sábado, dezembro 31, 2011

Velha história - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 31/12/11


Boas-vindas de líder do governo a Jader Barbalho, em sua volta ao Senado, reiteram influência das oligarquias regionais na política nacional

Depois do escândalo que forçou sua renúncia em 2001, Jader Barbalho está de volta ao Senado. Duas vezes governador do Pará, ministro da Reforma Agrária e da Previdência no governo Sarney, ex-presidente do PMDB, o senador foi recebido pelo líder do governo na casa, Romero Jucá (PMDB-RR), como um "aliado importante".

Mais um, com efeito. Além do próprio Jucá e do reabilitado Barbalho, a base governista no Senado conta com figuras que, em outros tempos, eram vistas com desprezo pela militância petista. Os ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney, por exemplo, disputaram por anos a primazia de figurar como a principal "bête noire" nos furores do PT.

Não foram poucos os motivos para que, no passado, Barbalho estivesse sob o ataque dos que se colocavam como defensores da moralidade no trato dos recursos públicos.

No período que precedeu à sua renúncia, esteve no foco de uma série de suspeitas, envolvendo, por exemplo, desvio de recursos pertencentes ao banco do Estado do Pará, e a concessão, pela Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) de mais de R$ 9 milhões para construir um ranário, do qual nunca se teve notícia.

Mas o sapo virou príncipe, como se vê, no conto de fadas que se repete diariamente desde a ascensão do PT ao poder federal.

Jader Barbalho teve sua posse impedida em 2010 devido a uma interpretação demasiado estrita da Lei da Ficha Limpa. Seria inelegível o político que tenha renunciado ao cargo para evitar iminente cassação. De fato, foi isso o que ocorreu há dez anos -mas o Supremo Tribunal Federal considerou, não sem sólidos motivos, que a lei não poderia vigorar nas últimas eleições.

Nestas, vale também lembrar, o peemedebista obteve perto de 1,8 milhão de votos, contra os menos de 800 mil da segunda colocada, Marinor Brito (PSOL). Se Barbalho agora ocupa a cadeira de senador, não se pode dizer que a vontade da maioria dos eleitores paraenses foi desrespeitada.

Chega-se ao fundo da questão, que não é bonito de se ver. O prestígio local de políticos como Collor, Jucá, Sarney e Barbalho prepondera sobre a imagem que se tem de seu comportamento na esfera nacional.

Uma rede de patrimonialismo, compadrio, troca de favores e relações familiares, ao lado da constituição de verdadeiros feudos na área de telecomunicações, sustenta lideranças políticas atrasadas, não raro truculentas e corruptas, que, por sua vez, dão apoio aos presidentes da República.

Foi assim com Fernando Henrique, continuou com Lula, e subsiste no governo Dilma. A despeito dos discursos modernizantes, moralistas e triunfais que partem do Planalto, pouco ou nada se fez para modificar de fato a estrutura oligárquica da política brasileira.

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