quarta-feira, abril 06, 2011

ANCELMO GÓIS


Solução caseira
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 06/04/11

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, tem apoio de Dilma para preencher com um quadro técnico do próprio banco a vaga aberta ontem na diretoria com a ida de Wagner Bittencourt de Oliveira para a futura Secretaria de Aviação Civil. 

Dilma de ferro
Tem as digitais de Dilma a nomeação de Murilo Ferreira para o comando da Vale. Até sábado, o lugar era de Tito Martins. 

Aliás...
O desafio de Murilo é desarmar os espíritos na mineradora. O clima interno da Vale azedou. 

1o de Maio
A festa de 1o- de Maio das centrais sindicais no Rio vai ser no Complexo do Alemão. 

Cutucou a onça 

A ONG Fala Bicho trocou de mal com a novela “Insensato coração”. Mobiliza seu pessoal para mandar protestos à TV Globo porque a personagem de Camila Pitanga disse que “gatos transmitem toxoplasmose”. Considera que o assunto merecia explicação melhor. 

Calma, gente 
A 16a- Vara Criminal da Barra Funda, em São Paulo, aceitou denúncia do Ministério Público contra o engenheiro Paulo Eduardo Dias Garcia, de 62 anos, por crime de “injúria racial”. Garcia teria ofendido uma dentista da minha terra num restaurante, ao dizer: “Não suporto seu sotaque nordestino horroroso! Você deveria comer no Bexiga, que é lugar de nordestino!”

Espalha m...

Chega às livrarias semana que vem, pela Prumo, uma biografia não autorizada do jornalista australiano Julian Assange, que faz a
terra tremer ao vazar informações da diplomacia americana. Foi escrita por Sophie Radermecker e Valerie Guichaoua

Cenas fortes
Roger, o jogador que namora a atriz Deborah Secco, ainda não viu “Bruna Surfistinha”, assistido por mais de 2 milhões de pessoas no Brasil. A amigos, disse que “as cenas são muito fortes” para ele. Ah, bom!

Longe do Rio
A CSN deve transferir sua sede legal do Rio para São Paulo, em abril. Na prática, o escritório central já está na Pauliceia há tempos.

Fomento na tela 
Paulo Alcoforado, cujo mandato de diretor acabou em dezembro, foi convidado para continuar na Ancine como superintendente da área de fomento, que deve ser incrementada. 

Era previsível

Na Semana Santa, Jair Bolsonaro será o Judas do bloco Suvaco da Asa, de Brasília.

Falso Paes
Um gaiato se fez passar ontem por Eduardo Paes no Twitter. Disse o falso prefeito: “Com as UPPs, estava tudo meio sem graça. Agradeço à Light pelas minas terrestres. Agora me sinto um carioca de verdade!” 

Mas...
Até que faz sentido.

Agora é oficial
Paul McCartney vai tocar no Engenhão, no Rio, em maio.

Upa, cavalinho
Há uma articulação para fazer o ex-chanceler Luís Felipe Lampreia presidente do Jockey nas eleições do ano que vem. 

No ar
Dia 12, completa cinco anos o calvário dos oito mil aposentados da finada Varig pelo fundo de pensão Aerus. É gente que tem hoje entre 65 e 85 anos e, em alguns casos, passa extrema dificuldade. A turma cansada de guerra fará um ato terça, na Cinelândia.

Eu apoio
Em tempo de Lei Seca, a produção da festa Coordenadas, sábado agora, no Vivo Rio, vai pôr ônibus para pegar (e devolver) os convidados em Botafogo, Copacabana, Gávea e Tijuca.

Cena carioca
Terça, uma moça passeava com seu cachorro pela calçada da Rua Leopoldo Miguez, em Copacabana, quando foi surpreendida por um bebum, que disse:

— Este cachorro não pode me morder! Se me morder, vai passar mal!..

ROLF KUNTZ - A nova cartilha do FMI


A nova cartilha do FMI
ROLF KUNTZ
O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/04/11

O controle de capitais agora é "parte da caixa de ferramentas" da política econômica, admite oficialmente o Fundo Monetário Internacional (FMI). Há um ano ainda não era, embora o assunto já fosse discutido com alguma abertura. A novidade acaba de ser sacramentada depois de um ano de estudos e discussões técnicas. Mas falta consenso a respeito do uso das ferramentas, das obrigações de cada país - emissor ou receptor de capitais - e das implicações da mudança para as políticas do FMI.

Diante do crescente fluxo de recursos, num mercado internacional saturado de dinheiro, o Fundo tem a obrigação de orientar seus membros da melhor maneira possível, disse o diretor-gerente da instituição, Dominique Strauss-Kahn. Mas é preciso fazer muito mais, acrescentou, para se alcançar algum acordo a respeito do assunto.

O FMI foi simplesmente forçado a reconhecer uma situação de fato. Em abril do ano passado, o Panorama Econômico Mundial, sua principal publicação, apontou o crescente fluxo de recursos para as economias emergentes como um problema importante. Alguns governos já tentavam impor barreiras pelo menos a certos tipos de capitais. O relatório registrou o fato, sem crítica, limitando-se a recomendar maior atenção a outros tipos de medidas. A partir desse momento o desafio cresceu.

Brasil e outros emergentes foram inundados por um tsunami de dólares a partir de 2009 - uma inundação com efeitos cambiais, valorização de ativos e risco de criação de bolhas. Governos adotaram vários tipos de barreiras, sem pedir a bênção a nenhuma instituição, e agora o FMI tenta criar uma cartilha de boas práticas para os países com problemas desse tipo. Os fatos se impuseram. Chegou a US$ 435 bilhões o ingresso líquido de capitais nas economias emergentes - excluída a China - entre o terceiro trimestre de 2009 e o segundo de 2010. Pouco mais de metade desse dinheiro foi enviada a sete países - Brasil, África do Sul, Coreia, Indonésia, Peru, Tailândia e Turquia.

Para descrever o movimento de capitais os técnicos do FMI olharam as duas pontas. Houve fatores de atração, como o crescimento econômico dos emergentes, a lucratividade de suas empresas e os juros altos de alguns países. No lado oposto estão os fatores de impulso, como o excesso de dinheiro, os juros muito baixos e a recuperação lenta das economias desenvolvidas.

Alguns números mostram a importância dos dois grupos de fatores. Um aumento de um ponto porcentual nos juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano resultaria, em média, numa redução de 31% no fluxo de aplicações em bônus dos emergentes. Um acréscimo de 1% no índice de volatilidade dos mercados ocasionaria uma queda de 0,5% nas aplicações em carteira dos emergentes. Uma elevação de um ponto porcentual no crescimento econômico das economias emergentes pode traduzir-se numa expansão de 4% dos fluxos totais. Mas esses cálculos ainda podem subestimar a evolução dos fluxos durante os surtos - períodos de um trimestre a um ano com influxos muito acima das tendências de longo prazo. Longos surtos são classificados como "episódios". Segundo o FMI, os 48 emergentes analisados passaram por 125 episódios de grandes influxos de capitais nas últimas duas décadas - sendo 26 em curso neste momento.

O FMI ainda prefere respostas de tipo tradicional. Se a moeda estiver depreciada, o melhor será deixá-la valorizar-se. Se não houver excesso de reservas, valerá a pena comprar dólares. Apertar a política fiscal para permitir juros mais baixos também é um procedimento preferencial. Fora dessas condições, cabe recorrer aos controles do fluxo, aplicando medidas administrativas e fiscais.

O Brasil, segundo o FMI, falhou na aplicação das medidas tradicionais: até o fim de 2010 a política fiscal permaneceu expansionista e isso incluiu os empréstimos subsidiados do BNDES. Diante da valorização do real, as autoridades tributaram o ingresso de capital e impuseram exigências aos bancos, mas com efeitos limitados, de acordo com o estudo.

Os estudos produzidos pelo pessoal técnico foram discutidos pelos diretores executivos do FMI - representantes de países ou grupos de países-membros. Diretores dos emergentes cobraram maior atenção aos países de origem dos fluxos - como os Estados Unidos. Em outras palavras, não basta formular recomendações para os países inundados de capital estrangeiro e forçados a tomar medidas de controle. A discussão continua e esse deve ser um dos grandes temas da reunião de primavera do Fundo, na próxima semana, em Washington.

TUTTY VASQUES - A descrença no fim do mundo



A descrença no fim do mundo
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/04/11

É sempre assim: toda vez que o ser humano está quase levando o fim do mundo a sério, uma seita de araque qualquer trata de ridicularizar o assunto. De tempos em tempos, uma nova profecia milenar de orelhada vem de encontro ao risco real de destruição do planeta, como se o homem moderno não tivesse nada a ver com isso! Pior ainda é o deboche geral com o tema quando suscitado em nome de Deus!

Não dá mesmo para acreditar no fim do mundo quando ele é anunciado para o mês que vem, como faz agora uma tal Family Radio, cristãos evangélicos americanos que desembarcaram em Belo Horizonte pregando o juízo final para o dia 21 de maio de 2011. A explicação de que, nesta data, o grande dilúvio completaria 7 mil anos, francamente, não convence ninguém.

Só serve para estimular piadas genéricas sobre o apocalipse lento e gradual que o descaso ambiental prenuncia. O fim do mundo como ele é não está na Bíblia, no calendário Maia ou nos filmes-catástrofe do gênero. Se você não sabe o que fazer a respeito, reze baixinho para não atrapalhar a pregação de quem ainda tenta salvar esta joça.

Todo mundo falha
De Ziraldo, comentando sua condenação por improbidade em Vara Cível do Paraná: "Isso nunca aconteceu comigo!" Teria ocorrido durante festival de humor em Foz do Iguaçu, no início dos anos 1990. A moça que o acompanhava, dizem, também não era lá essas coisas!

Fique esperta!
Tem socialite paulistana - ô, raça! - caindo no golpe da "venda de ingressos para assistir à implosão beneficente do prédio da Daslu". Pode?

Quem dá mais?

Passaporte especial de filho do Lula pode ir a leilão na internet. Seria uma boa maneira de socializar o caráter beneficente do documento diplomático. Imagina quanto o Eike Batista não doaria a uma instituição de caridade para ter um desses no bolso!

Coerência máxima

Muricy Ramalho mostrou de novo que é um homem de palavra: esperou o anúncio oficial de Murilo Ferreira na Vale para assinar com o Santos. Reserva-se o direito de não comentar o assunto.

Se é bom pro Brasil...

Faltando ainda 20 meses para as eleições presidenciais americanas, Barack Obama já está em campanha.

A oposição ainda não tem sequer candidato definido. Já vimos esse filme, né não?

Cabe recurso

Com a descoberta de fraude no sistema eletrônico que controla por impressão digital o comparecimento ao trabalho dos funcionários do Senado, resta ainda à direção da Casa o recurso de acorrentá-los ao serviço.

Fundo do mar

Não será surpresa para esta coluna se, amanhã ou depois, encontrarem o Dr. Ulysses.

EDITORIAL - O ESTADÃO - O presidente da Vale presidirá?


O presidente da Vale presidirá?
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 06/04/11

Escolhido para assumir a presidência da Vale, a maior companhia privada brasileira, o executivo Murilo Ferreira terá de atender a dois objetivos possivelmente incompatíveis - cuidar do crescimento da empresa e de sua rentabilidade e, ao mesmo tempo, agradar ao governo. Se for obediente à presidente Dilma Rousseff e aos políticos por ela autorizados a dar palpites, comprometerá o desempenho econômico da Vale e perderá a confiança dos acionistas privados. Se assumir a função como um preposto do Palácio do Planalto, acabará entrando no jogo do aparelhamento partidário e do empreguismo. Mas, se levar em conta só os critérios profissionais e se concentrar na gestão dos negócios, entrará em conflito com o Palácio do Planalto, ficará sujeito a pressões políticas e terá de lutar duramente, como lutou seu antecessor, Roger Agnelli, para não ser defenestrado. Poderá resistir até por muito tempo, mas a derrota será quase certa.

Ao escolher o nome do executivo Murilo Ferreira, os controladores da empresa levaram em conta esse duplo desafio. O administrador foi funcionário do grupo, presidiu a Vale Inco, no Canadá, e é conhecido no mercado. Ontem mesmo já houve manifestações de investidores a favor de seu nome. Além disso, ele presidiu a Albrás, empresa fabricante de alumínio e grande consumidora de eletricidade. Nessa condição, reuniu-se várias vezes com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Murilo Ferreira, segundo fontes confiáveis, era o nome preferido da presidente da República para a sucessão de Roger Agnelli.

O problema do novo presidente da Vale, no entanto, não consistirá apenas em manter um difícil equilíbrio entre as demandas do mundo político e as do mercado. Muitos empresários importantes são forçados, ocasionalmente, a levar em conta os dois tipos de interesse. Mas o caso da Vale é especial. Como empresa privada, cresceu firmemente, multiplicou seus lucros e alcançou posições cada vez mais importantes no mercado global. Alimentou o Tesouro Nacional com volumes crescentes de impostos e tornou-se um fator de enorme importância estratégica para o País. Sem a Vale, a economia brasileira seria muito menos dinâmica e as contas externas, muito menos seguras.

Em outras palavras, a Vale, tal como foi administrada a partir da privatização, assumiu um papel cada vez mais importante para a realização dos objetivos nacionais. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, parece desconhecer esse fato.

Segundo ele, a Vale "precisa contribuir mais fortemente para os interesses do País". "A produção de aço no País", acrescentou, "é conveniente, é necessária ao povo brasileiro e à sociedade." Ele não explicou a diferença entre o povo brasileiro e a sociedade, mas esse pormenor é pouco relevante, no meio desse discurso lamentável. A produção de aço é importante, de fato, mas a siderurgia brasileira tem cumprido bem esse papel - e com sobras, porque há capacidade ociosa no setor.

O ministro parece ignorar também esse fato. Isso é compreensível. Reconduzido ao cargo por influência do senador José Sarney, ele deve preocupar-se com assuntos muito mais importantes, como a sujeição da Vale aos interesses políticos do Planalto e de seus aliados. O simples fato de o ministro Edison Lobão falar a respeito das obrigações da Vale é preocupante não só para os acionistas privados, mas para todos os brasileiros sérios. A ocupação do setor elétrico estatal pelo PMDB é fato bem conhecido. Outras estatais têm sido usadas, também, para servir aos aliados do governo. As consequências tornaram-se públicas, em alguns casos, depois da exibição de vídeos gravados durante sessões de bandalheiras.

Será esse o destino da Vale? A pergunta é mais que razoável, diante da experiência brasileira. Mas as perspectivas já são assustadoras, mesmo sem a hipótese da distribuição predatória de cargos. O governo quer forçar a companhia a investir segundo critérios voluntaristas - por exemplo, aumentando a capacidade ociosa do setor siderúrgico ou substituindo o Grupo Bertin no consórcio da Hidrelétrica de Belo Monte. Terá o novo presidente algo razoável para dizer sobre essas pretensões?

ROBERTO DaMATTA - Viagens, expedições e incursões


Viagens, expedições e incursões
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 06/04/11

Vejam que momentosa passagem mensal. No dia 22 de março, a Assembleia Legislativa de Juiz de Fora concedeu-me, pelas mãos do vereador do PT, Wanderson Castelar, o título de cidadão honorário da cidade que - nos anos 50 - testemunhou, com a indiferença típica de toda malha urbana - malha cujo anonimato permitiu que Pedro negasse Cristo três vezes e que esconde dos seus habitantes suas razões e demandas - os meus passos em direção ao mundo. Pois fui a Juiz de Fora aos 11 anos e - depois de um interregno em São João Nepomuceno e em Niterói (onde nasci) - a ela retornei com minha vasta experiência de nada vezes nada aos 14, dela saindo aos 17 anos para terminar o curso científico em Niterói, onde moro até hoje.

Que diferença fez esse tempo? Recordei isso quando recebi o diploma que me facultava nascer de novo naquela cidade onde, eu menino, perambulava cheio de perguntas sem respostas. Meus pais: um baiano e uma amazonense, sempre foram ilustres desconhecidos. Mas eu, graças ao cinema, ao Colégio São José, aos discos de Doris Day, ao basquete no Sport Clube Juiz de Fora e ao Mauricio Macedo e à sua esposa Quiquita; à irmandade do Naninho, à minha namorada Zelinha, ao Mauricinho e ao Mario Assis e; em Nepomuceno, à família Mendonça Vianna, tornei-me um nativo. Meus pais não viraram mineiros, mas eu acabei sendo um mulato cultural ao menos no basquete, nos bailes e nas paixões que confundiam cinema e realidade.

* * * *

Dias depois, segui para Fortaleza onde, a convite do Instituto de Estudos e Pesquisas do Estado do Ceará, falei sobre a anticidadania no trânsito na Assembleia Legislativa que, em Fortaleza, faz algo inédito: ouve as pessoas. Abri um seminário internacional sobre Cidade, Mobilidade e Felicidade falando do meu livro sobre o comportamento no trânsito, o Fé em Deus e Pé na Tábua, onde ressalto a nossa patológica alergia à igualdade nas ruas, nos sinais e nas longas filas de carros engarrafados esfregam nas nossas caras, deixando-nos loucos de raiva. Mostrei como temos muito mais afinidade com o desigual, o aristocrático e o hierárquico do que com o igual que exige tratar o outro com o devido respeito e uma consideração reservada apenas a quem devemos favores.

* * * *

Após uma noite em São Paulo onde, na Fnac, e depois do meu seminário sobre Teorias do Brasil na PUC, falei dos dilemas brasileiros, voei para Lisboa.

Já no avião da TAP, no dia 29, reencontro a hierarquia portuguesa na forma de um serviço impecável, mas formalíssimo e sem uísque. E já enfrento os erres rascantes e as palavras que ficam pelo meio, tornando as frases ininteligíveis para nós, brasileiros.

Férias? Passeio? Compras?

Nada disso. Viajo para participar de um colóquio sobre Gilberto Freyre, organizado pela fundação emblemada pelo seu nome, graças ao convite de Sonia Freyre Pimentel. Após a bela conferência de abertura do historiador de Cambridge, Peter Burke, sobre o luso-tropicalismo de Freyre no contexto das teorias pós-coloniais, mergulho na magnífica experiência das várias e intensas discussões da obra de Freyre mas, desta feita, realizadas - à exceção de uma brilhante comunicação de Maria Lucia Pallares Burke - sob o ângulo português, uma perspectiva que oscila fortemente entre o Gilberto Freyre lusófono, que viaja pelas colônias de Portugal a convite de Salazar; e o Gilberto Freyre que nos legou interpretações antecipatórias deste nosso mundo globalizado e tão carente de abraços, mais do que de informações e horrores.

Curioso ouvir uma língua que é a minha, sem entender nada. Maravilhoso ver os olhares de surpresa dos colegas lusos quando terminei a minha conferência de encerramento do encontro, pois o Gilberto Freyre do Brasil de hoje não é obviamente o mesmo que não li na universidade porque ele era um autor reacionário e constava de um índex do qual, tempos depois, eu também fiz parte.

No meio do segundo dia, fiquei tão confuso que perguntei que língua estávamos a falar e um amigo me olhou com aquela visada que ilumina os loucos varridos. Serei sempre devedor dessa experiência de revisitar Gilberto Freyre em Lisboa. Um raro autor imune à leitura desapaixonada, pois que é sempre discutido com rejeição ou admiração, jamais indiferença. No meu caso particular, com uma imensa inveja pelo que ele sabia do Brasil como morada.

* * * *

Minas Gerais, Ceará, São Paulo e Lisboa em poucos dias. O cronista abusa de movimentação.

Ledo engano.

Pois durante todo esse tempo eu não viajava, mas excursionava entre regressos e reencontros. Minha verdadeira viajem era para dentro de minha vida por meio da vida de Isaac Singer. Pois durante todo o tempo eu lia e relia Amor e Exílio. E assim misturei Juiz de Fora com a Polônia, São Paulo e Fortaleza com a diáspora, e Gilberto Freyre e Lisboa com a Cabala, as sinagogas e a cosmologia judaica. Durante todo tempo, eu fazia a pergunta que ronda a obra de Singer e permeia o seu livro: o que diferencia um ser humano de outros, como explicar o sofrimento e evitá-lo, o medo do tédio é tão grande ou maior do que o da morte... E, mais além, eis por onde tenho andado, caros amigos: que todos somos neuróticos, contraditórios e loucos. Queremos o conflito e a serenidade, o pertencer e a mais pura liberdade, o gozar e a culpa. Essa é a viajem que fiz e ainda estou fazendo para dentro de mim mesmo - não em aviões, mas com os livros.

COPA DA PROPINA

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - Diversidade, afeto e língua afiada: somos cronistas do 'Caderno 2'



Diversidade, afeto e língua afiada: somos cronistas do 'Caderno 2'
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/04/11

Conto em palestras para estudantes, repito agora aos leitores. Talvez não saibam que, entre nós, a crônica é chamada literatura sob pressão. Precisamos escrevê-la, temos prazo, buscamos o tema. Ou, se preferirem, a tal inspiração. Cada um tem a sua, mas não conheço definição melhor do que a do Luis Fernando Verissimo: "Inspiração? É o prazo". Ou seja, chegou a hora, temos de escrever e escrevemos. Moro neste Caderno há 12 anos, pelas minhas contas. Antes, saía no Cidades (hoje Metrópole). Mas meus textos têm mais o jeito e a cara do Caderno 2, onde convivo com alguns dos melhores cronistas deste País. Não há dois iguais entre nós, a diversidade nos marca, a variação de assuntos, os campos vividos e explorados. Neste grupo, encontra-se divertimento e também informação, esclarecimento, questionamento, opinião, briga, poesia, o que se precisar. Daí sermos um conjunto compacto.

O que me emociona é lembrar que, quando adolescente, comprava a revista O Cruzeiro para ler a última página, escrita por Rachel de Queiroz. Passadas décadas, quem foi minha companheira de Caderno 2? Rachel de Queiroz. Quando morreu, o espaço dela ficou para mim, às sextas-feiras, o que mostra o encanto dos caminhos da vida. A morte levou outros, como Paulo Francis, cuja ironia, mordacidade, metralhadora giratória (como diziam) o faziam ser um jornalista amado/odiado. Polemizava, provocava e, infelizmente, não teve sucessor à altura em toda a imprensa. Cedo, muito cedo, se foi Caio Fernando Abreu, cuja maneira de escrever e ver a vida era singular, tanto que seus textos, repetidos ou entrando em antologias, conservam um frescor espantoso; Caio foi visionário. Teve quem não morreu, continua vivo, mas preferiu deixar a pressão de prazos, temas e inspirações e se retirou para Florianópolis. Mario Prata fica lá, publica seus livros, escreveu outro romance, mas a crônica perdeu aquele humor sutil do Pratinha. Que muitas vezes era escrachado. Assim como deixou a crônica, Prata também abdicou da cerveja com álcool.

Tem gente como João Ubaldo Ribeiro, a quem já acompanhei em turnês literárias, falando para estudantes pelo Brasil e pelo estrangeiro. Estive com ele na Alemanha, nos Estados Unidos e também em Itaparica, sua terra, onde é ícone e onde prepara moquecas de ostrinhas, perfumadas, ao redor das quais passamos o dia. João é daqueles que escrevem como falam, um contador de histórias, cujas crônicas, eventualmente, se transformam em contos.

Chegou um dia em que alguns dividiram a casa e cederam espaço para um companheiro que nos alegra. Cedi uma sexta-feira ao Milton Hatoum e a vantagem é que não preciso mais esperar um livro novo dele para ler um homem que tem estilo. Já Matthew Shirts e, claro, o professor Tota, constante nos textos dele, tanto que muitos não sabem se é verdadeiro, se ficção, ou uma espécie de amigo invisível, bem, o Shirts dividiu o pedaço com Lúcia Guimarães, que nos esclarece sobre os Estados Unidos. Assim, uma brasileira fala sobre americanos e um americano fala sobre brasileiros. Este é o verdadeiro vice-versa.

Terça-feira encontramos o best-seller Arnaldo Jabor. Ele é lido no jornal, lido em livros, ouvido na rádio, visto na televisão. Isso é o que se chama multimídia, estar em todas. Jabor detonou o Lula deixando-o nu durante todo o seu reinado. Lula foi rei ou imperador? Ou Deus? Jabor dilacera, destroça, não queiram ser seu inimigo. Seus momentos de ternura e afeto surgem quando ele fala de amor, sexo, de sua juventude ou infância, e aí nele encontramos o que se passou também conosco.

Às quartas-feiras (este continuou semanal) o Roberto DaMatta explica o Brasil e o homem. É um acadêmico diferenciado, porque suas crônicas são claras, acessíveis, sem jargão além do universo comum. Não é o chato de universidade. Desce do Olimpo e fala de futebol, carnaval, cachaça, o que quiser, colocando sustância, sem o B, como se diz no interior.

Espero a quinta-feira por causa do Verissimo, que volta aos domingos. Ele, em vez de dividir com alguém, ganhou mais um dia. Ninguém reclama. Se um é pouco, dois é bom. Num dia fala de política nacional e internacional, zombeteiro às vezes, maldoso, rápido no gatilho. Aos domingos suas historinhas e seus quadrinhos têm o sabor de Dalton Trevisan, Raymond Carver ou William Saroyan, podem ser kafkianos, ou machadianos. Ninguém é Verissimo impunemente.

Já Marcelo Rubens Paiva flutua entre a melancolia e a ironia, seus detalhes nos atingem certeiros. Transita entre o amargor, o cinismo, a crítica ácida, o afeto pelos seres humanos, as indagações sem respostas, ilumina o absurdo da vida. Sem esquecer Nelsinho Motta que de música brasileira sabe tudo, que também contava histórias com sabor, é engraçado, vai aos bastidores e traz revelações, tudo isso em curto espaço, diz o essencial. O "caçula" do grupo é o Sérgio Telles, aos sábados. Ele traz os bastidores das artes, conta curiosidades, abre nossos olhos para fatos perdidos, faz ligações e junta as pontas. Sua cônica mais recente, a da "pequena macaca" de Degas, é primorosa para mostrar como as coisas eram vistas e como se transformam. E eu, cujo ouvido é nulo, que não decoro uma só letra e melodia, que me perco até entre os raios fulgidos e o lábaro que ostentas estrelado, socorro-me necessariamente desta pequena e valorosa equipe formada pela Claudia Assef, Patricia Palumbo, Roberto Muggiati, Lúcio Ribeiro e Gilberto Mendes, que me abrem as comportas do entendimento aos sábados.

Nos resta, aos domingos, Daniel Piza, cuja espaço é senhorial, enche quase toda a página. Não só pela compulsão de escrever, porque tudo o que viu, leu, ouviu, observou jorra, impossível de ser contido. Daniel vai ao ponto, é agudo no comentário, detona um livro que muita gente ama, mostrando por que e não se deixa engabelar pelo gosto comum, pelo Maria vai com as outras, pelos modismos. Tem vez que leio, com raiva - "por que ele é assim?" Depois, me acalmo e vejo que tinha razão. Ele não se deixa enganar pela superficialidade do CD, do DVD, do quadro, do momento político. Um ser necessário. Acho que percorri todos os caminhos desta gente que acima de tudo adora escrever, olhar o mundo, viver a vida, observar as pessoas, o cotidiano, tenta vislumbrar o futuro, se enraivece, ou abre os braços amigavelmente. Assim vejo um pouco de nós, os cronistas do Caderno2.

ANTONIO JOSÉ MARISTRELLO PORTO E RAFAELA NOGUEIRA - Política industrial - não há filé grátis


Política industrial - não há filé grátis
ANTONIO JOSÉ MARISTRELLO PORTO  E RAFAELA NOGUEIRA
O Estado de S.Paulo

Recentemente foi anunciado que o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro decidiu abrir inquérito civil público para investigar a relação da BNDES Participações S. A. (BNDESPar), braço de atuação no mercado acionário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com o Grupo JBS-Friboi. O procurador da República que tomou a decisão de abrir o processo, no entanto, não forneceu maiores detalhes acerca do inquérito. O BNDES, por sua vez, informou que todas as suas operações são feitas com transparência. Esse fato suscita a importância do debate sobre o procedimento decisório que orienta o BNDES.

Vejamos, por exemplo, a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), implementada pelo BNDES após a crise de 2008. A PDP visava a "conferir maior potência à Política Industrial, por meio da ampliação da sua abrangência, do aprofundamento das ações já iniciadas e da consolidação da capacidade de desenhar, implementar e avaliar políticas públicas", e teve como um de seus focos o setor de carnes. Um possível problema causado pela PDP seria um desarranjo no mercado de carnes no Brasil, uma vez que os frigoríficos que obtiveram financiamento do BNDES, além de se tornarem maiores, também compraram frigoríficos menores. O resultado dessas aquisições pode ter sido um setor menos competitivo, gerando uma piora tanto para os produtores quanto para consumidores de carne, dado que os frigoríficos atuam como intermediários nesse segmento, comprando o boi do fornecedor e revendendo a carne para o consumidor final.

A pergunta que surge é: será que esse aumento da concentração de mercado causou algum mal ao mercado de carne brasileiro? Recente estudo realizado pelo Centro de Pesquisa em Direito e Economia (CPDE) da FGV Direito Rio objetivou mensurar o impacto dos empréstimos concedidos pelo BNDES aos frigoríficos sobre os preços percebidos pelos consumidores e produtores de carne no Brasil, separando os efeitos, concomitantes, da crise financeira de 2008. O estudo apontou indícios de que os empréstimos fornecidos pelo BNDES possibilitaram a ampliação dos lucros dos frigoríficos à custa dos consumidores e dos produtores de carne brasileiros. Ao analisar uma base de dados fornecida pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), composta pelo Índice de Preços ao Consumidor e pelo Índice de Preços Recebidos pelo Produtor de alguns produtos, o estudo sugere que, relativamente a outros setores, que também sentiram o impacto da crise financeira de 2008, o de carnes apresentou simultaneamente aumento de preço para o consumidor final e queda do preço recebido pelo produtor.

Portanto, a única diferença importante entre os setores, pós-crise, seriam os empréstimos recebidos pelos frigoríficos. Desse modo, torna-se possível separar os dois efeitos - crise de 2008 e empréstimos do BNDES - e calcular como os empréstimos podem ter impactado os preços, tanto o recebido pelo fornecedor como o pago pelo consumidor final. O método empregado no estudo indicou um aumento da margem de lucro para os frigoríficos em detrimento do excedente do fornecedor e do consumidor de carnes. Em outras palavras, o consumidor está pagando mais, o fornecedor está ganhando menos e os frigoríficos estão ganhando dos dois lados.

Os resultados até o momento alcançados apontam para a necessidade de serem conduzidos estudos mais aprofundados sobre o setor, tendo em vista que há evidências de que as alterações no mercado de carnes acarretadas pela intervenção do BNDES levaram a consequências não necessariamente desejadas pela sociedade brasileira. O estudo sobre esse tema, para além de aprofundar o conhecimento a respeito do mercado de carnes, pode também lançar luz sobre o debate referente ao desenvolvimento de uma política industrial consistente com as projeções de aumento da produção brasileira para os próximos anos. O debate acerca dos contornos de uma política industrial bem-sucedida envolve a explicitação de quais são os agentes econômicos beneficiados e, também, a identificação da redistribuição dos custos para quais agentes econômicos. É um exercício de ponderação que deve ser racionalmente compreendido e democraticamente debatido.

A discussão sobre quem deve ser o escolhido para receber os incentivos de uma política industrial deveria passar por critérios claros e transparentes e maior controle democrático do processo de tomada de decisão no âmbito das estratégias de políticas industriais. Dessa forma, a discussão deixa de ser se queremos ou não alguma política industrial, mas, sim, como devemos realizá-la. Qualquer forma de política industrial deve ser dirigida a ganhos da sociedade.

Podemos aproveitar o momento como uma oportunidade. Oportunidade para pensar e inventar alternativas quanto aos objetivos e às formas de fazermos política industrial. Contudo, ao mesmo tempo, devemos garantir a possibilidade de transparência e de mecanismos de controle democrático desse processo decisório. Temos uma oportunidade para inovar. Mas devemos aproveitá-la com responsabilidade.

Política industrial não é um bicho de sete cabeças. Tampouco é letal. Em vez de escolher mais ou menos política industrial, devemos compreender que ela pode ser organizada de diferentes formas, com diferentes consequências. A ideia de que os arranjos institucionais atuais são os únicos possíveis é uma ilusão. As formas já estabelecidas representam hoje apenas uma opção, e não necessariamente são as mais eficientes. Como já dizia o famoso economista Milton Friedman, não há filé grátis.

RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR DA FGV DIREITO RIO E COORDENADOR DO CPDE; PROFESSORA DA FGV DIREITO RIO, PESQUISADORA DO CPDE E DOUTORANDA DA ESCOLA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA (EPGE)

GOSTOSA

EDITORIAL - O GLOBO - PF torna o mensalão indesmentível


PF torna o mensalão indesmentível
EDITORIAL
O GLOBO - 06/04/11
Ao ser denunciado, em 2005, por um de seus beneficiários, o petebista fluminense Roberto Jefferson, o mensalão explodiu sem dar chances a petistas e ao governo Lula de desmenti-lo de forma convincente. O escândalo cresceu a ponto de, no final daquele ano, o próprio presidente declarar que havia sido traído. Era o reconhecimento de que estrelas do partido e autoridades bem situadas no governo haviam participado, de alguma forma, de um esquema de corrupção política. Veio, então, a CPI dos Correios, em que surgiram provas e mais evidências do esquema de lavagem de dinheiro montado pelo PT e o lobista mineiro Marcos Valério, para azeitar a bancada governista no Congresso e financiar campanhas de aliados.

Naquela comissão houve a confissão do marqueteiro da campanha de 2002, Duda Mendonça, de que recebera pelos serviços prestados em dinheiro ilegal, no exterior. No dia, petistas choraram no Congresso. Alguns abandonaram a legenda.

Parecia o fundo do poço, quando petistas teriam arquitetado trocar o compromisso da não tentativa de reeleição de Lula pela permanência dele no cargo até o fim do mandato. O desfecho deste capítulo do escândalo ocorreu com o encaminhamento ao Supremo, pelo Ministério Público Federal, do pedido de denúncia da "organização criminosa" do mensalão, à frente da qual estava, segundo o MP, o exministro- chefe da Casa Civil, José Dirceu, àquela altura já cassado pela Câmara dos Deputados, assim como o denunciante Roberto Jefferson.

Denúncia aceita, o tempo passou, os ventos na economia passaram a soprar a favor de Lula e PT. Vitorioso em 2006, o presidente mudou o discurso do final de 2005. O mensalão virou uma "farsa", engendrada, segundo a militância, pela "mídia golpista" - tese fantasiosa lapidada por alguns intelectuais orgânicos. Lançou-se, inclusive, campanha para anistiar Dirceu na Câmara.

Mas a Polícia Federal, a pedido do ministro relator do processo no STF, Joaquim Barbosa, fez investigações do caso, cujas conclusões foram reveladas pela revista "Época". Não só o esquema do valerioduto foi confirmado, como acabaram as dúvidas sobre um ponto relevante: foi, sim, desviado dinheiro público do Banco do Brasil, por meio da Visanet, empresa de cartões de crédito na qual o BB tinha participação. Entre as novidades encontradas pela PF - numa atuação à altura de um organismo de Estado, como deve ser, e não do governo de turno - está o elo entre pessoa do círculo de amizades do ex-presidente Lula, o segurança Freud Godoy, e o valerioduto. Ele recebeu do esquema R$ 98 mil, por serviços de segurança prestados a Lula na campanha de 2002 e na fase de transição para a posse.

Fechou-se mais um circuito entre a cúpula lulopetista e o esquema. Pelas 332 páginas do relatório da PF desfilam, entre muitos outros, o atual ministro Fernando Pimental - ajudado na campanha de 2004 em BH -, o indefectível senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o empresário Daniel Dantas.

Aparece até o tucano Pimenta da Veiga, remunerado por serviços advocatícios. A investigação não será anexada ao processo, pois reabriria todos os prazos, para satisfação dos mensaleiros. Mas pode justificar novas denúncias. E deve tornar menos factível a previsão de Delúbio Soares, mensaleiro, tesoureiro petista na época da operação de lavanderia financeira, de que tudo acabaria como uma "piada de salão". Espera-se que não.

Investigação acaba com as tentativas de desqualificação da denúncia

KÀTIA ABREU - Em busca de um recomeço


Em busca de um recomeço
KÀTIA ABREU

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/11

Dizer que estou "mudando de partido" é pouco, impreciso, incompleto; o verbo correto é "fundar" uma nova legenda, o PSD, absolutamente original

Antes que seja censurada por ideias que não defendemos e por intenções que não temos em função do projeto do novo partido em organização, o PSD, lembrei-me de uma providência que Benjamin Franklin adotou ao se engajar na luta pela independência americana, em 1731: escreveu um pequeno texto de duas páginas, que republicou até o fim da vida no seu jornal, o "Pennsylvania Gazette", contendo a essência dos seus princípios.
Uma prevenção eficaz contra os preconceitos, as intrigas e as falsas interpretações.
Nesses termos, começo pelo verbo correto que indica a minha movimentação política. Dizer que estou "mudando de partido" é pouco, impreciso, incompleto. Da mesma forma, é falso que esteja deixando a oposição. Ou, mesquinhamente, que abandono a legenda em que iniciei minha vida política.
Esses verbos, "sair", "mudar", "trocar", "abandonar", não expressam o sentido da minha ação.
O verbo é "fundar". Junto com amigos de várias procedências, participamos do núcleo dirigente de uma nova legenda, absolutamente original, a começar pela declaração de independência absoluta em relação às classificações topográficas a que nos acostumamos.
Não estamos inventando um limbo inexistente, mas definindo um novo conceito. Não adotaremos alinhamentos automáticos. Estamos fundando um partido para ser ele mesmo. Partidos não precisam de adjetivos, mas, como tudo na vida, precisam de caráter. É preciso que haja clareza e compromissos com suas metas e princípios. Quando o governo estiver em consonância com nosso programa, terá nosso apoio. Quando não estiver, não terá. Ter caráter é ser, acima de tudo, fiel aos seus princípios.
O voto popular designará nosso papel, jamais composições, troca de cargos ou compensações de qualquer ordem. Segundo, porque deveremos adotar o sistema da democracia interna -no modelo "cada militante, um voto"- para escolher candidatos, dirigentes e definir as grandes linhas de ação. Algo muito diferente da prática político-partidária brasileira.
Também o conteúdo perseguido não conterá as platitudes ou generalidades habituais. Não seremos escravos de ressentimentos, de definições imobilistas, de revanchismos e de idealismos espasmódicos de véspera de eleições.
Três coisas são imprescindíveis.
Primeiro, os princípios de defesa da liberdade sem adjetivos e da prática, sem restrições, dos direitos humanos. Segundo, a intransigente exigência de moralidade.
Terceiro, não teremos os chamados "candidatos naturais". Ninguém será candidato de si mesmo.
As prévias não podem ser opcionais, devem ser obrigatórias. Um partido de militantes, e não de dirigentes autoritários. A tolerância diante do intolerável, praticaremos com humildade.
No plano econômico, quem disse que são incompatíveis a proteção social e o direito de propriedade, os estímulos à formação de empresas, o reconhecimento do lucro auferido legal e eticamente?
Sou uma democrata incondicional que acredita que somente a economia de mercado pode erradicar a pobreza, por ser a única que gera riqueza. Esperem pelos programas e definições que estão no forno, com propostas precisas, sem subterfúgios, para essa combinação de solidariedade e desenvolvimento.
Buscaremos na educação o instrumento verdadeiro que garanta a liberdade. A educação não deve ter seu foco apenas na qualificação profissional para o mercado, mas principalmente capacitar o cidadão para fazer suas escolhas.
Para terminar, um desafio aos críticos apressados: o reconhecimento e a defesa da classe média, que soma hoje 52% da população e detém 46,5% da renda nacional, nos caracterizará como esquerda ou direita? Não ataquem antes de o time entrar em campo. Não é justo.

MÔNICA BERGAMO


DONA DO CABARÉ
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/11

Claudia Raia posou como Liza Minnelli no musical "Cabaret" para a capa da revista gay "Junior" que chega às bancas amanhã. A atriz montará uma versão do espetáculo no segundo semestre, com direção de José Possi Neto.

TIMÃO INCENTIVADO

Está pronto o pacote de estímulos que a Prefeitura de SP dará à Odebrecht e ao Corinthians para a construção do estádio em Itaquera. Ele prevê incentivos de cerca de R$ 400 milhões -ou 60% do investimento que a administração espera que seja feito na arena (R$ 700 milhões). O clube terá também IPTU reduzido em 50% e ISS reduzido em até 60% por dez anos, para a arrecadação feita na bilheteria ou em outras atividades.

ATÉ SEXTA

Os R$ 400 milhões serão obtidos com a emissão de CIDs (Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento), títulos com os quais a Odebrecht poderá pagar outros impostos municipais. A empresa poderá usar os certificados em cinco anos (R$ 80 milhões por ano), e não mais em dez, como era antes previsto. O projeto deve ser enviado à Câmara dos Vereadores até a sexta-feira, segundo Marcos Cintra, secretário municipal do Trabalho.

SOBE E DESCE
Chamou a atenção de técnicos da prefeitura a quantidade de elevadores que a arena de Itaquera precisará ter, por exigência da Fifa: 25.

MEU PRIMEIRO SUTIÃ 1
Um sutiã cor-de-rosa com bojo de espuma imitando o formato de seios é vendido em tamanho seis (para menina de seis anos) nas Lojas Pernambucanas. O produto leva etiqueta da Disney e tem estampa de Sininho, a fada de "Peter Pan", na calcinha do conjunto, que custa R$ 15,90. A Disney e as Pernambucanas não responderam quem projetou a peça, sua vendagem nem se o bojo infantil é funcional ou estético.

MEU PRIMEIRO SUTIÃ 2

Casos similares geraram comoção pelo mundo nas últimas semanas. Nos EUA, a grife Abercrombie retirou de sua loja virtual, na semana passada, um biquíni para meninas de sete anos que tinha parte superior "push-up", que projeta os seios. Na Inglaterra, em março, a rede Primark doou para ONGs de defesa infantil a renda da venda de um biquíni com bojo para meninas de sete anos.

CONDUÇÃO

Bono e os outros integrantes do U2 circularão por SP em dez carros blindados e oito vans. Antes, desembarcam em Brasília em jato particular para o já anunciado encontro com a presidente Dilma Rousseff. O roqueiro estaria "encantado" com a promessa dela de acabar com a miséria no país.

ALMOÇO COM GUIDO

O ministro Guido Mantega, da Fazenda, discutirá os rumos da economia brasileira com especialistas como Maílson da Nóbrega e Luiz Gonzaga Beluzzo. O debate será nesta sexta, no hotel Tivoli, em SP. A organização é da "Brasileiros", que realiza seminários sobre os mais diversos temas no país.

SHOW DO MILHÃO
A FGV está fazendo um concurso de monografias sobre um tema espinhoso: "Desenvolvimento e Estado de direito no Brasil: cumprimento de contratos versus razão de Estado". Com prêmio de R$ 150 mil para o primeiro colocado, patrocinado pela Mendes Jr., a adesão foi acima do esperado: 77 pessoas enviaram seus trabalhos. As inscrições se encerraram ontem.

BIS
Amilcare Dallevo Jr., dono da Rede TV!, pediu a apresentadora Daniela Albuquerque em casamento neste domingo -depois de cinco anos de união oficial. Ela disse sim, de novo. A celebração terá vestido branco, padre e novo diamante. Será no dia 23 de setembro, quando os dois celebram suas bodas de madeira ou ferro.

ENTRE AMIGOS
Ruth Escobar foi homenageada por amigos numa festa organizada por Lulu Librandi e pelo banqueteiro Toninho Mariutti para celebrar seus 76 anos; afastada das grandes produções teatrais e em tratamento de saúde há cinco anos, a atriz recebeu a visita de Geraldo Alckmin, José Serra, Andrea Matarazzo e Irene Ravache, entre outros.

NOVA GALERIA
O escritor Fernando Morais e Ana Prata foram à galeria Transversal, na Barra Funda, que abriu suas portas com a exposição "Clay Perry: No Limite da Experimentação".

CURTO-CIRCUITO


A banda Miami Horror toca na festa do canal Multishow, hoje, no Beco 203. 18 anos.

O publicitário Pedro Tourinho dará palestra no evento Transmedia, Hollywood 2, na Califórnia, na sexta-feira.

Fabrizio Fasano Jr. abre hoje mostra de fotos na Mônica Filgueiras, às 19h.

Alisson Gothz e Clemente são os DJs convidados da festa de new wave e punk rock Rocks Off, no Alberta #3. A partir das 22h. 18 anos.

O documentário "São Miguel do Gostoso", de Eugenio Puppo, tem exibição dupla hoje: no Reserva Cultural de SP, às 19h, e às 16h, no Auditório do BNDES, no Rio.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

VINICIUS TORRES FREIRE - Onde anda o juro real


Onde anda o juro real
VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/11

O BANCO CENTRAL tem difundido de modo recorrente, desde dezembro, a ideia de que considera seriamente a hipótese de recorrer a instrumentos que não a taxa básica de juros a fim de controlar o andamento da economia e, pois, da inflação.
Além do mais, diz que pode ser um desperdício de energia, dinheiro e produção econômica tentar levar a inflação de volta à meta de 4,5% muito rapidamente (a inflação medida pelo IPCA anda pela casa dos 6%, e subindo).
Tal atitude tem provocado muita ira entre os responsáveis por análises econômicas em instituições financeiras e consultorias privadas.
Mas nem tanto entre profissionais responsáveis pela operação do mercado financeiro. Menos ainda entre diretores de instituições financeiras, pelo menos não entre aqueles que não são economistas engajados ou profissionais.
Seja lá qual for o grau de irritação e ranger de dentes no "mercado", seria fato que o Banco Central vai de fato escantear tanto assim a taxa básica de juros, a Selic, como meio de bater na inflação? Lendo e ouvindo o que a direção do BC vem dizendo desde dezembro, e o fazendo com isenção, é a impressão que fica: alta de mais meio ponto percentual.
Mas essa não é a posição mesmo de alguns economistas com posições relevantes em instituições financeiras grandes e, de resto, simpáticos ao modus operandi do BC sob nova administração. Ainda assim, acham que o BC e/ou o resto do governo vão tomar, sim, mais medidas "administrativas", "heterodoxas", "macroprudenciais" a fim de controlar a oferta de crédito ou o interesse em tomar empréstimos.
As medidas baixadas em dezembro seguraram a concessão de crédito, que caiu 7,5% no trimestre encerrado em dezembro (na medida de concessões acumuladas no mês). O impacto maior ocorreu na concessão de crédito para a aquisição de bens (veículos e outros, afora imóveis), que recuou 28% no período.
Mas não foi assim com crédito pessoal (inclusive consignado), cartão de crédito e cheque especial, que fazem mais de 70% da concessão de crédito novo para pessoa física, na estatística do BC. O prazo para financiamentos imobiliários cresce bem (28% em um ano, ante uns 7% no caso de veículos).
O "juro básico" da praça, que forma o custo básico da operação dos bancos, está na mesma faz tempo. Trata-se da taxa real de juros (juros futuros de um ano menos a expectativa de inflação para daqui a 12 meses). Essa taxa, note-se, claro, não é definida pelo Banco Central, mas influenciada pela política monetária.
O juro real "de mercado" anda, como se dizia, em torno de 6,3% ou em torno disso desde novembro de 2010. Aliás, quando o Banco Central resolveu fazer a primeira rodada de aumento da Selic, em abril de 2010, o juro real estava em 6,5%. Desde então, a Selic subiu três pontos percentuais, de 8,75% para os atuais 11,75%.
Não refrescou muito, por aí. Em 2008, pouco antes da crise, o juro real "de mercado" chegava a 9%. Iria a 10% ainda em outubro. O Banco Central foi então muito criticado por se preocupar com o superaquecimento da economia quando o mundo entrava em baita recessão.
Sem que os juros reais aumentem na praça, consumidores e empresários vão continuar a consumir e a investir e não vão poupar mais.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Pede pra sair
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/04/11

Pressionado por aliados do PSDB e do DEM e receoso de entregar ao novo partido de Gilberto Kassab vitrines do governo paulista como a rede de escolas técnicas e os programas de recolocação profissional, Geraldo Alckmin quer tirar Guilherme Afif da Secretaria de Desenvolvimento. Mas, por ora, prefere esperar que o vice, rumo ao PSD, ponha o cargo à disposição.
A operação não é simples. Enquanto, no entorno do governador, alguns consideram esta a hora certa para afastar o PSD, que ameaça virar adversário em 2014, outros, mais cautelosos, lembram o papel de Afif na arrecadação de recursos para a campanha de 2010.

Não é comigo 

Afif diz acompanhar o que chama de "boatos" pelos jornais: "Minha disposição de servir política e administrativamente é a mesma. O cargo de secretário pertence ao governador". Atribuiu a problemas de agenda de Alckmin o adiamento de reunião que ocorreria hoje para detalhar o "Via Rápida do Emprego".

Dispersão 
Para evitar que Kassab preserve influência na seção paulista do DEM, a direção nacional vai impor uma "blindagem antitraição" na comissão provisória a ser anunciada amanhã. A legenda ficará a cargo de um colegiado formado por 20 membros, dando voz ativa a prefeitos, vereadores e deputados.

Dou-lhe uma 
Na última tentativa de construir candidatura consensual no PSDB paulistano, o grupo de Alckmin oferecerá aos vereadores a vice-presidência na chapa liderada pelo secretário Júlio Semeghini (GestãoPública).

Garfo e faca
Os tucanos José Serra e Sérgio Guerra, que há meses não falam a mesma língua, encontraram-se anteontem num bistrô paulistano. Trocaram cumprimento protocolar, e cada um sentou-se à sua mesa. "Foi civilizado", relata uma testemunha. No restaurante também estava Gabriel Chalita (PSB), mas pelo deputado Serra passou batido.

Perfil 1 
Escolhido para ocupar a Secretaria de Aviação Civil depois que outras opções não vingaram, Wagner Bittencourt havia sido cogitado, de início, para ser o número dois da nova pasta.

Perfil 2 
Chamado por Dilma anteontem à noite para discorrer sobre o currículo de Bittencourt, diretor do BNDES, o presidente do banco, Luciano Coutinho, destacou a expertise do indicado em tema estratégico para os planos do governo quanto a aeroportos: concessões.

É meu O PTB, que estava ameaçado de perder a Conab para o PMDB, manterá o controle sobre o órgão com Evangenaldo Moreira dos Santos, indicado pelo deputado Jovair Arantes (GO).

Em alta 

Dilma convidou Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, para acompanhá-la na viagem à China, onde ele falará a empresários sobre a economia brasileira.

Em campo 

Michel Temer escalou o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira para defendê-lo no inquérito sobre as suspeitas de corrupção no Porto de Santos. Um dos argumentos do advogado é que a Procuradoria-Geral da República não poderia voltar a apreciar o tema sem novos elementos, já que determinou o seu arquivamento em 2002.

Fellow 
A convite da Kennedy School of Government, em Harvard, Celso Amorim passará um mês, a partir do dia 18, como pesquisador-visitante do Projeto para o Futuro da Democracia. O ex-chanceler chefiará grupo de estudos sobre o Brasil.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio


"O caso do PSD não passa de uma apropriação indébita, mais próxima do Código Penal do que do Código Eleitoral."
DO DEPUTADO ESTADUAL CAMPOS MACHADO, presidente da seção paulista e secretário-geral do PTB. O partido reivindica propriedade sobre a denominação PSD, por ter incorporado essa legenda anos atrás.

Contraponto


Antes e depois

A vasta cabeleira de Luiz Sérgio (Relações Institucionais) já virou tema para brincadeiras até mesmo de Dilma Rousseff. Tanto assim que, ao chegar recentemente a uma reunião no Palácio do Planalto, o ministro apontou para o "aeroporto" do colega Guido Mantega e, demonstrando preocupação, disse:
-Presidenta, o seu ministro da Fazenda está fazendo terrorismo comigo. Veio me dizer que, quando entrou no governo, tinha mais cabelo do que eu!

ZUENIR VENTURA - Recato e carisma


Recato e carisma 
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 06/04/11

Lendo o balanço dos 100 primeiros dias de Dilma Rousseff no governo, encontram-se os motivos que a levaram a atingir o fabuloso índice de 73% de aprovação do seu desempenho pessoal. Os observadores apontam vários fatores para justificar esse sucesso popular - principalmente os de natureza objetiva, como medidas políticas e econômicas. A grande surpresa da surpreendente Dilma, porém, o fator de que ninguém suspeitava foi o carisma. Quem diria? Sim, porque o que mais tem impressionado nela, por inesperado, é o modo de proceder, mais até do que as realizações concretas, ainda que tenha algumas a seu crédito, contrariando às vezes as expectativas gerais e a si própria. Em pelo menos dois casos isso ocorreu: no corte orçamentário e na suspensão dos concursos públicos, aos quais era contra em campanha. Além disso, encarou as centrais sindicais na discussão do salário mínimo, demitiu Emir Sader antes de admiti-lo e, no plano externo, deu ênfase à defesa dos direitos humanos e aproximou-se dos EUA.
Mas foi o conjunto de gestos e atitudes o que fez a diferença entre ela e seu descobridor. Quem não conhece a natureza humana, o seu gosto pela ultrapassagem, o peso do ego nas motivações e condutas políticas, acreditava que Dilma seria um genérico de Lula, uma espécie de "laranja" através do qual ele continuaria governando à distância. No entanto, sem se voltar contra o criador, como é comum, ela resolveu imprimir sua marca própria, estabelecendo distinções. Eu resumiria a peculiaridade do estilo de cada um, o traço do temperamento de ambos em uma palavra: protagonismo. O termo - um modismo derivado de protagonista e ainda não dicionarizado - não foi introduzido no vocabulário político por Lula, mas ele utilizou-o como marca registrada de comportamento.
Não é que Dilma não queira o protagonismo - que político não quer? -, mas quer de maneira oposta à de Lula, sem exibicionismo, sem a compulsão de aparecer a todo custo. Exemplos dessa conduta discreta foram observados em momentos como a visita de Obama, em que não quis brilhar mais do que o visitante, e no último fim de semana, quando foi ao teatro em Brasília, discretamente, sem chamar a atenção da imprensa, sem atrapalhar o espetáculo, quase despercebida. Já imaginaram a mesma cena com Lula? Ele subiria ao palco.
Na sua ambiguidade, o brasileiro gosta muito de efusão, mas também admira o recolhimento. Na pesquisa do Ibope não foi perguntado de que é feito o carisma da presidenta. Eu me arriscaria a supor que a resposta seria recato e firmeza.
Ela está apenas começando, mas é um bom começo para quem vai ter de enfrentar, ao que tudo indica, um ano duro de roer.