segunda-feira, outubro 17, 2011

GEORGE VIDOR - Menos inseticida


Menos inseticida
GEORGE VIDOR
O Globo - 17/10/2011

Combater inflação só com política monetária equivale a tentar matar elefante com inseticida. O paquiderme pode morrer, mas para tal a dosagem será enorme, contaminando também o ambiente em volta. O autor da metáfora é o economista Chico Lopes. Usei a lição contra ele mesmo quando Chico assumiu a Diretoria de Política Monetária do Banco Central já na era do real.

Naquela fase do plano de estabilização o inseticida podia ser justificado; era difícil fugir dos juros altos para manter a inflação sob controle, pois os demais instrumentos ainda se mostravam muito débeis. Porém, o BC abusou das doses cavalares, sem levar em conta os efeitos colaterais negativos dessa decisão. Por anos ficamos trocando inflação por dívida, optando pelo que parecia menos pior.

O quadro atual é bem diferente. A política fiscal (receitas versus despesas públicas) passou a ter um papel mais relevante desde o último trimestre de 1998, e o Brasil, neste mundo conturbado de hoje é quase uma exceção, voltando a ter como perspectiva a redução gradativa dos déficits governamentais. Diga-se de passagem que a totalidade desse déficit decorre do componente financeiro das despesas. Os juros altos, acionados para neutralizar um desequilíbrio, acabam gerando outro desequilíbrio (déficit) e assim caímos em círculo vicioso.

Por conta dos desvios de rota em 2009 e 2010, o governo federal precisa recuperar a credibilidade da política fiscal. A dúvida sobre os rumos das contas públicas é que tem levado o mercado a acreditar que não temos saída se não a de novamente trocar inflação por dívida.

Do lado das receitas existe também uma situação anormal, com a carga tributária abusiva e baseada em uma estrutura de impostos inadequada. No entanto, hoje a economia brasileira é bem mais aberta que no fim dos anos 90 - mesmo com as medidas recentes que alguns consideram um retrocesso e outros preferem atribuir a iniciativa a uma perda de ingenuidade - e a taxa de câmbio joga mais a favor da estabilidade monetária do que contra.

A inflação ganhou gás com o aumento da massa salarial, pela expansão dos empregos formais e por aumentos reais de salários. Ninguém defende abertamente o caminho de volta, mas é o que acontecerá se o combate à inflação se limitar a uma política monetária tipo inseticida.

O país, após muitos anos de crescimento pífio ou morno, descuidou-se da formação de mão de obra e agora está pagando um preço por isso. Se houvesse mais gente preparada para os desafios do mercado, os salários teriam acompanhado o aumento de produtividade, e os serviços, principalmente, não teriam encarecido tanto.

Mas esse processo já dá sinais claros de acomodação. A economia este ano deve crescer ligeiramente acima de 3,5%, o que é suficiente para manter os níveis de desemprego nos patamares já alcançados

Fará bem para a economia se a dose do inseticida diminuir um pouco. O ambiente em volta melhoraria, ficaria menos contaminado. Provavelmente é o que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidirá nesta quarta-feira.

A OSX-1 chegou ao Rio como navio e sairá da Baía de Guanabara já como plataforma de petróleo, em direção à Bacia de Campos, onde se interligará a alguns poços de óleo e gás de uma outra companhia do mesmo grupo (Eike Batista), a OGX, a 70 quilômetros da costa. Além de desembaraços aduaneiros e da certificação como plataforma de petróleo, a OSX-1 aguardará no cais da Gamboa (Porto do Rio), por algumas semanas, a conclusão do estaqueamento submarino dos dez pontos que compõem o seu sistema de ancoragem. A sexta estaca foi assentada no fundo do mar. Nesta época do ano as condições do mar em todo o Sudeste (ondas e ventos fortes) dificultam os trabalhos, mas tanto a OSX como a OGX mantêm o cronograma de iniciar a produção na Bacia de Campos ainda em 2011.

A OSX já começou a construir, em Cingapura e na Coreia do Sul, duas outras plataformas encomendadas pela OGX para a produção na Bacia de Campos. A primeira, OSX-1, ficou pronta em apenas 12 meses, porque estava bem adiantada. Havia sido construída por uma empresa que apostara na falta de equipamentos no mercado petrolífero, sem um contrato predefinido, e que acabou surpreendida pela crise mundial de 2008. Sem cliente assegurado, a empresa quebrou e no acerto de contas, já em 2010, um banco vendeu-a para a OSX, que estava interessada apenas no navio.

Instalada na nova sede do Grupo EBX, o antigo edifício Serrador, na Cinelândia, a OSX tem na sua cúpula profissionais experientes que trabalharam na Petrobras, como Luiz Eduardo Carneiro, o presidente, e Carlos Bellot, o diretor de Engenharia, que por mais de dez anos foi superintendente de Produção na Bacia de Campos. Ambos já tinham saído da estatal quando foram para o grupo de Eike Batista (faz parte da política de bom relacionamento com a Petrobras não tirar ninguém de lá). Além das plataformas em construção ou na fase de projeto, a OSX tem outro grande desafio: a implantação do que se propõe a ser o maior estaleiro da América Latina, no futuro complexo industrial do Açu.

Uma draga já começou a abrir o caminho para o canal onde ficarão o estaleiro e uma segunda área do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense. Simultaneamente, vêm sendo remanejadas a vegetação e a fauna dos locais que serão alagados. Bromélias e até três formigueiros já mudaram de lugar.

O estaleiro da OSX no Açu terá capacidade para processar inicialmente 180 mil toneladas de aço (como comparação, hoje o maior estaleiro brasileiro, o EAS, em Suape, tem capacidade para 100 mil toneladas). Empregará de sete mil a dez mil pessoas a partir de 2013. Quando viu o primeiro desenho do estaleiro, Eike Batista perguntou aos executivos da OSX: onde fica o campo de futebol para o pessoal se divertir nos intervalos do trabalho? Ninguém tinha pensado nisso no grupo.

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