quinta-feira, setembro 02, 2010

DORA KRAMER

Culpa no cartório
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 02/09/2010

Quanto mais o governo tenta esconder, quanto mais a candidata Dilma Rousseff tergiversa, quanto mais a Receita Federal procura se explicar, mais suspeita fica essa história da quebra de sigilo fiscal na delegacia da Receita em Mauá (SP).

Nesta altura da confusão em que até a filha do candidato José Serra entrou no caso, não é possível deixar de desconfiar de que há motivações espúrias que se reveladas poderiam trazer prejuízos à campanha presidencial governista.

Das artimanhas do Planalto para fugir do assunto, a última envolve o ministro da Fazenda, Guido Mantega, cuja filha recentemente foi envolvida numa dessas escaramuças de espionagem petista. Na ocasião Mantega e, por extensão, a filha foram defendidos pelo tucano Serra em seu direito à privacidade.

O esforço de parlamentares governistas ontem para derrubar a tentativa de convocação do ministro da Fazenda ao Congresso para dar esclarecimentos a respeito do que, afinal de contas, se passa na Receita (subordinada à Fazenda), foi praticamente uma confissão de que a oposição tem razão: o PT está mesmo com a culpa registrada em cartório.

Organizou ou, no mínimo, se aproveitou da farra reinante naquela delegacia da região do ABC para bisbilhotar as declarações de renda de pessoas ligadas ao candidato do PSDB e que, ao juízo do PT, poderiam render informações para ser usadas na campanha contra o adversário.

Não há outra explicação para o governo correr dessa raia de maneira tão desabrida e injustificável.

Primeiro nega qualquer problema, depois envia o secretário da Receita ao Congresso para mentir e omitir. Ao mesmo tempo protege os funcionários que estão sendo investigados como responsáveis pela quebra de sigilo e em momento algum há uma manifestação firme de alguma autoridade em repúdio ao descalabro das violações em série.

Ao contrário, do governo só o que se vê é disfarce e revide de acusações. Chegou-se ao ápice, quando da apresentação de "comprovação" de que Verônica Serra pediu a quebra do próprio sigilo, de a Receita apresentar um documento falsificado. Apressado, o governo não verificou antes a procedência da assinatura.

A história está ficando parecida com a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, quando para encobrir um malfeito se cometeu outro e depois se tentou incriminar a vítima mediante uma urdidura logo desmascarada.

Se para se chegar a um autor de crime é preciso seguir a pista do interesse, agora é de se perguntar a quem não interessa esclarecer o mistério da delegacia de Mauá.

Der e vier. Na sala de visitas ninguém quer a companhia de José Dirceu. Daí Dilma negar que já pense na formação de governo quando se pergunta sobre o papel de Dirceu, mas discorrer sobre os planos no Planalto quando a questão não o inclui.

Ele atuará de qualquer forma caso Dilma seja eleita porque continua sendo "capa preta" do partido. Dada a condição de acusado de chefiar "organização criminosa" no processo em trâmite no Supremo Tribunal Federal, se não atuar no oficial agirá no paralelo.

Veste Prada. Um mês antes da eleição o PT dá a vitória como fava contada e, a despeito das negativas oficiais da candidata, Dilma já cancela debates e até suspendeu a prometida divulgação do programa de governo conjunto com os aliados.

Depois de desmoralizar a ética, os Correios, o contraditório, o Enem, a verdade e a Receita, o governo agora se empenha em desmoralizar o valor do voto na urna.

"A eleição está ganha" é frase que se ouve de governistas de primeiro, segundo, terceiro e quarto escalões.

De tal maneira deixaram de lado a prudência que, se houver segundo turno, vai recender a derrota.

O diabo, como se sabe, é longevo não por ser diabo, mas por ser velho e o seguro morreu de velho.


MÔNICA BERGAMO

POR ÁGUA ABAIXO
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/09/10 

O Ministério Público de SP entrou com ação para barrar a construção do parque Nove de Julho, na represa de Guarapiranga. O local teve uma pista de concreto instalada dentro da área inundada do reservatório, em um projeto que prevê outras estruturas, como quadras esportivas. A Promotoria do Meio Ambiente pede liminar para paralisar a obra e que a parte já construída seja demolida. Quer também que a área seja recuperada e cercada para evitar novas construções. 

POR ÁGUA ABAIXO 2 
A ação questiona, além da prefeitura, o governo de SP e os órgãos ambientais, de saneamento e energia, como a Cetesb, por terem concedido as licenças para a realização da obra. A administração municipal e o Estado ainda não foram notificados. 

FALSO DENTISTA 
As críticas ao comercial do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que comparava um falso dentista a políticos "ficha suja", tirado do ar após reclamação do Conselho Regional de Odontologia de SP, não são unanimidade entre os profissionais da área. O Conselho Federal de Odontologia vê a peça como "extremamente positiva", segundo seu presidente, Ailton Rodrigues. "A campanha presta um serviço para a odontologia ao alertar para os falsos profissionais. Alguns deles inclusive já se candidataram a prefeito e a vereador no meu Mato Grosso." 

AOS 45 DO 2º TEMPO 
No último dia da consulta pública ao projeto de revisão da Lei do Direito Autoral, o site do Ministério da Cultura recebeu mais de 1.500 comentários em 12 horas, anteontem. No total, foram 7.863 contribuições. 

TODO PODEROSO 

Dirigentes de times de futebol, esportistas e empresários se reuniram anteontem para a entrega do título de chanceler honorário do futebol brasileiro ao presidente Lula, honraria concedida pelo Clube dos Treze. Ele também foi homenageado pelo Corinthians, que completa cem anos nesta semana.

FECHA A CONTA 
Uma equipe da Subprefeitura da Sé circulou por bares das ruas Maria Antônia, Bela Cintra, Peixoto Gomide e Matias Aires na última sexta para fiscalizar os estabelecimentos que ocupam as calçadas com mesas. No total, 154 itens, entre cadeiras e mesas, foram recolhidos dos locais que não têm permissão para usar a calçada. Só nos primeiros quatro meses do ano, as ações resultaram em 585 móveis apreendidos. 

SEM CHINELO DE DEDO 
A noiva Patricia Birman, filha de Anderson Birman, do grupo Arezzo, que se casa no dia 18 com o empresário Mario Pedro Marcondes, vai distribuir sapatilhas para todas as suas convidadas antes da recepção, para 800 pessoas, na Estação Júlio Prestes. Dois modelos, um prateado e um dourado, foram criados pela grife de seu pai para a ocasião. Os homens vão receber um CD com a trilha da festa. 

MICROFONE 
O stylist Matheus Mazzafera gravou o piloto de um quadro sobre moda para o "Superpop", programa de Luciana Gimenez. Ele entrevistou a top Alessandra Ambrósio. Segundo a Rede TV!, só falta assinar o contrato. 

CURTO-CIRCUITO 

Milly Lacombe autografa o livro "Tudo É Só Isso", hoje, às 19h, na Livraria Saraiva do shopping Higienópolis. 

Alex dos Santos inaugura mostra individual hoje, às 19h30, na galeria Pontes. 

O Museu da Casa Brasileira inaugura hoje, às 19h30, a mostra "Mulheres no Design Espanhol", com 50 projetos de designers daquele país. 

A festa Rockfellas, com os DJs Tibira e Vanessa Porto, acontece hoje, a partir da meia-noite, no clube Vegas. Classificação: 18 anos. 

Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo, recebe convidados na cerimônia de abertura do Mirada - Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas, hoje, às 20h, no Sesc Santos. 

com DIÓGENES CAMPANHA (interino), LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA 

GOSTOSA

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

Ueba! Voto no Gilson Presídio
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/09/10


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador Geral da República!
Çentenário do Timão: O Ronalducho comeu o bolo inteiro. O Ronaldo já tá comendo o bolo do centenário há anos. E um são-paulino sacana falou que os presídios ontem estavam vazios: era o INDULTO DO CENTENÁRIO! Rarará! E o Biro Biro parecia a Elba Ramalho de bigode!
E uma amiga me disse que o Eike Batista é o nosso bilionário russo! E a Dilma é o novo Zagallo. Vocês vão ter que me engolir! E a Galera Medonha? A Turma da Tarja Preta!
Adorei a Cameron Brasil, ex-atriz pornô e candidata a deputada. Continua no ramo da sacanagem! Rarará! E o slogan: "VOTE COM PRAZER". É pra ter orgasmo na cabine? E aparece a foto dela de corpo inteiro? Meia hora votando. E ainda faz biquinho pra dizer o número: "Dezenove, SESSENTA E NOVE, 1969". Biquinho de fazer nhoque! Biquinho de urna!
E o Serra mudou de slogan. Agora é: "A Hora da Virada!". Vira e dorme. E no caso do Serra não é "A Hora da Virada", é "A HORA DO VIAGRA"! Errado. E eu sei como é a virada do Serra: ele acorda à noite e VIRA vampiro! Rarará! As orelhas crescem pra cima e os dentes crescem pra baixo!
E a Dilma Fofa está com um novo projeto social: BOLSADA FAMÍLIA. Todo brasileiro terá direito a uma bolsada. PÁ! "Não vai votar em mim?" Pá. "Tá indeciso?" Pá! E eu acho que o Dragão vai ganhar. Mas a Dilma vai enfrentar um problema grave: como é que ela vai botar a culpa no governo anterior?
E o Serra apelou pra Gloria Perez: contratou um guru indiano. De turbante e tudo! Caminho das Índias 2! Deve ser um encantador de serpente! Pro Serra subir!
E eu acho que o Agnaldo Timóteo tomou viagra com sucrilhos e apareceu todo animado: eu sou um menino de 74 anos! Rarará! Eu só voto no Agnaldo Timóteo se a Ângela Maria vier junto! E o Maguila agora aparece dando soco num saco de boxe. Soco fraaaaco. Mais fraco que pum de véia! Rarará!
Agora eu não sei se voto no biquinho da Cameron Brasil, na Gordinha do Rabecão, na Mulher Pêra, no Bebeto do Pau Miúdo, no Pinto de Casa Nova ou no Gilson Presídio. Esse é o candidato que já vem pronto! No presídio! Rarará!
Tá vendo? Depois ainda reclamam de falta de opção! Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DILMA: MINHA VIDA BANDIDA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Em terra 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 02/09/2010

A Infraero bateu o martelo: pretende contratar, via licitação, administradoras de grandes shoppings centers para cuidar das novas áreas comerciais dos aeroportos brasileiros. "Hoje não há uma uniformidade, cada contrato é muito diferente do outro", explica Murilo Barboza.
Vai dar gritaria.

Sol e chuva
Aliás, a estatal abre dia 9 licitação para a construção de um novo terminal de cargas em Cumbica. Valor? R$ 27,5 milhões.

Haja saúde
Depois de ter feito um acordo com uma das empresas da Amil, por meio de troca de ações, a Dasa poderá ser comprada. Por quem? Pela própria Amil, de Edson Godoy Bueno, que recentemente adquiriu a Medial.
A Bradesco Seguros, pelo jeito, terá que procurar outra transfusão de sangue.

You too
Bono desembarca no Brasil com sua turnê 360º, em março ou abril do ano que vem.

Mistério da fé
Um mistério a menos. O deputado Campos Machado, que chegou a omitir na declaração de bens ao TRE ser sócio de um escritório de advocacia, sempre foi discreto sobre seus clientes. Matando a curiosidade: defende a Igreja Mundial do Poder de Deus no processo que lacrou a sede da instituição.

A pedidos?
Foi a Odebrecht que montou a estrutura financeira do estádio do Corinthians, viabilizando o negócio. Empreiteira e time vão criar, juntos, uma empresa específica para contratar a linha de crédito de até R$ 400 milhões, oferecida pelo BNDES, para todas as arenas que serão construídas rumo à Copa de 2014.
Por que o Timão não se endivida sozinho? Os clubes brasileiros têm dificuldades de obter crédito visto que são agremiações esportivas e têm problemas com o Fisco.

Recompensa?
Como a empreiteira terá retorno? Conforme antecipado ontem pela coluna, poderá vender o direito de uso do nome e outras rendas geradas no estádio. Esta equação será colocada no papel e submetida ao conselho do clube em reunião prevista para 9 de setembro.

Metrô neles
Lula também tentou anteontem agradar os são-paulinos.
Desceu de helicóptero no gramado do Morumbi pela manhã e contou para Juvenal Juvêncio que anunciaria investimento de R$ 1,5 bilhão na linha 17 do Metrô. Que terá estação na porta do estádio do tricolor.

Invasão
A Lei Eleitoral é clara. Proíbe propaganda em área verde pública. Mesmo assim, mais de 30 cavaletes ocupavam o gramado da Praça Charles Muller, em frente ao Estádio do Pacaembu, na tarde de anteontem.

Nomes dos candidatos? Aloysio Nunes Ferreira, Gabriel Chalita e Rodrigo Garcia.

Na frente

O setor industrial está de olho na reunião que Miguel Jorge faz hoje, em Brasília, com Reginaldo Arcuri, da ABDI. Por causa do R$ 1,8 bilhão que o BNDES promete para inovação.

Ricardo Teixeira participa de almoço de JoãoDoria Jr., dia 29 de novembro, em São Paulo.

Confirmou presença na plateia do show de Ivete Sangalo, no Madison Square Garden, o chefe da crítica musical do The New York Times, Jon Pareles. Sábado.

O Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos começa hoje, no Sesc Santos.

O leilão de Ivan Zurita acontece dia 10. Na Fazenda Santa Cruz.
Alex dos Santos abre exposição individual, hoje, na Galeria Pontes.
Hebe tirou o feriadão para colocar a agenda em dia. Até seu programa do dia 6 foi gravado.

Os CEUs receberão obras de arte internacionais que serão expostas na Bienal.
Silvana Tinelli, Buby Leonetti, Andrea Matarazzo, Claudio Bardella e Carlo Gancia são alguns dos empresários empenhados na revitalização do Circolo Italiano.

Notícia velha

Roberto Carlos deixou escapar, anteontem à noite, pouco antes de entrar no Hair Fashion Show, no Unique, sobre quando tomou conhecimento de que o novo estádio do Corinthians estaria dentro da Copa. "O Andrés Sanchez me contou há três semanas e eu lhe dei os parabéns. Ele é um grande dirigente", elogiou, mostrando uma faceta discreta, já que a notícia não vazou antes da hora. Entre globais e tops, o jogador do Timão conversou com a coluna:
Te convidaram por que você é careca?
Vim prestigiar. O menino que me convidou deve ser corintiano (risos). Mas eu gosto de moda. Já desfilei. Tenho loja de roupas, estou aprendendo bastante sobre esse assunto.

É bom ter um presidente do País corintiano?

Demais. Sempre que Lula pode, passa pelo vestiário. A última vez foi durante a Libertadores, quando o time estava precisando de uma força.

A pressão fica maior?

Claro que não.

E você já sabe em quem vai votar para presidente?

Ainda estou pensando.

Pensa em votar no Marcelinho Carioca para deputado?

Não sei. Vou votar no Vampeta.

Por quê?

Ele é amigo nosso. Será bom para o Vampeta. Uma experiência nova na vida dele.

E vai ser bom para o povo?

O povo gosta do Vampeta.

Quais são as qualidades ele tem para ser político?

Entende muito de política. No jantar na casa de Ronaldo (em torno de José Serra) tudo que ele falava era realidade.


Enquanto isso, no camarim, com seus caracóis sendo preparados a quatro mãos, de cara fechada, Leandra Leal disfarçava: "Estou achando suuuuper divertido".


A top Michelli Provensi esperava sua vez de exibir o penteado - um coque gigante e pesado. "Pareço uma formiga saúva", dizia.


Febre entre as convidadas, adereço no cabelo. De todos os tipos: flor branca gigante, rosinha discreta, de penas pretas e até bolinhas douradas nipônicas.


Bruno Gagliasso desfilou feliz com Leandra e Gabriela Duarte, suas esposas em Passione. Questionado no quesito "simpatia", perdeu a pose: "Tem que ser assim, se não, ó, tof tof" - fez aquele famoso gesto, com a palma da mão aberta batendo sobre a outra fechada.

MÍRIAM LEITÃO

A perdedora 
Miriam Leitão 

O Globo - 02/09/2010

Já se sabe quem perdeu a eleição de 2010: a Receita Federal. O órgão sai dessa campanha com uma queda violenta de credibilidade. Pelo que fez, pelo que deixou de fazer, pelo que deixou que fizessem em suas repartições, a Receita que tinha o respeito dos brasileiros — e o temor dos sonegadores — hoje está reduzida a um braço de um partido político

A violação do sigilo fiscal da filha do candidato José Serra é daqueles fatos que acabam com quaisquer dúvidas que por acaso ainda persistiam. A resposta dada pela Receita de que interposta pessoa levou procuração pedindo para quebrar o sigilo da contribuinte foi espantosamente grosseira.

Quem pare um minuto para pensar na explicação do órgão sabe que não faz sentido algum.

Quer dizer então que uma pessoa com documento falsificado pode pedir informações protegidas? As primeiras apurações derrubaram a versão oficial.

Na campanha governista a avaliação é que este assunto não terá impacto eleitoral porque apenas alguns milhões de brasileiros declaram imposto de renda no país.

Isso equivale a dizer que crimes que atingem poucos eleitores podem ser cometidos, sem problema, desde que não ponham em risco a eleição da candidata do governo.

A atual direção da Receita tem cometido erros sequenciais. Não presta as informações necessárias, protela deliberadamente o esclarecimento do assunto, dá explicações inaceitáveis para os fatos dos quais não consegue escapar. Num dos seus piores momentos, a Receita Federal quis garantir que não era um evento com motivações políticas, explicando que era um caso de corrupção. Se há um balcão de compra e venda de informações sigilosas num órgão que tem a prerrogativa de ser a guardiã desse sigilo, é gravíssimo. Isso não atenua o descalabro.

No caso de ser uma espionagem política, e com fins bem óbvios, é preciso que se saiba tudo antes do fim do pleito. É urgente que se faça uma investigação que acabe com as dúvidas e não as aumente.

Há um claro exagero do PSDB em pedir a cassação do registro da candidata que está em tão confortável vantagem nas intenções de voto. Por outro lado, Dilma Rousseff, seu entorno, e o governo têm feito declarações espantosamente amenas ou equivocadas diante da gravidade do caso. Reiteradamente eles têm tentado subestimar o que está acontecendo dizendo que é briga de campanha. Dilma disse esta semana que o PSDB “tem trajetória de vazamentos e grampos expressiva.” Falou para justificar os fatos que estão sendo divulgados. Referiuse ao caso das fitas gravadas no BNDES. Não há qualquer comparação possível.

As fitas do BNDES tentavam comprometer pessoas do próprio governo — e não políticos de um partido adversário em campanha.

Elas foram resultado de gravação ilegal, as pessoas foram identificadas, e foram condenadas.

A candidata precisa mostrar seriedade no trato dessa questão — ainda que tarde.

Esse tipo de resposta criada por assessor pode dar a impressão de esperteza, mas o que passa é a convicção de que está se aceitando como banal e corriqueiro o que é inaceitável, a quebra de um princípio constitucional.

O Estado não pode ser usado pelo partido que está temporariamente no poder para espionar adversários políticos. Foi isso que derrubou o então presidente Richard Nixon no caso Watergate.

É preciso restaurar a noção da dimensão do crime de usar a máquina para espionar e usar informações, entregues ao Estado, como parte da guerra eleitoral. A luta tem que ser travada apenas em torno de ideias, projetos, estilos de governo.

O secretário Otacílio Cartaxo disse que a Receita foi “pega de surpresa” e que “está traumatizada”. Causa com isso novos danos à imagem do órgão, que sempre teve reputação de competência.

Quebra-se o sigilo fiscal em bases seriais e o fato nem é notado, montase um balcão de compra e venda e isso só vem a público pela imprensa.

Para evitar o trauma, a Receita precisa rapidamente trabalhar para mitigar o dano à sua imagem. Isso só se faz se houver uma apuração rigorosa e ágil. A demora nesse caso deixará a impressão de acobertamento. E se for isso a desconfiança se espalhará por toda a instituição.

No governo Lula, o aparelhamento de alguns órgãos ficou acima do tolerável. Como o que acontece com o Ipea, por exemplo. O órgão não foi usado nem mesmo pelos militares durante a ditadura, e, ao contrário, tornouse uma espécie de centro de pensamento crítico que produziu análises valiosas para o país. Agora virou estação repetidora do partido. A qualidade dos estudos comandados pela presidência do órgão é sofrível. A imagem do instituto só não está inteiramente demolida porque alguns resistentes, ainda que marginalizados, continuam mantendo a capacidade de produção de informação de qualidade no órgão. Mas hoje, o Ipea, com seus exóticos escritórios em Havana e Caracas, é uma sombra do que foi nos anos em que sua inteligência foi tão útil ao país.

O primeiro sinal de que a Receita Federal não era mais um território protegido do uso indevido aconteceu na queda da ex-secretária Lina Vieira, derrubada por ter dado informações que constrangeram a hoje candidata Dilma Rousseff. O caso nunca foi suficientemente esclarecido.

Até o fato de não haver ainda a foto dela na parede dos ex-secretários da Receita é um sinal estranho.

Lembra os regimes autoritários que mudam a história pregressa e apagam personagens que incomodam.

Construir a reputação de seriedade, competência e neutralidade da Receita Federal custou muito trabalho.

Esse patrimônio está sendo destruído nessa eleição.

É ela, a Receita, a perdedora.

Mais do que as vítimas da espionagem.

GOSTOSA

DEMÉTRIO MAGNOLI


A escolha de serra, parte 2

Demétrio Magnoli 
O Estado de S.Paulo - 02/09/10



José Serra implodiu sua campanha presidencial nos primeiros dias do horário gratuito, no momento em que colou um retrato de Lula à sua imagem, sugerindo uma falsa associação política. O truque circense de quinta categoria talvez enganasse uns poucos desavisados se Lula estivesse morto. Como está vivo, e fala, ninguém caiu no conto urdido por insuperáveis gênios do marketing eleitoral. Mas o gesto teve um impacto avassalador, palpável o suficiente para ser registrado tanto nas pesquisas quanto nas conversas de rua: milhões de eleitores de Serra desertaram, indignados, declarando-se fartos do baile de máscaras promovido pelo candidato.

A associação farsesca não correspondeu a um equívoco episódico, mas foi o prolongamento e a conclusão lógica de uma estratégia de campanha alicerçada sobre a abdicação do direito de fazer oposição. Seria um erro político, ainda que uma verdade factual, afirmar que Serra traiu seu eleitorado. O que ele fez foi desrespeitar o eleitorado em geral - e, portanto, a democracia - ao negar-lhe a oportunidade de escolher entre situação e oposição. A sua derrota não será um fracasso eleitoral, evento normal no sistema democrático, mas o sinal anunciador de uma falência política.

Bem antes do gesto catastrófico, a campanha já se equilibrava precariamente sobre uma corda frouxa, trançada com os fios complementares da arrogância e da covardia. Arrogância: a crença quase mística nos efeitos da comparação entre as biografias de Serra e da candidata oficial. Covardia: a decisão inabalável de não confrontar o lulismo com uma visão alternativa sobre o governo, o Estado e a Nação. Guilhon Albuquerque, defendendo a campanha do PSDB da crítica que formulei em A escolha de Serra (8/7), inspirou-se nas metáforas primitivas de Lula e citou o técnico da seleção espanhola de futebol: a ordem era "jugar para ganar", não para "sair engrandecido aos olhos de um setor da elite". O que dizer disso agora, quando a realidade berra? Na democracia, eleições são para esclarecer. "Jugar para ganar" é orientação típica de potenciais ditadores, que pretendem fraudar. Ou de candidatos que tratam os cidadãos como estúpidos - e pagam o preço cobrado por tal escolha.

Dilma Rousseff, o pseudônimo eleitoral de Lula, era a favorita desde o tiro de largada, por razões óbvias, mil vezes expostas. Isso não significa que inexistia uma disputa competitiva, como pontificam analistas seduzidos por uma estranha noção de destino histórico. Mas para ter uma chance de mudar o cenário prévio Serra precisaria agir como estadista - isto é, como a figura que se ergue acima das circunstâncias, desafia o senso comum, afronta setores de sua própria base partidária e oferece aos eleitores uma narrativa política transparente, equilibrada e franca. É bem fácil pinçar críticas fragmentárias de Serra ao governo e à sua candidata. Contudo, como estilhaços de uma granada perdida, elas nunca formaram um conjunto coerente, capaz de sintetizar uma aspiração de mudança.

A abdicação de Serra tem um precedente ainda vivo na memória pública. Quatro anos atrás, a campanha presidencial de Geraldo Alckmin entrou em colapso logo após o primeiro turno, quando o candidato se cobriu com os logotipos das empresas estatais para sublimar o debate sobre as privatizações de Fernando Henrique Cardoso. Os dois postulantes do PSDB destruíram a si mesmos por meio de gestos paralelos de rendição política. Há nisso algo mais que uma coincidência.

No debate televisivo inaugural, Serra proclamou que não disputa eleições "de olho no retrovisor". A frase de efeito, que denota desconforto com o passado, veicula uma canhestra tentativa de passar uma borracha sobre a História e evidencia uma fundamental incompreensão da democracia. Eleição é o momento em que a Nação revisita suas opções pretéritas e reflete sobre as diferentes estradas que conduzem ao futuro. Tanto quanto Alckmin, Serra resolveu circundar a discussão sobre o governo FHC - e exatamente para isso pendurou um retrato de Lula ao lado do seu. O repúdio tácito à própria herança, com seus acertos e erros, anulou qualquer possibilidade de analisar criticamente o governo Lula e o PT, inscrevendo-os numa narrativa inteligível da trajetória recente do Brasil.

Lula depreda cotidianamente a inteligibilidade da política democrática. A campanha de sua candidata, uma fábula sobre o "pai da Nação" que entrega seus filhos aos cuidados transitórios da "mãe do povo", assinala um novo ápice no percurso deflagrado antes mesmo de 2002. Serra converteu-se, agora, em cúmplice ativo dessa operação de esvaziamento do sentido da linguagem política. Uma diferença crucial, entretanto, não pode ser esquecida: o lulismo, autoritário em essência, nutre-se da babel de sons indecifráveis, enquanto as correntes democráticas só podem florescer no terreno constituído pela ordem da sintaxe e da gramática.

O lulismo não depreda apenas a linguagem, mas também os direitos. São múltiplos, convincentes, os indícios de que um "núcleo de inteligência" da campanha de Dilma comandou as quebras em sequência do sigilo fiscal de pessoas próximas a Serra, com o intuito provável de montar um plano eleitoral de emergência para a hipótese de uma disputa renhida. Serra (e, por sinal, todos os candidatos comprometidos com as garantias democráticas) tem não só o direito, mas o dever de expor na campanha eleitoral as sementes do Estado policial, relacionando o que se passa hoje com o episódio da invasão do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Desgraçadamente, porém, a denúncia só atingirá aqueles que, por já reconhecerem uma prática reiterada, não precisam dela. Os demais, uma larga maioria, não entenderão a narrativa sem nexo de um acusador que pretende associar sua imagem à do governante acusado. Mais adiante, não culpem o povo - que não tem a oposição que merece.

SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.

SENADOR JOSÉ AGRIPINO

MERVAL PEREIRA

Democracia em perigo 
Merval Pereira 

O Globo - 02/09/2010

A face mais dura do aparelhamento do Estado brasileiro por forças políticas está sendo revelada nesse episódio da quebra do sigilo fiscal da filha do candidato do PSDB à Presidência da República. Em um país sério, o secretário da Receita já teria se demitido, envergonhado, ou estaria demitido pelo seu chefe, o ministro da Fazenda Guido Mantega. E alguém acabaria na cadeia.

Ao contrário, o secretário Otacílio Cartaxo tentou até onde pôde minimizar a situação, preferindo despolitizar o caso e desmoralizar sua repartição.

Ao mesmo tempo surgem de vários lados do governo tentativas de contornar o problema, ora atribuindo à própria vítima a culpa da quebra de seu sigilo fiscal, ora sugerindo que uma disputa política dentro do próprio PSDB poderia ter gerado a quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra.

Uma análise muito encontradiça entre os políticos governistas é de que as denúncias, tendo aparecido em período eleitoral, perdem muito de sua credibilidade e de seu poder de influenciar o voto do eleitor, ficam com sabor “eleitoreiro”.

Como se essa fosse a questão central. Pensamentos e atos de quem não tem espírito público.

O aparelhamento político da máquina pública não ocasiona apenas a ineficiência dos serviços, o que fica patente em casos como o dos Correios, outrora uma empresa exemplar e que se transformou em um cabide de empregos que gera mais escândalos de corrupção do que seria possível supor.

Dessa vez a revelação de que a Receita Federal transformouse em um balcão de negócios onde o sigilo fiscal dos cidadãos brasileiros está à venda, seja por motivos meramente pecuniários, seja por razões políticas, coloca em xeque uma instituição que, até bem pouco tempo, era respeitada por sua eficiência e pelo absoluto respeito aos direitos dos cidadãos.

O episódio da quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB Eduardo Jorge Caldas Pereira, de três pessoas ligadas de alguma maneira ao partido ou ao candidato oposicionista e, mais grave, da sua filha, mostra que diversas agências da Receita Federal são utilizadas para práticas criminosas, não apenas a de Mauá, que se transformou em um local onde se compra e se vende o sigilo de qualquer um.

O sigilo de Verônica Serra foi quebrado na agência de Santo André, numa demonstração de que se vulgarizou a privacidade dos contribuintes brasileiros.

Não terá sido coincidência que, além de Verônica, os nomes ligados ao PSDB que tiveram seu sigilo fiscal quebrado — Luiz Carlos Mendonça de Barros, Ricardo Sérgio de Oliveira e Gregório Marin Preciado — sejam personagens de um suposto livro que o jornalista Amaury Ribeiro Junior estaria escrevendo com denúncias sobre o processo de privatizações ocorrido no país durante o governo de Fernando Henrique.

O jornalista fazia parte do grupo de comunicação da campanha de Dilma Rousseff, subordinado a Luiz Lanzetta, e os dois tiveram encontro com um notório araponga tentando contratá-lo para serviços de espionagem que incluíam grampear o próprio candidato tucano à Presidência.

Além da denúncia do araponga, delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo de Souza, feita no Congresso, outro ator do submundo petista surgiu nos últimos dias denunciando manobras criminosas nas campanhas eleitorais.

Wagner Cinchetto, conhecido sindicalista, afirmou ao “Estado de S. Paulo” e à revista “Veja” que o núcleo envolvido com a violação de sigilo fiscal de tucanos na ação da Receita é uma extensão do grupo de inteligência criado em 2002 por lideranças do PT.

Ele diz ter certeza de que os mesmos personagens atuam nos dois episódios.

Revelou que o escândalo que levou ao fim a candidatura de Roseana Sarney em 2002 foi montado por esse grupo petista para incriminar o então candidato tucano à Presidência, José Serra, que foi considerado responsável pela denúncia pela família Sarney.

Até mesmo um fax teria sido enviado ao Palácio do Planalto para dar a impressão de que a Polícia Federal havia trabalhado sob a orientação do governo de Fernando Henrique.

No caso atual, os diversos órgãos do governo envolvidos na apuração — Polícia Federal, Receita Federal, Ministério da Fazenda — tiveram atuação leniente, e foram os jornais que descobriram rapidamente que a procuração era completamente falsa, desde a assinatura de Verônica Serra até o carimbo do Cartório do 16oTabelião de Notas de São Paulo, onde aliás Verônica nunca teve firma.

Não basta a Receita dizer que por causa de uma procuração está tudo legal. Não faz sentido que qualquer pessoa que apareça em qualquer agência da Receita Federal com uma procuração possa ter acesso a dados sigilosos.

Aliás, o pedido em si não faz o menor sentido. Então o contribuinte que declara seu imposto de renda não tem uma cópia? Agora, que quase todo mundo declara pela internet, como não ter uma gravação da declaração? A funcionária da Receita que achou normal a apresentação da procuração deveria ter desconfiado de alguma coisa, pelo menos do fato de uma pessoa que declara seu imposto de renda na capital de São Paulo mandar um procurador a uma agência de Santo André para ter acesso a uma cópia.

O contador Antônio Carlos Atella Ferreira admitiu que foi ele quem retirou cópias das declarações de IR de Verônica Serra na agência da Receita Federal em Santo André, mas alega que fez isso por encomenda de uma pessoa que “queria prejudicar Serra”.

Mais uma história mal contada.

E tudo leva ao que aconteceu em 2006, quando um grupo de petistas ligados diretamente à campanha de Aloizio Mercadante e à direção nacional do PT foi preso em flagrante tentando comprar um dossiê, com uma montanha de dinheiro vivo, contra Serra, candidato ao governo de São Paulo, e Alckmin, o candidato tucano à Presidência.

O presidente chamou-os de “aloprados”, indignado nem tanto com o episódio em si, mas com a burrice de seus correligionários que acabaram impedindo que ganhasse a eleição no primeiro turno.

Hoje o caso é mais grave, pois envolve um órgão do Estado que deveria proteger o sigilo de seus cidadãos.

O que menos importa é se a repercussão do caso influenciará o resultado da eleição.

O grave é a ameaça ao estado de direito embutida nesse uso da máquina pública para chantagem eleitoral

FIASCO

CELSO MING

Por que tão altos? 
Celso Ming 
O Estado de S.Paulo - 02/09/2010

Ontem, o Copom manteve os juros básicos (Selic) nos 10,75% ao ano, patamar em que provavelmente deverão ficar neste resto de ano.
Embora em queda no longo curso, são juros básicos ainda altos demais para uma economia que precisa de investimentos. No mundo rico prevalecem hoje juros reais (descontada a inflação) negativos, enquanto por aqui estão em torno dos 5% ao ano. Nessas condições, são um dos principais fatores do alto custo Brasil, especialmente quando comparados com os custos nação de outras paragens com as quais o País compete mais diretamente, especialmente no comércio exterior.

A tendência de juros baixos no mundo por um longo período é excelente condição que pode permitir a redução deles também por aqui, desde que algo mais se faça para que isso aconteça. Algumas dessas providências exigirão mudanças no mercado financeiro. Outras, no sistema de metas de inflação.
Para que os juros caiam, parece inevitável, por exemplo, que se elimine uma das mais graves distorções, que é a utilização de títulos públicos com renda pós-fixada atrelada aos juros básicos, principalmente a Letra Financeira do Tesouro (LFT), criada em 1987, durante o Plano Cruzado, quando ajudou a evitar fuga de dólares.

A LFT tem sido bastante criticada na medida em que impossibilita a formação de um mercado de títulos de longo prazo no País. É que a remuneração de um título que deveria ser de prazo longo, acaba sendo de prazo curtíssimo. Isso posto, não consegue formar poupança que possa casar com financiamentos mais esticados.

Mas, do ponto de vista da política monetária, a LFT impede perdas patrimoniais, caso os juros tenham de aumentar, porque está amarrada à Selic, ou seja, será o que forem os juros básicos. Explica-se: em toda parte, a remuneração dos títulos públicos é prefixada e pune o mercado quando produz inflação. Mas, no Brasil, mais de 40% da dívida em títulos da União está em LFTs. É o carro de corrida que não tem aerofólios e exige muito mais do sistema de freios. Ou seja, exige que o Banco Central redobre a dose dos juros para dar eficácia à política monetária cujo objetivo é controlar a inflação.

O outro emperrador do funcionamento do sistema de metas é a persistência no Brasil de uma enorme faixa de preços que não tem nenhuma relação com o volume de dinheiro na economia e que, assim, não reage à política de juros. Esses preços são reajustados de acordo com o definido em leis ou em contratos, que, em geral, impõem como critério de reajustes um índice de inflação. É o caso dos preços administrados (tarifas de telefone, água, energia elétrica e aluguéis), que correspondem a alguma coisa entre 30% e 35% da planilha do custo de vida. Na maioria das vezes, são reajustados pelo IGP-M, índice que reflete com grande peso as variações dos preços das matérias-primas e do dólar. No caso dos preços administrados, tanto faz que o Copom aumente ou baixe a Selic. O efeito sobre eles é apenas residual. E isso exige, também, mais dose de juros do Copom para reduzir a inflação.

Sem uma profunda revisão nesses dois pontos, vai ser difícil dar mais eficiência ao sistema de metas e, ao mesmo tempo, garantir a derrubada dos juros básicos no Brasil.

Bombando
As importações do Brasil continuam disparando. Na acumulada do ano (até agosto) cresceram 45,7%, enquanto, no mesmo período, as exportações aumentaram 28,0%.

É a produção
Bens de capital, matérias-primas e produtos intermediários perfazem 68,9% das importações totais. No ano passado, eram 71,0%.

Perda de peso
Neste ano, os manufaturados correspondem a 39,7% das exportações. Em 2009, foram 42,5%

SERRA PRESIDENTE

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Descalabro
EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/09/10


Novas revelações reforçam aspecto político da quebra de sigilos na Receita e exigem apuração que vá além da tentativa de culpar barnabés

A empresária Veronica Serra, filha do candidato tucano à Presidência da República, José Serra, também teve seu sigilo fiscal violado por funcionários da Receita. O caso se soma a outros, noticiados recentemente, no que já se configura como mais um escândalo nacional. O novo capítulo reforça a percepção de que as ações criminosas no âmbito do órgão federal têm motivações políticas.
É bom recapitular a sucessão dos fatos para que se tenha noção mais clara do banditismo em curso: em junho, esta Folha revelou que Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, teve seu sigilo fiscal violado no ano passado. Dados do Imposto de Renda do dirigente tucano integravam um dossiê confeccionado pelo grupo de inteligência da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT), que negou participação no episódio.
Há uma semana, descobriu-se que outros três nomes ligados ao PSDB também haviam sido vítimas de idêntico abuso, na mesma agência da Receita, localizada em Mauá, na região do ABC paulista, berço do PT e reduto histórico do sindicalismo atrelado ao partido.
Tudo leva a supor que a violência perpetrada contra a filha de Serra faça parte de uma mesma articulação delinquente a serviço da candidatura petista.
No que se refere a Veronica Serra, há algumas diferenças de procedimento em relação às demais violações. O acesso aos dados fiscais ocorreu na delegacia da Receita de Santo André, também no ABC, mediante uma procuração fajuta. A filha de Serra não tinha firma reconhecida no cartório, a assinatura que consta no documento não é a sua, e o carimbo utilizado é falso. Além disso, o titular da procuração utilizava cinco CPFs e ostenta vasto histórico de cheques sem fundo -um perfil típico do estelionatário.
Sabe-se já da existência de um esquema criminoso de compra e venda de dados sigilosos envolvendo a agência de Mauá. Ali teriam acontecido pelo menos 320 acessos sem amparo legal.
Estarrecedor, o descalabro está sendo usado como cortina de fumaça pelo governo para tentar despolitizar o escândalo. Se há crime comum, há também crime político-eleitoral, cuja intenção é intimidar e chantagear adversários do grupo hoje no poder.
Não bastassem as evidências (há petistas entre as vítimas?), é preciso registrar que o atual governo tem caudaloso histórico de aparelhamento do Estado -do mensalão à quebra de sigilo do caseiro, dos aloprados de 2006 aos delinquentes de agora.
Instalou-se no país um ambiente intolerável de impunidade e desfaçatez. Espera-se que a Polícia Federal e o Ministério Público ainda reúnam condições de desmascarar a farsa de uma investigação propensa a apontar a responsabilidade de barnabés e ocultar as motivações políticas que, conforme todos os indícios, estão por trás do caso.

ANCELMO GÓIS

Triângulo tucano 
Ancelmo Góis 

O Globo - 02/09/2010

O esforço de guerra dos tucanos para tentar levar Serra ao segundo turno significa concentrar os próximos 30 dias em São Paulo, sempre ao lado do favorito Alckmin, e Minas, na carona da ascensão de Anastasia.

Já em relação ao Rio o PSDB torce para Marina Silva, que já tem muitos votos, crescer com a ajuda de Gabeira.

Mas não será tarefa fácil.
Favela no asfalto
O filme “5XFavela”, produzido por Cacá Diegues, deve terminar a semana com uns 40 mil espectadores.

Outro dia, uma sala do shopping New York City Center, na Barra, no Rio, ficou lotada de moradores da Cidade de Deus.
Lendo estrelas
O sábio Delfim Neto, 82 anos, almoçando com um amigo da vida toda, foi todo elogios para Michel Temer e Guido Mantega.
Por que os dois
O ex-ministro considera que os dois têm um importante papel a desempenhar num eventual governo Dilma.
Futebolês
Dilma já assumiu até o hábito das metáforas futebolísticas do ídolo Lula. Quando alguém lhe fala da vitória iminente no primeiro turno, ela responde: — O que vale é bola na rede e voto na urna.
Nosso caminho
A sétima edição da revista “Nosso caminho”, dirigida por mestre Oscar Niemeyer, vai homenagear Rodrigo Mello Franco de Andrade (1898-1969), advogado e escritor que comandou o Serviço do Patrimônio Histórico (o atual Iphan).
MemóriasO embaixador José Botafogo Gonçalves, 75 anos, dedica-se a escrever um livro de memórias.
Migração interna
A Ediouro passará a concentrar os títulos nas editoras Nova Fronteira e Agir, principalmente.

Grandes autores como Rubem Fonseca e Mário de Andrade, hoje na Agir, passarão a ser publicados pela Nova Fronteira.

Já...

A Agir, por sua vez, priorizará séries destinadas ao grande público.
MPB nos EUA
A música brasileira invadiu os EUA. Além da turnê de Ivete Sangalo (que canta sábado no Madison Square Garden, em Nova York), Leny Andrade lota 10 sessões no Birdland, com craques como Tony Bennett na plateia.

Já...

Em Washington, Kiko Horta, Ronaldo do Bandolim, Rogério Souza e João Hermeto, feras da música instrumental, fazem três concertos no Kennedy Center.

O primeiro foi ontem.
Não é só maravilha
O laboratório Bronstein pode desistir de mudar sua sede para a Zona Portuária do Rio.

Alega razões tributárias.
Biblioteca em chamas
Um incêndio, provocado por curto-circuito, destruiu parte da residência do ex-banqueiro Frank Sá, em São Conrado, no Rio.

O fogo dizimou uma biblioteca de 1.507 livros, incluindo muitas obras raras.
Bala perdida
O condomínio do Edifício Bolsa do Rio, na Praça 15, vai enviar carta ao comando da PM pedindo a construção de uma guarita blindada para os policiais que ficam parados num veículo na Perimetral, em frente ao prédio.

É para evitar ações como a do dia 12 de abril, quando bandidos passaram pelo elevado e atiraram na viatura da PM, mas acertaram no prédio.
Quem sai aos seus...
Pedro Neschling, o filho de Lucélia Santos e do maestro John Neschling, estreia na direção teatral com a peça “Estragaram todos os meus sonhos, seus cães miseráveis!”, amanhã no Sesc Copacabana, no Rio.
Cena carioca
O diálogo se deu no Posto 2, domingo, na areia da Barra: — Moço, me vê um milho! — pediu a moça bonita.

— Manteiga, sal e pimenta? — perguntou o senhorzinho.

— Pimenta? — estranhou a cliente.

— É o milho globalizado. Tenho uma cliente mexicana que só come milho com pimenta.

Ah bom!

GOSTOSA

ROBERTO MACEDO


FHC e lula - dois peões comparados
Roberto Macedo 
O Estado de S.Paulo - 02/09/10

Há tempos Lula - e, neste período eleitoral, também sua fideicomissária Dilma - realça, com impressionante desfaçatez, estatísticas econômico-sociais comparativas de períodos presidenciais distintos - o de Fernando Henrique Cardoso e o dele -, atribuindo as mais favoráveis ao governo atual e às virtudes pessoais de seu presidente. Honesto seria enfatizar que a maior parte dos acontecimentos econômicos não decorre de vontades presidenciais e que os dois enfrentaram circunstâncias radicalmente diferentes. Elas se evidenciam nas condições internas que cada um encontrou no início do seu governo. E, principalmente, nas da economia mundial nos respectivos mandatos.


FHC, cujo trabalho começou no governo Itamar Franco, encontrou a economia fragilizada por uma década e meia de fraco crescimento, uma inflação indomada por sucessivos e fracassados planos de "estabilização", uma dívida externa agravada pelas crises mundiais de 1973 e 1979 e, depois, pelas de 1995, 1997 e 1998, quase sempre em renegociação, e contas públicas desajustadas. Estas não apenas na sua capacidade de gerar impostos, como na dificuldade de sustentar uma dívida pública de prazos e custos condizentes com uma boa gestão financeira. A inflação vinha tanto das desvalorizações cambiais ligadas às dificuldades externas como dessa desordem nas contas públicas.
Exceto pelas contas externas, que não se resolveram porque a economia mundial não oferecia então espaço para ampliar fortemente nossas exportações, e para trazer investimentos capazes de junto com elas fortalecer o fluxo de recursos externos e o estoque de reservas, FHC deixou a casa muitíssimo mais em ordem do que a encontrou. Em particular, domou a inflação, reestruturou as contas públicas, e deu início à política de valorização do salário mínimo. Sob a liderança de dona Ruth Cardoso, avançou também com programas sociais que sob Lula, com muito mais recursos dados pelas circunstâncias que o beneficiaram, foram consolidados no Bolsa-Família. FHC ousou também ao contrariar interesses corporativos, como em mudanças na Previdência Social e no programa de privatizações.
Lula entrou queixando-se de herança maldita, mas foi tão bendita que logo a adotou, como na política monetária que passou a Henrique Meirelles, deputado federal eleito em 2002 pelo PSDB de Goiás e logo recrutado para o Banco Central. Manteve também o câmbio flutuante e a ênfase no superávit fiscal primário, hoje enganoso, como mostrei no meu último artigo (19/8).
Bendita ainda mais foi a sorte grande que veio de fora para dentro, na forma de uma economia mundial cujos crescimento e comércio explodiram a partir de 2003. Recorde-se que no governo de FHC, entre 1995 e 2002 o comércio mundial, medido pelas exportações, passou de valores em torno de US$ 400 bilhões por mês a US$ 600 bilhões, um crescimento de 50% nesses sete anos. Em seis anos de Lula, entre 2003 e 2008, esse comércio chegou a US$ 1,4 trilhão no período imediatamente anterior à crise mundial, um crescimento de 133%!
Ora, isso favoreceu enormemente as exportações e o PIB brasileiros, gerando duas benesses formidáveis para Lula. Da primeira vieram impostos que abriram espaço para gastar muito mais, beneficiando de famílias bolsistas a "boquinhas" para companheiros. E economizou nos investimentos, uma das maiores carências do País. Da segunda vieram receitas e investimentos externos que geraram grandes reservas, dando fim ao antigo e crônico problema de escassez de divisas. Outro impulso à economia veio da expansão do crédito interno, mas mesmo esta não teria ocorrido na mesma dimensão sem o fim da inflação, assegurado por FHC, e pelos menores juros que se seguiram.
Em contraste com essas diferentes circunstâncias, e com a continuidade de políticas fernandistas, a propaganda lulista, reforçada agora no período eleitoral, atribui-lhe ambas as benesses, como se tudo fosse do sujeito e sem historicidade.
Poderia passar agora a aspectos filosóficos do papel do homem e das circunstâncias na vida dos dois presidentes, recorrendo, por exemplo, ao pensador Ortega y Gasset. Mas optei por uma comparação inspirada pela Festa do Peão de Barretos, encerrada recentemente.
Nela e noutras do ramo fica clara a relação entre o peão e as circunstâncias, em particular no desafio maior, o do touro, montado sem arreio e escorregadio por natureza. O desempenho do peão é avaliado relativamente ao do touro: se este não salta dentro dos padrões esperados, o peão não recebe pontuação. Tem novas chances até que venha um touro dos "bons". O melhor até hoje foi um de nome Bandido, que virou até artista de novela.
Por força das circunstâncias, Lula até aqui não foi provado como bom peão, pois quase que só montou touros mansos, com revelada preferência por cavalos de parada e desfiles por aí. Só enfrentou um ano de crise externa, e aí caiu do bicho, recebendo nota zero de PIB, ao contrário do ocorrido em países como a China e a Índia, que superaram a crise sem maiores pinotes, sustentados por altas taxas de investimento. Já FHC domou quase um Bandido, o ferocíssimo touro Inflação, pai e filho de muitos outros males. E FHC cumpriu também seu tempo em cima do da Previdência, do Ajuste Fiscal e de muitos outros ferozes. Quanto ao touro Cambial, nenhum dos dois se saiu bem, e ele segue por aí a dar cabeçadas na indústria e no turismo do País.
Comparar homens junto com suas circunstâncias parece não passar pelo crivo de marqueteiros e outros estrategistas políticos. Mas, certamente, essa comparação ocupará lugar na História, pois serão muitos a narrá-la sem os vieses dos que hoje difundem e absorvem a visão dominante, a de dois peões avaliados sem levar em conta a braveza de seus touros nos rodeios da vida.
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO