domingo, outubro 10, 2010

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Não é boa 
EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10

A imprensa é livre no país, ressaltou o ministro da Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins. "O que não quer dizer que seja boa", apressou-se em acrescentar.
Certamente não é boa.
Não foi boa, por exemplo, para o então presidente Fernando Collor de Mello, hoje aliado do PT, quando se revelaram os escândalos que vieram a resultar no seu impeachment.
Não foi boa quando noticiou a compra de votos de alguns parlamentares para aprovar a emenda constitucional que veio a instituir o direito à reeleição, então defendido por Fernando Henrique.
Não foi boa quando revelou o esquema do mensalão, o caso dos aloprados, a trama para expor o sigilo bancário do caseiro Francenildo e as atividades da família de Erenice Guerra, entre outros casos que pontuaram o governo lulista.
Em viagem à Europa, onde afirma colher subsídios para a criação de um marco regulatório na área de comunicações, o ministro Franklin Martins tem, portanto, motivos para reclamar de uma imprensa alheia à notória parcialidade com que costuma pautar as suas avaliações.
Seu comentário merece ser catalogado junto com reclamações de teor equivalente, feitas pelos governistas de todas as épocas.
Dois aspectos, entretanto, requerem atenção. O primeiro é que, neste final de governo, ainda exista empenho em engajar o Executivo num tema que mereceria antes de tudo ser objeto de uma iniciativa do Congresso.
O segundo, e mais importante, é o que revela da reiterada disposição por parte de representantes do PT de exaltar a liberdade de imprensa para em seguida assestar novos ataques a quem publica o que o governo gostaria de ocultar.
No triunfalismo que antecedeu a divulgação dos resultados eleitorais, o presidente Lula elevava a voltagem de suas provocações à imprensa. Diminuíram com a notícia de que haveria um segundo turno. Mas o inconformismo permanece -e o ministro novamente o manifesta. Não será uma breve viagem a países europeus que irá civilizá-lo quanto a isso.

DORA KRAMER

Escravos de Jó
DORA KRAMER 
O Estado de S.Paulo - 10/10/10

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicações da Presidência, Franklin Martins, foi à Europa conhecer o que há por lá sobre controle de veículos de comunicação. De Londres, avisa que nos próximos três meses, até o fim do ano, o governo vai concluir uma proposta para regulamentação dos meios eletrônicos.

Isso quer dizer que deixa tudo pronto para Dilma Rousseff, se eleita, tocar o assunto, dado que a candidata se apresenta ao eleitorado como uma continuação sem modificações do governo Luiz Inácio da Silva.

O ministro Franklin Martins avisa mais, que na concepção dos atuais - e, por suposto, daquela que se candidata à continuidade - ocupantes do Palácio do Planalto, não há que se impor qualquer restrição à imprensa no Brasil, pois está bem assim, livre. "O que não significa que seja boa", acrescenta.

De onde se depreende que Franklin considera que, mediante uma regulamentação bem feita, poderá até chegar a ser. Faltou apenas uma definição do que o ministro entende por "imprensa boa".

E aí é que mora o xis da questão. Se não foi apenas um jogo de palavras para sair pela tangente, a declaração dá margem à interpretação de que o qualificativo está diretamente ligado à defesa da necessidade de regulação.

Portanto, é de se acreditar que junto com a proposta de renovação das normas para o sistema de radiodifusão, internet e celulares sejam apresentadas sugestões para "melhorar" a imprensa adequando-a aos padrões tidos como aceitáveis pelos proponentes.

Mera suposição? Não, conclusão lógica com base em dois fatos: a conferência sobre comunicações realizada no ano passado sob patrocínio governamental que propôs o controle dos meios de comunicação por parte do Estado; o programa de governo apresentado pelo PT à Justiça Eleitoral encampando as propostas da conferência.

O item sobre o controle da mídia não foi retirado da versão modificada do programa e registrada no TSE.

Depois o PT divulgou que mais uma vez reformularia o programa para incluir propostas dos partidos aliados; recuou e, com a realização do segundo turno, voltou a anunciar para os próximos dias a divulgação de uma nova versão: os 13 compromissos de Dilma.

Como a candidata já se pronunciou contra o controle e o principal parceiro, o PMDB, também, é de se imaginar que a questão não esteja entre os 13 pontos.

Então não há compromisso com a proposta que o governo Lula apresentará ao fim do mandato? Ou há, mas não convém incluir no programa de governo por uma questão eleitoral?

Esse tira, põe, deixa ficar, ao molde da cantiga infantil, não soa salutar e pode acabar minando a credibilidade do programa de governo de Dilma Rousseff.

Por ausência de firmeza, clareza e, sobretudo, de comprometimento a respeito do que pensa mesmo a candidata. Seja sobre descriminalização do aborto ou controle estatal do conteúdo do que divulgam os meios de comunicação.

Na prática. O levantamento é do jornal Folha de S. Paulo: dos 208 candidatos vetados pela aplicação da Lei da Ficha Limpa no Tribunal Superior Eleitoral, mas ainda "pendurados" na indecisão do Supremo Tribunal Federal, 157 (75%) não conseguiram se eleger.

Em favor do eleitorado note-se ainda que a lei foi aprovada há pouco tempo e sua aplicação está em suspenso. Além disso, falta traquejo às pessoas que não estavam acostumadas a examinar vidas pregressas. Mesmo assim foi alto o índice do veto na urna.

Magoou. Geddel Vieira Lima no Twitter: "Hoje (sexta-feira) recebemos Michel Temer em Salvador para ratificar nossa posição de apoio ao seu nome."

Considerando que o PMDB não precisa "ratificar" apoio ao presidente do partido, o PMDB da Bahia - deixado ao sol e à chuva na eleição estadual pelo governo federal e, consequentemente pela campanha presidencial do PT - arrumou um jeito indisciplinado de manifestar disciplina: vai só de vice.

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Por pontos
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10

Relativamente estreita para padrões de segundo turno, etapa da eleição em que qualquer tropeço de um candidato resulta em ganho do único adversário, a diferença entre Dilma Rousseff e José Serra no novo Datafolha sinaliza um debate com muito cálculo de ambas as partes hoje à noite na Band. 
A liderança da petista não é tão folgada a ponto de lhe permitir jogar só na defensiva. A desvantagem exige do tucano mais exposição, sem no entanto desconsiderar o risco de uma performance mais agressiva. O PSDB tem na memória o mau passo de Geraldo Alckmin no primeiro debate do segundo turno de 2006. 

Eu te disse - Vários cardeais tucanos que depois condenaram Alckmin por ter partido para a jugular de Lula no debate, tática que se revelou desastrosa, colocaram a maior pilha no candidato antes do programa. 

Vintage - Serra segue resgatando expressões antigas para o léxico da campanha. Depois de ‘trololó’, ‘numa nice’ e ‘Terceiro Mundo’, ele agora usa ‘pão dormido’ para se referir a questões que considera vencidas. 

Matemática - Em reuniões noturnas no Bandeirantes, o governador Alberto Goldman (PSDB-SP) analisa com prefeitos aliados de cidades com mais de 200 mil habitantes as votações de Serra e lhes repassa a meta: elevar a margem do tucano sobre Dilma no Estado de três para dez pontos. 

Medo da loba - No PMDB, o comando petista que faz a escolta de Dilma, formado por José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo, é chamado carinhosamente de ‘Os Três Porquinhos’. 

Memória - Também eram conhecidos como ‘Os Três Por­quinhos’, em 1989, os pefelistas Hu­go Napoleão, Marcondes Ga­delha e Edison Lobão, que tentaram, sem sucesso, lançar o empresário e apresentador Silvio Santos à Presidência da República. 

Oremos - Comentário de um integrante do comando da campanha petista acerca do número de agendas religiosas na primeira semana do segundo turno: ‘Agora a gente nem precisa planejar. Onde ela vai, alguém dá um jeito de colocar um padre ou um pastor do lado dela’. 

Criador... - Há no PT uma ala preocupada com o desempenho de Dilma daqui por diante. O receio se baseia no fato de que o grande trunfo da candidata - sua ligação com Lula - foi o motor da primeira fase da campanha, e talvez não haja muito mais a ser retirado dessa fonte. 

...e criatura - Para integrantes dessa corrente de pensamento, a tarefa de Lula agora é emprestar emoção na reta final. O restante terá de vir da própria candidata. 

Terapia - Atualmente integrado à coordenação da campanha de Dilma, mas sem mandato a partir do ano que vem, Ciro Gomes (PSB) diz que pretende fundar uma ONG no Ceará para prevenção e tratamento da dependência de crack. Além disso, estuda convites para participar do conselho de administração de duas empresas. 

Ônibus - O PMDB quer colocar mais um representante na coordenação da campanha de Dilma e sugeriu Romero Jucá, sob o argumento de contemplar a ala do Senado. Ele está envolvido em investigação sobre compra de votos em Roraima. 

Múltipla escolha - Surgiu mais um item na lista de postos cogitados para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em caso de vitória de Dilma: embaixador em Washington. 

Tiroteio




Com toda essa religiosidade trazida à campanha pelo Serra, acho que passarei a incluir no currículo o tempo em que fui sacristão e coroinha no colégio São Luís. 




DE DELCÍDIO AMARAL, senador reeleito pelo PT de Mato Grosso do Sul, a respeito do clima reinante na largada do segundo turno da eleição presidencial.



Contraponto

Na lata 

Certo dia, com a campanha eleitoral em curso, José Serra foi abordado pelo neto Antonio, de 7 anos. 
- Vô, você já foi deputado, senador, prefeito e depois governador, não é? 
O tucano respondeu que sim, e o menino prosseguiu com o questionário: 
- E agora você é candidato a presidente... 
Diante de nova afirmativa, veio a pergunta final: 
- E, se você não ganhar, você vai ser o quê, nada?

DANUZA LEÃO

Um beijo para Marina
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10


Não acredito que alguma mulher deixe de fazer um aborto porque a/o presidente do país é contra



EU FAZIA UMA ideia meio geral sobre parte do povo brasileiro: achava que ele não se interessava pela propaganda eleitoral, e quando, entre uma novela e outra, via os candidatos, prestava atenção aos que tinham o tal do carisma, ou votava em quem eles mandavam, e só.
Foi uma grata surpresa (entre outras ingratas) saber, pelos resultados, que muita gente acompanha o que acontece na política mais do que se pensa.
Marina foi o acontecimento, e não pelo ambientalismo; não creio que 20 milhões de brasileiros estejam tão ligados a essa causa.
O que encantou na candidata foi sua sinceridade, ver que ela falava o que pensava, que nada era decorado, e não por estar querendo ganhar a eleição -ela sempre soube que isso não ia acontecer; a honestidade com que se expôs durante o horário eleitoral, com pouco mais de um minuto de tempo, sua alegria genuína, quando comemorou os votos que recebeu com seus seguidores, sua ética, tudo isso foi como uma brisa fresca, diante do engessamento de Serra e Dilma.
Marina resgatou o que alguns de nós ainda temos lá no fundo, mas de que não falamos, para não sermos acusados de idealistas -portanto ridículos-, que acreditamos que ainda existem valores, que pode haver alguma coisa boa na política.
De uns tempos para cá, entramos na cabine eleitoral sem alma nem coração, para votar sempre contra alguém.
Mesmo não estando mais disputando a eleição, é dela que mais se fala. Ninguém me tira da cabeça que Marina não deixou o ministério no escândalo do mensalão para não massacrar ainda mais o PT.
Ela também não conta como foram seus embates com a então ministra Dilma, e se contasse, essa eleição estaria mais do que definida. Mas Marina é fina, educada, discreta, e ninguém a verá, jamais, no centro de uma baixaria. Nem ficará, jamais, com quem entre nesse terreno. Mas não complica demais, tá, Marina?
Voltando à eleição, não acredito que nenhuma mulher, seja ela uma adolescente que engravidou por acaso ou uma vítima de estupro, deixe de fazer um aborto porque a/o presidente da República é contra, e não acredito que os votos de Dilma tenham caído por esse motivo, mas sim porque ouvir a candidata falar (sempre sorrindo, mesmo quando se refere ao superavit primário) é um suplício que ninguém merece -e também por causa de Erenice, que eu queria muito ouvir depondo.
E por mais populares que sejam os líderes, uma hora eles nos cansam e por isso são trocados, salvo quando se vive numa ditadura.
Ok, os dois candidatos prometem educação, saúde, segurança, saneamento básico, ciência e tecnologia, y otras cositas más. O que os eleitores querem saber é: como?
Xô, marqueteiros, e xô para essa mania inventada por vocês de dar um minuto para a pergunta e dois minutos e 75 segundos para a resposta, que ninguém é máquina para falar de assuntos importantes num tempo tão curto.
Será que os candidatos não podem se enfrentar para trocar ideias livremente, os dois, diante de uma câmera? É só o que nós, eleitores, queremos.

SERRA PRESIDENTE

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A politização da Petrobrás
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 10/10/10


Depois da "maior capitalização da história", a maior empresa do Brasil, a Petrobrás, perdeu R$ 28,4 bilhões de valor de mercado em apenas três dias, encolhendo 7,5% nesse período. Na sexta-feira, suas ações ganharam algum impulso, depois de bater no nível mais baixo em um ano e meio. A onda de vendas foi apenas um "ajuste de carteira", segundo seu presidente, José Sérgio Gabrielli. "É normal as ações subirem e descerem", ponderou o ministro da Fazenda e presidente do conselho da estatal, Guido Mantega. A empresa, acrescentou, está mais forte do que nunca e sua capitalização foi "reconhecida mundialmente como importante". Nenhuma das duas explicações é para ser levada a sério. Oscilações dessa amplitude não são normais no dia a dia nem são meros ajustes de carteira. O problema da Petrobrás é o mesmo de antes da capitalização: uma perigosa subordinação aos interesses políticos de um governo centralizador e voluntarista.

Os investidores foram confrontados durante a semana com duas novidades importantes. Uma delas foi a avaliação negativa divulgada por seis bancos. Diluição de lucros e perspectiva de baixo retorno foram os problemas apontados. A outra foi o rumor sobre irregularidades na administração da empresa.

Este segundo fator seria muito menos importante, se o mercado reconhecesse a gestão da Petrobrás como essencialmente profissional e voltada para objetivos empresariais. Mas esse não é o caso. Há meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou publicamente haver mandado a estatal investir em refinarias no Nordeste. Esses investimentos, segundo ele, não teriam ocorrido, se a decisão dependesse da avaliação dos diretores da companhia. Nos últimos dias, o presidente da República voltou a alardear sua intervenção.

A Petrobrás, disse ele na quinta-feira, deixou de ser uma caixa-preta e converteu-se numa caixa branca, ou quase, durante seu governo. Ele teria apontado um fato positivo, se mencionasse apenas o aumento da transparência - discutível, na verdade. Mas foi além disso e se vangloriou, mais uma vez, de mandar na empresa: "A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer."

"A gente decide" é mais que uma expressão singela. É uma confirmação - mais uma - do estilo centralizador e voluntarista do presidente da República. Não só de um estilo, mas de uma mentalidade. Ele age e fala como se as diretorias das estatais fossem apenas extensões de seu gabinete e não tivessem compromissos com milhões de acionistas. "A gente sabe" e "a gente decide". Ele, de fato, foi além disso. Tentou interferir também na gestão de grandes empresas privatizadas, como a Embraer e a Vale, como se coubesse ao presidente da República orientar as políticas de pessoal e de investimentos dessas companhias.

Esse jogo de interferências não tem sido apenas econômico e administrativo. O envolvimento do presidente da República tem sido sobretudo político e, muitas vezes, político-eleitoral. "A Petrobrás também está no segundo turno", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, ao comentar a inauguração antecipada, na quinta-feira, da Plataforma P-57. Antes da votação de domingo, o evento estava previsto para dezembro.

Também a capitalização da Petrobrás foi politizada, o que complicou o processo. O leilão ocorreu quase no fim do prazo previsto, porque o governo foi incapaz de cuidar do problema com critérios essencialmente econômicos e administrativos. Sua insistência em ampliar a participação do Estado na Petrobrás dificultou a fixação do preço dos 5 bilhões de barris cedidos à empresa pela União. O preço médio foi estabelecido, afinal, por um processo nunca explicado de forma satisfatória, até porque não passa de suposição o volume das jazidas envolvidas no negócio.

A confusão e a insegurança criadas por esse processo politizado afetaram duramente o mercado. O valor da Petrobrás encolheu cerca de 30%, enquanto a empresa, o governo e a Agência Nacional do Petróleo se enrolavam nas dificuldades políticas da capitalização. A empresa continua sob os efeitos de uma gestão politizada e, por isso, vulnerável a rumores e escândalos. O mercado refletiu, nos últimos dias, essa vulnerabilidade.

DESCEU

MERVAL PEREIRA

A maldição
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 10/10/10

O cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, tem uma visão bastante cética em relação à possibilidade de a senadora Marina Silva se transformar em uma liderança de peso na política nacional a partir da votação que obteve no primeiro turno da eleição presidencial.

Ele chama de “maldição do terceiro colocado” o que tem acontecido com os candidatos que a cada eleição surgem como novidade, mas não se firmam como alternativa de uma terceira via eleitoral que se contraponha à polarização entre PT-PSDB.

Um trabalho da equipe da PUC do Rio que Romero Jacob coordena mostra que, até agora, a terceira via não se mostrou possível, pois não se observa nada em comum, do ponto de vista eleitoral ou geográfico, entre os terceiros colocados nas eleições anteriores: Brizola (1989), Enéas (1994), Ciro (1998), Garotinho (2002) e Heloísa Helena (2006).

A candidata do Partido Verde, senadora Marina Silva, poderia vir a ser uma terceira via, na análise de Romero Jacob, se fosse adotada pelos evangélicos pentecostais, sendo ela evangélica.

Nesse caso poderia crescer na periferia, um dos três pilares das “estruturas de poder” que viabilizam a disputa eleitoral: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais e os políticos populistas na periferia, e a classe média urbana escolarizada.

Mas, ressalva Romero Jacob, Marina Silva nunca fez política usando a religião, e mais uma vez nesta eleição presidencial teve o mesmo comportamento.

Ela provavelmente se beneficiou do debate em torno do aborto, mesmo sem estimulá-lo. Em contrapartida, teria muita dificuldade de ter voto no interior do país, onde os ruralistas têm muita força.

Na classe média urbana, Marina pode tanto tirar voto do governador José Serra quanto de Lula (Dilma), por razões diferentes, analisa Romero Jacob.

Não é por outra razão que ela foi tão bem no Rio, em Belo Horizonte, e em Brasília, onde foi a mais votada. Um estudo sobre as religiões feito pelo grupo de Romero Jacob, na PUC do Rio, mostra claramente que no entorno das capitais, nos cinturões de miséria, os pastores evangélicos pentecostais têm uma força muito grande.

O Instituto de pesquisas GPP fez uma pesquisa do voto evangélico no Rio e constatou que Dilma caiu de 53,6% para 38,9% dos votos nesse segmento, enquanto Marina saiu de 18,5% para 41,9%.

Mas, como Romero Jacob tem ressaltado, a influência do voto religioso, incluindo aí o dos católicos que também se mobilizaram contra o aborto, tem que ser relativizada e incluída como um dos vários fatores que influíram no resultado final, impedindo que a eleição fosse resolvida no primeiro turno.

Segundo Romero Jacob, a “maldição” pode ser medida pelo retrospecto dos candidatos que chegaram em terceiro lugar nas recentes eleições presidenciais depois da redemocratização.

Ninguém emplacou na eleição seguinte.

Brizola, em 1989, teve 16% dos votos, quase foi para o segundo turno contra Collor. Em 1994, teve apenas 3%, e em 1998 foi vice de Lula, e terminou a carreira política sendo derrotado para senador.

Enéas teve 7% de votos em 1994, caiu para 2% em 1998 e em 2002 se candidatou a deputado federal. Ciro Gomes teve 11% em 1998, 12% em 2002, mas em 2006 se candidatou a deputado federal, e este ano não se candidatou a nada.

Garotinho teve 18% dos votos em 2002, na eleição seguinte o PMDB não lhe deu legenda para concorrer e este ano teve que se candidatar a deputado federal e depende de uma decisão do Supremo, já que está enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

A senadora Heloisa Helena teve 6% dos votos em 2006 e agora não se elegeu senadora em Alagoas.

O fato de alguém se constituir em uma grande novidade em uma eleição não quer dizer que terá fôlego mais adiante, conclui Romero Jacob, para lembrar que até agora não existe uma base estruturada de terceira via, e a senadora Marina Silva, entrando em choque com o Partido Verde na negociação sobre quem apoiar no segundo turno, pode estar perdendo um canal de atuação política que poderia viabilizar uma futura disputa presidencial.

Na verdade, cada uma das situações que levaram um candidato ao terceiro lugar foi pontual, não tem o mesmo peso de PSDB e PT, que há cinco eleições estão disputando o voto pau a pau.

Os outros surgem por circunstâncias de momento, lembra Romero Jacob, o que não quer dizer que a Marina não possa vir a ser uma grande liderança, mas para disputar com possibilidade em 2014 ela teria que se estruturar dentro da realidade político-partidária que vivemos.

Como o voto da Marina nesta eleição foi muito fragmentado, um estuário de muitas insatisfações, e de esperança na despolarização, ela não tem como liderar as decisões da maioria desses 20 milhões de eleitores.

Romero Jacob diz que nos seus estudos só há um registro de transferência de votos no segundo turno, que é de Brizola em 1989, que transferiu para Lula seus votos integralmente.

Em 2002, por exemplo, Ciro Gomes teve 12% dos votos e Garotinho 18%, e os dois propuseram um apoio ao Lula, mas os votos foram meio a meio para Lula e Serra.

Isso porque os votos de Ciro, na Bahia, não eram dele, mas do Antonio Carlos Magalhães que estava em dissidência, os votos no Maranhão eram de Sarney.

Assim como Garotinho, que não tinha votos na Amazônia, onde sua força vinha da Assembleia de Deus, cujo voto ele não decidia.

Marina Silva, por exemplo, não tem nem mesmo os 30% de votos próprios que Lula e o PT sempre tiveram em várias eleições.

Se os 18% de votos dela fossem de ambientalistas convictos, a bancada do Partido Verde teria aumentado, mas permaneceu praticamente do mesmo tamanho: tinha 15 deputados federais e ficou com 16. A excepcional votação que Marina teve no Rio só resultou na eleição de Alfredo Sirkis para deputado federal pelo Partido Verde.

PEDRO S. MALAN

Diálogo de surdos?
Pedro S. Malan 
O Estado de S.Paulo


O presidente Lula, com uma arrogância por vezes excessiva, tentou transformar em plebiscito o primeiro turno desta eleição. Como se o que estivesse em jogo fosse seu próprio terceiro mandato (ainda que por interposta pessoa), um referendo sobre seu nome, uma apoteose que consagraria seu personalismo, seu governo e sua capacidade de transferir votos. Mas cerca de 52% dos eleitores votaram em José Serra e Marina Silva, negando a Lula a tão esperada vitória plebiscitária no domingo passado.

Não é de hoje o desejo presidencial: "Lula quer uma campanha de comparação entre governos, um duelo com o tucano da vez. Se o PSDB quiser o mesmo... ganharão os eleitores e a cultura política do País." Assim escreveu Tereza Cruvinel, sempre muito bem informada sobre assuntos da seara petista, em sua coluna de janeiro de 2006. Não acredito que a "cultura política" do País e seus eleitores tenham muito a ganhar - ao contrário - com essa obsessão por concentrar o debate eleitoral de 2010 numa batalha de marqueteiros e militantes.

Afinal, na vida de qualquer país há processos que se desdobram no tempo, complexas interações de continuidade, mudança e consolidação de avanços alcançados. O Brasil não é exceção a essa regra. Como escreveu Marcos Lisboa, um dos mais brilhantes economistas de sua geração: "Não se deve medir um governo ou uma gestão pelos resultados obtidos durante sua ocorrência e, sim, por seus impactos no longo prazo, pelos resultados que são verificados nos anos que se seguem ao seu término. Instituições importam e os impactos decorrentes da forma como são geridas ou alteradas se manifestam progressivamente..."

Ao que parece, Lula e o núcleo duro à sua volta discordam e estão resolvidos a insistir numa plebiscitária e maniqueísta "comparação com o governo anterior". Feita por vezes, a meu ver, com desfaçatez e hipocrisia. Um discurso primário que, no fundo, procura transmitir uma ideia básica (e equivocada) ao eleitor menos informado: o que de bom está acontecendo no País - e há muita coisa - se deve a Lula e ao seu governo; o que há de mau ou por fazer - e há muita, muita coisa por fazer - representa uma herança do período pré-2003, que ainda não pôde ser resolvida porque, afinal de contas, apenas em oito anos de lulo-petismo não seria mesmo possível consertar todos os erros acumulados por "outros" governantes ao longo do período pré-2003.

Mas talvez seja possível, por meio do debate público informado, ter alguns limites para a desfaçatez e a mentira. Exemplo desta última: a sórdida, leviana e irresponsável acusação de que "o governo anterior" pretendia privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, entre outros. Algo que nunca, jamais, esteve em séria consideração. Mas a mentira, milhares de vezes repetida, teve efeito eleitoral na disputa pelo segundo turno em 2006 - por falta de resposta política à altura: antes, durante e depois.

Exemplos de desfaçatez: o governo Lula não "recebeu o País com a inflação e o câmbio fugindo do controle", como já li, responsabilizando-se o governo anterior. A inflação estava sob controle desde que o Real foi lançado no governo Itamar Franco, com Fernando Henrique Cardoso na Fazenda, e se aumentou para 12,5% em 2002 foi porque o câmbio disparou, expressando receios quanto ao futuro. Receios não sem fundamento, à luz da herança que o PT havia construído para si próprio, até o começo de sua gradual desconstrução, apenas a partir de meados de 2002. O PT tinha e tem suas heranças.

O governo Lula não teve de resolver problemas graves de liquidez e solvência de parte do setor bancário brasileiro, público e privado. Resolvidos na segunda metade dos anos 90 pelo governo FHC. Ao contrário, o PT opôs-se, e veementemente, ao Proer e ao Proes e perseguiu seus responsáveis por anos no Congresso e na Justiça. Mas o governo Lula herdou um sistema financeiro sólido que não teve problemas na crise recente, como ajudou o País a rapidamente superá-la. Suprema ironia ver, na televisão, Lula oferecer a "nossa tecnologia do Proer" ao companheiro Bush em 2008.

O governo Lula não teve de reestruturar as dívidas de 25 de nossos 27 Estados e de cerca de 180 municípios que estavam, muitos, pré-insolventes, incapazes de arcar com seus compromissos com a União. Todos estão solventes há mais de 13 anos, uma herança que, juntamente com a Lei de Responsabilidade Fiscal, de maio de 2000 - antes, sim, do lulo-petismo, que a ela se opôs -, nada tem de maldita, muito pelo contrário, como sabem as pessoas de boa-fé.

As pessoas que têm memória e honestidade intelectual também sabem que as transferências diretas de renda à população mais pobre não começaram com Lula - que se manifestou contra elas em discurso feito já como presidente em abril de 2003. O governo Lula abandonou sua ideia original de distribuir cupons de alimentação e adotou, consolidou e ampliou - mérito seu - os projetos já existentes. O que Lula reconheceu no parágrafo de abertura (caput) da medida provisória que editou em setembro de 2003, consolidando os programas herdados do governo anterior.

Outros exemplos. Sobre salário mínimo: não é verdade que tenha começado a ter aumento real no governo Lula, como quer a propaganda. Sobre privatização: o discurso ideológico simplesmente ignora os resultados para o conjunto da população - e, indiretamente, para o atual governo.

O monólogo do "nunca antes" não ajuda o diálogo do País consigo mesmo. O ilustre ex-ministro Delfim Netto bem que tentou: "A eleição de 2010 não pode se fazer em torno das pobres alternativas de ou voltar ao passado ou dar continuidade a Lula. A discussão precisa incorporar os horizontes do século 21 e a superação dos problemas que certamente restarão de seu governo."


ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC

GOSTOSA

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Eleitor num boteco do Leblon
João Ubaldo Ribeiro 
O Estado de S.Paulo


-Cara, eu vou te contar, parece perseguição, caso pensado do destino contra mim.

- É verdade, o Flamengo...

- Dispenso insinuações. Se é para desacatar, pode dizer, que eu mudo de mesa, não tem nada a ver com o Flamengo.

- Que é que foi então, a Martinha casou de novo, você está de genro novo outra vez?

- Não, quanto a isso tudo bem. Ela casa de seis em seis meses, eu já acostumei, já tenho até uma rotina de conhecer genro novo que eu sigo automaticamente, só misturo os nomes de vez em quando, mas ela também mistura, ninguém liga, eles são modernos. Sem problema, nessa área eu não tenho mais problema, é coisa do passado. Não, cara, é esse segundo turno, esse segundo turno não tinha nada que pintar, cortou a minha legal mesmo. Não digo que seja um grande problema, mas é mais uma frustraçãozinha, eu já tinha entrado em outra e agora vou ter de adiar até o segundo turno. Eu queria já estar comemorando hoje, mas vou ter que esperar até o dia 31.

- Não, vai esperar até 1.º de novembro. A eleição é que é no dia 31, o resultado só deve sair em 1.º de novembro.

- Mas eu não queria comemorar resultado nenhum, não estou falando em resultado. Por mim, pode dar o resultado que der, é tudo mera formalidade, as tetas continuam as mesmas, só substituíram algumas bocas. Não comemoro resultado nenhum, eles que comemorem, chega de ser otário. Eles é que entram no bem-bom e eu é que vou ficar aqui feito um bobo alegre, comemorando? Não é nada disso, é que eu já tinha me programado todo para esse momento. Minha última eleição, a última vez em que eu tenho de passar por isso.

- Também não é tão dramático assim, votar hoje em dia é muito fácil, ninguém demora muito.

- Você não está sacando nada, a questão não é essa. É a humilhação, eu não quero é sofrer a humilhação outra vez.

- Você vai me desculpar, mas então não saquei mesmo. Eu não vejo humilhação nenhuma nas eleições.

- É uma questão de sensibilidade. Você não tem a mesma sensibilidade que eu, eu sou um cara muito sensível e meu pai sempre incutiu nos filhos o senso do ridículo, o velho sempre passou para nós um grande senso de ridículo. E talvez você nunca tenha parado para pensar. Acho que meu problema é esse, eu paro muito para pensar e também tenho muito senso de ridículo. Na última eleição, não sei se lhe contei, eu tive uma crise de riso na frente da urna que os mesários quase chamam uma ambulância, grande mico. Na hora eu ri, mas a lembrança é muito desagradável. No fim do ano eu emplaco setentinha, quer dizer, era votar agora e nunca mais. Aí vem esse segundo turno adiar minha festa e renovar a humilhação.

- Eu ainda não entendi que humilhação é essa.

- É uma questão de sensibilidade mesmo. A você pode não afetar, a mim afeta muito. Em primeiro lugar, eleição é somente para carimbar o visto para eles se locupletarem nossa custa, não importa que papo mandem para cima da gente, tem que prestar atenção no que eles fazem, não no que eles dizem.

- Está certo que muitos deles sejam assim, mas não todos. Ainda há uns caras sérios por aí.

- Quem, os da esquerda?

- Não necessariamente, não é isso que eu quero dizer.

- Eu explico a diferença entre a esquerda e a direita. A turma da esquerda mete a mão esquerda no pirão, a da direita mete a mão direita e a do centro deve meter as duas, ou então o bocão logo direto. A função do eleitor é somente carimbar a autorização. E o comparecimento é obrigatório, tem que tomar parte na presepada, mesmo que não queira. Nem a liberdade de se recusar a fazer papel de besta o sujeito tem, é muita humilhação.

- Não concordo, você está sendo radical.

- Para que serve o título de eleitor? Você tem que ter o título, tem que mostrar nas repartições que nem o CPF. É para isso que o título serve, para mostrar que você tem título. Você parou para pensar nisso direito, não é humilhação? Os caras te obrigam a entrar numa fila e encarar burocracia para tirar um documento cuja única finalidade é mostrar que você tem esse documento. É como ganhar um diploma de diplomado. Atenção, cidadão, o título de eleitor é um elemento importante de sua cidadania e será exigido para tudo, só não será aceito para votar. Para votar, será aceito qualquer documento, menos o título de eleitor, e você acha que não estão curtindo com a cara da gente?

- Realmente acabou dando nessa confusão, mas é uma coisa que pode ser corrigida, é um pormenor sem importância. Claro que não vai ficar assim, eu tenho certeza de que vão consertar isso, devem bolar um título novo, com a fotografia do eleitor.

- Ah, devem. Vão fazer até melhor, eles não vão deixar passar essa. Vai sair um kit-eleitor, com um exemplar da Constituição, um CD com os hinos brasileiros e o título de eleitor, tudo obrigatoriamente comprado na mão de um único fornecedor. E, enquanto isso, o que eu faço com o título velho?

- Bem, há uma boa resposta para isso.

- Eu sei. E deve ser isso mesmo que eles estão querendo nos dizer, eles humilham. 

ANCELMO GÓIS

Partido dos Sujos (PS)
ANCELMO GÓIS

O GLOBO - 10/10/10

Com a Lei da Ficha Limpa empatada em 5 a 5 no STF, Lula, ao indicar o nome do ministro que falta na composição da Casa, vai, na prática, traçar o destino de três senadores e mais de 15 deputados eleitos que aguardam uma decisão.

Segue...
No Senado, o PS tem hoje uma bancada igual ou maior que as do PSB, do PCdoB, do PSOL, do PMN e do PPS.

Verde, que te quero
O pessoal do Greenpeace, a ONG verde, vai pegar carona na onda que levou Marina Silva às alturas. Lança esta semana uma campanha para exigir de Dilma e Serra propostas concretas relacionadas à preservação do meio ambiente.

Calma, santa
O site da querida Rádio Tupi pôs a seguinte enquete no ar: "Homossexualismo é doença ou falta de vergonha na cara?" O Grupo Pluralidade e Diversidade, de Duque de Caxias, RJ, denunciou a emissora ao Conselho Estadual LGBT, que entrará com representação no Ministério Público.

Le Cordon Bleu
O empresário francês André Cointreau, que, como o nome sugere, é da família que produz o famoso licor, está no Rio. Negocia com o governo Sérgio Cabral a abertura no Rio de uma filial da famosa escola de culinária Le Cordon Bleu.

Ela e ele
A ida de Dilma para o segundo turno fez Paulo Renato exibir um sorriso largo, quinta, no Hotel Unique, em São Paulo, onde se realizava um encontro promovido pela Endeavor, a ONG que apoia o empreendedorismo. "Ela vai perder", jubilava-se o ex-ministro da Educação. "E, por consequência, ele vai ganhar."

No mais...
Um gaiato, aprendiz de psicólogo, acha que, ao dizer "ela vai perder" e só depois acrescentar "ele vai ganhar", Paulo Renato traduziu, digamos, o estado de espírito de um bloco tucano, de bom tamanho, que faz oposição ao PT, mas não morre de amores por Serra. Com todo o respeito.

Não faz isso, Erasmo

O querido Erasmo Carlos pôs em seu Twitter que decidiu votar em branco em protesto contra o voto obrigatório. É. Pode ser.

Einstein soterrado
Foi demolida a suíte nº 400 do Hotel Glória, no Rio, onde Einstein se hospedou e teria concluído, conforme registra esta placa que estava no quarto, "o manuscrito da comunicação científica a respeito da teoria da luz, em maio de 1925". Não resistiu ao novo projeto de Eike Sempre Ele Batista, agora dono do hotel.

Inflação das milhas
A TAM aumentou em mais de 200% o número de milhas exigidas para troca por passagens. Uma perna para a Europa em classe executiva, por exemplo, saía por 50 mil milhas para os bacanas. Agora, sai, acredite, por 180 mil. Parece quebra de contrato com a clientela de seu programa de fidelidade. E é.

Segue...
Um brasileiro vip que acumulou 160 milhas da TAM só em compras com seu cartão de crédito fez as contas: "Eu teria de gastar US$ 280 mil no cartão para ter as milhas necessárias para ida e volta à Europa. Isso não existe em nenhum lugar do mundo."

SANTA PROTETORA DO ABORTO

RUY CÂMARA

Porque votarei em José Serra
RUY CÂMARA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 10/10/10

O Brasil vai bem, obrigado. O desemprego é um dos mais baixos da História recente. O salário mínimo está recuperando o valor de compra. Milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza nos últimos 16 anos. E o Brasil passou quase incólume pela crise financeira internacional que, em 2008, foi um tsunami no mundo. Devemos crescer até 7% este ano.

Só que, ao contrário do que apregoa o PT, nada disso se deve a Lula.

Ele só está surfando em cima da herança bendita que recebeu de Itamar Franco e Fernando Henrique e da qual se apossou sem pagar direitos autorais.

Lula encontrou o Brasil com a economia saneada pelo Plano Real que, em 1994, quebrou a espinha dorsal da hiperinflação.

A inclusão social começou aí. A hiperinflação era o imposto mais cruel que caía sobre os pobres e os trabalhadores, que, até então, viam cada vez mais dias sobrarem ao final dos seus salários.

Lula e o PT ficaram contra o Plano Real, mesmo sabendo que ele era aprovado pelos brasileiros que elegeram FHC, já no primeiro turno, em 94 e 98.

FHC criou a Rede de Proteção Social que desenvolveu cinco programas sociais, entre outros: o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação (iniciativa de Serra quando ministro da Saúde), o Vale-Gás, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e o Programa para Jovens em Situação de Risco.

Em 2002, essa rede beneficiava 37,6 milhões de brasileiros, com investimento de R$ 30 bilhões.

Lula pegou esses cinco programas sociais e os juntou num só, "inventando" o Bolsa-Família, sem pagar direitos autorais, de novo.

Contra o voto do PT, FHC criou o Fundef, que colocou 97% das crianças entre 7 e 14 anos da sala de aula e aumentou os salários dos professores, principalmente no Norte e Nordeste.

No Planalto, Lula esqueceu o que dissera sobre o Fundef e "criou" o Fundeb, também sem pagar direitos autorais.

Lula e o PT se opuseram à Lei de Responsabilidade Fiscal, que acabou com a gastança de prefeitos e governadores. Entraram inclusive no STF com questionamento de inconstitucionalidade.

Ao assumir o Ministério da Fazenda, Antônio Palocci tratou de anunciar que respeitaria essa lei.

Lula e Palocci também anunciaram que haveria um prazo de dois anos para permitir a transição da política econômica de FHC para uma "política dos trabalhadores". A política de FHC continua sendo executada até hoje, oito anos depois...

E ainda acusam FHC de ser "neoliberal"...

Os petistas dizem que FHC quebrou o monopólio do petróleo. É mentira.

O monopólio passou para a competência da União e a Petrobrás ficou liberada para firmar parceria com empresas estrangeiras. Foi a atuação da Petrobrás com a British Petroleum e a portuguesa Galp que permitiu a descoberta do megacampo de Tupi e do petróleo do pré-sal. Com a necessidade da competição, a empresa avançou mais ainda em sua gestão, tornando-se uma das maiores empresas do mundo, antes mesmo de o Lula tomar posse.

O PT foi contra a privatização das telecomunicações. Com o monopólio da Telebrás, telefone era item de declaração obrigatória no Imposto de Renda. Depois da privatização, o telefone celular anda no bolso até das faixas mais pobres da população. Hoje existem mais celulares no País do que brasileiros...

O PT condenou, até com pontapés, a privatização da Vale do Rio Doce. Entre 1943, ano da fundação, e 1997, quando foi privatizada, a Vale investiu, em média, US$ 481 milhões por ano e teve lucro líquido de US$ 192 milhões.

De 1998 até 2009, a CVRD investiu US$ 6,1 bilhões e teve lucro de US$ 4,6 bilhões. O recolhimento de impostos saltou de US$ 31 milhões para US$ 1,093 bilhão por ano.

Embora tivesse denunciado essas privatizações como "neoliberais", Lula não mexeu nelas. Então, Lula também é neoliberal. Ah, na campanha de 2002, ele chegou a apontar a privatização da Embraer como modelo.

FHC saneou o sistema financeiro. Depois do Plano Real, grandes bancos perderam receita inflacionária e quebraram. FHC criou o Proer e restabeleceu a confiança dos depositantes.

Quando a crise internacional de 2008 bateu aqui, os bancos estavam saneados e não houve a quebradeira que aconteceu nos EUA e na Europa.

Nessa ocasião, Lula anunciou que mandaria uma cópia do Proer para ajudar a sanear os bancos dos EUA... De novo, não pagou os direitos autorais.

Lula extinguiu, em 2006, os mutirões criados por José Serra e que atendiam os mais idosos e pobres, operando-os de catarata, varizes, próstata, câncer de mama e colo de útero. A consequência foi a explosão dos casos de cegueira por catarata entre os brasileiros mais pobres. A fila de espera por uma cirurgia de catarata não é de menos de seis meses.

José Serra tem 40 anos de história. Foi presidente da UNE, quando ela era, ainda, a União Nacional dos Estudantes, e não um covil de pelegos. Exilou-se no Chile, em 1964.

Foi secretário do Planejamento do governador Franco Montoro e coordenou a organização do plano de governo de Tancredo Neves.

Lula e o PT dizem que lutaram pela redemocratização. Eles mentem, de novo, pois ficaram contra a eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral, tendo expulsado os seus três deputados federais (Beth Mendes, José Euler e Airton Soares) que desobedeceram ao partido e votaram em Tancredo.

Em 1988, recusaram-se a assinar a nova Constituição, com o argumento de que era uma Constituição conservadora, não entendendo a sua importância para a construção e o aprofundamento da democracia, novamente conquistada depois de mais de 20 anos de ditadura militar.

Em 1992, após o impeachment de Collor, com medo de as dificuldadades da luta contra a inflação atingirem o favoritismo de Lula para a sucessão presidencial de 1994, recusaram participar do governo democrático de Itamar Franco. Luiza Erundina, inclusive, teve de pedir licença ao partido para ser ministra de Itamar. Mais tarde, acabou saindo definitivamente do PT.

Como deputado, Serra tirou do papel o FAT, que hoje dá um oxigênio ao trabalhador que fica desempregado.

Ministro da Saúde, Serra criou os genéricos. Anunciou que as patentes de remédios não poderiam prevalecer sobre a saúde e conquistou o apoio da Organização Mundial da Saúde. Desde então, as patentes dos medicamentos podem ser quebradas em caso de risco de pandemias ou emergências.

Serra multiplicou por 9 as equipes do Programa de Saúde da Família. Criou também os mutirões de saúde. E promoveu campanhas de vacinação para os idosos.

Já Dilma Rousseff faliu como dona de uma lojinha que vendia produtos a R$ 1,99 em Porto Alegre. Secretária das Finanças de Porto Alegre, deixou a Prefeitura falida, como denunciou o seu sucessor, Políbio Braga.

Ministra das Minas e Energia, Dilma apagou do site do MME as realizações do Luz no Campo, criado por FHC. Depois, "inventou" o Luz para Todos, também sem pagar direitos autorais.

Escolhida candidata, indicou Erenice Guerra para substituí-la na Casa Civil. Erenice tratou logo de arrumar "bolsas-família" e confortáveis sinecuras para o maridão, os filhos, os irmãos, os cunhados, os namorados e as namoradas dos filhos e velhos amigos.

Votar nela é escolher Dunga - que nunca treinou um time de várzea - para ser o técnico da seleção brasileira. Deu no que deu.

Dilma é uma cristã-nova no PT. Vai ser refém de petistas como José Dirceu, que domina a máquina, foi o chefe do mensalão, que realizou o maior ataque à nossa democracia, com o pagamento de propinas mensais para conquistar o apoio de parlamentares corruptos às propostas do governo.

Dilma será uma nova Isabelita Perón, que, ao suceder ao marido, Juan Domingo Perón, como presidente da Argentina, na década de 70, não conhecia o país (vivera na Espanha) nem o Partido Peronista. Tornou-se refém do ministro da Previdência, José López Rega, que era um fascista, e iniciou uma guerra de extermínio contra os peronistas de esquerda.

O país mergulhou numa guerra civil não declarada e na hiperinflação. Os militares deram um golpe e enfiaram a Argentina nas trevas da ditadura e da "guerra suja", das quais não se recuperou até hoje.

José Dirceu já percebeu as fraquezas de Dilma. Quando anunciou que a sua eleição seria o fortalecimento do PT, estava se candidatando a ser o López Rega de Dilma. O plano de José Dirceu, acusado formalmente e processado com o chefe da quadrilha do mensalão é avermelhar o Brasil, ou seja, implantar o regime leninista-stalinista-chavista-castrista, que significa, de início, o seguinte:

1. Anular a CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA.

2. Aprovar a CONSTITUINTE PETISTA - Todos submissos à cartilha populista do PT.

3. Instauração do REGIME SOCIALISTA sob comando dos delinquentes de estimação do PT.

4. Fomento do CONFLITO DE CLASSES para consolidar o regime, a tirania e OPRESSÃO.


A 2ª FASE do PLANO, que já faz parte do programa de desgoverno da Dilma e do Zé Dirceu é:

1. Suprimir da Constituição as GARANTIAS INDIVIDUAIS

2. Acabar com o SIGILO FISCAL

3. Eliminar o DIREITO DE PROPRIEDADE

4. Acabar com a LIBERDADE DE IMPRENSA.

Por tudo isso, no dia 31, votarei em José Serra para presidente do Brasil.


Ruy Câmara

CLÁUDIO HUMBERTO

“O que motiva o apoio a Dilma é Michel Temer como vice”
GEDDEL VIEIRA LIMA, JUSTIFICANDO O APOIO DO PMDB À CANDIDATURA DE DILMA ROUSSEFF

OAB: LULA TEM VOCAÇÃO PARA COMANDAR O BOPE 
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, ficou perplexo com a declaração do presidente Lula, no Rio de Janeiro, defendo que “polícia bate em que tem que bater”. Cavalcante ironizou o primarismo de Lula: “Ele parece ter vocação para comandar o Bope”, disse, numa referencia à tropa de choque da Polícia Militar conhecida pela atitude violenta no combate ao crime.

NADA DEMAIS 
Ao contrário da OAB, o Ministério Público nada viu no discurso de Lula. O artigo 37 da Constituição impõe respeito aos direitos humanos.

ILÓGICO 
O fim do jejum de “Lulinha, paz e amor” com mais uma frase de (mau) efeito mata no peito o sentido da “pacificação”. Vira P, de porrada. 

USOS E COSTUMES 
Um mar de lama, que começou na Hungria, ainda assusta a Europa. Habituado, o Brasil nem dá mais bola para isso. 

PERGUNTAR NÃO DESPENTEIA 
Será que até o final do segundo turno a Dilma vai descabelar aquela escova progressiva?

LA BELLE VIE À BRASILEIRA, E POR NOSSA CONTA 
Nada como ser da “zelite” do governo: um filho de Antonio Patriota, secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores, residente em Paris, ganhou uma boquinha na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e levou de brinde a mudança para Brasília por nossa conta: R$ 15 mil. Apenas diplomatas têm direito a isso, mas Thomas Patriota disse a esta coluna que apenas estudava em Paris. 

JEITINHO 
A Presidência da República admite não possuir contrato para mudança “de servidor oriundo do exterior”. Ainda assim, vai pagar a conta.

SEM RUMO 
Piada da hora em Santa Catarina: os petistas tentam consolar a derrotada candidata ao governo dizendo “Ideli ali, Ide aqui”. 

É A VIDA 
Alçada por Lula à “mãe do PAC” e depois à “mãe dos brasileiros”, a candidata Dilma enfrenta agora uma polêmica envolvendo... aborto. 

SUMIÇO DE DOAÇÃO... 
Destinatário da carga, o Instituto Adventista, de São Paulo, discute se entrará na Justiça em razão do sumiço de US$ 6 milhões em roupas e brinquedos doados a crianças pobres pela Solidary, entidade internacional de empresários, sediada em Miami. 

...PODE IR À JUSTIÇA 
Os vinte contêineres com roupas e brinquedos sumiram do porto de Santos há dois anos, após o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), ligado aos adventistas, intermediar nos EUA a ajuda humanitária. 

SEM CENSURA 
O Tribunal de Justiça de São Paulo deu um passa-fora no prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT): ele tentou impedir um jornal do ABC de citá-lo em reportagens. Ouviu que “a censura acabou no País”.

DEMORA DIMINUI MARINA 
As dissensões internas no partido de Marina Silva e a demora em definir o apoio a Serra ou Dilma no segundo turno minam o enorme capital eleitoral conquistado pela Verde, disseminando desconfianças no eleitorado que optou pela “mudança” na forma de fazer política. 

DEDO VERDE 
O governador eleito Tarso Genro (PT-RS) lembrou em público, há dias, que é mais amigo de Marina Silva do que de Dilma, quando, ministro da Justiça, ajudou a ex-ministra do Meio Ambiente em rolos PF-Ibama. 

FUNDO DO SACO 
Deve ficar para o próximo presidente ou para o fundo dos precatórios o pagamento de US$ 94 mil de indenização determinada pela OEA à família do agricultor do MST Sétimo Garibaldi, assassinado em 1998.

MORTOS QUE CAMINHAM 
Multiplicam-se os estranhos telefonemas perguntando nomes de falecidos com bens inexistentes. De uma leitora do Rio, 87, queriam saber se a mãe “comprou uma motocicleta”. Hum...

DEUS CASTIGA 
Batizada e crismada, igual a Dilma, a evangélica Magda Aparecida dos Reis quis tirar o nome da santa padroeira do Brasil, escolhido pelos pais: “Causa de constrangimento”. A Justiça do Paraná 
negou. 

PENSANDO BEM...
...será que a escaveira chilena conseguiria chegar ao fundo do poço dos escândalos da família Guerra? 

PODER SEM PUDOR
CONSPIRAÇÃO PERNAMBUCANA 
Oito horas da manhã, o governador de Pernambuco, Moura Cavalcanti, dirigia-se ao Palácio do Campo das Princesas, no Recife, quando ouviu no rádio da Casa Militar: “O secretário de Indústria e Comércio chama para reunião o secretário de Fazenda, Gustavo Krause, o secretário de Planejamento, Luiz Otávio Cavalcanti, o secretário de Educação, José Jorge Vasconcelos...” Moura pegou o microfone e ordenou:
- Chame a polícia para saber que diabo de reunião é essa que o governador do Estado não foi informado!

SERRA PRESIDENTE

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

Diferença entre candidatos é menor que parece
José Roberto de Toledo 
O Estado de S.Paulo


A diferença de sete pontos porcentuais entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) captada pela primeira pesquisa do segundo turno parece maior do que é de fato. Com apenas dois candidatos na disputa, o que sai de um vai para o outro. Os vira-casaca contam dobrado.

Se 4% dos votos válidos trocassem de lado, Serra empataria com Dilma, ou a petista dobraria sua vantagem - dependendo de para onde o vento sopre. Como se vê, é uma margem apertada.

Além disso, o Datafolha encontrou 7% de eleitores indecisos. Um cenário possível é que eles venham a se distribuir da mesma maneira que os eleitores de Marina Silva (PV) e dos nanicos já se distribuíram até agora, isto é, na proporção de dois para um em favor de Serra. Se isso acontecer, o tucano passaria de 41% para entre 45% e 46% do total de votos, enquanto Dilma iria de 48% para entre 50% e 51%. A diferença entre eles poderia cair de 7 pontos para, no limite mínimo, 4 pontos.

Em 2006, o porcentual de votos brancos e nulos caiu do primeiro para o segundo turno da eleição presidencial (porque eram menos cargos e a votação ficou mais fácil), mas a abstenção aumentou. A quantidade de votos válidos foi praticamente igual.

Mantido esse cenário em 2010, Dilma e Serra estariam disputando 101,6 milhões de votos (os válidos do primeiro turno). Aplicados os índices do Datafolha, a petista teria hoje 50,8 milhões de votos, e o tucano, 43,4 milhões.

A diferença entre eles, de pouco mais de 7 milhões de eleitores, equivale aos 7% de indecisos, que na urna precisarão votar em alguém. Se conquistados todos pelo tucano, o que é improvável, seriam suficientes para Serra empatar com Dilma, sem precisar cooptar nenhum eleitor dela.

A grande maioria dos eleitores que votaram em outros candidatos no primeiro turno não ficou esperando a orientação de quem quer que seja para decidir seu voto. E não deve ser isso que vai definir o destino da eleição, apesar de petistas e tucanos bajularem Marina por seu apoio formal.

Em comparação ao primeiro turno, Dilma ganhou até agora 3,1 milhões de votos, e Serra amealhou 10,2 milhões de novos eleitores. Os que trocaram Dilma por Marina na reta final do primeiro turno por motivos religiosos provavelmente já migraram para Serra e dificilmente voltarão para o colo da petista. Pelos números do Datafolha, são principalmente do sexo feminino.

A seu favor, Dilma conta com o eleitorado do Nordeste e dos municípios onde o Bolsa-Família tem mais peso. O programa funciona como uma espécie de paraquedas da petista, lhe fornecendo um piso alto nessa região.

Com dificuldades para crescer no Norte/Nordeste, resta a Serra ampliar sua vantagem no Sul e ganhar votos no Sudeste, principalmente nas maiores cidades, onde se concentra o eleitorado que votou em Marina. É lá que deve ser travada a batalha do segundo turno.

É JORNALISTA ESPECIALIZADO EM PESQUISAS 

JOÃO BOSCO RABELLO

Jogo ficou duro para o PT
JOÃO BOSCO RABELLO 
O Estado de S.Paulo


O segundo turno trouxe vantagens a José Serra e problemas a Dilma Rousseff, o que explica o abatimento da candidata e o clima de prostração na sua base, conforme admitiu o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Do lado tucano, o resultado abriu a campanha aos políticos liderados pelos vitoriosos no primeiro turno, como Aécio Neves, Aloysio Nunes e Jorge Bornhausen - este apontado como um dos fatores da eleição do governador do DEM Raimundo Colombo, em Santa Catarina, onde Lula pediu ao eleitor que "extirpasse" o partido.

O PT luta para levantar o ânimo, mobilizando governadores e estimulando a militância. Mas também já vive o clima de disputa interna com o PMDB que cobra sua exclusão nas decisões de campanha e se vê obrigado a conviver com Ciro Gomes que classificou o partido como "um ajuntamento de assaltantes", chefiados por Michel Temer, o vice da aliança governista.

O que concentra mais a atenção do PSDB agora não é o debate sobre o aborto ou a conquista de Marina Silva, embora sejam importantes, mas os acordos internos, como o compromisso de Serra de não disputar a reeleição, abrindo caminho para Aécio Neves e Geraldo Alckmin em 2014.

Ambos têm força para dar a vitória a Serra em seus colégios eleitorais nos índices idealizados pelo tucano para o primeiro turno, quando a popularidade de Lula impôs um engajamento menor. O cenário indica que Minas já divide com São Paulo o poder político no PSDB.

Faltou sinceridade

Aceitar o debate plebiscitário sobre o aborto foi o grande erro cometido por Dilma Rousseff, na avaliação de políticos e analistas. Refém do sim ou do não, a candidata foi flagrada em contradição, o que se tornou mais importante eleitoralmente que o tema. "A verdade não dá voto, mas a mentira tira", resumiu um experiente político, ao referir-se à afirmação de Dilma de que sempre foi contra o aborto. Para a maioria, no mínimo, a candidata não passou sinceridade ao eleitor.

Ficha Limpa

O Supremo Tribunal Federal tende a concluir o julgamento da lei da Ficha Limpa fazendo prevalecer a decisão do Tribunal Superior Eleitoral pela sua vigência imediata. Mas não será surpresa se um ministro mudar seu voto a favor da lei, que já gerou seus efeitos para a presente eleição.

Sangria eleitoral

No primeiro turno, Dilma Rousseff (PT) resistiu ao uso de sua imagem com o neto Gabriel, no colo, no horário eleitoral. Na ocasião, apenas uma foto registrada pela equipe da campanha foi liberada para divulgação. O critério mudou, porém, com a inserção do tema aborto na pauta eleitoral. A imagem do neto foi ao ar no primeiro programa da candidata no segundo turno, para reforçar o discurso em defesa da vida. O PT se convenceu de que, mais que o escândalo da Casa Civil, o aborto provocou uma sangria na candidatura.

Sem telefone

Do ex-presidente do PSDB, deputado José Aníbal, irritado com o discurso do PT: "Tinha que tirar os celulares deles que ficam reclamando das privatizações".

Concentração

A candidata Dilma Rousseff está desde sexta-feira sob treinamento intensivo para o debate de hoje, o primeiro apenas entre ela e Serra. Com ela, José Eduardo Dutra, Ciro Gomes e o ministro Alexandre Padilha. 

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Geisy conversa com burro! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10


E vão chamar o Plínio pra animar o debate? O Plínio vai apoiar quem? Aliás, EM QUEM ele vai se apoiar?

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Ereções 2010! Hoje tem debatédio na Band! Dilma e Serra! Memeia X Vampiro. Debate só com dois? Isso é jogo de pingue-pongue. Jogo de pingue-pongue no inferno!
Só assisto a debate com a Weslian Roriz! A Tiririca do Cerrado! Será que ela vai se confundir de novo? "Sou a favor de toda essa corrupção." Rarará. Para o debate, ela teve curso rápido de alfabetização. Com o Tiririca! Até o slogan é igual: "Sabe o que faz um governador? Nem eu. Mas meu marido sabe!".
E como se pronuncia Weslian? Acredita no chiclete e enrola a língua: "UÉSLIAN!". E se a dona Roriz não for ao debate? Bota uma laranja no lugar dela! E vão chamar o Plínio pra animar o debate? O Plínio vai apoiar quem? Aliás, EM QUEM o Plínio vai se apoiar? Rarará!
E a "Fazenda 3"? Um programa culturral. Adoro a Geisy da Uniban! Geisy faz amizade com burro. É verdade. Ela passa horas conversando com o burro Amoroso. Já sei, ele também estudou na Uniban. Colega de classe! E sabe o que ela falou pro burro? "Sou eu, sua mãe tá aqui."
E a Monique Evans? Sucessora da Dercy. Só fala palavrão. "Filho da "piii"." "Vá tomar no "pii"." Ela só apita. Mulher Apito. Parece uma chaleira velha. E a drag queen Nany People para a Geisy: "Você conhece a Disney?". "Não." "Mas tem visto?" "Tenho assistido pela TV." Rarará!
E essa onda verde? Tá a fim duma onda verde? Senta no colo do Hulk. Pega no pingolim do Shrek! Rarará.
O BRASIL VIROU O IRÃ! Os aiatolás estão morrendo de inveja! Os candidatos são obrigados a MENTIR, desdizer, fazer o diabo para agradar os grupos religiosos.
A Dilma vai virar barata de igreja e o Serra, um pastor evangélico! O Brasil é um Estado laico dominado pelos religiosos! Os grupos civis não têm mais importância alguma.
Só se fala em aborto! Uma modelo me perguntou: "Aborto é tendência?". O aborto vem com tudo neste verão. Banda do momento: Aborto Elétrico! E um amigo: "Tava indo pra igreja, mas abortei a ideia!".
Padres e pastores evangélicos viraram aiatolás! Os gays que se preparem! Em 2010, o fundamental é ser fundamentalista. O segundo turno avança para o século 19!
O próximo presidente do Brasil será o homem de Neanderthal! Socuerro! Por isso que eu sou católico apostólico baiano: ACREDITO EM TUDO! Menos na cegonha! Chega de hipocrisia! Sexo de noite e sexo de dia! PALMAS! Eu quero palmas!

VINICIUS TORRES FREIRE


Deve no cartão, aplica na poupança 
Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10

País gasta muito para manter reservas em moeda forte, mas não tanto como diz crítico mais sensacionalista

A FIM DE fazer poupança em moeda forte, o governo do Brasil gasta muito dinheiro. No jargão, o "custo de carregamento das reservas internacionais" é muito alto. O país precisa manter um fundo em dólares e equivalentes. Dinheiro na caixinha aumenta a confiança de credores externos na capacidade de pagamento do país e, grosso modo, permite ao país se defender de secas de crédito e outros tumultos financeiros internacionais. Além do mais, acumula reservas porque compra o excesso de dólares (e algo mais) que entra no país. O objetivo seria o de evitar excessiva valorização do real (esforço que tem sido infrutífero).
Qual o problema das reservas do Brasil, que ora equivalem a US$ 279 bilhões? "No popular", o Brasil tem dívidas que pagam juros como os do cartão de crédito ou os do cheque especial, mas, no entanto, aplica algum dinheiro na poupança, com seus juros irrisórios. "Na ponta", atualmente, o Tesouro paga 10,75% por ano para tomar o dinheiro emprestado necessário para "comprar" as reservas internacionais, as quais, porém, rendem menos de 1% ao ano (os juros no mundo rico por ora estão no chão). Essa diferença custou algo entre 1% e 1,2% do PIB, no acumulado dos últimos 12 meses.
Não é conveniente nem possível, claro, que o Brasil se desfaça das reservas. Agora Inês é morta ou está linda, posta em repouso no "cofre". Mas discute-se muito se o país precisa de mais reservas.
Uma economista do Bradesco, Andréa Damico, estima, em relatório do banco, que o nível ótimo de reservas seria aquele registrado imediatamente antes da explosão da crise financeira mundial, em setembro de 2008 -US$ 225 bilhões. Com esse dinheiro no caixa, o Brasil conseguiu enfrentar o maior tumulto financeiro em mais de 70 anos.
Damico estima que, ao final de 2010, o custo total de manter as reservas seria de 1,4% do PIB. Parte desse custo, porém, é inevitável: o de manter um nível seguro de poupança em moeda forte, aqueles US$ 225 bilhões. O custo "evitável", o referente ao "excesso" de reservas, seria de 0,27% do PIB. Ainda é brutal, mas um número que deveria atenuar críticas mais sensacionalistas.
Os críticos, porém, têm razão ao dizer que tal custo pode ser reduzido. Caso o governo gaste menos, a taxa de juros doméstica tende a cair. Por um lado, seria reduzido o "prejuízo" devido à diferença entre juros domésticos e externos. Por outro, juros mais baixos tendem a limitar a torrente de dólares que entra no país -seria preciso comprar menos dólares para as reservas.


Mega-Sena: quem quer dinheiro?
O afortunado morador de Fontoura Xavier (RS) que levou os R$ 119 milhões na Mega-Sena de quarta-feira passada colocou o dinheiro na caderneta de poupança.
A ideia não é lá muito afortunada. Se emprestasse o dinheiro ao governo, ganharia muito mais. Trata-se do investimento mais seguro do país e um dos mais rentáveis daqui, do mundo e do aglomerado local de galáxias.
Como não o fez, pelo menos por ora, o sortudo está deixando de ganhar uns R$ 4 milhões por ano, descontada a inflação. Isso é dinheiro até para políticos que passam temporadas no hotel da Polícia Federal.
Nota aleatória-astrológica: Dilma Rousseff (PT) foi a candidata mais votada pelos munícipes de Fontoura Xavier.

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CLÓVIS ROSSI

Emoções mais fortes, enfim 
Clóvis Rossi
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/10/10


SÃO PAULO - Marquei minhas férias para a partir da semana que vem, no pressuposto de que a eleição seria liquidada no primeiro turno, com a vitória de Dilma Rousseff. Errei, portanto, o que o leitor atento já terá percebido, dado que pus no papel o meu palpite, como sempre faço.
Esse erro até me perdoo, porque na reta final da campanha entrou o imponderável, na forma de escândalos de vários calibres e da intrigalhada em torno do aborto. É razoável supor que esses fatores tenham contido a onda Dilma.
O erro mais grave, no entanto, é outro: acreditar que, no segundo turno, Dilma daria um passeio. A pesquisa Datafolha que sai hoje mostra que não é bem assim. Continua favorita, continua à frente, fora da margem de erro, mas a evolução dos dois finalistas é bem diferente: em votos válidos, Dilma subiu apenas 15% (dos praticamente 47% que obteve no primeiro turno para os 54% da pesquisa).
Já José Serra deu um salto de 44%, batendo em 47% contra apenas 32,61% nas urnas.
Uma primeira explicação, também presente na pesquisa, está dada pela maior porcentagem de eleitores de Marina que estão preferindo Serra (51% contra apenas 22% que cravam Dilma).
Mas é uma explicação insatisfatória: metade dos quase 20% que Marina teve dá apenas 10%, quando Serra cresceu 44%.
Talvez continue valendo o que "El País" e "Le Monde" escreveram sobre o primeiro turno: o eleitorado recusou-se a dar um cheque em branco a Lula. Ou, então, o poder de transferência de votos de Lula para Dilma bateu no teto. Ainda é suficiente para lhe dar a vitória, mas vai ter que suar a camisa bem mais do que o padrinho imaginava.
Saio de férias arrependido por perder emoções mais fortes que antevistas e torcendo para que ambos os candidatos tirem Deus da campanha. Ele não merece.