segunda-feira, novembro 16, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

Vida e obra de Dilma Rousseff (1):


o currículo da guerrilheira tem mais codinomes do que tiroteios

16 de novembro de 2009

“Senhora ministra Dilma Rousseff, minha camarada de armas”, assim José Dirceu saudou a herdeira do cargo na abertura do adeus à chefia da Casa Civil. “Ela é uma companheira de lutas e, como eu disse, uma camarada de armas”, reincidiu no meio do palavrório o figurão despejado do cargo por não saber ocultar direito as provas do crime. ”Lutamos contra a ditadura militar de armas na mão. Lutamos pela redemocratização do Brasil de peito aberto”.

Animado com a salva de palmas, o orador caprichou na pose de primeiro da turma no cursinho intensivo de guerrilha em Cuba. Dilma manteve o semblante severo de quem entrou em Havana no primeiro dia de 1959 ao lado de Fidel Castro. Se esses dois tivessem escoltado Che Guevara na selva boliviana a história seria outra, emocionaram-se na plateia veteranos heróis da resistência que hoje lutam pela prosperidade alistados no exército dos bolsistas da anistia.

O País do Carnaval não estabelece limites nem prazos de validade para a fantasia, constatou outra vez o Brasil que vê as coisas como as coisas são. Na discurseira de junho de 2005, por exemplo, Dirceu travestiu de soldados da democracia dois devotos de seitas que pretendiam trocar a ditadura militar pela ditadura comunista, e tinham tanto apreço pela liberdade quanto um carcereiro nazista.

“A VAR- Palmares é uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”, confessava já nas primeiras linhas o panfleto de apresentação de uma das quatro siglas frequentadas por Dilma em três anos de militância clandestina. Mas quem faz o que fez Dirceu não fica embaraçado por tão pouco, e o falatório seguiu seu curso.

Sempre fantasiado de democrata, o capitão do time expulso de campo pelo mensalão aproveitou a troca de guarda no primeiro escalão para celebrar a troca de chumbo que não houve. O guerrilheiro diplomado com o codinome Daniel só foi visto de armas na mão nas aulas práticas do cursinho ─ para disparar balas de festim, porque não se desperdiça chumbo em combates imaginários. De volta ao Brasil, assustou-se com o tamanho da confusão e preferiu entrincheirar-se por trás do balcão do Magazine do Homem, em Cruzeiro do Oeste. Em vez de comprar brigas perigosas, esperou a anistia vendendo roupas masculinas.

O histórico da guerrilheira urbana registra mais codinomes que tiroteios. Entre meados de 1967 e janeiro de 1971, a mineira Dilma Vana Rousseff Linhares foi Estela, Vanda, Patrícia e Luiza. Nenhuma participou diretamente de ações armadas. aprendeu a montar e desmontar uma arma, mas jamais apertou um gatilho fora da aula. ”Ela não era uma figura de muito destaque”, disse Carlos Minc, outro veterano da VAR-Palmares. Talvez seja convidado a retocar a frase: Dilma acha que fica melhor no retrato com um trabuco na mão.

“Não gosto de falar sobre isso”, diz com voz inconvincente quando lhe perguntam sobre os velhos tempos. Não há nenhum relato épico a fazer. Num filme inspirado no assalto ao cofre do governador Adhemar de Barros, por exemplo, a atriz escalada para o papel de Dilma Rousseff jogaria no time dos coadjuvantes. Segundo relatórios da polícia, coube-lhe administrar a distribuição de dinheiro, providenciar esconderijos e comprar um Fusca. Dilma só admite a aquisição do carro. O tom de voz insinua que fez coisas de que até Deus duvida.

“Ela é uma das molas mestras dos esquemas revolucionários”, decidiu o delegado Newton Fernandes na coleção de perfis deliberadamente superlativos de militantes da VAR-Palmares. Convinha valorizar a captura de mais uma procurada. O promotor militar encarregado de denunciar a organização enxergou na guerrilheira de 22 anos ”a Joana d’Arc da subversão”, “a papisa da subversão”, “uma figura feminina de expressão tristemente notável”.

Presa em janeiro de 1970, a futura candidata à presidência da República foi submetida a sucessivas torturas e ficou três anos na cadeia. Nesse período, mais de 100 presos políticos foram embarcados rumo ao exílio em troca da libertação de embaixadores sequestrados. Ninguém considerado importante ficou fora das listas de resgatados das celas. Dilma Rousseff não entrou em nenhuma.

A saga da guerrilheira capaz de ousadias assombrosas, como aqui se provará, é tão veraz quanto o doutorado em economia na Unicamp.

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Violência versus agenda positiva

O Estado de S. Paulo - 16/11/2009


Impressiona-me o crescente espaço destinado à violência nos meios de comunicação, sobretudo no telejornalismo. Catástrofes, tragédias e agressões, recorrentes como chuvaradas de verão, compõem uma pauta sombria e perturbadora. A violência não é uma invenção da mídia. Mas sua espetacularização é um efeito colateral que deve ser evitado. Não se trata, por óbvio, de sonegar informação. Mas é preciso contextualizá-la. A overdose de violência na mídia pode gerar fatalismo e uma perigosa resignação. Não há o que fazer, imaginam inúmeros leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Acabamos, todos, paralisados sob o impacto de uma violência que se afirma como algo irrefreável e invencível. E não é verdade. Podemos, todos, jornalistas, formadores de opinião, estudantes, cidadãos, enfim, dar pequenos passos rumo à cidadania e à paz.

Os que estamos do lado de cá, os profissionais da mídia, carregamos nossas idiossincrasias. Sobressai, entre elas, certa tendência ao catastrofismo. O rabo abana o cachorro. O mote, frequentemente usado para justificar o alarmismo de certas matérias, denota, no fundo, a nossa incapacidade para informar em tempos de normalidade. Mas, mesmo em épocas de crise (e estamos vivendo uma gravíssima crise de segurança pública), é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura. O jornalismo de qualidade reclama um especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real pode ser amplificada pelos megafones do sensacionalismo. À gravidade da situação, inegável e evidente, acrescenta-se uma dose de espetáculo. O resultado final é a potencialização da crise. Alguns setores da mídia têm feito, de fato, uma opção preferencial pelo negativismo. O problema não está no noticiário da violência, mas na miopia, na obsessão pelos aspectos sombrios da realidade. É cômodo e relativamente fácil provocar emoções. Informar com profundidade é outra conversa. Exige trabalho, competência e talento.

O que eu quero dizer é que a complexidade da violência não se combate com espetáculo, atitudes simplórias e reducionistas, mas com ações firmes das autoridades e, sobretudo, com mudanças de comportamento. Como salientou certa vez o antropólogo Roberto DaMatta, "se a discussão da onda de criminalidade que vivemos se reduzir à burrice de um cabo de guerra entre os bons, que reduzem tudo à educação e ao "social", e os maus, que enxergam a partir do mundo real - o mundo da dor e dos menores e maiores assassinos - e sabem que todo ato criminoso é também um caso de polícia, então estaremos fazendo como as aranhas do velho Machado de Assis, querendo acabar com a fraude eleitoral mudando a forma das urnas". O que critico não é a denúncia da violência, mas o culto ao noticiário violento em detrimento de uma análise mais séria e profunda.

Precisamos, ademais, valorizar editorial e informativamente inúmeras iniciativas que tentam construir avenidas ou ruelas de paz nas cidades sem alma. É preciso investir numa agenda positiva. A bandeira a meio pau sinalizando a violência sem-fim não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas isoladas que diariamente se empenham na recuperação de valores fundamentais: o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas. Embriões de grandes reportagens. Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado no seu combate é um dever ético. Mas não é menos ético iluminar a cena de ações construtivas, frequentemente desconhecidas do grande público, que, sem alarde ou pirotecnias do marketing, colaboram, e muito, na construção da cidadania.

A juventude, por exemplo, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva. A delinquência bem-nascida, denunciada muitas vezes neste espaço opinativo, está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil. A juventude real, perfilada em várias pesquisas e na eloquência dos fatos, está identificando valores como amizade, família, trabalho. Há uma demanda reprimida de normalidade. Superadas as fases do fundamentalismo ideológico, marca registrada dos anos 60 e 70, e o oba-oba produzido pela liberação dos anos 80 e 90, estamos entrando num período mais realista e consistente. A juventude batalhadora sabe que não se constrói um país na base do quebra-galho e do jogo de cintura. O futuro depende de esforços pessoais que se somam e começam a mudar pequenas coisas. É preciso fazer o que é correto, e não o que pega bem. Mudar os rumos exige, sobretudo, a coragem de assumir mudanças pessoais.

A nova tendência tem raízes profundas. Os filhos da permissividade e do jeitinho sentem intensa necessidade de consistência profissional e de âncoras éticas. O Brasil do corporativismo, da impunidade do dinheiro e da força do sobrenome vai, aos poucos, abrindo espaço para a cultura do trabalho, da competência e do talento. O auê vai sendo substituído pela transpiração e o cartório vai sendo superado pela realidade do mercado. A juventude real, não a de proveta, imaginada por certa indústria cultural, manifesta crescente desejo de firmeza moral. Não quer a covarde concessão da velhice assanhada. Espera, sim, a palavra que orienta.

A violência está aí. E é brutal. Mas também é preciso dar o outro lado: o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem fazer do jornalismo um refém da cultura da violência.

Carlos Alberto Di Franco, doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, professor de Ética, é diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br) e da Di Franco - Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com) E-mail: difranco@iics.org.br

GOSTOSAS DO TEMPO ANTIGO

HILARY BENN

Desenvolvimento sustentável e o Brasil

O Globo - 16/11/2009


Mais de seis bilhões de pessoas compartilham os frágeis sistemas de apoio à vida na Terra. Com mais pessoas vivendo nas cidades, podemos nos sentir distantes da natureza, mas somos completamente dependentes daquilo que ela nos oferece. É fácil esquecermos que a natureza nos fornece o alimento e a água que nos sustentam; e um clima estável.

À medida que a população mundial cresce, os recursos naturais acabarão por tornarem-se incapazes de responder às nossas demandas. A paz e a estabilidade globais dependem de nossa habilidade de encontrar novas maneiras de crescer e gerir nossos recursos para que todos se beneficiem deles, hoje e no futuro. E é isso o que significa desenvolvimento sustentável.

Se quisermos alcançar um mundo mais sustentável, precisamos enfrentar nossa responsabilidade por mudanças climáticas. Se falharmos em cortar as emissões de gases de efeito estufa, estaremos sujeitos a secas, inundações e perdas de colheitas. A mudança do clima representa uma ameaça à prosperidade global. É por isso que o Reino Unido se comprometeu a cortar suas emissões em 34% até 2020 e 80% até 2050, e propôs um fundo de 100 bilhões de dólares anuais para ajudar as nações em desenvolvimento a lutar contra estas mudanças.

A transição para uma economia mais sustentável não significa sacrificar o crescimento ou cercear as aspirações dos países ricos ou pobres. O Relatório Stern possui uma mensagem simples: enfrentar a mudança do clima não custará nada ao planeta, mas a Terra pagará o preço se não fizermos nada. É do interesse de todos enfrentarmos essa ameaça juntos. O comprometimento do Brasil em reduzir o crescimento de suas emissões em 38-42% até 2020, incluindo a redução do desmatamento em 80%, é realmente ambicioso.

O Brasil emerge como uma das potências econômicas e políticas. Sua economia é estável, sua população vem prosperando e algumas de suas empresas são reconhecidas mundialmente. Mas o Brasil sempre foi mais do que uma potência convencional. É o lar de aproximadamente um quinto de todas as espécies conhecidas. Suas florestas fornecem à América do Sul a chuva para regar as plantações, e ao resto do mundo, um clima estável. Além disso, o país tem sido líder no desenvolvimento de biocombustíveis e no monitoramento via satélite.

É exatamente desse tipo de liderança que o mundo precisa agora. O Brasil tem a oportunidade de consolidar sua reputação de potência ambiental. É possível fazê-lo expandindo sua matriz energética sustentável e seu monitoramento da Amazônia para outros biomas, explorando novas formas de cultivo e pecuária e compartilhando suas tecnologias agrícolas e de monitoramento de outras regiões mega diversas na África e na Ásia.

Em cerca de 20 dias, o mundo se reunirá em Copenhague com o objetivo de acordar uma estrutura política para combater o aquecimento global. Será o primeiro passo no caminho rumo a um mundo mais sustentável. Devemos dar esse passo juntos. O Reino Unido está pronto para embarcar nessa jornada e contamos com o Brasil.

HILARY BENN é ministro de Meio Ambiente, Alimentação e Questões Rurais do Reino Unido.

GEORGE VIDOR

Engessado

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09

No afã de ver aprovados os projetos de lei que estabelecem o modelo de partilha para a produção de óleo e gás em futuros blocos na área do pré-sal, o governo acabou engessando também as licitações que poderiam mirar apenas o pós-sal nessa mesma região. A redação atual dá margem para essa interpretação, pois se refere à exploração na área do pré-sal, sem definir tal característica.

Paulo, que se estende pelo litoral do Estado do Rio, foram encontrados reservatórios gigantescos - o que motivou o governo a promover a mudança no modelo - como, por exemplo, os campos de Tupi e Iara. No entanto, é bem provável (e o pré-sal do Parque das baleias, na parte da Bacia de Campos localizada no litoral do Espírito Santo, deu provas disso) que haja muitos reservatórios relativamente pequenos. E ainda que, nessa faixa de 800 quilômetros de comprimento por 200 quilômetros de largura, batizada de "picanha azul", talvez existam reservatórios no pós-sal e não no pré-sal.

Se adotados o modelo de partilha e a exigência de operador único (no caso, a Petrobras) para tudo, esse engessamento fará com que se perca oportunidade de exploração de campos pequenos.

Há, na própria Bacia de Campos, blocos com reservas estimadas em dezenas de milhões de barris (e não centenas de milhões ou bilhões de barris) que atrairiam investidores.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tem condições de demonstrar que a intenção não é de engessamento se autorizar a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a promover uma nova Rodada de Licitações, no primeiro semestre do ano que vem, com blocos das Bacias de Campos e de Santos que foram retiradas da oitava (ainda em suspenso) e da nona rodadas.

O pré-sal, devido ao seu enorme potencial de produção, tem concentrado as atenções da indústria do petróleo no Brasil, mas é o póssal que ainda está tocando o barco no setor. Só na Bacia de Campos (que responde por 83% da produção nacional) há 19 áreas que estão em desenvolvimento - ou seja, na fase de preparação para entrada em produção. E várias outras continuam sendo exploradas.

O segmento de petróleo e gás participa com 60% dos US$ 450 bilhões de investimentos industriais previstos para o Brasil no período de 2009 a 2012. Considerando-se os investimentos em infraestrutura, a parcela de petróleo e gás chegaria a 35%.

Os projetos da Petrobras, em média, movimentam três quartos (75%) desses investimentos.

O pré-sal multiplicará esses números. A pesquisadora Adriana Perez, do centro de estudos do petróleo do Ibre (instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getúlio Vargas, estima em US$ 600 bilhões os investimentos necessários para se desenvolver os campos do pré-sal nas duas próximas décadas.

Para se ter uma idéia da ordem de grandeza do capital para essas inversões, o volume total de investimentos na economia brasileira, por ano, vem se situando em US$ 300 bilhões.

O presidente do conselho de administração da CSA Thyssenkrupp, Niclas Müller, assumiu o posto meses atrás com a difícil tarefa de substituir Erich Heine, uma das vítimas do trágico acidente com o avião da Air France que fazia o voo RioParis e caiu no Oceano Atlântico.

Além dos vínculos profissionais, Müller era amigo de Heine; suas famílias se visitam frequentemente.

A montagem da nova siderúrgica em Santa Cruz já estava bem adiantada quando Müller desembarcou no Brasil para ocupar o cargo que ficara vago, mas quem conhece obra sabe que os "finalmentes" são decisivos.

Projetos dessa envergadura causam impacto ambiental e, no caso de uma usina de aço, é impossível se evitar a emissão de CO2, pois é inerente ao processo de fabricação.

Nunca ninguém escondeu isso, e as autoridades brasileiras (federais, estaduais e municipais) certamente devem ter pesado os prós e os contras na balança antes de receber de braços abertos potenciais candidatos a investir no setor.

Voltando à CSA, não só para que o licenciamento fosse possível, mas também para atender às exigências de um mercado consumidor preocupado com o meio ambiente, o projeto no Rio foi concebido já se prevendo o aproveitamento de gases na geração de energia elétrica e de vapor, assim como a utilização de filtros nas chaminés, o reaproveitamento da água e a transformação da escória do alto-forno em clínquer (que é a base do cimento). Com essas iniciativas, o grupo alemão, associado no projeto à Vale, até obteve alguns créditos de carbono, certificados pela ONU.

No ano que vem a CSA começa a produzir aço. Nos "finalmentes" da obra um outro item terá de ser adicionado, que é a batalha pela imagem da companhia.

A siderúrgica tem contribuído para revigorar uma das regiões mais pobres do Rio e não vai querer ser vista como vilã do meio ambiente.

Como há outros empreendimentos siderúrgicos programados para o estado, que não podem ser desprezados por sua importância econômica e social, o Rio de Janeiro realmente precisa ter uma estratégia de compensação e neutralização das emissões de carbono.

Até porque as belezas naturais serão as principais vitrines de todo o Estado do Rio na Copa de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016, e o desafio será provar que existe desenvolvimento harmônico com a natureza.

PARA MINHAS LEITORAS

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO

Lula e seu duplo

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09


Entrevista do presidente à TV permite entrever aspectos que fogem dos estereótipos construídos em torno de sua pessoa

MARCADA por um tom pessoal e emotivo, a entrevista do presidente Lula com o jornalista Kennedy Alencar, transmitida ontem pela Rede TV!, talvez tenha como principal efeito o de colocar em segundo plano as avaliações de cunho estritamente político, habitualmente suscitadas por ocasiões desse gênero.
Rememorando cenas da infância, narrando o episódio da morte de sua primeira mulher, considerando o impacto da desestruturação familiar sobre sua própria vida e a de tantos outros brasileiros, Lula comoveu-se, sendo de imaginar que mesmo o espectador mais infenso ao chamado carisma presidencial não terá reagido com indiferença àqueles momentos da entrevista.
Sem dúvida, a origem humilde e a trajetória de sucesso contribuem bastante para o prestígio e a identificação pessoal que Lula obteve, ao longo desses anos, na maioria da população.
Seja como for, e abstraindo-se desta análise o peso específico dos acertos e erros de seu governo, a figura pessoal do presidente Lula está longe de fixar-se nos quadros de uma narrativa sentimental. Nesse sentido, a entrevista deste domingo talvez possa esclarecer as contradições que o presidente, como qualquer outra pessoa, parece abrigar em sua personalidade.
Encerrado o bloco biográfico, a entrevista enveredou pela política. Lula apresentou, nesse passo, uma versão incompleta e reticente, mas ainda assim inesperada, da crise do mensalão. A seguir sua linha de raciocínio, todo o escândalo teria sido uma "armação". Pelo que ficou sugerido, recairia sobre o publicitário Marcos Valério a suspeita de que, dadas suas ligações anteriores com o PSDB, tratou de envolver o PT numa armadilha, visando ao impeachment do presidente.
Nada seria mais inconvincente do que essa explicação -que, de resto, não eximiria o PT da disposição, nada inocente, de participar do esquema concebido pelo publicitário. Lula não foi adiante nessa fabulação -e teve tanta desfaçatez para construí-la quanto para dissipá-la numa nebulosa de evasivas.
A calculada reticência do presidente contrasta com o emocionalismo da primeira parte da entrevista. Poucas vezes Lula terá revelado, como neste domingo, de que modo em sua personalidade se combinam o fleumático e o sanguíneo, o sinuoso e o direto, a espontaneidade e a astúcia.
A célebre "simplicidade popular" do presidente, a que não faltam despropósitos de antologia, convive assim com os traços clássicos da manipulação palaciana e do frio autodomínio dos que estão habituados ao poder.
"Povo" e "elites" são categorias simplórias demais para entender a prática da política brasileira: elementos típicos de uma e outra compõem o estilo pessoal de Lula -que replica, de resto, a realidade de seu próprio governo, onde antigos revolucionários se confraternizam com oligarquias seculares, sem escândalo para ninguém. Ou melhor, com os escândalos que se conhecem.

ANTONIO CARLOS LEMGRUBER

O "carry trade" e a festa do dólar

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09


BEN BERNANKE seguiu à risca a análise feita por Milton Friedman sobre a crise de 1929 e da década de 1930. Expandiu a base monetária violentamente, levou os juros a zero e adotou uma atitude de negligência benigna com relação à desvalorização do dólar nos mercados cambiais pelo mundo afora.
Na verdade, foi o que ocorreu em 1933 (Franklin Roosevelt) e começou a tirar os EUA da crise: expansão de moeda, juros mais baixos e desvalorização do dólar em relação ao ouro.
Por trás desse "mix" em 2009, Bernanke pretende trazer um pouco de inflação via taxa de câmbio mais desvalorizado para evitar a terrível deflação. O resto tem ficado por conta do aumento do balanço do Fed (eufemismo para a base monetária triplicada) e do brutal aumento do deficit governamental pelo lado dos gastos públicos, beneficiando a recuperação de bancos e as vendas de automóveis.
Ocorre que essa política -embora esteja propiciando uma lenta recuperação e certamente evitando a deflação- está nitidamente provocando uma nova bolha de preços de ativos nas Bolsas, nas commodities e nas outras taxas de câmbio contra o dólar.
Tudo por causa do "carry trade".
O que é isso? Todo mundo toma empréstimos em dólares e compra outras moedas (sobretudo o real e o dólar australiano), outros ativos denominados em outras moedas (ver Bolsa brasileira) ou mesmo ativos mais arriscados denominados em dólar (Bolsa americana e commodities como ouro, petróleo, açúcar etc.).
O nome "carry trade" faz relembrar os tempos do overnight no Brasil das décadas de 1960, 1970 e 1980. Ou seja, são empréstimos em dólar por um dia a taxa zero para comprar ativos de risco denominados em dólar e certamente em reais, dólares australianos, euros etc.
O governo americano já está diante de um dilema. Precisa começar a subir os juros para conter as bolhas, mas teme que essa subida seja prematura do ponto de vista da atividade econômica do mundo real.
Curiosamente, no dia em que sair a "boa" notícia de que a economia norte-americana está crescendo bem, podemos ter um baque extraordinário nos mercados que estão formando bolhas. A Bolsa brasileira e o real vão inverter a tendência. Tudo está dependendo dos juros nos EUA.
Uma subida de juros nos EUA significa o início do fim ou da reversão dos "carry trades". O dólar vai se valorizar. A festa pode acabar.
É impressionante como, depois de uma bolha formada até setembro de 2008, temos de volta, apenas 14 meses depois, outra(s) bolha(s).
É aí que começa a valer a pena discutir o tamanho da porta de saída nos mercados de câmbio e de Bolsa nos países emergentes.
Como se viu no final de 2008, o real desvalorizou-se quase 50% em relação ao dólar e a Bolsa de Valores desabou. Comparativamente com outros mercados mais avançados, temos ainda a "thinness" do mercado cambial -sempre lembrada por Robert Mundell, Prêmio Nobel de Economia-, mais bem traduzida como "fina".
Isso torna a Bolsa brasileira extremamente dependente do "carry trade" e da festa do dólar -assim como o real-, o que implica uma enorme dependência em relação aos juros nos Estados Unidos.
A propósito, aqui no Brasil, a política de juros -voltada para as metas de inflação- enfrenta dilema semelhante ou até mais complexo.
As novas bolhas pedem políticas de juros diferenciadas. Para segurar a Bolsa, os juros devem subir, mas, para segurar o câmbio, os juros devem cair.
Provavelmente vamos ficar por aí, até porque a inflação vai bem, obrigado.
Mas o grande tema do final de 2009 e início de 2010 será a possibilidade de explosão das novas bolhas em função de aumento dos juros nos EUA.

ANTONIO CARLOS LEMGRUBER, 62, é doutor em economia pela Universidade de Virgínia (EUA) e ex-presidente do Banco Central do Brasil (1985).

GOSTOSA


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TODA MÍDIA

EUA, China e o fracasso

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09


Na manchete da Folha Online, "Líderes mundiais defendem adiar acordo sobre clima". No "Guardian", "Esperança se esvai". No "El País", sem dar voltas, "EUA e China fazem Copenhague fracassar".

Antes, do "Figaro" ao "Times of India", destaque à união França-Brasil para a "batalha de Copenhague". A coluna ambiental do "New York Times" dizia que o corte de emissões proposto pelo Brasil "elevou o que está em jogo" e precedeu a reação dos EUA.
Também no "NYT", Thomas Friedman escreveu do Pará, cobrando: "O Brasil parece pronto para fazer a sua parte. Nós estamos? E você, China?"

SEXTA-FEIRA DE SORTE?
Um mês atrás, o "Painel" deu a nota "Viés", informando que "chamou a atenção, no relatório do TCU que resultou na paralisação de obras do PAC, a ausência do Rodoanel de São Paulo, vitrine de José Serra. Os mentores do índex são dois ministros originários do DEM".
Ontem a Folha informou, com eco por Globo e sites, que o TCU fez "acerto" com o governo paulista, sobre o uso de vigas pré-moldadas, e assim "excluiu o Rodoanel" da lista. Por outro lado, na escalada de manchetes de anteontem, no "Jornal Nacional":
"O acidente na obra do Rodoanel. Três vigas caem em cima de dois carros e uma carreta. Todas as pessoas sobreviveram. Foi uma sexta-feira de sorte."

1 ANO DEPOIS
Terça no "Valor", Pedro Moreira Salles relatou a "tática de guerra para segurar ações" do Unibanco, recomprando papéis durante um "ataque especulativo", um ano atrás. A CVM, da Fazenda, investiga o movimento, que precedeu a fusão do banco com o Itaú.
Sexta no mesmo "Valor", o diretor do Banco Central Mário Torós anunciou ter feito "leilões até o mercado cansar" durante um "ataque especulativo", um ano atrás. O blog de Guilherme Barros no iG já postou o mais cotado para seu lugar, João César Tourinho.

18 ANOS DEPOIS
A notícia de Mônica Bergamo, "FHC decide reconhecer oficialmente o filho que teve há 18 anos com jornalista", foi a "+ lida" na Folha Online e ocupou o alto das páginas iniciais dos portais UOL, Terra e iG.
Em extenso eco pela blogosfera, o Blue Bus de Julio Hungria lembrou reportagem da "Caros Amigos", dez anos atrás. Para Luis Nassif, "obviamente, tratava-se de questão de Estado. Um presidente tinha caso semi-secreto e devia favores a uma TV concessionária do Estado". Para Reinaldo Azevedo, "no que concerne ao indivíduo FHC, que reconheça mesmo. Antes tarde do que nunca".

20 ANOS DEPOIS
Em série especial sobre a eleição de 1989, o UOL ouviu o ex-presidente Fernando Collor. Destaque da entrevista de Haroldo Ceravolo Sereza, na home, "Relação com a Globo "ajudou bastante", lembra Collor".
Diz que a candidatura era vista com simpatia por outros grupos. "Havia receio dos meios de comunicação de um eventual governo comunista." O candidato seria Mario Covas, mas ele "não decolou". E sua candidatura ganhou apoio "porque não havia alternativa".

MAIS TELE
"Wall Street Journal" e "Financial Times" destacaram a compra da GVT pela francesa Vivendi, não pela espanhola Telefônica. "Maior grupo de entretenimento da Europa", ela agora prioriza "economias em crescimento" e prevê "presença no Brasil por longo prazo".

"TROUBLE AT TWITTER"
Deu no TechCrunch, sob o título "Problema no Twitter". No início do verão americano, o número de visitantes havia parado de crescer. E "pela primeira vez", no levantamento divulgado no final da semana, "caiu 8% em outubro"

MARCELO DE PAIVA ABREU

Em berço esplêndido


O Estado de S. Paulo - 16/11/2009
Em algum momento, ainda na primeira metade do segundo mandato do governo Lula, não parecia despropositado pensar que o Brasil poderia finalmente dar o salto que lhe permitiria superar de forma sustentada as suas mazelas estruturais. Seria possível finalmente abandonar o "berço esplêndido", deixar de ser o país do futuro. A robustez das políticas macroeconômicas prudentes, combinada com as oportunidades criadas pela exploração da base de recursos naturais, ampliada por novas descobertas, seria elemento essencial que permitiria tal salto. A formação bruta de capital fixo seria gradativamente aumentada e os "voos de galinha" seriam reminiscências do passado. Crescer rapidamente possibilitaria a contínua redução das desigualdades sociais, a melhoria dos níveis educacionais, o funcionamento expedito do Judiciário, a redução da criminalidade, o equacionamento do problema da habitação, a consolidação do Estado regulador.

Esse salto qualitativo requereria uma sucessão de bons governos. O que indica a análise do quadro político atual quanto à probabilidade de que a eleição presidencial de 2010 resulte em bom governo no quadriênio 2011-2014?

O presidente Lula, privado de José Dirceu e Antônio Palocci, candidatos de peso que poderiam ter consistência partidária, e embalado por seus índices de aprovação, ejetou o partido e optou pelo voo solo na rota populista. Deu o braço a Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e mandou a consolidação partidária às favas. Escolheu pessoalmente a sucessora e está usando a máquina pública de forma escancarada para tentar viabilizar um nome de reduzida expressão política. Em meio a este processo de mergulho no populismo, instalou-se um clima de "pau na máquina", de aumento generalizado de gastos públicos, em nome de um keynesianismo de meia tigela e, em muitos casos, com propósito explícito de cooptação. Expandir a máquina pública está viabilizando o aumento do peso relativo da burocracia estatal permanente que tem laços estreitos com a coalizão governista. Que persistirá por muitos anos.

As decisões do governo quanto ao pré-sal, por seu lado, revelam retrocessos notáveis com relação à natureza das relações entre Estado empresário, iniciativa privada e contribuintes e também do grau de exposição à concorrência a que deveriam ser expostos supridores de bens e serviços estabelecidos no Brasil. A pré-candidata Dilma Rousseff, em particular, com a habitual veemência, fez a defesa do estatismo e do "nacionalismo" com base no velho "quem não pensa como eu é entreguista". Os esforços de cooptação estenderam-se à esfera empresarial, talvez emblematicamente ilustrados pela indústria naval, que viu ressuscitadas políticas que fariam inveja aos empresários da construção naval no auge do regime militar. Nenhuma lição parece ter sido aprendida com o fragoroso fracasso do passado.

As raízes dessa recaída rumo ao capitalismo de Estado têm sido associadas ao peronismo e ao getulismo. Em ambos os casos, porém, as comparações parecem anacrônicas. As políticas peronistas em benefício dos descamisados, no pós-guerra, tinham a sua racionalidade, pois a Argentina não conseguia encontrar clientes que pagassem as suas exportações à vista. Melhor que a carne fosse comida em casa. A despeito do folclore, Getúlio era recatado quanto ao estatismo, como mostram a história da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a da Vale. Longe de serem exemplos de preferência pelo Estado empresário, foi o desinteresse do capital privado que forçou o interesse do Estado. Mesmo no caso da Petrobrás, o Palácio do Catete era mais comedido quanto ao monopólio estatal do que a Lei 2.004, de 1953. Estado empresário, sim, mas supletivo às iniciativas do setor privado.

No terreno da "agitação e propaganda", essa inflexão do governo Lula tem chamuscos de culto à personalidade que configuram desserviço à biografia do homenageado. Desde o filme celebrando a vida do metalúrgico vitorioso até as perguntas capciosas incluídas por algum capacho do Ministério da Educação (MEC) no recente exame do Enade. O ambiente de bajulação é evidente. Lula não precisa disso para registrar a sua evidente importância entre os maiores nomes na vida política brasileira, mesmo que se leve em conta a deterioração recente.

Será que há otimistas em relação ao desempenho de um governo Rousseff a partir de 2011? Quem será o seu estrategista político? Quem fará a pequena política do Planalto? É difícil acreditar que Lula continue na sua posição de mentor de Dilma. Falta-lhe disposição para operar longe da ribalta. Vai poupar-se, em nome da sua candidatura em 2014. Não seria inevitável o fortalecimento dos segmentos mais fisiológicos da coalizão governamental? Por outro lado, a possibilidade de Lula lançar um plano B com chances de vitória, na hipótese de algum grande percalço da candidatura Dilma Rousseff, parece comprometida pelo calendário eleitoral.

Há os que pensam que a situação poderia ser resgatada por uma vitória da oposição. Mas é difícil ser otimista com base no que a oposição vem fazendo ou dizendo nos últimos meses. A tática de silenciar para evitar o confronto direto com o popularíssimo Lula é questionável. Fica ridícula quando o provável candidato oposicionista, quando se aventura a tomar posição, se mostra crítico tão amargo da política "de juros e de câmbio" quanto o mais aloprado xiita da coalizão governamental.

A um observador desavisado pareceria que o governo e a oposição estão em perfeita sintonia para viabilizar em esforço suprapartidário o projeto "Brasil em berço esplêndido".

Marcelo de Paiva Abreu, Ph.D. em Economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular do Departamento de Economia da PUC-Rio

JAPA GOSTOSA


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CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Berlim, 9/11/89 ou vãs esperanças


O Estado de S. Paulo - 16/11/2009
Na semana passada, tratamos aqui do êxito econômico do capitalismo globalizado nos 20 anos depois da queda do Muro de Berlim. Agora, o outro lado, aquilo que a queda do Muro parecia trazer e não trouxe.

A universalização da democracia - Diversos países do Leste Europeu cumpriram toda a trajetória. Introduziram ao mesmo tempo o capitalismo (a liberdade econômica) e a democracia (as liberdades políticas). Muitos já estão integrados à União Europeia - talvez a maior ganhadora com a queda do Muro -, outros estão a caminho disso. Mas em muitos países, tanto ex-comunistas quanto os que já eram capitalistas, prevalece algum tipo de regime autoritário, não raro uma mistura de autoritarismo com corrupção, como é o caso óbvio da Rússia. No tempo da guerra fria, os dois lados justificavam suas ditaduras como uma necessidade geopolítica. Dizia-se, por exemplo, que os regimes militares na América Latina tinham a função de conter o avanço do comunismo. E inversamente para o outro lado. Terminada a guerra fria, eliminados os conflitos, parecia óbvio que a democracia seria o destino natural de todos.

Curioso: o fim da História era previsto por uma vertente do marxismo. Segundo essa tese, a História era movida pelos conflitos de classe, com o domínio de uma classe social a cada momento. Na fase final desse processo, o proletariado derrotaria a burguesia, introduziria a propriedade coletiva e, no início, uma ditadura para garantir e consolidar os novos tempos. O socialismo eliminaria as classes sociais, na medida em que a propriedade seria de todos. Tudo resolvido, cairíamos no comunismo, democrático, todos iguais, fim da História.

Ora, caído o Muro de Berlim, alguns teóricos da democracia ocidental concluíram: a História, de fato, chegara ao fim, mas pelo lado contrário. Vencem o capitalismo liberal e o seu complemento, a democracia. Ampla liberdade econômica com ampla liberdade política, tudo garantido pela lei e pelas instituições.

Esqueceram-se todos, entretanto, de que o conflito maior, a guerra fria, não eliminara, apenas deixara de lado os outros, oriundos de nacionalismos, xenofobia, religião e ressentimentos entre aqueles que, por algum motivo, ficavam para trás na marcha da globalização.

A universalização da riqueza - Olhando o conjunto, o mundo todo cresceu nos 20 anos pós-Muro. Mas alguns países tiveram desempenho melhor, outros se perderam pelo caminho. E, dentro dos países, o sistema também deixou muita gente para trás. Os EUA, por exemplo, chegaram a crescer vários anos acima dos 3% - um ritmo muito forte -, mas muitos americanos perderam seus empregos para chineses, indianos e brasileiros. Outros empregos foram criados nos EUA, mas para outras pessoas, mais qualificadas, por exemplo.

Todo iPhone da Apple traz a inscrição: "Desenhado na Califórnia, montado na China." A novíssima tecnologia de informação desenvolveu empresas, negócios e empregos, sobretudo os de maior qualidade, lá nos EUA. E quando se divide o preço do iPhone entre os que o produzem, verifica-se que a maior parte do dinheiro vai para a Apple nos EUA. Mas quem trabalhava em linhas de montagem de celulares perdeu a vaga. Também perderam a vaga os países que não encontraram seu espaço no processo de globalização. Além disso, o sistema permite que os ricos fiquem ainda mais ricos.

Confrontado com essas questões, John Kennedy comentou uma vez: "Quando a maré sobe, todos os barcos sobem." Mas o pessoal dos iates continua mais confortável do que a turma dos barcos a remo. Com o crescimento econômico, todos ganham, mas isso não muda necessariamente a posição relativa das pessoas. A base do capitalismo é dar a cada um a certeza de que se poderá apropriar dos resultados de sua iniciativa. Isso anima o espírito empreendedor, fonte da inovação e do crescimento. Ora, os melhores ficam ricos.

E daí?, perguntou Deng Xiaoping quando confrontado com o fato de estarem aparecendo milionários na China. E completou: é preciso que alguns enriqueçam para que a economia se mova.

A China moveu-se nessa inédita mistura de ditadura do Partido Comunista com um regime capitalista amplamente disseminado (empresas privadas, nacionais e estrangeiras, produzem mais de 60% do PIB), mas com forte intervenção do Estado. Tirou centenas de milhões de pessoas da pobreza.

Mas tanto lá quanto nos EUA a desigualdade gera ressentimentos, conflitos políticos e enfraquece a base do regime. E daí surgem as políticas com o objetivo de garantir direitos sociais e uma melhor distribuição da renda.

Mas, convenhamos, isso não é novo. Foi na Alemanha Ocidental, no auge da guerra fria, que se cunhou a "economia social de mercado", um modelo em que controles do Estado tratam de amenizar desigualdades geradas pelo crescimento capitalista.

Durante todo o século passado o mundo oscilou entre o capitalismo mais liberal e o mais controlado. O primeiro é mais dinâmico, gera mais inovações e mais prosperidade, cria empregos e renda, mas também aumenta as diferenças de renda entre pessoas e países. Alguns vão muito mais depressa. O outro modelo distribui melhor a renda, mas atrasa o crescimento pelas amarras que coloca à livre iniciativa. A arte está em obter um equilíbrio, o que varia conforme o momento histórico.

Hoje, por exemplo, quando todo o mundo ainda sofre os efeitos da crise financeira, a moral do capitalismo anda meio por baixo. Prevalecem as opções de maior intervenção do governo. Mais importante, entretanto, é que nenhuma força política relevante, nem nos ex-socialistas, propõe a volta ao antigo regime. O assunto é dar um jeito no capitalismo.

CLÁUDIO HUMBERTO

"O presidente Lula está com Alzheimer político" Ronaldo Caiado, líder do DEM, indignado com as críticas de Lula em relação ao mensalão

Comitê de Dilma se reúne até no Planalto

Para a ministra Dilma Rousseff a campanha de 2010 já começou e até sua casa se transforma em comitê eleitoral pelo menos uma vez por semana. Sempre às terças-feiras, ela reúne o comando da campanha ora em sua residência, e ocasionalmente no Palácio do Planalto, para discutir os rumos da corrida. Participam das reuniões o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o ministro da Propaganda, Franklin Martins.

Presenças ilustres
Também vão às reuniões Fernando Pimentel, ex-prefeito de BH, Gilberto Carvalho, secretário de Lula, e o marqueteiro João Santana.

Estilo de ministro
As reuniões semanais do staff de Dilma Rousseff mostram seu estilo organizado e alguns dos pretensos futuros ministros

Peremptória insensatez
O ministro Genro (Justiça) confundiu "microincidente", como definiu o apagão, com "micoindicente", que ele pagou dizendo tamanha tolice.

Volta para o futuro
Tudo o que não quer Dilma, a mãe do apagão, neste momento, é ser lembrada como a ex-ministra das Minas e da Falta de Energia.

Planos de saúde mais caros para servidor idoso
O governo Lula parece desprezar mesmo os votos dos idosos: a partir de janeiro, o repasse do auxílio-saúde para servidores e pensionistas será reajustado de R$ 65 para R$ 72. O preço médio de um plano de saúde para quem já chegou aos 60 anos é de R$ 400, ou seja, o idoso vai ter de pagar mais pelo restante. O novo valor atinge cerca de 2 milhões de servidores de forma linear, independentemente da idade.

Apreensão
Há apreensão no Banco Central sobre previsões de crescimento recorde do Brasil em 2010: sem infraestrutura no País, a inflação
pode voltar.

Está explicado
O leitor Frederico Araújo, de São Paulo, descobriu a razão do sumiço da ministra Dilma Rousseff após o apagão: "Ela tem medo do escuro".

Fiat Lux
O Ministério da Propaganda também apagou: em cadeia de rádio e TV, Lula ao menos poderia dizer que não viu nada "porque estava escuro".

Barata tonto
Eduardo Barata, diretor do Operador Nacional dos Sistemas, parecia ontem uma barata tonta, na tevê, tentando explicar o apagão da era Lula e a incapacidade de sua ONS de evitá-lo.

Trem-fantasma
Ontem, day after do desastroso apagão nacional, a ministra Dilma tinha agendados encontros com o governador Luiz Henrique, de Santa Catarina, e com técnico chinês de projetos de ferrovias e trem-bala.

Farol do breu
A sede no Rio da estatal Furnas, uma das responsáveis pelo apagão, iluminava o breu dos moradores de Botafogo, Zona Sul, com todos os geradores ligados. Deu uma inveja nos contribuintes...

Mentira de advogado
Até o ministro Marco Aurélio, caiu na lorota de que o terrorista Cesare Battisti "não foi submetido ao devido processo legal". Não é verdade. Ele foi duas vezes julgado por quatro assassinatos e condenado à prisão perpétua em um país democrático, com uma Justiça plena.

Bagunça gerencial
A Secretaria de Relações Públicas do Senado enviou correspondência ao líder do PMDB. No envelope, branco e grande, foi na etiqueta: "Cargo: vago". Renan Calheiros (AL), o ocupante, deve ter adorado.

Madame nervosa
Funcionária da Comissão da Partilha do Pré-Sal, na Câmara, Maria Auxiliadora ("Cilí") trata repórteres com muita grosseria. A dúvida é se apenas imita o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) ou cumpre ordens.

Outro apagão
Cerca de 2 mil trabalhadores Furnas Centrais Elétricas recorrerão ao TRT de Brasília contra o acordo do Ministério Público do Trabalho com a estatal que pode resultar na demissão, até dezembro, de mais de 400 empregados qualificados, que fariam muita falta num próximo apagão.

Perguntar não ilumina
Quando o governo Lula vai criar o Bolsa-vela?

Poder sem pudor
Medalhas: quem as merece?
A rainha Elisabeth II visitava o Brasil, no governo do general Costa e Silva, e foi recepcionada no Palácio da Alvorada (na época, o Palácio do Itamaraty não existia) ao lado do marido, príncipe Phillip, pingunço profissional. Após algumas doses, o príncipe resolveu usar o humor britânico para ironizar as condecorações no peito do general Jaime Portela, chefe do Gabinete Militar do presidente brasileiro:
– Medalhas conquistadas no campo de batalha, general?...
Eram medalhas por mérito, antiguidade etc. Portela devolveu na bucha:
– E estas no seu peito, majestade, foram conquistadas na cama?

ESTUPRO À LIBERDADE

RUY CASTRO

CORRETOR FANHO

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09


Troquei a máquina de escrever pelo computador há 21 anos, o que provavelmente já me salvou a vida algumas vezes, mas não pense que minhas relações com ele são uma maravilha. A cada aperfeiçoamento no funcionamento da caranguejola, tenho um motivo para sobressalto, até me acostumar com a novidade e passar a dominá-la também. Uma delas é um novo e infernal corretor automático de texto.

Ao perceber que as teclas estão sendo acionadas para formar determinada palavra, o corretor, ligeiro que nem raposa, antecipa-se e termina de escrevê-la por mim. Não sei se, com isso, está apenas querendo se exibir ou se acha que errarei na grafia e oferece-se para completá-la. Até aí tudo bem. Só que, ao fazer isso, ele se atrapalha com os acentos, escreve o que não é para escrever e me obriga a teclar retrocessos e humilhá-lo com uma correção mecânica, o que faço com sádico prazer.

Se quero me referir, por exemplo, ao grande sambista do Estácio Alcebiades Barcellos, coautor de ‘Agora é Cinza’, inventor do surdo e mais conhecido como Bide, ele intromete um cretiníssimo circunflexo e transforma Bide em Bidê. O arquiteto francês Le Corbusier torna-se Lê Corbusier. E Jorge Ben Jor, ex-Jorge Ben, não paga dez: o computador só o conhece como Jorge Bem ou Bem Jor.

Mas é com o til que o bicho coleciona seus fracassos mais espetaculares. Las Vegas, a cidade do jogo, passa a ser Lãs Vegas. Mao Tse-tung, o ditador chinês, se converte em Mão Tse-tung. A bonérrima Irma Alvarez, grande vedete dos anos 50 e uma das ‘certinhas do Lalau’, santifica-se em Irmã Alvarez. E, se tento escrever Mae West, o corretor bate o pé e insiste em metamorfoseá-la em Mãe West.

Bolas, Mae West nunca foi mãe, nem sem querer. Mas vá dizer isso a esse corretor fanho.

RICARDO NOBLAT

Apagou geral

O GLOBO - 16/11/09


— “Olha aqui, minha filha...”

(Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, irritada com a pergunta de uma repórter sobre o apagão)


Apagão de bom senso: foi um microincidente, segundo o ministro Tarso Genro, da Justiça. Não, não foi. Em extensão, foi o maior apagão da história do país. Afetou 18 estados e 88 milhões de pessoas.

Sobrou para sete milhões de paraguaios. Durou cinco horas e 47 minutos. Pela primeira vez, pararam todas as turbinas da hidrelétrica de Itaipu.

Apagão de gestão: não é aceitável que um ou três raios no interior de São Paulo desliguem Itaipu e apaguem o país. Falhou o sistema de “ilhamento” capaz de confinar o problema a uma só região.

Apagão de responsabilidade: no instante em que se fez o breu, Lula sumiu. Dilma Rousseff, a ex-ministra de Minas e Energia que desenhou o novo modelo do setor, também sumiu. Edison Lobão, o atual ministro, foi escalado para ser “a cara do apagão”.

Apagão de comunicação: o falatório desconexo das autoridades e dos técnicos adensou a escuridão. As explicações desencontradas comprovaram que o governo não tinha a mínima ideia sobre o que dizer à população no primeiro momento — nem no segundo. Foi então que Lula, assustado com o estrago que o episódio pode causar na imagem do governo, concluiu que o melhor seria todo mundo se calar.

Mas antes... Bem, antes...

Apagão de compostura: quando parecia insustentável o sumiço da mãe de tudo o que o governo faz de bom, Dilma finalmente falou. Antes não o tivesse feito. Olha aqui, minha filha: em vez de dar explicações, Dilma foi grosseira com os jornalistas. Só faltou jogar nas costas da mídia a culpa pelo apagão. Lembrou o destemperado Ciro Gomes (PSB-CE) de 2002, que conseguiu perder a eleição presidencial para ele mesmo.

Apagão de respeito ao cidadão: em toda a algaravia produzida pelo governo, havia apenas uma preocupação comum: bater forte na tecla de que o apagão da dupla Lula/Dilma não era tão grave quanto o apagão de Fernando Henrique Cardoso.

A preocupação eleitoral ganhou linguagem marqueteira: FH teve apagão; Lula/Dilma, somente um blecaute. Como se o escuro do apagão fosse diferente do escuro do blecaute.

Apagão de autoridade: empenhado em tentar esquecer o assunto, o governo atravessou a fronteira que separa o legítimo exercício do mando do deplorável exercício do autoritarismo.

Sem mais nem menos, Dilma e Lobão deram o episódio por encerrado, como se de fato ele pudesse estar, como se os cidadãos não tivessem o direito de cobrar uma investigação rigorosa sobre as causas do apagão.

Apagão de gerência: um setor técnico e estratégico como o de energia foi loteado entre os dois maiores partidos da base do governo: PT e PMDB. Agentes político-sindicais petistas comandam a área de geração — Itaipu, Petrobras — enquanto agentes das várias etnias do PMDB comandam a área de transmissão e distribuição — Furnas, BR Distribuidora. A Eletrobrás, que está nas duas pontas, é feudo do senador José Sarney (PMDB-AP).

Apagão de regulação: criadas no governo FH para regular os principais setores estratégicos com base em critérios técnicos e a salvo de ingerências políticas, as agências foram desidratadas de recursos e aparelhadas politicamente. O poder de regulação escapou das mãos dos técnicos e foi devolvido às mãos dos ministros, esses políticos por excelência e, como tal, sujeitos às pressões dos partidos.

Apagão de hierarquia: para evitar guerra interna e sabotagens entre aliados que dividem o comando do setor de energia, Lula deu todo o poder a Dilma para comandar os comandantes.

Resultado: ministros e presidentes de grandes estatais têm os cargos e as verbas, mas não têm o poder de fato. Em condições normais, governantes tendem a fazer o jogo de fugir às suas responsabilidades. O governo Lula acentuou tal característica.

É sempre assim: na hora de faturar acertos, proliferam seus verdadeiros e falsos pais, mães e avós. Na hora de encarar problemas, some toda a família e a lambança fica órfã. O povo? Ora, fica no escuro.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

RUBEM DE FREITAS NOVAES

Perda de tempo!

O GLOBO - 16/11/09


“É comendo que se prova o pudim” (“The proof of the pudding is in the eating”) tem sido a frase síntese de toda uma metodologia positiva aplicada às ciências sociais, especialmente à economia. Em poucas e singelas palavras, exprime a ideia de que teorias, ou mesmo simples argumentações, têm de passar pela confirmação prática para ganhar respeitabilidade e se firmar no campo intelectual, não bastando estar fundadas em pressupostos logicamente estabelecidos e corretos.

No debate das ideias ao longo da História, o grande aliado do liberalismo, ao se opor ao socialismo, tem sido o confronto que se faz entre desempenhos de países passíveis de comparação entre si. O socialismo ideal, com seu eloquente apelo à solidariedade, parece vencer a disputa por mentes e corações de nossos jovens até que se esbarra na comprovação factual, onde o socialismo real se apequena. Como não admitir o melhor desempenho, em termos de liberdade e prosperidade, de Alemanha Ocidental versus Alemanha Oriental, de Coreia do Sul versus Correia do Norte, dos EUA versus URSS? Assim, cidadãos, ao avançarem na experiência de vida e no conhecimento histórico, passariam a olhar com outros olhos para as teses liberais, justificando Roberto Campos quando qualificava de canalhas os indivíduos que não tivessem manifestado simpatias pelo socialismo na juventude; e de idiotas aqueles que mantivessem o credo intacto na idade adulta.

Mas a discussão não poderia parar aí, naturalmente. Liberdade e desempenho econômico não esgotam o rol de fatores a serem considerados na argumentação dialética e a busca de maior equidade, consubstanciada na formação de uma rede de proteção social, teria de ser sopesada contra os melhores resultados do capitalismo.

É aí que surge a variante definitiva do “teste do pudim”: o “teste da fronteira”.

Para onde migram, ou fogem, os cidadãos? São os cubanos da Flórida que se dirigem a Cuba, ou são os cubanos da Ilha que se arriscam aos tubarões para chegar ao extremo Sul dos EUA? Quem tentava saltar o Muro de Berlim para o outro lado, com elevado risco de morte? Alemães ocidentais ou orientais? Das perguntas surge a resposta definitiva da preferência efetivamente revelada, para a qual não cabe contestação.

Acabamos de comemorar 20 anos da queda do Muro de Berlim num momento em que Chávez, da Venezuela, e outros governantes latinoamericanos flertam com um “socialismo bolivariano do século XXI”, procurando recriar, aqui neste pedaço de mundo, o que já deu errado alhures. O autoritarismo e a desorganização econômica já dão mostras fortes de sua presença em países vizinhos, como sói acontecer quando saímos da teoria e entramos na prática dos regimes socialistas. Não podemos perder de vista, neste momento, o significado da queda do muro e o exemplo daqueles que se sacrificaram tentando fugir da Alemanha socialista. Vamos pular fora desta vanguarda do atraso cucaracha!

PAINEL DA FOLHA

Do limão, uma limonada

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/11/09

Parte do PT defende que a pré-candidata Dilma Rousseff saia da toca e aproveite a tentativa do PSDB de manter em pauta o apagão da semana passada para promover uma nova rodada de comparação entre as gestões de Lula e de FHC.
Líder da bancada petista na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP) fala em apresentar requerimento para que a ministra vá ao plenário discorrer sobre energia e traçar um quadro do que foi feito pelo atual governo, sempre lembrando do apagão de 2001, um dos marcos do ocaso da era tucana. Seria uma chance, alegam aliados, de compensar o erro inicial de tê-la mantido ostensivamente longe do assunto.


Mensageiro. Coube ao embaixador do Brasil na França, José Mauricio Bustani, a tarefa de informar Lula do ocorrido no Rodoanel. Em busca de informações, o presidente entrou em contato com o Ministério dos Transportes.

Veja bem. Em entrevista ao jornal alemão "Die Zeit" concedida ontem em Roma, nenhuma pergunta foi feita a Lula sobre a pré-candidata Dilma Rousseff. O apagão também passaria batido, não fosse o próprio presidente mencionar o tema.

Até o fim. Lula manteve com afinco a dieta, mesmo com as tentações à mesa na França e na Itália. O presidente ficou só na proteína.

Ataque... É enorme a pressão para que o ministro Carlos Ayres Britto mude o voto no caso Battisti, ajudando a formar no STF, nesta quarta, maioria favorável ao entendimento de que caberia ao presidente da República a decisão final sobre a extradição.

...especulativo. Desde a chegada ao Supremo, em 2003, Britto repete a colegas que deve sua indicação em boa medida ao jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, contratado pela defesa de Battisti especificamente para influenciar o pupilo.

Bufê. O Planalto realizou pregão na quinta-feira passada para comprar utensílios de cozinha. Foram cerca de R$ 24 mil em assadeiras de pizza, panelas, caldeirões e taças.

Segunda... Chegou às mãos do TCU auditoria apontando falhas da Caixa Econômica Federal em contratos de financiamento de saneamento básico com recursos do FGTS. Segundo o parecer, há "restrições sem amparo legal na contratação de operações".

...onda. Dos R$ 2 bilhões autorizados para essa área, a CEF liberou apenas 11,02%. O TCU recomenda ao Ministério das Cidades remeter a minuta do decreto do marco regulatório do saneamento à Caixa e ao BNDES antes de sua edição. Já a pasta diz que as discussões sobre o decreto ainda não terminaram.

Outro lado. Segundo a Caixa, já foram executados 18,2% dos recursos, e não 11,02%, como fala o TCU. O banco diz que a demora se deve a exigências burocráticas relativas ao cadastro do agente financeiro e do mutuário.

Difícil. Não é só o PP que resiste a um compromisso formal com Dilma. Também no PR convivem uma banda engajada na candidatura governista e outra, não desprezível, inclinada para a oposição.

Sai... Voltou a ganhar força no PT a ideia de que é inviável esperar até fevereiro para dar posse ao novo presidente nacional do partido e aos dirigentes nos Estados. Argumenta-se que haverá um "vácuo de legitimidade" para negociar as alianças de 2010. As eleições internas da legenda ocorrem no próximo dia 22.

...ou não sai? Os defensores da tese sugerem renúncia coletiva, ao menos do diretório nacional. O atual presidente, Ricardo Berzoini, é contra. Diz que é "natural" um tempo de transição.
com SÍLVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Talvez agora, diante do ocorrido no Rodoanel, a oposição pense duas vezes antes de fazer ataques irresponsáveis, como fez nas horas que se seguiram ao blecaute."
Do deputado HENRIQUE FONTANA (PT-RS), comparando a reação da oposição ao apagão de terça-feira à registrada após o acidente de sexta à noite no Rodoanel, uma das principais obras da gestão do governador José Serra (PSDB).

Contraponto

Pista livre


Dias atrás, com o auditório do iFHC lotado para um seminário sobre o Brasil pós-crise, o ex-presidente recebeu a sugestão de dar início ao evento, mas ponderou que ainda aguardava a chegada de seu ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos palestrantes.
De imediato começaram a pipocar comentários na plateia relacionando o atraso às condições invariavelmente precárias do trânsito paulistano. FHC trocou olhares com aliados de Gilberto Kassab (DEM) e observou:
-Engarrafamento? Ué, eu cheguei na hora sem nenhum problema. Vocês estão contra o prefeito?