quarta-feira, março 03, 2010

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

O que diria Dirceu se o caso da Eletronet fosse parar na polícia

3 de março de 2010

Cientificado das suspeitas e desconfianças geradas pelo noticiário sobre os vínculos negociais que o associam ao empresário Nelson dos Santos, o senhor José Dirceu de Oliveira compareceu a esta repartição policial para declarar que desde dezembro de 2005, quando teve o mandato de deputado cassado por seus pares poucos meses depois de despejado do gabinete de chefe da Casa Civil, vem garantindo a própria subsistência e a de seus dependentes com os proventos auferidos como consultor de empresas; que no mês e ano supracitados constituiu a Consultoria JD; que a referida empresa hoje administra uma carteira de clientes que mantém em sigilo porque assim determina a cláusula de confidencialidade que consta do contrato-padrão, podendo apenas informar que a carteira é de bom tamanho, os clientes pagam em dia e alguns o tratam por Jay Dee; que tem conseguido prosperar como consultor de empresas, e não como facilitador de negócios, como insinua maldosamente a mídia golpista, sem renunciar à militância política e à vida pública, pois desde a infância resolveu colocar-se a serviço da nação; que não vê nada de errado em, num único dia, almoçar com o presidente Lula, reunir-se à tarde com Dilma Rousseff e jantar com um cliente interessado em fechar negócios com o governo porque sempre soube separar as coisas, o que o consegue evitando tanto conversar sobre política com um empresário quanto conversar sobre negócios com um político; que jamais se valeu das informações amealhadas durante a passagem pela chefia da Casa Civil, muito menos dos laços de amizade com companheiros situados nas mais altas instâncias administrativas, para favorecer negócios que interessem aos clientes; que se manteve fiel a esse código de boa conduta ao estabelecer relações profissionais com o empresário Nelson dos Santos, que procurou o depoente em março de 2007 para declarar-se interessado na contratação dos serviços da Consultoria JD, ficando acertado que pagaria R$ 20 mil por mês, pelo prazo de dois anos, pelo fornecimento de análises periódicas sobre o quadro político-econômico nacional e internacional; que não sabe explicar por que o senhor Nelson se dispôs a pagar uma quantia considerável por análises que podem ser lidas de graça no blog do depoente, limitando-se a supor que o contratante quis garantir-se para, eventualmente, encomendar análises sobre temas que raramente são examinados no blog, como, por exemplo, estudos sobre as eleições parlamentares em Botswana; que, por mera coincidência, o depoente, sem saber que o senhor Nelson dos Santos, dois anos antes, pagara R$ 1 para tornar-se o maior acionista privado da Eletronet, escreveu em seu blog, no mesmo mês em que foi contratado, que ”do ponto de vista econômico, faz sentido o governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet”; que, como jamais tratou do assunto com o contratante, o contratado achou desnecessário informar que , no momento da publicação do artigo, já prestava serviços ao sócio da Eletronet; que ficou sabendo só mais tarde que o que o senhor Nelson mais deseja na vida é vender ao governo por R$ 200 milhões a parte da Eletronet que lhe pertence, o que permitirá incorporar ao Plano Nacional de Banda Larga a rede de 16 mil quilômetros de fios de fibras ópticas de propriedade da empresa; que, como nunca conversou sobre a Eletronet também com o presidente Lula, o depoente ficou surpreso ao saber que, oito meses depois da assinatura do contrato com o senhor Nelson, o governo resolveu comprar a Eletronet; que voltou a surpreender-se em 22 de janeiro deste ano, quando soube que o Plano Nacional de Banda Larga incluiu a incorporação da empresa do senhor Nelson dos Santos; que só nesse dia soube que a retomada da Eletronet pelo governo, recomendada pelo depoente em vários artigos, sempre desinteressadamente, também fora defendida nos meses anteriores por Dilma Rousseff, que confessou ter enfrentado uma briga tremenda com adversários não-identificados para que o governo recuperasse ”um patrimônio tão importante quanto o pré-sal”; que atribui as frequentes aparições no noticiário político-policial a tramas forjadas pela mídia golpista para prejudicar a candidatura de Dilma Rousseff, da qual o depoente é um dos coordenadores; que, embora nunca tenha sido condenado em última instância, é tratado pela mesma imprensa reacionária como “chefe de uma organização criminosa sofisticada”, expressão que o ex-procurador geral da República Antônio Fernando de Souzando não teria utilizado se não fosse influenciado por reportagens tendenciosas; que, apesar de tudo, continua a guiar-se pelo respeito à ética, à moral e aos bons costumes; que continua confiante no Poder Judiciário em geral, no Supremo Tribunal Federal em particular e no delegado incumbido da condução do presente inquérito.

Confrontado com o que disse e com o que deixou de dizer o depoente, o delegado decerto acharia muito mal contada essa história que juntou o empresário espertalhão e o facilitador de negócios. Dirceu seria convocado para um segundo interrogatório sobre o caso de polícia. E não escaparia da voz de prisão.

EDITORIAL - O GLOBO

Cerco à liberdade


O Globo - 03/03/2010

Não há encontro sobre liberdade de imprensa e respeito a direitos civis, de modo amplo, na América Latina, em que não sejam prestados depoimentos preocupantes.

Foi assim em novembro, no Congresso anual da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), em Buenos Aires, e, segunda-feira, em São Paulo, no 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, organizado pelo Instituto Millenium.

Como se podia esperar, representantes de Venezuela e Equador — polo irradiador do bolivarianismo e um dos mais fiéis discípulos do populismo autoritário venezuelano — fizeram os relatos mais sombrios. Marcel Gravier, dono da RCTV, cujo sinal aberto foi cortado pelo caudilho Hugo Chávez e tenta sobreviver como emissora a cabo, reclamou do silêncio e cumplicidade das democracias ibero-americanas diante do sufocamento do que resta de liberdades no seu país.

Às explicações sobre simpatias ideológicas, Gravier acrescentou outra: “Os países obtiveram muita ajuda da Venezuela e encontraram em Chávez uma fonte de negócios muito lucrativa. Por isso, fazem vistas grossas.” Para reforçar a análise de Marcel Gravier, lembre-se que a Argentina dos Kirchner, pária no mercado financeiro mundial, devido ao calote na dívida externa, só sai de situações de sufoco porque Chávez aceita comprar títulos emitidos pelo país. O jornalista Carlos Vera, do Equador, por sua vez, confirmou que Rafael Correa, no que se refere ao relacionamento com a imprensa e à liberdade de expressão, é uma réplica de Chávez.

O Brasil, neste contexto, se destaca no continente com uma situação relativa melhor, embora persista há 215 dias uma censura prévia esdrúxula decretada na Justiça contra o jornal “O Estado de S. Paulo”, proibido de divulgar informações sobre uma operação da PF na qual um dos alvos é o clã Sarney.

Presente ao Fórum, o ministro Hélio Costa, das Comunicações, deixou clara sua discordância com dispositivos do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos, do seu governo, propostos para subjugar a imprensa.

Também no encontro, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), exministro de Lula, cotado para assumir cargo de primeira linha na campanha de Dilma Rousseff, concordou com Hélio Costa e defendeu a necessidade de os governos contarem com a ajuda de uma “atuação forte e democrática da imprensa”.

Numa região onde se defende a coerção contra a imprensa em nome de um obscuro “controle social” — também rejeitado por Hélio Costa —, tem importância e merece aplausos a posição do ministro e do deputado do PT. Mas como o governo é multifacetado, a guarda não pode ser abaixada na defesa das liberdades.

GOSTOSA

ROBERTO DaMATTA

Uma fábula do reino de Jambon


O Globo - 03/03/2010


Com devida vênia a Lima Barreto e François Rabelais.
Um alquimista descobriu como transformar merda em metais preciosos. Com isso, os habitantes de Jambon começaram a obrar ouro por fezes. Cada qual recolhia suas porcarias e comprava escravos, gado, automóveis de luxo, plantava cana e comia pernis regados a vinhos de boa cepa.

A enorme obradeira virou imponente riqueza e globalizou-se. Pesquisas realizadas pelo Center for Shit Research da Universidade de Harvard e pelo Bureau de la Recherche de la Merde da Sorbonne constataram que enquanto um bem alimentado miliardário americano ou um inteligentíssimo filósofo francês produziam um pobre cocô, qualquer cidadão (mas sobretudo os nobres e os políticos) de Jambon produzia um excremento de incomparável teor de riqueza. Para desconsolo de uma elite que sempre achou o nacional inferior, descobriu-se que não havia no mundo nenhuma excremento superior ao de Janbom.

A perspectiva de uma riqueza para todos — afinal, defecar é universal — promoveu, porém, controvérsia.

Foi interpretada como uma “paradoxal contradição que liquidava a desigualdade”. Deste modo, os entendidos em merda realizam um plebiscito que estatizou a bosta. Ela foi centralizada numa grande estatal que controlava as ambições dos empresários e cuidava da porcaria dos pobres, impedindo-os de desperdiçar suas cagadas que, reunidas num fundo, eram distribuídas para todos como parte de um grande tesouro nacional. Com isso, o governo reiterava seu compromisso com a salvação pátria e com a promoção do altruísmo. A borra, diziam, era coisa muito séria para ser explorada pela iniciativa privada.

Um acirrado debate desembocou na campanha, “a merda é nossa!” e o excremento, finalmente politizado, valorizado e devidamente indexado e quantificado, passou a ser o grande tema nacional.

Criou-se o programa “Merda-nostra” e um superdisputado Ministério da Merda, governado por um irmão do próprio rei de Janbom, pois um cargo de tal responsabilidade só poderia ser ocupado por “alguém de confiança!” Institucionaliza-se o lema pátrio: “Cagar é a melhor política.” Nacionaliza-se a bosta e, em seguida, o Comitê dos Sábios Nacionais separa por decreto o cagar do defecar. O primeiro era obra dos destituídos, o segundo seria uma exclusividade da classes superiores, dos que têm biografia e dos membros do partido, cujas fezes eram trocadas por títulos do Tesouro e, depois, cambiadas por ouro na Bolsa da Merda que, a essas alturas, apostava num extraordinário mercado futuro que iria redimir o país de todas as suas mazelas.

Um amplo esquema de corrupção fecal, entretanto, insinuou-se nos intestinos do governo. Ele sustentava um clube de corruptos merdosos que enriquecia cada vez mais os administradores do excremento que, junto dos seus compadres, amigos e parentes, lucravam com a centralização da bosta nacional. Esse nepotismo de bosta jamais cessou mesmo quando um novo governo implementava novos marcos exploratórios e critérios para a divisão das quotas do cocô entre os diversos ducados. Mas, apesar de medidas distributivas, a merda continuava concentrada, como demonstrou empiricamente, por meio do “índice da kaca”, um professor catedrático especializado em bosta da Universidade de Stanford, Veio então a “Crise da Bosta”, quando outras nações conseguiram produzir industrialmente a imundície.

Dilacerado por coalizões intestinas, Jambon assiste à falência do seu Estado que, àquelas alturas, já havia transformado todos os seus habitantes em clientes do bosta-governo.

Usando dos seus tradicionais laços fisiológicos, os políticos aumentavam privada e legalmente o valor das cagadas. Uma hiperinflação excremental atinge o país, fazendo aquela economia de merda entrar na fossa. Muda-se o regime, congelam-se os preços das cagadas e os estoques de titica nacional.

Jambon chega ao fundo da latrina.

Gradual e lentamente, os cidadãos comuns, cognominados de “cagões”, começaram a controlar a fedentina, retomando o usual, mas legalmente proibido hábito de puxar a descarga. Chegou-se à conclusão de que era preciso limitar e punir a produção de merda e obrar mais responsavelmente.

PS: Estou informado que esta continua sendo a grande discussão do Reino de Jambon. Enquanto isso, as pessoas vão levando suas vidas, comendo e descomendo o pão amargo de cada dia. Vez por outra tomam o choque de saber que crianças não têm escola porque o governo continua preocupado com o tamanho das latrinas, os empresários querem vender mais caro o papel higiênico e o povo, bem, o povo continua com uma insuportável dor de barriga.

Nota Final: Essa história me foi contada pelo Sebastião Azambuja (o Sabá) debaixo do testemunho do Emmanuel Plumbio Dias e eles não tem nada a ver com essa versão que — obviamente — não guarda nenhuma semelhança com países, fatos e pessoas vivas ou mortas, sendo inteiramente ficcional e fantasiosa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FMI volta a discutir controle de capitais em seminário

Folha de S.Paulo - 03/03/2010


O Fundo Monetário Internacional, que agora defende o controle de capitais, organizou seminário sobre o tema aproveitando a presença de autoridades e acadêmicos na Coreia para participar da reunião preparatória para o G20.

O Fundo reavaliou seus antigos dogmas e, em artigo publicado há cerca de dez dias, afirmou que, se algum sistema financeiro não estivesse preparado, deveria colocar controles de capital. A ideia é controlar apenas a entrada dos investimentos, não a saída.

Os participantes de países asiáticos, que já estabeleceram a medida, veem-na de forma favorável.

Para Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, que participou do seminário, essa é uma visão de curto prazo.

"Nossa dívida, nosso passivo, está bem estruturado. Estrangeiros compram nossos títulos, investem na Bolsa brasileira e fazem investimentos diretos em companhias porque se sentem livres", lembra Goldfajn.

"Isso ocorre porque estamos desenvolvendo um mercado local e deixando investidores livres para entrar e sair. Se colocarmos muitos controles, haverá menos confiança."

Com menos investimentos, o passivo não seria tanto em reais. "Empresas tenderiam a se financiar em mercados no exterior, em dólar, o que não gostamos", avalia.

Mas, se os países que adotaram a medida a defendem, ela não seria positiva?

Para Goldfajn, a resposta é não, por não permitir que mercados locais se desenvolvam como poderiam. "Não podemos nos dar ao luxo de ter passivo em dólar, em renda fixa emitida lá fora. Quando vem uma crise, há efeitos colaterais. Se colocar muito IOF na entrada, na Bolsa, as empresas vão comprar ADRs no exterior."

ASSEGURADO
Companhias estrangeiras de resseguros estão se posicionando no Brasil. Grandes obras que muita gente acredita que não saem do papel já motivaram consultas a essas empresas. "Antes de fazer uma proposta na licitação do trem-bala, por exemplo, a companhia tem de saber quanto será o seguro de sua participação", diz Benjamin Gentsch, presidente-adjunto mundial da francesa Scor Global, um dos cinco maiores grupos do setor. "Fizemos projetos semelhantes na Ásia", diz José Carlos Cardoso, diretor-presidente da Scor na América Latina. Gentsch está no país para participar de encontro do setor e firmar parcerias com seguradoras locais.

PLANTÃO MÉDICO
Cada vez mais, os executivos se deparam mais cedo com doenças causadas por hábitos de vida inadequados e estresse, segundo levantamento da clínica Med-Rio, especializada em check-ups de profissionais de alto escalão. Na década de 90, o infarto nos homens ocorria a partir dos 50 anos, hoje, porém, já aparecem casos em executivos de 35 anos, diz o médico Gilberto Ururahy, sócio da Med-Rio. Nas mulheres, o câncer de mama na década de 90 incidia na faixa dos 40 anos, hoje aparecem casos em executivas a partir de 25 anos, diz Ururahy. "O estresse do cotidiano associado ao estilo de vida inadequado, como alimentação errada e sedentarismo, conduz os executivos a doenças em idades precoces", alerta o médico. Ele aponta vários fatores para o aumento do estresse: crise financeira, fusões, aumento da concorrência, falta de tempo para lazer, medo do desemprego e filhos cobrando a presença. "O corpo manda a fatura."

BRICs NA BOLA
Criador do acrônimo Brics, o economista do Goldman Sachs Jim O'Neill lidera grupo de investidores interessado em adquirir o controle do Manchester United, um dos times mais vencedores do futebol inglês. Desde 2005, o controle do clube, que tem dívida de 716 milhões de libras, pertence à família americana Glazer, que anunciou que não pretende vendê-lo. O'Neill já foi diretor do clube.

FINANCIAMENTO
O Banco do Brasil foi responsável por 25% dos repasses do BNDES em janeiro, resultado superior à participação do mês anterior, que era de 21%. Foram 12,4 mil operações e R$ 1,6 bilhão repassados no mês.

RECALCULANDO
Economistas estão refazendo as contas sobre o impacto da crise no desemprego em Wall Street. As atuais estimativas apontam que as perdas estejam em 200 mil vagas, ante as 300 mil projetadas anteriormente.

MOVIDO A GASOLINA
O preço do álcool ainda apresentou alta em fevereiro nos postos de combustíveis do país, apesar da queda já iniciada nas usinas. Em média, o aumento foi de 6,05%, para R$ 2,133 o litro, segundo a Ticket Car. Para os proprietários de veículos flex, só compensa abastecer com álcool em Mato Grosso, onde o combustível custa 66% do valor da gasolina.

FARSA

KENNETH ROGOFF

A crise em câmara lenta do Japão


O Estado de S. Paulo - 03/03/2010

Segundo afirmam os líderes americanos, europeus e mesmo chineses, o Japão representa o futuro econômico que ninguém deseja.

Ao vender seus enormes pacotes de estímulo e de socorro aos bancos, os líderes ocidentais disseram aos seus concidadãos: "Temos de fazer isso ou acabaremos como o Japão, atolado numa recessão e deflação há mais de uma década".

Os líderes chineses adoram apontar o Japão como o primeiro motivo para não permitirem uma forte valorização da sua moeda, nitidamente subvalorizada. "Os líderes ocidentais forçaram o Japão a permitir que sua moeda valorizasse na segunda metade dos anos 80 e vejam o desastre que se seguiu."

Sim, ninguém deseja ser o Japão, o anjo caído que foi uma das economias de mais rápido crescimento do mundo durante mais de três décadas e nos últimos 18 anos é uma economia que caminha a passos de tartaruga. Ninguém quer conviver com o trauma da deflação (preços em queda) que o Japão experimentou repetidas vezes. Ninguém deseja enfrentar uma dinâmica de dívida pública precária, como é o caso do Japão, com níveis de endividamento bem superiores a 100% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo embutidos nas enormes reservas cambiais mantidas pelo governo japonês. Ninguém quer deixar de ser um campeão para se tornar o epítome da estagnação econômica.

Contudo, quem visita Tóquio hoje vê prosperidade por toda a parte. Lojas e edifícios de escritórios em plena atividade. Restaurantes repletos de pessoas vestidas com a melhor das roupas, como se vê habitualmente em Nova York ou Paris. Afinal, depois de quase duas décadas de "recessão", a renda per capita no Japão é superior a US$ 40 mil (a taxas de câmbio do mercado).

O Japão ainda é a terceira maior economia do mundo, depois dos Estados Unidos e da China. A taxa de desemprego continuou baixa durante a maior parte do tempo da sua "década perdida" e, embora tenha disparado, ainda é de apenas 5%.

DEPENDÊNCIA DO ESTADO

Então, o que ocorre? Em primeiro lugar, as coisas parecem bem mais sombrias quando se sai de Tóquio e se viaja duas horas, chegando a cidades como Hokkaido, por exemplo. Essas áreas mais pobres dependem enormemente de projetos de obras públicas para gerar empregos.

Como a situação fiscal do governo se enfraqueceu drasticamente, as vagas de trabalho são cada vez mais escassas. Na verdade, existem rodovias magnificamente pavimentadas, mas não chegam a lugar nenhum. As pessoas idosas se retiraram para os povoados, muitas cultivam a terra para se alimentar e os filhos já os deixaram há muito tempo, indo para as cidades.

Mesmo em Tóquio, a atmosfera de normalidade é enganadora. Há duas décadas, os trabalhadores japoneses recebiam ótimas gratificações de fim de ano, que chegavam a um terço do salário ou mais. Essas gratificações foram diminuindo e hoje são quase nada.

Graças aos preços sempre em queda, o poder de compra da renda remanescente do trabalhador aumentou, mas, assim mesmo, caiu mais de 10%. A insegurança no emprego aumentou muito, com as empresas oferecendo cada vez mais vagas de trabalho temporário, no lugar do outrora precioso "emprego para a vida toda".

Embora não em crise (ainda), a situação fiscal do Japão se torna mais alarmante a cada dia que passa. Até agora, o governo tem conseguido financiar suas enormes dívidas localmente, pagando taxas de juro irrisórias mesmo sobre empréstimos de longo prazo.

Surpreendentemente, os poupadores japoneses absorvem 95% da dívida do governo. Talvez pelo fato de terem se frustrado quando os preços das ações e dos imóveis despencaram, na explosão da bolha, na década de 80, os poupadores optaram por títulos seguros, especialmente porque os preços em queda produzem uma renda muito maior do que ocorreria no caso de uma economia com inflação normal.

Infelizmente, da mesma maneira que o Japão resistiu até agora, ele também se depara com enormes desafios. O principal é uma oferta de mão de obra que definha, o que se deve a uma taxa de natalidade extraordinariamente baixa e a uma resistência muito grande à imigração estrangeira. O país precisa também encontrar meios para aumentar a produtividade dos trabalhadores.

INEFICIÊNCIA

A ineficiência na agricultura, no varejo e governamental é famosa. Mesmo nas empresas exportadoras japonesas que dominam o mercado mundial, existe uma relutância para enfrentar os interesses inerentes das redes de influência que tornam difícil reduzir linhas de produto menos lucrativas - e os operários que trabalham nelas.

À medida que a população envelhece e encolhe, mais pessoas vão se aposentar e começar a vender aqueles títulos do governo que hoje compram com entusiasmo. Num determinado momento, o Japão terá de enfrentar sua própria tragédia grega, quando o mercado cobrar taxas de juro vigorosamente mais altas.

O governo será obrigado a considerar um drástico aumento das suas receitas. A melhor hipótese é que o país eleve seu imposto sobre valor agregado (IVA), hoje de apenas 5%, muito abaixo dos níveis europeus.

Mas é plausível elevar impostos diante de um crescimento sustentado tão baixo? Os investidores que apostaram contra o Japão no passado se deram mal, tendo subestimado, e muito, a formidável flexibilidade e capacidade de recuperação da população japonesa. Mas a estrada fiscal à frente parece cada vez mais perigosa, com o consenso político se desfazendo nos últimos anos.

No final, estão certos os líderes estrangeiros em assustar seus cidadãos com histórias do Japão? Certamente, há um grande exagero: os chineses, especialmente, devem estar muito contentes. Mas os apologistas do déficit não devem apontar para o Japão, citando-o como exemplo para ficarmos calmos no tocante aos gigantescos pacotes de estímulo.

A capacidade do Japão para seguir adiante, mesmo com esforço, em meio à enorme adversidade, é admirável. Mas, com certeza, os riscos de uma crise no futuro são maiores do que os mercados de títulos parecem reconhecer.TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*
Kenneth Rogoff é professor de Economia e Políticas Públicas na Universidade Harvard e ex-chefe da equipe de economistas do Fundo Monetário Internacional Copyright: Project Syndicate, 2010.

MÔNICA BERGAMO

Volta, Santoro

Folha de S.Paulo - 03/03/2010


Rodrigo Santoro e o diretor André Ristum filmaram, na semana passada, cenas do filme "Meu País" na ponte do rio Tevere, em Roma. No longa, produzido pela Gullane e que estreia no segundo semestre, Santoro é um executivo que vive na Itália e volta ao Brasil depois que seu pai (Paulo José) sofre um derrame. O elenco traz ainda Cauã Reymond e Débora Falabella.

Nossa cara
Um levantamento feito pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) em 11 canais de TV fechada no Brasil (entre outros, Cinemax, HBO, Telecine Premium, Telecine Cult, Telecine Pipoca e TNT) mostra que só 2% de um total de 5.467 títulos exibidos no primeiro semestre de 2009 tinham conteúdo nacional. O trabalho incluiu filmes, séries e programas.

FEITO EM CASA
A pátria foi literalmente salva pelo Canal Brasil. Quando ele é incluído no levantamento, o percentual sobe para 26,5%. A emissora exibiu no primeiro semestre 1.836 produções brasileiras, que ocuparam 98,2% de sua programação.

DE FORA
Já na TV aberta, 73,8% dos filmes exibidos vêm dos EUA, contra 14,7% do Brasil.

CULTURA GRINGA
O mesmo levantamento mostra que, excetuando-se as obras cinematográficas, a maior parte do conteúdo das TVs abertas é nacional. Globo, Band e Rede TV! preenchem cerca de 95% da grade com produções brasileiras, seguidas pela Record, com 89,3%. Já o SBT tem 41,3% de programação estrangeira. A surpresa fica por conta da TV Cultura, que exibiu 27,3% de programação gringa.

METADE
Aécio Neves faz 50 anos no próximo dia 10.

MEMÓRIA
Apontado como candidato para assumir o cargo de secretário-adjunto de Segurança Pública de SP, o procurador de Justiça Carlos Henrique Mund foi o autor do parecer que recomendou a absolvição do coronel Ubiratan Guimarães, que comandou a operação que resultou no massacre do Carandiru, em 1992. "Meu parecer foi puramente técnico e foi acolhido pelos 40 desembargadores que julgaram o caso. Não me influenciei por pressões nem por questões emocionais."

À PARTE
O secretário Antonio Ferreira Pinto, da Segurança, diz que Mund é seu grande amigo -mas afirma que não deve nomeá-lo para o cargo. "Se for por amizade, nomeio a minha mulher", diz ele.

PROFESSOR RAIMUNDO
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) faz licitação na segunda-feira, 8, para contratar, por até R$ 1,3 milhão, empresa para realizar 52 programas de televisão, o "Brasil Eleitor".

CASA MINEIRA
Deborah Secco foi a Belo Horizonte no fim de semana ajudar o marido Roger a encontrar um lar. O jogador, que estava atuando no Oriente Médio, foi contratado pelo Cruzeiro.

ROCK E GOL
A única exigência dos músicos do Coldplay para visitar Ronaldo e o treino do Corinthians, ontem, foi que a ida da banda ao Parque São Jorge não fosse divulgada com antecedência, para evitar aglomeração de fãs. Eles bateram bola com Ronaldo e outros três jogadores até começar a chover. Depois, só o meia Edu continuou jogando com os músicos.

QUASE FAMOSOS
Além do guitarrista Jon Bu- ckland, do baixista Guy Berryman e do baterista Will Champion, um músico de apoio do Coldplay também foi ao treino do Corinthians. Mas, enquanto os colegas ganharam camisas alvinegras personalizadas, ele recebeu uma que nem sequer tinha número nas costas.

DEFENDIDO POR JESUS
Preso desde o Carnaval, José Roberto Arruda (ex-DEM) acaba de receber o auxílio de Jesus no Supremo Tribunal Federal. Um cidadão chamado Anibal Jesus impetrou habeas corpus em favor do governador afastado, do ex-vice-governador Paulo Octavio e do procurador-geral de Justiça do Distrito Federal, Leonardo Bandarra -os dois são suspeitos de participação no mensalão candango, mas não estão presos. O ministro Marco Aurélio Mello afirma que vai consultar o trio "a respeito do interesse na continuidade do processo".

CURTO-CIRCUITO
A EXPOSIÇÃO "Fotografias", de João Luiz Musa, será inaugurada hoje, a partir das 20h, no Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros.
A CERIMÔNIA de abertura do programa "Rumos", do Itaú Cultural, acontece hoje, às 20h, na sede do instituto, na av. Paulista.
O "SANTO E A PORCA", de Ariano Suassuna, será encenada pela Cia Limite 151 a partir de sexta-feira, no teatro Anhembi Morumbi. 14 anos.
A PROCURADORA Eloisa de Sousa Arruda toma posse nesta sexta-feira na direção da Escola Superior do Ministério Público.
A MARCA A Mulher do Padre realiza bazar de hoje até o dia 14 na loja da rua Augusta, nos Jardins. Os preços variam de R$ 20 a R$ 180.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Brecha-buraco

O Estado de S.Paulo - 03/03/2010


A indefinição, tanto no PSDB como no PT, em relação às eleições em São Paulo abre espaço para todo tipo de ilação - a ponto de se falar em eventuais candidaturas de Alberto Goldman e até de Emídio de Souza, prefeito de Osasco.
O certo mesmo é que, nas inserções do próximo programa do PT, estarão Lula, Dilma, Aloizio Mercadante e Marta Suplicy. Pelo PSDB, vai Geraldo Alckmin - a não ser que Serra mude de ideia.

É curioso que nesta eleição, a economia está estável. E a política, instável. Ao contrário do que historicamente acontece em ano de votação no Brasil.


Sábio, o diabo é velho

A situação é grave na Europa, não se pode dizer que não. Mas, só para se ter uma ideia, a relação entre o que deve o Japão e o PIB da ilha é muitíssimo pior que a de qualquer país europeu. Bem como a da Califórnia, outro exemplo.

Os países, segundo renomado banqueiro internacional, de uma maneira ou outra, sempre sobrevivem. É.


Sem desperdício

O Instituto do Câncer de São Paulo deve economizar R$ 30 mil por mês. Em troca de instalações que economizam água, a Sabesp ofereceu 25% de desconto na conta.

O acordo será assinado hoje.


Estilo Noel

Bar da Chaminé? Ou Bar do Entalado? Qual o melhor "novo nome" para a casa que, semana passada, foi invadida por um ladrão que entalou na chaminé?

As ideias apresentadas a Benê Baldonedo, o dono, vão além: "Me sugeriram deixar a chaminé destruída, como atração turística."


Leite sem mel

A Parmalat italiana se preocupa com o que está acontecendo com a sua homônima no Brasil. Ganhou processo jurídico na Itália. Mas teme que problema aqui lhe dê nova dor de cabeça legal lá.

A empresa no País não mais lhe pertence mas lhe paga royalties. Aliás, pagava. Há dois anos, nada recebe.


Piloto-cidadão

Hélio Castroneves chega em carro da Formula Indy, segunda, em Ribeirão Preto.
Recebe na sua cidade o título de Cidadão Ribeiropretano.


Gol de copo

Articula-se no Brasil uma "Brahma Cup". E na Argentina, a "Quilmes Cup". Torneios pré-classificatórios para a "Global Beer Cup", uma copa entre consumidores de cerveja criado pela Ambev.Ronaldo Fenômeno está cotado para promover a ideia, na África do Sul.


VEM COM A GENTE

Por questões de segurança, as filhas de Silvio Santos estão se mudando para Alphaville, instalando-se em quatro casas quase vizinhas.
Agora querem convencer o pai a fazer o mesmo.


TIRO NO PÉ?

A proibição, pelo Conar, da propaganda da Devassa gerou resultado inverso. Circularam ontem, pelo Twitter, Facebook e blogs - só no Youtube, o filme de Paris Hilton "sedutora" já teve 400 mil acessos - protestos. Pedem a volta da moça às telas. Em seu Twitter, aliás, ela deixou um protesto: "So ridiculous..."

A Schin agradece a punição: em 24 horas, a procura da cerveja aumentou.


FARDA NO PALCO

Roberto Klabin acaba de voltar da Rússia com um firme propósito.

Trazer de lá a Orquestra do Exército Russo de São Petersburgo. Busca apoio.

Mordeu, pagou

Dia D, hoje, para donos de pitbull e outros perigosos.
A CCJ da Câmara vota se devem ou não responder civil e penalmente pelos danos que o animal causar.

"O SORRISO É MEU GUARDA-COSTAS"

Sandália baixa de couro, unhas vermelhas nos pés, mochila nas costas. Zvia Walden, doutora em linguística, nem parece ser quem é. Filha do presidente de Israel, Shimon Peres, que esteve no Brasil em novembro e trouxe consigo um esquema de segurança antiterrorista, a professora não tem sequer guarda-costas. "O sorriso é o meu melhor guarda-costas", explica à coluna.

Pela primeira vez no Brasil, visitou ontem cedo o Museu da Língua Portuguesa. Busca inspiração para construir em seu país um museu sobre a língua hebraica.

Vai incluir o árabe algum dia? "No meu sonho, sim. Quero uma parte do museu dedicada ao árabe". O que o Brasil tem em comum com Israel? "Aqui existem problemas de violência, mas Israel tem uma briga entre dois povos. Não tem comparação." O que você tem aprendido com a política de seu pai? "Isso eu não respondo." E assim, entrevista é encerrada. DÉBORA BERGAMASCO

NA FRENTE

Gloria Kalil e Chic promovem hoje a pré-estreia do filme Direito de Amar, de Tom Ford. No Cinemark do Iguatemi.

O BNDES mergulha nas artes e banca a mostra Brasiliana Itaú. Sábado, na Pinacoteca.

No dia 10, a Esencial completa seus dez anos. Maria Helena Cabral promove comemoração.

Paulo Vanzolini comanda roda de samba. Sexta, no Bar do Filé, no Cambuci.
Jamil Chade e Juca Varella lançam, amanhã, na Saraiva do Higienópolis, O Mundo Não é Plano - A Tragédia Silenciosa de Um Bilhão de Famintos.

Pierre Moreau, advogado, ataca de entrevistador. Conversa com Márcio Thomaz Bastos, Eros Grau e Miguel Reale Júnior, ao longo do mês, na sua Casa do Saber.

Nuno Ramos exibe obra polêmica: um livro com as páginas perfuradas por tiros de revólver, que ele mesmo disparou. Na exposição Jogos de Guerra. no Memorial da América Latina, sábado.

Os meninos do Cinco a Seco fazem show, sexta, no Tom Jazz.
Alejandro Sanz desembarca em São Paulo dia 12 de abril. Vem divulgar aqui o seu CD Paraíso Express.

Francisco Scarpa recebe convidados, sábado, em sua casa. Motivo? A comemoração dos 100 anos do conde.

Essa, o comprador vai ter que levar para casa. Ao reclamar dos preços de imóveis em Ipanema e Leblon, no Rio, ouviu, do corretor: " É o efeito Madonna-Gerard Butler-Marc Jacobs". Todos buscando, ali, um lugar para chamar seu.

JOSÉ SIMÃO

Dunga! Baleia ataca treinador!

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/03/10


E sabe o que o Serra gritou quando sentiu o terremoto em SP? "É a Dilma! É a Dilma!"


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Num guento mais terremoto. Semana que vem podia ter um furacão pra variar. Só falta a minha sogra vir morar aqui em casa! Como diz a Carla Perez: "Quantos degraus na escada Richard?!".
E sabe por que o Dunga não convoca o Ronaldo Fenômeno? Porque tem medo que a baleia ataque o treinador! Rarará! E aí eu tava lendo o horóscopo fashion da Lilian Pacce. Cara de áries: Celine Dion. Cara de leão: Mick Jagger. Cara de gêmeos: Clint Eastwood. Cara de virgem: SUZANA VIEIRA! Rarará!
E o "BBB"? As Big Bibas do Bial? Quando começa o "BBB", uma amiga minha grita: "Vem logo, abriu o açougue". Bíceps, tríceps, panceps, um pedaço de bunda, dois peitos! E aquela Cacau tem cara da hiena do Rei Leão. E a irmã do Dourado é cabeleireira e se chama Jane Penteado. E o Dourado tem cara de quem bota fogo em colchão. Fugitivo da Febem. Só tem baranga e rinocerontes de sunga!
E adorei a charge do Alecrim: "Outro terremoto? Não, tô baixando o download do imposto de renda". O imposto de renda não é alto, nós é que somos baixos! Gente, e o que eu vou declarar? Vou declarar que a dona Marisa é cafona. Rarará! Vou declarar que o Arruda é ladrão! E vou declarar que aquela baranga do "BBB" não pode anunciar em rede nacional que tá com a unha encravada. Poupe-me dos detalhes sórdidos!
E o Aécio tá deixando os tucanos loucos. Ele não quer ser vice do Serra. Aliás, ele não quer ser visto com o Serra! Rarará! O Samba do Aécio: "O Aécio nos convidou/ prum samba, ele mora em BH/ nois fumo e non encontremo ninguém". O Serra ficou com uma baita duma réiva! Rarará! E sabe o que o Serra gritou quando sentiu o terremoto em São Paulo? "É a Dilma! É a Dilma!" É mole? É mole, mas sobe. Ou como disse aquele outro: "É mole, mas trisca pra ver o que acontece!".
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que em Carrancas, Minas, tem uma cachoeira chamada Racha da Zilda. Ueba! Mais direto, impossível! Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção. Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Presunção": companheiro chegado num presunto. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O ABILOLADO E A MENTIROSA

MERVAL PEREIRA

Nervos de aço

O Globo - 03/03/2010


O pior cenário para o PSDB na sucessão presidencial ainda não aconteceu: no período entre maio e junho serão apresentados os programas de televisão de propaganda eleitoral da maioria dos partidos da base aliada, o que previsivelmente dará uma turbinada na candidatura oficial.

Nesse período crítico, que antecede as convenções partidárias, as pesquisas devem mostrar outra subida forte da já então exministra Dilma Rousseff, abalando a autoconfiança dos tucanos na possibilidade de vencer a eleição e, pior quer tudo, dificultando a ampliação das alianças partidárias.

Os programas do PSDB e de seus aliados DEM e PPS serão os últimos a serem transmitidos, próximo das convenções partidárias no fim de junho, em meio à Copa do Mundo.

Esse “timing” permitirá que o PT e seus aliados façam propaganda maciça, chegando às convenções animados com os resultados das pesquisas.

Tucanos temem que se repita o fenômeno que está acontecendo agora, com a divulgação do Datafolha apurado em cima do programa eleitoral do PSB com deputado Ciro Gomes ainda candidato; o programa do PV com a senadora Marina Silva, e o lançamento da candidatura oficial da ministra Dilma Rousseff pelo PT.

O único que não teve mídia nacional de dezembro a fevereiro foi o potencial candidato do PSDB, o governador de São Paulo, José Serra.

Ou melhor, teve, mas negativa por causa das chuvas torrenciais que inundaram São Paulo.

Ao mesmo tempo em que as chuvas afetaram a intenção de votos em Serra, que perdeu pontos preciosos na Região Sudeste, o seu forte, ele estaria aliviado por não ter cedido às pressões para sair do governo antes.

Poderia ser acusado de abandonar o estado por uma ambição política, enquanto no momento, mesmo com o prestígio talvez afetado, ele demonstra estar focado na tarefa de governar, passando a ideia de que se dedica à sua prioridade até o último dia que a lei permite.

Essa sempre foi, aliás, sua intenção ao retardar ao máximo a saída do governo: demonstrar que se dedicou até o último dia ao estado, esperando levar para a disputa presidencial a possibilidade de sair à frente de sua adversária com pelo menos seis milhões de votos.

Assim como em Minas o governador Aécio Neves representa o desejo do estado de voltar ao comando do país, em São Paulo o governador Serra representa a melhor aposta para que os paulistas continuem no poder central.

A tarefa do PSDB de São Paulo, na qual estão todos empenhados, é conseguir ampliar a votação do candidato do partido à Presidência da República, que há quatro eleições vence no estado com uma diferença entre 3,8 e 5,1 milhões de votos.

O secretário de Relações Institucionais de São Paulo, José Henrique Reis Lobo, que ontem deixou o governo, vai coordenar a interação entre as duas campanhas, a nacional e a estadual, que deverá ter o ex-governador Geraldo Alckmin como o candidato tucano.

Esse movimento é apenas a confirmação indireta do que já estava explícito: o governador José Serra não pensa em desistir da candidatura, embora continue muito preocupado com falhas que vê na organização da campanha.

A começar pela falta de unidade do partido até o momento, que seria fundamental para compensar as vantagens que a candidata oficial vem exibindo.

Seja a unidade partidária em uma ampla base aliada, seja o apoio explícito do presidente Lula, que não é reprimido até o momento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Quando os dois deixarem os respectivos cargos, entre final de março e dia 3 de abril, estarão teoricamente em igualdade de condições, mas o presidente Lula continuará atuando fortemente.

Veremos então uma disputa judicial intensa para definir os limites do apoio do presidente. A interpretação da legislação eleitoral é muito sutil.

Há especialistas, por exemplo, que dizem que o presidente Lula poderá aparecer nos programas de propaganda eleitoral de Dilma, mas não poderá dizer que seus projetos sociais continuarão no governo dela.

Nem mesmo que ela dará continuidade ao seu governo, porque estaria colocando o cargo de presidente da República a serviço de uma candidatura, criando uma situação de desigualdade.

Que já está caracterizada, aliás, nas aparições de Lula ao lado de sua candidata oficial e das diversas entrevistas e declarações do presidente a propósito da sucessão presidencial, sempre apontando Dilma como sua escolhida para dar continuidade ao seu governo.

O que a lei eleitoral pune é o abuso do poder político e econômico. Há quem considere que Lula pode até mesmo subir nos palanques de Dilma, mas terá que fazê-lo fora do horário de expediente normal e talvez só mesmo nos fins de semana.

E não poderá fazer discursos.

Mas poderá levantar o braço de Dilma dizendo que ela é sua candidata.

Por sua vez, a candidata Dilma Rousseff não poderá comparecer às inaugurações de obras do governo, como vem fazendo até agora sob o pretexto de que está supervisionando as obras do PAC.

Ontem, o PSDB no Senado deu um primeiro passo no sentido de criar fatos políticos favoráveis, aprovando o estímulo aos alunos com boas notas inscritos no Bolsa Família.

De uma vez só, aproximou o Bolsa Família do Bolsa Educação, sua origem no governo Fernando Henrique, e aprimorou o sistema.

Mas não basta ao PSDB acer tar seu passo. Tem também que esperar que alguma coisa dê errado na estratégia do adversário.

Todos esses obstáculos dificultam a campanha oposicionista, e mais do que nunca José Serra terá que ter “nervos de aço” para atravessar os períodos de maior turbulência.

PAINEL DA FOLHA

Fora do barco

Folha de S.Paulo - 03/03/2010


Paulo de Tarso Santos deixou a sociedade na agência Matisse, uma das três que dividem a conta do governo Lula. O publicitário alegou motivos pessoais, mas é sabido que se desentendeu com Ottoni Fernandes Júnior, sub do ministro Franklin Martins na Secom. Paulo de Tarso considerava que a Secom vinha privilegiando as outras duas agências (141 Brasil Comunicação e Propeg) na divisão das campanhas.
Vem de longe sua ligação com o PT e com o governo Lula. É dele o jingle "Lula Lá", de 1989. Foi o marqueteiro da campanha de 1994. Com a Matisse, tinha a conta da Secom desde 2003.

Memória 1. Em novembro passado, Paulo de Tarso foi citado pelo economista Cesar Benjamin como participante de um almoço, em 1994, no qual Lula teria relatado a tentativa de "subjugar" um rapaz quando esteve preso durante a ditadura.

Memória 2. Na ocasião, o publicitário registrou em nota a "informalidade" do almoço, mas disse não se lembrar do teor da conversa nem compreender a "intenção" de Cesar Benjamin "de narrar os fatos como narrou".

Grid. Em meio à temporada de anúncios de coordenadores da campanha (sem candidato) do PSDB ao Planalto, inaugurada por José Henrique Reis Lobo (SP), o presidente do partido, Sérgio Guerra (PE), pediu que os senadores Alvaro Dias (PR) e Cícero Lucena (PB) desempenhem o papel, respectivamente no Sul e no Nordeste.

Mapa. Empolgado com o avanço de Dilma Rousseff (PT) no Sudeste apontado no Datafolha, o núcleo da campanha da ministra-candidata pretende turbinar o número de visitas dela à região. Em São Paulo, estão previstas cinco aparições até o fim do mês.

Contra... A carta do ex-vereador Pedro Dallari com críticas a Paulo Skaf publicada na Folha reflete o incômodo de parte do PSB com a possível candidatura do presidente da Fiesp ao governo paulista. A redução da jornada de trabalho, defendida pelo partido e combatida por Skaf, é apenas um ponto de discordância.

...prós. Já outra parte do PSB está mais interessada nas possibilidades de financiamento representadas pela candidatura do presidente da Fiesp. Só se fala nisso nas conversas com o neossocialista.

Conexão. A lista dos sete suplentes que tomaram posse ontem na Câmara Legislativa do DF inclui Roberto Lucena (PMDB), irmão de Gilberto Lucena, dono da Linknet, uma das abastecedoras do mensalão candango. Dos R$ 450 mil que o peemedebista declarou ter gasto na campanha de 2006, R$ 440 mil saíram do caixa da empresa.

Punhado. Roberto Lucena, aliás, foi o único dos novos deputados distritais que chegou à marca de 10 mil votos.

Lobby. Depois de lançar um manifesto contra a intervenção federal no DF, que será julgada pelo Supremo, empresários da região serão recebidos hoje pelo presidente do tribunal, Gilmar Mendes.

Sabendo usar. A Câmara vai implantar a chamada "ecolavagem" em sua frota. A medida prevê gasto equivalente a um copo d'água na limpeza de cada carro oficial.

Seletiva. Pressionada por governadores, a oposição fingiu que não viu a tentativa do governo de derrubar a votação na Câmara da proposta que determina o piso salarial dos policiais militares.

Visita à Folha. Milton Seligman, vice-presidente de Relações Corporativas da AmBev, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Alexandre Loures, diretor de Comunicação da empresa.

Tiroteio

A indefinição do Ciro atrapalha as alianças no interior do Estado. Essa tática de biruta de aeroporto esgota a paciência dos partidos.

Contraponto

Presente devolvido

Acompanhado do deputado federal Maurício Rands (PT), o prefeito de Surubim, Flávio Nóbrega, comandou a cerimônia de entrega da ampliação do cemitério do município, no agreste de Pernambuco. Com o palanque lotado, o prefeito, também petista, iniciou o discurso:
-Nós estamos aqui hoje inaugurando esta obra para oferecê-la ao povo de Surubim...
Antes que ele pudesse iniciar a segunda frase, foi interrompido por uma voz, na qual se percebia algum efeito de álcool, vinda do meio do público:
-Alto lá, cemitério a gente não quer não! Fica pra vocês políticos e pra turma toda de Brasília!

ANCELMO GÓIS

REVOLTA DOS EXECUTIVOS

O GLOBO - 03/03/10


O juiz Firly Nascimento Filho, do Rio, deu liminar ao Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças contra a Instrução 480 da CVM, de dezembro, que obriga empresas de capital aberto a informar o maior e o menor salários na diretoria e no conselho.
Pela norma, a Light, por exemplo, como toda empresa na bolsa, teria de divulgar o salário do novo presidente Jerson Kelman.
SEGUE...
O Ibef alega que a medida, adotada em países como os EUA, põe em risco a segurança dos executivos.
É. Pode ser.
ARRUDA SOLTO
Ontem, no STJ, parecia ganhar corpo a ideia de soltar José Roberto Arruda, mas mantendo-o longe do Palácio do Buriti.
A conferir.
A VOZ DA CASERNA
Os presidentes dos clubes Naval, Militar e de Aeronáutica divulgam hoje uma carta conjunta sobre as eleições de 2010.
No texto, sem citar nomes, atacam os “políticos corruptos do mensalão que envolve partidos de diversas matizes” e aderem à campanha contra os “candidatos de ficha suja”.
A SUPERELETROBRÁS
Saem de cena dia 22 as logomarcas de Furnas, da Chesf e de todas as outras empresas do sistema Eletrobrás.
A nova família de logos reforçará, como deseja Lula, a holding do sistema elétrico. Haverá, assim, a Eletrobrás Furnas, a Eletrobrás Chesf, etc. O projeto visual, guardado em segredo, foi elaborado pela empresa Ana Couto Branding & Design.
GRANA DE CHÁVEZ
Hugo Chávez vai, finalmente, fazer um cheque de US$ 480 milhões este mês para cumprir compromissos iniciais da construção da futura Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco.
Até agora, só a Petrobras tinha coçado o bolso.
OS ACORRENTADOS
Dois brasileiros que estavam clandestinos nos EUA foram deportados ontem no voo 951 da American Airlines (Nova York-São Paulo).
Chegaram, acredite, algemados e acorrentados ao Aeroporto JFK.
JORNADA DA POLÍCIA
O ministro Luiz Barreto está empenhado em viabilizar a antiga proposta de revisão da escala de 24 por 72 horas das polícias.
A ideia é adotar a jornada normal, de oito horas por dia, para aumentar o efetivo nas delegacias e, por tabela, na atividade fim – a investigação.
É SÓ ENFEITE
Vanusa Cardoso, 34 anos, paraplégica há três, moradora de Vila Isabel, no Rio, aventurou-se sábado a pegar um ônibus pela primeira vez desde que usa cadeira de rodas.
Parou quatro coletivos com aquele elevador, mas nenhum motorista sabia usá-lo. Um deles disse, acredite: “É só enfeite”.
AGENTES FEDERAIS
Sai publicado hoje, no Diário Oficial da União, a nomeação de 312 aprovados no concurso para agente penitenciário federal.
O Ministério da Justiça negociava com a pasta do planejamento as nomeações desde novembro de 2009.
LÁ E CÁ
O músico brasileiro Paulo Loureiro foi assaltado esta semana no País de Gales, onde foi passar férias com a família. Perdeu tudo – cartões, dinheiro, celulares, pertences... Ficou sem dinheiro até para o hotel.
Deve ser terrível... você sabe.

DORA KRAMER

Armadilha da apoteose

O Estado de S.Paulo - 03/03/2010


A história sobre a possibilidade da formação de uma chapa presidencial reunindo os governadores de São Paulo e Minas Gerais tem mais ou menos a idade da candidatura de Dilma Rousseff.

Em fevereiro de 2008, o presidente Luiz Inácio da Silva anunciou ao Brasil que Dilma seria a "mãe do PAC", lançando o primeiro esboço de slogan de campanha da ministra escolhida para representá-lo na primeira eleição na qual não é candidato, desde a redemocratização.

Um pouco antes, no fim de 2007, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começava a conversar sobre a chapa José Serra-Aécio Neves com interlocutores que poderiam levar o assunto adiante na imprensa em feitio de especulação ainda incipiente.

Na época, a ala política da equipe de Aécio Neves em Minas via a ideia com grande simpatia. Em Belo Horizonte, mais exatamente no Palácio da Liberdade, falava-se do assunto como a solução ideal.

O governador tergiversava, mas não rejeitava peremptoriamente o plano. Dizia apenas que era cedo para discutir o tema e que a formação da chapa com dois candidatos do PSDB poderia denotar arrogância do partido, que estaria, assim, dispensando de antemão parceiros de outras legendas.

Um parêntese: tese que o governador de Minas parece ter abandonado quando recentemente citou o nome do senador Tasso Jereissati para compor a chapa.

Nesses pouco mais de dois anos a história foi tratada na base das idas e das vindas, de um jogo de luz e sombra, mas nunca arquivada. Nem quando o governador de Minas passou a negar a hipótese com mais veemência e seus aliados a tratá-la quase como uma ofensa.

Por essas e algumas outras é que a conversa da chapa Serra-Aécio continua em pauta. É de se perguntar por que o partido e seus políticos sustentariam esse suspense durante tanto tempo se a solução, no final, pudesse ser outra que não a cogitada há mais de dois anos, esperada por toda a oposição e temida pelo adversário?

Seria pelo gosto ao exercício da dúvida? Bom para intelectuais, mas no campo político gera incerteza e para o eleitor recende a dubiedade, fragilidade e confusão.

Seria uma maneira de não entregar o jogo ao inimigo antes do início da partida?

Ou estariam os tucanos perdidos, divididos e prisioneiros de idiossincrasias internas?

Nesta última hipótese, não sustentam uma campanha vitoriosa. Nas outras duas, fica a dúvida sobre a eficácia da estratégia.

O partido criou, alimentou e promoveu a expectativa da formação de uma chapa tida como imbatível.

Agora fica prisioneiro de uma solução apoteótica, sob pena de patrocinar um anticlímax logo no início da campanha.

Talvez o PSDB tenha outra carta bem escondida para jogar ou pode ser que esteja tudo acertado nas internas entre os dois governadores. Caso contrário, os tucanos iniciarão sua trajetória com uma sensação de fiasco no ar, deixando a impressão de que não conseguem materializar uma aposta tão antiga. Da idade da candidatura Dilma.



Só pressão

Nem o PMDB nem o PT acreditam na ameaça feita pelo presidente Lula de se ausentar dos Estados em que houver divisão dos aliados, o chamado palanque duplo para a candidata Dilma Rousseff.

A intenção do presidente foi pressionar os parceiros a entrar num entendimento. Ocorre que ambos sabem perfeitamente bem que Lula não pode se dar ao luxo de desprezar contato com o eleitorado nem de escolher aonde vai ou não vai defender sua candidata.

Precisa ocupar todos os espaços possíveis se não quiser prestar um grande serviço à oposição.



Lé com cré

O deputado Ciro Gomes reafirmou em entrevista à revista Isto É que na opinião dele o governador José Serra não será candidato a presidente, deixando para o governador Aécio Neves a vaga.

Ao mesmo tempo, Ciro continuou confirmando sua candidatura presidencial.

De duas, uma: ou tem informação privilegiada ou não disse a verdade quando garantiu que sairia do páreo se o escolhido do PSDB fosse Aécio.



Pé ante pé

Cuidadoso, o ex-governador do Acre Jorge Viana fez a defesa da retomada pelo PT da bandeira da ética na política, em artigo no jornal O Globo de domingo.

O texto tem oito parágrafos. Nos seis primeiros, Viana justifica-se exaltando os feitos do partido no governo. No sétimo, toca no assunto: "É indispensável pontuar a política de alianças para a sucessão presidencial com a preparação de candidaturas éticas à Câmara e ao Senado."

No oitavo, propõe a reposição da questão ética "no mesmo lugar de destaque que ocupou há 30 anos, na fundação do Partido dos Trabalhadores".

Naquele tempo o tema era premissa básica nos arrazoados dos petistas, que hoje tratam do assunto quase como quem pede desculpas pela abordagem.

ELIO GASPARI

Serra joga parado, mas quer preferência

O Globo - 03/03/2010



JOSÉ SERRA e o PSDB precisam se lembrar das palavras do técnico de futebol Gentil Cardoso: "Quem se desloca recebe, quem pede tem preferência". O governador de São Paulo e o tucanato não se deslocam e não pedem, mas querem a preferência da patuleia. O resultado está aí: seis meses antes do início do horário gratuito de televisão, Dilma Rousseff, o poste de Lula, encostou no grão-tucano.

O PSDB está preso numa armadilha que construiu com nervos de aço e cérebros de Bombril. Tem um candidato que não diz que é candidato, mas também não se animou a disputar prévias contra Aécio Neves que, por sua vez, também não insistiu muito no assunto.

Habitualmente, os candidatos negam suas pretensões para esconder o jogo. Esse não parece ser o caso de Serra. É provável que ele esteja em dúvida e o precedente histórico leva água para essa hipótese. Em 2006, ficou a impressão de que ele se afastou da disputa porque a candidatura de Geraldo Alckmin dividia o partido, mas o principal motivo de seu recuo foi o medo de trocar uma provável eleição para o governo de São Paulo por uma segunda derrota na disputa pelo Planalto.

Em dezembro de 2008, Serra tinha entre 41% e 47% das preferências no Datafolha e Dilma, no máximo, 11%. Contrariando as melhores expectativas do tucanato, a candidata de Nosso Guia chegou a 28% e Serra caiu para 32%. A ascensão do poste deve-se exclusivamente ao patrocínio de Lula e ao julgamento favorável que a opinião pública faz de seu governo. Quem acha que essa afirmação é exagerada pode enumerar três ideias próprias da candidata.

Conseguindo, ganha uma viagem a Cuba. Durante a campanha, seus adversários enumerarão as leviandades e malfeitorias encontradas nos projetos do trem-bala (antes de ser entregue ao BNDES) e da banda larga para a internet, mas essa discussão mal começou.

A pergunta de R$ 1 milhão continua no ar: admitindo-se que Serra queira ser presidente, o que é que ele pretende fazer? Ou ainda, o que é que o tucanato tem a oferecer? Alguém lembra o que Alckmin propunha? Detestar Nosso Guia ou ter horror ao PT e aos seus mensaleiros pode ser um desabafo, mas não é uma solução. Se o PSDB acha que pode disputar uma eleição presidencial denunciando o contubérnio nuclear de Lula com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, problema dele. Como ensinava Ulysses Guimarães: "O Itamaraty só dá (ou tira) voto no Burundi".

A voz mais articulada e insistente do oposicionismo tucano é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sua corte reúne sábios de agenda vencida, como os marqueses do Império que se reuniam em Paris para falar mal do marechal Floriano Peixoto.

Sete anos depois de ter saído do Planalto, falta ao PSDB uma crítica propositiva do mandarinato petista. Agenda negativa, o tucanato teve, mas enferrujou. O mensalão rendeu, até o momento em que arranhou as contas da campanha do senador Eduardo Azeredo, que à época presidia o partido. Passaram-se cinco anos e o encosto reapareceu na administração de seu aliado José Roberto Arruda. Aécio Neves chegou a criar a expressão "pós-Lula", mas ninguém sabe o que isso significa em termos de salários, saúde, segurança e educação. Desse jeito, quando o PSDB acordar, descobrirá que criou o pré-Dilma.

CLÁUDIO HUMBERTO

“A eleição não pode mais causar qualquer cenário de terrorismo”
PRESIDENTE LULA, AO DEFENDER A ESTABILIDADE BRASILEIRA E SUA CANDIDATA, DILMA ROUSSEFF

DF: CARTA REVELA POLÍTICOS QUE TOMARAM DINHEIRO
Uma carta de cinco páginas do governador do DF, José Roberto Arruda estaria tirando o sono de figurões do DEM. Nela, Arruda faz um desabafo, alega inocência, acusa os adversários de “armação” para destruí-lo e aponta políticos – sobretudo do DEM, que praticamente o expulsou – que receberam dinheiro graças à influência de seu governo. Cópias da carta foram confiadas a pessoas da confiança de Arruda.
NITROGLICERINA PURA
Na carta, o governador afastado do DF, ainda preso na PF, confirmaria inclusive as suspeitas de mensalão beneficiando figurões do DEM.
SEGURANÇA
Guardam a carta de Arruda, com instruções para divulgá-la em caso de “uma desgraça”, um familiar próximo, um velho amigo e um advogado.
PRIMEIRA PESSOA
Arruda concluiu a redação da carta na véspera de sua prisão, decretada em 11 de fevereiro pelo Superior Tribunal de Justiça.
O HAITI FEDERAL
O Brasil mandou ambulâncias novas ao Haiti, mas o Samu de Brasília só tem 22, para quase 3 milhões de habitantes. Doze estão sem peças.
PLANO B DE VIRGÍLIO É SE VOLTAR PARA O ITAMARATY
Diplomata afastado da carreira, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) se matriculou no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, para se habilitar à promoção para ministro de segunda classe, no Ministério das Relações Exteriores. Ele hoje é conselheiro. Mas nega que seja o “plano B” de quem não aposta nas próprias possibilidades eleitorais. O líder tucano garante que apenas deseja se aprimorar na
carreira.
TESE PRONTA
A tese de Arthur Virgílio já está pronta para defesa oral: “A influência do Congresso na formulação da política externa, de Rio Branco a Lula”.
METAMORFOSE AMBULANTE
Lula vai falar no Knesset, o parlamento de Israel, no dia 15 (sexta), durante a visita oficial. O governo (lá) é linha duríssima contra o Irã.
PERGUNTA COM RESPOSTA
Por que Lula só aparece em desgraça externa? Porque não tem que se explicar e ainda sai bem na foto.
PAPO DE HOSPÍCIO
O ditadorssauro Fidel Castro disse que “Lula sabe que Cuba nunca torturou ninguém”. Logo Lula, que “não sabia” do mensalão na sala ao lado, mas afirmou que a cabeça de Fidel “está melhor que a dele”.
MISTURA EXPLOSIVA
Um fornecedor alijado de licitação é a versão fluminense de Durval Barbosa, em um escândalo de vários megatons de potência que ronda políticos do Rio. Gravou todo mundo. O processo cabeludérrimo tramita em segredo de Justiça no órgão especial do Ministério Público Federal.
APARELHOU GERAL
O ministro Orlando Silva (Esporte) colocou o ex-presidente da UNE Gustavo Petta e o atual, Emival Dalat, correligionários do PCdoB, numa boquinha na organização da 3ª Conferência Nacional do Esporte.
SESSÃO DE DESCARREGO
O PT do Paraná rompeu de vez com o governo Requião, após bate-bocas sucessivos. Na tribuna, o deputado Reinhold Stephanes Jr. (PMDB) coroou o racha: “O PT é o partido do diabo, não vale nada”.
MUITO ESTRANHO
Inspeção do Conselho Nacional do Ministério Público recolhe queixas sobre os MPs estaduais. Mas as míseras sete reclamações em Alagoas intrigou o CNMP: ou tudo está indo muito bem, o que é improvável, ou procuradores e promotores metem medo na sociedade.
CUMPLICIDADE
PMs e bombeiros baderneiros paralisaram o centro de Brasília durante sete horas, ontem, com ajuda da companheirada da PM do DF, que até isolou a Esplanada dos Ministérios só para eles. Já o recente protesto contra corruptos da cidade sofreu violenta repressão, até da cavalaria.
SÓ MORTO
O privilégio não é dos Sarney, no Maranhão: Salvador (BA) tem o viaduto dona Canô, a avenida Gal Costa e o hospital Roberto Santos, ex-governador. O Ministério Público deu 30 dias para o governador Jaques Wagner tirar os vivos da homenagem. Então, tá, meu rei.
FINAL FELIZ
Após longa batalha judicial, Edilene Vasconcelos finalmente assumiu a presidência do Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério Público da União. É a primeira mulher a vencer, no voto, a eleição do sindicato.
PENSANDO BEM...
... Perto da experiente Hillary Clinton, a “dama de ferro” Dilma Rousseff é só uma coroa enferrujada.

PODER SEM PUDOR
EXCESSOS DE CAMPANHA
O ex-ministro Saulo Ramos foi a Ribeirão Preto (SP), em campanha para deputado, em 1990, quando fez uma pausa no festejado bar “Pingüim”.
– O sr. está me reconhecendo? – perguntou um homem, na mesa ao lado.
– Claro! – respondeu Ramos, evitando uma desfeita ao eleitor.
– Não está, não. Ou não estaria fumando, bebendo e comendo leitão na minha frente...
Só aí Saulo Ramos reconheceu o médico que o socorrera anos antes, no Instituto do Coração de São Paulo.