sábado, setembro 25, 2010

REVISTA VEJA - O SEGREDO DO LOBISTA

Os segredos do lobista

Diego Escosteguy e Rodrigo Rangel
REVISTA VEJA
Personagem-chave na central de corrupção da Casa Civil, o ex-diretor dos Correios Marco Antônio de Oliveira admite que cabia a ele prospectar clientes para o esquema e que ‘era tudo uma roubalheira”. Para receber propina, ele indicava contas secretas do genro em Hong Kong
Diego Escosteguy e Rodrigo Rangel
Olhando nervosamente para os lados, Marco Antônio de Oliveira, ex-diretor dos Correios e discreto lobista do grupo que tomou de assalto a Presidência da República, inclina-se na cadeira, aproxima-se do interlocutor e sentencia a meia voz: “A Casa Civil virou uma roubalheira”.
Marco Antônio é tio de Vinícius Castro, o ex-assessor da Casa Civil que, ao encontrar 200 mil reais em propina em sua gaveta na Presidência, exclamou: “Caraca! Que dinheiro é esse?”.
Embora desconhecido do grande público, trata-se de um personagem influente no governo Lula. Já foi diretor da Infraero no primeiro mandato do petista, quando a estatal reluzia no noticiário policial, e, desde 2008, ocupava a estratégica Diretoria de Operações dos Correios. Em ambos os cargos, sempre conviveu com acusações de malfeitorias.
A relativa má fama nunca foi obstáculo para que ele mantivesse uma inexplicável proximidade com a cúpula do governo Lula – proximidade que se revelava em conversas freqüentes com próceres da administração petista, como o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Também eram recorrentes os encontros no apartamento funcional de Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, quando ela era braço-direito da candidata petista Dilma Rousseff.
Marco Antônio, o tio, e Vinícius Castro, o sobrinho, integram, numa rentável associação com outra família, a Guerra, a turma que, até recentemente, fazia e acontecia na Casa Civil.
Conforme revelou VEJA em suas duas últimas edições, esse grupo – cujo poder de barganha provinha da força política da agora ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e de sua ex-chefe, Dilma Rousseff – montou uma central de negócios dentro do Palácio do Planalto, com atuação conhecida nos Correios, no BNDES, na ANAC, na Anatel e na Infraero.
Participavam também Israel Guerra, um dos filhos da ex-ministra, familiares dela e Stevan Knezevic, outro assessor da Casa Civil. Todos caíram – ou quase todos. Marcelo Moreto, um soldado-raso da turma, continua com um carguinho na Presidência.
“Essa roubalheira levou minha família à ruína”, admite Marco Antônio, em conversas gravadas com a reportagem no Rio de Janeiro e em Brasília. O lobista Marco Antônio, como se nota, é um homem amargurado, disposto, talvez, a usar as informações que dispõe para se vingar das tais pessoas que levaram sua família à ruína.
Ele guarda muitos segredos -- alguns já revelados e confirmados pelos fatos, como a participação da ex-ministra Erenice Guerra e seu filho em achaques a empresários que pretendiam ganhar contratos no governo.
Marco Antônio também é um personagem-chave para esclarecer uma grande interrogação que ainda existe desde o início do escândalo: a suspeita de que os dividendos resultantes das traficâncias da Casa Civil também abasteciam o caixa da campanha do PT.
Todos os episódios de lobby conhecidos até o momento tiveram o ex-diretor dos Correios, um confesso “prospectador de clientes”, como facilitador.
Em todos eles também surgiram versões segundo as quais parte do dinheiro captado pela família Guerra e seus sócios serviria ora para saldar “compromissos políticos”, ora “para a campanha de Dilma Rousseff”.
Ao menos foi isso o que afirmaram os empresários Fábio Baracat e Rubnei Quícoli. Baracat, em entrevista a VEJA e em depoimento à Polícia Federal na última quinta-feira, contou que pagou propina ao grupo para resolver pendências da MTA Linhas Aéreas junto a ANAC e a Infraero – e também para conseguir mais contratos dessa empresa com os Correios, sempre sob os cuidados da diretoria comandada precisamente por Marco Antônio.
Quícoli, por sua vez, ainda vai depor. Sua história embute uma acusação extremamente grave. Ele agia em favor da empresa ERDB, que contratou o grupo da Casa Civil para tentar obter um financiamento no BNDES.
Na semana passada, em entrevista a VEJA, Quícoli voltou a acusar Erenice, seu filho e o lobista Marco Antônio de exigirem 5 milhões de reais para a campanha presidencial de Dilma Rousseff e de Hélio Costa, candidato do PMDB ao governo de Minas Gerais.
Na semana passada, VEJA investigou as circunstâncias dessas tratativas – e descobriu que elas não se restringiram a um simples, isolado e despretensioso pedido de doação para campanha. Em entrevistas gravadas com os principais personagens desse episódio, a reportagem confirmou que houve reuniões sigilosas entre as partes envolvidas, viagens internacionais para tratar dos acertos e até mesmo trocas de emails com detalhes financeiros da negociata. Ou seja: foram cumpridas todas as etapas comuns a esse tipo de negociata.
O caso começa em outubro do ano passado, quando o lobista Rubnei Quícoli aproximou-se da turma de Erenice Guerra, em busca do “apoio político” para assegurar a liberação de um empréstimo no BNDES. Marco Antônio confirmou a aproximação.
Após as primeiras conversas, conta Quícoli, surgiu a fatura. As duas famílias exigiam o pagamento de 40. 000 mensais, uma taxa de sucesso e, de quebra, o tal bônus antecipado de 5 milhões de reais: “O Marco Antônio disse que tinha que entregar o dinheiro na mão da Erenice, pois ela precisava pagar umas contas da Dilma e também pretendia também ajudar o Hélio Costa”. Quícoli afirma que Marco Antonio não precisou que espécie de “contas” Dilma precisaria quitar.
Naquele momento, em meados de maio deste ano, as negociações emperraram, em razão de divergências quanto ao modo de pagamento dos 5 milhões. Primeiro, os lobistas queriam receber em dinheiro vivo – ou na conta da empresa Sinergy no Banco do Brasil. A Sinergy é uma das engrenagens financeiras da turma. Está em nome de um primo de Marco Antônio.
Temeroso de que um depósito numa pequena firma de consultoria fosse chamar demasiada atenção, Quícoli pediu uma alternativa. Marco Antonio ofereceu uma opção mais discreta: a propina deveria ser depositada diretamente em contas no exterior – e indicou duas em Hong Kong, ambas pertencentes ao empresário Roberto Ribeiro.
Dono de uma locadora de carros e de uma fábrica de cigarros, Roberto Ribeiro é genro do lobista Marco Antônio e mora em Miami, nos Estados Unidos. Para convencer Quícoli de que a transação era segura, Marco Antônio fez o genro vir ao Brasil.
Os três reuniram-se no hotel Intercontinental da Alameda Santos, em São Paulo, na tarde do último dia 12 de junho, um sábado. Em uma hora e meia de negociação, Marco Antônio e o genro acalmaram Quícoli: “Eles tentaram me convencer de que não haveria problema em usar aquelas contas”.
Procurado por VEJA, o empresário Roberto Ribeiro confirmou que veio ao Brasil e se encontrou no hotel com o sogro e o lobista Quícoli. Mas apresentou uma versão para lá de estranha: “Quícoli me foi apresentado pelo Marco Antonio. Ele disse que Quícoli possuía dinheiro no exterior e poderia investir nas minhas empresas. Nada se falou sobre dinheiro de campanha”.
E por que diabos ele enviara os dados das contas antes mesmo do encontro? “Quícoli disse que tinha dinheiro em contas na Ásia, e que precisava me pagar por lá. As contas pertencem a parceiros comerciais meus”.
Fica evidente, portanto, que alguém está mentindo. Ou as contas seriam efetivamente o canal para o pagamento da propina, como acusa o lobista Quícoli, ou serviriam para uma transação sem qualquer nexo financeiro. Todas as evidências convergem para a primeira alternativa.
O pagamento, aparentemente, acabou não sendo feito – e ninguém apresenta explicações razoáveis para isso. Quícoli se limita a afirmar que “não quis pagar propina”, mas assegura: “Marco Antônio disse que era só depositar o dinheiro que tudo daria certo”.
Marco Antônio, é claro, diz que nem cobrou. Ao fim, seria mais um caso de negociata que não deu certo? É cedo para saber. Quícoli está longe de ser um sujeito probo – já foi condenado por receptação de moeda falsa e por ocultar carga roubada.
Todos os elementos que ele apresentou até o momento, porém, confirmaram-se. Frise-se também que ainda não se sabe se o lobista Marco Antônio usava o nome de Dilma e de Erenice com o consentimento delas. Ambas negam.
Reconheça-se que existe a hipótese de que ele tenha vendido o nome delas para fazer negócios próprios. Caberá às autoridades averiguar isso.
É inegável, contudo, que o ex-diretor dos Correios detinha estatura política e proximidade com o governo para fazer esse tipo de pedido heterodoxo sem se passar por louco.
Além dos importantes cargos que ocupou, Marco Antônio era de tal modo próximo à Presidência que, logo após deixar os Correios, em maio deste ano, foi levado pelo ministro Paulo Bernardo ao Palácio da Alvorada, para conversar com o presidente Lula. No encontro, segundo Marco Antônio, Lula discutiu a possibilidade de que o leal funcionário viesse a ocupar a presidência da Infraero num possível governo Dilma.
A candidata, aliás, pediu a ele que, informalmente, fizesse estudos para acompanhar a viabilidade do projeto do trem-bala. Erenice é amiga da esposa do ex-diretor, a ponto de visitá-la frequentemente.
À PF, Marco Antonio também pode fornecer preciosas pistas sobre a compra do remédio Tamiflu. Conforme revelou VEJA na semana passada, Vinícius Castro admitiu ter recebido 200 mil reais de propina, dentro da Presidência, em razão dos contratos fechados pelo governo sem licitação com o laboratório Roche, que fabrica o remédio.
Vinícius narrou ao tio que a malfeitoria estava na quantidade de Tamiflu que o governo adquiriu. Diz Marco Antônio: “Compraram Tamiflu demais. Ninguém compra milhões em remédio sem contrapartida. Houve rolo. O Vinícius me contou: ‘Eu vi ‘A’ recebendo, ‘B’ recebendo, ‘C’ recebendo”. Ele viu a distribuição, um entregando envelope para o outro”.
Para quem ainda se assombra com desfaçatez, o ex-diretor dos Correios explica o sentido do ato: “É preciso entender como funciona corrupção em repartição pública. Se o camarada que está perto de você recebe, você tem que receber também. Essa é a regra”.
Segundo o tio, Vinícius cedeu gostosamente à chantagem, embora tenha manifestado alguma preocupação. “Uma vez o Vinícius veio me pedir conselhos, temendo que a compra do Tamiflu desse problema. Descobri depois que esse dinheiro do Tamiflu foi operado pelo marido da Erenice (o engenheiro José Roberto Camargo Campos). Lá atrás eu alertei o Vinícius que esse Tamiflu iria dar m... Disse a ele: ‘É melhor você sair desse assunto’”, afirma o ex-diretor.
Na semana passada, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, indicado pelo PMDB, negou saber de qualquer irregularidade, cuja possibilidade de ocorrer, segundo ele, seria nula, pois o Tamiflu é o único medicamento disponível no mundo para o tratamento da gripe suína. Sendo assim, não haveria brechas para interessados em fazer lobby. A compra se daria de qualquer maneira.
Caberá ao lobista Marco Antonio esclarecer os limites do que qualifica de “roubalheira”, seja a da Casa Civil, a da família Guerra ou algum elo comum entre elas.
BLOG DO NOBLAT

CABARÉ

MERVAL PEREIRA

Limites 
Merval Pereira
O GLOBO - 25/09/10


A pesquisa do Ibope divulgada ontem pelo "Jornal Nacional" confirma a tendência de redução da diferença entre a líder, Dilma Rousseff, e seus mais próximos competidores, o tucano José Serra e a verde Marina Silva. Pelo Ibope, essa redução está se dando mais pela definição dos indecisos em favor deles do que de uma queda da candidata oficial, o que significa que esse movimento não é suficiente para impedir que Dilma vença no primeiro turno.

Mas essa quebra de rotina das últimas pesquisas mostra que pelo menos alguma coisa se move na disputa eleitoral, e que os candidatos oposicionistas estão sendo capazes de produzir mais fatos do que a governista nesta reta final.

Principalmente Marina, que está recolhendo apoios simbólicos importantes, como o do senador Pedro Simon, do PMDB independente, e a da modelo internacional Gisele Bündchen.

Serra tenta reforçar sua presença em Minas e em São Paulo, os dois estados governados por tucanos que teoricamente deveriam dar a ele uma dianteira que permitisse partir para a disputa eleitoral com uma vantagem importante.

Não é o que está acontecendo, embora nas últimas horas a vitória de Dilma em São Paulo pareça estar se diluindo.

Em Minas, prevalece o voto Dilmasia (Dilma e Anastasia), mas o apoio ontem, em Diamantina, do ex-presidente Itamar Franco é simbólico de uma distensão na política mineira que pode, num eventual segundo turno, reverter o quadro naquele estado.

Itamar, que caminha para se eleger senador pelo PPS, simbolizava a resistência mineira à supremacia paulista na política brasileira.

Enfim, a política está tendo lugar nesta campanha eleitoral e por uma decisão equivocada, para o seu objetivo político, do próprio presidente Lula.

Ele quebrou o marasmo que predominava na campanha para sair em ataque aos meios de comunicação e aos adversários eleitorais, na tentativa de neutralizar os estragos que a crise com a demissão da ministra Erenice Guerra da chefia da Casa Civil poderia provocar na candidatura de sua escolhida.

Completamente sem limites, Lula foi pulando de palanque em palanque, ora anunciando a determinação de "extirpar" o DEM, ora tentando insuflar o povo contra o que chamam de "mídia" ou "grande imprensa", que estaria conspirando contra o seu governo.

O partido oposicionista tem sido uma barreira no Senado contra as ações governistas, e foi o protagonista da maior derrota pessoal de Lula, a derrubada da CPMF, que ele nunca engoliu.

Uma tarefa a que Lula se dedica nessa campanha é tentar impedir que políticos como os senadores Agripino Maia e Marco Maciel, do DEM, voltem a ter uma cadeira no Senado.

Pode conseguir o intento em alguns estados, em outros será derrotado.

Mas a sua desenvoltura em assumir a posição de cabo eleitoral de uma candidata - situação que ele mesmo já ironizou, menosprezando as críticas à sua atuação - e os ataques diretos aos meios de comunicação provocaram reações radicalizadas em seu próprio grupo, e geraram reação contrária na sociedade.

Estimulados pela agressividade do chefe, logo centrais sindicais, ONGs, partidos políticos e entidades que servem como correia de transmissão do governo como a UNE convocaram uma manifestação contra um suposto "golpe midiático" que teria o objetivo de impedir a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno.

A reação da sociedade veio imediatamente, e hoje já são mais de 30 mil assinaturas - e segue aumentando a adesão pela internet - ao manifesto de intelectuais, políticos e representantes da sociedade civil contra o "autoritarismo" do governo, que trata adversários políticos como inimigos e os meios de comunicação como partidos políticos de oposição.

A arrogância de se anunciar a própria "opinião pública" mostra a que ponto chegou a megalomania do presidente Lula.

Na mesma quinta-feira em que se anunciava a manifestação de sindicatos "pelegos" contra a liberdade de expressão, participei no Clube Militar do Rio, em companhia de Reinaldo Azevedo e de um representante da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), de um painel sobre as ameaças à liberdade de expressão.

O único tumulto havido foi provocado por um pequeno grupo de manifestantes em frente ao Clube Militar, protestando contra o que classificavam de "hipocrisia" dos militares defendendo a democracia.

Na sala lotada, não houve uma só manifestação de radicalização política, e o consenso foi de que é preciso ficar atento permanentemente às tentativas do governo de controlar os meios de comunicação, seja através de projetos que criem conselhos cuja função específica seria tutelar a imprensa, seja através de constrangimentos comerciais que criem problemas financeiros às empresas jornalísticas independentes.

Ao mesmo tempo, o governo monta a sua sombra e à custa do erário público uma cadeia de blogs e de jornais e televisões, inclusive a estatal, para garantir um noticiário favorável a suas ações.

Como tenho escrito aqui na coluna desde os primeiros movimentos do governo no sentido de controlar a produção jornalística e cultural no país, é a sociedade que dá os limites aos avanços do PT.

Foi o que aconteceu também dessa vez. Diante da péssima repercussão que tiveram as críticas do presidente Lula e a manifestação contra a liberdade de imprensa promovida por sindicatos "pelegos", o governo refluiu nos seus ataques.

A reunião paulista acabou se realizando a portas fechadas no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, esvaziada de sua representatividade pela ausência de dirigentes partidários ou sindicais de peso, e já há movimentos dentro do governo para convencer o presidente Lula de que suas críticas estão provocando um ambiente de tensão política que, em última análise, não é bom para sua candidata.

O que mais Dilma quer, para usarmos a metáfora futebolística tão ao gosto do nosso presidente, é, a esta altura do campeonato, não entrar em bola divida e deixar o tempo correr para manter a vantagem que já conseguiu.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Encastelado
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/09/10

Com o julgamento da Lei da Ficha Limpa comprometido pela retirada da candidatura de Joaquim Roriz (PSC-DF), o Supremo Tribunal Federal enfrenta a ressaca de dois longos dias de votação que deram em nada e expuseram não apenas a divisão do tribunal como a falta de liderança do presidente, Cezar Peluso.
Ministros atribuem a Peluso boa parte da responsabilidade pelo placar de 5 a 5, que deixou o assunto em suspenso a uma semana da eleição. Há quem chame de "blefe" o movimento do presidente, já durante a leitura do primeiro voto, para descartar a lei como um todo sob a alegação de falha do Congresso.

Desandou Para colegas, o gesto de Peluso teria contribuído para impedir a construção de uma maioria.
Será? Alguns acham que o STF ainda poderia, na próxima semana, chegar a uma espécie de aval conjunto, definido em reunião administrativa, para que Peluso dê o "voto de minerva". Ele o usaria para endossar a tese, defendida pelo TSE, de que a Ficha Limpa vale este ano.
Salada de frutas Frase colhida ontem no Twitter: "Nesta eleição já tinha a Mulher Pêra, a Mulher Melancia e a Mulher Melão. Agora o Roriz acaba de inventar a Mulher Laranja".
Como? Petistas admitem que Dilma Rousseff escorregou na resposta sobre o aborto no debate da CNBB. Depois de dizer que, pessoalmente, não é favorável ao aborto, encerrou: "Considero também que a legislação vigente já prevê os casos em que o aborto é factível. E não, não, não sei se acho que seria necessário ampliar estes casos. Não vejo muito sentido."
Triunvirato Remanescentes do que se convencionou a chamar de "turma da Dilma", o ex-prefeito de BH Fernando Pimentel, o ex-assessor da Casa Civil Giles Azevedo e Alessandro Teixeira, da Apex, se reuniram no início da semana. Na pauta, o futuro em caso de vitória.

MPB Versão adaptada de "Brasil Pandeiro", composição de Assis Valente imortalizada pelos Novos Baianos, embala a partir de hoje a propaganda de José Serra na TV com o refrão: "Brasil, pra cuidar da nossa gente vou de Serra presidente".
Reciclagem Só 190 das 423 zonas eleitorais do Estado de São Paulo contarão no dia 3 com os novos modelos de urnas eletrônicas recém-entregues à Justiça. O TRE reaproveitará versões produzidas em 2000, 2004 e 2008 em 45 mil seções de votação.
Corrida Houve preocupação em cartórios porque parte dos equipamentos remanejados só chegou esta semana para recarga e lacre. A empresa contratada pelo TSE concluiu a produção do último lote de máquinas novas na segunda. Cada urna custou R$ 1.100 e está equipada com sistema pioneiro de transmissão de dados.
No papel A Imprensa Oficial de SP produziu 13,8 milhões de cédulas que serão usadas na eleição nos casos de panes em urnas. Detalhe: também foram impressas 4,8 milhões para um eventual segundo turno.
Recado dado A cúpula do PMDB é só sorrisos: depois de tudo o que se disse a respeito da reputação do partido, peemedebistas se regozijam de não terem dado trabalho à campanha de Dilma.
Ingratidão A adesão de deputados do PMDB paulista à presidenciável do PT irritou os tucanos, que identificam nos materiais de propaganda dos "neodilmistas" obras afiançadas por José Serra (PSDB) quando governador.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
tiroteio

"Estabeleceu-se uma instabilidade jurídica tal que um homem que já foi quatro vezes governador desistiu de concorrer."
DO ADVOGADO ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, a respeito do impasse noSupremo Tribunal Federal em torno da aplicabilidade da Lei da Ficha Limpa já nas eleições deste ano e da consequente retirada da candidatura de Joaquim Roriz (PSC-DF), que escalou a mulher para substituí-lo.
contraponto

Homens de branco
Na plateia do debate Folha/Rede TV! entre os candidatos à Presidência da República, duas semanas atrás, Geraldo Alckmin (PSDB) e Arlindo Chinaglia (PT) se cumprimentaram efusivamente. Diante da reação de surpresa de seus respectivos correligionários, ambos trataram de se explicar. Chinaglia, radiologista de formação, foi o primeiro:
-Somos amigos, independentemente de cores políticas.
Alckmin, anestesista, procurou relativizar:
-Foi abraço de médico pra médico, coisa de colegas...

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


A imprensa no pós-Lula
EDITORIAL
O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/09/10

O presidente Lula interrompeu a sucessão de pesados ataques aos meios de comunicação. Não que tenha mudado a sua peculiar visão do que seja a liberdade de imprensa - para ele, sinônimo de "informar corretamente", deixando implícito que se considera juiz, como governante, não como leitor, do que possa ser informação correta e o seu oposto. Mas mudou de tom. Numa longa entrevista ao portal Terra, divulgada na quinta-feira, Lula trocou a agressão pela crítica civilizada. Refutou as acusações de autoritarismo que se seguiram aos seus canhonaços e disse duvidar que exista um país com mais liberdade de comunicação do que o Brasil, "da parte do governo".

Esquece-se convenientemente de que o Planalto patrocinou em 2004 o projeto do Conselho Federal de Jornalismo que pretendia "orientar, fiscalizar e disciplinar" a atividade de informar. Diante da vigorosa reação da sociedade, o governo deixou a proposta morrer. De todo modo, a imprensa brasileira é hoje tão livre como era no primeiro dia de Lula presidente. Quando não é, como no caso da censura prévia imposta a este jornal, o problema se origina no Judiciário. A questão suscitada por algumas das afirmações de Lula na mencionada entrevista diz respeito ao futuro, dependendo de quem der as cartas nesse jogo, na hipótese de eleição da candidata Dilma Rousseff.
Disse o presidente que "duas ou três famílias são donas dos canais de televisão, e as mesmas são donas das rádios e donas dos jornais". (Nem por isso ele exprime desconforto com o fato de que o patriarca de uma dessas famílias é o seu dileto aliado José Sarney.) Disse também, embora não tivesse empregado o termo, que a propriedade cruzada dos meios de comunicação terá de ser revista no próximo governo, ou nos próximos governos, quando o Congresso deverá inexoravelmente estabelecer um novo marco regulatório do setor de telecomunicações. "Discutir isso", ressaltou, "é uma necessidade da nação brasileira." De pleno acordo. Não é de hoje que o Estado critica a concentração da propriedade na mídia e as facilidades para que um punhado de grupos econômicos controle, numa mesma praça, emissoras e publicações.
Ocorre que a exortação de Lula não pode ser dissociada das investidas petistas contra a autonomia da produção jornalística. Em circunstâncias normais, a preocupação manifestada pelo presidente seria salutar e merecedora de apoio. Mas ela pode ser tudo menos isso. É como na Argentina. Há pouco tempo, o governo da presidente Cristina Kirchner fez o Congresso aprovar uma Lei de Meios, a qual, tomada pelo valor de face, se destinaria a coibir a formação de conglomerados de comunicação, abrangendo, além das modalidades tradicionais, serviços de internet, TV a cabo e telefonia. Mas, ao dotar o governo de amplos poderes para intervir no setor, esse marco regulatório tem o claro propósito de dar à Casa Rosada poder para premiar a imprensa complacente e asfixiar aquela que ainda não desertou de suas funções de fiscalização e crítica
Imaginem-se, portanto, os riscos de que um Congresso dominado pela coalizão lulista - e sob pressão dos "movimentos populares" atrelados ao PT - venha a impor uma legislação semelhante à do país vizinho, com o mesmo fim. Não se trata de fantasia. O ambiente para tal vem sendo laboriosamente construído pelos garroteadores em potencial da mídia. Entre um golpe de borduna e outro do presidente, por exemplo, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cujas ambições partidárias no pós-Lula são amplamente conhecidas, aparece falando em "abuso do poder de informar" - uma óbvia senha para a companheirada. Seria o cúmulo da ingenuidade não ligar os pontos dessa urdidura.
O único dado alentador, no momento, foram as declarações de Dilma em defesa da liberdade de imprensa. A candidata não só tornou a repetir a boutade de que o único controle social da mídia que aprova é o controle remoto do televisor, como prometeu que, se eleita, não tentará impedir que a imprensa fale dela o que bem entender. "No máximo", antecipou, "vou dizer: está errado, por isso, por isso e por isso." É esperar que a sua posição prevaleça, se ela for a próxima presidente - que esperamos que não aconteça. 

MÔNICA BERGAMO

GISELE NA URNA ELEITORAL
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/09/10


A top Gisele Bündchen no Metropolitan Museum, em NY 

Gisele Bündchen participou, anteontem, do evento da BrazilFoundation encabeçado por Nizan Guanaes, em Nova York. As mesas no Metropolitan chegavam a custar US$ 150 mil (cerca de R$ 257 mil), com arrecadação direcionada a projetos sociais. Ela falou à correspondenteCristina Fibe: 

Folha - Vai ao Brasil votar? 
Gisele Bündchen - Não posso abandonar meu filho. Vou votar aqui. 
Você está acompanhando as campanhas?Em quem você acha que eu vou votar? 
Acho que você vai anular.Não. 
Dilma?[Gisele faz que não com a cabeça]. 
Marina Silva.É claro que eu vooou! Cada um vota em quem quer, né? 
Por que a Marina?Ela é uma mulher que me parece ter muita integridade. Está com o foco no lugar certo. Mostrou, quando estava no governo, que ela tinha uma missão e estava atrás das coisas. Ela foi pressionada e estava numa posição onde podia... Eu sei que é difícil, porque as pessoas não estão com a mente aberta pra isso ainda, mas... Não me interessa, tenho que votar em quem eu acredito e eu acredito na filosofia dela. Eu acho que ela, na minha opinião... [a irmã, Patrícia, interrompe e pergunta se o voto não é secreto. Gisele dá uma olhada para ela e continua] É minha favorita, mas cada um tem a sua opinião.

MANCHA ROSÉ 

Um acidente manchou -literalmente- a exposição de vestidos do estilista Clodovil Hernandes, morto em 2009, na noite de anteontem, em Brasília. Um convidado fez um gesto brusco e esbarrou em um garçom, que acabou derramando espumante rosé direto em uma peça de tafetá de seda pérola com rendas e bolinhas pretas, datado dos anos 70. Uma restauradora têxtil foi acionada para avaliar o estrago e as chances de reparo. 

CLODOVIL SEGURADO 
A assessoria do Park Shopping, onde ocorre a exposição, diz que o dano é coberto pelo seguro. A mostra, que vai até o dia 12, tem mais de 20 peças, além de dois óculos, um chapéu de crochê e dois quadros de Clodovil. 

QUASE TUDO EM CASA 
O presidente Lula pretendia fazer na esplanada do Paço Municipal de São Bernardo o último comício da campanha, no dia 30. Desistiu, porque, como o espaço é a sede da prefeitura local, do petista Luiz Marinho, sua utilização poderia configurar uso da máquina. O ato, que terá Lula, mas não Dilma Rousseff (que estará no debate da TV Globo), será no bairro Assunção, onde fica a zona eleitoral do presidente. 

CALÇADÃO 
A presidenciável Marina Silva, do PV, vai encerrar sua campanha com uma caminhada no Rio, no dia 2 de outubro. Na véspera, faz evento semelhante em São Paulo. 

ALÉM DA OBRA 
O livro "Cegueira, um Ensaio", do cineasta Fernando Meirelles sobre os bastidores do filme "Ensaio sobre a Cegueira", terá um texto inédito do escritor José Saramago, morto em junho, e, anexado, o roteiro do longa como os atores receberam, em folhas sulfite e grampeado. A capa da obra será em braille. 

DEGELO 
Ficou para 25 de outubro o lançamento do site oficial do jogador Neymar, adiado em função da queda do treinador Dorival Júnior. 
MISTURA COLOMBIANA 
Ana Maria Braga, Daniela Mercury, Regina Duarte, Victor Fasano, Christiane Torloni, Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli integram a comitiva que acompanhará o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Colômbia, em outubro. FHC dará a palestra "Democracia, Relações Políticas e Econômicas para Sustentabilidade da América Latina" em Cartagena, no dia 11, a convite do Grupo de Líderes Empresariais (Lide). 

PANETONE 
Camila Bauducco Nunes, herdeira da indústria de alimentos que leva seu sobrenome, vai se casar no dia 9 de abril de 2011 com o advogado Luiz Piccini. A cerimônia será para 700 convidados na igreja Nossa Senhora do Brasil e a recepção, no Leopolldo. Para trocar dicas sobre casamentos, ela fez o blog www.sayido.com.br. 

LUAR DO SERTÃO 

A TV Globo fez festa anteontem em São Paulo para lançar a nova novela das seis, "Araguaia", escrita por Walther Negrão. Entre os convidados, o trio de protagonistas, Cleo Pires, Murilo Rosa e Milena Toscano, e o ator Lima Duarte. A trama estreia na segunda-feira.

CURTO-CIRCUITO
A Track&Field inaugura sua primeira loja infantil na terça, na rua Melo Alves. 
Luana Piovani será DJ da festa Gambiarra, amanhã, às 23h, no Open Bar Club, em Pinheiros. 18 anos. 
Mariana Belém faz show hoje, às 22h, no Ao Vivo Music. Classificação etária: 18 anos. 
Márcio Toledo, presidente do Jockey Club, comemora aniversário amanhã, no local. 
Lucrecia Zappi lança o livro "Mil Folhas", hoje, a partir das 15h, na Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim. 
A Confederação Brasileira de Hipismo patrocina a ida de suas equipes para os Jogos Equestres Mundiais nos EUA. 

RUTH DE AQUINO

A Marina do dedo verde
RUTH DE AQUINO
revista época
Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Quando ela fala, veias caudalosas se projetam no pescoço. Marina Silva tem uma voz arranhada, que parece emergir com esforço de sua figura esguia. Com essa voz não treinada, que vem de dentro, Marina foi a candidata, nesta campanha de cartas marcadas, que soube projetar melhor, com inteligência e ironia fina, suas palavras. Talvez porque fossem palavras dela e de mais ninguém. Não mais do mesmo, não o vale-tudo de quem dá mais salário mínimo, 13o de Bolsa Família, ou empregos para a parentalha.
O título deste artigo é uma alusão a O menino do dedo verde, livro infantojuvenil escrito pelo francês Maurice Druon, em 1957, e adaptado para desenho animado. O protagonista, Tistou, tinha um dom: onde colocava o dedo, nasciam flores. O menino conhece a miséria, a prisão e os hospitais. Decide alegrar esses ambientes. E, ao colocar o dedo no presídio, nascem tantas flores que as portas da prisão não fecham mais. Mas os presos não fogem porque o mundo havia mudado para melhor.
Trata-se de uma fábula. Mas, como a realidade desta campanha eleitoral anda difícil de engolir, fantasias são bem-vindas. Na reta final, uma marola verde se torna onda e atrai desiludidos. Marina, que já se apresentou como a “outra Silva” e a “primeira candidata negra à Presidência”, abandonou os slogans que empobreciam seu discurso para colocar o dedo verde nas feridas do país.
Não por acaso a candidata do PV foi quem mais se beneficiou dessa língua malcheirosa que escorre da Casa Civil de Lula. Após as denúncias de corrupção e tráfico de influência do braço direito de Dilma Rousseff, as pesquisas mostram uns pontinhos a mais para Marina. Era previsto. Essa acriana evangélica, com quatro filhos e coque austero, é a única novidade. Suas reflexões sobre o Brasil e os adversários têm um carimbo de franqueza, sem arrogância. Concordando ou não com ela, somos compelidos a escutá-la.
A candidata do PV foi quem mais se beneficiou da língua malcheirosa que escorre da Casa Civil de Lula
Suas frases de muito efeito ecoaram em cabeças pensantes e na juventude. Seguem-se algumas delas: “Lula e Dilma infantilizam o eleitor brasileiro com essa história de pai e mãe”. “É possível perder ganhando e ganhar perdendo.” “Serra e Dilma são inteiramente parecidos porque defendem um modelo de desenvolvimento do século XX.” “O Brasil não precisa de um gerentão” (referindo-se a Dilma). “Meus adversários criam duas novelas: numa, o Brasil é todo azul, na outra é cor-de- rosa.” Marina se diz contra “o ‘promessômetro’ para ganhar simpatia”. Quer acabar com o “voto por gratidão” e criar o “voto cidadão”. Difícil, inviável, dirão, mas há um componente de sedução em sua fala.
Na semana passada, depois que Lula proclamou, em mais um comício – “Nós somos a opinião pública” –, a menina do dedo verde reagiu: “Eu acredito na liberdade de imprensa. Acho que o presidente fez uma crítica à imprensa que é contraditória com toda a sua trajetória dentro do PT”.
Dilma perdeu a fachada de paz e amor e reagiu com fúria às denúncias na imprensa. “Ela teve uma recaída. Parecia até ela mesma”, teria dito um aliado da petista, segundo a Folha de S.Paulo. A outra má impressão da semana foi a entrevista de José Serra ao Bom dia Brasil, na TV Globo. Não deixou que os jornalistas perguntassem quase nada. Impedia apartes, num tom professoral e prepotente que afasta até seus eleitores. A uma repórter do humorístico CQC, da Bandeirantes, Serra perguntou se ela tinha namorado. Não é a primeira vez que perde a noção.
Sem plásticas ou cabeleireiros, Marina cresceu de estatura ao longo da campanha. Seu discurso a princípio ambientalista ampliou-se e ganhou consistência no campo dos valores e da ética. Mesmo que a enorme maioria dos brasileiros não vote nela, sabe-se o que sua candidatura representa: uma terceira via, de olho no desenvolvimento sustentável do século XXI, que não comporta esmolas para uma massa tutelada e semianalfabeta. Quando deixou o governo Lula, após quedas de braço com Dilma, Marina afirmou: “Perco o pescoço, mas não perco o juízo”. E não perdeu mesmo.