quarta-feira, janeiro 12, 2011

ALON FEUERWERKER

Sem czar na economia
Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 12/01/2011
O ex-ministro Delfim Netto costuma ironizar quem trata Economia como ciência exata. Esse tipo de ironia não costuma dar ibope, pois a cena está tomada pelos guardiães do sumo-sacerdócio da autoridade monetária, tratada como entidade acima do bem e do mal.
O instigante é tentar compreender por quê, tendo feito tudo certo, os dirigentes da economia e das finanças trouxeram o país para a atual encalacrada. Que talvez não seja ainda sensível ao cidadão comum, anestesiado pelo real forte. Mas existe.

Segundo o presidente que acaba de deixar o cargo, nossa situação não é menos que espetacular. Na vida real há porém uns probleminhas. Apesar da maior taxa de juros real do planeta, a inflação está aí.

Eis um mistério. Todos os relatos, aqui dentro e lá fora, dizem que somos uma economia em ordem, com as contas públicas institucionalmente disciplinadas, uma autoridade monetária independente e um consenso nacional solidificado em torno do manejo da macroeconomia.

Então por que raios nossos juros estão mais adequados ao último da classe, e mesmo assim funcionam mal? Eis um mistério. A resposta comum joga a culpa no endividamento público. Mas tampouco podemos ser mal classificados nessa categoria.

O Estado brasileiro deve pouco, na comparação. E o aumento da capacidade estatal de investir exigirá mais dívida. Se é legítimo uma empresa endividar-se para alavancar a produção, por que não o governo?

Existe a dívida boa e a dívida ruim. A primeira funciona como multiplicadora de riqueza. Quem não faz dívida é obrigado a vender patrimônio ou a tirar dinheiro de alguém. Não existe almoço grátis.

O problema da dívida pública brasileira não é o estoque, mas a finalidade e o fluxo. A dívida ruim é a feita para cobrir custeio. E juros altos transformam um estoque razoável num fluxo amargo.

Os juros também estão na origem da armadilha do câmbio. O Banco Central e o Ministério da Fazenda têm operado medidas paliativas, cujo estardalhaço no anúncio só é comparável à timidez dos resultados obtidos com elas.

Mas nada disso é novo, ainda que discorrer sobre o cenário seja sempre útil. A novidade agora, pelo menos no cotejo com as duas últimas décadas, é uma presidente da República que se sobrepõe completamente ao czar da economia. Aliás, não há czar da economia no governo Dilma Rousseff.

Se o ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso era indemissível por Itamar Franco,  se Pedro Malan era imexível por FHC, se Antônio Palocci e Henrique Meirelles eram os avalistas do governo Luiz Inácio Lula da Silva diante do onipotente mercado, agora não há figura homóloga.

O que traz duas consequências. Será mais fácil para a presidente trocar auxiliares quando houver falta de desempenho, mas os eventuais problemas caem agora direto na conta da titular.

Muitos e nenhum

Os sinais exteriores são de desarranjo na articulação política do governo. Mas os sinais exteriores podem enganar, pois a política tem destas coisas: tudo parece desarrumado e na hora certa ajeita-se.

Entretanto, assim como na economia, também na política Dilma parece preferir a ausência de blindagem. Pois quem tem mais de um articulador político não tem nenhum.

O real articulador político do governo é sempre o presidente da República. Que costuma indicar um ministro para a área porque precisa de um culpado toda vez que é preciso (ou desejável) dizer "não".

Sobre as circunstâncias do cargo, aliás, ninguém ainda superou na descrição o um dia ministro de Relações Institucionais e hoje ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro: "Se a vaga de presidente da República está reservada para quem ganha a eleição, o cargo de articulador político deveria ser obrigatoriamente preenchido por quem perdeu. Como castigo."

Conto do vigário

Cresce no PMDB a sensação de ter caído num conto do vigário quando acreditou nas juras de amor eterno lançadas pelo PT antes da eleição. Ou melhor, antes da convenção.

Na prática, o peemedebismo avalia ter recebido um posto quase decorativo (a vice-presidência), perdido espaço na esplanada e reforçado, ao protestar e pressionar, a imagem de sigla de grande apetite.

Fora as ameaças palacianas de contornar os chefes peemedebistas e negociar diretamente com a soldadesca.

GOSTOSA

HELIO FERNANDES

 A guerra máxima do salário mínimo
Helio Fernandes
TRIBUNA DA IMPRENSA - 12/01/11

 Lula propôs 540 reais, mas foi logo dizendo: "Se passar disso eu veto". Estava no fim do governo, o desgaste ficou para Dona Dilma, que se mantém em silêncio. 
Milhões de brasileiros esperam, angustiados, essa luta entre os políticos. Não que represente alguma coisa positiva para suas despesas. Entre 540 e 600 reais, a realidade não chega perto da necessidade.
O salário mínimo tem história e não apenas no Brasil. Em 1780, a Revolução Industrial da Inglaterra, multiplicou a exigência de mais compradores. Os ricaços transformaram os escravos em consumidores, acabou a escravidão. A maioria aceitou, os que ficaram nas mesmas senzalas passaram a receber determinada quantia mensal, (era o mínimo) antes não ganhavam nada.
Em 1932, o Ministro do Trabalho, Lindolfo Collor, avô do presidente Fernando, (obrigado, Aquino), implantou as leis trabalhistas. Em 1940, Vargas criou o salário mínimo. Em 1952, outro Ministro do Trabalho, João Goulart, aumentou esse "mínimo" em 100 por cento, uma novidade.
O então major Golbery, conspirador, golpista e sempre à procura de oportunidade para derrubar alguém, coordenou o Manifesto dos Coronéis, (que ele mesmo redigiu e assinou), tirou Jango (a primeira vez) do governo. Jango não se importou muito.
Diga-se que Golbery aproveitou a omissão e cumplicidade do presidente Vargas, que 2 anos depois pagaria o preço mais alto pelo silêncio de antes. Os presidentes não podem ceder seus espaços, como aconteceu agora com Dilma e o general José Elito. A declaração dele foi planejada e premeditada. Se fosse demitido, ótimo. Não sendo, como não foi, excelente, ele e o grupo teriam marcado posição, com um simples pedido de desculpa. 
Só que quem tem Palocci na Casa na Casa Civil (o segundo cargo em importância do governo), não pode demitir ninguém. Além do desprezível e inqualificável Palocci, demitido e atingido pelo próprio Lula, desqualificado pelo Supremo, existem outros ministros que não valem nem o ato de demissão.
Nada disso é divagação, e sim o conteúdo do que se convencionou chamar de salário mínimo. Lula se fixou nos 540 reais, e acrescentou: "Se alterarem eu veto". Para ele, nada de sobressalto. Estava saindo, fez os cálculos, se aumentassem e ele vetasse, perderia, digamos, uns 7 por cento dos 87 que acumulara em pesquisas adulteradas mas retumbadas pelos jornalões, nenhum arranho na imagem.
Acontece que não dava tempo para nada, a discussão e o final da novela ficaram para Dona Dilma. A cada dia surge um número, ela não tem condições de fixar quanto quer para esse mínimo. E se para o seu governo o aprovado ficar muito alto, o desgaste é certo. O que fazer?
Vejamos a evolução dos números desse mínimo. 540 foi o fixado pelo ex- (desculpe, Gilberto Carvalho, Lula tem que ser tratado como é), que sabia que não seria aceito por ninguém. Mas estava seguríssimo de que não sobraria nenhum ônus para ele. 
A Câmara é normalmente lenta, acrescente-se a isso o fim do ano, um novo presidente da República, e o fato dos parlamentares tendo saído de uma eleição, outra só dentro de 4 anos.
Aconteceu como Lula encaminhou. Dona Dilma deveria ter dado prioridade à questão, junto com a eleição para presidente dessa mesma Câmara. Como se omitiu, o mínimo de 540 sumiu, surgiu o de 560. Era uma ascensão natural, mas não uma parada obrigatória.
O de 560 durou pouco, como a divergência e a hostilidade entre ministros é muito grande, surgiu a ideia de 570. Que irritou Carlos Lupi, o poderoso Ministro do Trabalho, perdulário de votos que não tem, e se fixando no número. Isso provocou o aparecimento do Ministro Mantega. Abandonou um pouco as estripulias sobre a alta ou baixa do dólar e entrou de cabeça na discussão do mínimo.
Mantega foi categórico, embora não muito explicito: "Se o mínimo passar de 540, o governo veta". O governo? Por que não identificou, usando o nome da presidente Dilma? Não falava como porta-voz? Se pensava que falava mas sem autorização, vai "sofrer" um pito tipo general Elito? Esperemos pelo que acontecerá.
Só que arredondaram de vez a discussão, foram diretos para os 600 reais. De quem a proposta? Lógico, do PSDB. O mesmo que se "comprometera a REDUZIR os gastos públicos". E afirmou pela televisão, "não faremos oposição por oposição", queremos o melhor para o país.
Perguntinha ingênua, inútil, inócua: quem fez essas afirmações tem voz e representação para garantir alguma coisa? E por que não deixam de lado a fixação do texto do salário mínimo (de 540 a 580 e até 600, diferença mínima para milhões de trabalhadores) e não decidem o que realmente interessa?
O que não pode continuar é esse crime, ilegalidade e irresponsabilidade, do servidor inativo continuar sendo descontado para Previdência, assim como o aposentado do INSS que quiser seguir trabalhando (até mesmo como autônomo). Ora, quando estão na ativa, o funcionário e o trabalhador descontam para a aposentadoria.
Quando vai para casa com a remuneração muito mais baixa do que a que recebia trabalhando (fato inédito no mundo inteiro), continua descontando e descontado. Para quê? Ele pode se aposentar uma segunda vez? Como a aposentadoria na média é de 55 anos, essa nova viria com 110 anos? 
PS " Por que os líderes sindicais não fazem uma greve nacional a favor de dezenas de milhões de trabalhadores?E Dona Dilma, por que não acaba com esse desconto, perdão, roubo?
PS2 " Com isso marcaria uma posição, precisa ter medo de ser derrubada por nenhum Golbery de Carvalho. A força de um presidente não vem da omissão e sim da participação a favor da maioria. O fim desse desconto, melhor e mais proveitoso do que 20 ou 40 reais a mais no salário mínimo.
PS3 " Desde os tempos da Tribuna impressa, luto pelo fim desse desconto imoral. E também sempre provei que a Previdência é superavitária, mantida por patrões e empregados. Todo o dinheiro é desviado.
PS4 " Todos os ministros honestos que passaram pelo cargo, garantiram o fato. Excetuados, naturalmente, Jader Barbalho, Romero Jucá e algum outro.
PS5 " Jucá é totalmente "ficha-limpa", não precisa renunciar. Líder no Senado de FHC, de Lula, e agora de Dona Dilma. Quanto a Jader, quem como Barbalho fere, com Barbalho será imunizado.

José Sarney: "A política tem porta de ENTRADA, mas não de SAÍDA. É o que ele diz, depois de mais de 40 anos em que assumiu no Maranhão para acabar com a dinastia Vitorino. E implantar a sua.Deu entrevista à Organização Globo. Jornalisticamente, a idéia é ótima. Mostrar como vivem os quatro últimos presidentes. Mas não esclareceram nada, deixaram de mostrar as incongruências, que palavra, dos quatro. Não depois que deixaram a Presidência. Mas como chegaram a essa Presidência. 
Dois erros gravíssimos: Conquistaram (?) a Presidência pelo voto, pela preferência popular, pela aclamação do povo, pela escolha popular? E segundo: tentaram esclarecer como vivem fora do poder, digamos de forma sentimental, se o isolamento influencia no dia a dia. Mas e os recursos financeiros, em alguns casos, vieram de onde? 
E como os quatro foram escolhidos (e muito bem escolhidos) por serem os que vieram depois da ditadura, a pergunta que não fizeram: qual foi o seu comportamento nos 21 anos da ditadura?
Como o primeiro foi José Sarney, vamos ver o que não precisou responder porque não perguntaram. Servilmente subordinado à ditadura, começou a carreira política, eleitoral e financeira, com o patrocínio dos generais.
Em 1965, quando os golpistas (auto-intitulados de revolucionários) cuidavam de tudo, destruindo os que resistiam e promovendo os que se submetiam, Sarney foi feito governador do Maranhão. A eleição ainda era chamada de direta, mas o Poder dos generais era incontrastável e incontrolável.
Como em três estados o mandato dos governadores era de 5 anos, ficou até 1970, se desincompatibilizou, foi eleito senador. Não parou mais até agora, quando está completando 80 anos. Subiu toda a escala política, mas sempre se preocupando com a geografia de suas contas bancárias.
Segundo suplente de deputado em 1954. Pobríssimo, assumiu em 1956 já sem muitos problemas, Logo, logo sócio de Abreu Sodré, que recompensou com o cargo de "governador" de São Paulo, virou mais do que rico, e sim riquíssimo. 
Pouco depois da mudança da capital, ainda no limiar (lá e aqui), tinha quatro mansões. Rio, Brasília, São Paulo, Maranhão. No seu estado, então, era um exagero de luxo e prazer. Tinha mansões, ilhas e fortunas. E a exuberância do Poder.
Quando a ditadura se encaminhava para o fim, Sarney, que tinha notável intuição, dominava o PDS (o partido do Poder, além da Arena), ficou atento ao futuro e à sucessão, que sabia que seria indireta.
Tinha a certeza de que não poderia ser candidato a presidente e sim a vice, "continuaria no jogo". Tentou ser vice de Maluf, pediu a um amigo, grande jornalista, que fosse conversar com o paulista. Maluf reagiu violentamente: "De maneira alguma, não quero perder". O jornalista (infelizmente já morreu) veio com a negativa.
Como o candidato da oposição era Tancredo, certo, fundou o PFL (Partido da Frente Liberal), conseguiu a vice com Tancredo. A história, a partir daí, conhecidíssima. Sua carreira sempre ascendente. Mas sua fortuna cresceu muito, mas muito mais do que a carreira política.
Está com 5 (cinco) mandatos no Senado, o último termina em 2014, com a Copa do Mundo, "presidida" pela patrão do filho, Ricardo Teixeira. No meio da campanha de Dilma, admitiu, não tão abertamente, ser vice-presidente. Nem cogitaram , não por causa da idade dele, mas por lembrarem da referência: Tancredo foi para o hospital e não saiu. Motivo: Sarney era o vice.
Não podendo mais ser candidato pelo Maranhão, foi para o Amapá. Comprou ações do estado, dos majoritários Eliezer e Eike Batista, que haviam DOADO todo o manganês de lá, a preços inacreditáveis. Não cumpre a Lei do Domicílio Eleitoral. Quem esperava que fosse MORAR 8 ANOS naquela "lonjura"?
Faz até frase, que a política não tem porta de saída. Para ele e para muitos outros, não tem mesmo. Aí a culpa é da legislação e não dele. Nos EUA a vida pública se resume a 8 anos. Depois disso, mais nada. Sarney já faz política, perdão, politicalha, há 56 anos.
PS " Quando Tancredo foi eleito, dei um jantar para ele. E quem era quem, estava lá. Não pude deixar de convidar o vice-presidente, da mesma forma que Leonel Brizola, governador, tinha que estar presente.
PS2 " Está completando 25 anos. Ninguém falava com Sarney. Em determinado momento, Brizola me disse, praticamente perguntando: "O que esse Sarney faz aqui?" Esse era o Brizola, estava furioso.
PS3 " Assim que chegou, Tancredo me disse; "Helio, primeiro quero conversar um pouco, sem compromisso, depois me arranja um lugar para a política".
PS4 " Quando levei o primeiro, (era o governador do Ceará, Gonzaga da Motta, estava com avião fretado), Tancredo disse que ele tinha urgência.
PS5 " Aproveitei e disse ao presidente: "O governador Brizola está uma fera, que falar com o senhor". E Tancredo: "Eu te falo".
PS6 " Na entrevista, Sarney risonho e feliz, como disse o humorista, "nenhuma ruga na face da madame". Ninguém fez carreira mais rica do que a sua. E ainda não acabou. Em raros momentos passageiros, é atingido pela depressão dos 80 anos. Mas lembra de 2014, pelo menos m
ais um mandato de senador, a felicidade não se compra, como no filme famoso.

HÉLIO SCHWARTSMAN

A segunda morte do latim
HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/01/11

SÃO PAULO - Não bastasse os cientistas terem perpetrado o paradoxo de extinguir um animal extinto -em atenção às regras de batismo da paleontologia, o simpático brontossauro cedeu lugar ao mais rude apatossauro-, agora o novo delegado-geral de São Paulo, Marcos Carneiro, comete o desatino de matar uma língua morta ao proibir o latim nos boletins de ocorrência. "O tempora, o mores", diria Cícero.
Pode parecer piada, mas a morte de línguas é um problema real. Ninguém sabe ao certo quantos idiomas existem hoje no mundo. As estimativas vão de 4.000 a 10.000, mas 6.500 parece um bom palpite.
Tanta variação é possível porque as fronteiras entre língua, dialeto e falares regionais são tudo menos claras. A discussão tem muito de política. "Uma língua é um dialeto com um Exército e uma Marinha", como assevera o aforismo ídiche.
De todo modo, idiomas podem ser divididos em três grupos em relação a suas perspectivas de sobrevivência. São chamados de "moribundos" quando já não são aprendidos pelas crianças. De 20% a 50% estão nessa situação. Diz-se que estão "ameaçados" quando se encontram em vias de deixar de ser aprendidos por jovens. E são considerados "seguros" quando não se enquadram em nenhuma das categorias anteriores. Só 10% das línguas são robustas o bastante para se encaixar na última definição; 90% do total não chegarão ao ano 2100.
Além de delegados, o que mata um idioma é a urbanização e a lógica da utilidade. Se é mais ou menos fácil que populações isoladas permaneçam falando uma língua, a questão se complica nas cidades. No início, os filhos consideram o idioma dos pais, falado só pela família, inútil e o aprendem a contragosto. Os netos, contudo, já nem tentarão e, no espaço de duas ou três gerações, a língua perece.
Com ela, vão-se para sempre informações preciosas sobre o modo de vida e a visão de mundo de um povo. Fecha-se uma janela para a natureza humana, o que é triste.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

RUY CASTRO

Presença nas tragédias
RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/01/11

RIO DE JANEIRO - Uma coisa que o ex-presidente Lula detestava era ser associado a qualquer coisa desagradável. Temia que sua presença numa catástrofe, natural ou não, fosse interpretada como ele sendo o responsável por ela, e que isso lhe custasse um ou dois pontos nos seus quase 90% de aprovação popular. Devia saber o que fazia -porque passou ao largo das tragédias e saiu invicto do governo.
Foi pena, porque, com isso, deixou de prestar solidariedade a seus eleitores vitimados no acidente da TAM, nos vazamentos da Petrobras, nas enchentes de Santa Catarina, Goiás, Rio e muitas outras. Se a omissão não lhe afetou a popularidade, sua presença no teatro dos acontecimentos talvez até lhe rendesse dividendos políticos.
Por muito menos -por ter levado alguns dias para visitar New Orleans, em 2005, quando a passagem do furacão Katrina provocou a inundação que arrasou a cidade-, o então presidente George W. Bush quase foi crucificado. Pois Lula nunca cogitou molhar os pés em situação parecida.
A primeira vez que vi um governante arregaçar as mangas e comparecer em pessoa a uma crise foi em 1961, quando Carlos Lacerda, governador da Guanabara, foi negociar no centro do pátio com os presos amotinados na penitenciária Lemos de Brito, no Rio. Entre os detentos ao seu redor estava Gregorio Fortunato, ex-chefe da guarda pessoal de Getulio Vargas e que mandara matar Lacerda em 1954, no episódio da rua Tonelero. Como toda a minha geração, eu não gostava de Lacerda, mas tive de admirar sua presença ali -era o que um homem faria.
A presidente Dilma já deu a entender que, em algumas coisas, seu estilo de governo será diferente do de seu mentor. Espera-se, portanto, que, até por ser mulher, ela compareça às catástrofes. Para sentir mais de perto o quanto as vítimas delas precisam de ajuda.

JOSÉ SIMÃO

Amy! Na Boquinha da Garrafa!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/01/11

Sabesp informa: marginal Tietê apresenta fluxo tranquilo. Para quem vai de bote. Rarará


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
AQUASSAB URGENTE! Recados no Twitter. Sabesp informa: marginal Tietê apresenta fluxo tranquilo. Pra quem vai de bote. Kassab, eu pago os R$ 3 de ônibus. Mas tem que ser anfíbio! Kassab, recolhe o lixo. Pessoalmente. Rarará! E lançar o programa Boia São Paulo! Rarará!
E a Amy? O Eramos6 revela que a Amy vai gravar um hit brasileiro: "Na Boquinha da Garrafa"! Rarará. Ué, ela não confunde garrafa com microfone? E a Amy já está botando as manguinhas de fora. Ops, os peitos de fora. Apareceu na varanda do hotel com os peitos de fora. Com dois airbags. Agora ela já pode cair pra frente. Airbag de silicone!
Se o peito da Amy estourar, vai ter luta de gel em Santa Teresa! Rarará! Uma coqueteleira com dois airbags. Diz que os peitos são bonitos porque são zero bala! E diz que o Lula ofereceu duas caixas de 51 pra ela fazer show em São Bernardo. Esse derruba a Amy!
E o jeito Dilma de governar? Essa semana só se falou nisso. A Dilma prova que é mulher que sabe dirigir. Só falta bater o Brasil no poste! E o periquitério? Com nove ministras mulheres, a Dilma contratou um ginecologista. Pra evitar a TPM coletiva. Primeiras providências do ginecologista: receitou calmantes e mandou retirar canetas e objetos cortantes das reuniões ministeriais. Canetas, objetos cortantes, grampeadores, furadeiras e britadeiras. Rarará!
E a charge do Samuca. Quando aparece um membro do PT, a Dilma grita: "Eu pedi pra ontem!". E quando aparece alguém do PMDB, ela grita: "Passe amanhã!". Rarará. PMDB quer dizer Pegamos Ministérios de Baciada. Eles exigem Ministério da Saúde e da Doença, do Trabalho e das Férias, o pipoqueiro da praça dos Três Poderes e indicação de três filhos pro "BBB11"! Rarará! É mole? É mole mas sobe!
O Brasileiro é Cordial! A Penúltima do Gervásio! Ontem foi aniversário do Gervásio e olha o cartaz que ele botou na empresa em São Bernardo: "Se alguém vier com aqueles apitos e malditas línguas de sogra, vou fazer o palhaço engolir 1 kg de pimenta até apitar com a hemorróida em brasa. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
Esse Gervásio devia ser escalado pra fiscalizar quem faz sujeira na praia e xixi na rua durante o Carnaval. Rarará. Nóis sofre mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Cota de pessoas com deficiência não é atingida em todos os bancos
MARIA CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/01/11

Com programas especiais e investimento na capacitação, os bancos têm se destacado na contratação de pessoas com deficiência, mas nem todos atingem o número determinado pela Lei das Cotas, aprovada em 1991.
Desde então, a legislação determina que ao menos 5% dos funcionários de empresas com mais de mil empregados sejam "portadores de necessidades especiais".
HSBC e Santander já atingiram esse índice.
No caso do HSBC, os funcionários com deficiência realizam um programa de inclusão de nove meses, de acordo com a diretora-executiva Vera Saicali.
O Santander, que chegou à cota no final do ano passado, "intensificou o trabalho com esse público em 2005", conta a superintendente-executiva, Maria Cristina Carvalho.
O Itaú Unibanco tem mil vagas abertas para pessoas com deficiência. "Temos uma equipe exclusiva de 15 pessoas para a capacitação desses funcionários", segundo o diretor Adriano Lima.
O Bradesco, por sua vez, também afirma aperfeiçoar a área. "Estamos adotando várias iniciativas para inserção de outras pessoas com deficiência", segundo o diretor José Luiz Bueno.
O Banco do Brasil tem apenas 0,8% do quadro preenchido por funcionários com deficiência auditiva, física, mental ou visual. O BB afirma contratar todos os candidatos dessa categoria que acertam 50% das perguntas da prova de seleção.
"Os bancos são exemplos para as outras empresas. É o setor que mais contrata deficientes" diz Mônica Costa Almeida, da Plura Consultoria.
Por oferecer melhores cargos que os demais segmentos, o setor bancário é o mais procurado, segundo Andrea Schwarz, presidente da consultoria i.social Soluções.
"Há muitas empresas de outros setores que preferem pagar multa por não cumprir a cota a investir em capacitação", diz. "Tem companhia aérea que contrata funcionário para deixar em casa."

Alívio... Lançada em junho de 2010, a Jucesp On-line registrou, até dezembro, mais de 6 milhões de acessos. Houve queda de 50% do movimento na Junta Comercial do Estado de São Paulo.

...na Junta A Jucesp On-line permite a realização via internet da maioria dos serviços que antes só eram feitos presencialmente na Junta Comercial, órgão responsável pelo cadastro, registro e atualização de empresas comerciais.

Rastro A Tracker do Brasil, empresa de rastreamento de veículos, registrou, no último trimestre de 2010, alta de 41% no índice de roubo e furto de automóveis, ante o período de 2009. Eventos com utilitários e veículos pesados caíram 95% e 26%, respectivamente.

OTIMISMO BRASILEIRO
O povo brasileiro é um dos cinco mais otimistas em relação à economia mundial em 2011, de acordo com pesquisa Gallup Internacional.
Apenas 9% dos 2.002 entrevistados do país disseram que esperam um ano de dificuldades econômicas.
O número, semelhante ao da população vietnamita, só é superior ao da Nigéria, 2%.
Questionados sobre o que esperam para 2011, 56% dos brasileiros responderam "prosperidade econômica".
O país com entrevistados mais pessimistas é a França, onde 61% afirmaram que o ano será de recessão.
Nos Estados Unidos, 45% disseram que 2011 será melhor que 2010, enquanto 22% responderam o contrário.
A pesquisa foi realizada entre outubro e dezembro passados, em 53 países de quatro continentes.

EMPREGO DE PAPAI NOEL
Foram geradas 140 mil vagas temporárias em todo o país antes do Natal de 2010, segundo levantamento da Asserttem (Associação Brasileira das Empresas de Serviços Terceirizáveis e de Trabalho Temporário).
Cerca de 30% dos postos de trabalho foram preenchidos por jovens em primeiro emprego.
Após as festas, 39 mil trabalhadores tiveram seus contratos temporários transformados em efetivos.
O comércio, que foi responsável pela abertura de aproximadamente 98 mil vagas, concentrou a maior parte das contratações.
Os maiores empregadores no período foram as lojas de rua, os shoppings e os supermercados.
A indústria foi responsável por 30% das contratações.
Os segmentos de alimentos, bebidas, bens de consumo, vestuário, brinquedos, eletrônicos e papel foram os que mais contrataram.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Novo rumor
SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/1/11

Corre pelo mercado financeiro que Luciano Coutinho estaria saindo do BNDES para assumir a Petrobras.

Cabo de guerra

Um mês depois de reaberta, a sede da Igreja Mundial do Poder de Deus, no Brás, continua a incomodar a vizinhança. Alega-se que o templo desrespeita ordens judiciais, que preveem, por exemplo, reforma do prédio e combate à atuação de camelôs.

Luis Carlos Franco, morador da região, encaminhou novas queixas ao Ministério Público. Ele diz que, de seu apartamento, vê "vidros quebrados, furos no telhado ou remendos com madeira e reboco caindo de paredes". E, segundo ele, funcionários orientam vendedores ambulantes sobre nova entrada do prédio em vez de reprimi-los.

Cabo 2

O MP, que conseguiu o fechamento do templo por cinco meses, entrou com pedido para cassar liminar que o mantém aberto. "As instalações são tão provisórias que são usados banheiros químicos ", diz a promotora Mabel Tucunduva.

Cabo 3

A assessoria da igreja diz: "Decisão judicial se acata e se cumpre. Se está determinado, está sendo cumprido".

Turbulência

A visita do senador norte-americano John McCain à Dilma para fazer lobby pró-caça F-18E/F confirmou a maior restrição ao jato da Boeing. Dificilmente haverá transferência de tecnologia, tópico inegociável pelo Governo para renovar frota de combate da FAB.

McCain afirmou ter "intenção de fazer com que o Congresso e Obama ofereçam garantias de que haja completa transferência de tecnologia, caso o Brasil opte pelo F-18". Ou seja, os pontos não estão totalmente definidos nos EUA. E, se a aeronave for escolhida, haverá ainda muita negociação.

Holofote

Salvador Dalí e Louise Bourgeois serão duas das principais exposições programadas para este semestre em SP. As duas no Instituto Tomie Ohtake entre abril e junho.[17 E 18/12]

Água na boca

Um Amigo Romano, do italiano Luca Spaghetti, sai em maio pela editora Rocco. Personagem de Comer, Rezar, Amar, best-seller de Elizabeth Gilbert, o escritor narra detalhes de sua célebre amizade.


Insuficiente

Enquanto as chuvas deixam a Lapa debaixo d"água, a subprefeitura da região enumera medidas que elencou para conter enchentes: 645 funcionários para limpeza quinzenal de bueiros, poços de visita, galerias pluviais e córregos da região. E também comanda a Operação Cata Bagulho para "evitar o descarte irregular de entulho nas ruas".

Palavras

De Marina Silva sobre as chuvas que assustaram São Paulo anteontem: "Os eventos são naturais, mas a exposição de pessoas, principalmente a população mais pobre, é fruto da omissão do Estado".

Em processo

Chico Buarque já tem meia dúzia de músicas prontas para o próximo disco que deve lançar até julho. Nomes ou temáticas das canções são mistério até para alguns amigos. Se alguém chega em sua casa, ele chega a esconder rabiscos e fecha computador.

No palco

O documentário Estamira, de Marcos Prado, será adaptado para o teatro. Em fase de captação de recursos, a história da doente mental que vive no lixão será montada e interpretada por Dani Barros.

Transformação

A Hermès adere à reciclagem reutilizando parte do material descartado pelos designers da grife. Para tanto, criou-se a Petit H.


Na frente

Luiz Villaça já tem novo longa no forno. Será a adaptação de Primavera, romance de Mario Benedetti. Coprodução Bossa Nova, Nia Filmes e Salado Media.

Ale Youssef bateu o martelo. Abrirá a filial do Studio SP no Rio. E já manifestou sua vontade de que seja no centro da cidade.

Alexandre Ottoni e Deive Pazos, criadores do blog Jovem Nerd, participam da Campus Party. De 17 a 23, no Centro de Exposições Imigrantes.

Mônica Salmaso e Banda Mantiqueira se apresentam no aniversário da cidade, dia 25, no Memorial da América Latina. De graça.

Helena Montanarini pilota o curso Como Encontrar Seu Estilo na Escola São Paulo. A partir do dia 31.

Renato Prieto estreia a peça A Morte é Uma Piada. Sexta, no Frei Caneca.

Flávio Moura será responsável pela produção dos eventos de dez anos da Flip.

O show de Amy Winehouse terá camarote super VIP na Arena Anhembi. A produtora We Clap organiza festa open bar para 1.500 convidados.

Interinos: Débora Bergamasco, João Luiz Vieira, Marilia Neustein e Paula Bonelli.


Na cela com Battisti


Eduardo Suplicy visitou Cesare Battisti anteontem na Penitenciária da Papuda, em Brasília. O senador levou cartas de amigos ao ex-ativista, condenado à prisão perpétua na Itália por terrorismo.

Como Battisti recebeu a decisão de Lula mantê-lo no País?Ficou muito aliviado. E está com expectativas enormes de ter uma vida normal no Brasil. Quer se dedicar à escrita.

O que ele achou da vitória de Dilma?

Espera que a presidente confirme a decisão de Lula. Também comentou que assistiu ao programa Roda Viva com José Eduardo Cardozo, em que o ministro se manifestou favorável à decisão de Lula. Mencionou especificamente a parte em que Cardozo disse que a decisão de extraditar é do chefe do Executivo.

O sr. levou o Renda Mínima?

Há bastante tempo eu dei a ele o meu Renda Básica de Cidadania e a cartilha do Ziraldo.

Como ele está sendo tratado?Com muito respeito. Foi atendido por uma dentista, e quando teve hepatite recebeu todos os cuidados. Aproveita o tempo para ler e escrever muito. Só não sei se é nova obra.

Battisti reclamou de algo?

Está triste porque o Supremo ainda não autorizou a sua liberdade. E espera que a decisão não demore.

O que ele tem a dizer sobre acusações de que executou cidadãos comuns?

Reconhece que em 1976 foi membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo. Mas afirma que nunca matou. A sua condenação é baseada em depoimentos de ex-companheiros beneficiados pela delação premiada. Ele me disse: "Nunca um juiz na Itália me perguntou se matei alguém"./PAULA BONELLI

JAPA GOSTOSA

CELSO MING

Medo de mergulhar
Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 12/01/2011



Durante muito tempo, os economistas do PT imaginaram que a simples criação de um mercado interno de massa resolveria quase todos os problemas do crescimento econômico e do emprego.
Pois agora temos uma razoável economia de massa e, no entanto, as soluções não vieram tão mecânica e espontaneamente. O investimento é um desses problemas.
Uma das apostas era a de que o baixo nível do investimento no País, equivalente a cerca de 18% do PIB, seria rapidamente corrigido quando o consumo entrasse em velocidade cruzeiro. "É aumentar o consumo que o investimento vai atrás", diziam. Quem acreditava em que as coisas funcionam assim deve estar abalado em suas convicções.
O investimento é baixo no Brasil por um grande número de razões. Porque a poupança é insuficiente; os juros são altos demais; a infraestrutura ainda não tomou jeito; a carga tributária ficou insuportável; o câmbio não ajuda; persiste grande instabilidade por falta de firmeza nas regras do jogo; as agências reguladoras foram desvirtuadas; o PT no poder vê com desconfiança as iniciativas destinadas a aumentar o índice de privatização da economia; as reformas estruturais estão emperradas; e, também, porque não foi superada a vacilação permanente a respeito da função do capital estrangeiro no Brasil.
No momento, o governo Dilma lida com duas contradições básicas ligadas ao investimento. A primeira delas está relacionada ao tratamento a dar ao capital estrangeiro. O Brasil precisa atrair recursos destinados a complementar o capital nacional nos investimentos de centenas de bilhões de dólares no pré-sal, nas obras do PAC, nos projetos destinados à Copa do Mundo e à Olimpíada; na ampliação e na construção de portos, aeroportos e estradas e por aí vai. No entanto, teme-se que a entrada maciça de capitais concorrerá para a excessiva valorização do real, cujo principal efeito é tirar competitividade do setor produtivo brasileiro.
Ao coibir a entrada de capitais especulativos, por exemplo, o governo também tira previsibilidade dos capitais de longo prazo, na medida em que deixará o investidor estrangeiro exposto ao risco de rápida desvalorização do real cuja principal consequência é tirar competitividade ao setor produtivo.
Há algumas semanas, por exemplo, o governo federal criou incentivos tributários às aplicações estrangeiras de longo prazo. Mas, a todo o momento, também sugere que qualquer entrada de capitais tem o lado ruim de trabalhar no sentido de valorizar a moeda brasileira.
Incompreensível é o ranço antiprivatizante. Qualquer convocação do setor privado para participação de atividades hoje atribuídas ao Estado é vista como reles privataria. E, no entanto, é impossível continuar a ordenha do Tesouro na proporção a que foi submetido nos últimos quatro anos. O governo acaba de desistir de criar uma estatal de seguros. Agora, para escândalo dos mais conservadores do PT, além de estudar a privatização de aeroportos, anuncia estudos destinados a abrir o capital da Infraero. Para isso, é claro, terá de manter azeitado o mercado de ações e mantê-lo atraente ao capital estrangeiro, mas isso pode trazer dólares demais...
O governo Dilma não pode mais vacilar. Terá de perder definitivamente o medo de mergulhar nas águas do desenvolvimento e isso exige a quebra dos padrões que mantiveram as esquerdas atreladas a valores do passado.

CONFIRA
Reservas internacionais brasileiras
Aí está a evolução das reservas externas nos últimos sete anos.
Correção
O geólogo e professor da Unicamp Alfonso Schrank flagrou um erro no texto publicado dia 4. Ao contrário do que saiu, terras raras não são minerais. Minerais são combinações de elementos. Terras raras são elementos. Exemplos: gadolínio e térbio são terras raras. A monazita é um fosfato de tório e terras raras leves. Para formar esse mineral, é preciso combinar oxigênio, fósforo, tório e terras raras em proporções rigorosamente equilibradas.

ROBERTO DaMATTA

Nas altas esferas 
ROBERTO DaMATTA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/01/11

Todo escritor é médium. Fala sempre com os mortos e está em contato permanente com as altas (e baixas) esferas quando orienta o seu pensamento para o lado espesso do mundo. É quando exerce mais claramente sua função mediadora ou, como dizia Thomas Mann, lunar. Esse espaço situado entre a Terra e o Sol, alcançável apenas pelo pensamento e pelo destemor de pôr em contato real e ideal, verdade e beleza. Pensar e escrever são como Esaú e Jacó. Gêmeos, eles se fazem em antagonismos e complementaridades que, quase sempre, deixam o coração aos saltos e as mãos tremulas.
As altas esferas revelam seus detalhes - just one of those things - brasileiros. O ministro da Justiça, que eu não quero confundir com o Nelson Jobim, diz que é "ridículo" noticiar as férias do ex-presidente Lula e família, num forte do Exército; já o superministro do Exterior, Marco Aurélio Garcia, classifica arrogante e agressivamente, como "insignificante" revelar que os filhos de Lula têm passaporte diplomático, o tal passaporte vermelho que dá direito a "trazer tudo" - sonho de quem visita os chamados "países adiantados", hoje caricaturas de si próprios. Um outro comentarista diz que esse fato mostra a "vaidade" do ex-mandatário supremo da nação que, pelo visto, continua mandando prá cacete.
Meu filho desencarnado, ex-comandante da Varig, morto subitamente aos 42 anos, cuja viúva e filhos tiveram a sua pensão sequestrada pelo governo Lula, desce das altas esferas. [Não estou escrevendo à meia-noite, mas numa bela manhã de sábado, o sol entrando alegremente pelas janelas. O espírito do meu saudoso filho manifesta-se por meio do meu pensamento e surge cristalino na nevoa minha amargura.] "Papai, o Brasil não consegue ler a si mesmo, nem com a ajuda dos mortos".
O espírito acentua que os "detalhes" dos ritos do poder - revelados com a astúcia e o humor de sempre pelo Luiz Fernando Veríssimo, lido por meio do seu i-pad astral (no "Nosso Lar", revela, além da arquitetura do Oscar e da burocracia do Estado Novo, todos usam produtos da Maçã...) - teriam que incluir a coroa, pois o que se viu não foi a posse de uma presidente, mas o coroamento de um rainha, ungida sucessivamente pelos santos óleos do Judiciário, do Legislativo (com direito a discurso de boas-vindas do grande Sarney) e, finalmente, do ex-presidente Lula que continua, como se sabe, a ser majestade, conforme confirmam os seus fieis seguidores, dispostos a morrer pelo chefe.
"Papai - reitera - não deixe de ler o Wiki- Leaks sobre a Varig. Mas, antes disso, eu quero dizer o quanto você está certo em ser o primeiro a falar da matriz hierárquica brasileira. Pelo menos é o que ouço do prof. Sergio Buarque de Hollanda, preocupado com a filha no Ministério da Cultura ("tem muita cultura no país", ele me diz, piscando um olho) e de Gilberto Freyre, hoje engajado na leitura de Weber e mortificado por não o ter usado em suas reflexões sobre o Brasil. É essa matriz aristocrática que produz mal-estar e alergia diante da igualdade. Vamos bem quando somos diferenciados, reagimos mal e pulamos a cerca quando voltamos ao mundo dos comuns. Esse mundo que, no Brasil, tem o estigma da inferioridade social. Como você diz, separar o papel da pessoa é um dado básico das democracias liberais. 
De fato, neste Astral igualitário e tendente à anarquia em que vivo, o que conta, além da ética e do olhar de São Pedro, é um formidável sentido de suficiência e de limite: do que podemos ou não fazer, receber ou pleitear. Quando terminam o papel e a lei, entra a ética! Aqui, Papai, você estaria em casa! Um beijo e a saudade eterna do filho que te ama muito..." [Eu me peguei olhando para o sol]. 
Em estado de choque espiritual, aquela circunstância que acomete quem fala com as altas esferas, procurei a informação sobre a Varig. Com que clareza o político-eleitoreiro aprofundou o câncer da empresa. Com que desfaçatez os protagonistas das altas esferas prolongaram a agonia da Varig, levando-a sucessivamente às unidades de tratamento intensivo, para depois martelar os pregos no seu caixão. E com que avidez suas duas concorrentes entraram - não sem ajuda palaciana e pessoal (que bota de lado os escrúpulos) - no seu mercado e em seu nome tomaram o seu espaço. "Por que um governo liderado por um presidente do Partido dos Trabalhadores deveria subsidiar uma empresa mal administrada que atende à elite (o pobre não tem dinheiro para voar)?", diz uma autoridade do governo Lula ao americano tranquilo cujo despacho vazou no WikiLeaks. Isso em meio ao mensalão que desmascarou o partido que não roubava nem deixava roubar, segundo o mantra de um José Genoino prestes a voltar às altas esferas. 
Dizem que tudo que acontece é porque tem que acontecer. Não poderia ser de outro modo, mas eu, biblicamente, vos digo: não aceitem isso sem reação! Revoltem-se! Ser humano é ser contraditório: é remar contra a corrente. É ir para o lado oposto dos tempos e dos costumes. É não aceitar o destino. O fuzilado grita "viva a vida" ao receber no peito a primeira bala; e o moribundo pensa nos estertores do amor quando seu anjo da guarda, envergonhado, vem buscá-lo. Eu não aceito a morte do meu filho e outras coisas que me aconteceram. Estou cheio de fel? Ledo engano: minha resistência me trouxe energia e compreensão. O não aceitar me fez redescobrir o amor e o detalhe que o Veríssimo não percebeu: a coroa de rainha do Brasil que vocês colocaram na cabeça de dona Dilma! Saravá! E possa eu saber mais e melhor o significado do suficiente! 
ROBERTO DaMATTA é antropólogo.

MONUMENTO

MERVAL PEREIRA

Papel secundário 
Merval Pereira
O GLOBO 12/01/11

A trégua entre PT e PMDB obtida ontem com a intervenção do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, não quer dizer que tenham sido superados os problemas de convivência entre os dois principais partidos da base aliada governista, e nem que tenha se chegado a um acordo político que contente o PMDB.

Ao contrário, ao negar a presença mais for te do PMDB no chamado “núcleo duro” do governo Dilma, sob a alegação de que os demais partidos da aliança também reivindicariam um lugar nesse grupo decisório do Planalto, ficou delimitada a influência que o governo admite para o PMDB, isto é, igual a todos os demais aliados, sem levar em conta o tamanho e o poder de fogo das bancadas do PMDB na Câmara e no Senado.

Havia a certeza no PMDB de que chegaria um momento em que o partido teria que decidir que atitude tomar: ou usaria sua força para arrancar nacos de poder ou se vincularia a uma agenda de poder.

Ao retirá-lo do seu núcleo estratégico de decisão, o governo jogou o PMDB para a fisiologia pura e simples, não lhe dando alternativa que não seja a de demonstrar sua força política no plenário do Congresso.

Mesmo nesse terreno, no entanto, o PMDB vem perdendo de goleada para o PT, que ampliou seu espaço no Ministério em cima dele e ainda ressaltou essa face do maior aliado, justificando seu apetite com a defesa de administrações eficientes e honestas em cargos anteriormente ocupados por indicações de peemedebistas, como nos Correios.

Mesmo que o resultado “oficial” da reunião tenha sido uma aparente trégua na disputa por cargos, e a reafirmação do apoio ao deputado petista Marcos Maia na presidência da Câmara, as conseqüências desse alijamento do PMDB do centro de decisão governamental surgirão naturalmente no decorrer das votações, não sendo razoável que o maior partido do país se considere atendido em suas expectativas de poder no estágio em que as coisas estão.

Outra questão chave é saber qual será a função do Michel Temer neste governo.

Ainda na campanha eleitoral ele teve que dar umas cotoveladas para ser incluído no grupo que decidia, formado apenas por petistas ilustres, praticamente os mesmos, por sinal, que estão hoje nesse “núcleo duro” que define os rumos políticos do governo.

Temer foi recebido com todas as honras, mas apenas depois que reclamou de sua exclusão, e foi-lhe dada a função de coordenador do grupo, com os demais membros subordinados a ele.

Uma maneira de apaziguar os ânimos do PMDB, mas claramente um arranjo fictício, pois o vice-presidente não tem poder de comando político.

A não ser que use as armas que possui, como o poder de negociação parlamentar, para se contrapor eventualmente a uma decisão do “núcleo duro” petista.

Esse é um dos receios do comando governista, que vê essa possibilidade como uma ameaça à estabilidade política da base aliada, uma colcha de retalhos formada por um grupo de dez partidos sem nenhuma ligação programática entre si, e que só está unido sob a proteção que fazer parte do governo garante.

Se, no entanto, a influência de Temer no Congresso fosse usada pelo governo em seu benefício, seria possível designá-lo para tarefas delicadas e, aí sim, promover a pacificação do PMDB.

Não há, no entanto, até o momento, sinal de que a presidente Dilma tenha intenção de usar o vice-presidente além do papel inócuo que o cargo reserva a seus titulares, o que lhe dá uma posição meramente decorativa no “núcleo de poder” do Planalto.

Há sinais claros de mudanças, de estilo, mas também de conteúdo na nova gestão do Ministério das Relações Exteriores.

O episódio da censura aos livros do escritor brasileiro Paulo Coelho foi uma boa oportunidade para o Itamaraty demonstrar isso, e a condenação da censura pelo ministro Antonio Patriota não ficou apenas na retórica, o que já seria uma mudança importante.

Ele anunciou que mandou que a embaixada brasileira em Teerã se inteirasse da questão para que possa tomar a atitude mais adequada.

A própria presidente já havia prenunciado essa mudança quando não se furtou a condenar o apedrejamento de iranianas por adultério.


A discussão sobre os passaportes diplomáticos está sendo distorcida com a nítida intenção de desculpar os filhos do ex-presidente Lula, em operação muito comum no lulismo: espalhar a versão de que todo mundo usa e abusa de tais privilégios, e, portanto, criticar os Lula da Silva só pode ser preconceito.

A questão é maior que isso.O passaporte diplomático existe para viagens a trabalho e, portanto, não é aceitável que qualquer autoridade, seja ministro, deputado, senador, use o privilégio quando viaja de férias, o mesmo valendo para sua família.

E a autorização para que o Ministro das Relações Exteriores dê um passaporte diplomático para alguém que não esteja entre as autoridades previstas na lei não lhe dá o direito de entregar o passaporte para quem lhe aprouver.

Seu poder não é discricionário, mas limitado pela lei, que prevê essa possibilidade “no interesse do país”.

Quando Pelé viaja para fazer propaganda do país, está justo que use seu passaporte diplomático.

Mas é difícil imaginar em que situação um bispo da Igreja Universal ou os filhos de Lula viajarão “no interesse do país”.

A lista dos aquinhoados deveria ser divulgada, com a justificativa de cada concessão.