terça-feira, fevereiro 23, 2010

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

Breve Dicionário da Novilíngua Lulista, em esboço (parte 1)

23 de fevereiro de 2010

Por só entenderem português, milhões de brasileiros nem sempre decifram a discurseira da companheirada que já fala com fluência o dialeto em gestação desde o começo da Era Lula. Para que ninguém se perca no cipoal de palavras e expressões que parecem dizer uma coisa e dizem outra, a coluna pediu aos comentaristas que montassem, sob a coordenação de Marcelo Fairbanks, um Breve Dicionário da Novilíngua Lulista. A obra ainda está em esboço. Mas, pelo primeiro lote, promete figurar na lista dos best-sellers de 2010. Confiram:

adaptar-se à realidade = 1. Cair na vida, trocar o templo das vestais pelo bordel. 2. Topar qualquer negócio para chegar ao poder ou nele permanecer. 3. Enriquecer com negociatas capitalistas sem renunciar ao falatório socialista.

aloprado. Companheiro pilhado em flagrante durante a execução de bandalheiras encomendadas pela direção do partido ou pelo Palácio do Planalto.

analfabetismo. 1. Pré-requisito para subir na vida. 2. Termo que, usado no sentido depreciativo, identifica outro preconceito alimentado por integrantes da elite golpista ou louros de olhos azuis.

asilo político. Situação jurídica que deve beneficiar todo companheiro condenado em outros países por crimes comuns ou atos de terrorismo.

base aliada (sin.: base alugada). 1.Bando formado por parlamentares de diferentes partidos ou distintas especialidades criminosas , que alugam o apoio ao governo, por tempo determinado, em troca de verbas no Orçamento da União, nomeações para cargos público, dinheiro vivo e favores em geral. 2. Quadrilha composta exclusivamente por deputados e senadores.

Bolívar (Simón). Herói das guerras de libertação da América do Sul que, segundo Hugo Chávez, reencarnou no fim do século passado com o nome de Hugo Chávez.

bolivariano. 1. Comunista que não quer confessar que é comunista. 2. Devoto de Hugo Chávez. 3. Napoleão-de-hospício (pop.).

cargo de confiança. 1. Empregão reservado a companheiros do PT ou companheiros integrantes da base aliada, que nem precisam perder tempo com concurso para ganhar um um salário de bom tamanho. 2. Cala-boca (pop.).

cartão corporativo. Objeto retangular de plástico que permite gastar dinheiro dos pagadores de impostos sem dar satisfação a ninguém.

caixa dois. Dinheiro extorquido sem recibo de empresários amigos, geralmente proprietários de empreiteiras.

coligação. Puxadinho feito pela base aliada (ou base alugada) e/ou por suas ramificações regionais.

Comissão da Verdade. Grupo de companheiros escalados para descobrir qualquer coisa que ajude a afastar a suspeita, disseminada por Millôr Fernandes, de que a turma da luta armada não fez uma opção política, mas um investimento.

companheiro. 1. Qualquer ser vivo ou morto que esteja do lado de Lula. 2. Político que, no momento da adesão ao governo, deixa de ser inimigo do povo para ser promovido a patriota. 3. Delinquente convertido em cidadão exemplar por ordem de Lula. 4. Integrante do rebanho que engole até um Sarney se o chefe mandar.

controle social da mídia. Censura exercida por censores que fingem saber o que o povo quer ler, ouvir ou ver.

corrupção. 1. Forma de ladroagem que, praticada por adversários do governo, deve ser denunciada. 2. Forma de coleta de dinheiro que, praticada por companheiros, deve ser tratada como um meio plenamente justificado pelos fins. 3. Ilegalidade elogiável se praticada em nome do partido. 4. Crime que pode ser justificado pelo passado do companheiro mesmo quando praticado em proveito próprio. 5. Hobby preferido dos companheiros da base alugada.

Cuba. 1. Ditadura que deve servir de modelo para qualquer democracia. 2. Ilha-prisão que abriga gente condenada a ser feliz. 3. Terra Prometida para os outros.

cueca. Cofre de uso pessoal utilizado no transporte de moeda estrangeira adquirida criminosamente.

Enquanto publica um trecho por dia, a coluna vai continuar recolhendo as contribuições dos comentaristas. Ao trabalho, amigos.

NEGÓCIOS e Cia

O xadrez de Belo Monte

O GLOBO - 23/02/10


COM GLAUCE CAVALCANTI E MARIANA DURÃO


Segundo consórcio põe Eletrobrás em zona de conforto no leilão da usina

A formação de um segundo consórcio (Andrade Gutierrez, Neoenergia, Votorantim Energia e Vale) para participar do leilão de Belo Monte (PA) deu à Eletrobrás tranquilidade para se movimentar no tabuleiro de xadrez da disputa pela hidrelétrica. Se persistisse a falta de concorrência ao grupo Odebrecht-Camargo Correa, a estatal seria levada pelo governo a liderar uma segunda aliança, para garantir a competição. Com isso, acabaria pondo em lados opostos duas de suas controladas — provavelmente, Eletronorte e Furnas. É que o primeiro consórcio certamente reivindicaria um sócio estatal para equilibrar a disputa. Agora, a holding do setor elétrico tem a opção de entrar no projeto se associando diretamente ao vencedor, numa estratégia mais em linha com a gestão do presidente José Antônio Muniz, diz uma fonte do setor. Mais de uma vez, ele já se declarou contrário à concorrência direta entre as subsidiárias.

Um fato novo que pode tirar a estatal da zona de conforto é a entrada na disputa do GDFSuez, de origem francesa. O grupo — sócio de Eletrosul, Chesf e Camargo Corrêa na hidrelétrica de Jirau (RO) — ainda faz mistério sobre a intenção de disputar Belo Monte. Se entrar, pode atrair a estatal e até levá-la a redesenhar os outros dois consórcios.

É que o acesso a crédito do gigante estrangeiro poderia tirar competitividade dos locais. A dúvida é se interessa ao Suez entrar na briga, acirrando a competição num leilão em que vencerá a menor tarifa.

Ibase parte para controle social

Após 13 anos da criação de seu Balanço Social, o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) optou por não atualizar mais o modelo. Em seu site, a ONG afirma que a ferramenta de transparência empresarial foi amplamente difundida. Desde 1997, 362 companhias adotaram a metodologia. O diretor-geral do Ibase, Cândido Grzybowski, vai mais fundo. Diz que o aumento do rigor para a concessão do Selo Ibase gerou divergências. Temas como diversidade de gênero, raça e relação salarial eram evitados.

Episódios como a suspensão do selo do grupo sucroalcooleiro J.Pessoa, acusado de trabalho escravo, também mostraram que a ONG não teria como fiscalizar o cumprimento das práticas. “Não queremos ser uma auditoria. O Balanço está ligado à ideia de autorregulação. É hora de partir para o controle social, com a criação de metas positivas. Isso reafirmará a autonomia da sociedade civil”, diz Grzybowski. Ele lembra que a ação exigirá o envolvimento de empresas e governo. O Ibase ainda discute como fará isso na prática, mas o legado de grandes projetos como Comperj, Olimpíadas e CSA para o Rio e seus cidadãos é prioridade.

O SPOLETO fechou parceria com a Wessel. A boutique de carnes vai fornecer 20 toneladas por mês à rede de 249 restaurantes. A carne será usada em polpettones, ravióli de picanha e molho à bolonhesa da casa.

Turbinada

A Turbomeca inicia em março as obras de expansão de seu centro de reparos de turbinas, em Xerém (RJ). O investimento de R$ 8 milhões elevará em 90% a capacidade de manutenção da unidade, hoje de 250 turbinas por ano.

É no novo hangar que serão reparadas 102 equipamentos do Exército Brasileiro. O quadro de 240 funcionários deve crescer 20%.

Repartição

As dez hidrelétricas de Furnas pagaram R$ 163,7 milhões em royalties pelo uso da água em 2009. O valor superou em 7% o repasse de 2008. Rio, São Paulo, Minas, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal dividiram R$ 65,5 milhões. Cifra idêntica foi distribuída a 139 cidades dos cinco estados.

Formalização

A Jucerja registrou abertura de 2.521 empresas em janeiro no Estado do Rio. Houve alta de 9% sobre um ano antes. O comércio de roupas liderou o processo, com 566 negócios.

OVO EM PÉ

A LINDT venderá ovo de Páscoa tradicional no Brasil este ano. É a 1ª vez que a marca traz ao país o Lindor Egg 300g (foto), o ovo vertical. Em 2009, testara uma caixinha com o produto deitado. A meta é vender 30% mais.

Dança das cadeiras

A Dasa contratou Marcelo Rucker, ex-Votorantim e Ambev, para sua Diretoria de Recursos Humanos. A contratação põe fim ao processo de reestruturação da empresa de medicina diagnóstica. Nos últimos meses, a Dasa trouxe quatro novos executivos do mercado e promoveu três da casa.

Alta em TI

A Alog Data Centers Brasil, de serviços de infraestrutura de TI, ampliou em 30% seu faturamento em 2009, para R$ 81 milhões. O crescimento veio a reboque da expansão do setor no país, diz o presidente Sidney Breyer.

“Empresas que terceirizam o serviço reduzem custos com tecnologia em ao menos 30%”. A Alog ganhou mais 300 clientes, somando 1.150.

Data center

Com a expansão, a Alog vai investir R$ 50 milhões este ano, sendo R$ 30 milhões na construção de um 2odata center em São Paulo. Vai triplicar sua capacidade. A empresa tem ainda um data center no Rio. Os outros R$ 20 milhões vão para infraestrutura. A meta é crescer mais 30% em 2010.

Na mira

MUMBAI. A mineradora estatal indiana NMDC está prestes a comprar 50% das operações brasileiras da Ferrous Resources por US$ 2,5 bilhões, publicou o “Economic Times”. A Ferrous deve emitir novas ações para a NMDC nos próximos anos.

Tanque vazio

PODE FALTAR combustível na França em sete dias. É que os funcionários da Total, responsável por metade do abastecimento do país, estão em greve há seis dias.

Empregados de outras refinarias também vão parar.

Deu sopa

A CAMPBELL Soup, maior fabricante mundial de sopas, ampliou ganhos em 11% no segundo trimestre fiscal, para US$ 259 milhões. A alta foi puxada por redução de gastos em marketing e alta nas vendas.

O PÃO DE AÇÚCAR vai investir R$ 1,5 milhão este ano para ampliar em 25% a oferta de eventos próprios no cartão-postal carioca. Hoje, o segmento responde por 20% da receita da empresa do bondinho.

Segmentando

Shoppings de pequeno e médio porte em cidades com 200 mil a 400 mil habitantes de alto potencial de consumo. É a aposta da carioca PátioMix para somar ao menos dez empreendimentos em cinco anos.

Criada pouco mais de um ano atrás, tem três projetos em carteira. O primeiro, o PátioMix Costa Verde, será inaugurado em outubro, em Itaguaí (RJ). “Já temos 70% do espaço locado, com âncoras como C&A e Lojas Americanas e grifes como Mr. Cat e Taco”, diz o diretor Leonardo Matheson, sócio também da BRMalls, uma das gigantes do setor. Vai construir ainda unidades em Resende e Linhares (ES), orçadas em mais de R$ 100 milhões e com inauguração prevista para 2011. “Nosso modelo de shopping permite a construção rápida e com custos reduzidos”, explica o empresário. O foco inicial, continua, é a Região Sudeste. A meta é lançar dois empreendimentos por ano: “O potencial de expansão no segmento é imenso, sobretudo em cidades carentes de comércio qualificado”.

Escritório na praia

A Calçada inovou para o lançamento do residencial Aloha, no Recreio. Criou um estande de vendas inspirado no Havaí. O espaço terá chão de areia, vendedores de mate e biscoito Globo e corretores vestidos a caráter. Os clientes poderão até tirar fotos numa prancha fincada em um painel com ondas. O Aloha terá 166 unidades e valor de vendas de R$ 45 milhões.

Novas âncoras

A ABL Participações fechou contrato com Casa & Vídeo, Renner, Casas Bahia e Leader. As varejistas vão se unir a C&A, Riachuelo, Ponto Frio e Centauro no pool de âncoras do Boulevard Shopping, em São Gonçalo.

O empreendimento de R$ 150 milhões será inaugurado em outubro. As megalojas marcam a estreia de Renner e Riachuelo na cidade.

LIVREMERCADO

A ZAYD fará dois lançamentos este semestre. Serão, ao todo, 212 unidades e R$ 45 milhões em valor de vendas.

A INVESTIPLAN ganhou o selo Microsoft Education Specialist. A brasileira, com isso, está autorizada a vender licenças educacionais de produtos Microsoft.

A CONSTRUÇÃO civil será tema de seminário da Apimec-Rio na 5a

João Fortes Engenharia e Bairro Novo (Odebrecht) participam. Em pauta, a classe C e a casa própria.

NAS ENTRELINHAS

Limões, discursos e limonadas

Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 23/02/2010

Qual foi mesmo a grande vitória — material, concreta — obtida pela diplomacia ou pelos canhões brasileiros nesse período? Não valem os prêmios recebidos por Lula, nem as reportagens favoráveis, nem os salamaleques a ele dispensados




No âmbito da política exterior dos países, não é tão difícil distinguir os líderes empenhados realmente na construção de um projeto nacional daqueles preocupados apenas em açular o nacionalismo “de boca”, para nele cultivar musculatura política.

Na primeira categoria estão os governantes voltados para a conquista de vitórias nas relações com outros países e nos organismos internacionais. Na segunda, os obcecados pela soberania retórica.

Para que possam, então, classificar os opositores internos de “inimigos da pátria” e, a partir daí, convergir o destino soberano do país com a perpetuação do próprio poder.

Reparem que nações como China, Índia, Rússia e África do Sul têm políticas externas caracterizadas por contenção verbal e pela busca agressiva de vitórias, ou, pelo menos, de posições estratégicas favoráveis. Moscou, por exemplo, vem de conseguir recuos de Washington no projeto do escudo antimísseis na Europa do Leste. E os chineses apertaram tanto os americanos que estes se viram obrigados a fazer movimentos para equilibrar a balança, daí o encontro entre o Dalai Lama e Barack Obama.

Qual é o balanço da política externa brasileira nos anos recentes? É um bom debate. Na historiografia oficial, os últimos sete anos representaram a emergência de um Brasil altivo e internacionalmente forte, em suposto contraste com os séculos precedentes.

Mas qual foi mesmo a grande vitória — material, concreta — obtida pela diplomacia ou pelos canhões brasileiros nesse período? Alguém poderia informar? Não valem os prêmios recebidos por Lula, nem as reportagens favoráveis, nem os salamaleques a ele dispensados por interessados em bons negócios. Falo de coisas tangíveis.

O Brasil apostou todas as fichas na conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio e perdeu. Quando eclodiu a crise mundial das finanças, em setembro de 2008, saiu a advertir contra a emergência do protecionismo e a defender o livre comércio. Deu em nada.

O Brasil apostou todas as fichas na emergência do G20 como organismo vocacionado para reformar o sistema financeiro internacional e perdeu. O G8 vai sendo substituído é pelo G2, com americanos e chineses de protagonistas.

O Brasil inicialmente apostou em liderar os emergentes contra metas de redução das emissões de carbono. Quando Estados Unidos e China mandaram avisar que Copenhague não iria chegar a nenhum acordo vinculante, nossa diplomacia viu uma janela de oportunidade para Lula fazer a flexão tática. Ele agora seria “o líder da luta contra o aquecimento global” (a custo zero, pois não ia mesmo acontecer nada na Dinamarca). Para no fim poder dizer que “a culpa não foi minha”.

Acabamos na mesa com Obama, para referendar a proposta americana. De saldo, só os aplausos que o presidente colheu por mais um bonito discurso.

Sem falar nas situações em que não restou nem o discurso, como Honduras. Das grandes iniciativas que ainda podem dar algum dividendo há o Irã, onde talvez o Brasil fature algo, no papel de mestre de cerimônias das manobras para disfarçar uma eventual rendição iraniana. Isso se Teerã render-se. Se não, nossa “vitória” dependerá da capacidade de os aiatolás imporem ao mundo um status de potência nuclear, no qual talvez peguemos carona.

Quem planejou isso merece uma medalha.

E assim por diante. Mas nada está perdido. Sempre poderemos recorrer à habilidade do presidente para transformar limões em limonadas e demonstrar por que, apesar de tudo, o saldo da nossa participação foi “muito positivo”.
Positivo para quem?

Herdeiros da derrota
A Argentina inquieta-se e protesta contra o fato de o Reino Unido prospectar petróleo nas Malvinas, que o colonizador chama de Falklands. A Argentina tem, em tese, razão. Mas o Reino Unido tem, na vida real, a força.

Um problema da esquerda argentina, hoje no poder, é ser herdeira política da derrota na guerra de 1982. Cristina Kirchner vai lutar agora contra o paralelismo que os adversários farão entre a fraqueza política dela e a fraqueza política dos ditadores que três décadas atrás tentaram retomar na marra o arquipélago, e fracassaram.

O derrotismo e o flerte com a subserviência colonial sempre cobram um preço. Pode demorar, mas a conta vem.

HOMEM-ARANHA NA TERCEIRA IDADE

MÍRIAM LEITÃO

Estado da Dilma

O GLOBO - 23/02/10


A candidata Dilma Rousseff disse à “Época” que a “perversidade monstruosa” do Estado mínimo é que ele “não investe em saneamento”. Faltou explicar dois pontos: quem entre seus adversários defende o Estado mínimo e por que, ao final do governo Lula, pelo último dado disponível, apenas 52% dos domicílios têm esgoto; quatro pontos percentuais a mais do que no começo do mandato.

Dilma disse, citando Lula, que “para quem é rico não interessa ter Estado”. Interessa, sim, basta ver a fila do BNDES e a concentração dos empréstimos nos grandes grupos econômicos, no governo Lula. Vamos lembrar um caso recente. O JBS Friboi comprou o frigorífico americano Pilgrim’s Pride e logo depois foi fazer a peregrinação ao banco. Lançou debêntures e, apesar de a operação não criar emprego algum no Brasil, o BNDES comprou 65% delas por R$ 2,2 bilhões. Pobres ricos brasileiros! O que seria deles sem o Estado? Compare-se o dinheiro do JBS Friboi com o gasto com saneamento. No Orçamento da União de 2009, de acordo com o Contas Abertas, a dotação para saneamento foi de R$ 3,1 bilhões. Mas foram pagos apenas R$ 1,6 bilhão, contando restos a pagar. O desembolso do BNDES para saneamento foi de R$ 1,3 bilhão no mesmo ano.

Ninguém defende ou defendeu até hoje Estado mínimo no Brasil. As privatizações apenas reduziram excessos inconcebíveis como o da siderurgia, toda estatal com prejuízos cobertos pelo dinheiro dos impostos, ou de um monopólio estatal de telefone que não conseguia entregar o produto a mais de 30% dos domicílios. A telefonia privada levou o serviço para 82% dos domicílios, mas o PSDB não capitaliza o resultado, e o governo Lula quer recriar a Telebrás.

Saneamento sempre foi entregue ao Estado, sempre dependeu do investimento dos governos e sempre foi uma vergonha. Não foi diferente nos dois períodos do presidente Lula. No primeiro ano do governo de Fernando Henrique, o percentual de domicílios ligados à rede de esgoto era de 39%.

No último, tinha subido para 46%. Em 2003, no primeiro ano de Lula, a Pnad registra 48% de domicílios com esgoto, e no último dado disponível divulgado pela pesquisa, do ano passado e que se refere a 2007, é de 52%.

Nos dois houve avanços, nenhum dos dois produziu um número do qual se vangloriar.

A ministra pegou o exemplo errado. Para se ter uma ideia, em 2007 houve queda dos domicílios com saneamento básico no Norte do país, onde apenas 9% das casas estão ligadas à rede de esgoto.

A ministra Dilma já estava em campanha há muito tempo, mas neste fim de semana é que foi oficializada pelo PT, fez discurso, deu entrevistas, o presidente Lula deu entrevista. Agora é oficial. E ela começa a testar suas respostas, discursos e propostas para a campanha eleitoral.

Há respostas boas, falsas, óbvias e fracas. É falso que o governo anterior tenha tentado privatizar a Petrobras; é fraco o argumento de que “o pessoal se mobilizou” e impediu a privatização de Furnas. Defendida pelo corporativismo e pelos políticos, não por bons motivos, Furnas passou a ser feudo do PMDB. É fraco defender o estatismo com o argumento de que nos Estados Unidos o Pentágono organiza a demanda privada. Ora, em que país do mundo as compras governamentais não são uma grande fonte de demanda da economia? Dilma deu algumas boas respostas na sua entrevista à “Época”. Sobre aborto, ela disse que todas as mulheres que viu fazer “entraram chorando e saíram chorando”, mas que é uma questão de saúde pública porque as mulheres pobres, que não podem ir à clínica privada, se submetem a métodos que colocam suas vidas em risco.

Entrou no delicado assunto com sobriedade. Sobre o julgamento de acusados de tortura e terrorismo, ela fez a distinção que cabe. Lembrou que um lado sofreu processo, prisão, tortura e perda dos direitos políticos. “Não há similaridade com a condição daqueles que torturaram.” A candidata disse nas entrevistas, e no discurso, que quer fazer um governo de coalizão. Isso é óbvio, já que nenhum partido no Brasil conseguiu maioria para governar sozinho. É inevitável que ela faça uma coalizão caso seja eleita.

Dilma deu uma resposta que parece boa, mas é pura criação de marketing, sobre o fato de ter menos intenção de votos entre mulheres. Disse que elas demoram mais a tomar decisão, mas quando tomam nada as demove. “Como vocês devem saber por experiência própria”, disse aos entrevistadores da revista, todos homens. Ficou engraçado, mas faltou explicar por que no Ibope de fevereiro José Serra tem 36% de intenção de voto de homens e mulheres, Ciro Gomes, 11% de ambos os sexos, e Marina Silva, os mesmos 8%. Já Dilma tem 29% dos homens e 22% das mulheres.

Lula disse na entrevista do “Estadão” que “a grande obra de um governo é fazer seu sucessor”. Se fosse assim, o que seria do pilar democrático da alternância no poder? A grande obra de um governo é governar bem. Fazer o sucessor pode ser decorrência.

A propósito, o jingle da Dilma se refere seis vezes ao presidente: “Lula”, “ele”, “dele”, “ele”, “Lula”, “cabra valente”. E havia quem na Convenção do PT exibisse camisa defendendo Lula “outra vez”. Ela não quer ser chamada de poste, mas a campanha não a ajuda.


COM ALVARO GRIBEL

BENJAMIN STEINBRUCH

Madiba

Folha de S. Paulo - 23/02/2010


Não há por que cultivar ódios e ressentimentos nem por que deixar de absorver experiências bem-sucedidas do passado

ANTES DE mais nada, deixe-me dizer que o filme "Invictus", dirigido por Clint Eastwood, que narra o momento em que Nelson Mandela saiu da prisão e assumiu a Presidência da África do Sul, não é nenhuma obra-prima. Está longe disso, em minha modesta opinião, apesar da interpretação mais uma vez extraordinária de Morgan Freeman, no papel do líder africano.
Há no filme, porém, uma mensagem muito interessante, que o diretor quis e conseguiu passar: a ideia de que o sucesso de uma jornada depende da aglutinação das pessoas e do esquecimento de conflitos do passado.
Em uma das passagens mais marcantes do filme, Mandela conta que, nos 27 anos que passou na prisão, ele e todos os demais negros sempre torciam contra a seleção de rúgbi da África do Sul. Nos estádios, era a mesma coisa. Brancos torciam pelos "Springboks", como eram chamados os jogadores da seleção. E negros apoiavam os adversários, fossem quem fossem.
Após deixar a prisão e se eleger presidente da República, Mandela se deparou com a Copa do Mundo de Rúgbi, que seria disputada na África do Sul, em 1995. Como sempre, os negros estavam torcendo contra a seleção, que, aliás, fazia péssima campanha e era um azarão na disputa. A própria direção do partido de Mandela, por unanimidade, havia decidido apoiar a mudança do nome e das cores (verde e dourado) da camisa da seleção sul-africana.
Mandela, entretanto, viu no evento esportivo uma oportunidade para avançar em sua luta pela unificação do país, depois de longos anos sob o regime do apartheid. Convenceu seu partido a mudar de ideia, apoiou abertamente a seleção e estimulou os "Springboks", que só tinham um negro entre os 25 jogadores, a manter um relacionamento direto com a população nos recantos mais pobres do país.
O resultado foi muito bom para a seleção, que disputou uma emocionante final de Copa com os tradicionais "All Blacks" neozelandeses, e para a sociedade. O filme não é uma biografia de Nelson Mandela nem a história de seu desempenho no governo da África do Sul. Focaliza, exclusivamente, um momento da atuação do líder africano. Um momento em que Madiba, como era carinhosamente chamado pelos seus aliados mais próximos, tentava construir um país unificado e, para isso, tinha de, ao mesmo tempo, impor o fim da discriminação racial e impedir o ódio ressentido e vingativo dos que haviam sido discriminados por longos anos.
Sem unir a sociedade, não há como avançar em nenhum projeto de país. Talvez essa mensagem que o diretor Eastwood passa no filme também explique muito do avanço conseguido no Brasil nas últimas duas décadas. Não há por que cultivar ódios e ressentimentos nem por que deixar de absorver experiências bem-sucedidas do passado, mesmo em casos extremos, como o da África do Sul.
Fica difícil construir uma nação próspera se uma parte dela torce pelo adversário ou pelo fracasso econômico do próprio país. Muitas vezes presenciamos essa situação no Brasil, especialmente em períodos pré-eleitorais. Uma frase emblemática de Madiba no filme caberia bem a esse propósito: "Se eu não posso mudar diante de uma nova circunstância, como posso querer que os outros mudem?". O Brasil mudou. As circunstâncias, também.

MUTRETA DO DIRCEU

Dirceu recebe de empresa por trás da Telebrás

Folha de S. Paulo - 23/02/2010

EMPRESA NAS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS COMPROU POR R$ 1 REDE DE FIBRAS ÓPTICAS QUE SERÁ USADA POR TELEBRÁS E PODE FICAR COM R$ 200 MI
Petista foi contratado por ao menos R$ 620 mil por empresa beneficiada com reativação da estatal de telecomunicações

MARCIO AITH
JULIO WIZIACK

O ex-ministro José Dirceu recebeu pelo menos R$ 620 mil do principal grupo empresarial privado que será beneficiado caso a Telebrás seja reativada, como promete o governo.
O dinheiro foi pago entre 2007 e 2009 por Nelson dos Santos, dono da Star Overseas Ventures, companhia sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal no Caribe. Dirceu não quis comentar, e Santos declarou que o dinheiro pago não foi para "lobby".
Tanto a trajetória da Star Overseas quanto a decisão de Santos de contratar Dirceu, deputado cassado e réu no processo que investiga o mensalão, expõem a atuação de uma rede de interesses privados junto ao governo paralelamente ao discurso oficial do fortalecimento estatal do setor.

De sucata a ouro

Em 2005, a "offshore" de Santos comprou, por R$ 1, participação em uma empresa brasileira praticamente falida chamada Eletronet. Com a reativação da Telebrás, Santos poderá sair do negócio com cerca de R$ 200 milhões.
Constituída como estatal, no início da decada de 90, a Eletronet ganhou sócio privado em março de 1999, quando 51% de seu capital passou para a americana AES. Os 49% restantes ficaram nas mãos do governo. Em 2003, a Eletronet pediu autofalência porque seu modelo de negócio não resistiu à competição das teles privatizadas.
Resultado: o valor de seu principal ativo, uma rede de 16 mil quilômetros de cabos de fibra óptica interligando 18 Estados, não cobria as dívidas, estimadas em R$ 800 milhões.
Diante da falência, a AES vendeu sua participação para uma empresa canadense, a Contem Canada, que, por sua vez, revendeu metade desse ativo para Nelson dos Santos, da Star Overseas, transformando-o em sócio do Estado dentro da empresa falida.
A princípio, o negócio de Santos não fez sentido aos integrantes do setor. Afinal, ele pagou R$ 1 para supostamente assumir, ao lado do Estado, R$ 800 milhões em dívidas.
Em novembro de 2007, oito meses depois da contratação de Dirceu por Santos, o governo passou a fazer anúncios e a tomar decisões que transformaram a sucata falimentar da Eletronet em ouro. Isso porque, pelo plano do governo, a reativação da Telebrás deverá ser feita justamente por meio da estrutura de fibras ópticas da Eletronet.
Outro ponto que espanta os observadores desse processo é que o governo decidiu arcar sozinho, sem nenhuma contrapartida de Santos, com a caução judicial necessária para resgatar a rede de fibras ópticas, hoje em poder dos credores.
Até o momento, Santos entrou com R$ 1 na companhia e pretende sair dela com a parte boa, sem as dívidas. Advogados envolvidos nesse processo estimam que, com a recuperação da Telebrás, ele ganhe cerca de R$ 200 milhões.
Um sinal disso aparece no blog de José Dirceu: "Do ponto de vista econômico, faz sentido o governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet, uma rede de 16 mil quilômetros de fibras ópticas, joint venture entre a norte-americana AES e a Lightpar, uma associação de empresas elétricas da Eletrobrás".
O ex-ministro não mencionou o nome de seu cliente nem sua ligação comercial com o caso. O primeiro post de Dirceu no blog se deu no mês de sua contratação por Santos, março de 2007. O texto mais recente do ex-ministro sobre o assunto saiu no jornal "Brasil Econômico", do qual é colunista, em 4 de fevereiro passado.
O presidente Lula manifestou-se publicamente sobre o caso em discurso no Rio de Janeiro, em julho de 2009: "Nós estamos brigando há cinco anos para tomar conta da Eletronet, que é uma empresa pública que foi privatizada, que faliu, e que estamos querendo pegar de volta", disse na ocasião.
Lula não mencionou que, para isso, terá de entrar em acordo com as sócias privadas da Eletronet, entre elas a Star Overseas, de Nelson dos Santos, que contratou os serviços de Dirceu.
Enquanto o governo não define de que forma a Eletronet será utilizada pela Telebrás, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) conduz uma investigação para apurar se investidores tiveram acesso a informações privilegiadas.
Como a Folha revelou, entre 31 de dezembro de 2002 e 8 de fevereiro de 2010, as ações da Telebrás foram as que mais subiram, 35.000%, contando juros e dividendos, segundo a consultoria Economática.

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Receita politizada

Folha de S. Paulo - 23/02/2010

TÊM SIDO frequentes e marcadas por perigosa politização as ingerências do governo Luiz Inácio Lula da Silva na Receita Federal. É preocupante que um órgão a ser pautado por isenção e rigor técnico envolva-se em disputas públicas, acusações de atuação enviesada e manipulação partidária.


Há cerca de um ano e meio, sindicalistas próximos ao PT foram alçados aos principais cargos do fisco. Após choques com empresas que contavam com bom trânsito no Planalto, o presidente deu ordens para que o grupo fosse contido. Parte dos dirigentes, demissionários, acusou então o governo de interferência política -o que não deixava de ser verdade, embora se omitisse que o mal era anterior.


No caso mais recente, revelado neste final de semana pela
Folha, os fiscais da receita viram sua autonomia manietada por uma portaria que entrou em vigor, de forma sigilosa, às vésperas do Natal de 2009. O documento determina que cabe ao comando do órgão a seleção prévia das empresas passíveis de sofrer fiscalização.


Ou seja, nenhuma das delegacias fiscais do país pode, desde aquela data, agir isoladamente contra grandes contribuintes que não estejam na relação preparada em Brasília.


Cabe ao governo, é claro, criar normas que orientem seus fiscais. Tampouco são condenáveis, em princípio, medidas que coíbam abusos de poder desses funcionários. Mas levanta suspeitas a determinação que, em ano eleitoral, dá à Fazenda e ao Planalto poder discricionário na relação do Estado com empresas contribuintes -potenciais doadoras para a campanha petista.


Para que funcione de forma eficaz, a Receita Federal depende não apenas de sua competência técnica ou do seu poder de sanção. É imprescindível preservar sua legitimidade republicana, a ideia de que o órgão público tratará a todos segundo os ditames da lei. É justamente esse princípio básico que o governo encarrega-se de dilapidar.

GOSTOSA PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG

CELSO MING

Provocação eleitoral


O Estado de S. Paulo - 23/02/2010

Não são as elites que impedem a aprovação de um Imposto sobre Grandes Fortunas, tal como o PT decidiu defender como programa de governo para 2011. Esse imposto não decola puramente por problemas técnicos.

Está previsto pela Constituição e o primeiro projeto de lei de 1989, que o institui, é de autoria do então senador Fernando Henrique Cardoso. Até mesmo o campeão do pensamento conservador da época, senador Roberto Campos, o defendeu. Não dá para dizer que Fernando Henrique e Roberto Campos tenham feito o jogo das esquerdas.

A proposta é velha de guerra. Apareceu na Inglaterra do século 19 dentro do ideal fabiano de redistribuir para os pobres o patrimônio acumulado pelos mais ricos. Mas não prosperou. Onde foi implantado ou já foi revogado, como na Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Itália, Holanda e Japão, ou não atinge seus objetivos redistributivos pela insignificância do volume arrecadado, como no México, Índia e Suíça, onde ainda vigora em alguns cantões.

Como é um imposto declaratório, é o contribuinte que precisaria dizer quanto vale seu patrimônio a ser tributado. A Receita Federal teria de conferir a exatidão dessa declaração. Em princípio, tem de ser cobrado uma única vez. E até aí já terão acumulado problemas incontornáveis.

A lei deve definir previamente o que seja uma grande fortuna. É uma magnitude que não pode nem ser alta demais, porque, nesse caso, teria uma arrecadação inexpressiva, nem baixa demais, porque deixaria de ser uma grande fortuna. O projeto de Fernando Henrique previa taxar um patrimônio a partir de US$ 2 milhões com uma alíquota de 1,0%.

Seu cálculo é complicado. Quanto vale uma propriedade de 2 mil hectares em Castanhal, no interior do Pará? Ou um quinto de um condomínio cuja matrícula não está regularizada no cartório por litígio entre herdeiros? Quanto valem hoje bens intangíveis, como as marcas Electrolux ou G. Aronson? Ou um plantel de 2 mil cabeças de gado, cujo peso varia conforme a cor do pasto? Teria a Receita Federal condições de conferir quanto vale uma propriedade no exterior? Como cobrar o imposto da viúva que só tem imóveis e quase nenhum dinheiro em caixa?

Seja como for, apenas os contribuintes brasileiros seriam taxados. As fortunas de estrangeiros no Brasil (empresas, terras, negócios) ficariam de fora.

Outra dificuldade de implantação do imposto é o risco de fuga de capitais. Se alcançasse patrimônio financeiro (ações, contratos no mercado de derivativos, títulos de renda fixa), o aplicador preferiria mantê-los no exterior onde não estaria sujeito ao facão.

Além disso, todos esses ativos já são taxados ou pelo Imposto de Renda, cujas funções são redistributivas, ou pelos demais impostos sobre a propriedade (IPTU, ITR, IPVA). Faria sentido inventar mais um imposto num país onde a carga tributária é notoriamente exagerada? Ou, então, faria sentido pretender que uma nova taxação corrija ineficiências arrecadatórias de outros impostos?

A proposta do PT já havia sido incluída no programa de governo de 2002. Em oito anos, não houve nenhuma tentativa de transformá-la em lei. Não será no próximo mandato que isso vai acontecer. Como das outras vezes, não passa de provocação eleitoral.


Confira

Quase um por um - A Anatel já contabiliza 175,6 milhões de celulares no Brasil, que hoje tem 192 milhões de habitantes.

De cada 100 celulares, quase 83 são pré-pagos. A vantagem é bem mais do que apenas facilitar a comunicação. Mas a melhor contribuição é a agilização da prestação de serviços.


É o médico, o encanador, o eletricista, o vendedor e tanta gente mais que pode agora ir de um atendimento a outro sem ter de passar no escritório ou na oficina para apanhar o último pedido. Isso tem um nome: é aumento da produtividade. Algo que ainda não foi medido no Brasil.

ARI CUNHA

Comedores do mensalão


Correio Braziliense - 23/02/2010


Flávio Prado, da Jovem Pan, fez comentário na rádio. Não defendeu ninguém. O Brasil continua premiando a ladroagem. Disse com todas as letras que partidos fazem uso de todas as vantagens com o expediente do mensalão. O próprio PT vai buscar dinheiro onde possa haver. Para tanto, trouxe de volta à direção do partido os que mancharam a honorabilidade da vida política. Eles sabem onde estão os recursos, e o PT cada dia mais precisa de dinheiro. O que era possível sair de órgãos oficiais a turma de choque já havia retirado. A fonte secou. Não vale citar nomes. Quem vota não tem memória. Eleição continua como antigamente.


A frase que foi pronunciada

“Um dia pavão, outro dia espanador. Compre aqui madame, uma lembrança dos políticos de Brasília.”
» Seu Oliveira, vendedor de espanador na Rodoviária



Horário de verão

»
Para quem sai cedo de casa é escuridão. Bom chegar em casa e ainda ser dia. Todos os anos muita gente fica contra e a favor. Este ano, em pleno horário de verão, houve um pico de luz que excedeu o consumo normal. A economia não foi significante.

Pedro Parente

»
Domingo foi aniversário de Pedro Parente, um dos homens mais inteligentes do Brasil. Colocou em ordem as organizações da RBS. Presidente grandioso de grupo econômico. Como acontece, nunca dá notícia de nada. É a caixa de segredo dos grandes negócios mundiais. Nós, como amigos, lembramos quando seu apelido na 305 Sul de Brasília era preá. Isso vale a biografia do grande homem.

Especialização

»
Imigrantes sem atividades profissionais estão sendo indesejáveis em muitos países. São expulsos ou deportados. Os mesmos países catam técnicos especializados. E pagam fortunas.

Vantagens

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Ophir Cavalcante, presidente da OAB nacional, afirma que quem usa como vantagem ter curso superior, para auferir regalias quando preso, merece cadeia comum. Homem com curso superior tem mais obrigação que os demais. Em futuro poderá ser desconsiderado o fato de saber mais. E, assim, ser punido com mais rigor porque conhecia a lei e não lhe deu o valor que merece.

Tsunami

»
Dona Dilma Rousseff começa a surfar num tsunami. Fernando Henrique Cardoso, com verve e inteligência, tem suas razões. Todos os motivos de progresso do governo Lula da Silva começaram no governo FHC. Vantagem é que Lula tem comunicação fácil, pelo menos enquanto deseja.

Carta Aberta à Nação

»
A Ciesp, regional de São José dos Campos, em nota assinada por Almir Fernandes, diretor titular, Ney Pasqualini Bevacqua, 1º vice-diretor, e Nerino Pinho Júnior, 2º vice-diretor, faz críticas à escolha de aviões franceses para reforço da FAB. E explica: “Centro das Industrias de São Paulo congrega 60% das empresas do setor aeroespacial e de defesa brasileiro, desenvolvido pelo Comando da Aeronáutica. Sugere que o Programa F-X2 seja conduzido pelo Comando da Aeronáutica.

Semeador de livros

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Educação e leitura formam bases na vida do editor José Xavier Cortez. Interessante nesse trabalho é a ilustração do semeador de livros. Poucas coisas em arte gráfica são encontradas com encanto.

Frase

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Hipoteticamente, Lula e Paulo Octávio se encontraram. Resumo gaiato da história: “Na hora de dividir o panetone você não me chamou”. A correspondência é de Lucas Vieira Boaventura (lucasdeus@hotmail.com) .

Bolha imobiliária

»
Vendas de imóveis em Brasília são feitas pela Terracap diretamente às empresas registradas. Nasce aí uma bolha imobiliária. Os preços são altos, acima das possibilidades naturais. Supervalorizados. Imóveis deveriam ser comprados por casais recém-casados ou solteiros que precisam de endereço. Quem vende o faz por preço acima do normal.

História de Brasília

Nesta história do regresso de funcionários do
Ministério da Fazenda, o GTB deve ficar completamente de fora. A sua função foi trazê-los à capital, e não devolvê-los para o Rio. (Publicado em 25/2/1961)

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Aspen, sucursal brasileira do frio

O Estado de S.Paulo - 23/02/2010


Da mesma maneira que Trancoso se transformou em objeto de desejo dos paulistas durante o verão, Aspen está se consolidando como centro de férias de inverno para esses mesmos brasileiros.

É do Brasil que sai, para o centro de esqui do Colorado, o maior contingente de turistas estrangeiros depois do da Austrália. E se brasileiros não superam australianos em número, ganham de longe no gasto per capita.

A ponto de se comentar, nas lojas de Aspen, que foram os brasileiros que salvaram a economia do complexo Aspen-Snowmass depois da derrocada de 2009. Só Eduardo Gaz, da Ski Brasil, colocou 600 brasileiros na cidade, de 6 mil habitantes.

Espalhados por hotéis top de linha, como o cobiçado Little Nell, estavam na cidade, durante o carnaval, empresários como José Roberto Ermírio de Moraes, da Votorantim - que acabou perdendo algumas horas por dia na negociação de compra de ações da Cimpor -, acompanhado da sua mulher, Gisela. E também Bianca e Ricardo Ermírio de Moraes. Rose e Alfredo Setubal, mais Patricia e Ricardo Vilella Marino, leia-se Itaú/Unibanco, circularam pelas montanhas e restaurantes. Andrea e José Olympio Pereira, do Credit Suisse, preferiram Snowmass, bem como Ana, de David Feffer, da Suzano.

Amalia Spinardi e Roberto Thompson, responsável pelos negócios pessoais de Marcel Telles, Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira, escolheram o novíssimo Residencial Little Nell - o que também fizeram Angela e Fábio Auriemo, da JHSF. Nazaré e Oskar Metsavaht, da Osklen, optaram por alugar um apartamento durante o mês, a exemplo de Ana Maria e Paulo Velloso. E José Bezerra de Menezes, do BicBanco, ficou em Highlands, montanha preferida dos locais. Estes, por sinal, estão sendo "expulsos" da cidade, graças ao aumento dos impostos residenciais.

Um ponto em comum entre as duas cidades: elas atraíram, há 30 anos, um mesmo tipo de sonhadores - a contracultura formada por gente em busca da natureza perdida. Trancoso, pelas belezas naturais, e Aspen como abrigo para artistas e músicos de todo tipo.

A cidade baiana foi, há alguns anos, descoberta pelos milionários paulistas; Aspen, pelos milionários americanos. Hoje, ambas veem seus imóveis baterem recordes de valorização.

Consequência: em Aspen, os imigrantes estão se mudando para bem mais longe, para pagar menos impostos. Em Trancoso, pescadores estão ficando ricos vendendo terras e casas. E não têm mais onde morar.

Mão na massa
Alberto Rollo, um dos maiores especialistas em direito eleitoral do País, não tem dúvida: "O que se viu no congresso do PT, semana passada, configura, sim, um delito eleitoral."
Desta vez, considera o advogado, ocorreu um evento diferente dos anteriores, que a oposição levou ao TSE e foram arquivados.

Qual a diferença?
"No congresso do PT foram preenchidos os três quesitos básicos que caracterizam uma campanha: definir o cargo almejado, anunciar os méritos do candidato e contar o que ele fará se for eleito." Nas viagens e inaugurações de Lula e Dilma, diz ele, algum dos quesitos faltou.

Se PSDB e DEM vão procurar o tribunal de novo, e se os autos permitirão ao TSE reafirmar esse entendimento, é outro problema.

Projeto MPI
Eike Batista concretizou o que antecipou à coluna em junho. Está marcada para os dias 26, 27 e 28 de março, na Marina da Glória, no Rio, a etapa brasileira da Class 1.

Pelo menos dez barcos serão trazidos de Dubai - onde aconteceu, no ano passado, a sétima e última etapa da "Fórmula 1 dos Mares".

Barrados na cela
Enviados pela Assembleia de Deus, dois religiosos tentaram visitar José Roberto Arruda na Polícia Federal, durante o carnaval.
Queriam orar com o governador mas... foram impedidos.

Cartela cheia
Atenção, velha guarda. Pelas contas de Michel Temer, a liberação dos bingos deve ser votada em março pelo plenário da Câmara.
Regis de Oliveira, líder dos bingueiros na casa, já faz planos: "Depois será a vez dos cassinos."

Trio inesperado
Aldo Rebelo almoçou, domingo, com Chieko Aoki, no Blue Tree, hotel da empresária. No final, somou-se aos dois Marcio Toledo. Quem ouviu a conversa garante que trataram de financiamento de campanha.

Sala quente
Anistia, tortura e a "comissão da verdade" esquentam a volta às aulas na São Francisco, segunda que vem. Entre os palestrantes, Glenda Mezarobba e Gilda Carvalho.

He"s the man
Corações femininos, batei. George Clooney desembarca por aqui no final do ano.
Para divulgar o seu último filme, The American.

Contra-vela
Do oceano para os palcos: o livro de Amyr Klink Cem dias Entre Céu e Mar vai ganhar versão teatral. Adaptada por Alan Castelo.

Me inclua fora
Celso Jatene acha que é só para queimar a notícia que corre, na Câmara, de que ele pode acabar virando prefeito.

O que ocorreria se o TRE confirmasse as cassações de Kassab, da vice Alda, do presidente da Câmara e do primeiro vice-presidente. Jatene é o seguinte na fila - e sem nenhum processo.

FERNANDO DE BARROS E SILVA

DEM no pasto

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/02/10

SÃO PAULO - José Roberto Arruda pulou o Carnaval no xilindró. Gilberto Kassab se vê às voltas com a Justiça Eleitoral, que ameaça cassar seu mandato. Eram essas as estrelas do Democratas, em quem o partido até ontem depositava esperanças de renovação política.
As situações do governador preso e do prefeito em apuros são distintas. Kassab deve ficar no cargo. Mas ambas as crises, embora diversas, são sintomas do esfarelamento da legenda que pretendeu encampar valores de uma nova direita no país.
Antes mesmo de se tornar Democratas, em 2007, o PFL já buscava transitar da representação oligárquica e patriarcal, que marcou sua identidade histórica, para um conservadorismo de perfil mais moderno, capaz de disputar o poder nos centros urbanos da região Sudeste.
Imaginava-se um partido que pudesse galvanizar as camadas médias da sociedade contra os impostos excessivos ou a presença ostensiva do Estado na economia. Um partido francamente a favor da iniciativa privada, que viesse unir a defesa da ética e a primazia do indivíduo em torno de uma política liberal.
O papel aceita tudo. A realidade é que atrapalha. Kassab já era "Taxab" antes que as chuvas de verão transformassem São Paulo na Veneza do fim do mundo. E Arruda virou assunto para a polícia e os humoristas -nada mais.
No final dos anos 90, o antigo PFL tinha seis governadores e mais de cem deputados -quase o dobro do que o DEM reúne hoje. A geração júnior de Rodrigo Maia e ACM Neto parece nascer mais velha que seus antepassados. Os coxinhas da Câmara exibem o olhar triste e o semblante sempre alarmado.
O DEM, que imaginava migrar dos grotões do Nordeste para o Sudeste, ainda tem seu destino atrelado ao pasto. Sua fronteira é o Centro-Oeste, onde de fato vocaliza os interesses do agrobusiness. Kátia Abreu, a senadora do Tocantins, é a valente do Democratas. A dama do cerrado é o que resta como força viva de uma legenda que luta para sobreviver como satélite do tucanato.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Hypermarcas fará emissão de ações para novas compras

Folha de S.Paulo - 23/02/2010


A Hypermarcas fará nova emissão de ações. Com a transação, a empresa deverá captar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão para novas aquisições nos mercados de medicamentos e higiene pessoal.

Nos últimos anos, a empresa se notabilizou por uma série de aquisições, como a farmacêutica DM, a Bozzano, a Niasi e as marcas de preservativos Jontex e Olla. Tornou-se uma das maiores empresas em bens de consumo do Brasil.

Desde que abriu capital, em abril de 2008, o ritmo de compras se acelerou. No ano passado foram cinco, no valor total de R$ 2 bilhões.

O último negócio da Hypermarcas foi a compra do laboratório Neo Química por R$ 1,3 bilhão, em dezembro.

Com a aquisição da Neo Química, a divisão de medicamentos, que representava 33% dos negócios, passou para 40%.

A empresa nasceu em 2002 com a compra da Assolan, com recursos que o empresário João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, recebeu ao vender a Arisco para a Best Foods, atualmente Unilever.

A Hypermarcas anunciou lucro líquido de R$ 101 milhões no quarto trimestre de 2009, revertendo o prejuízo de R$ 153,2 milhões em igual período do ano anterior graças à melhora no resultado financeiro.

Investimento cresce, mas não zera perdas
Os investimentos no país devem iniciar retomada no final deste ano, mas ainda não deverão ser suficientes para recuperar as perdas ocorridas com a crise.

A taxa de investimento em relação ao PIB deve atingir 18,5%, superando os 18% registrados em 2007 -período anterior aos impactos causados pela crise-, segundo a consultoria MB Associados.

"Nota-se melhora gradual dos investimentos, que devem atingir o pico do pré-crise neste final de ano", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

A expansão, porém, não será suficiente para cobrir o que se perdeu de investimento na crise, diz.

Adicionada a variação em valor real da demanda, na soma de 2009 e 2010, os investimentos ainda caem R$ 2,2 bilhões, afirma Vale. O economista projeta aumento de R$ 180 bilhões do consumo das famílias e de R$ 51,6 bilhões do governo. "Em dois anos o consumo total terá expansão de R$ 230 bilhões, enquanto o investimento ficará estagnado", conclui.

Por que um crescimento sustentável de 5% ou 6% ao ano não é possível?

A taxa de investimento ainda é muito baixa e, mesmo que aumente o dobro do crescimento do PIB nos próximos anos, não alcançaria os 25% necessários para sustentar o crescimento do PIB em torno de 5%, segundo o economista.

CANA DO BRASIL
A Syngenta, multinacional suíça, ampliará o foco na operação brasileira em 2010. A empresa está investindo na produção de uma nova tecnologia para cana-de-açúcar, que deve ser lançada até 2011. "O faturamento com o novo negócio é estimado em US$ 300 milhões por ano até 2015", diz Antonio Guimarães, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos América Latina. Para produzir a nova tecnologia, que reduz custos de plantio e mão de obra, segundo Guimarães, a companhia está investindo US$ 20 milhões na construção de uma fábrica em Itápolis (SP). Os mercados emergentes representaram 40% das vendas globais da Syngenta em 2009. O Brasil liderou o desempenho. Em 2009, foi inaugurado em Holambra (SP) o quarto centro de pesquisa de tratamento de sementes da empresa no mundo.

FINANCEIRO
O ministro Mantega (Fazenda) recebe hoje Marcelo Giufrida, presidente da Anbima. A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais foi criada em outubro pela união da Anbid (de bancos de investimento) com a Andima (das instituições do mercado financeiro).

NOVOS VOOS
Enquanto aguarda a definição da Anac sobre a redistribuição dos horários para pousos e decolagens (slots) no Aeroporto de Congonhas, a Webjet Linhas Aéreas vai, a partir de 1º de março, acrescentar em sua malha aérea três voos para Brasília, além de uma ligação para Belo Horizonte, Porto Alegre e Fortaleza.

DECOLAGEM
Um exemplo de concessão de aeroportos para a iniciativa privada está em Cabo Frio. O aeroporto internacional da cidade cresceu 65% em volume de cargas de 2008 para 2009 e atingiu faturamento de R$ 40 milhões. Em volume, foram transportadas 15,7 mil toneladas em 2009, contra 9,5 mil toneladas em 2008.

DE VOLTA
A principal executiva da Disney Parks para a América Latina, a brasileira Juliana Cadiz, vai retornar ao Brasil na próxima semana, depois de passar dez anos trabalhando em Orlando. A executiva irá coordenar de São Paulo as ações de comunicação da Disney Parks no país.

MERCADO POLONÊS
O ator polonês Marek Kondrat, sócio da importadora de vinhos Winarium, fechou negócios no Brasil no valor de US$ 60 mil -receita acima da exportada pelo país ao mercado polonês em todo o ano de 2009, de US$ 43 mil. O primeiro pedido foi de um contêiner com 12 mil garrafas de vinhos e espumantes brasileiros das vinícolas Pizatto e Lidio Carraro, do Rio Grande do Sul.

MODA
No início de abril, desembarca no Brasil, o presidente da Hugo Boss para as Américas, Mark Brashear. Em sua segunda visita ao país -a primeira foi em agosto do ano passado-, o executivo virá para a inauguração da loja da grife no shopping Iguatemi Brasília.

ELIANE CANTANHÊDE

Dilma redesenhada

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/02/10


BRASÍLIA - Lula aproveitou o congresso do PT para desenhar, linha por linha, o perfil da candidata Dilma Rousseff. Potencializou suas qualidades, transformou eventuais desvantagens em virtudes e voltou para o Alvorada sabendo que a militância iria decorar a lição para a campanha.
Se a direita, principalmente a direita militar, não cansa de chamar Dilma pela internet de "guerrilheira", Lula foi carinhoso ao falar da "menina que arriscou a própria vida" em defesa da democracia.
Se prevalece a percepção de que Dilma não foi uma opção, mas escolhida por exclusão (depois da queda da cúpula e dos presidenciáveis naturais do PT), Lula tratou de dizer que estava de olho nela havia muito tempo, desde quando discutia a questão energética e via aquela mulher ali, aplicada, competente, agarrada ao seu laptop.
Se a oposição, tucanos e democratas à frente, não cansam de bater na tecla de que ela mente, citando os casos da ex-secretária da Receita, do dossiê contra FHC e do diploma inflado, Lula tratou de corrigir: ela é um poço de sinceridade.
E se os próprios governistas consideram, por baixo e às vezes por cima dos panos, que Dilma é arrogante e mandona, a ponto de gritar com ministros, presidentes de estatais e assessores em reuniões, Lula transformou esse, digamos, probleminha, numa grande qualidade: é que ela é perfeccionista em tudo o que faz, aprende tudo em uma semana e exige dos outros o que exige dela mesma para bons resultados.
Desenhada a candidata, Lula pôs-se a ditar também a política de alianças. Com ele ali, do alto de sua imensa liderança e popularidade, quem iria vaiar o PMDB, representado por Michel Temer, Edison Lobão e Hélio Costa?
Sarney e Henrique Meirelles, porém, não foram. É que a turma petista digeriu bem a nova Dilma e tinha de engolir o PMDB, mas pedir para não vaiar Sarney e o BC seria um pouco demais, não é?