segunda-feira, julho 26, 2010

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Decifrar o enigma Dilma

Carlos Alberto Di Franco 
O Estado de S.Paulo - 26/07/10

As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os sensíveis radares dos leitores. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros mitos que conspiram contra a credibilidade dos jornais. Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da imparcialidade absoluta. Transmite a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. É um engano, um jogo de marketing. É necessário cobrir os fatos com uma perspectiva mais profunda. Convém fugir das armadilhas do politicamente correto, da desinformação dos estrategistas eleitorais e do contrabando opinativo semeado pelos arautos das ideologias.


Boa parte do noticiário de política, mesmo em ano eleitoral, não tem informação. Está dominado pelo declaratório e ofuscado pelos lances do marketing da campanha. Dilma Rousseff, por exemplo, continua sendo apenas uma embalagem, um enigma a ser decifrado. Maquiada, penteada e produzida pelo comando de sua campanha, ainda não mostrou a verdadeira face. Suas convicções, aparentemente, mudam como chuva de verão. Lança um programa de governo. Tem reação? "Não assinei, não li, só rubriquei." A leviandade constrange e desqualifica a candidata. Instaurou-se, sob a égide de certas esquerdas, a política do descompromisso radical com os fatos. A saída é sempre a mesma: ninguém sabe, ninguém viu.
No documento de 19 páginas protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e depois estrategicamente escanteado pela tática do "não li, só rubriquei", a candidata ressuscitou as mesmas teses que apareceram marcadas com a força das suas impressões digitais na primeira edição do 3.º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Você lembrará, caro leitor, que o presidente Lula seguiu o mesmo roteiro da sua criatura. Pressionado pela reação da sociedade, disse que tinha assinado "sem ler" e mandou que o pacote fosse refeito. O procedimento é sempre o mesmo. E é essa reiteração da leviandade malandra que preocupa. Será que as teses do PNDH-3 conhecidas e já rechaçadas pela sociedade não são a verdadeira cara da candidata?
Quem é Dilma Rousseff? Qual é sua biografia real? O que a candidata oficial, sem blindagens e proteções, efetivamente pensa a respeito dos temas que dominam a agenda pública: liberdade de imprensa, controle da mídia eletrônica, aborto, propriedade privada, invasões de terras pelo MST?
Os defeitos, as virtudes e o pensamento de José Serra são patentes. O idealismo coerente de Marina Silva, embora sem a força de uma poderosa máquina eleitoral, também é bastante evidente.
Dilma Rousseff, no entanto, continua empacotada. Dilma não é Lula, um carismático de livro e mestre da conciliação. Conseguirá impedir que os radicais do PT imponham sua política do atraso? Recentemente, João Pedro Stédile, o mais influente dirigente do MST, previu que o Brasil viverá uma explosão de ocupações de terra se Dilma vencer as eleições. "Com Dilma, nossa base social perceberá que vale a pena se mobilizar", disse Stédile, armado de uma sinceridade cortante.
Na verdade, Dilma é o terceiro mandato de Lula. Mas sem o carisma, sem a habilidade, sem o domínio das bases e sem a ginga do criador. E isso precisa ser dito com todas as letras. Segundo Hélio Bicudo, fundador do PT, deputado federal pelo partido, vice-prefeito de São Paulo na gestão Marta Suplicy, "Lula quer Dilma Rousseff no poder para continuar mandando no País". Dilma não tem luz própria. É, apenas, um elo no projeto autoritário de poder do presidente da República.
"Não estou no PT desde 2005", diz Bicudo. "Retirei a filiação porque entendi que o PT não cumpria mais seus ideário." Referindo-se ao papel de Lula no mensalão, não tergiversa: como ele "diz que não sabia? Lula manda no PT". Com forte dose de ceticismo, vislumbra um horizonte sombrio para a democracia brasileira: "É uma vergonha. A Constituição diz que se deve olhar a vida pregressa do candidato. Mas a lei resumiu isso a um processo criminal. Vamos continuar tendo bandidos na política. Veja os envolvidos no mensalão. Foram denunciados pelo procurador-geral da República. Mas, pela lei, poderiam candidatar-se." E conclui: "Quando um presidente da República nomeia nove ministros do STF, não há como garantir independência."
Bicudo, com razão, manifesta crescente preocupação com o uso político das estruturas do Estado. O recente silêncio da Receita Federal sobre o vazamento do Imposto de Renda do tucano Eduardo Jorge Caldas Pereira é um exemplo preocupante. O secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, revelou saber exatamente quem cometeu o crime. Mas disse precisar de mais 120 dias para concluir as investigações. Adia-se, aparentemente, a punição dos culpados para não prejudicar o desempenho da candidatura oficial.
Ao contrário de Hélio Bicudo, não sou tão pessimista, sobretudo quando penso no Supremo Tribunal Federal. Presumo, sinceramente, que o nomeado, ao sentir o peso e a dignidade da toga, é capaz de deixar de lado interesses menores e olhar para o bem do Brasil. A História registra um belo capítulo de independência. Thomas Becket, jurista, chanceler da Inglaterra e amigo do rei, disse ao seu protetor: "Se está pensando que terá um obediente pupilo, está enganado e seu amor se transformará em ódio." E assim foi. Henrique II tentou manipular o amigo, mas Becket foi fiel à sua consciência e ao seu cargo. Foi executado a mando do rei. O monarca perdeu um leal servidor, mas a Inglaterra ganhou um herói e a Igreja Católica proclamou um novo santo.
A programação eleitoral gratuita é, quando muito, uma aproximação da verdadeira face dos candidatos. Tem muito espetáculo e pouca informação. Só o jornalismo independente pode mostrar o verdadeiro rosto dos candidatos. Sem maquiagem e sem efeitos especiais. Temos o dever de fazê-lo.
DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO 

CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O BC na campanha? 

Carlos Alberto Sardenberg
 O ESTADO DE S. PAULO  - 26/07/10



Vamos falar francamente: o Banco Central (BC) dá sinais formais e informais de que gostaria muito de encerrar o mais rápido possível o ciclo de alta da taxa básica de juros. Não poderia ter feito isso na reunião da quarta-feira passada, porque entraria em total contradição com sua avaliação, expressa em documentos anteriores, segundo a qual a economia brasileira estava crescendo bem mais do que podia, isso gerando pressão inflacionária ampla. Mas com a decisão de aumentar a taxa em "apenas" 0,5 ponto porcentual (p.p.), ante a expectativa majoritária de 0,75 (p.p.), e com o comunicado em que explica essa desaceleração, o BC prepara uma mudança de avaliação. Esta deve ser formalizada na quinta-feira, quando o BC divulga a ata da última reunião e ali detalha fundamentos da decisão da semana passada, quando a taxa básica de juros foi de 10,25% para 10,75% ao ano.

No breve comunicado da quarta-feira, o BC diz que houve uma "redução de riscos" para a inflação, por causa de mudanças recentes aqui e lá fora. Podem ser encontrados números para isso.

O principal certamente foi o IPCA-15 de junho, índice do IBGE, que mostrou queda da inflação mais forte e mais espalhada do que se esperava. Outro: o Índice de Atividade Econômica do próprio BC, indicando que a economia brasileira não cresceu em maio. E mais: o gasto público, um dos fatores de aquecimento citados pelo BC, entra agora numa fase de contenção obrigatória, por causa das regras eleitorais.

Lá de fora, o sinal veio em discurso do presidente do Fed, o banco central norte-americano, Ben Bernanke, feito no mesmo dia da reunião do BC brasileiro e dizendo que a economia dos EUA talvez precisasse de estímulos adicionais para contrabalançar uma recuperação ainda frágil. Isso se somou a dados sobre dificuldades na Europa e desaceleração na China. Falava-se mesmo, há duas semanas, em risco de nova recessão nos EUA (o segundo mergulho).

Colocando tudo isso no caldeirão, resulta: forte desaceleração do crescimento brasileiro e inflação cedendo - isso num ambiente mundial de paradeira. Assim, pode-se brecar a alta de juros por aqui. Faz sentido. Alguns analistas independentes importantes, entre aqueles que "acreditam" no regime de metas de inflação, haviam se antecipado nessa direção.

Mas muitos outros, a maioria, achavam que não era o caso - e isso com base nos últimos textos do próprio BC. Nesses documentos havia argumentos - no sentido de uma alta mais forte de juros - que não foram desmontados pelos novos fatos.

Por exemplo: na ata de junho, o BC dizia que a "demanda doméstica", o consumo local, permanecia forte em consequência de fatores como "o crescimento da renda e a expansão do crédito". Ora, como indicou o IBGE no dia seguinte à reunião do BC, o crescimento da renda dos trabalhadores (consumidores) continua expressivo em qualquer base de comparação. E a expansão do crédito às famílias segue bastante robusta, conforme dados do próprio BC.

O gasto público tem limites eleitorais, é verdade, mas houve muita antecipação de despesas e, sobretudo, aumentos generalizados de salários do funcionalismo e das aposentadorias, um conjunto que, como gosta de justificar o governo, "injeta" bilhões de reais no consumo local.

Em resumo, é bem possível que a forte desaceleração recente da inflação e da atividade econômica tenha sido um fenômeno mais localizado no segundo trimestre do ano, espécie de ressaca diante do crescimento claramente exagerado de 10% anualizado no primeiro trimestre - além dos efeitos férias e Copa, esta reduzindo compras de tudo o que não tem que ver com futebol. E, se for assim, o aquecimento (com a pressão inflacionária) retorna desde já.

Reparem nos dados nessa direção apontados em reportagem do Estado na sexta-feira: empresas importam cimento para dar conta do crescimento das obras residenciais e de infraestrutura; faltam pneus para caminhões e ônibus; tem fila de espera para comprar caminhão; portos congestionados com exportação, mas também com importação, que cresce a quase 50% ao ano; os índices de confiança do consumidor e dos empresários estão em nível recorde; a criação de emprego com carteira desacelerou em julho, mas deve ter sido por causa das férias.

E lá fora? Aí o BC até que deu azar. Nos dias anteriores à reunião da quarta-feira passada, e nessa data, o ambiente global era bastante depressivo. Um dia depois da reunião, porém, os sinais se inverteram: bons indicadores - ou, se quiserem, menos ruins nos EUA; os bancos europeus passando bem nos testes que avaliaram seus riscos; confiança do empresariado em alta recorde na Alemanha; Inglaterra emplacando nove meses seguidos de crescimento, indicando que as maiores economias europeias têm desempenho bom; companhias americanas mostrando bons lucros; Bernanke dizendo que novos estímulos ainda não são necessários; e o primeiro-ministro dizendo que a China só vai crescer um pouco menos, mas continua em expansão forte.

Tudo isso leva de volta ao diagnóstico anterior: a recuperação da economia mundial não é uma moleza, é desigual, mas ainda é uma boa recuperação. E, mais do que isso, os governos e BCs estão preparados para voltar a intervir se a economia privada fraquejar.

E aí, como ficamos?

Toda a tese anterior do BC brasileiro - de que a nossa economia estava consumindo mais do que produzia e importava - permanece sustentável. Isso exige mais alta de juros (como, aliás, estão fazendo outros países emergentes).

Mas também se pode antecipar que há uma desaceleração local e global já em curso, o que dispensa novas altas de juros - que é a tese à qual o BC parece agora querer se associar. Seria mera coincidência que esta tese se ajeita melhor às necessidades políticas do governo Lula e sua candidata?

O BC de Henrique Meirelles trabalhou com independência e transparência inequívocas desde 2003. Derrubou a inflação e a taxa real de juros. Tem moral, portanto. Mas os últimos passos foram, digamos, algo diferentes, esquisitos. Será preciso ler com lente mais forte a ata que sai nesta quinta-feira.
*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista.

O ABILOLADO E A MENTIROSA

MARCELO DE PAIVA ABREU

Políticas perversas
Marcelo de Paiva Abreu
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/07/10



Disseminou-se hoje no Brasil a disposição de aceitar mais riscos do que recomendaria a prudência. A disputa presidencial estimulou o governo a partir para uma estratégia de uso quase obsceno da máquina pública na distribuição de benesses. Não é surpresa que, na esteira dessa postura do governo, prospere a disputa pelo acesso aos benefícios distribuídos pelo Estado com exacerbação de comportamentos rentistas. Venda de vento tornou-se vocação empresarial digna de inveja dos concorrentes. É só assegurar acesso a crédito público subsidiado e tratar de convencer investidores externos de que o Brasil vai ser, afinal, o país do presente. O ambiente de escancarada cooptação com o dinheiro público desestimula o debate sério de políticas públicas.

A formulação de políticas públicas tem sido calcada em diagnósticos superficiais com clara reincidência em erros cometidos no passado. Exemplo recente é a pretensa detecção de "desindustrialização", baseada em superficial observação da queda da participação da indústria nas exportações totais ou no PIB. Nenhuma menção ao impacto do aumento dos preços de commodities em relação aos preços de produtos industriais ou ao amadurecimento da economia brasileira com ampliação do peso relativo do setor serviços.

Tal diagnóstico tem cumprido papel central na justificativa de políticas "corretivas" - muito além do que seria justificável com base em critérios de eficiência - baseadas na provisão de crédito público subsidiado e na política de compras do Estado e de empresas estatais envolvendo metas de conteúdo nacional.

O BNDES absorveu no período recente recursos do Tesouro Nacional ao ritmo de R$ 120 bilhões por ano. Recursos que são tomados pelo Tesouro à taxa Selic, enquanto o grosso dos empréstimos do BNDES está indexado à TJLP, muito mais baixa. Reduzir o custo do investimento é objetivo louvável de política econômica, mas não por meio de subsídios maciços e indiscriminados. O governo teve oito anos para tratar de reduzir o custo do investimento de forma decente e fazer convergir a taxa Selic e a TJLP por meio de consolidação do equilíbrio das contas públicas. Crédito subsidiado só faz sentido se o objetivo for eliminar imperfeições de mercado, por exemplo, estimulando o comportamento inovador da indústria ou controlando a geração de externalidades negativas como poluição do meio ambiente. A explicação do BNDES, contrapondo uma "visão dinâmica" a uma "visão quantitativa" para explicar por que a sua atuação seria "benigna" do ponto de vista da sustentação do nível de atividade, pois cria capacidade produtiva, é deprimente.

A adoção de políticas autárquicas quanto a compras públicas é facilitada pelo fato de o País não ser signatário do acordo relevante na Organização Mundial do Comércio (OMC). A recente Medida Provisória 495 sobre licitações públicas pretende garantir a "promoção do desenvolvimento nacional" e estabelece margem máxima de 25% em benefício de bens e serviços nacionais. A política de compras da Petrobrás tem sido calcada na ideia de que não deve ser perdida a oportunidade de expansão da produção de petróleo para adotar política industrial que estimule a substituição de importações de equipamentos por meio de esquemas de preferência a supridores locais. A mesma perspectiva condiciona a concorrência do trem-bala a descabidas exigências de conteúdo local. Por que é mesmo que o conteúdo local deve ser crescente nos 45 anos previstos no cronograma, alcançando 90% para trilhos e dormentes e 60% para portas, janelas, motor de tração e rodas? Reservas de mercado acarretam aumento do custo do investimento, exatamente o oposto do que o BNDES diz ser o objetivo de sua política de subsídios. Proteção à indústria nascente pode até fazer sentido. Mas metas de conteúdo nacional são sabidamente problemáticas e é fundamental que haja programação da retirada de incentivos em prazo razoável. O Brasil tem, entretanto, longa experiência de partos seculares de indústrias nascentes.
No caso extremo teremos custo de investimento muito alto, por conta das exigências de conteúdo nacional, financiado a taxas subsidiadas pelo BNDES. É mais que razoável duvidar de que tal estratégia seja sustentável a mais longo prazo. As implicações serão danosas para as finanças públicas, ainda mais em face da incontinência estrutural de gastos e sua acomodação por meio de aumento da carga fiscal. A comemorada ressurreição de setores de atividade que no passado não sobreviveram à concorrência internacional - como a indústria naval, por exemplo - leva à desconfiança de que poderia estar havendo simples criação de nova manada de elefantes brancos.

Não há qualquer indício de que a candidata presidencial governista reconheça a inadequação dessas políticas públicas. Muito pelo contrário. Por outro lado, mesmo que o candidato de oposição reconheça a necessidade de sua reformulação, ao menos parcial, seria ingênuo pensar que posições de princípio dominem o cálculo político em meio a tão farta distribuição de benesses. Vai ser difícil e custoso fazer valer a racionalidade.

*MARCELO DE PAIVA ABREU, DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

PAINEL DA FOLHA

Concentração
RANIER BRAGON (interino)
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/07/10

Anunciada no início do mês, a criação de um conselho político para definir os rumos da campanha de José Serra (PSDB) até hoje não saiu do papel. O grupo, cuja formação foi sugerida para aplacar as críticas de aliados que se sentem alijados da coordenação da campanha do tucano, não foi convocado nenhuma vez pelo candidato. 
A manutenção do cenário de empate na disputa presidencial registrada pelo Datafolha tende a manter inalterado o equilíbrio de forças da campanha serrista. Ele tem deixado claro que prefere conversas individuais com os aliados do que reuniões colegiadas. 
Precaução - Como Lula tem aproveitado suas viagens oficiais para participar, à noite, de atos com Dilma Rousseff (PT), a área jurídica orientou a cúpula da campanha petista a ressarcir integralmente ao governo os custos dos deslocamentos às cidades onde o presidente participe de eventos eleitorais com ela, independente de ele também cumprir atividade de governo no destino. 

Nova mulher - Um observador do comportamento de Dilma nos últimos comícios anotou: as lições do padrinho de sua candidatura começaram enfim a ser praticadas. Tal qual Lula, ela agora anda de um lado para o outro no palanque enquanto discursa. Não fica mais estancada num lugar só. 
Só para... - Defendida há quase 20 anos por Eduardo Suplicy (PT-SP) e transformada em lei em 2004, a Renda Básica da Cidadania está contemplada no programa de governo de Dilma Rousseff como uma universalização, sem prazo definido, do programa Bolsa Família. 

...constar - De difícil implantação, a promessa foi redigida em fevereiro, mas cita a lei 10.853 - que trata de transporte a alunos carentes. Nesses cinco meses, ninguém parece ter notado que a lei da Renda Básica é, na verdade, a 10.835. 

Disputa nanica - A atualização pelo TSE das candidaturas impugnadas em todo o país mostra que o PV de Marina Silva praticamente se colou ao PSOL na liderança do ranking partidário de candidatos sob risco: 225, apenas dois a menos do que a legenda de Heloísa Helena. Assim como o PSOL e os demais partidos, o principal problema, no geral, não se refere à ficha judicial dos candidatos, mas à não apresentação de documentação exigida. 

Número - O Tribunal contabiliza 2.837 candidaturas com questionamento no país, 13% do total. 

Na real 1 - A ofensiva de Dilma Rousseff em busca do voto dos evangélicos tem como objetivo principal a tentativa de evitar que Marina Silva (PV), missionária da Assembleia de Deus, avance neste eleitorado e, com isso, sepulte de vez as chances de a eleição vir a ser decidida no primeiro turno. 

Na real 2 - É praticamente consenso entre as campanhas que a performance da candidata verde pode definir a existência ou não de um segundo turno na disputa. 
Amuleto - Lula apareceu em Pernambuco com uma fita do Senhor do Bonfim vermelha amarrada ao pulso. Questionado se tinha algo a ver com a eleição de Dilma, ele reconheceu: “Tem sim”. 

Cabeçalho - O PSOL mandou avisos à imprensa sobre a agenda de seu presidenciável, Plínio de Arruda Sampaio, acompanhados do comentário: “Lembramos que a legislação eleitoral brasileira prevê equidade na cobertura a todas candidaturas”.
Tiroteio
O Cabral deve estar certo. Já que a violência no Rio acabou, a educação é de primeiro mundo e a saúde perfeita, para que debater? 
DO DEPUTADO RODRIGO MAIA (DEM-RJ), ironizando a afirmação do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), de que não pretende participar de debates pois a população do Estado já conheceria o seu governo.
Revendo conceitos 

Integrante de uma das primeiras levas de políticos a aderir ao Twitter, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) foi lembrado, na rede, de declaração do início de 2006 em que comparava Lula a Adhemar de Barros, inspirador do bordão “rouba, mas faz”. 
Minutos depois de o assunto surgir, na semana passada, Geddel respondeu no Twitter: 

- Tudo que disse e fiz ao longo da vida tá dito e tá feito. (mas) A vida me permite mudar rumos, aprender, mudar posições e opiniões.

GOSTOSA

KÁTIA ABREU

O que houve de novo com o Brasil
Kátia Abreu 
O Estado de S.Paulo - 26/07/10

O Brasil orgulha-se hoje de ser uma economia estável e forte, que consegue crescer de modo sustentável a taxas elevadas e ao mesmo tempo distribuir renda, incorporando largos contingentes de população ao mercado de consumo e a padrões mais civilizados de bem-estar material. Olhando para trás, para tantas décadas de instabilidade, de surtos breves e logo frustrados de crescimento, temos de reconhecer que vivemos uma grande transformação.


O que tornou possível essa transformação? Tivemos vários momentos de crescimento, que não duravam muito. Após poucos anos, o crescimento provocava inflação, pois a oferta interna, especialmente de alimentos, não era capaz de acompanhar o aumento da demanda induzida pelo crescimento da renda. Mais grave era o outro problema, o cambial.
Diante da inflação sem controle e do desequilíbrio cambial, a única política possível era conter o processo de crescimento, para aliviar as pressões sobre os preços e sobre o déficit externo. Assim, voltávamos à estagnação econômica, embora a população continuasse crescendo e a imensa maioria vivesse na pobreza.
Para crescer sem interrupções seria necessário superar o limite de nossa capacidade para importar. Financiar indefinidamente o déficit cambial com financiamento externo não seria sustentável. Por termos tentado este caminho, incorremos em várias crises de endividamento e chegamos à moratória. Era preciso encontrar um meio realista de elevar a receita cambial.
Como sabemos hoje, no Brasil só a agricultura e a pecuária podiam realizar essa tarefa. Mas ninguém pensava nisso seriamente. Afinal, a produção rural brasileira crescia pouco e não éramos, de fato, até 1970, sequer capazes de atender ao abastecimento interno. Além do mais, a sabedoria convencional de então ditava que o desenvolvimento econômico significava o aumento da produção industrial e o encolhimento relativo da produção rural.
Apesar disso, a partir dos anos 70, teve início uma silenciosa revolução no campo brasileiro. Novas gerações de produtores rurais começaram a emergir, muitos deles abrindo novas fronteiras agrícolas ou transformando os modos de produzir nas fronteiras já estabelecidas. Esses novos agricultores romperam com as formas tradicionais de produção, apropriaram-se do conhecimento acumulado nas universidades rurais e na nova Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e trouxeram para a produção rural a disposição de assumir riscos e a compulsão do crescimento.
A ação destes novos empreendedores transformou em pouco tempo a produção rural brasileira, tornando-a em poucas décadas a segunda maior do mundo em escala e diversidade de produção e a primeira e única grande agricultura em área tropical.
Os números dessa revolução são impressionantes. Em 1965, antes do início desse processo, a produção brasileira de grãos era de 20 milhões de toneladas, para uma população de 80 milhões de habitantes, portanto, uma produção de 250 kg de grãos por habitante. Em 2008 a produção de grãos chegou a 144 milhões de toneladas, para uma população de 190 milhões de habitantes, o que representa uma produção per capita de 758 kg. A produção total cresceu 7 vezes, mas a área de plantio, que era de 21 milhões de hectares em 1965, passou para apenas 48 milhões de hectares em 2008, apenas 2,5 vezes mais. A produção de carnes, em 1965, era de 2,1 milhões de toneladas, o equivalente a 25 kg por habitante por ano. Em 2006 a produção alcançou 20 milhões de toneladas, o equivalente a algo como 100 kg por habitante/ano. A produção total aumentou dez vezes, mas as áreas de pastagens cresceram apenas 15%.
Esses gigantescos aumentos de produção e de produtividade mudaram a história da economia brasileira. Essa agricultura altamente produtiva e de grande escala conquistou os mercados externos e passou a gerar grandes superávits no balanço de pagamentos, dada a sua pequena dependência de importações. Entre 1994 e 2009, o agronegócio acumulou um saldo comercial com o exterior de US$ 453 bilhões. No mesmo período, o saldo comercial total do Brasil foi de US$ 255 bilhões. Significa que, sem a contribuição das exportações do agronegócio, o Brasil teria incorrido num déficit comercial de US$ 198 bilhões, praticamente o valor das reservas cambiais do País no final do ano passado. Não fora a contribuição do agronegócio, o País estaria vivendo gravíssima crise cambial e a história do nosso crescimento recente teria sido muito diferente.
Outro efeito dessa revolução no campo foi a persistente queda no custo da alimentação no mercado interno. Os professores José Roberto Mendonça de Barros e Juarez Rizzieri mostraram, em pesquisa, que o custo no varejo de uma ampla cesta de alimentos na cidade de São Paulo caiu pouco mais de 5% ao ano, em termos reais, entre 1975 e 2005. Uma queda dessa dimensão só foi possível pelos aumentos impressionantes da produção e da produtividade no campo. E, em decorrência, as classes de renda média e baixa não apenas puderam consumir mais e melhores alimentos, como elevaram seu poder de compra de produtos industriais. Assim, o efeito da queda dos preços agrícolas é mais importante que as transferências de renda para explicar a melhoria do padrão de vida das populações mais pobres.
O Brasil que se desenvolve hoje e se projeta no mundo como uma economia dinâmica e moderna é um País construído a partir da agricultura e da pecuária. E continuará sendo, no futuro, sem estar por isso condenado ao atraso e à pobreza, como vaticinavam no passado. Mas para isso é necessário que o Brasil valorize o agricultor e o pecuarista, que foram os agentes dessas transformações, dando-lhes o realce merecido e poupando-os dos preconceitos que sobrevivem às evidências da realidade.
SENADORA DA REPÚBLICA (DEM-TO), É PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)

CLÁUDIO HUMBERTO


Contrato de US$ 1 bi na Petrobras sem licitação

A Diretoria Internacional da Petrobras tomou uma decisão que pode provocar prejuízos aos cofres públicos: para realizar serviços de segurança, meio ambiente e saúde em 30 países onde tem escritório, no valor total de US$ 1 bilhão, ao invés de promover licitação internacional, enviou convite a sete empresas: Odebrecht, OAS, Mitsui, Camargo Corrêa, Marubeni, KBR Corporation e Bechtel Corporation.


Concorrência?

O "convite" apenas a um grupo de empresas impede a participação de outras, o que poderia jogar para baixo o valor do contrato.


Humm...

Das empresas convidadas pela Petrobras, somente a Odebrecht cumpriu algumas formalidades indispensáveis para se habilitar aos contratos.


Desinteresse

As demais empresas convidadas sequer consultaram ou visitaram a Petrobras, o que levantou suspeitas de direcionamento do "convite".


Ponte Jobim

A ponte que restabelece as relações entre o lulismo e o serrismo, em momentos de tensão, atende pelo nome de ministro Nélson Jobim.


Presente

O novo xodó do presidente Lula é um iPad, computador portátil da americana Apple, que ele ganhou do primeiro-ministro do Kuaite, xeque Nasser Al-Mohammed Al-Ahmed Al-Jaber Al-Sabah, em visita a Brasília, há dias. A oposição vai chiar e Lula dirá que não sabia, claro, mas o Código de Conduta do Servidor o proíbe receber presentes de valor superior a cem reais. O iPad custa US$ 800 (cerca de R$ 1.600).


Sem problemas

Assessora de Dilma Rousseff, a jornalista Helena Chagas afirma que a candidata não enfrenta problemas com o câncer nela diagnosticado.


Responsabilidade

Em vez desmentidos vagos, Dilma Rousseff deveria informar a Nação, responsavelmente, antes da eleição, sobre seu real estado de saúde.

Céu de brigadeiro

A Infraero não sabe o que fazer com aeroportos, mas trata muito bem funcionários gays, agora com benefícios trabalhistas do parceiro (a).


Onde? Quem?

A ONG Repórteres Sem Fronteiras condenou a tentativa do porralouca Hugo Chávez de controlar a rede de TV privada Globovisión. No Brasil, ABI e Federação Nacional dos Jornalistas pelo visto não leem jornais.


Receita

Ao ameaçar a Colômbia, o fanfarrão que preside a Venezuela, Hugo Chávez, apenas tenta desviar as atenções da população para o fiasco do seu governo, com inflação, pobreza e corrupção crescentes.


Que respeito?

Em comercial da Nextel na tevê, um MV Bill se exibe sem modéstia: "sou poeta e pensador, respeitado no mundo inteiro". Sei. É aquele que se deparou em cativeiro com três pessoas amarradas e encapuzadas, em favelas do Rio, enquanto fazia um documentário, e silenciou.


Made in USA

A candidata Dilma Rousseff já tem comitê em Framinghan (EUA), reduto de brazucas. A presidente é a socióloga Cláudia Tamsky, presidente da CUT de lá, a Central do Trabalhador Imigrante Brasileiro. país, após calamidade. Precisa de US$ 982 milhões.


Pelo ralo

Um movimento lava-jato continua funcionando no prédio anexo do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, para carros oficiais e particulares - e com a água inteiramente por nossa conta, claro.


FRASE DO DIA


"Estou apoiando a Dilma, não tem vacilação"
Ciro Gomes , que dizia não apoiar ninguém, agora prega "turma de FH, nunca mais"

PODER SEM PUDOR

O domínio paulista
Certa vez, forças produtivas de Minas Gerais resolveram se rebelar contra o domínio paulista na economia. Mas tudo caiu por terra, numa reunião, quando deram a palavra ao representante do Banco Nacional, destacado pelo ex-governador Magalhães Pinto. Achando aquilo desnecessário e meio risível, José Aparecido de Oliveira ponderou, irônico:
- Deveríamos ser gratos: afinal, quando chegamos em São Paulo , eles não nos pedem passaporte, aceitam nossa moeda e até falam a nossa língua...

A TERRORISTA MENTIROSA

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Eleições 2010: União abre os cofres às vésperas das eleições

Folha: Maioria já deu, levou e é contra proibir palmadas

Estadão: Valor das lavouras no PIB rural quadruplica

JB: A arma negra de Chávez

Correio: Os cifrões e os perigos da plástica no DF

Valor: Estagnação da economia faz BC rever alta do juro

Estado de Minas: Turista dá cartão amarelo para Copa 2014 em BH

Jornal do Commercio: O tricolor voltou

Zero Hora: Índios fazem reféns em hidrelétrica na Amazônia