sexta-feira, outubro 14, 2011

EDITORIAL O GLOBO - Quando a vida fica mais cara


Quando a vida fica mais cara
EDITORIAL
O Globo - 14/10/2011

Marchas contra a corrupção pontuaram o feriado nacional em diversas cidades brasileiras, começando por Brasília. Não são manifestações de massa - fala-se em 20 mil pessoas na capital federal -, mas, de alguma forma, o recado foi dado: o de que o tema começa a incomodar a sociedade.

Por enquanto, há uma desproporção entre causa e efeito. As causas estão lá. No Santuário Nacional de Aparecida, foram apontadas pelo cardeal Raymundo Damasceno, presidente da CNBB: "Não podemos concordar com nenhuma forma de corrupção. A Igreja pede que as denúncias sejam investigadas."

Por que as consequências ainda são pequenas? Vários motivos já foram sugeridos. O primeiro deles é, sem dúvida, o "feel good factor" - o fato de que o país continua crescendo, o desemprego está em níveis ainda suportáveis, os programas assistenciais atenuam a miséria.

Também há a cooptação de entidades que, em outros tempos, poderiam fazer barulho. Nos dois mandatos de Lula, os sindicatos sentiam-se, de alguma forma, parte do jogo político, eram tratados com deferência (o que ainda pode acontecer, mas em menor grau). Nesse quadro, podem surgir a qualquer momento notas desafinadas, o que aumentaria a sensibilidade social para o dinheiro que é desviado da coisa pública.

O custo da corrupção já foi avaliado - e é altíssimo. Há o desvio puro e simples; e as consequências do desvio. Educação e saúde, como se sabe, são dois pontos vulneráveis no novo projeto "Brasil potência"; e são áreas em que a corrupção atua desabridamente. Muitas vezes, o dinheiro que sai de Brasília é desviado no seu porto de destino - as prefeituras. Nessa área municipal, outra árvore frondosa é a das câmaras de vereadores, que, ou não deviam existir, ou pagam salários exorbitantes em relação à economia local.

Aqui se pode identificar a muito citada paciência (ou leniência) do povo brasileiro com os malfeitos. Porque, se a corrupção federal tem formas sutis de dissimulação, o que impede um município pobre de se rebelar contra seus supostos representantes, que usam e abusam das prerrogativas do poder?

Mas a grande mistificação vem do centro do poder. Vivemos um presidencialismo imperial que serve de modelo para tudo. E, nos dois últimos períodos de governo, não houve um caso de desvio de ética para o qual não se encontrasse desculpa ou atenuante. O ex-presidente Lula chegou a dizer, recentemente, que os políticos deviam mostrar um couro duro para passarem incólumes ante uma eventual saraivada de denúncias.

O Brasil tem mostrado indicadores sociais positivos. Milhões de pessoas tiveram acesso a melhores níveis de vida, consequência de um processo que começou com o Plano Real. Mas a corrupção aumenta, sem cessar, o custo do Estado brasileiro, que já é enorme. Para financiar esse Estado, sobem os impostos e demais cobranças. E o que acontece é que o brasileiro, hoje, está pagando mais caro por todas as necessidades do dia a dia. E assim vão-se criando condições para uma consciência social mais aguda. Que grite forte contra o assustador desvio de recursos.

EDITORIAL O ESTADÃO - O que retém a voz da rua


O que retém a voz da rua
EDITORIAL 
O Estado de S. Paulo - 14/10/2011

As marchas contra a corrupção no feriado da quarta-feira em 18 cidades brasileiras decepcionaram os que torciam para que elas fossem mais concorridas do que as do Sete de Setembro. Tivesse isso acontecido, poderia ser um sinal de que a expressão pública da indignação com o que se passa nos Poderes da República - os "malfeitos", no eufemismo da presidente Dilma Rousseff - estaria enfim ganhando corpo como embrião de um movimento de massa. No Dia da Pátria, 25 mil pessoas saíram de casa em Brasília para externar a sua repulsa pelos políticos. O estopim foi a absolvição, por seus pares, da deputada Jaqueline Roriz, flagrada recebendo dinheiro ilícito antes de se eleger pelo Distrito Federal.

Anteontem, segundo estimativas não confirmadas pelas imagens transmitidas pela TV, não passaram de 20 mil - e nada nem remotamente comparável a isso em outros pontos do País. Em São Paulo, por exemplo, apenas mil pessoas se mobilizaram para percorrer a Avenida Paulista. No Rio, cerca de 2 mil se juntaram na orla de Copacabana. O contraste com as multidões que têm ocupado as ruas no Hemisfério Norte para ventilar o seu descontentamento com os chamados poderes constituídos reforça para muitos a crença - na verdade, o estereótipo - de que o brasileiro é um acomodado. Pior ainda é a comparação com as grandes ondas cívicas da história nacional no último quarto de século: os comícios pelas Diretas Já em 1984 e as passeatas pelo impeachment do presidente Fernando Collor em 1992.

E não se diga que falta foco às atuais manifestações convocadas por intermédio das redes sociais. A bandeira do combate à corrupção se desdobra em demandas concretas, ao alcance, de resto, dos cidadãos minimamente informados. É o caso da demanda pela entrada em vigor da Lei da Ficha Limpa - ela mesma resultante de uma formidável iniciativa popular -, à espera de ser regulamentada pelo Supremo Tribunal Federal. Outra exigência, talvez ainda mais inteligível, é a do fim do voto secreto no Congresso Nacional, graças ao qual Jaqueline, filha do notório ex-governador Joaquim Roriz, se livrou da cassação por quebra de decoro. Mesmo a defesa das prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça, órgão de controle do Judiciário, pode ser explicada em poucas palavras aos distraídos.

E não se diga tampouco que faltam despertadores de consciências no País. Na celebração do Dia de Nossa Senhora Aparecida - o maior evento do catolicismo brasileiro -, a Igreja, pela voz de prelados como o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, e o de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tornou a exortar os fiéis a se manifestar ativamente contra a corrupção. "Quando não somos mais capazes de reagir e nos indignar diante da corrupção", advertiu dom Odilo, "é porque nosso senso ético também ficou corrompido." Decerto a integridade do senso ético de cada qual é condição necessária para dizer "basta!" aos abusos dos poderosos de todo tipo. Mas não é suficiente.

Para surgir e se expressar, a indignação com a rapina do dinheiro público depende de condições objetivas, mais que de um imaginário "caráter nacional" acomodatício. E a primeira dessas condições, ninguém ignora, varia conforme a base material de existência da maioria do povo. Em rigorosamente todos os países onde as ruas foram tomadas nos últimos tempos, a raiz - menos ou mais exposta - da ira popular é o empobrecimento, o desemprego, a escassez de oportunidades, a penúria. No Brasil, no ano anterior ao das Diretas Já, o poder aquisitivo da população diminuíra 15% e o PIB caíra 2,8%. E a recessão provocada pelo Plano Collor pesou pelo menos tanto quanto a esbórnia da República de Alagoas para o clamor pela destituição do presidente.

Hoje, porém, a melhora sem precedentes no padrão de vida de milhões de brasileiros e a sensação geral de otimismo que daí resulta não é que anestesiem as pessoas, mas, à parte quaisquer outras considerações, não as incentivam a protestar contra a corrupção que sabem que existe - e que poderia provocar uma contundente resposta popular se estivesse associada à privação econômica.

ANCELMO GOIS - FALTAM 972 DIAS


FALTAM 972 DIAS 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 14/10/11

Marco Maia, presidente da Câmara, tem ajudado no meio-campo em busca de um entendimento com a Fifa em torno do Projeto de Lei Geral da Copa.
Terça agora, haverá uma reunião em Zurique da cúpula da entidade só para discutir temas polêmicos da Lei, como a ideia da meia entrada para estudantes, com a presença de Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê Organizador Local.

ALIÁS... 
A semana que vem será toda de reuniões na Suíça.
A Fifa anuncia quinta, 20, como se sabe, as cidades que vão abrir e fechar a Copa. Mas esta decisão vai ser tomada ainda na segunda, dia 17.

PIMENTA NA BRIGA 
A família de Hélio Oiticica vai entrar na briga ao lado de Caetano Veloso contra a Odebrecht, que ergue em Salvador um condomínio chamado Tropicália.
É que a empreiteira, ao rebater o protesto de Caetano contra o uso comercial do nome de uma música e de um disco seu, alegou que o termo foi criado pelo artista plástico.

SEGUE... 
A propaganda do condomínio convida a morar num lugar “onde o divino é maravilhoso”.
Só faltou dizer, para completar a música de Caetano: “É preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte.”
Francamente.

BOLETIM MÉDICO 
Wilson Fadul, 92 anos, ex-ministro do Trabalho de Jango, está internado no Hospital São Lucas, no Rio.

TEMPLOS MODERNOS 
O pastor da Igreja Betânia de Icaraí, em Niterói, agora, nos cultos, lê a Bíblia no... iPad. A maioria dos irmãos do templo também já não leva mais as Escrituras Sagradas embaixo do braço. Também usa iPads e outros tablets.

A VOLTA DE GUETTA 
David Guetta, o DJ e produtor francês considerado rei da música eletrônica que tem 24 milhões de fãs no Facebook e lotou o Riocentro ano passado com 18.000 pessoas, vai voltar ao Brasil.
Tocará em 11 cidades. No Rio, será dia 30 de dezembro, num evento oficial do Rio Music Conference 2012. 

ALIÁS... 
Uma falsa notícia da morte de David Guetta agita as redes sociais desde quarta.
O caso chegou a ficar entre os assuntos mais comentados no Twitter.

ROUANET NA BAIXADA 
O músico Da Ghama, ex-Cidade Negra, foi autorizado pela Lei Rouanet a captar R$ 476 mil para produzir o CD Baixáfrica Brasil, um DVD e uma turnê.

GRUPO CAOA 
O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que atua na revenda de carros Ford e Hyundai, comprou mesmo o prédio onde funcionava o Scala, no Leblon, no Rio, com um lance de R$ 94,8 milhões.
Bateu Eike Sempre Ele Batista, que havia oferecido R$ 72 milhões pelo imóvel.

HOMENS DE PRETO 
A Polícia Militar deve sair da segurança do Tribunal de Justiça do Rio por causa do assassinato da juíza Patrícia Acioli.
Está em curso uma negociação para que seja substituída pela Core, da Polícia Civil.

MOISÉS NAÍM - O James Bond de Teerã


O James Bond de Teerã 
MOISÉS NAÍM 
folha de sp - 14/10/11

Como nos filmes de ficção, Manssor Arbabsiar é o 007 iraniano e Abdul Reza Shalai, a Miss Moneypenny

Seu nome é Manssor Arbabsiar, seu apelido é "Scarface", e alguns de seus amigos no Texas, onde ele vive há muitos anos, o chamam "Jack". Ele é um dos James Bonds do Irã. Se Jack é o 007 de Teerã, então Gohlam Shakuri, membro residente no Irã da força Quds, iraniana, uma unidade da Guarda Revolucionária Islâmica, talvez seja o 006.

Abdul Reza Shahlai possivelmente seja o equivalente a Miss Moneypenny, que, nos filmes de 007, era secretária de M, a chefe de todos os espiões.

O governo dos EUA diz que Jack foi contatado por seu primo Abdul Reza Shahlai, um membro da Força Quds. Eles traçaram um plano brilhante: matar o embaixador da Arábia Saudita nos EUA.


Uma boa maneira de fazer isso seria explodir uma bomba perto dele em um restaurante em Washington. A perda de muitas vidas inocentes também foi discutida. A opinião de Jack? "Grande coisa."

As boas ideias de Jack, Abdul Reza e Gohlam não pararam por aí. Como, por exemplo, a de terceirizar o assassinato, encarregando o Zetas, um cartel mexicano de drogas.

Depois de a ideia ter sido aprovada em Teerã e o dinheiro ter começado a fluir de lá para Jack e amigos, eles puseram mãos à obra. Procuraram e identificaram os "prestadores de serviços" mexicanos, negociaram os valores (US$ 1,5 milhão), discutiram o "modus operandi", o "timing", colaborações futuras (explodir embaixadas), etc. O problema é que o "prestador de serviços" mexicano também estava trabalhando para a DEA americana (a agência de repressão às drogas).

Resultado: o FBI capturou "Jack" e redigiu um documento de 21 páginas para um juiz de Nova York, descrevendo a conspiração em detalhes.

Tudo mentira! Diz o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Para ele, isso é consequência do fato de que o movimento "Ocupem Wall St." está prestes a derrubar o governo americano. E o capitalismo.
O aiatolá denunciou "o tratamento intransigente das autoridades americanas aos manifestantes" e, para que não fiquem dúvidas, explicou que essa brutalidade policial "nem é vista em países subdesenvolvidos com regimes ditatoriais".

"O movimento acabará crescendo e derrubará o sistema capitalista e o Ocidente", disse Khamenei. Ele explica que Obama precisa de algo que desvie as atenções do colapso americano iminente. E o que poderia funcionar melhor que acusar o Irã, que nunca nem sequer usou de violência dentro ou fora de suas fronteiras, de tentar assassinar o embaixador saudita? Qual é a história real aqui? Não saberemos por algum tempo. Mas sabemos o seguinte:

1) Os conflitos entre Arábia Saudita e Irã pela influência sobre sua região são muito grandes;

2) Há uma batalha feroz entre o aiatolá (que controla a força Quds) e o presidente Ahmadinejad;

3) As sanções internacionais estão tendo um efeito sobre a economia iraniana, e isso está intensificando a turbulência interna;

4) Em períodos de caos, é possível que idiotas tenham a chance de tomar decisões importantes.
5) O movimento "Ocupem Wall St." não vai derrubar Obama. Nem o Ocidente.

ILIMAR FRANCO - Ficha Limpa


Ficha Limpa
ILIMAR FRANCO  
O Globo - 14/10/2011

A Controladoria Geral da União enviou uma minuta de decreto, para a Casa Civil, exigindo critérios da Lei da Ficha Limpa não só para ministros, mas para todos os cargos de confiança do Executivo. Se a presidente Dilma acatar a proposta, o governo não poderá mais contratar quem tiver condenação judicial em segunda instância. Um acréscimo será a vedação de nomeação de sócio-administrador de empresa considerada inidônea.

Propostas de mal a pior para o Rio
A proposta de divisão dos royalties do petróleo dos líderes do PMDB, Henrique Alves (RN), e do PT, Paulo Teixeira (SP), é ainda pior, para o Rio, que a dos senadores Wellington Dias (PT-PI) e Vital do Rêgo (PMDB-PB). Os senadores querem reduzir o direito a participação especial do estado do Rio de 40% para 35% em 2012, os deputados querem jogá-la para 30%. Em 2016, o Rio teria 25% desta receita no texto do Senado, o da Câmara quer derrubá-la para 10%. No caso dos municípios, o Senado reduz os royalties de 26,75% para 17% em 2012 e para 6% em 2018. A Câmara quer deixar os municípios do Rio com 2% em 2018.

Eu acho que o Aécio não colocou o carro na frente dos bois" - Sérgio Guerra, deputado federal (PE) e presidente do PSDB, contestando crítica feita pelo ex-presidenciável José Serra

Persona non grata
Presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski (foto) está convocando manifestação de prefeitos nos dias da votação da redistribuição dos royalties do petróleo. Ele pede apoio ao relatório do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) afirmando que vai gerar R$4 bilhões para os municípios a partir de 2012. O presidente da Associação Estadual de Municípios do Rio, Vicente Guedes, está irritado e vai propor que ex-prefeitos, como Ziulkoski, não possam assumir a presidência da CNM, além de acabar com a reeleição.

O preferido
Nem o deputado federal Otávio Leite nem a vereadora Andrea Gouvêa Vieira. A direção nacional do PSDB tentou convencer o ex-senador Arthur Virgílio (AM) a transferir seu título para o Rio, para disputar a prefeitura, mas ele não topou.

Trava na DRU
Relator da prorrogação da Desvinculação de Receitas da União, o deputado Odair Cunha (PT-MG) negocia, com o Ministério do Planejamento, a criação de um mecanismo segundo o qual o dinheiro da DRU diminuiria proporcionalmente ao crescimento das receitas não vinculadas do Orçamento. "Em algum momento teremos que respeitar a vontade do constituinte originário de vincular as receitas do Orçamento", argumenta Cunha.

Demora
Depois de dez anos de tramitação, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou, terça-feira, a concessão de pensão especial, mensal e vitalícia, de R$500, aos herdeiros de Frei Tito, que foi torturado na ditadura e se matou.

Levante do royalty
O governador Sérgio Cabral é contra a manifestação organizada pela bancada federal na segunda-feira. Para os aliados, diz que confia na capacidade do Congresso e da presidente Dilma de encontrar uma saída que não agrida o Rio.

Na linha de frente
O DEM quer lançar Priscila Krause à prefeitura de Recife. Filha do ex-ministro do Meio Ambiente Gustavo Krause (governo FH), Priscila é a líder da oposição ao PT. Ela fez 22 mil votos em Recife para a Assembleia Legislativa em 2010.

O MINISTRO Guido Mantega (Fazenda) pediu reunião com a comissão que formula a Lei dos Royalties. Ele é contra tirar mais R$1 bilhão da União. Vai propor que o fundo dos não produtores seja de R$7 bilhões.

O SENADOR Wellington Dias (PT-PI) se reúne hoje, em Porto Alegre, com o senador Pedro Simon (PMDB-RS) e o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS). Vai fazer um apelo contra a radicalização no debate dos royalties.

G-CLIMA. O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) sugeriu ontem à ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) que o governo convoque uma reunião de chefes de Estado, paralela à Rio+20, para discutir o aquecimento global.

LUIZ GARCIA - Todas as fichas


Todas as fichas
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 14/10/11




Nem sempre acontece, mas, de vez em quando, boas ideias prosperam e se espalham pelo país inteiro. Um balanço no jornal de ontem mostra que isso está acontecendo com a ideia da exigência de ficha limpa para quem pretende fazer carreira na vida pública.

Ela nasceu de forma rara. No Brasil, foi inteiramente original. Pela primeira vez, a opinião pública se mobilizou para praticamente impor à classe política uma iniciativa legislativa. O Congresso e o Executivo cederam ao peso de um manifesto com 13 milhões de assinaturas, e nasceu a lei que praticamente impede a carreira política de cidadãos condenados por decisão de um tribunal de segunda instância.

Isso ocorreu há pouco mais de um ano. A opinião pública festejou o sucesso e foi para casa, Mas não para descansar - e sim, pelo visto, para arrumar a casa. Em um número considerável e animador de estados e municípios estão surgindo leis exigindo ficha limpa aos ocupantes de cargos públicos, o que vai além da lei federal, que só se refere a mandatos eletivos. No Rio, está para ser votado pela Câmara de Vereadores um projeto que atinge praticamente todos os ocupantes de cargos de confiança.

Segundo levantamento do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, onde nasceu a campanha da ficha limpa, projetos de lei a respeito estão tramitando ou já foram aprovados em 22 municípios, seis estados e no Distrito Federal. São iniciativas que sugerem ao Congresso discutir se a lei atual não deveria ter o seu alcance ampliado, imitando a legislação de estados e municípios. Ou seja, com a exigência de fichas limpas não apenas para mandatos eletivos e sim para todos os cargos da administração pública. Em outras palavras, limpar todas as fichas.

Mesmo que isso não aconteça, o que está ocorrendo praticamente no país inteiro com certeza pode ter algum impacto no quadro federal. A limpeza nas estruturas administrativas produz inevitavelmente mais eficiência nos serviços públicos. E, como ela nasce da pressão da opinião púbica, representa prova animadora do que pode produzir o exercício da cidadania pelos cidadãos comuns quando vai além do periódico exercício do voto.

ROBERT J. SAMUELSON - Não é fácil ser rico


Não é fácil ser rico
ROBERT J. SAMUELSON
O Estado de S. Paulo - 14/10/2011

Nos momentos de crise, como pela qual passamos, desigualdades gritantes que um dia pareciam toleráveis tornam-se ofensivas

O contexto do movimento Ocupem Wall Street e de propostas de taxação dos ricos- sendo "ricos" uma expressão constantemente redefinida - é a questão maior da desigualdade econômica.

Durante anos, políticos, acadêmicos e eruditos liberais reclamaram da desigualdade crescente,mas seus protestos praticamente não chegavam ao grande público. Quando a maioria das pessoas está se saindo bem, o fato de que algumas pessoas estão se saindo melhor não provoca muita ira. Não mais. Quando muitas pessoas se saem pior, ou temem piorar, os ricos inspiram ressentimento e inveja. Desigualdades gritantes que um dia pareciam toleráveis tornam-se ofensivas.

Em geral, os americanos encaram os ricos como encaram os pobres. Eles são "merecedores" e "não merecedores".

As tecnologias pioneiras merecedoras, administrar empresas vibrantes ou exceder em algo (advocacia, entretenimento, esportes). Poucos se ressentem da riqueza de Bill Gates ou de Oprah Winfrey.Ao contrário,os ricos"não merecedores" são bem-sucedidos por meio de "self-dealing" (uso de recursos alheios em proveito próprio por administradores de empresas) ou atividades carentes de um valor social amplo.

Oque está havendo agora é que mais ricos estão sendo desprezados como "não merecedores". Responsabilizados pela crise financeira, os tipos de Wall Street encabeçam a lista. Durante o boom do mercado acionário dos anos 1990, cerca da metade dos americanos concordava em que "o pessoal de Wall Street era tão honesto e ético como qualquer pessoa", reporta a Harris Poll.Neste ano, somente 26% pensam assim.

Dois terços acreditam que as pessoas mais bem-sucedidas de Wall Street ganham demais.Os presidentes executivos de corporações provocam uma ira parecida.

Com o desemprego em 9% e os salários estagnados, aumentos na remuneração de CEOs têm um ranço de compadrio de diretores submissos. Quando a Hewlett-Packard recentemente demitiu o presidente executivo Leo Apotheker após 11 meses com um pacote de rescisão de US$ 13 milhões, o descompasso entre remuneração e desempenho foi particularmente espantoso.

Além desses bodes expiatórios familiares, o que podemos dizer sobre a crescente desigualdade econômica? Apresentamos em seguida três generalizações.

Primeiro, o aumento tem sido espantoso.

De1945 ao fim dos anos 70, os10% mais ricos dos americanos detinham cerca de 33% a 35% da renda total, incluindo ganhos de capital (principalmente lucros com ações), segundo estimamos economistas Emmanuel Saez e ThomasPiketty.Em2007, sua parte era de 50% - equivalente ao fim dos anos 1920. Boa parte do ganho foi para o 1% mais rico, cuja participação aumentou de 10% em 1980 para 24% em 2007.

Segundo, é um fenômeno global. Em um estudo de 2008, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico( OCDE)revelou que a desigualdade havia aumentado em 17 de 22 países em duas décadas, embora as condições variem dramaticamente de um país para outro.Na Suécia e na Dinamarca, os 10% mais ricos têm rendas cerca de cinco vezes maiores que as dos 10% mais pobres.Nos Estados Unidos,a relação é 14-1. A média da OCDE é 9-1. O México tem a mais alta, 27-1.

Finalmente, a maioria dos ricos americanos - por qualquer definição - não escapam da tributação. Em 2007, os 10% mais ricos pagaram 55% de todos os imposto federais, estima o Escritório de Orçamento do Congresso. O 1% mais rico pagou a parte do leão disso: 18,1% dos impostos federais. A alíquota fiscal média dos 1% mais ricos foi de 29,5%. Além disso, os3%mais ricos respondem por 36% das contribuições de caridade.

Seja qual for a causa, a desigualdade é uma nova linha divisória política. Apenas na semana passada, o líder da maioria no Senado, Harry Reid, democrata de Nevada, propôs uma sobretaxa de 5,6% para os que ganham mais de US$ 1 milhão para financiar o programa de criação de empregos de US$447 bilhões do presidente Obama. O que poderia ser mais fácil?Os milionários são numericamente poucos (cerca de 534 mil, segundo o Centro de Política Fiscal). Eles são cada vez mais impopulares, e podem arcar com isso.

O problema é que os ricos não se encaixam nos estereótipos: eles não são todos CEOs paparicados, banqueiros de investimento espertalhões, popstars e atletas.Muitos possuem pequenas e médias empresas.

Metade da riqueza do 1% mais rico consiste de participações nessas empresas.

Isso dobra suas posses de ações,bônus e fundos mútuos,segundo números compilados pelo economista Edward WolffdaUniversidade de Nova York.

Reid financiaria o plano de criação de empregos de Obama taxando as pessoas que supostamente criam empregos.

E isso faz sentido? A reação adversa contra os ricos é o começo do debate, não o fim. Será que os ricos devem ser punidos pelos seu sucesso o um era mente solicitados apagar sua "justa" cota? Quem é rico ou quem está apenas bem de vida? Será que US$ 250 mil é uma marca razoável para casais, como Obama certa vez sugeriu,ou será que isso foi repudiado? Se os impostos subirem, que abordagem preservaria melhor os incentivos para se trabalhar duro, investir e correr riscos? Os ataques de Obama à líderes empresariais ricos serão apenas vazios ou jogadas políticas baratas? Medidos por qualquer parâmetro, os ricos estão sitiados; e os ataques quase certamente se intensificarão.

/ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

CELSO MING - Impossível sem eles


Impossível sem eles
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 14/10/2011

A opinião pública mundial tem hoje sobre o mercado financeiro uma percepção ambígua e, muitas vezes, confusa.

De um lado, como desde todo o sempre, tende a demonizar banqueiros, bilionários do mercado de capitais, especuladores e rentistas (como os preferem chamar certos observadores das esquerdas brasileiras). E não falta quem peça sua ruína definitiva, seja qual for a categoria em que se enquadrem: banco comercial, de investimento, financeira, administradora de cartões de crédito ou de fundos de hedge.

De outro lado, sabe que não pode provocar a perdição dessa gente. Não só porque a poupança popular pode evaporar, mas também porque, sem ela, não seria possível a vida moderna.

Não são apenas os indignados dos Estados Unidos, da Espanha e de tantas capitais do mundo que querem ocupar Wall Street. A maioria dos atuais dirigentes da União Europeia, com ou sem razão, já lançou seus mísseis contra o mercado financeiro e os especuladores. Dentro da área do euro, o campeão das declarações contra o jogo dos banqueiros é o presidente da França, Nicolas Sarkozy. A todo momento fala em botar freio neles, mas agora admite despejar colossal volume de dinheiro público para fortalecê-los, "porque não podem quebrar".

Até quem deveria conhecer melhor como as coisas funcionam pede ação contra excessivas volatilidades. Segunda-feira, por exemplo, 461 economistas, até mesmo das universidades de Oxford, Califórnia e Berkeley, assinaram documento dirigido às autoridades do Grupo dos 20 (G-20) em que pedem intervenção contra os especuladores do mercado futuro de commodities agrícolas – como se o que acontece aí fosse causa da crise, não consequência. Poderiam pedir o mesmo para o câmbio, para o mercado de ações, para o comércio mundial, para o emprego.

O mercado financeiro ficou gigantesco e operou solto demais. Mas não dá para identificá-lo como inimigo da sociedade e dos Estados nacionais. Ele se transformou no que é porque a poupança cresceu no mundo rico e no emergente, porque as sociedades os toleraram assim.

Há 40 anos, quase não havia fundos de pensão. Hoje, são proprietários de cerca de US$ 13 trilhões em ativos ao redor do mundo. Nesse período, as dívidas dos Estados nacionais se multiplicaram. Só entre as economias mais ricas (OCDE), passa de US$ 42 trilhões (61% do PIB global). Boa parte da prosperidade dos países avançados e dos benefícios distribuídos para a população mais pobre foi obtida com aumento do endividamento, em grande parte, proporcionado pelos bancos e Tesouros dos emergentes. Somente os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) detêm reservas de US$ 4,6 trilhões, a maior fatia investida em títulos de dívida dos Tesouros dos países ricos.

O mercado financeiro não é culpado pela regulação insuficiente e pelo baixo volume de capital próprio em relação a seus ativos que a maioria dos bancos hoje ostenta. Foram os governos de todo o mundo que o quiseram assim ou nada fizeram para que fosse de outra maneira.

Há somente três meses, autoridades da Europa e dos Estados Unidos repeliram advertências de que deveriam capitalizar os bancos. E os testes de estresse providenciados pelas instituições reguladoras da Europa pediram apenas uma fração do aumento de capital hoje pretendido.

Regulagem neles, sim. Mas não dá para fugir desta sina: ruim com o mercado financeiro, impossível sem ele.

CONFIRA

PIB mais fraco. Não foi surpreendente a queda de 0,53% na evolução de agosto (sobre julho) do Índice de Atividade Econômica do Banco Central, já descontados os fatores sazonais, como o gráfico acima mostra. O indicador procura antecipar a tendência da evolução do PIB. Essa queda reflete, especialmente, a atividade mais fraca da indústria. E sugere que o avanço do PIB do Brasil no terceiro trimestre pode ser negativo. Não dá para apostar que a inflação também perca ímpeto enquanto o mercado de trabalho e o setor de serviços continuarem tão aquecidos.

NELSON MOTTA - Boca-livre high tech



Boca-livre high tech
NELSON MOTTA
O Estado de S. Paulo - 14/10/2011

Apresentado como "ativista do software livre", uma espécie de MST digital, um tal de Richard não-sei-o-quê ganhou seu megabyte de fama ao se declarar feliz com a morte de Steve Jobs, "um pioneiro do computador que parece ser cool mas é uma prisão, projetado para privar os tolos de sua liberdade".

Ele descobriu a conspiração capitalista: o iPad, o iPod, o iPhone e as maravilhas tecnológicas criadas por Jobs para facilitar a comunicação entre as pessoas, a troca de ideias, o conhecimento, o acesso à diversão e à arte, foram criados para escravizar os tolos como nós, que nos viciamos na eficiência e beleza das suas máquinas e temos de pagar pelos benefícios que recebemos. Ele queria que tudo fosse livre, aberto, para cada um usar e modificar à vontade, em nome da justiça e da igualdade. Que fofura. Mas quem paga a conta das pesquisas, desenvolvimento e produção dessas máquinas maravilhosas? Quem paga o gênio que as inventa? Assim como os almoços, não há conexões grátis. Deviam convidar esta besta para uma mesa com o Stédile no Fórum Mundial.

Ainda que Jobs tenha sido um canalha nelson-rodrigueano, um tirano ganancioso, um explorador do suor alheio, um Sarney do Vale do Silício, ele seria o único caso em que concordo com o Zé Dirceu: os fins justificaram os meios. Mas Jobs não foi nada disso, todas as evidências são de que era apenas um homem, muito especial, mas com as precariedades da condição humana e sua impotência diante do nosso destino inexorável. Duro, rigoroso e perfeccionista, pode até ter infernizado a vida de algumas pessoas, que provavelmente mereceram, mas seu legado é o de um grande benfeitor da humanidade. No nosso tempo, ninguém contribuiu mais para a liberdade de ver, ouvir, pensar e se comunicar do que Steve Jobs.

Esses ativistas parecem saídos do tempo dos hippies, de tanta fraternidade e solidariedade, paz e amor, bicho, dinheiro é só papel, quando os ativistas da boca-livre viviam alegremente às custas do trabalho alheio. E tem mais, seus cafonas: além de cool, os produtos criados por Jobs foram e são uma educação visual para a beleza e a harmonia.

MILTON HATOUM - Meu gato e os búlgaros



Meu gato e os búlgaros
MILTON HATOUM
O Estado de S.Paulo - 14/10/11

O leitor talvez conheça o baiacu, ou os sabores desse peixe de água doce e salgada. Eu conheço outro: o Baiacu de Ouro, um prêmio literário que recebi em Manaus, há uns 20 anos.

Um dia alguém me telefonou e deu a notícia. Agradeci com duas palavras e soube, aliviado, que eu não ia fazer um discurso na solenidade da entrega. Minha surpresa maior foi o envelope balofo que recebi junto com o Baiacu. Não era um cheque, era dinheiro mesmo, um monte de notas velhas e amassadas, como se recebe no garimpo. Mas como a inflação naquele ano beirava a obscenidade, a ponto de desmoralizar os brasileiros, meu ânimo arrefeceu. O valor do prêmio era segredo, e este garimpeiro de palavras não ia contar em público o valor do trabalho privado. Tive que ouvir um discurso, que felizmente foi breve, e mesmo brevíssimo, sem firulas e salamaleques. Depois quatro músicos interpretaram o Quarteto n.º 1, de Villa-Lobos.

Eram músicos búlgaros, todos loiros e rosados, e todos usavam um traje a rigor na noite abafada. O envelope gordo não entrava no meu bolso, tive que segurá-lo o tempo todo enquanto ouvia o primeiro movimento do Quarteto do grande compositor. Depois do "Canto Lírico" me entreguei a um devaneio: não fosse a queda do Muro de Berlim, esses virtuosos das cordas não estariam interpretando com esmero "Melancolia" diante de um escritor emocionado, que apalpava um envelope obeso. Esses músicos são a maior contribuição da queda do Muro para o Amazonas, pensei, prestando atenção à harmonia, vendo mãos búlgaras movimentar arcos e beliscar cordas, o suor escorrendo de faces e orelhas do país dos Bálcãs, até gotejar no assoalho de uma cidade amazônica. Aplaudi de pé, o coração disparado. 

Quando saí da sala, abri o envelope, contei as cédulas de cruzados e cheguei a um valor que dava para alimentar meu gato por três meses e ainda levá-lo a um bom veterinário.

Leon, Leon, meu querido e inesquecível felino de rua, agora aos meus cuidados e, de agora em diante, com a pança cheia e uma consulta marcada. A pelagem da cor de açafrão, o olhar aceso e misterioso, o miado rouco e indômito, tudo nele lembrava um filhote de onça vermelha.

Algo dentro de mim - talvez minha esperança teimosa - dizia que a estatueta do Baiacu de Ouro fosse realmente de ouro. Bom, o peixe inteiro de ouro maciço seria pedir muito, mas de ouro pelo menos as barbatanas, de ouro uma pontinha da cauda ou um dos olhos. Mas não: era uma estatueta de latão, toda dourada: mera fantasia para um escrevinhador de mundos fantasiosos.

Comprei muitos jaraquis para o meu Leon, dei-lhe uma cama digna e um colchão novo: pedrinhas brancas e polidas, que nem ovos de codorna. Enfim, dei a Leon o próprio Baiacu, para que ele sonhasse com um peixe enorme, fora d'água. A estatueta, cravada num cubo de madeira, prendia a porta aberta do balcão, assim evitaria o barulho quando o vento enraivecia. O bater de portas é um dos grandes traumas da minha infância, quando esse barulho seco, terrível e inesperado me sobressaltava em noites de tempestade. E como a porta do balcão era a única rebelde do meu lar, designei a estatueta para ser sua sentinela diuturna. Lembro que Leon aproximava-se do baiacu, eriçava as orelhas e afiava as garras, ensaiando o salto certeiro. Quando entardecia, os raios de sol, mais amansados, incidiam magicamente sobre o latão, criando reflexos estranhos que enfeitiçavam o felino. Penso que ele não via apenas um baiacu, via também cardumes cintilantes, refletidos no vidro da porta; talvez visse uma possibilidade real de nunca mais passar fome, como milhões de gatos de rua, seus semelhantes paupérrimos, sem prêmios, sem consultas, afagos ou jaraquis. Sem nada. E quando Leon decidiu dar o bote fatal e abocanhar sua presa, percebeu que esse peixe era de mentira, como se dissesse que os prêmios, de algum modo, são apenas fantasias fugazes.

O tempo passou, Leon ganhou um epitáfio escrito pela minha pena, e a estatueta de latão extraviou-se numa de minhas mudanças. E a vaidade daquele tempo, uma vaidade tão grande que parecia inchada, secou por completo.

HÉLIO SCHWARTSMAN - Paradoxos da corrupção



Paradoxos da corrupção
HÉLIO SCHWARTSMAN 
FOLHA DE SP - 14/10/11

SÃO PAULO - Sucesso na internet, as manifestações contra a corrupção não vão tão bem no mundo extrassilício. A pergunta é: por quê?

O que não falta são hipóteses. Entre os suspeitos por nossa tolerância com a corrupção figuram desde a herança ibérica até o jeitinho brasileiro.

Se formos aos dados, porém, vamos descobrir que o buraco é mais embaixo. Pesquisa Datafolha de 2009 mostrou que 94% dos brasileiros concordam que é errado vender o voto. Apesar disso, 12% dizem que trocariam o sufrágio por dinheiro.

Pior, 74% declaram sempre obedecer às leis; não obstante, 83% admitem já ter cometido uma ação ilegítima, de um cardápio que traz de sonegação a estacionar em fila dupla.

O problema está na clivagem entre a ética pública (que segue um modelo deontológico, de normas absolutas) e a ética privada (que vai na linha consequencialista, na qual as ações são consideradas boas ou más em virtude dos resultados que produzem).

Embora essas duas matrizes sejam mutuamente excludentes, nós estamos sempre pulando de uma para a outra.

E por boas razões. Levados até o fim, tanto a ética deontológica quanto o consequencialismo produzem paradoxos que não queremos aceitar. Uma regra absoluta de jamais mentir levaria a sociedade ao colapso: você teria de dizer para sua sogra que a comida dela é horrível.

Já um consequencialismo sem freios sanciona o ato do médico que mata o sujeito saudável para, com seus órgãos, salvar a vida de cinco pacientes na fila de transplantes.

Para que o Estado funcione em padrões de Primeiro Mundo, a balança deve pender mais para o lado das normas absolutas e menos para o do pragmatismo "self-service".

Revela-se aí um novo paradoxo: nós recorremos à ética privada justamente porque as instituições são ineficientes, e elas são ineficientes, entre outras razões, porque toleramos a corrupção. Para sair dessa armadilha, não basta exigir ética. É preciso também fazer o Estado funcionar.

RUY CASTRO - Mil vozes



Mil vozes
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 14/10/11

RIO DE JANEIRO - Ele tinha mil vozes na cabeça. Locutores de rádio famosos, narradores de futebol, de turfe e de cinejornais, cantores de qualquer nacionalidade, astros de Hollywood e dos cinemas francês e italiano -não havia ninguém que José Vasconcellos não conseguisse imitar. Seu ídolo era o americano Danny Kaye, que fazia aquilo tudo e muito mais. Mas, sem patriotada, José Vasconcellos fazia tudo que Danny Kaye fizesse e mais ainda -e provava isso ao imitá-lo, inclusive na sua especialidade: cantar em altíssima velocidade.

Era capaz de reproduzir qualquer sotaque regional brasileiro, sete ou oito acentos estrangeiros e fazer a voz de pessoas de qualquer idade ou nível social. Era também craque em gagos -seu monólogo do narrador gago de futebol era uma pequena obra-prima.

E não havia som emitido pelo corpo, por mais heterodoxo, que ele não reproduzisse. O mesmo quanto a vozes de animais, ruídos de máquinas e toda espécie de sonoplastia urbana ou rural. Guardava de cor monólogos enormes, em linguagem normal, inventada ou em falas nonsense. Além de poemas, como uma longa seção de "Os Lusíadas", que ele parodiava em várias línguas.

José Vasconcellos escrevia os próprios textos e era engraçado sem usar palavrões ou grosserias. Ao contrário, abusava de referências sofisticadas. Sua plateia tinha de ficar esperta para acompanhá-lo e, mesmo assim, ele lotava teatros de terça a domingo, no Rio e em SP, nos anos 50 e 60. Foi o primeiro cômico stand-up do Brasil, inspirador direto de Chico Anysio e Jô Soares.

Morreu nesta terça-feira, aos 85 anos. Pelo que li num obituário, nos últimos anos sofria da doença de Alz-heimer. É cruel. Como se sentiria vendo fugir todos os esquetes, monólogos, vozes e sons que sua cabeça privilegiada abrigava?

GOSTOSA


BARBARA GANCIA - Bêbado também é gente!


Bêbado também é gente! 
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 14/10/11

Agentes de trânsito vão usar Taser, que dispara impulsos elétricos, contra motoristas alcoolizados


Alguém saberia me indicar o caminho para Cascais, por favoire? Devo pegar a saída antes do lago Azul? Ah, é a cidade que fica depois de Resende indo pela via Dutra? Combinado então.

A julgar pelas mais recentes iniciativas dos nossos bravos agentes de , Cascais não pode estar longe. Bem como o Porto, Sintra, Sagres, Vila Real e Estoril. Portugal é aqui e eu já começo a sentir meus bigodes coçando.

Pergunto: para cumprir a lei seca em toda a sua plenitude e rigor, qual foi a iniciativa genial que as autoridades de trânsito de Brasília resolveram perpetrar? Você terá respondido sem piscar: "Ora, eles apostaram na tecnologia e compraram logo um lote de unidades daquele bafômetro ultramoderno que independe de interação e consegue detectar se o manguaceiro tomou além dos limites sem que precise assoprar no tubo".

Ou então, o meu leitor, que é o mais sagaz de todos os leitores deste jornal, terá dado uma resposta apontando no sentido da prevenção. Ele terá dito que o pessoal que cuida do trânsito deve ter tomado alguma medida que una sociedade civil, educadores, comércio e indústria para que todos unidos ao poder público, se juntem num esforço (diga-se, absolutamente viável) para coibir a venda de álcool a quem pretende dirigir.

Pois, veja, meu cliente dileto, como são as coisas. Em vez de o exemplo de civilidade vir de cima, o que é que nossas autoridades fazem? Justamente no país conhecido no mundo inteiro por ter uma polícia que mata criancinhas, nossas autoridades de trânsito querem rosetar.

O leitor mais incauto pode argumentar o seguinte: "Peraí, Barbara! Os agentes de trânsito de Brasília só estão tentando se defender, eles compraram uma meia dúzia de Tasers, um equipamento eminentemente de defesa, que dispara impulsos elétricos e serve apenas para imobilizar o eventual agressor".

E eu lhe direi que o Taser é um artefato ridículo, que mata do coração, que não resolve patavina e que essa questão já tinha sido tratada antes pela Justiça. Quanto vai custar o treinamento do pessoal que usará a engenhoca?

Como é que o agente de trânsito vai saber avaliar se o bêbado é cardíaco, se toma algum medicamento que pode interferir com o coice que o Taser dá, se ele de fato merece um castigo com esse grau de sadismo? Por acaso, vão pagar um curso numa faculdade de Medicina para cada um que receber um Taser para sair por aí no meio da noite?

Alô, gente boa do Detran de Brasília! Querem brincar de "Jackass" façam isso no tempo livre de vocês. No horário de trabalho, melhor tentar civilizar do que estimular a brutalidade. Vão todos alugar "O Vigilante Rodoviário" e passar o fim de semana assistindo às peripécias do inspetor Carlos e seu cão Lobo ajoelhados no milho para ver se se arrependem da besteira.

Será que ainda não deu para entender que violência gera violência? E, vem cá: faltou todo mundo na aula da academia que ensinava a lidar com bêbado, foi?

Taser só pega bem em filme pré-adolescente norte-americano. Mas eu não posso negar que o "Jackass" que reintroduziu essa conversa entre nós poderia experimentar do próprio veneno. E tomar ele mesmo uma bela taserada. No fiofó.

P.S. Piada de português só existem três, você sabe. A que foi usada aí em cima é uma delas.

JOSÉ SIMÃO - Corrupção! Roubei, mas não fui eu!


Corrupção! Roubei, mas não fui eu!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP 14/10/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Pensamento do dia: se corrupção desse caroço, o Brasil seria uma jaca! Rarará! E esse aviso prévio de 90 dias? Vale pra ministro? A Dilma deve tá se coçando!
E eu só gostei de um cartaz na Marcha da Corrupção: "Quem vota nas coxas toma na bunda!". Rarará!
Protesto tem de ser na lata! Essa Marcha da Corrupção é a coisa mais abstrata do mundo. Faltam três coisas: quem, aonde e quando?! E eu vou fazer uma Marcha PELA Corrupção: roubei, mas não fui eu! Rarará!
E vendo o final de "A Fazenda 4", cheguei à conclusão de que pior do que ser ex-famosa é ser ex-gostosa.
Fazenda de 4: três ex-gostosas na final.
E a barraqueira Joana Machado ganhou R$ 2 milhões. Já dá pra comprar briga. E barraco. Dá pra comprar um monte de barraco. Ex-namorada do Adriano e barraqueira. Ela já quebrou quatro carros dos jogadores do Flamengo. Então muda o nome pra Joana Desmanche! Rarará! Joana Machado é aquela que o Adriano amarrou na árvore! Aliás, sabe por que o Adriano amarrou ela na arvore? Pra ela ficar AMARRADONA! Rarará! A biografia dela só não é melhor porque ela não teve um filho com o Latino! Rarará!
E o Loco Abreu do Botafogo? O Corinthians até mudou o slogan pra "aqui tem um bando de loucos. ABREU!"
Corinthians: um bando de Locos Abreu! E a Globo que chama gol contra de "chute na direção errada"? E sabe como se chama gol contra em Portugal? Autogol. E sabe como se chama bicicleta? Jogada sobre duas rodas! E sabe como se chama carrinho? Penalidade sobre quatro rodas. Rarará!
E essa: "Explosão no centro do Rio mata três". Bueiro, Toddynho, shopping, restaurante. Eu não disse que o Brasil vai explodir antes do fim do mundo? O Brasil entrou em erupção! É mole? É mole, mas sobe!
E mais predestinados! Direto de Bauru, secretário da Associação dos Feirantes: Rogerio CARRINHO! E em Curitiba tem um funcionário da Caixa Econômica Federal chamado Diego Pinto Tarifa! "Meu filho, você vai se chamar Diego Pinto Tarifa e vai cobrar uma tarifa do tamanho do seu pinto". Rarará! E duas coisas que eu ainda não vi: a seleção jogar bonito e o pescoço do Maradona. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÔNICA BERGAMO - MOVE MILHÕES


MOVE MILHÕES
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SP - 14/10/11

As festas religiosas movimentaram 6,6 milhões de brasileiros em 2010, segundo estudo do Ministério do Turismo. Eles dormiram pelo menos uma noite nas cidades visitadas e representam 3,6% das viagens domésticas registradas no ano passado. Outros 250 mil fiéis vieram de outros países para celebrações -ou 0,5% dos turistas estrangeiros no período.

MOVE MILHÕES 2
O Departamento de Estudos e Pesquisas do ministério pretende usar os dados da peregrinação de fiéis a Aparecida do Norte (SP), anteontem, no feriado de Nossa Senhora, para ajudar na preparação para a Jornada Mundial da Juventude, evento católico que o Brasil sediará em 2013. A pasta projeta público de 2 a 4 milhões na celebração internacional.

RAIO X
Vítima do acidente em que o Porsche do empresário e DJ Michel Saad Neto, da boate Disco, bateu em seu carro, a psicanalista Simone Varandas passou mal e voltou ao hospital. Novos exames revelaram fratura de quatro costelas, derrame pleural e derrame no pericárdio. Saad afirmara anteriormente que ninguém havia se machucado no acidente. Ele não foi encontrado para comentar.

Daniel Klajmic

CLAUDIA MINNELLI Há 20 anos, Claudia Raia sonha em interpretar Sally Bowles, papel que foi de Liza Minnelli no musical "Cabaret"; no dia 28, com o figurino acima, a atriz dará vida à personagem no Teatro Procópio Ferreira, em SP

PACAEMBU ABERTO
A permissão para que as Assembleias de Deus usem o estádio do Pacaembu para comemorar seu centenário, em novembro, servirá de teste para que a Prefeitura de SP libere a arena para mais shows e eventos. Seria a destinação natural do espaço: hoje ele abriga partidas do Corinthians, mas, no futuro, quando o Itaquerão for concluído, ficará a maior parte do tempo com agenda vaga.

PACAEMBU ABERTO 2
O prefeito Gilberto Kassab defende que o estádio seja reformado no futuro para ter proteção acústica e menos lugares. A ideia, no entanto, não será tocada em sua administração. É que, até o fim de seu mandato, o Corinthians ainda estará jogando no Pacaembu. O Itaquerão só ficará pronto em 2013.

ARRIGO EM VÍDEO
Arrigo Barnabé lançará o DVD "Caixa de Ódio - o Universo de Lupicínio Rodrigues", produzido pela Casa de Francisca, no Áurea, cinema pornô no Centro de São Paulo. O evento está marcado para 16 de novembro.

PALHINHA
Vanessa da Mata será a convidada especial do show do Buena Vista Social Club com Omara Portuondo no dia 20, no HSBC Brasil.

SALTO
Maurren Maggi, que embarca para os Jogos Pan-Americanos do México, na próxima segunda-feira, curtiu o show de Eric Clapton no Morumbi em seus últimos dias de folga.
"Tô solteira", avisou.

ERIC CLAPTON PERDE O JOGO

Eric Clapton era aplaudido em pé pelo público do gramado do Morumbi quando Francisco Mansur, assessor do São Paulo, entra esbaforido no camarote VIP reservado a Juvenal Juvêncio, presidente do tricolor. "Gol do Botafogo!" O cartola e seus convidados reagem: "Gol? Goool!".

Risos, aflição: o Fogão tem que ganhar do Corinthians para que o alvinegro paulista perca o fôlego na disputa pelo Brasileirão, abrindo espaço para o São Paulo. A partida está no primeiro tempo. O Timão ainda pode virar.

Juvenal manda ligar a televisão do camarote no canal do jogo. No palco, Eric Clapton canta "Nobody Knows You When You're Down and Out". Acordes arrebatadores da guitarra. Mas na sala do SPFC, os olhos estão voltados para a partida. "Gooooool!!", gritam. O segundo.

A TV foca Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, que fuma sem parar. Os são-paulinos caem na risada. Horas antes, Juvenal tinha criticado o corintiano dizendo que ele tem "Mobral inconcluso". "Vamos interromper o show para passar o gol no telão do estádio", brinca o diretor Julio Casares.

O ex-governador de São Paulo José Serra chega no camarote para ver o show de Eric Clapton. Pede desculpas por mais de uma hora de atraso. "Eu estava em casa, vendo o jogo do Palmeiras [contra o Flamengo]", diz ele, que é torcedor roxo do Verdão. Todos entendem perfeitamente a sua "falha".

CURTO-CIRCUITO

Maria Ignez Barbosa lança na terça o livro "Histórias de Estilo e Décor", às 19h, na Livraria da Vila dos Jardins.

A marca infantil Fio Encantado faz festa de um ano amanhã, às 15h. A Semana Guiomar Novaes começa amanhã e vai até o dia 22, na Aclimação, com exposição e palestras.

Arlindo Cruz se apresenta amanhã em feijoada no Santa Aldeia, na Vila Olímpia. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

RENATA LO PRETE - PAINEL


Fiel da balança
RENATA LO PRETE
FÁBIO ZAMBELI -interino 
FOLHA DE SP - 14/10/11

Assinada por Dilma Rousseff e publicada ontem, a nomeação de Luciana Lóssio, que atuou no corpo jurídico da campanha petista, para o cargo de ministra-substituta do TSE, é interpretada por especialistas em direito eleitoral como uma mudança no perfil do colegiado. A advogada ocupará a vaga de Joelson Dias, que nutria expectativa de recondução para novo biênio e constava na lista tríplice entregue à presidente.
Dias foi quem acolheu a maior parte dos direitos de resposta reivindicados por José Serra na disputa de 2010, em particular quando o PT explorou na TV as acusações de caixa-dois que envolviam Paulo Preto.

Decolagem O Planalto definiu as primeiras obras licitadas pelo recém-regulamentado Regime Diferenciado de Contratações para a Copa e a Olimpíada: a ampliação do estacionamento do aeroporto de João Pessoa, a construção da nova torre do terminal de Salvador e a instalação do sistema de manuseio de bagagens do Galeão.

Scanner Os contratos serão monitorados pelos ministérios da Casa Civil e do Planejamento, com aval da CGU.

Toga justa Os relatórios preliminares do Orçamento e do Plano Plurianual, que serão entregues na quarta ao Congresso, não trarão previsão de reajustes para o Judiciário. Com isso, a inclusão do aumento para a categoria fica para a votação de dezembro.

Inflação Senadores envolvidos no debate sobre os royalties estão atônitos: a cada dia surge um novo número para a redistribuição dos recursos sem que se mencione a origem do dinheiro. Wellington Dias (PT-PI), que defendia R$ 8 bilhões para Estados não produtores, agora já fala em R$ 9 bilhões.

Linha cruzada Em conversa recente com um ministro, Marco Maia (PT-RS), reclamou: "Não aguento mais receber telefonemas do Lula. Ele liga toda semana como se ainda fosse presidente".

Cobiça As eleições municipais vão esquentar novamente a briga de bastidores por postos importantes do segundo escalão do governo, a começar pelo Paraná. Ontem, durante passagem de Dilma por Curitiba, o assunto dominante era a possível candidatura de Jorge Samek, diretor-geral de Itaipu, à Prefeitura de Foz do Iguaçu, para onde acaba de transferir seu domicílio eleitoral.

Jurisprudência O PSDB paulistano recorreu ao TRE-SP antes de definir, na próxima semana, as regras das prévias que devem escolher o candidato da sigla à prefeitura. Os tucanos têm dúvidas legais sobre o colégio eleitoral e a data da consulta, itens que preocupam os quatro postulantes.

À distância No epicentro da escândalo das emendas da Assembleia paulista, Bruno Covas foi a ausência mais sentida no Bandeirantes em evento de sua pasta, ontem, no qual foram apresentada pesquisa sobre o uso de sacolas sustentáveis nos supermercados. O secretário de Meio Ambiente preferiu prestigiar o lançamento do plano de preservação de minas d'água em Guararapes, a 540 km da capital.

Clique aqui Enquanto o Conselho de Ética investiga a venda de emendas parlamentares, o deputado Beto Trícoli (PV) abriu sua página no Facebook para receber de seus eleitores pedidos de verba para o Orçamento de 2012.

Overlapping A uma semana do anúncio da sede da abertura da Copa-2014, Geraldo Alckmin esteve ontem com o diretor do escritório da Fifa no Brasil, Fúlvio Danilas.

tiroteio

Uma chapa composta por Rodrigo Maia e Clarissa Garotinho só serve para unir os maiores índices de rejeição do Rio.
É um presente para Eduardo Paes.
DO PRESIDENTE DO PSD-RJ, INDIO DA COSTA, analisando a anunciada aliança entre os filhos de Cesar Maia, do DEM, e de Anthony Garotinho, do PR, na corrida pela prefeitura da capital fluminense em 2012.

contraponto

Terra arrasada


Pouco antes do embarque de Guido Mantega para a reunião de ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais do G-20, em Paris, encontro preparatório à cúpula de presidentes em novembro que vai tentar alinhavar soluções para a crise econômica que aflige notadamente a Europa, Dilma Rousseff pediu pressa ao seu auxiliar, em tom de brincadeira:
-Ô Guido, veja se vocês se apressem por lá. Senão daqui a pouco não vai ter muita coisa para salvar...

com LETÍCIA SANDER e DANIELA LIMA

WASHINGTON NOVAES - Do genoma à internet, uma discussão complicada


Do genoma à internet, uma discussão complicada
WASHINGTON NOVAES
O ESTADÃO - 14/10/11

Que acontecerá no mundo com a internet permitindo a invasão de arquivos confidenciais de governos, da CIA, do FBI, do WikiLeaks, de instituições de defesa e outros? - perguntou-se neste espaço em artigo recente (8/7). Caminha-se para um mundo sem sigilo de governos
, diplomático, militar, de empresas, de conhecimentos tecnológicos patenteados e mesmo de pessoas? Mas como será esse mundo? Toda a informação será livremente aberta ou terão êxito as tentativas de construir bloqueios, já em curso?

Um dos campos em que as coisas estão mais complicadas é o da pesquisa com genomas humanos. Há alguns meses (24/1) este jornal informou sobre o caso de uma norte-americana que conseguiu análise de laboratório de empresa para provar que não era seu - era de outra mulher - o material genético encontrado na cueca de seu marido, juntamente com o sêmen dele. Provava, assim, a infidelidade conjugal e ganhava argumentos para os processos de divórcio e indenização. Nos Estados Unidos, há Estados onde esse procedimento é legal; em outros, não. Há até uma empresa que alardeia haver feito com sucesso mais de mil testes dessa natureza, para provar infidelidade conjugal. Na Grã-Bretanha - onde já houve um rumoroso caso de jornalista que, com análise de cabelo, tentou mostrar que o príncipe Harry era filho de um suposto amante da Lady Di - esse caminho agora é ilegal. Na Austrália também é ilegal. Na Alemanha, a questão está na Justiça.

Embora nos Estados Unidos a questão seja controversa, a Justiça tem admitido que genes podem até ser patenteados (Estado, 1.º/8). Um tribunal, por exemplo, admitiu que uma empresa tem direito às patentes de dois genes humanos usados para prever se mulheres têm risco maior de desenvolver câncer de mama ou de ovário - porque "o DNA isolado não é um simples produto da natureza", que não poderia ser patenteado. E a indústria da biotecnologia esfrega as mãos de contente, porque já há milhares de pedidos de patentes de genes humanos. A Suprema Corte ainda vai dizer se concorda ou não.

Chega-se aí a um terreno muito difícil, que é o da privacidade humana no que ela tem de mais íntimo, mais seu. Há algum tempo, a revista britânica New Scientist (28/3/2009) fez uma investigação interessante. Um de seus editores se apossou de informações dessa ordem de outro editor, por meio do DNA deixado em resíduos num copo de água. E, usando apenas cartão de crédito, mandou esse material, escaneado pela internet (existem dispositivos especiais para isso), para uma empresa de pesquisa biotecnológica - que o analisou, mostrou a composição, alertou sobre riscos para a saúde do portador (Alzheimer, psoríase, glaucoma, entre outros) e sugeriu cuidados com a dieta da pessoa (esse tipo de análise pode levar empresas a recusarem emprego a certas pessoas, para não correrem riscos financeiros com doenças no futuro). Depois, o mesmo editor mandou esse mesmo material para outra empresa de pesquisa - que chegou a resultados bastante diferentes.

Como proteger cidadãos e a sociedade desses riscos, da análise em si e de erros nesse trabalho? - pergunta a revista. O próprio Congresso dos Estados Unidos há muitos anos examina proposta de não discriminação de informações genéticas de pessoas idosas. Mas ainda não entrou na questão das divergências de entendimento entre as Cortes estaduais. Enquanto isso, os cidadãos ficam cada vez mais complexos - lá e em toda parte, principalmente em países onde o tema nem sequer está em cogitação no terreno das leis.

Haverá certamente quem diga ser antiético patentear algo do corpo humano ou da natureza. Como haverá quem seja a favor, principalmente empresas que atuam na área e têm altos rendimentos decorrentes disso. Da mesma forma, empresas de países que queiram prevenir-se contra o risco de arcar com despesas médicas de pessoas que contratem. Outro problema decorre da possibilidade de usar a internet para chegar a informações como as obtidas pelos editores da revista britânica.

Entre nós, a discussão, que praticamente não existe ainda, precisa evoluir muito e rapidamente. Nesse terreno do sigilo da informação, basta ver o acirramento de ânimos em torno do projeto da Comissão da Verdade para deduzir o que nos espera à medida que o terreno se alargar.

Em princípio, teoricamente, não há como não desejar um mundo em que toda informação seja aberta, acessível. Mas estamos preparados, se nem sequer temos dispositivos legais que digam a quem pertence a informação, quem pode usá-la e em que condições? Com a internet é tudo ainda mais complicado. Porque, como já se escreveu aqui, qualquer solução que implique informação aberta parece implicar um novo conceito civilizatório, com toda a informação acessível, em qualquer circunstância. Só que - vale a pena repetir - esse conceito implica também um mundo com direitos - políticos, econômicos, sociais - iguais para todas as pessoas.

De certa forma, a crise econômico-financeira-social que o mundo está vivendo pode apressar tudo. A realidade está mostrando que o descolamento entre o mundo das finanças e a realidade concreta coloca questões que os dirigentes não conseguem equacionar (têm sido repreendidos até pelos altos dirigentes governamentais do Brasil). A que novo mundo se chegará? E como ele se adequará aos limites impostos pela natureza (mudanças do clima, consumo insustentável de recursos naturais)?

Pode parecer abstruso, inconsequente ou fantasioso mergulhar nesses pântanos. Mas quando se chega a discussões sobre apropriação legal ou indevida do genoma humano, até com uso da internet, nada parece impossível. Preparemo-nos. No caso específico dos genomas, de preferência abrindo uma discussão entre cientistas, que clareie rumos para a sociedade, advirta sobre os riscos, aponte alternativas.

FERNANDO GABEIRA - Nenhum país é uma ilha


Nenhum país é uma ilha
FERNANDO GABEIRA
O ESTADÃO - 14/10/11

Nenhum homem é uma ilha, dizia o poeta inglês John Donne, no século 17. No auge da globalização, é razoável afirmar que nenhum país e uma ilha.

Quando as coisas apertam o mundo, o Brasil tende a se ilhar, mentalmente. O Brasil é uma ilha de prosperidade, dizia o general Geisel. Tsunami econômico aqui não passa de marolinha, afirmava o presidente Lula.

O jornalista americano Michael Lewis acaba de concluir um livro - Boomerang, Viagens ao Novo Terceiro Mundo - sobre a Europa. Ele percorreu quatro países: Islândia, Irlanda, Grécia e Alemanha. Seu objetivo era extrair lições para os EUA. E concluiu que os americanos deveriam inquietar-se com a crise europeia, pois podem ser os próximos da fila.

Barack Obama e Dilma Rousseff têm feito constantes advertências aos líderes europeus. Alguns já reclamam por terem sido condenados a ouvir conselhos. É compreensível que os dois presidentes se inquietem com a crise europeia e a demora em achar saídas. Mas ambos, em níveis diferentes, têm de olhar a própria retaguarda.

A exemplo de Islândia, Grécia e Espanha, os EUA enfrentam manifestações de rua. Elas têm um objetivo vago, mas miram o sistema financeiro e suas relações com o governo.

No Brasil o tema é a corrupção, mas o núcleo de descontentes pode ampliar seu alcance em caso de crise econômica. E não só porque a corrupção se torna mais insuportável num quadro de crise. Outro fator potencial de protesto é o modo irracional de gastar o dinheiro público. Olhando por esse ângulo, o Brasil comporta-se como um novo-rico, alheio à tempestade que se aproxima.

Os fatos da semana fortalecem essa visão. A Câmara dos Deputados gastou R$ 13,9 milhões com telefone nos últimos oito meses. Se houvesse interesse, com a ajuda da tecnologia esses gastos poderiam ser reduzidos à metade. Os custos do Congresso aumentam, assim como aumenta a resistência a considerar a tese de que, sem perder a eficácia, eles poderiam ser reduzidos à metade. A Câmara tem uma televisão com equipamentos e equipe completa. A pouco mais de 300 metros dali, o Senado tem também uma televisão com equipamentos e equipe completa. Com bons editores, uma só televisão divulgaria todo o trabalho do Congresso e ainda sobraria tempo.

José Sarney declarou em entrevista que os privilégios parlamentares são um tributo à democracia. Os suecos, apesar de sua riqueza, considerariam um insulto à democracia. Basta examinar o tratamento que dão a seus parlamentares, que precisam lavar sua roupa e limpar, após usarem, a cozinha coletiva de seu prédio.

Na área do governo, os fatos também revelam indiferença pelos gastos inúteis. Essa tendência pode rastreada pelas manchetes dos jornais. O Ministério da Pesca surge como um generoso pagador da bolsa-defeso. Não há indícios de que conterá seus excessos. O da Saúde aparece gastando parte de sua verba com vale-transporte e até pista de skate. Enquanto isso ocorre, R$ 1,8 milhão enviado à reserva dos índios guaranis-caiuás parece ter sumido no caminho, pois os postos, segundo o Ministério Público, estão em estado de miséria. Já a reforma do Palácio do Planalto custou 43% acima do preço estimado inicialmente. Apesar de notas técnicas condenando os gastos, R$ 112 milhões foram pagos.

Tudo isso vem à tona na fase pós-escândalo dos Ministérios dos Transportes e do Turismo, áreas em que as cifras do dispêndio eram muito maiores. A visão corrente na base do governo é de que tudo é secundário e chega a ser comovente se importar com tais gastos, diante da complexidade do processo. O mantra é confiar no mercado interno, apoiar-se nele para continuar crescendo. No entanto, embora não seja alarmante, pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que, entre os emergentes, o Brasil sofreu uma das mais fortes desaceleração do crescimento.

A presidente Dilma deve anunciar, dizem os jornais, um novo plano de investimentos. Ela quer estimular a economia. Grande parte dos investimentos que o País fará nos próximo anos é destinada à Copa do Mundo e à Olimpíada. É preciso muita confiança para supor que esse caminho não apresente riscos na crise. Não se trata apenas de calcular o custo de alguns elefantes brancos. Eles continuarão representando gastos de manutenção muito tempo depois de usados nesses eventos internacionais.

Não se pode dizer que o governo ignore o problema de gestão dos recursos. Dilma atraiu para sua equipe o empresário Jorge Gerdau, que investiu na modernização dos governos. O do Rio de Janeiro deve a ele grande parte do êxito em superar o atraso constrangedor das administrações anteriores. A presença de Gerdau indica, pelo menos, a existência de plano de longo alcance. Mas falta uma força-tarefa para as emergências.

Toda eleição presidencial discute os gastos com viagens, que rondam os R$ 800 milhões. Num tempo de teleconferências, e-mails, Skype, gastos com viagens poderiam ser reduzidos. Mas não se vê uma campanha para diminuí-los, com resultados transparentes.

Ao pedágio da corrupção soma-se o espírito de novo-rico, inspirado pelo crescimento econômico. É muito peso para voar em tempos difíceis. Os dois fatores se entrelaçam e ganham nova dimensão quando o foco está na Copa e na Olimpíada. O primeiro grande acontecimento, o sorteio das chaves, no Rio de Janeiro, revelou a amplitude dessa tendência perigosa. Estado e cidade gastaram, juntos, R$ 30 milhões. O aluguel de uma cadeira custou R$ 204, soma suficiente para comprar cadeira nova.

A racionalidade nos gastos é um remédio muito simples para a complexidade da crise. Outras grandes medidas se pedem aos estadistas. A vantagem do remédio está sobre a mesa: é só ter a coragem política de adotá-lo. Na verdade, o grande obstáculo para racionalizar os gastos é político. Uma configuração estática de governo torna a política não mais uma solução, mas parte da crise.

MERVAL PEREIRA - Efeitos da corrupção


Efeitos da corrupção
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 14/10/11

Estamos acompanhando renovados protestos contra a corrupção, desta vez alcançando 26 cidades brasileiras e 17 estados. Não importa se em algumas delas a presença tenha sido pequena, no total foram 30 mil cidadãos que saíram nas ruas de suas cidades para protestar, sendo que a grande maioria, não por acaso, foi registrada em Brasília, sede do governo federal e do Congresso, onde cerca de 20 mil pessoas saíram às ruas e se concentraram na Esplanada dos Ministérios.

Os símbolos foram padronizados, o que já indica um avanço na organização: fantasias de palhaços, vassouras e grandes pizzas. As marchas podem servir de instrumento de pressão nos parlamentares, mas também estarão demonstrando à presidente Dilma Rousseff que ela teria apoio popular caso decidisse reassumir o que parecia ser uma prioridade de seu governo, a chamada “limpeza ética”, relegada a plano secundário devido às pressões da base aliada, e, sobretudo do PMDB, PT e do ex-presidente Lula, que se sentiram atingidos pela reforma ministerial que vinha se processando em consequência das demissões pelas denúncias de corrupção. Na verdade, o que esteve em jogo durante os primeiros meses do governo Dilma foi o desarranjo da base parlamentar que apoia o governo desde os tempos de Lula, mas que atuava em outras condições políticas.

A rigidez da presidente Dilma com os acusados pela mídia de corrupção, nos primeiros momentos de seu governo, estava a um só tempo ressaltando que o ex-presidente Lula era mais condescendente com os políticos corruptos desde que o apoiassem politicamente, como também que as regras que comandam as relações políticas no Congresso são ditadas pela conveniência, e não pelos projetos e programas partidários.

O fracasso das manifestações apontado pelos governistas é, ao contrário, o sintoma de seu sucesso. Primeiro por que ninguém se preocupa em desqualificar manifestações que são por si só desqualificadas. Depois, o que faz com que as manifestações sejam pequenas numericamente é o fato de que elas nascem espontâneas pelas redes sociais, sem que haja instituições por trás delas que possam dar suporte logístico ou apoio oficial.

No entanto, há sinais de que muitas dessas organizações de cidadãos já estão montando estruturas que proporcionarão atos mais organizados daqui em diante. No Rio de Janeiro, por exemplo, já estão pensando em alugar um carro de som permanentemente. A evolução das manifestações já parece evidente, se não no número de pessoas, na padronização do discurso e na escolha de temas.

O apoio à Lei da Ficha Limpa, ao poder de atuação e punição do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao fim do voto secreto no Congresso mostra que os objetivos da “rua brasileira” estão bastante focados, identificando esses três temas com o tema central do combate à corrupção. A pauta é relevante, e os dois primeiros assuntos serão decididos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos próximos meses, o que dá um tempero político às decisões.

É previsível que o julgamento do mensalão, no primeiro semestre do ano que vem, um ano eleitoral, será um ingrediente a mais nessas mobilizações, se elas tiverem fôlego até lá, como tudo indica. A Lei da Ficha Limpa, que chegou ao Congresso através de uma iniciativa popular e por isso foi aprovada, apesar da reação negativa inicial dos parlamentares, agora recebe o apoio renovado das ruas, o que deverá ser levado em conta pelos juízes do STF.

O Supremo, aliás, quando do primeiro julgamento da lei, decidiu que ela só valeria a partir da próxima eleição, e não na do ano passado, mas a maioria dos juízes já deixou antever em seus votos que a consideravam constitucional. Agora, com novas pressões para considerar a lei inconstitucional, os juízes do Supremo terão a oportunidade de reafirmar seu entendimento ou alterá- lo, de acordo com novas interpretações, mas também à luz dos anseios da sociedade. Já com relação ao Conselho Nacional de Justiça, é sintomático que parcela importante da sociedade associe a manutenção de seu poder de punição ao combate à corrupção. É um sinal de que sua atuação tem sido percebida como eficaz no controle do corporativismo e da corrupção de maneira geral.

É evidente que quando se diz que nossa “Primavera” já aconteceu, com os comícios pelas Diretas já ou as passeatas que ajudaram a derrubar o então presidente Collor, está se falando de reivindicações que tinham um objetivo definido e, por trás, estruturas partidárias e sindicais capazes de mobilizar ativistas pelo país inteiro.

Dessa vez estamos falando de temas difusos, valores intangíveis, que mobilizam muito mais a classe média do que a população como um todo. Enquanto que naqueles episódios tidos como exemplos de mobilização de massas por temas políticos, havia uma situação política e econômica instável que causava insegurança no cidadão, hoje a luta contra a corrupção se dá num ambiente diferente, com a economia estabilizada e o ambiente político democrático, apesar de degradado.

Embora a economia esteja com viés de baixa, enquanto a inflação se mostra em alta consistente, não existe ainda um clima de desassossego mobilizador, mesmo que as greves salariais estejam acontecendo com mais frequência. Essas reivindicações salariais já são sintomas de um desconforto futuro provocado pela inflação em alta, e a situação tende a piorar ano que vem devido ao aumento já acertado do salário mínimo de cerca de 14%. Além de realimentar a inflação com o aumento do poder de compra de parcela ponderável da população, esse aumento real de 7% chamará a atenção dos vários sindicatos, que quererão também o mesmo tratamento.

Há informações de que os organizadores das marchas contra a corrupção estão pensando em montar uma Organização Não Governamental (ONG) para transformar todas essas bandeiras que estão sendo levadas pelas ruas das cidades brasileiras em uma discussão permanente. É uma boa iniciativa, principalmente se desse fórum de discussão surgirem novos projetos de lei de iniciativa popular.

MARCIA PELTIER - Pista limpa


Pista limpa
 MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 14/10/11

O Rio de Janeiro, com a nota 7,9, e Curitiba, com 7, são as capitais brasileiras com melhores indicadores de mobilidade urbana sustentável. É o que mostra o Estudo Mobilize 2011, feito pelo portal Mobilize Brasil, a partir de informações de órgãos governamentais e institutos de pesquisa. Segundo o estudo, o Rio se destaca pela parcela relativamente pequena de deslocamentos por carros e motos. Marcos de Sousa, um dos coordenadores da pesquisa, completa que, das 20 milhões de viagens diárias no município, cerca de 21% são feitas a pé ou de bicicleta. Apenas 13% utilizam o automóvel ou moto – em SP, esse índice é de 30%. O restante usa metrô e ônibus.

Ônibus adaptado

Curitiba obteve nota máxima em outros indicadores. A capital paranaense apresentou a maior porcentagem de ônibus acessíveis a pessoas com deficiências (90% da frota é adaptada) e o menor número de mortos em acidentes de trânsito (5,2 por grupo de 100 mil habitantes). Foram avaliadas nove capitais brasileiras.

Imperdível 

John Malkovich vem aí, para um único espetáculo no Teatro Municipal do Rio, dia 2 de novembro. Em A Comédia Infernal ele interpreta a história real do serial killer Jack Unterweger, que, ao ser considerado recuperado pela justiça norte-americana, chegou a ter seu momento de celebridade e participou de talk shows, mas voltou a cometer assassinatos e foi preso novamente. O monólogo, com lances de humor negro, é pontuado o tempo todo pela música de Beethoven, Haydn, Weber, Vivaldi e Mozart executada por orquestra e com o contraponto de dois sopranos.

Meus cabelos 

Malkovich será homenageado, dia 1º de novembro, com coquetel oferecido no Parque Guinle pela empresária Myrian Dauelsberg. Ele ficará hospedado no Copacabana Palace e fez uma única solicitação até agora, não se sabe se para valer ou em tom de piada. Já bastante calvo aos 57 anos, o ator pediu “uma pessoa para pentear os seus cabelos nos bastidores” (!).

Múltiplo 

Apesar de ter um restaurante, o Bica do Sapato, em Lisboa, e ser sócio de uma das melhores danceterias da Europa, a Lux, também na terrinha, Malkovich não domina o português tão bem quanto o francês, no qual é fluente. O ator, versátil, é dono de uma grife masculina, a Technobohemian. Alô, Paulo Borges, que tal trazê-la para desfilar no Brasil?

Busca certeira 

Presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho é o entrevistado da revista Poder, nas bancas dia 18. Há sete meses no comando da empresa, uma das mais valiosas do mundo, o executivo aposta no mercado brasileiro, diferente do ocorre nos EUA e na Europa. Segundo ele, o número de brasileiros conectados à internet aumentará de 80 milhões para 150 milhões, com a chegada do Plano Nacional da Banda Larga. “A internet é como eletricidade, deveria ser um direito universal”, analisa. Coelho confirma que a empresa está perto de bater US$ 1 bilhão de faturamento no país. Em 2010, o Brasil contribuiu com US$ 500 milhões para a receita global da companhia.

Superprodução 

A Osklen e a designer Francesca Romana Diana assinam, respectivamente, os figurinos e adereços do espetáculo ao ar livre Ensaio sobre a Beleza, este sábado, na Cinelândia, que irá marcar a abertura do Momento Itália-Brasil 2011/12 . O ator Nicola Siri será o condutor da história, com clássicos da música dos dois países na trilha sonora. O diretor italiano Valério Festi levará à Praça Marechal Floriano coreografias aéreas e de solo executadas por 100 artistas de ambos os países.

Perigo 
Pesquisa feita com moradores das áreas rurais do Brasil preocupou estudiosos do Journal of Sexual Medicine, que publica mês que vem detalhes do levantamento. A constatação de que 60% dos entrevistados já tiveram algum tipo de relação sexual com animais foi relacionada com alta incidência de câncer genital e do aparelho reprodutor. Nas mulheres, a doença avançou de forma mais rápida.

Juntos de novo 
Antes mesmo da produção italiana dar detalhes da única apresentação do tenor Andrea Bocelli no Brasil, a cantora Sandy topou na hora fazer dueto com ele. No espetáculo marcado para o dia 6 de novembro, em Belo Horizonte, a dupla cantará Vivo por ele, música gravada há 15 anos pelos dois. Serão acompanhados pela Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais.

Livre Acesso

O Herbarium vai reunir os colaboradores cariocas do Grupo FQM, do qual faz parte, para uma meditação coletiva este sábado, no Jardim Botânico. O grupo será conduzido pelo especialista em meditação transcendental Klebér Tani. Marcelo Geraldi, presidente do grupo, é adepto da prática.

Bel Lobo e Bob Neri recebem convidados para coquetel, segunda-feira, no espaço Deca, ambientado pela dupla no Casa Cor Rio.

Os advogados Ana e Hermann Baeta integram a equipe de pesquisadores que lançará, dia 20, no Rio, mais um volume do livro Memórias da OAB.

Amador Perez inaugura exposição dia 20, na Galeria Jaime Portas Vilaseca, no Leblon.

A Fundação Nacional da Qualidade lança este mês um livro comemorativo pelos 20 anos da instituição. Além do panorama sobre a evolução da gestão em companhias brasileiras, a publicação vai mostrar o contexto socioeconômico do país em diferentes épocas.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia se prepara para comemorar seu centenário com congresso no Rio, em setembro de 2012, presidido pela dra. Márcia Ramos e Silva.

O presidente do Sindpd, Antônio Neto, lidera, hoje, seminário com palestra de Max Gehringer no hotel Holiday Inn Parque Anhembi, em São Paulo.

A Kaebisch Schokoladen, no Shopping da Gávea, acaba de lançar um cofre de chocolate no formato de porquinho. O produto vem recheado de moedas de chocolate ao leite.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito