domingo, junho 19, 2011

ANCELMO GÓIS - Brasil atrai gringos


Brasil atrai gringos
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 19/06/11

A falta de mão de obra especializada em algumas áreas não é, necessariamente, papo ufanista de governo e empresários. A Light está de olho em profissionais americanos, até mesmo do MIT, mais respeitado instituto de tecnologia dos EUA.

Veja só...

Por causa do dólar baratinho, o salário da mão de obra americana não está tão caro assim.

O mar é nosso

Segundo a Associação Marítima Internacional, a Petrobras é a empresa com maior número de plataformas em operação e em construção no mundo (43), seguida pela chinesa Cnooc (15).

Engarrafou
É muito cacique para pouco índio. Dilma pensa em pôr o ex-ministro Márcio Fortes para trabalhar com Henrique Meirelles na Autoridade Olímpica.

Pode, Luíza

Oscar Niemeyer jantava quinta num restaurante, no Rio, quando foi abordado por Luíza Brunet:
– É um sonho antigo. Hoje tomei coragem para pedir um autógrafo e dar um beijo. Posso?

No mais

De Joaquim Nabuco, que não viveu para ver as briguinhas de comadres do PMDB e do PT:
– A política brasileira é tão mesquinha, estreita e pessoal que para um homem de qualquer mediano valor intelectual não respirar toda a vida outro ar senão as exalações dessa “roupa suja” deve ser por uma loucura mitigada ou por uma aberta especulação.

Dilma em Paraty
Dilma confirmou presença na abertura da Flip, a festa internacional do livro, em Paraty, RJ, em julho. Se for mesmo, será a primeira ocupante da Presidência da República a prestigiar o belo evento literário.

Que calor, juiz
O CNJ julga terça a polêmica da obrigatoriedade do uso de terno e gravata por advogados nos tribunais do Rio no verão. Será apreciado recurso da OAB-RJ contra a decisão de um conselheiro, que entregou ao Judiciário, e não à Ordem, o poder de decidir sobre o traje.

Petroesporte
A Petrobras abre dia 28 inscrições para projetos de esporte dirigidos a crianças e jovens. A estatal, que já é a maior patrocinadora de cultura no país, investirá, em dois anos, R$ 30 milhões em esporte e cidadania. As inscrições são pelo site petrobras.com.br/ppec. O resultado da seleção sai em dezembro.

Copa na rede
O YouTube vai transmitir os jogos da Copa América 2011 ao vivo para mais de 50 países. O Brasil não está na lista.

‘Down no society’
Acredite. O caso de um aluno de 8 anos que fez xixi em cima de colegas num colégio tradicional e caríssimo da Barra, no Rio, foi parar na 16ª DP.

Coisas da política
Do major da PM Robson de Arouche Cardeal, quinta, numa audiência pública da Câmara de Vereadores do Rio, sobre o impacto dos megaeventos na orla carioca:

– Muitas vezes, a PM desaconselha certos eventos, mas tem de recuar por determinações... de cunho político.

Palácio do samba

A chegada da UPP ao Morro da Mangueira deu força ao projeto de Ivo Meirelles, que quer construir uma nova quadra da escola para 15 mil pessoas - cinco vezes maior que a atual.

Quer bis

O Conselho Universitário da Uerj aprovou uma mudança no estatuto para permitir a reeleição, por um mandato, de todos os seus ocupantes de cargos eletivos. A universidade fluminense era a única pública no país a não admitir a reeleição. O atual reitor, Ricardo Vieiralves, deve se reeleger.

Cena carioca
Sexta, por volta de 9h, um ônibus da linha 133 (Largo do Machado-Rodoviária) subia a Rua Alice, em Laranjeiras, no Rio, quando, numa curva, uma mulher pulou para se segurar na barra de ferro. Um gaiato, lá do fundo, gritou: “Que é isso, hein, colega? Só no pole dance!”

ILIMAR FRANCO - Salto no escuro


Salto no escuro
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/06/11
 
A criação do PSD a tempo de disputar as eleições municipais do ano que vem começa a ser colocada em dúvida por seus adeptos. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) confidenciou na sextafeira, numa roda em que estava o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), que está ficando preocupada com a capacidade de organização em estados e municípios. Disse que o prefeito Gilberto Kassab anda tenso e que as ameaças de ações judiciais do DEM intimidam muitos simpatizantes.

Muito além dos desmatadores ilegais

O Comitê de Assessoria Legislativa da CNI e o Conselho da Cbic estão sugerindo às suas entidades uma ação mais ostensiva no debate do Código Florestal. O vice-presidente da Firjan, Henrique Oliveira Lima, critica a fixação dos limites das APPs por lei federal,
porque “desconsidera características regionais”. Ele relata que indústrias ao longo do Rio Paraíba do Sul (em Volta Redonda, Barra
Mansa e Resende) estão sendo notificadas, pelo Ministério Público, para que constituam Reserva Legal, o que não lhes era exigido
quando de sua instalação. A Cbic adverte que o Código pode “semear o caos nas cidades e colocar em risco programas sociais como o
Minha Casa Minha Vida”.

"A emenda 164, incluída pela Câmara no Código Florestal, não faz a distinção entre desmatadores legais e ilegais. E nisso a presidente Dilma tem razão” 
— Wagner Rossi, ministro da Agricultura

COBIÇA EXTERNA. A Abin produziu relatório confidencial sobre a ação das ONGs estrangeiras nos protestos contra a usina de Belo
Monte. O relatório diz também que ONGs nacionais recebem financiamento de fora. O relatório no- 0251/82260/Abin/GSIPR, de 9 de maio de 2011, conclui: “Tais campanhas têm disseminado, no Brasil e no exterior, posicionamento ideológico maniqueísta, norteado por suas sedes internacionais.”

Sensibilização
No debate sobre a redistribuição dos royalties do petróleo, a bancada do Rio já está apelando para as pretensões eleitorais do governador Eduardo Campos (PE). Afirma que ninguém se elege presidente da República derrotando o Rio.

Ideli Malvadeza

Apostando no sucesso dela, um ministro comparou o estilo de Ideli Salvatti (Relações Institucionais) ao do falecido senador ACM. “Assim como o Antônio Carlos, ela consegue ser charmosa quando quer. Mas quando quer ser uma fera...”

Dilma veste Prada
Aconteceu na semana passada. Foi na sessão conjunta das comissões de Assuntos Econômicos, Ciência e Tecnologia, e Constituição eJustiça do Senado. Em debate, as empresas de telefonia no negócio de televisão a cabo. O senador Walter Pinheiro (PT-BA) discursava: “Não aguento mais ver os mesmos filmes. ‘Duro de Matar’, ‘O diabo veste Prada’.” Foi quando, no fundo da sala, um gaiato gritou, arrancando risos: “Não fala mal da Dilma!”

De bem com a vida

Assessores de Dilma mostraram à chefe a imitação dela feita pelo site de humor Kibe Loco, em que a presidente passa pito nos ministros Guido Mantega e Antonio Palocci. Ela se divertiu. Dilma também lê o seu diário fictício na revista “Piauí”.

Cimento em faltaO governo diz não estar preocupado com a falta de cimento. Apesar de interferir na balança comercial, afirma que o preço do produto
importado é o mesmo. Outra opção estudada é instalar fábricas de cimento perto das grandes obras.


 O EX-PRESIDENTE da Embratur Mário Moysés vai ser nomeado nos próximos dias secretário-executivo da Autoridade Pública Olímpica (APO).
 POLIANA. Da presidente Dilma Rousseff, em solenidade anteontem, referindo-se à crise econômica internacional: “Como as crises vêm, elas passam.”
● GELECA. O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) resume a disputa interna em seu partido: “Estamos numa piscina de geleca.”

MARCELO GLEISER - Agroglifos: mensagens ou fraude?


Agroglifos: mensagens ou fraude?
MARCELO GLEISER
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11 

Que mensagem é essa dos círculos cortados em plantações, que precisa ser escrita sempre à noite e sem nenhuma testemunha?


Após meu texto da semana passada ter abordado o vídeo com a autopsia de um alienígena, achei pertinente continuar o tema, investigando agora outro sinal de que "eles" nos visitam: os misteriosos agroglifos. Desde o final dos anos 70, eles se espalham pelo mundo.
Antes, um esclarecimento: agroglifos são padrões simétricos do tamanho de campos de futebol que são cortados em plantações de trigo (em inglês, são "crop circles", algo como "círculos em plantações".)
Talvez o leitor se lembre do filme "Sinais", de 2002, dirigido por M. Night Shyamalan e estrelando Mel Gibson como um reverendo cujos campos recebem essas mensagens.
Nesse filme, os padrões são um código para direcionar naves de ETs em sua invasão. O longa faturou cerca de US$ 410 milhões. Se você buscar por "agroglifos" na internet, encontrará dezenas de belíssimas imagens, retratos dos vários tipos de padrões cortados em plantações trigo, principalmente no Reino Unido (pobres fazendeiros!)
Alguns parecem mandalas, outros têm aparência mais abstrata. Recentemente, surgiu um perto de um radiotelescópio, com o rosto de um ET e um disco perto -um CD gigante com uma mensagem para nós (veja o link: http://www.youtube.com/watch?v=-4CYcp5wObs).
Vários documentários se dedicam ao assunto. Um bem sensacionalista, dirigido por William Gazecki ("Agroglifos: Busca Pela Verdade"), entrevistou "autoridades" que confessaram não entender o mistério, atribuindo-o à ETs ou fenômenos paranormais. Outro, mais sóbrio, apresentado pela NatGeo na série "É Real?", mostrou como é relativamente fácil fazer os agroglifos.
A revista "Scientific American" publicou, em 2002, as confissões de um criador de agroglifos, o autor Matt Ridley. Em suas palavras: "Trate autoridades com ceticismo e verifique se não têm algum interesse na história ""muitos cerealogistas ganharam dinheiro escrevendo livros e guiando turistas boquiabertos por fazendas com agroglifos. Quanto à identidade dos criadores, incluindo os recentes com formas fractais, acredito mais provável que sejam estudantes do que ETs."
Formas geométricas fractais estavam em voga nos anos 90, quando esses padrões começaram a aparecer nos campos.
Teria sido genial se esses agroglifos tivessem aparecido bem antes de Benoit Mandelbrot ter inventado os fractais. Mas esse tipo de prova de inteligência ET nunca ocorre.
Aliás, agroglifos só começaram a aparecer em 1978, quando dois ingleses, Doug Bower e Dave Chorley, confessaram ter criado esses padrões para assustar as pessoas.
Mesmo assim, há quem continue acreditando na origem misteriosa dos agroglifos. Se seu objetivo é trazer uma mensagem, por que não o fazem em frente a testemunhas? A coisa ocorre sempre à noite, em segredo. E que mensagem é essa que precisa de grandes áreas em plantações, escrita continuamente por mais de 30 anos? Ou ela é muito complexa ou nós somos primitivos demais para entendê-la.
Talvez alguém esteja se divertindo às custas da necessidade de se acreditar no que não existe. Pergunto: o que existe, com sua beleza e grandiosidade, não é suficiente?

CAETANO VELOSO - Coisas importantes


Coisas importantes
CAETANO VELOSO
O GLOBO - 19/06/11

A influência recíproca entre Chico Buarque e Guinga é um traço auspicioso da música brasileira contemporânea. É algo que chegou a tempo (tarde na carreira de Chico, cedo na de Guinga), em mágica sincronia. Guinga sempre soou como quem teve sua musicalidade (mais do que qualquer outro aspecto de sua natureza) formada na audição do músico Chico. Chico, que é tanta coisa para tanta gente, só é assim uma espécie de Milton Nascimento para Guinga. Este o ouviu como músico, como os músicos-músicos ouviram o músico Milton. É diferente. É importante. É nos detalhes que mora o tinhoso. Deus. Chico admirou as harmonias de Guinga, muito possivelmente sem se reconhecer nas sequências de acordes. Talvez mais atraído por sua brasilidade carioca genuína, sua obstinada lealdade de gênio ao
modo de ser do homem brasileiro comum, seu total fastio pelos adornos do êxito pop. Aí talvez visse algo do que sempre soube de si mesmo. Mas parece que a música em si, a interpretação crítica de sua própria musicalidade que está embutida nas peças de Guinga, isso ele ouviu como coisa nova, alheia. É assim que ouço o que há de Guinga em Chico. Que existe por causa do que há de Chico em Guinga. Guinga sempre sabendo, e Chico, a princípio, inocentemente. É tudo muito bonito.

Quando um jornalista gaiato quis desqualificar o trabalho de Chico sob a alegação de que podia falar mal do seu então novo disco sem ouvi-lo, já que esse forçosamente conteria as velhas fieiras de rimas, quebrou a cara: era o disco em que Chico já soava como quem tinha entendido Guinga, fato que o levara a entrar por caminhos melódicos insuspeitados — e (o que destruía com maior violência a argumentação do involuntariamente cômico repórter) a um uso rarefeito das rimas, a uma etérea zona do mundo das palavras, que agora se distribuem em formações esgarçadas, muito longe das sempre justas e amarradas construções que caracterizaram a produção do Chico da juventude e da primeira maturidade.

Leo Tomassini (que já teve um grupo chamado Família Roitman, que se especializava em sambas antigos: pra que discutir com madame Francis? — para citar outro jornalista engraçado, embora finado) me mandou um link para Guinga cantando “Senhorinha” (dele e de Paulo César Pinheiro) e eu achei que Guinga estava totalmente Nana Caymmi, que a canção era tão incrivelmente Nana Caymmi que ele estava cantando como ela. Daí vi logo ao lado a sugestão do YouTube para ouvir a própria Nana cantando a mesma música. Fui ouvir. Confirmado. Lembrei que já tinha ouvido. E amado. Mas fiquei com a impressão de que Guinga estava mais Nana do que Nana. São umas ramificações intestinas das belezas nossas, que muita gente no mundo pode nunca chegar a conhecer — e me é espantoso que tantos em tantos lugares já conheçam tanto: por causa de João Gilberto um mundo de música e de poesia intraduzível se infiltrou insidiosamente nas cabeças de pessoas espalhadas pela Terra,
pessoas que nada sabiam da língua portuguesa, que ainda não conhecem o Império nem as ideias de José Bonifácio, que não viram a sociedade norte-americana desde a perspectiva de Joaquim Nabuco.
Um dia alguém de qualquer lugar poderá ver, com a mesma clareza com que alguns de nós aqui vemos, que Nana cantando “Medo de amar” (gravação que, quando foi lançada, Bethânia me telefonou para ir correndo à casa dela ouvir) é tão forte e bonito quanto “Os sertões” de Euclides da Cunha. Mas mesmo que isso não acontecesse — que não aconteça do modo como conheço em potência —, nada pode mais negar a verdade essencial que me apareceu como um sol e agora aos poucos se desvela.

O sol da nossa música é Antonio Carlos Jobim. João foi o momento antes do tempo em que o sol se formou. João não tem tempo. Eu poderia passar todo o mês de junho festejando seus 80 anos. Seria o mesmo que nada. Não se mede. Paquito sabe. Entro pelas vielas do Candeal e chego ao estúdio de Brown, onde estou, com Moreno, gravando Gal. Gastamos muito tempo conversando. Gal contribui com histórias e comentários. Mas só uma confissão a arrebata: “João, João cantando é o maior amor da minha vida.” Salvador encharcada de chuva. Nada para atrapalhar a essência do que João levou daqui. Nenhuma aparência do que um turista inculto reconheceria como Bahia. Estamos a salvo. A casa de Moreno também é no Rio Vermelho. Minha nora e meus netos já estão dormindo. Chego lá e ficamos só meu filho e eu ouvindo coisas que ele escolhe. Nova canção de Chico no disco de Thaís Gulin. Aí começou a conversa que me trouxe para casa com Chico e Guinga na cabeça. Moreno diz que não para de ouvir esse CD. E principalmente essa faixa. Passamos para o novo (inacabado) disco de Moreno: ele tinha interesse em me mostrar como Daniel Jobim toca uma de suas músicas. É muito bonito, tudo. Daniel, tão profundamente Jobim, o +2 reunido outra vez, Maurício Pacheco, tanta gente importante — e a quase onipresença do samba de roda do Recôncavo, mostrando o quão arraigado em meu filho está o gosto de nossa terra de nascença. E ele cantando, com sua voz que só guardou da minha a parte timbrística que, na minha juventude, a fazia semelhante à de Chet Baker. Moreno soa mais Chet Baker do que o Chet Baker que havia em minha cabeça quando, aos 18 anos, eu o ouvi por causa de João Gilberto. Mas não é Chet. É algo puro que ele isolou do som de Chet. Só o espírito do som. O som do espírito é João quem explica.

DANUZA LEÃO - O tempo


O tempo
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11

Qual de nós não foi mais feliz do que agora? E se não éramos, achávamos que iríamos ser um dia

A coisa mais misteriosa que existe: o tempo.

O tempo acaba com tudo: com as árvores, com as montanhas, com as pedras, com a água -que se evapora-, com os sentimentos, com os bichos, com os homens.

O tempo acaba com o vigor físico, com o paladar, com o olfato, com o interesse pelas coisas; com a vontade de viajar, de comprar uma roupa nova, de reencontrar um velho amigo, até com a vontade de viver. É cruel, o tempo.

Quem se salva do passar do tempo? Os que não pensam, talvez, ou talvez os que só pensem no momento, aquele que estão vivendo; mas mesmo assim podem pensar que já viveram momentos parecidos e muito melhores que nunca mais vão se repetir, por culpa do tempo.

Qual de nós não foi mais feliz do que agora? E se não éramos, achávamos que iríamos ser um dia, quando tivéssemos mais dinheiro, quando encontrássemos o verdadeiro amor, quando tivéssemos filhos, quando eles crescessem, quando, quando, quando. E agora, você espera exatamente o quê, e a culpa é de quem? Apenas do tempo.

Dele, nada escapa: é o tempo que acaba com os grandes amores, e com os grandes entusiasmos que não resistem a ele, que passa e passa. Não são as coisas que passam: é ele.

Passar é modo de dizer: quando se está muito feliz, ele voa, e quando se está esperando muito por alguma coisa, é como se ele tivesse parado.

É como se estivesse sempre contra nós, e quando acontece de se ter uma vida razoavelmente feliz, um dia se vê que ela já passou, e com que rapidez.

Mas o tempo às vezes é amigo; quando se tem uma grande dor, não há dinheiro, viagens, distrações, trabalho ou aventuras que ajudem: só o tempo.

Não chega a ser um tratamento de choque, rápido, como se gostaria; é uma coisa vaga, lenta, que não dá nem para perceber que está acontecendo, mas um dia você acorda e se dá conta de que o sol está brilhando -coisa que passou meses sem perceber que acontecia diariamente-, se olha no espelho, tem uma súbita vontade de abrir a janela e respirar fundo.

Ainda não sabe, mas está salva. E um dia, muito depois, vai saber que foi o tempo, e só ele, que a salvou.

Nunca se pensa no poder do tempo, do quanto ele comanda nossa vida; também nunca se pensa no quanto ele é precioso, mas um dia você vai lembrar que ele passou e não volta mais. Lembra quando você tinha 20, 30 anos, e se achava infeliz? Se achava, não: era mesmo.

E quando era adolescente, não era também profundamente infeliz, como é obrigação de todos os adolescentes?

Mas será que ninguém tem um tio, desses meio doidos que todo mundo tem, que pegue um desses meninos ou meninas de 13, 15 anos, sacuda pelos ombros e diga "pare de achar que tem problemas, viva sua juventude, não perca tempo sendo complicada, neurótica, reclamando que sua mãe não te entende e que seu pai não te dá a devida atenção. Danem-se seu pai e sua mãe, aproveite a vida".

Para ter uma maturidade com poucos arrependimentos, é preciso não perder tempo, e mesmo fazendo uma bobagem atrás da outra, é melhor do que não fazer nada. Os pais querem que os filhos estudem para ter uma profissão, e estão certos; mas quem vai dizer aos adolescentes para eles aproveitarem o tempo para serem felizes em todos os minutos da vida? Quem?

PS - Quando terminei de escrever esta crônica, lembrei de uma entrevista que fiz há mais de 20 anos com Pedro Nava, dez dias antes de sua morte. Ele disse que os jovens, até 30 anos, não deveriam fazer nada, nem estudar, nem trabalhar, apenas viver a vida. Ele talvez tivesse razão.

COMENDO CHIFRES

CLÓVIS ROSSI - Volta ao jogo, Brasil


Volta ao jogo, Brasil
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11

SÃO PAULO - A diplomacia brasileira passou da hiperatividade no governo anterior à passividade no atual. Saiu do campo para resmungar na arquibancada

O caso da crise no Grande Oriente Médio chega a ser gritante pela inconsequência das posições brasileiras no Conselho de Segurança da ONU. Primeiro, votou a favor da imposição de sanções ao regime do coronel Muammar Gaddafi, que incluíam levá-lo ao Tribunal Penal Internacional em Haia. Fez muito bem. O tribunal de Haia é o destino adequado para "serial killers" como o ditador líbio.

Mas, em seguida, o Brasil se absteve na votação da zona de exclusão aérea sobre a Líbia, o que implicava, como é óbvio, atacar as forças de Gaddafi. Fez muito mal.

Afinal, se há um regime que merece ser julgado por genocídio, como o Brasil achava que havia ao votar a favor da primeira resolução, o lógico e natural é que se faça tudo para depor o ditador.
Em nenhum momento o Brasil disse o que se deveria fazer, fora a intervenção da ONU, para impedir um massacre, então iminente, na capital rebelde de Benghazi.

Agora, o Itamaraty fica resmungando sobre supostos segundos pensamentos dos países que aprovaram a resolução. Pode até haver, como seria natural em situações de sangue, mas não impedem que mesmo os que se abstiveram atuem em campo. A China, por exemplo, já está negociando com o Conselho Nacional de Transição, o governo rebelde. Não quer perder negócios com a Líbia do futuro.

No caso da Síria, idem. O Brasil trabalha para uma declaração água com açúcar indigna de uma situação dramática. A Turquia, parceira do Brasil na aventura iraniana, oferece seu território para uma reunião dos líderes da oposição.

Resmungar na arquibancada não tem custo, mas não é a melhor política para quem pretende ser ator internacional relevante.

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Prossegue a reforma


Prossegue a reforma
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 19/06/11

Procurando num calendário eletrônico este domingo, dia 19 de junho, me bati por engano com o 19 de julho e a informação de que é o Dia Nacional do Futebol, como se aqui os outros dias do ano também não fossem do futebol. O legislador que o instituiu devia estar pensando em criar um feriado ou, unindo a diversão aos negócios, obter verbas e cargos para uma Comissão dos Festejos do Dia Nacional do Futebol, participar com a família de viagens de trabalho à sede da Fifa na Europa, manter talvez algumas ONGs e diversas bocas-livres às custas do erário e, enfim, perseguir os objetivos com que se costuma legislar entre nós. A experiência induz a crer que alguém pegou, pega e pegará alguma grana com o Dia Nacional do Futebol, é isso mesmo, faz parte da nossa afamada realidade. Não é hoje, é daqui a um mês, mas não pude resistir ao comentário, que não vou poder fazer no dia exato.

E logo passando ao assunto que já tinha escolhido, lembro que nunca abordei aqui os efeitos da criação do Ministério da Pesca no cotidiano de Itaparica. Falha minha, pois a pesca é sempre do interesse de quem vive cercado pelo mar. O efeito principal foi muito bonito, segundo me contam. Afazeres outros me impediram de acompanhar os acontecimentos, mas dizem que os itaparicanos e seus vizinhos de Recôncavo mais uma vez mostraram como sabem prestigiar e apoiar as iniciativas do governo, quando estas visam a melhorar as condições de vida da sofrida população local.

Talvez eu erre algum detalhe e com certeza errarei nos números, mas não nos fatos básicos. Dizem que o Ministério da Pesca criou um subsídio para os pescadores profissionais, a fim de prover o sustento deles, nos meses em que a pescaria de certas espécies fica proibida. O sucesso foi estrondoso e, dentro em pouco, havia, segundo me contaram, mais de setenta mil pescadores de carteirinha na ilha e redondezas, recebendo uns trocados do governo. Deve ser exagero de quem me falou, mas circulam rumores de que várias famílias registraram até meninos ainda na barriga da mãe, porque, no mês em que nascessem, ia ter proibição de pesca e assim ele já nascia pescador e coberto pela lei. Comentam também que Iô Rufino, que não enxerga nada há uns trinta anos, nunca pescou, não gosta de peixe e diz o povo que já inteirou 112 anos, recebe o dinheirinho dele. Ou recebia, porque parece que algum intrometido achou que tinha pescador demais nessa história e agora o ministério está revendo os subsídios e a grana secou. Não houve revolta, houve apenas a confirmação de que o que é bom dura pouco e pobre é assim mesmo: quando está levando uma vantagenzinha, vem um desinfeliz lá de cima e tira tudo.

Talvez tenha sido por isso que a recente mudança de titular no Ministério da Pesca não tenha chamado muito a atenção no bar de Espanha. Aliás, ninguém sabia ainda do fato, até que Zecamunista apareceu com um jornal e contou as novidades. O ministro das Relações Institucionais agora era o ministro da Pesca e a ministra da Pesca agora era a ministra das Relações Institucionais. Indagado sobre se relações institucionais era o nome de algum peixe federal, Zeca respondeu que até não duvidava, mas não havia pesca nenhuma envolvida na história.

- Não é uma questão de pesca, é uma questão de ministério - explicou ele. - Primeiro vem a colocação, depois a função, o importante é a colocação.

- Mas o ministro não tem de entender do ministério dele?

- Absolutamente. Quer dizer, logo de primeira, não. Eu já soube que o primeiro serviço desse novo ministro da Pesca vai ser uma turnê pelos grandes aquários do mundo, para ele ver pessoalmente os peixes. E, se fosse outro, faria a mesma coisa. Eu já tentei explicar isso a vocês e vocês não entendem. Nesse governo, todo mundo brinca nas onze. O negócio não é ser atacante ou goleiro, o negócio é estar em campo. Em que posição não interessa, isso é coisa de quem acredita na imprensa burguesa. O que interessa é o quanto, é assim que a política funciona aqui. Tanto assim que quase nenhum dos ministros entende nada da área do ministério dele, isso não tem nada a ver, é uma questão de democracia. Eles são muito democratas uns com os outros. Um bocadinho para você aqui, um bocadinho para você aí, mais este pedacinho para você, mais este outro pedacinho para você. Aliás, é nisso que a ministra das Relações Institucionais vai trabalhar, ela vai ficar fazendo o rodízio dos pedacinhos, uma espécie de rodízio de pizza. Vai sempre tendo um giro, a depender da situação, e sempre se pode criar um ministério novo para criar novos cargos. Mais um ministério, menos um, ninguém repara. Dá para todo mundo.

- Dá para todo mundo, não, para o pescador não dá nada. Agora mesmo tiraram aquela merrequinha que vinha uma vez ou outra, está todo mundo na saudade. Entra governo, sai governo, é a mesma coisa. E Lula, que é que está fazendo, uma hora destas?

- Nem me pergunte, que eu não quero saber.

- Mas você não disse que ele continua presidente?

- É, mas é modo de dizer. Não existe um cargo para ele.

- O cargo de rei está ocupado?

- O cargo de rei? Bem, não, o cargo de rei...

- Então a solução está aí. Lula de rei! E aí ele manda pagar, mandar pagar é com ele mesmo. Pronto aí, dá para todo mundo tirar sua lasquinha! Lula rei, no comando dessa turma toda! Por que você fez essa cara apavorada, está achando que é maluquice minha?

- Não, pelo contrário, pelo contrário.






GOSTOSA

EDMAR BACHA e SIMON SCHWARTZMAN - Políticas sociais para o século 21


Políticas sociais para o século 21
EDMAR BACHA e SIMON SCHWARTZMAN

O Estado de S.Paulo - 19/06/11


A Constituição brasileira de 1988 dispõe que a ordem social tenha como objetivo o bem-estar e a justiça social. "A saúde é direito de todos e dever do Estado", prescreve a Carta. As políticas sociais no Brasil são, assim, caracterizadas por direitos universais. Na prática, a distribuição dos benefícios dessas políticas se conforma à capacidade de pressão política de diferentes grupos de interesse.


O resultado é um sistema extremamente desigual, em que o financiamento por estudante ao ensino universitário é muitas vezes superior ao da educação básica; os benefícios da previdência social dos funcionários públicos são muito maiores do que no setor privado; a segurança pública está disponível para quem pode pagar pelos "bicos" dos policiais, mas não nos locais onde ocorrem mais crimes; e os serviços de saúde pública são assegurados por mandados judiciais para quem tem bons advogados, mas não para quem sofre nas filas dos hospitais públicos.


A conjunção de direitos aparentemente universais, com a presença de poderosos grupos de interesse, faz do Brasil um dos países com maior iniquidade na distribuição de copiosos gastos sociais, que, em boa medida, seguem a lógica da má distribuição da renda do País, sendo destinados, sobretudo, ao financiamento das demandas de grupos de renda média e alta.


Nos últimos anos tem havido modificações importantes nesse quadro, com a ampliação dos programas de saúde da família, a generalização do acesso à educação básica, o melhor planejamento das ações policiais e a extensão dos programas de renda mínima como o Bolsa-Família e a aposentadoria rural. A condição de extrema pobreza, que ainda afeta muitas pessoas, especialmente na zona rural, vem se reduzindo aos poucos, sobretudo pelo crescimento, urbanização e modernização da economia, mas também pela ampliação dos programas sociais.


A população brasileira já não tem problemas de fome em escala significativa, o analfabetismo praticamente desapareceu entre a população mais jovem e, relativamente, poucos morrem por diarreia ou doenças infecciosas. Mas milhões ainda não conseguem um atendimento médico razoável, o analfabetismo funcional é enorme, os jovens agora morrem pela violência urbana e o envelhecimento da população prenuncia problemas crescentes nos sistemas de previdência social, de tratamento de saúde e de amparo aos idosos.


A par da eliminação da pobreza extrema, doravante será preciso enfrentar as questões que afetam a grande maioria da população em áreas urbanas, cuja renda monetária pode estar acima das linhas convencionais de pobreza extrema, mas que vivem em situação precária e com problemas de complexidade crescente. As políticas sociais que esses cidadãos necessitam não podem se limitar à simples distribuição de benefícios.


Há duas questões centrais. Uma delas é a escassez de recursos, que afeta a educação, a saúde, a segurança pública e a previdência, cujos custos são crescentes. A segunda é a complexidade das políticas requeridas para melhorar a qualidade da educação e da saúde e para reduzir a violência urbana, problemas que não se resolvem simplesmente com a construção de mais escolas, hospitais ou quartéis, ou o aumento dos salários dos profissionais envolvidos. É necessário ter políticas de melhor qualidade e que sejam factíveis com recursos que não podem crescer indefinidamente. Isso requer uma administração pública mais eficiente, o estabelecimento de prioridades claras e o envolvimento de organizações da sociedade civil em seu financiamento e implementação.


Ao longo de 2010, realizamos diversos seminários com um grupo qualificado de profissionais procurando detalhar o conteúdo dessas políticas. O livro Brasil: A Nova Agenda Social é o resultado desse esforço para dar curso ao debate sobre os novos rumos das políticas sociais, para que elas sejam mais equitativas, realistas e eficientes do que têm sido até agora.


Edmar Bacha e Simon Schwartzman: RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO INSTITUTO DE ESTUDOS DE POLÍTICA ECONÔMICA DA CASA DAS GARÇAS (IEPE/CDG) E PRESIDENTE DO INSTITUTO DE ESTUDOS DO TRABALHO E DA SOCIEDADE (IETS). ESTÃO LANÇANDO O LIVRO "BRASIL: A NOVA AGENDA SOCIAL"

FERREIRA GULLAR - Às cegas


Às cegas
FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11

Faz algumas semanas, cometi o atrevimento de tentar demonstrar como o Lula e o PT terminaram por ocupar, na vida política brasileira, o lugar do partido que era o seu principal adversário, o PSDB. Não havia nada de desconhecido nessa metamorfose, faltava apenas enunciá-la, e foi o que eu fiz: demonstrei como Lula e seu governo, depois de combaterem ferozmente o governo FHC e seus programas, entenderam que, se insistissem nessa postura, jamais alcançariam a presidência da República. Mudaram e ganharam as eleições.

E mais: ao assumir a chefia da nação, sem nenhum projeto, Lula viu que, se não seguisse o rumo do governo anterior, levaria o país ao desastre. E assim foi que, conforme disse naquela crônica, o lobo vestiu a pele do cordeiro, isto é, o PT virou PSDB. E a metamorfose continua, pois, agora, depois de satanizar, durante as últimas eleições, a privatização, Dilma decide privatizar os principais aeroportos do país.

Disso resultou que o PSDB não conseguiu fazer oposição de fato ao governo petista, já que para isso teria que se opor a tudo o que defendera e implantara no país. E essa situação se mantém, e de tal modo, que o PSDB, desde então, mergulhou numa apatia que vinha se agravando a cada dia. E, com a cara de pau que o caracteriza, Lula afirmou que isso ocorre porque o partido de FHC não tem programa...

A verdade é que Lula _e agora Dilma_, tendo se transformado em autores dos projetos e programas que combateram, aliaram às medidas saudáveis do governo anterior _que liquidaram com a inflação e mantiveram estável a economia_ outras abertamente populistas, visando conquistar o maior número possível de pessoas carentes.

Com isso, Lula garantiu a seu governo e seu partido uma popularidade de que jamais gozariam se tivessem persistido na pregação radical que sempre os caracterizou. Além do mais, aparelhou órgãos e empresas estatais, pondo-os todos a serviço da propaganda oficial. De tudo isso resultou o enorme crescimento do PT nas últimas eleições e a inabalável popularidade de Lula, que assim pôde eleger para a presidência uma senhora que jamais disputara qualquer pleito eleitoral. Ela governa o país, seguindo o mesmo plano populista de seu inventor, com ampla aprovação popular.

Que perspectiva viável terá um partido de oposição, como o PSDB, em face de semelhante situação? Essa pergunta de difícil resposta tem levado muitos opositores de Lula e do petismo à indecisão e à imobilidade.

É verdade que alguns fatos recentes deram certo alento à oposição, como a derrota do governo na votação do Código Florestal e, sobretudo, o escândalo que envolveu Antonio Palocci e resultou em sua saída da chefia da Casa Civil. Mas esses episódios, se revelam a verdadeira natureza do governo petista, não bastam para afirmar a oposição como alternativa de governo. Isso só acontecerá quando os líderes oposicionistas se dispuserem a refletir sobre a situação do país, visando construir um projeto de nação.

Para concebê-lo seria necessário entender que a estabilidade econômica, se é um fator positivo, não basta para definir o futuro e garantir a melhoria real da vida das pessoas, particularmente daquelas menos equipadas para crescer socialmente. Esse projeto, o PT não é capaz de criar.

E não o é porque ele não tem nem nunca teve plano de governo. Esse tipo de partido, por acreditar que todo o mal da sociedade decorre do domínio da burguesia, imagina que basta tirá-la do poder para resolver todos os problemas. Foi por isso que, para governar, o PT teve que transformar-se em PSDB. Mas continua sem projeto próprio.

Isso significa que, não o tendo, improvisa a cada dia um novo lance populista, como o recente Brasil sem Miséria, mais um slogan do que um programa de governo. Esses programas assistenciais não são capazes de alterar qualitativamente a vida das pessoas, especialmente dos jovens, cujo futuro depende da educação de qualidade.

São previsíveis os problemas que as novas tecnologias poderão criar em nosso país, no qual seu uso se estende de forma célere sem que a isso corresponda à formação de quadros técnicos aptos a fazê-lo funcionar. Enfim, o Brasil precisa de um projeto de nação.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Foi a Semana da Fumaça!


Ueba! Foi a Semana da Fumaça!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Vulcão e maconha! A Semana da Fumaça! E mais Predestinados. No Rio tem um fiscal de rendas que se chama Bernardo BEMFEITO! Caiu na malha fina? Bem feito! Rarará! E em BH tem um urologista chamado Reginaldo MARTELO! AIIII! E em Teresina, no Piauí, tem o padre José DEUSDARÁ Rocha. Rocha? Não quero. Quero que Deusdará grana, saúde e Doritos com Coca-Cola!
E olha a placa no hotel Ibis: "Nesta feijoada, você é o nosso principal ingrediente". Ou estão te chamando de porco ou tão querendo comer o teu rabo! Rarará!
E o Chile tá bombando. Olha a piada pronta: "Jogador chileno Roberto Cereceda fica pelado em centro de treinamento".
Qual o nome do centro de treinamento? Juan Pinto Durán! Devia ser o nome do vulcão. Por isso que o vulcão ainda tá em atividade. Tá de Pinto Durán! Rarará!
E esta foi a semana da fumaça: vulcão e marcha da maconha! Vulcão! O Pum da Gretchen! Mas diz que a fumaça não vem do vulcão. É de um show de reggae. Tá tendo show de reggae no Chile. E as cinzas não são do vulcão. É o pó das bandeiras do Vasco! Rarará!
E esta: "Cinzas vulcânicas vão dar volta ao mundo". Cinzas olímpicas. E Buenos Aires vira Péssimos Aires! E mais fumaça! Supremo libera Marcha da Maconha! E já tem até camiseta: "Marcha da Maconha! EU FUI?". Rarará!
E o problema da Marcha não é a maconha, é a fumaça! Vai provocar mais caos aéreo! E o Rubinho vai criar outra marcha: A Marcha Lenta! Rarará! E um leitor mandou alertar que ele acaba de comer uma dobradinha e entrou em erupção. Pânico no Cone Sul! Rarará!
PERIQUITÉRIO DA DILMA! Homem no governo Dilma é cota! Mais mulher. Depois da Barbie Gleisi, Ideli Salvatti. Filha do ET de Varginha com a Mãe do Sarampo. E o chargista Frank já tá chamando a Dilma, Gleisi e Ideli de AS PANTERAS! Rarará!
E tiraram a Ideli da Pesca. Tava assustando os peixes. Eu acho que ela tava pescando com dinamite. E o ministro da Pesca? Um dos poucos homens no governo, mandaram pescar. Homem? Vai pescar! E ele tem muita experiência: pescou um lambari no pesque-pague. E se assustou com uma tainha. E eu gostava de Ideli com o penteado antigo: peruca de arame farpado. Rarará!
E este vai ser o castigo do Palocci: trancar num quarto escuro com a Ideli. Aí, a gente ligava a luz! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

$IGILO NA$ OBRA$

CELSO LAFER - FHC aos 80


FHC aos 80
CELSO LAFER
O ESTADÃO - 19/06/11


Fernando Henrique Cardoso chega aos 80 anos em grande forma e na plenitude das qualidades que dele fizeram um grande intelectual e um grande homem público. É o nosso elder statesman e a sua palavra tem prioridade na agenda de discussão nacional. Tem prioridade porque é dotada de autoridade, que se caracteriza por ser menos que um comando, mas mais do que um conselho, na definição de Mommsen. Essa autoridade é fruto do seu percurso e do seu legado, que aqui destaco celebrando o seu aniversário e, ao mesmo tempo, contrapondo-me à damnatio memoriae com a qual o presidente Lula, o PT e os seus simpatizantes, inclusive no mundo acadêmico, buscaram infligir à sua trajetória.

A damnatio memoriae é um instituto do Direito Romano por meio do qual um sucessor condenava a memória do seu antecessor, buscando apagar a sua imagem e eliminar o seu nome das inscrições, considerando-o um inimigo ou uma vergonha para o Estado romano. No Brasil, esse é o objetivo da retórica da "herança maldita", tal como persistentemente aplicada à qualificação da sua gestão presidencial por seu sucessor e acólitos. Ressalvo que dessa postura se afastou a presidente Dilma Rousseff, ao saudar com civilidade republicana os 80 anos de FHC e ao identificar os seus méritos.

Fernando Henrique é um raro caso, no Brasil e no mundo, de um grande intelectual que foi bem-sucedido na política, alcançando a Presidência da República no primeiro turno, por voto majoritário, em duas sucessivas eleições. Usualmente os intelectuais, na medida em que se interessam pela política, ou se dedicam à crítica do poder ou a assessorar o poder. FHC, além de ter desempenhado esses dois papéis, exerceu o poder no vértice do sistema político brasileiro. Logrou alcançar e exercer o poder em função de certas características de personalidade que merecem o elogio, e não a condenação de uma ressentida damnatio memoriae.

FHC foi afirmando a sua liderança desde os tempos da universidade, o que lhe valeu o reconhecimento dos seus pares. São componentes do modo de ser da sua liderança a agilidade e a rapidez da inteligência, que os gregos qualificam de anquinoia, e o dom de gentes, da prazerosa civilidade do seu trato com as pessoas..

A política requer coragem, que é uma "virtude forte" necessária para o ofício de governar e vai além das virtudes requeridas para lidar com as necessidades da vida e as exigências da profissão. É o sentimento de suas próprias forças, como a define Montesquieu. É saber manter a dignidade sob pressão, nas palavras de Hemingway, no confronto com o perigo e as dificuldades. Coragem, nos precisos termos das definições acima mencionadas, nunca faltou a FHC, como posso testemunhar ao tê-lo visto enfrentar seja a aposentadoria compulsória na USP por obra do arbítrio do regime militar e o bafo da repressão nos momentos iniciais do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), seja, em outro plano, no exercício da Presidência, a desestabilizadora crise do câmbio de 1999, que pôs em risco o Plano Real. Teve, para dar outro exemplo, a coragem de assumir o Ministério da Fazenda, no governo Itamar Franco, para enfrentar o imenso desafio de debelar anos de uma inflação desenfreada e corrosiva. A coragem também passa pela firmeza de lidar com temas controvertidos e se contrapor ao seu grupo político e à tendência majoritária da opinião pública. É a nota do seu empenho atual na discussão do problema das drogas, que mostra que os anos não enfraqueceram a sua vocação de combate.

O juízo político é a capacidade de perceber as características que singularizam um contexto. Beneficia-se da visão geral que o conhecimento oferece, mas requer a competência para identificar, numa dada realidade, as particularidades do que pode ou não resultar. FHC, na sua trajetória, foi capaz de olhar o distante e observar o perto, nas palavras de Goethe. Desse modo, como intelectual apto a se orientar na História, sempre teve visão global para entender o conjunto das coisas no Brasil e no mundo e, por obra da qualidade do seu juízo político, a sensibilidade para captar o espaço do potencial das conjunturas com que se confrontou. Pôde, assim, exercer, para falar com Albert Hirschman, a sua íntegra "paixão pelo possível".

Assegurou, na sua Presidência, republicanamente, a governabilidade democrática de um país complexo como o Brasil, por meio de uma liderança aparelhada por um superior juízo político que soube dosar harmonização com inovação e transformação. Logrou, desse modo, orientar o País a partir do Estado e mudar a sociedade brasileira, pois guiado pelo seu sentido de direção construiu um novo patamar de possibilidades para o nosso país.

FHC transformou a sociedade brasileira com o Plano Real, que, com a estabilidade da moeda, assegurou a previsibilidade social das expectativas e promoveu a redistribuição de renda. Impôs racionalidade administrativa com a legislação da responsabilidade fiscal e as privatizações. Garantiu a solidez do sistema bancário com o Proer. Inaugurou o novo alcance das redes de proteção social com o Bolsa-Escola. Empenhou-se na institucionalização da democracia, no fortalecimento da cidadania e na valorização dos direitos humanos. Deu destaque à agenda ambiental. Elevou, com as suas realizações e sua presença pessoal, o alcance do papel do Brasil no mundo. Em síntese, o seu legado é o de um grande homem público que promoveu a ampliação do poder de controle da sociedade brasileira sobre o seu destino, de que se vem beneficiando, de maneira duradoura, o nosso país.

Celebrar o seu aniversário é uma oportunidade de celebrar a sua obra e a sua pessoa e, no meu caso, de afirmar que é um privilégio fruir a sua convivência e, assim, saudar, com amizade e admiração, os seus jovens, sábios e democraticamente bem-humorados 80 anos.

Celso Lafer: PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FHC

MERVAL PEREIRA - Teoria e prática


 Teoria e prática
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 19/06/11

Publicado na mais recente edição de Opinião Pública, revista de ciência política da Unicamp, um trabalho do cientista político Octavio Amorim Neto, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas do Rio, o geógrafo Bruno Cortez, do IBGE, e Samuel Pessôa, economista do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da FGV-Rio oferece uma proposta de reforma do sistema eleitoral da Câmara dos Deputados.
Embora mantendo o sistema de representação proporcional com lista aberta, a proposta o altera em dois aspectos-chave: reduz o número de cadeiras disputadas nas circunscrições eleitorais, que são redesenhadas com esse objetivo, e estabelece uma regra proporcional de distribuição de cadeiras entre partidos coligados. Os autores consideram que nosso sistema eleitoral favorece demasiadamente o quesito representatividade, a ponto de termos uma das legislaturas mais fragmentadas do mundo. Ainda que não seja o caso de se abandonar a representação proporcional, consideram imperativo facilitar a vida do eleitor, oferecendo-lhe um quadro partidário mais compacto e nítido por meio da redução do número de partidos.
Para reduzir o número de partidos, existem dois métodos principais: a imposição de uma rigorosa cláusula de barreira e a redução da magnitude média das circunscrições eleitorais.
Neste artigo, os autores defendem a segunda alternativa, mas desaconselham a sua forma mais radical, a adoção de distritos uninominais ou suas variantes.
A ideia é reduzir moderadamente a magnitude existente por meio de um novo desenho das circunscrições eleitorais do país (os estados), além de propor uma regra proporcional de alocação de cadeiras dentro das coligações eleitorais. Segundo estudos, nosso presidencialismo de coalizão, apesar das suas mazelas, pode ser efetivo, mas os autores desse trabalho defendem a tese de que "não precisa sê-lo a um custo tão alto, custo gerado, em boa medida, pela alta fragmentação legislativa". A proposta do trabalho mantém inalterado o peso de cada estado da Federação na Câmara dos Deputados. Assim, os autores procuram criar circunscrições as mais homogêneas possíveis, de acordo com o que acreditam ser a principal clivagem política do país, a socioeconômica.
As circunscrições eleitorais a serem criadas para cada uma das 12 unidades da Federação que têm mais de 16 cadeiras na Câmara, e passariam a ter de oito a 12, são as seguintes: São Paulo, oito (sendo duas no município de São Paulo); Minas Gerais, seis; Rio de Janeiro, cinco (sendo duas no município do Rio de Janeiro); Paraná, três; Santa Catarina, duas; Rio Grande do Sul, três; Bahia, quatro; Pernambuco, três; Ceará, duas; Maranhão, duas; Goiás, duas; Pará, duas. A proposta advoga a manutenção do instituto das coligações partidárias para as eleições legislativas, mas altera a regra de distribuição das cadeiras de modo a torná-la proporcional.
A distribuição das cadeiras intracoligações seria proporcional à votação de cada partido integrante das alianças eleitorais. Ou seja, como as coligações, sob as regras atuais, favorecem os pequenos partidos, que, por si só, não conseguem atingir o quociente eleitoral, sob a regra proposta deixa de existir o estímulo espúrio para que os pequenos partidos predem os grandes que aceitem com eles se coligar. Por último, a proposta mantém as coligações porque elas podem ser úteis para adiantar o processo de construção da base de sustentação dos governos antes do primeiro turno das eleições presidenciais, oferecendo também uma compensação aos pequenos partidos pelo aumento dos quocientes eleitorais gerado pela redução na magnitude das circunscrições eleitorais.
O artigo também apresenta os resultados de um exercício de simulação feito com base nos dados das eleições de 2006, por meio do qual se recalcula a composição partidária da Câmara dos Deputados a par tir das regras preconizadas. O exercício mostra que o novo sistema reduz moderadamente a fragmentação partidária. Os quatro maiores partidos ganharam cadeiras. Todas as demais bancadas, com a exceção do PSB, que ganhou três cadeiras, perderam. Os maiores perdedores são o PP pela direita, que perde sete cadeiras; o PTB pela centro-direita, que perde oito cadeiras; o PDT pela centro-esquerda, que perde nove cadeiras; e o PCdoB, pela esquerda, que perde sete cadeiras.
Os autores consideram, do ponto de vista acadêmico, que a alteração na regra eleitoral não mudaria o equilíbrio político no Congresso. Esquerda e direita, liquidamente, nem perdem, nem ganham. Os partidos nanicos praticamente desapareceriam e os partidos intermediários teriam o seu tamanho reduzido. Caso interessante é do PV, que perde somente uma cadeira.
Mas, do ponto de vista político, a teoria na prática é outra. Como se vê, na vida real é praticamente nula a chance de uma alteração desse tipo ser aprovada pelo Congresso, qualquer que ele seja, mesmo que organize melhor nosso sistema político-eleitoral.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Caminho alternativo
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11

Recomendação de aliados de peso à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti: se quiser evitar a votação da PEC 300, que estabelece piso salarial para os policiais, o Planalto deve recorrer aos tribunais, e não cobrar fidelidade do Congresso Nacional.
De acordo com essa avaliação, o governo tem uma chance razoável na Justiça, sob o argumento de que seria inconstitucional definir um piso nacional sem a existência de fundo específico para bancá-lo. Já na Câmara, as vozes mais experientes afirmam que a perspectiva para a PEC 300 é exatamente a mesma que se viu no Código Florestal: se votar, aprova.
Às moscas Por absoluta falta de quorum, a Câmara votará nesta semana apenas projetos de consenso. Além das festas de São João -que manterão as bancadas do Norte e do Nordeste em seus Estados-, há o feriado de Corpus Christi na quinta-feira. Fora a caravana de deputados que seguiu ontem para um seminário sobre o Brasil em Harvard.

Siga a chefe 

Dilma Rousseff recomendou às ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) que adotem uma dieta magra de declarações públicas.

Quero ver 
A presidente passou a receber relatório diário com um resumo do que 50 veículos estrangeiros publicam a respeito do governo e do país. Produzido desde a era Lula, o papel faz parte de um contrato de R$ 15 milhões anuais firmado com uma assessoria de imprensa, mas até então era endereçado exclusivamente à Secretaria de Comunicação.

Juro! 
A frase mais ouvida atualmente no Congresso é: "Eu tenho um excelente relacionamento com a Dilma".

Dilema 
De um expoente da oposição, justificando para um empresário sua boa vontade com a presidente: "Se ela tiver dificuldades demais, o Lula volta".

Cachorrada 

Herança deixada por José Dirceu ao passar o cargo -e a residência oficial- de chefe da Casa Civil- a Dilma, em 2005, o labrador Nego "casou-se" com uma cadela levada para o Palácio da Alvorada e agora é pai de uma ninhada que vem recebendo especial cuidado da presidente.

Pódio 
Observação de quem acompanha de perto a formação da equipe que vai tocar os Jogos de 2016, na qual já estão Henrique Meirelles, Sérgio Cabral e Eduardo Paes e que poderá contar ainda com o ex-ministro Márcio Fortes: "Não vai dar certo. É muita estrela para uma Olimpíada só".

Oremos 
A comunidade de base da seção paulista da CNBB defende em carta aberta a indicação de Wellington Diniz, ligado a movimentos populares, para a superintendência local do Incra. Ele concorre com José Baccarin, envolvido no escândalo dos aloprados quando tesoureiro da campanha de Aloizio Mercadante (PT), em 2006.

Rebeldes 
O desencontro de ideias entre os irmãos Ferreira Gomes -Ciro e Cid, este governador do Ceará- e o próprio partido não se resume ao plano nacional. Em nome da aliança estadual, ambos querem apoiar o PT na sucessão de Luizianne Lins em Fortaleza, contra ala do PSB local que prega candidatura própria.

Cromático 
O ex-deputado Gustavo Fruet renovou seu site, dando-lhe tom verde, sem sinal da sigla PSDB ou do azul e amarelo tucanos. A seção paranaense trabalha contra sua candidatura a prefeito de Curitiba.
com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio

"Do jeito que a coisa vai, o estatuto do PSD terá de abraçar o princípio da reencarnação."
DO DEPUTADO FEDERAL LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA), sobre o episódio dos cinco eleitores mortos que "assinaram", em Santa Catarina, fichas de apoio à criação do partido do prefeito paulistano, Gilberto Kassab.

contraponto

Regime aberto

Na segunda passada, o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira, foi recebido em audiência pelo secretário de Administração Penitenciária de São Paulo, Lourival Gomes. Em pauta, assuntos de interesse dos municípios da base do deputado, na região de Ribeirão Preto. Ao final, Gomes saudou Nogueira:
-É uma alegria vê-lo. Sinta-se sempre em casa!
Rindo, o deputado retrucou:
-Sou muito grato pela acolhida. Desde que eu não seja um hóspede de longa duração!

MIRIAM LEITÃO - Além do básico


Além do básico
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO 19/06/11

O Brasil já fez o básico: pôs todas as crianças na escola, reduziu a mortalidade infantil, criou um sistema universal de saúde, incluiu trabalhadores rurais na Previdência e está enfrentado a violência. Avançamos, mas o economista Edmar Bacha e o sociólogo Simon Schwarstzman dizem que agora começa o complexo, que vai exigir do País aprender a pensar de outra forma.

Brasil: A Nova Agenda Social é o nome de um livro organizado pelos dois. É resultado de um ano de trabalho e três seminários com 15 especialistas do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e do Instituto de Estudos de Política Econômica Casa das Garças. Em qualquer área, há assuntos difíceis para os quais o País tem de encontrar soluções, olhando experiências que deram certo em outros países.

A Constituição de 1988 estabeleceu que a “saúde é um direito de todos e um dever do Estado”. Dito assim, parece que o País tem serviço universal, integral, igualitário. Não tem. “Há uma contradição entre a promessa da Constituição e a realidade. Os 25% de renda mais alta têm plano de saúde que usam para procedimentos normais. O SUS é dos pobres, exceto quando os ricos precisam dele para as emergências e os tratamentos e exames de alta complexidade”, diz Bacha.

No livro constata-se que o SUS gasta mais com os mais ricos do que com os 30% mais pobres do País. Há outra complicação que está agravando o problema, segundo Simon Schwartzman: “Está havendo um processo de judicialização.

Como a Constituição estabelece que o direito à saúde é completo e integral, se alguém for à Justiça com um bom advogado consegue, por exemplo, que o Estado pague seu medicamento. Tem crescido muito. São novas obrigações que recaem sobre o sistema, pela via judicial, desorganizando a capacidade de atendimento. A mesma coisa com exames complexos e caros. O sistema tem o princípio da equidade e uma prática desigual.”

Todos os temas são complexos, diz Bacha. Os planos de saúde deveriam em tese pagar por esses serviços mais caros, mas dizem que com tabela SUS não dá para trabalhar. Daqui para diante, alerta Simon, os serviços ficarão mais caros pela sofisticação natural dos avanços da medicina e porque a população ficará mais velha. “Nada disso está sendo devidamente estudado. Há problemas de gestão, integração entre planos de saúde e o SUS. Propor só aumento do gasto com Saúde é começar pelo final”, afirma Bacha.

Conversei com os dois no programa Espaço Aberto, da Globonews. O curioso é que apesar de ser discussão sobre agenda social, há mais economistas do que sociólogos na lista dos autores dos estudos no livro. Simon acha que os economistas são bem vindos ao debate e lamenta que existam poucos sociólogos debatendo os assuntos. Bacha diz que é natural o interesse dos economistas: “Esses gastos dos quais falamos representam 25% do PIB. Compare com o tempo que os economistas dedicam aos estudos sobre indústria, que é 12% do PIB.”

Pela complexidade dos problemas nessa etapa do desenvolvimento do País fica claro que é preciso mais cabeças pensantes para se encontrar as soluções viáveis.

No combate à violência, Simon levanta tese polêmica: de que as Forças Armadas deveriam repensar seu papel diante das mudanças que ocorreram nas áreas internacional e interna. Acha que elas deveriam pensar em sua presença nos problemas internos de forma mais permanente: “É uma discussão complicada e difícil. O entendimento de todos é que a presença dos militares é temporária. Mas as Forças Armadas deveriam discutir um papel de mais longo prazo e mais permanente na segurança interna. A ideia de uma atuação só externa é antiquada, dada a situação interna e internacional.”

Bacha lembra que nos grandes centros como no Rio entende-se que a presença dos militares na segurança é incidental, como houve na ocupação do Complexo do Alemão. Mas os desafios maiores hoje estão nas cidades do Nordeste, Norte e Centro-Oeste, onde a autoridade não tem estrutura para enfrentar os problemas.

Na Previdência, o Brasil tem números que mostram de forma eloquente que alguma coisa está errada. “Temos 10% da população com mais de 60 anos e gastamos 11% do PIB com a Previdência, o mesmo nível de países que tem 30% de pessoas nessa faixa etária. Pela juventude da nossa população o País deveria estar gastando 4,5%”, diz Bacha.

Apesar disso, lembra Simon, no Brasil não há idade mínima de aposentadoria e as mulheres têm a vantagem de cinco anos a menos na contagem do tempo, apesar de viverem em média sete anos a mais. Nos outros países essa diferença já acabou e está se elevando a idade mínima.

Na educação está tudo por ser feito. O que o Brasil fez até hoje foi universalizar o ensino fundamental. Agora há um enorme dever de casa.

“Saber como gerenciar a escola para que o resultado que se busca seja seu principal objetivo que é educar; dar formação adequada para professores; organizar disciplinas; procurar experiências de outros países. Não há solução fácil. Antes era colocar a criança na escola; construir escola e chamar professor. Agora é desenvolver inteligências”, afirma Simon.

Feito o básico nas políticas sociais, agora é a hora da qualidade. É bem mais difícil, mas uma agenda inevitável. (Com Álvaro Gribel)

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Idade no currículo
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/06/11

Currículo sem informação de idade, sexo, estado civil e filhos. É assim nos EUA.
Mais que uma questão cultural, a ausência desses dados, comuns no Brasil, é uma questão jurídica.
"É passível de processo. As leis contra discriminação são severas no país", diz Marcelo Cuellar, da Michael Page.
"A pessoa pode alegar que foi não foi contratada por ter dito que tinha filho e processa a empresa", diz Ricardo Bevilacqua, da empresa de recrutação Robert Half.
Para evitar o problema, essas informações não são pedidas no currículo ou na inscrição pela internet.
Em algumas empresas, códigos de conduta proíbem também na entrevista perguntar se o candidato é casado e o que faz nas horas vagas. "São detalhes da vida pessoal que não interferem na vida profissional", afirma.
As restrições adotadas na política de recrutamento nos EUA são positivas, segundo Marco Tulio Zanini, professor de gestão da FGV-RJ.
"No Brasil, não existe uma política clara e séria para o combate à discriminação no mercado de trabalho", diz.
Em países asiáticos, como Japão e Coreia do Sul, as informações nos currículos são parecidas com as usadas no Brasil, segundo Francisco Ramirez, professor do Insper.
O mesmo ocorre nos países da América Latina.
Na Europa, a contratação é mais flexível. Na Alemanha, foto e idade entram nos currículos, mas não são fator de exclusão, segundo Zanini.
A Inglaterra caminha para algo mais próximo dos EUA, diz Bevilacqua.

PRIMEIRO OLHAR

As companhias estão cada vez mais preocupadas com a experiência profissional no processo de recrutamento.
É o que revela pesquisa em 11 países, com mais de 2.500 executivos tomadores de decisão, feita pela empresa de recrutamento Robert Half.
Para 41% dos executivos, na média global, o primeiro ponto de atenção ao analisar um currículo é a experiência profissional. No Brasil, 36% dos entrevistados disseram analisar primeiro esse item.
As informações pessoais, como idade e estado civil, recebem mais atenção na Áustria, onde 11% revelaram priorizar esses dados, ante 6% na média global.
A Suíça é a que dá mais atenção para a foto do candidato, com 10% das respostas.

FIGURINO CARIOCA

A incorporadora carioca Latini Bertoletti vai lançar seis condomínios no Rio de Janeiro até o final deste ano.
Estão em fase de aprovação três projetos residenciais, em Niterói, Jardim Botânico e Tijuca, dois comerciais (Barra e Niterói) e um imobiliário misto, de "flats" e escritórios, em Macaé.
O VGV (Valor Geral de Vendas) projetado é de R$ 600 milhões, segundo o sócio Marcelo Latini.
"Com a escassez de terrenos e ações de segurança do governo, há um movimento de migração para áreas que não eram exploradas por estar abandonadas devido à violência", diz Latini.
A companhia prepara a sua estreia fora do Rio.
Vai exportar para São Paulo e para a região Norte do país o modelo de imobiliário misto, como o que fez no shopping Nova América, na zona norte do Rio.
"São torres de escritórios e hotel desenvolvidos ao lado de um shopping já pronto, geralmente no mesmo terreno", diz o sócio Joaquim Pedro Bertoletti.

O QUE ESTOU LENDO

Roberto Quiroga, advogado tributarista
"Memórias de um sobrevivente", de Luiz Alberto Mendes (ed. Cia da Letras), é uma história real, inacreditável e representa um histórico do crime no Brasil", diz Roberto Quiroga, sócio do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados.
O livro de um ex-presidiário mostra como os crimes mudaram. "Começou com o batedor de carteira, passou para o assalto a pequenos comércios, depois para bancos, sequestros e culminou com fraude bancária pela internet. Todos crimes ligados ao fluxo do dinheiro."

Demanda de estrangeiros por imóvel no Brasil cresce até 50%
O número de estrangeiros que procuram imóveis para comprar no Brasil aumentou em até 50% neste ano, segundo imobiliárias.
Esse foi o crescimento das vendas para pessoas de outros países na imobiliária Judice & Araujo, do RJ. Hoje esse tipo de negócio representa 30% do total da empresa.
A média do valor dos imóveis adquiridos pelos estrangeiros é de R$ 2 milhões, segundo a imobiliária.
Em SP, na Bamberg Imóveis, o aumento foi de 20%. O presidente da empresa, Michael Bamberg, diz que os clientes compram casas para investir. "Aqui se consegue rendimento de até 12%. Na Alemanha, o máximo é 6%."
Na Coelho da Fonseca, a maioria dos compradores estrangeiros também busca maior rentabilidade.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

ELIO GASPARI - Com sorte, a saúde entra na agenda

Com sorte, a saúde entra na agenda
ELIO GASPARI
O GLOBO - 19/06/11

O deputado Marco Maia (PT-RS) prometeu votar ainda este mês a regulamentação da Emenda 29, que define a destinação de recursos para a saúde pública nacional. Como ele e o Planalto andam se estranhando, ficou no ar um tom de troco, quase pirraça, mas há males que vêm para bem. Durante a campanha eleitoral, Dilma Rousseff prometeu “tomar iniciativas logo no inicio do mandato para regulamentar a Emenda Constitucional 29”. Se ela e o presidente da Câmara resolveram desencruar uma votação que neste ano completará 11 anos de espera, algo de bom poderá acontecer.
Por trás da construção indecifrável da “regulamentação da emenda 29” está a discussão da partilha dos recursos para a saúde (sem chance de ressurreição da CPMF). Ela libertará os melhores e os piores interesses. Nada melhor do que colocá-los na vitrine. Primeiro na Câmara, depois no Senado. Será uma briga bonita.
Dados de 2008 informam que 13 Estados não gastavam com a saúde pública o que manda a Constituição. Nessa modalidade, o campeão do calote foi o Rio Grande do Sul. Há governos que pagam planos de carreira do funcionalismo, restaurantes ou mesmo coleta de lixo jogando-os nas rubricas da saúde. Até gastos com segurança pública viraram despesas com saúde.
Como ensinou o juiz americano Louis Brandeis, “a luz do sol é o melhor desinfetante”.
Negócios da China, para inglês ver
Durante a viagem de Dilma Rousseff à China a marquetagem do governo anunciou dois êxitos:
1) O governo de Pequim concordara em tirar a fábrica da Embraer de Harbin da geladeira, abrindo-lhe o mercado para a fabricação de jatos executivos Legacy. (O mercado de jatinhos chinês, deprimido pelo governo, é menor do que o paranaense, mas deixa pra lá).
A comitiva brasileira voltou para o Brasil no dia 17 de abril. A fábrica da Embraer parou no dia 26. O repórter Fabiano Maisonnave mostrou que seus operários, sem o que fazer, jogam peteca na linha de montagem.
2) A empresa Foxconn montaria iPads no Brasil e, além disso, faria um investimento de US$ 12 bilhões em cinco anos, gerando 100 mil empregos.
O governo acabou com a maluquice que negava às tabuletas os benefícios dados aos computadores e as maquininhas da Apple começarão a ser produzidas em setembro, em Jundiaí. Até agora não se conhece o plano de investimentos dos US$ 12 bilhões da Foxconn. Sabe-se apenas que o velho e bom BNDES será chamado para botar algum no negócio.
Pelo jeito, a única coisa que a doutora trouxe da China foi uma gripe.
Salve Rainha
O ministro Gilberto Carvalho lamentou a prisão do companheiro José Rainha Júnior. Não se sabe o que ele achou da cana de uma noite tomada pelo ex-jogador Edmundo.
Vale lembrar que Rainha está há tempo na estrada. Em 1995, quando se tornou uma celebridade, disse o seguinte para justificar o fato de viver numa casa da CESP na cidade de Teodoro Sampaio:
“Eu sou um cidadão e pago impostos.”
Era um pied a terre, pois o empresário sem-terra tinha uma gleba de quatro hectares num assentamento próximo.
Bechara e a Viúva
Uma admiradora do idioma pediu à Academia Brasileira de Letras que lhe explicasse a origem da expressão “a Viúva” para designar a boa senhora que paga contas.
O professor Evanildo Bechara foi atrás e achou uma viúva generosa na Bíblia. Ela está em Marcos 12:
“Estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos deitavam muito.
Vindo, porém, uma pobre viúva deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo.
E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deitou mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro.
Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou tudo o que tinha, todo o seu sustento.”
Essa é a viúva pobre. No anedotário militar da primeira metade do século passado há outra, frequentemente lembrada pelo general Ernesto Geisel durante seu governo. É a “Viúva do Duque de Caxias”, “Viúva do Caxias” ou simplesmente “Viúva”. (Dona Ana Luisa, na vida real).
Pode-se supor que ela nasceu quando alguém perguntou: “E quem paga?”
Varejão
Está dura a vida do New York Times. Depois de ter fechado o acesso ao conteúdo, o melhor jornal do mundo viu-se batido pelo site ‘Huffington Post’ no volume de acessos às suas paginas na internet e resolveu botar um brinde no pano verde.
Quem compra uma assinatura de três meses (US$ 105), ganha uma caixa-teclado para iPad que custa US$ 100 nas lojas.
O ‘Huffington Post’ é grátis como o ar. Fechando o acesso, o Times perdeu 11% de seus visitantes e ainda não há como se calcular o valor da clientela paga que conseguiu.
4 bi
Está marcada para a próxima quarta-feira a reunião do Conselho de Contribuintes que julgará o recurso do Banco Santander contra uma autuação de R$ 4 bilhões que lhe foi imposta pela Receita Federal em 2008.
O processo deveria ter sido julgado na segunda quinzena de maio, quando o ambiente político estava contaminado pelo noticiário envolvendo a prosperidade do então ministro Antonio Palocci.
Ao tempo em que era deputado e consultor, Palocci deu uma palestra para executivos do Santander.
Trotski vive
Boa notícia para os trotsquistas saudosos de seu guia. A família voltou a brilhar, com Nora Volkow, sua bisneta. Ela nasceu na cidade do México, na casa em que Leon Trotsky foi assassinado e também trabalha para mudar a cabeça das pessoas. A doutora dirige a agência do governo americano que lida com abuso no consumo de drogas.
Sem bigode, cavanhaque e mosca, é a cara do bisavô.