quinta-feira, abril 08, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A candidata pessoa jurídica

O Estado de S. Paulo - 08/04/2010

A população que se acostume: não há hipótese de a ex-ministra Dilma Rousseff, como ela disse e tornou a dizer nos últimos dias, se "desvencilhar" do governo Lula. Isso significa que não há hipótese de a candidata ir para o embate sucessório como uma figura de projeção que, embora fiel ao presidente a quem tudo deve, e leal à administração da qual fez parte desde a primeira hora, tenha identidade própria, propostas próprias ? em suma, vida eleitoral própria. A tática petista de transformar a campanha em um confronto entre o período Fernando Henrique e o atual já não se explica apenas pela expectativa de explorar a grande popularidade de Lula em favor de sua apadrinhada, que ainda não disputou nem uma vaga de síndica, diante de um adversário, o ex-governador José Serra, calejado nas urnas e na atividade pública.

Para o lulismo, a preferência pela disputa plebiscitária ? "nós e eles, pão, pão, queijo, queijo", na memorável descrição do presidente ? tende a ser cada vez mais um imperativo advindo de uma indigesta realidade: a esqualidez aparentemente irremediável do desempenho da candidata, apesar do curso intensivo a que a submetem alguns dos melhores nomes do ramo. À falta de uma Dilma pessoa física, só resta aos seus mentores fazer dela uma pessoa jurídica ? a representação da era Lula.

Naturalmente, o esquema exige descarnar o opositor para criar a ficção de que os nomes à espera do eleitor na urna eletrônica serão, para todos os efeitos, os de dois governos. Daí as tentativas de Dilma de descaracterizar as manifestações do candidato que, diferentemente dela, tem um perfil político estabelecido e fala por si.

Dentro da camisa de força em que as suas limitações e os cálculos plebiscitários dos seus mentores a aprisionaram, a ex-ministra não pode permitir que Serra reconheça méritos neste governo e se proponha a ir em frente ? que é, afinal, o que a população deseja de todos os candidatos. O governador tem de se comportar como os "lobos em pele de cordeiro", que Dilma diz enxergar nos oposicionistas quando defendem a manutenção das políticas sociais de Lula (sem omitir que as suas sementes foram plantadas na gestão que o precedeu). À interdição das opiniões contrárias ao maniqueísmo atrás do qual oculta as suas carências, a candidata acrescenta a mentira pura e simples. Serra ? ela disse isso duas vezes em poucos dias ? é o responsável pelo racionamento de energia em 2001 e 2002, por ter sido ministro do Planejamento de Fernando Henrique ? 6 anos antes, fingiu esquecer.

A súbita agressividade da ex-ministra, na sua ânsia de passar ao público mensagem do gênero "Dilma e Lula, tudo a ver", decerto reflete também o seu visível desconforto ao participar, sem a confortadora companhia do presidente, de eventos preparados para promover a humanização de sua imagem. Nessas horas, temperamento e a lulodependência insatisfeita se combinam para fazê-la tropeçar nas próprias deficiências. O momento crítico é o encontro com a imprensa. Um dia, a ex-prisioneira torturada no regime militar, quando solicitada a comentar as declarações de Lula sobre as greves de fome de dissidentes cubanos, aproveitou para fazer uma comparação infame entre os presos políticos brasileiros. Estes, só a muito custo conseguiram falar com a Anistia Internacional. Já os cubanos, seriam privilegiados, deu a entender, "porque o acesso que eles têm à mídia é muito grande".

Na sua produzida excursão sentimental a Minas, seu Estado natal e segundo maior colégio eleitoral do País, depois de São Paulo, Dilma teve de se haver com uma pergunta sobre as razões que a levaram a começar a sua pré-campanha em "berço tucano", numa alusão ao governo Aécio Neves, do PSDB.

Agressiva, a candidata reagiu então com 4 pedras em cada mão e um disparate na cabeça. "Minas é meu berço, viu? E eu não sou tucana", começou, para emendar: "Tancredo, que eu saiba, também não era tucano. Que eu saiba, Juscelino Kubitschek não era tucano." Ao que se saiba, Juscelino morreu em 1976. Tancredo, em 1985. E o PSDB foi fundado depois, em 1988. Longe de Lula, logo se vê, Dilma é uma autêntica anticandidata. O criador terá de fazer muito mais do que já fez pela criatura.

O ESGOTO DO BRASIL

NAS ENTRELINHAS

Maus atores na tragédia

Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 08/04/2010
 
A precariedade dos atores e do enredo fica mais visível quanto mais crítica é a situação. O governante se acha esperto quando tenta repassar aos antecessores tudo que há de ruim ou problemático. Mas agora no Rio está um pouco mais difícil
 
 
 

Qual é o curso mais adequado para quem deseja seguir a carreira política? Administração pública? Direito? Ciências sociais com pós-graduação em ciência política? Economia? Jornalismo? Talvez Engenharia civil?

Pensando bem, certo seria tascar “nenhuma das anteriores”. A formação mais útil para o político é artes cênicas ou dramáticas. A política é antes de tudo um teatro.

O Rio de Janeiro foi arrebentado pelas chuvas nos últimos dias. O jornalismo moderno proíbe a expressão, mas aqui ela cabe: chuvas torrenciais.
Quando calamidade parecida atingiu com força o município fluminense de Angra dos Reis, em janeiro, notei que o PT ficou quietinho, ao contrário do que acontecera em São Paulo dias antes. Pois no Rio o partido navegava nas águas do governo Sérgio Cabral (PMDB), enquanto em SP era oposição ao então governador José Serra.

Há alguma injustiça em o PT atacar ferozmente o PSDB pelas enchentes em SP? Nenhuma. Atacou foi pouco. Governantes precisam ser criticados com a contundência necessária para tomarem as providências exigidas pela situação. Importa menos se as críticas são justas ou injustas: elas devem ser suficientes para romper a inércia do poder, cuja primeira reação é invariavelmente achar que “tudo está bem”. Ou eximir-se de responsabilidade, quando não dá para fingir que está tudo bem.

Existe algo mais patético do que o pseudolíder choramingar, na hora do aperto, um meloso “a culpa não é minha”? Ou um revoltante “a culpa é do povo”?

O eventual melindre do presidente, governador ou prefeito não tem nenhuma relevância quando comparado ao sofrimento do sujeito que vê o resultado de uma existência de sacrifícios ser levado pela água. Isso quando a água não leva a vida do ente querido.

A precariedade dos atores e do enredo fica mais visível quanto mais crítica é a situação. O governante se acha esperto quando tenta repassar aos antecessores tudo que há de ruim ou problemático. Mas agora no Rio está um pouco mais difícil.

A responsabilidade não é do governador Sérgio Cabral, pois ele é aliado do governo federal. Uma alternativa seria colocar a culpa em Anthony e Rosinha Garotinho, que vieram antes de Cabral e administraram cada um durante quatro anos. Mas os Garotinho estão no PR e apoiam a candidata do PT, Dilma Rousseff.

Bem, ufa!, teve o tucano Marcello Alencar entre 1995 e 1998. E antes de Alencar? Entre 1991 e 1994 o governador foi Leonel Brizola, que já governara o Rio de 1983 a 1987. Só que não dá para falar mal de Brizola quando um herdeiro político dele, Carlos Roberto Lupi, comanda o PDT e está de armas e bagagens na candidatura governista.

Sobrou alguém? O peemedebista Moreira Franco, que governou entre 1987 e 1991. Mas ele também integra hoje a base de Lula, tem um cargo bacana no governo federal e compõe o núcleo duro do PMDB que manda.

Eis o rol dos governos no Rio desde a redemocratização.

Bem, se não dá para culpar ninguém terreno, presente ou pretérito, vai acabar sobrando para Deus. Ele que se vire. A regra é simples e de fácil aplicação. A inundação é no governo do adversário? A culpa é dele. A inundação é no nosso, ou no de um amigo nosso? A culpa é d`Ele.
E o dinheiro?
Ainda sobre teatro, o Brasil tem visto nas últimas semanas a emocionante e emocionada mobilização dos políticos e da “sociedade civil” no Rio de Janeiro para os royalties do Pré-Sal seguirem o curso normal e acabarem forrando os cofres dali.

Depois de enterrados os mortos e socorridas as famílias que perderam suas casas, talvez vá ser o caso de convocar esses mesmos personagens lacrimosos para explicar ao país o que vem sendo feito com a montanha de dinheiro que há anos o petróleo injeta no Rio.

JONATHAN WEIL

E o xerife, como de costume, chegou tarde à cena do crime

Valor Econômico - 08/04/2010
 
A boa notícia da semana passada vinda da Securities and Exchange Commission (SEC) é que ela está caçando companhias que usam os truques contábeis estilo Lehman, que as fazem parecer menos alavancadas do que realmente estão. Agora a notícia ruim: a agência do governo americano sempre em busca de manchetes nos jornais está atrasada demais, como sempre.
Em 29 de março a SEC disse que sua Divisão de Finanças Empresariais vai enviar questionários detalhados para duas dezenas de grandes bancos e companhias de seguros. Entre outras coisas, a SEC está perguntando às companhias se nos últimos três anos elas chegaram a tratar contabilmente acordos de recompra como vendas, como meio de encolher temporariamente seus passivos.
Esse, conforme os leitores podem muito bem lembrar, é o mesmo artifício que o Lehman Brothers usou e que era conhecido internamente como Repo 105. As maquinações do Lehman Brothers também poderiam estar de acordo com as normas contábeis se a instituição não tivesse declarado falsamente em seus relatórios financeiros que tratava todos esses acordos de recompra como financiamentos ou empréstimos. O resultado foi que o Lehman levou as pessoas de fora a acreditar que ele não havia reduzido os ativos ou passivos em seus livros como resultado das transações.
Provavelmente não é coincidência o fato de a notícia dos questionamentos da SEC surgir menos de três semanas depois que o perito encarregado da falência do Lehman, Anton Valukas, revelar a história sobre os Repo 105, que o Lehman usou para aparar US$ 50 bilhões de seu balanço no fim de um determinado trimestre. A cronologia sugere que foi o relatório de 11 de março de Valukas e a publicidade subsequente que ele criou que levaram a SEC a começar a fazer perguntas.
Eis o que confunde a cabeça. Antes de o Lehman pedir concordata em setembro de 2008, a SEC era sua principal autoridade reguladora. A divisão de fiscalização da SEC supostamente vinha investigando a contabilidade do Lehman desde o colapso da instituição, ou pelo menos deveria estar. Mesmo assim, foi só depois da divulgação do relatório de Valukas que a SEC começou a demonstrar preocupação, ou mesmo consciência, de que essa mágica contábil podia estar ocorrendo no Lehman ou em outras instituições.
Será que a SEC, liderada por Mary Schapiro, não sabia da dimensão da tramoia dos Repo 105 do Lehman até que Valukas divulgasse seu relatório? A agência não disse nada para contestar essa suposição. Quando perguntei ao porta-voz da SEC John Heine se era esse o caso ele não quis comentar.
Seja qual for a resposta, isso não fica bem para a SEC. Se ela nada sabia sobre as trapalhadas dos Repo 105 do Lehman até o mês passado, isso explicaria porque ela não enviou seus questionários para os bancos e seguradoras antes. Se a SEC sabia disso de antemão, ela deveria ter começado bem antes a questionar outras companhias sobre seus métodos - certamente antes de elas terem encaminhado os relatórios anuais de 2009.
Um aparte: nos negócios Repo 105, o Lehman colocou as garantias em 105% do dinheiro que recebeu e usou o dinheiro para pagar dívidas temporariamente, normalmente por cerca de uma semana, daí o nome do esquema.
Uma autoridade reguladora de fato teria, é claro, feito alguma coisa para impedir a prestidigitação do Lehman enquanto ela ainda estava em andamento. Mas SEC não estava apenas alheia aos Repo 105 antes do Lehman explodir. Ela provavelmente não teria se importado com isso na ocasião, não obstante o interesse súbito demonstrado pelo assunto na semana passada.
Em seu relatório, Valukas diz que entrevistou seis funcionários da SEC em agosto, que eram responsáveis pelo monitoramento das operações do Lehman. "Nenhum deles informou sobre o uso das transações Repo 105 do Lehman", escreveu ele.
Mais notável ainda foi a explicação que Valukas recebeu em novembro, quando entrevistou Matthew Eichner, um ex-diretor-assistente da divisão da SEC que supervisionava o Lehman. Valukas disse que Eichner não estava a par dos Repo 105, de nome ou descrição.
No entanto, mesmo que a agência soubesse do volume de negócios Repo 105 do Lehman, Eichner disse que eles não seriam um sinal de que "alguma coisa estava muito errada". Eichner, hoje um consultor do Federal Reserve (Fed), disse isso porque os monitores da SEC não dão muita atenção aos números de alavancagem.
Portanto, mesmo com o benefício do retrospecto, percebe-se que a equipe da SEC não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Deve ser bom viver dessa maneira. O lado bom é que pelo menos agora a SEC diz que pretende tornar públicas as respostas de seus questionários mais recentes assim que as análises forem concluídas.
Tudo isso me faz lembrar um velho ditado do renomado "short seller" [vendedor de ações a descoberto] Jim Chanos, da Kynikos Associates. "Os 'short sellers' são os detetives em tempo real dos mercados financeiros, enquanto os reguladores com muita frequência acabam como os arqueólogos do mercado."
É a mais pura verdade. Foram os investidores que estavam vendendo ações do Lehman a descoberto, especialmente David Einhorn, da Greenlight Capital, que alertaram o público de que o Lehman provavelmente estava maquiando seu balanço, embora nem mesmo o mais brilhante desses "vendedores a descoberto" teria sido capaz de detectar as transações Repo 105 do Lehman estando do lado de fora. Quanto ao resto do adágio de Chanos, a SEC agora está levando a coisa um passo adiante.
Em seus esforços para identificar tramoias ao estilo Lehman em outras companhias, a SEC foi relegada a tomar as rédeas de descobertas arqueológicas feitas por outros. Enquanto isso, não há duvida que os maquiadores de balanços mais inventivos encontraram novos truques que a SEC ainda não começou a entender, quanto menos descobrir. Em todo caso, antes tarde do que nunca.
Jonathan Weil é colunista da Bloomberg.

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

A culpa é do mercado
O Globo - 08/04/2010
Desastres naturais atingem igualmente países ricos e pobres, cidades organizadas e bagunçadas. As consequências, porém, são tão desiguais quanto a renda. Um terremoto violento mata mais de 200 mil no Haiti, menos de mil no Chile e menos de dez no Japão. Não se trata apenas de dinheiro, mas de cidadania.

Prédios sólidos, equipamentos urbanos adequados, isso se faz com recursos materiais, mas também com as pessoas e empresas respeitando as regras de construção e de zoneamento, o que é também uma característica de sociedades desenvolvidas.

Logo, não faz sentido reclamar que o Rio não tem sistemas de prevenção nem de reação às catástrofes semelhantes aos encontrados nos Estados Unidos, na Europa desenvolvida ou no Japão.

Essa foi a resposta de muitas pessoas diante das críticas feitas à ação (ou inação) dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), diante do desastre do Rio. É como se dissessem: com o que temos, com o que somos, está mais que bom.

Será? A Itália (com renda per capita em torno de US$ 30 mil) é quase tão rica quanto o Japão (US$ 32.500), mas os japoneses lidam muito melhor com as catástrofes. A diferença é cultural, vem tanto do respeito às leis quanto da qualidade dessas leis. Depende do modo como as pessoas se comportam em sociedade, mas depende muitíssimo da eficiência dos governos.

Ou seja, com o que temos, com o que somos, poderíamos fazer melhor.

Basta verificar o perfil do gasto público brasileiro, em qualquer instância de governo. O que se aplica em infraestrutura está sempre abaixo não é nem do ideal, mas do possível. Governantes, líderes políticos, são tão bons em anunciar grandes projetos quanto incapazes de realizá-los.

São bons também em anunciar medidas enérgicas e definitivas diante das catástrofes, com grau de realização igualmente baixo. Governo estadual e Prefeitura do Rio estão pedindo R$ 370 milhões ao governo federal, que vai prometer. Mas, dos R$ 200 milhões prometidos depois da tragédia de Blumenau, não saíram nem 20%.

E, quando o dinheiro não sai, há uma fileira de culpados. Um deles, um suspeito habitual e preferido, é o superávit primário — a parte do orçamento que vai para o pagamento de juros e a redução do endividamento público.

Ora, fazer esse superávit, regra introduzida pelo governo FHC em 1998 e mantida no governo Lula, é um dos pilares da política econômica de estabilização, que antes se acusava de neoliberal. De maneira que caímos nisso: tem enchente por causa do mercado que exige pagamento de juros em vez de investimento público em obras de contenção e saneamento.

É por causa desse tipo de raciocínio que estamos onde estamos.

Um governo altamente endividado tem dificuldades para se financiar e paga juros cada vez mais altos. Isso reduz sua capacidade de investimento.

Ao contrário, um governo que faz o sacrifício de sanear as finanças e equilibrar suas contas, adquire maior capacidade de financiamento e investimento.

Ora, por aqui o governo se endividou largamente no passado, fez inflação para desvalorizar suas dívidas e gastos e depois aumentou brutalmente a carga tributária. Ou seja, fez dinheiro, muito dinheiro. E onde está a infraestrutura que amenizaria as catástrofes naturais? Em vez disso, tivemos inflação e calotes. Do Real para cá, a situação foi melhorando, o setor público cada vez mais saneado, mais capaz de gastar de maneira saudável.

De novo, onde estão as obras? No superávit primário? Mas quais foram os gastos que mais cresceram nos últimos anos? Pessoal, custeio, previdência. O governo arrecada mais de 36% do PIB e aplica menos de 3% no superávit primário.

Descontado isso, portanto, sobram 33% do PIB, uma receita superior à de qualquer outro país emergente.

Ou seja, no Brasil, o setor público dispõe proporcionalmente de mais recursos do que as nações de desenvolvimento parecido. E não consta que os serviços públicos sejam igualmente superiores.

Falando francamente e tocando num ponto nevrálgico: se tem dinheiro para Pan, Copa e Olimpíadas, como é que faltaram R$ 370 milhões para obras antienchentes no Rio e os 200 milhões de Blumenau?

MÍRIAM LEITÃO

Feitiço do tempo
O GLOBO - 08/04/10

No filme “Feitiço do tempo”, o personagem principal, de Bill Murray, recomeça o mesmo dia como se já não o tivesse vivido, com a vantagem de que os outros não se lembram do que ele disse na véspera. O presidente Lula deve pensar que tem esse benefício da amnésia alheia. O problema com Lula não é o que ele diz, mas combinar com o que ele disse ou fez no dia anterior.

Ele disse aos ministros que não se pode iniciar projetos novos, dois dias depois de ter lançado o PAC-2 com projetos para até o ano 2016. Ele fez piadas e brincadeiras pelas multas que recebeu da Justiça Eleitoral, por flagrantes de uso político da máquina.

Dias depois, condenou o uso da máquina em propaganda, como se isso fosse atitudes de outros, jamais dele.

Desde que lançou o PAC2 com uma enorme fanfarra, ele não perde oportunidade de alertar os novos e acidentais ministros que não lancem nenhum outro projeto, nenhum plano novo. “Nós não estamos em época de pensar em um novo programa, estamos na época de executar os programas que vêm andando”, disse ele, 48 horas depois de ter lançado uma interminável lista de novos projetos, com quase todo o PAC-1 pendente.

Dias depois, voltou a dizer que não se pode iniciar nada agora, faltando nove meses. Então por que lançou planos que não irá executar? Confirmado, portanto, o entendimento geral de que nada daquilo era para ser levado a sério, era apenas uma peça de marketing político.

Certas declarações que ele faz nos levam a pensar que das duas uma: ou é ele que se esquece do que disse ou fez na véspera, ou pensa que esse é um país de desmemoriados, que dá a ele a enorme vantagem de reescrever diariamente o enredo da sua história.

Infelizmente, talvez seja a segunda alternativa. Do contrário, como explicar o que Lula disse sobre a Emenda Ibsen? A versão do presidente na entrevista concedida à Rádio Tupi é a seguinte: “Fomos pegos de surpresa pela emenda.” Uma versão feita de encomenda para agradar o estado castigado pelas chuvas dos últimos dias e ameaçado de perder receita: “De repente, aparece alguém e resolve fazer uma proposta tirando tudo do Rio de Janeiro, sem levar em conta que o Rio é uma região que já perdeu a capital.

Isso explica um pouco a deterioração do Rio.” Para acreditar que o presidente foi “pego de surpresa” pela emenda, é preciso aceitar que ele não tem qualquer assessor, ministro das Relações Institucionais, chefe da Casa Civil, nem se interessa em saber como vota a sua base aliada. Há vários canais que ligam o Executivo ao que se passa no Congresso. Tinham que estar todos fechados para que o presidente não soubesse da emenda do deputado Ibsen Pinheiro.

Depois de ter feito campanha ostensiva por meses a fio para a ex-ministra Dilma Rousseff, ele agora condena o uso da máquina: “É preciso que a gente seja definitivamente republicano neste país”, disse.

O presidente criticou as administrações passadas pelo que aconteceu no Rio, esquecido de que, um dia antes, sua candidata Dilma Rousseff veio ao Rio fazer campanha para o exgovernador Anthony Garotinho, que, com sua mulher, governou o estado por oito anos. Juntando-se aos três anos do seu incondicional aliado Sérgio Cabral, são 11 anos de governo.

Mas para dizer isso, e culpar os outros, o presidente deve acreditar que ninguém se lembra que ele permitiu que seu governo distribuísse de forma politiqueira a verba para prevenção e reparação de acidentes como esse. Os números da manipulação da distribuição das verbas federais foram tão escandalosos, que o único benefício da dúvida que o presidente pode requerer é desmoralizante: é ele não saber o que seu próprio governo faz, ter sido também apanhado de surpresa por essa distribuição paroquial do dinheiro.

Seu raciocínio sobre a Emenda Ibsen tem outro defeito. Ela não é condenável porque um dia o Rio perdeu a capital. Isso foi há 50 anos, já deu para a cidade se recuperar do trauma. Não é isso que explica a “deterioração” do Rio, para usar a palavra do presidente. Governos federal e estadual têm errado na cidade e no estado, como o governo Lula e de seus aliados no Rio.

Mesmo assim, há boas perspectivas pela frente.

O Rio acaba de receber o grau de investimento e tem uma chance olímpica de enfrentar problemas sempre relegados. O que o Rio não pode é ser vítima de uma união interesseira entre os estados em torno de uma emenda oportunista e expropriadora. O que o estado quer é manter sua receita atual e não voltar 50 anos no tempo. O que o estado precisa é de um presidente atento e não de um que alega ter sido o último a saber que havia uma emenda tramitando no Congresso, a bordo de um projeto governamental com carimbo de urgência, que simplesmente desorganiza o futuro do estado.

Lula se comporta no fim do governo como se esse fosse seu primeiro dia de administração e ele não tivesse que prestar contas e sim cobrar malfeitos dos antecessores. Alguém precisa dizer ao presidente que os brasileiros sabem que ele está chegando ao final de oito anos de governo e que os moradores dessa terra não têm amnésia recorrente. Todos sabem o que ele fez ou disse ontem, na semana passada e nos últimos anos. No filme “Feitiço do tempo”, Bill Murray tenta consertar num dia o erro que cometeu no dia anterior.

O ESGOTO E A MENTIROSA

MERVAL PEREIRA

Trair e coçar...
O GLOBO - 08/04/10


Caminhamos para ter uma eleição para presidente da República não apenas muito disputada, como também com um dos maiores graus de traições políticas já registrados nos últimos tempos. A candidata oficial, Dilma Rousseff, já deu mostras de que não dá muita bola para lealdades políticas, a não ser, é claro, a seu criador, o presidente Lula. Mais espantoso do que a homenagem que prestou a Tancredo Neves ontem em São João Del Rei foi a aceitação pública do voto PT-PSDB em Minas.

Assim como nas eleições de 2002 e 2006 houve por lá o voto Lulécio, que elegeu Lula presidente e Aécio Neves governador, querem repetir a dose com o voto Dilmasia, com a candidata oficial aliada ao candidato do PSDB ao governo, Antonio Anastasia.

Dilma chegou a fazer a gentileza de dizer que preferia que essa modalidade de voto fosse conhecida como Anastadilma, colocando na frente o candidato tucano. Quem não deve ter gostado muito da brincadeira é o candidato do PMDB, Hélio Costa, que aguarda o apoio do PT.

Há um vasto terreno nos dois partidos para a “cristianização” de seus candidatos.

O termo, segundo o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro da Fundação Getulio Vargas, define a “traição de um partido político a seu candidato a cargo eletivo”.

Passou a ser usado a partir de 1951, depois que o PSD, tendo indicado Cristiano Machado candidato à Presidência, apoiou na verdade a candidatura de Getulio Vargas.

Nas eleições de 1950, Vargas ganhou com cerca de 48% dos votos, contra 29% do segundo colocado, o udenista Eduardo Gomes.

Cristiano Machado acabou em terceiro, com 21%.

Outro detalhe importante é que o desempenho geral do PSD foi muito melhor que o de seu candidato à Presidência em vários estados, inclusive nas Minas Gerais de Cristiano Machado.

Por esse critério, Serra foi “cristianizado” por Aécio em 2002 e Alckmin em 2006 com a candidatura Lulécio, que Dilma quer repetir agora.

Ao mesmo tempo em que se oferece para uma dobradinha com o partido de Aécio, jogando para o lado tanto o PT quanto o PMDB mineiros, a ex-ministra Dilma Rousseff tenta unir sua imagem também à de Tancredo Neves, avô de Aécio, e que representa integralmente a mais nobre tradição da política mineira.

Uma homenagem tão estapafúrdia que deve ter provocado náuseas nos que acompanharam a trajetória do presidente que morreu antes de tomar posse.

O partido que Dilma representa hoje não apenas recusouse a votar em Tancredo no Colégio Eleitoral como expulsou três deputados federais que, tendo visão política menos imediatista, se recusaram a seguir a orientação partidária e deram seus votos para a eleição do primeiro presidente civil de oposição no regime militar.

O mais surpreendente é que o gesto eleitoreiro tenha partido da mesma pessoa que, dias antes, acusara o candidato oposicionista de ser um lobo em pele de cordeiro por não atacar o presidente Lula diretamente.

Dificilmente existirá atitude mais dissimulada do que essa de homenagear um líder político 25 anos depois, no momento em que seu estado é fundamental para o resultado da eleição, sem ao menos uma explicação, muito menos autocrítica.

A mesma atitude dúbia ela tomou no Rio de Janeiro ao afagar Garotinho, o candidato do PR ao governo, para desilusão do governador Sérgio Cabral, do PMDB, que se considera o candidato oficial de Lula.

A relação de Cabral com Dilma não anda boa desde a crise dos royalties do petróleo, cujo cerne está no projeto do novo marco regulatório para exploração do présal, organizado pela então chefe da Casa Civil.

Para Sérgio Cabral, é mais fácil brigar com Dilma do que com o presidente, e por isso ele já andou dando um recado para a candidata oficial de que nem mesmo sua mulher votaria nela caso prevalecesse a disposição de mudar a distribuição dos royalties.

Uma disputa presidencial apertada como se avizinha valorizará cada adesão que um dos lados conseguir. Assim como pode haver o voto Dilmasia ou Anastadilma em Minas, pode haver um voto suprapartidário no Rio que una o tucano José Serra e o governador Sérgio Cabral. Já existem até comitês nesse sentido sendo montados no estado.

Há ainda a situação do exprefeito Cesar Maia, rejeitado pelo PSDB e PV locais, que já se aproximou do exgovernador Garotinho e pode perfeitamente ajudar Dilma no interior.

Em vários outros estados a relação do PT com o PMDB está dando margem a negociações paralelas, que vingarão ou não na medida em que as pesquisas eleitorais mostrarem para que lado o vento está soprando.

Também o PSDB tem problemas, e não apenas no Rio. Um estado emblemático é o Ceará do senador Tasso Jereissati, um dos principais líderes tucanos.

Ele é candidato ao Senado em uma aliança branca com o governador Cid Gomes, do PSB, que tenta fazer com que o partido lance seu irmão, o deputado Ciro Gomes, como candidato a presidente da República.

No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius insiste em tentar a reeleição apesar das crise política em que se viu envolvida, mas a direção do partido gostaria de uma aliança com o PMDB do ex-prefeito de Porto Alegre José Fogaça.

Há, como se vê, um vasto terreno para traições de todos os matizes, até mesmo a do próprio PMDB, que, tudo indica, formalizar á seu apoio à candidatura Dilma na convenção de junho, mas não lhe dará apoio integral, ficando de fora do acordo seções importantes do partido como algumas do Sul e Sudeste do país.

Isso se, até lá, a disputa continuar emparelhada, com Dilma mostrando ser competitiva. Se a “boca do jacaré” voltar a se abrir, ampliando a diferença a favor de Serra, até mesmo o “amor verdadeiro” do PMDB poderá desaparecer.

Se, ao contrário, a “boca do jacaré” se fechar cada vez mais, será o candidato tucano que será abandonado pelo meio do caminho.

BRASIL S/A

Os profissionais
Antonio Machado

CORREIO BRAZILIENSE - 08/04/10

Peão no minueto de Lula com o PMDB, Meirelles percebeu tarde que não havia amador nessa dança


O grande dilema de Henrique Meirelles, dividido entre continuar à frente do Banco Central ou disputar a indicação para vice na chapa da petista Dilma Rousseff pelo PMDB, ao qual se filiou exatamente com essa pretensão em meados de 2009, continua a render versões.

Todas estão centradas nos personagens do imbróglio — Meirelles e Dilma, além dos presidentes Lula e o da Câmara e do PMDB, deputado Michel Temer, o escolhido pelo grupo dominante do peemedebismo a alçar o partido da condição de aliado indesejado, mas necessário a todo governo desde a redemocratização, ao de sócio igualitário.

O PMDB acostumou-se a se ajoelhar diante de todos os altares. Mas vem manifestando a vontade de voltar a rezar a missa, como à época do governo de José Sarney, quando ocupou os principais ministérios e, no vácuo do sucesso efêmero do Plano Cruzado, em 1986, elegeu todos os governadores menos um nas eleições daquele ano.

Lula acredita que o PT precisa do PMDB para Dilma sair vitoriosa na disputa pela sua sucessão. Mas pressente os problemas adiante, caso Dilma se eleja, se der corda ao aliado. Foi daí que teve um estalo. Meirelles cogitava candidatar-se a alguma coisa por Goiás, onde nasceu e tem domicílio eleitoral. Estava sem partido desde 2003, quando renunciou à cadeira de deputado federal pelo PSDB de Goiás, no que foi sua primeira eleição, para assumir o BC.

Meirelles foi convencido a se afiliar ao PMDB, originalmente para se candidatar a governador ou senador por Goiás, mas, na prática, para ser o coringa de Lula no momento de fechar a chapa de Dilma e a coligação de partidos que vai apoiá-la. Lula imaginava Meirelles como candidato a vice-presidente, sendo para Dilma o que lhe foi o industrial José Alencar: uma ponte da política com o empresariado.

Alencar ajudou Lula a dissipar as desconfianças dos mercados e da classe média, as mesmas que poderão surgir no decorrer da campanha em relação a Dilma, que traz o agravante de nunca ter disputado um pleito sequer, além de seu passado de militante contra a ditadura.

Meirelles, ex-executivo da banca estrangeira, bem-sucedido no BC, muito bem-visto pelo capital financeiro, seria par sob medida para Dilma. Lula não esperava é que o presidente do BC tivesse gostado tanto da ideia que passasse a cogitar sua entrada na política só como segundo de Dilma. Aí deu chabu. O PMDB precisaria concordar.

PMDB sonha mais alto
Passa despercebido à imprensa, ou não é levado a sério, mas não por Lula, que algo vem mudando no PMDB. De partido ônibus, tocado por caciques regionais, fisiologista até não mais poder, o que é fato, mas também o é para todos os partidos — até para o PT, em certa medida, uma federação de tendências —, volta a reaparecer a vontade de beliscar o poder sem a intermediação de terceiros.

Era o que suas lideranças maiores tinham em mente quando foram ao então governador Aécio Neves — estrela do PSDB e em disputa com o também governador José Serra para ver quem saía candidato em 2010 a presidente — propor que disputasse a sucessão de Lula pelo PMDB. Aécio recusou. Mas, habilidoso, não fechou a porta para o futuro.

Quando a ficha caiu
O tabuleiro da sucessão é mais amplo que a disputa direta entre os candidatos à cadeira de Lula. Lula via em Meirelles um peão no jogo disputado com o PMDB. Mas tinha de respeitar as regras. Foi o que Meirelles custou a entender, vindo daí a sua indecisão.

Ele deveria assumir-se como candidato por Goiás a alguma coisa e ficar em stand-by, aguardando até junho, o mês das convenções dos partidos e montagem das chapas, para ver como ficava. Ele pediu a Lula garantias e ele não pôde dá-las. Foi então à cúpula do PMDB, e lhe caiu a ficha: era um amador entre profissionais da política.

2014 na perspectiva
Meirelles não só é estranho à turma dirigente do PMDB. Também não está no plano de longo prazo do partido. Poderá estar, pois a ele foi oferecida participação na cota de ministérios que o PMDB vier a ter com quem se eleja. Temer é a parte visível de um grupo que olha cobiçoso sobre o poder imediato, mas com 2014 na perspectiva.

É o fato novo. É o que Lula sacou e tentou neutralizar com alguém de sua confiança. Esteios de Temer, como o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros, também sacaram. O jogo foi zerado. O candidato a vice de Dilma é Temer. E, se algo lhe acontecer, será outro desse grupo. É o preço para dobrar o tempo de TV de Dilma. Caso se eleja, terá de afagar outra vez o PMDB para ter seu apoio no Congresso. Se Lula cedeu, avaliam, ela vai ceder muito mais.

Mudança de geração
Meirelles acabou sendo, à sua revelia, o detonador de um processo cozinhado em banho Maria, que considera o pós-Lula algo maior — o último capítulo de uma geração de políticos, pressionados ou pela idade ou pela fila de lideranças e interesses emergentes, a sair de cena. Também deve ser o período de consolidação do Plano Real, programa que trouxe a estabilidade, mas não resolveu a questão do crescimento sustentado de longo prazo. O PSDB julga que lhe cabe escrever esse final. O PT, ou com mais justiça Lula, acha o mesmo.

Entre eles, se habilita um PMDB energizado, que prevê sair maior que hoje das eleições. Muita água vai rolar até 2014. Essa visão, porém, já está no radar de alguns empresários, um sinal de que há algo mais que o desejo dos políticos de manejar os cordéis.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

PAINEL DA FOLHA

O quanto antes
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/10

Depois de tirar Henrique Meirelles do caminho, a cúpula do PMDB agora planeja antecipar o anúncio da escolha de Michel Temer para ocupar o posto de vice na chapa de Dilma Rousseff (PT).
A ideia é aproveitar o evento de lançamento do programa de governo do partido, em 15 de maio, para fazer uma sinalização concreta, ainda que informal, de que estão todos fechados em torno do nome do presidente da Câmara. Para completar a coreografia, os peemedebistas esperam obter de Dilma, na ocasião, uma declaração pública que de algum modo sele o compromisso, sepultando especulações de que "lá na frente" se poderia encontrar uma alternativa.


Se liga. Foi na noite de anteontem, em vôo SP-Brasília, que Lula deu o toque em Michel Temer: como o presidente viaja aos EUA neste domingo, o peemedebista terá de se virar para não assumir o cargo, o que o tornaria inelegível.

Malas prontas. O vice José Alencar (PRB), que assim como o presidente da Câmara tem pretensões em outubro, já escolheu destino para fugir da inelegibilidade: Uruguai.

CVC. Até o final da tarde de ontem, Temer não havia decidido seu roteiro, mas tendia a optar por Buenos Aires.

Fazer o quê? Muito a contragosto, Lula avisou a seus colaboradores que, se a reforma do Planalto não estiver concluída até 21 de abril, data inicialmente prevista para a reinauguração do palácio, o presidente continuará a despachar na sede provisória do governo, no Centro Cultural Banco do Brasil. Desse modo, a capital ficaria sem um evento no Planalto no dia da comemoração de seus 50 anos.

Viveiro 1. O PSDB prevê gastar R$ 500 mil no lançamento da candidatura presidencial de José Serra, neste sábado em Brasília. Segundo a cúpula tucana, os recursos vêm do fundo partidário e do caixa do Diretório Nacional.

Viveiro 2. No evento, um telão exibirá em tempo real mensagens postadas no Twitter, seja pelos presentes, seja por quem seguir via internet.

Que tal? Com dificuldade para incluir Romeu Tuma como candidato ao Senado na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente do PTB-SP, Campos Machado, resolveu propor que os escolhidos sejam os dois nomes mais bem colocados em pesquisa a ser feita em junho, para "atender os princípios da fidelidade e lealdade". Tuma está em segundo no Datafolha. É improvável que a proposta vingue.

Foice. O PC do B, que hoje formaliza apoio a Dilma Rousseff, está em pé de guerra com o PT em São Paulo. Os comunistas do Brasil ameaçam abandonar o candidato ao governo Aloizio Mercadante e aderir a Paulo Skaf (PSB) se os petistas insistirem em rejeitar o cantor e vereador Netinho de Paula como companheiro de chapa de Marta Suplicy ao Senado.

Binóculo. Com receio de ser acusado de promover "intervenção branca", o Planalto observou de longe a definição dos candidatos à eleição indireta no DF, no próximo dia 17. O governo avalia, porém, que o assunto intervenção voltará inevitavelmente à baila se o escolhido usar o cargo como trampolim para se consolidar candidato em outubro.

Camarada. O principal padrinho da indicação do senador Gim Argello (PTB-DF) para a relatoria do Orçamento de 2011 foi Renan Calheiros (PMDB-AL). De início, o governo e o PT preferiam Inácio Arruda (PC do B-CE).

Deixa estar. A experiência negativa na votação dos royalties do pré-sal fez o governo reavaliar a conveniência de enviar ao Congresso, antes das eleições, o projeto da Consolidação das Leis Sociais.
com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Do jeito que caminha o PSB, não vão bastar Romário e Marcelinho. Precisaremos de mais 20 ex-jogadores para conseguir votos ]na eleição."
Do deputado JÚLIO DELGADO (PSB-MG), reclamando da dificuldade de seu partido, ainda amarrado à incógnita da candidatura presidencial de Ciro Gomes, para fechar alianças nos Estados.

Contraponto

Último a saber

Em audiência realizada anteontem no Senado, a oposição tentava a todo custo apertar Celso Amorim. Na linha de frente, Tasso Jereissati (PSDB-CE) cobrou o chanceler a propósito de sua recente filiação ao PT.
-O senhor era Serra, seu neopetismo é comovente...
Em seguida, Tasso afirmou que Amorim é cotado para seguir no cargo em caso de vitória do tucano.
-Sou amigo dele. Mas, se ele considerou ou não o meu nome, nunca me disse nada disso- respondeu Amorim.
Tasso, que não tem a melhor das relações com o correligionário Serra, rebateu:
-O senhor sabe... ele gosta de guardar segredos...

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Vamos desencapetar o planeta!
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/10

O Rio se acabando e o Lula, o Cabral e o Paes falando sobre o PAC? OS TRÊS PACTETAS!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
O brasileiro é cordial. Quatro placas provando que brasileiro é cordial: "Aviso! Não entre! Se entrar, leva tiro! Avisado tá!". "Filho da Puta!
Se jogar lixo aqui, vou quebrar seus bracinhos." "Não mexa nos ninhos.
Senão leva paulada." E por último numa escola infantil: "Não vale jogar pedra nos colegas." Rarará! O brasileiro é cordial!
Chuveste Urgente! São Pedro tá com o dedo na descarga! E o Rio? E o Rio? Corre na internet a foto do Cabral e do Paes abraçados com a legenda: "Querido Noé, quando a arca estiver pronta, não se esqueça do par de antas!" Rarará!
E os telejornais? Bombas, terremotos, enchentes. Tão querendo retirar a gente do planeta. A gente deve ter feito alguma coisa bem ruim! E o Rio se acabando e o Lula, o Cabral e o Paes falando sobre o PAC? Como diz o blog Comentando: OS TRÊS PACTETAS! Rarará! E depois das chuvas, o mofo. O mofo deu.
Aliás, eu ouvi uma evangélica berrando na rádio: "Mofo? Vazamento?
Dor no corpo? É ENCOSTO!". É encosto. Vamos desencapetar o planeta! Aqui em Sampa: São Pedro e São Paulo não se bicam! E no Rio, em vez de chamar o Noé, o Paes vai ter que chamar Moisés. Moisés promove a travessia da avenida Brasil. E o Paes: "Ninguém deve sair de casa". O problema é que a maioria não conseguia chegar em casa! O problema não era sair, era chegar!
E o Lula vai ter que lançar o Balsa Família! E vão cobrar um novo imposto, o IPI: Imposto sobre Produtos Inundados! E essa: "Ex-marido quer indenização por ter doado um rim à ex-mulher". Ele doou o rim e a mulher fugiu com outro. Deu um rim e ganhou um chifre! Rarará!
E as duas loiras conversando: "Ontem acabou a luz no shopping e eu fiquei uma hora na escada rolante em pé". "Não tinha degrau?" "Tinha."
"Então porque não sentou, burra."
Burra é ótimo. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou, como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Saboeiro, no Ceará, tem um inferninho chamado Tabaco Fácil. Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Pedofilia": companheiro que vai pra porta da escola cheirar pum. Mas aí é peidofilia. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

BONECA DE PANO

EUGÊNIO BUCCI

O País polarizado e o lugar da imprensa
 O Estado de S.Paulo - 08/04/10

Com a aproximação das eleições, o País vai-se dividindo em campos opostos. Apaixonadamente. Chamam a isso de polarização - e muita gente gosta. De um lado e de outro, sempre há quem acredite que a tal polarização rende dividendos eleitorais. Tanto na situação como na oposição, agitam-se os que vivem de jogar lenha na fogueira, disparando provocações e xingamentos cujo propósito só pode ser o de acirrar ainda mais os ânimos. Uns e outros se julgam espertíssimos. Uns e outros estão errados. O caminho da exacerbação é o caminho da sombra.

Não que a franqueza não ajude o eleitor. Ela ajuda e é necessária, mesmo quando se expressa com rispidez. Os bons modos, por mais que sejam desejáveis, não devem implicar o sacrifício da clareza. Quanto mais os candidatos são diretos em ressaltar em que se diferenciam dos outros, melhor. O nosso problema, contudo, não é o excesso de boas maneiras - talvez seja o excesso de grosseria. Não corremos o risco de obscurecer as diferenças entre os candidatos por mesuras ou gentilezas artificiais; corremos, sim, o risco de transformar o ódio em espetáculo de palanque e, aí, perder de vista o que temos em comum. Nosso problema, enfim, não é ignorar as propostas que separam os partidos, mas esquecer o que nos une, independentemente dos partidos. É assim que a indústria do insulto corrói a sabedoria que deveria inspirar as decisões democráticas e solapa o bom senso.

Nesse contexto, a imprensa pode ajudar o cidadão a desconfiar da propaganda eleitoral, que tende a ser apelativa, chantagista, extremista. A imprensa tem hoje a grande chance de se apresentar como o fator de equilíbrio. Só depende dos jornalistas. Enquanto os cabos eleitorais têm o seu lado - ou a sua trincheira, como se gabam de dizer -, os jornalistas têm a chance de se distanciar das emoções enfurecidas e promover o esclarecimento. Entre um partido e outro, entre a esquerda e a direita, podem ficar ao lado do cidadão que procura bons fundamentos para decidir em quem votar. É nesse sentido que a imprensa tem, sim, o seu lado: ela é a favor da autonomia do eleitor; ela é contra o fanatismo e a intolerância.

Não, não é exagero falar em fanatismo e intolerância no Brasil dos nossos dias. Há sinais disso à nossa volta. A começar pelos pequenos sintomas. Por vezes, eu noto esses sintomas em leitores que comentam meus artigos na versão eletrônica deste jornal. Quando elogio a fala de um ministro de Estado, logo alguém me acusa de "petista de banho tomado". Quando critico arroubos de arrogância no presidente da República, sou tachado de opositor persistente. Para esses leitores, quem não fica nos extremos deve ser apedrejado. É como se os seus candidatos fossem a virtude em estado puro e só merecessem aplausos deslumbrados. Se você não concorda com eles, que seja silenciado à força.

Palavrões e ofensas pessoais roubam a cena. Rancor e vingança se espalham. O eleitor indeciso - justamente aquele que mais precisa da informação de qualidade - se vê rifado, atingindo por tiros envenenados que o constrangem, que o confundem ainda mais. Em sua ânsia por se diferenciar, os propagandistas partidários ateiam fogo à própria credibilidade para desqualificar o adversário. A eles não interessa a verdade. A eles só interessa o monólogo. Insistem que a contenda se dá entre os vilões - ou os lobos disfarçados de cordeiros - e os mocinhos, os salvadores da pátria. Assim, tentam tapear o público.

Contra esse maniqueísmo estreito e eleitoreiro, o cidadão tem poucas instâncias a lhe socorrer além da imprensa. De sua parte, se souber manter-se distante das paixões partidárias, a imprensa poderá ser útil. Tanto em mostrar as diferenças reais, como, principalmente, em mostrar as semelhanças entre os candidatos - e há mais semelhanças entre eles do que simulam suas campanhas raivosas. Os partidos não gostam de admitir, mas o fato é que existe uma agenda comum unificando os dois - ou mais de dois - lados da disputa.

Um exemplo? A estabilidade econômica. Eis aí um dos núcleos da agenda comum. Tanto isso é verdade que Lula, uma vez eleito, em 2002, foi buscar nas profundezas do partido rival, o PSDB, o nome que garantiria a continuidade do combate à inflação: Henrique Meirelles, que trocou a Câmara dos Deputados pelo Banco Central, onde se encontra, até hoje, como o guardião da moeda, o fiador da estabilidade. Outro núcleo da agenda comum está na justiça social, na redução da desigualdade. É por isso que José Serra não tem como atacar as políticas distributivas do atual governo: o que lhe resta é defendê-los e prometer melhorá-los.

A agenda comum unifica a Nação, mas, a depender da comunicação histriônica dos partidos, ela jamais apareceria. Só jornalismo independente pode serenar os ânimos e chamar o público à razão: o que está em jogo são programas de governo, não a beatificação dos presidenciáveis. Aliás, não existe outra opção para o jornalismo: ou ele se dedica a ser a reserva da razão em meio a essa guerra de irracionalismos, ou poderá ser percebido apenas como linha auxiliar de uma (ou outra) candidatura, o que faria dele, jornalismo, o principal derrotado das próximas eleições.

Há quem compare as campanhas eleitorais a um campeonato de futebol: cada um torce pelo seu time e, desde que o juiz não apite, vale tudo. A comparação é indevida, naturalmente, pois, em se tratando de eleições, o jogo pra valer só começa depois da apuração. Mesmo assim, se as eleições fossem uma final de campeonato, a imprensa não deveria torcer por nenhum dos times. Deveria torcer para o juiz, ou seja, pela lisura da competição, pela soberania do eleitor. É isso que fortalece a democracia. O resto é polarização, essa mania dos irresponsáveis.